"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 27 de setembro de 2015

NA UCRÂNIA, UMA ESTRANHA DEMOCRACIA À MODA DA OTAN



Batalhões neonazistas foram incorporados à Guarda Nacional




















Foi uma “histórica” visita de Stoltenberg, secretário-geral da OTAN, dias 21-22 de setembro,à Ucrânia, onde participou (pela primeira vez na história das relações bilaterais), do Conselho de Segurança Nacional, sinal de um acordo para abertura de embaixada da OTAN em Kiev, e fará duas conferências de imprensa ao lado do presidente Poroshenko, um passo adiante decisivo na integração da Ucrânia na Aliança.
Essa integração foi iniciada em 1991 quando, logo depois de tornar-se estado independente na sequência da desagregação da URSS, a Ucrânia passou a integrar o “Conselho de Cooperação Norte-Atlântico” e, em 1994, da “Parceria para a Paz”. Em 1999, enquanto a OTAN demolia a Iugoslávia e englobava os primeiros países do ex-Pacto de Varsóvia (Polônia, República Tcheca e Hungria), foi aberto em Kiev o “Gabinete de Ligação da OTAN” e formado um batalhão polonês-ucraniano para a operação de “manutenção da paz” pela OTAN no Kosovo.
Em 2002, o presidente Kuchma declarou seu interesse em passar a integrar a OTAN. Em 2005, no quadro da “revolução laranja” (organizada e financiada por Washington através das “ONGs” especializadas e sustentadas pelo oligarca  Poroshenko), o presidente Iouchtchenko foi convidado à reunião da OTAN em Bruxelas.
FORA DA AGENDA
Mas em 2010, o presidente novamente eleito Yanukovych anunciou que a adesão à OTAN não estava em sua agenda. Durante esse tempo, a OTAN teceu uma rede dentro das forças armadas ucranianas e arrastou para ela também grupos neonazistas (como o comprova documentação fotográfica de militantes da UNA-UNSO recebendo treinamento na Estônia, de instrutores da OTAN). Os neonazistas foram utilizados como força de assalto no putsch da Praça Maïdan que derrubou Yanukovych em fevereiro de 2014, ao mesmo tempo em que o secretário-geral da OTAN intimava as forças armadas ucranianas para que “se mantivessem neutras”.
Imediatamente depois da chegada de Poroshenko à presidência, a Ucrânia – como a OTAN declarou – passou a ser “estado soberano e independente, firmemente comprometido com a democracia e o direito”.
INDEPENDENTE?
O quanto a Ucrânia é soberana e independente vê-se bem pela evidência de que Washington e Bruxelas nomeiam ministros: o Ministério das Finanças foi confiado a Natalie Jaresko, cidadã norte-americana e funcionária do Departamento de Estado; o Ministério do Comércio e do Desenvolvimento Econômico, ao lituano Abromavicius, que prestou serviços a grupos bancários europeus; o ministério da Saúde a Kvitashvili, ex-ministro georgiano. Saakashvili, ex-presidente da Geórgia e homem de confiança de Washington, foi nomeado governador da província de Odessa. E, para completar o quadro, Kiev confiou as próprias alfândegas a uma empresa privada britânica.
O quanto a Ucrânia é comprometida com a democracia e o direito está demonstrado na existência de batalhões neonazistas, autores de atrocidades contra civis de nacionalidade russa no leste da Ucrânia. Foram incorporados à Guarda Nacional e recebem treinamento de instrutores norte-americanos e britânicos.
ESTILO FASCISTA
Também aparece bem demonstrado no banimento do Partido Comunista da Ucrânia e da ideologia comunista, num clima de perseguição semelhante ao do surgimento do fascismo na Itália nos anos 20.
Para evitar testemunhos incômodos, Kiev decidiu, dia 17 de setembro, impedir a entrada no país de dezenas de jornalistas estrangeiros, dentre os quais três da BBC, qualificados de “ameaças à segurança nacional”.
A Ucrânia de Poroskenko – oligarca que enriqueceu com o saque de propriedades do Estado, cuja “sábia liderança” foi elogiada pelo primeiro-ministro Renzi – contribuirá também para promover a “segurança nacional” italiana, participando, como parceiro, em território italiano, do exercício Trident Juncture 2015 da OTAN.

(artigo enviado por Sergio Caldieri)

27 de setembro de 2015
Manlio DinucciIl Manifesto, Itália

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