"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 16 de agosto de 2014

13 DE AGOSTO

BRASÍLIA - A morte chocante de Eduardo Campos joga um grau de imprevisibilidade ainda maior numa eleição já particularmente imprevisível desde junho de 2013.

Campos era jovem, promissor, de uma família política e uma opção criativa à polaridade de 20 anos entre PSDB e PT. Sua morte trágica, na reta final da campanha à Presidência, no mesmo mês da morte de Getúlio e JK e no mesmo dia da morte do avô Miguel Arraes --13 de agosto-- atinge uma dramaticidade especial num país emotivo e religioso como o Brasil.

Sem Campos, o caminho natural é que a candidata seja Marina Silva, que conquistou cerca de 20% dos votos em 2010, deixou uma legião de seguidores e sabe falar, olho no olho, com o eleitorado evangélico.

Confirmada, será uma guinada e tanto na chapa do PSB. Campos era pragmático, pró mercado, pró agronegócio. Marina é menos flexível e enfrenta resistência no mercado e, especialmente, entre ruralistas. Mas pode e tem tudo para crescer muito.

Campos patinava em 8% e 9% de intenções de voto, mas tinha certeza de que iria deslanchar com o início da propaganda na TV e no rádio, dia 19. Essa expectativa se transfere agora para Marina, que poderá, enfim, somar o seu capital ao potencial dele.

Assim, seria decisiva para evitar a vitória de Dilma no primeiro turno. O problema é o quanto ela poderá crescer. Só o suficiente para garantir o segundo turno? Ou a ponto de ameaçar o tucano Aécio Neves?

A eleição fica ainda mais embolada e ainda mais imprevisível, mas a melhor aposta ainda é a de mais um round, não necessariamente o último, no pugilato entre petistas e tucanos. Com Marina correndo por fora e empurrada pela enorme comoção com a morte de Campos.

Diante da perplexidade e da tristeza, o mais importante é destacar o homem, o marido, o pai Eduardo Campos. Mas é impossível não dizer que a tragédia, mais uma em agosto, roubou do Brasil um político de grande futuro, para o qual o céu era o limite.


16 de agosto de 2014
Eliane Cantanhede, Folha de SP

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