"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

DEVAGAR, DEVAGARINHO...


O resultado do PIB (Produto Interno Bruto) revela a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para aferir a evolução da economia. Divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no início deste mês, retrata o segundo trimestre de 2017, mostrando, neste período, uma alta de 0,2% na série ajustada sazonalmente. Mesmo assim, adicionando-se a ele o efeito positivo do primeiro trimestre, o PIB per capita (divisão do PIB pelo número de habitantes da região que indica quanto cada habitante produziu em determinado período), pelas projeções atuais, ainda deve encerrar o ano abaixo do patamar de 2010.

Apesar de um incremento modesto, ele se encontra acima do esperado pelos analistas e economistas que trabalharam com estabilidade e até mesmo previram uma ligeira queda da economia. Não seria surpresa para mim, diante da crise política que explodiu em maio, com as denúncias de Joesley Batista, que ameaçaram derrubar o governo de Michel Temere enterrar as reformas estruturais e o ajuste fiscal. Aparentemente não teve tanto impacto na economia como se esperava.

No primeiro trimestre, influenciado pelo bom desempenho da agricultura, tivemos o crescimento de 1% sobre o último trimestre de 2016, fechando os seis primeiros meses do ano com “variação nula”, embora o indicador ainda acumule uma retração de 1,4% ao longo do último ano.

A alta do PIB no 2º trimestre, na comparação com o mesmo período de 2016, foi a segunda menor em uma lista de 42 países que divulgaram os resultados das contas nacionais neste ano, conforme levantamento da Austin Ratings. Em valores correntes, a economia do país produziu R$ 1, 639 trilhão.

Pelo visto, ainda não dá para assegurar uma consistente recuperação do PIB, mas certamente, uma mudança de tendência, pois nos encontramos saindo do ponto de inflexão e ensaiando uma evolução na busca de uma trajetória sólida, ou melhor, ingressamos a partir de janeiro deste exercício, num ciclo ascendente e virtuoso de crescimento da economia após oito trimestres consecutivos de queda em que o Brasil somente apresentou resultados recessivos. Na realidade, estamos começando a deixar gradualmente para trás uma terrível recessão, talvez a mais longa e profunda da história. Entretanto, para se entrar num ciclo sustentável de crescimento de longo prazo, ainda dependemos da aprovação das reformas estruturais para reequilibrar as finanças públicas.

Possivelmente, durante um período, o nosso crescimento poderá acontecer em doses homeopáticas a não ser que sejamos surpreendidos, mais uma vez, por fatos negativos que venham a comprometer esta nova trajetória.

No meu humilde entendimento, o ponto principal deste resultado publicado está justamente na “qualidade” apresentada pelo indicador, ao revelarcondições concretas para continuar buscando o caminho da superação. Nosso ambiente inflacionário tem demonstrado tranquilidade e, sobretudo, temos mantido uma inflação benigna, notadamente declinante. 

O consumo privado ganha força, suplantando com desenvoltura o investimento produtivo o qual, lamentavelmente, continua recuando, chegando ao nível de oito anos atrás pelas incertezas políticas e pelo agravamento das contas públicas.

Há uma razoável esperança de que a recuperação prossiga, mas o fantasma da década perdida dos anos 1980 ainda me deixa assombrado.

O grande destaque fica com a espetacular retomada do consumo das famílias que responde por cerca de 65% do PIB, sendo a conta mais importante de demanda da economia que volta a crescer com uma expansão de 1,4%, despertando imediatamente otimismo na sociedade após mais de dois anos de forte contração, andando em harmonia com os números vistos do varejo e a recuperação do emprego, ligada ao setor de serviços. Este é o primeiro resultado otimista desde o final de 2014 e na comparação com o mesmo período do ano passado, ele também ficou positivo em 0,7%.

Tudo vem se sucedendo justamente na contramão do governo da “iluminada” Dilma, principalmente com relação ao seu primeiro mandato; a retomada do consumo agora acontece de forma completamente diferente, não porque o governo dela tenha gerados estímulos que deram aquela sensação agradável de riqueza e bem estar ao povo brasileiro, mas, imprudentemente, quanto ao lastro, sem conexão com a geração de riquezas.

O governo represou literalmente os preços de produtos e serviços, especialmente aqueles que são controlados pelo poder público, como energia elétrica, o melhor dos exemplos. Também suavizou impostos para setores ligados ao consumo de carros, móveis e, até mesmo, linha branca de eletrodomésticos.

Destaco alguns fatores importantes que colaboraram:começando pela inflação em queda livre, puxada principalmente pelos alimentos,o que favorece a recomposição salarial e amplia a renda dos trabalhadores; a massa salarial real (a soma de todos os salários pagos) que aumentou nos últimos meses; juros básicos da economia cada vez menores e com excelentes perspectivas até o final do ano; dinâmica do crédito ao consumidor; estabilização do mercado de trabalho, embora a maioria dos empregos gerados acontecesse sem carteira assinada ou por conta própria e os níveis de endividamento das famílias e de inadimplência que vêm caindo significativamente. 
Além disso, uma boa dose de injeção de R$ 44 bilhões na economia, proveniente da liberação de recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).São canais poderosos que concorreram para a irrigação e expansão do consumo.

