"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

MÍDIA ATIVA, PÚBLICO PASSIVO



Jornalistas costumam dizer que a imprensa tem costas largas, sendo objeto de críticas merecidas e imerecidas. É verdade. Mas também costuma ter costas quentes, pois o poder de que desfruta lhe proporciona uma boa proteção. Numa sociedade de massa, entre muitos outros papéis, a mídia desempenha tarefa relevante na formação da opinião pública, ou seja, no modo de pensar, nos usos e costumes, nos critérios de juízo e na formação dos padrões morais e de conduta que os indivíduos passam a reproduzir no cotidiano.

Atirarei alguns chapéus ao vento. Há veículos e profissionais de imprensa que deformam as consciências; deprimem os padrões culturais da sociedade; criam hoje os mitos que lhes convêm para derrubá-los amanhã quando já não servirem mais; estimulam o relativismo e atacam os valores morais; servem ao patrão estatal da vez, e por aí afora. Em muitos e muitos casos, tais acusações são tão corretas quanto provavelmente sejam corretas outras suspeitas em que esses mesmos se envolvem. Mas o mesmo dedo acusador que aponta com precisão as culpas da mídia dá sinais de ser uma bússola desorientada quando se trata de vasculhar a própria conduta.

A moderna comunicação é um canal de duas vias onde o público desempenha o papel importante e onde os fenômenos de ação e reação determinam cadência permanente (note-se, a propósito, que a omissão é uma forma bem medida de reação). Cabe indagar, então, especialmente àqueles cuja consciência permite identificar os malefícios causados pela eventual ou permanente

irresponsabilidade social dos veículos: quais são suas reações pessoais ante o problema? Como você interage? Em que sua atitude difere daquela adotada pelos consumidores menos sensatos ou omissos? Quantas vezes tornou conhecidas suas divergências, ou mesmo seu apoio, ao julgar merecido? E mais: a que veículos de comunicação concede estímulo, assinatura, leitura, audiência ou patrocínio?

CORRESPONSABILIDADE

Nos países onde a opinião pública tem boa noção de seu valor e força, manipulações e abusos do tipo que ocorrem entre nós são rapidamente corrigidos. Por isso, estou cada vez mais convencido de que, com frequência, as vítimas somos corresponsáveis pelos males a que nos submetem, pois bastariam, em muitos casos, vinte ou trinta manifestações por telefone ou e-mail para modificar certos usos ou abusos.

Triste a nação que renuncia à tarefa de transmitir valores morais às suas gerações! Enquanto as famílias cuidam apenas da subsistência; enquanto as escolas são oficialmente usadas para absolutizar o relativismo moral; enquanto as Igrejas se ocupam preferentemente de questões sociais e políticas; enquanto os meios de comunicação abusam de seu poder para seduzir e, ao mesmo tempo, desmiolar seu público; e enquanto as instituições semeiam joio no meio do trigo, quem, afinal de contas, vai orientar a sociedade para o bem?

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