"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

DILMA NO FORMIGUEIRO

SÃO PAULO - O que é pior: ser vaiado e xingado num estádio ou levar pedradas, pauladas e empurrões na porta de um prédio público?

Lula reagiu com indignação às ofensas que Dilma sofreu no Itaquerão na abertura da Copa. Disse que foi um ato de "cretinice", a "maior vergonha que o país já sofreu", e culpou a elite e a imprensa. Depois, aproveitou para lançar um novo slogan para a disputa presidencial. "Se em 2002 fizemos uma campanha da esperança contra o medo, agora é a da esperança contra o ódio."

Bem diferente foi sua reação em 2000, quando Mário Covas foi agredido fisicamente durante uma greve de professores. O então governador paulista tinha 70 anos, duas pontes de safena e estava em tratamento de câncer. Apanhou simplesmente porque resolveu passar no meio de manifestantes que bloqueavam o acesso à Secretaria da Educação.

Lula, à época, também ficou indignado. Não condenou a "cretinice" nem o "ódio" dos grevistas, mas reclamou muito do tucano. "Covas sentou em cima de um formigueiro", afirmou o petista. Para ele, "não havia explicação lógica para o comportamento" do governador.

Dias antes, o hoje presidiário José Dirceu havia dito num discurso que o governo deveria "apanhar nas ruas e nas urnas". O petista afirmou, posteriormente, que usara o termo "apanhar" como sinônimo de "sofrer derrota" e que o PSDB manipulara sua fala. Manipulada ou não, a declaração foi feita seis dias após o mesmo Covas ter levado uma bandeirada na cabeça em São Bernardo e cinco dias após um militante do PT ter estourado um ovo no rosto de José Serra, então ministro da Saúde, em Sorocaba.

O mais ridículo é que, se o PT no poder fica revoltado até com agressão verbal, o PSDB faz o inverso na oposição. Aécio, em 2000, cobrou do PT uma condenação formal do rapaz do ovo. Agora, ao tratar das ofensas à Dilma, preferiu dizer que ela "colheu o que plantou". Política, realmente, não é para qualquer um.
 
19 de junho de 2014
Rogério Gentile, Folha de SP

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