A indústria, lamentavelmente em queda, retraiu 0,5% no primeiro trimestre; infelizmente, foi a queda de 2% na construção civil que a puxou para baixo, por ser este um segmento que absorve mão de obra de um numeroso contingente de baixa renda e baixa escolaridade e de 1,3% na atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana. 
A extrativa mineral variou 0,4% e a indústria de transformação manteve-se praticamente estável em 0,1%. Nos serviços, houve resultado positivo, revelando um desempenho mais disseminado: comércio – 1,9% pelo lado da oferta, sem dúvida, outro grande destaque do período, atividades imobiliárias e outros serviços - 0,8% e atividade de armazenagem, transporte e correio - 0,6%. No setor externo, as exportações de bens e serviços registraram variação de 0,5%, a segunda taxa positiva seguida, todaviamenor que o crescimento de 5,2% no trimestre anterior. 
O consumo do governo também caiu 0,9% de abril a junho, contabilizando uma queda de 2,4% em relação ao segundo trimestre do ano passado. A formação bruta de capital fixo (ou taxa de investimento, fundamental para retomada sustentada do crescimento) permanece ridiculamente baixa. Na comparação com o primeiro trimestre deste ano, a formação bruta de capital fixo recuou 0,7%, registrando a quarta queda consecutiva. Isso significa que estamos investindo apenas 15,5% do PIB, número significativamente baixo até para um País desestabilizado. 
O desejável para o porte da nossa economia é que a taxa de investimento seja, pelo menos, o dobro do que está sendo registrado atualmente.

Por fim, outro item relevante está relacionado com o setor agropecuário, que cresceu 14,9% no segundo trimestre, em igual período do ano passado. Na comparação com o primeiro trimestre do ano permaneceu estável, enquanto que alguns analistas esperavam que ficasse no campo negativo. É bom ressaltar que o segmento da agricultura foi a verdadeira “tábua de salvação” do primeiro semestre. 
A contribuição da agricultura na formação do PIB nos últimos dois trimestres do ano será menor. Cerca de 70% da safra prevista para o ano foi colhida no primeiro semestre. Então, restam somente 30% para o segundo semestre.

Espera-se que mais adiante o investimento venha a se incorporar para potencializar o processo de crescimento com obras e novos negócios. A tendência esperada é que o PIB venha a fixar a visão de uma recuperação gradual e em múltiplas direções. 
A roda da economia está começando a girar numa direção favorável, mas para ganhar tração, ainda deve demorar um tempo, pois o país ainda apresenta certa vulnerabilidade causada pelos solavancos inconsequentes que a classe política vem nos impondo.

A aceleração do crescimento depende de duas questões que precisam ficar evidentes: o investimento e a exportação. 
A primeira é função, essencialmente, das “expectativas” do próprio crescimento, da utilização da capacidade ociosa do setor industrial e de condições objetivas, a exemplo do crédito e do juro atrativo inferior à taxa de retorno. 
A outra é função da expansão da economia global e do grande cuidado que se deve ter com a taxa de câmbio real, em que o notável diferencial do juro interno e externo transforme-se num ativo financeiro sem relação alguma com a economia real. Logo, sem acontecer o quanto antes a reforma obrigatória da Previdência, o crescimento do PIB será inteiramente em vão.

Há pouco tempo, os economistas do mercado financeiro elevaram a projeção para o PIB do Brasil em 2017 de 0,50% para 0,60%, de acordo com o relatório Focus publicado pelo Banco Central. A estimativa para 2018 que era de 2,00%,foipara 2,10%, correndo o risco agora de uma rodada de fortes revisões para cima das estimativas de crescimento para o próximo ano.
Percebo que ainda dependeremos de dois elementos indispensáveis, ambos com amplos poderes de influência:o bailado das pesquisas de intenção de voto no decorrer da campanha eleitoral de 2018 e o temor da vitória de um candidato populista contrário às reformas econômicas.

A classe empresarial tem que começar a fazer a sua parte, contribuindo neste especial momento para o andamento da nossa revitalização econômica, saindo da inércia em que se encontra, deixando de sublimar em excesso a cautela e, sobretudo, ousar, mantendo seu planejamento de investimentos ativo, pesquisando e avaliando novos nichos, experimentando inovações que podem proporcionar diferenciais significativos para o futuro do negócio. Os juros de mercado de longo prazo estão num nível já bastante baixo dentro dos padrões históricos brasileiros.

Estamos vivenciando dois momentos antagônicos: o contraste interessante da economia com dados bem mais positivos e a acentuada turbulência no cenário político dos últimos dias,o que fortalece, ainda mais,as nossas incertezas. O Brasil Velho está nos destruindo e o Brasil Novo que os verdadeiros nacionalistas desejam descobrir, depende exclusivamente de vigorosas mudanças.

Temos que buscar um verdadeiro caminho que viabilize um Estado mais flexível e menos burocrático. As leis, a mentalidade política e a cultura nacional exigem demasiadamentedele,muito mais do que efetivamente pode ofertar. Precisamos internalizar que carecemos muito de uma mudança cultural, já que o atualEstado brasileiro não cabe no país. 
Cada dia que passa, torna-se difícil continuar sustentando as despesas governamentais,as quais, inegavelmente, são históricas e necessitam urgentemente serem reprimidas e redirecionadas. A grande verdade é que somente com medidas extremamente corajosas poderemos desfrutar num futuro próximo de uma economia plenamente sustentável.

14 de setembro de 2017
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)

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