"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 24 de junho de 2014

A REVOLUÇÃO DA LEI

SÃO PAULO - Faz sentido o Movimento Passe Livre não querer criminalizar os chamados black blocs, que liberam energia revolucionária quebrando lojas, bens públicos e agências bancárias. Ambos, anticatraqueiros e mascarados, brincam no jardim da infância a que regrediu certa ação política de esquerda no país.

Nesse terreno fantástico, embalado em construtivismo poético, toda repressão há de ser repudiada. Toda regra de conduta que pretenda limitar o desejo original e fraterno do "coletivo" deve ser rejeitada.

Esses garotos mimados --alguns entrando na quarta década de vida-- dão valor absoluto a sua vontade. Em seu playground anticapitalista, a falta de limites para a ação, e de quem os questione com autoridade, favorece a confusão mental.

A imaturidade reflexiva os impede de enxergar que grande presente deram aos patrões, cujo vale-transporte repassado aos trabalhadores ficou congelado em razão dos protestos do ano passado. Tampouco vislumbram o golpe duradouro que isso representou na capacidade da prefeitura de investir no bem-estar urbano de milhões de paulistanos mal remediados.

Num país ainda infectado pelo patrimonialismo, cujos beneficiários atropelam os deveres legais em nome de sua vontade e seu interesse, revolucionário é submeter todos os cidadãos ao conjunto de regras da convivência civil. Isso significa responsabilizar, reprimir e criminalizar quem desrespeita esse acervo civilizatório.

Depredar patrimônio é crime. Fazer manifestação de rua sem aviso prévio às autoridades afronta a Constituição. O direito de circular na cidade é tão importante quanto o de reunir-se e o de protestar. Daí decorre a necessidade de negociar em que locais e sob quais restrições de espaço ocorrerão os atos coletivos.

A qualidade da vida civil brasileira dará um salto quando todos se sentirem responsabilizáveis por suas atitudes públicas.

 
23 de junho de 2014
Vinicius Mota, Folha de SP

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