"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

MAIS SOBRE A HISTÓRIA DO MOVIMENTO LIBERAL BRASILEIRO


Filipe Celeti escreveu uma excelente narrativa sobre "A História do Movimento Libertário Brasileiro". Estimulado pelo texto de Filipe resolvi fazer o mesmo. Mas, contando principalmente minhas memórias. Ou seja, o texto principal é o feito pelo Filipe, esse meu post entra, no máximo, como notas complementares.

Foi apenas em 2005 que tive contato com as obras de Hayek. Estava na livraria Cultura quando meu grande amigo e co-autor, Mario Jorge Cardoso de Mendonça, me presenteou com "O Caminho da Servidao". Nessa época não tinham muitos livros liberais nas livrarias, este livro foi fundamental em minha formação. Em dezembro de 2006 voltei ao Brasil para passar o natal aqui.
Na época eu era professor de economia na Universidade do Texas (Edimburg). Meu grande amigo e co-autor Joao Ricardo Faria, que também era professor na universidade, me pediu um favor: ele tinha deixado uma caixa de livros no Brasil, e pediu que a levasse para ele. Na caixa estava "Liberalismo na Tradição Clássica", que foi o primeiro livro de Mises que li.

O parágrafo acima mostra que as obras dos liberais estavam voltando ao nosso cotidiano e, mais importante, para o cotidiano das universidades. Por algum motivo, as obras clássicas pularam uma geração. Minha geração foi formada sem ter acesso a esse conhecimento. É evidente que isso foi uma política deliberada de professores estabelecidos nas universidades nas décadas de 1980 e 1990.

Ao mesmo tempo que me inteirava de Hayek e Mises alguns blogs de professores universitários começaram a se popularizar, e junto com eles as ideias liberais passaram a ter grande exposição. O Claudio Shikida por exemplo, no seu De Gustibus, e nas suas aulas no IBMEC-MG dava aos alunos a chance de conhecer o pensamento liberal. Roberto Ellery faria o mesmo na Unb, e meu grande amigo Paulo Loureiro seguiria pelo mesmo caminho na Universidade Católica de Brasília e depois na UnB. De volta ao Brasil, em 2007, acredito que fui o primeiro professor, depois de vários anos, a dar um curso de economia liberal clássica num programa de doutorado.
Os alunos do doutorado em economia da UCB tiveram a oportunidade de estudar a fundo as obras de grandes pensadores liberais. Hayek, Mises, e Popper estavam entre os textos de leitura obrigatória. Foi interessante o testemunho de uma aluna, que trabalhava no Ministério da Fazenda, segundo ela seu chefe a viu lendo "O Caminho da Servidão" de Hayek, ele parou e começou a elogiar esse livro. Ou seja, já naquele tempo um movimento silencioso ganhava força. Pessoas que você sequer poderia imaginar estavam lendo e estudando os liberais clássicos.

Em outubro de 2007 organizei um encontro de liberais em Brasília. Oportunidade em que descobri que aqui já haviam grupos de liberais organizados. Verdade que o Instituto Liberal aqui estava parado, mas seus integrantes se reuniam regularmente. Convidei o Prof. Dr. Nelson Lehmann para dar a palestra. Foi um sucesso, inclusive com a vinda a Brasília de um grupo de Goiânia.
O segundo encontro liberal seria organizado depois em Goiânia, com a ajuda do CA de Economia da UFG. Dessa vez com palestra de Fabio G. Franco. Aliás, as visitas a Goiânia surtiram efeito e hoje o grupo liberal de lá é bem articulado. Adriano Paranaiba e Everaldo Leite são figuras constantes na mídia defendendo ideias liberais. Adriano é também professor no Instituto Federal de Goias, comprovando o crescimento do pensamento liberal dentro das universidades.

Ronald O. Hillbrecht da UFRGS que tem o blog Escolhas e Consequências também é mais um exemplo de professor universitário defendendo ideias liberais. Nessa linha de professores universitários podemos citar ainda: Erick Figueiredo da UFPB e do blog Moral Hazard, Cristiano Costa da FUCAPE, Leonardo Monasterio, o Orlando Tambosi da UFSC e do blog do Tambosi, e o mais famoso de todos nós o Alexandre Schwartsman do IBMEC e do blog Mão Visível. E mais uma sério outra grande de professores universitários que estão todos os dias difundindo ideias liberais. Também devemos dar destaque ao
Escola Sem Partido que tem feito um trabalho excelente para impedir a doutrinação nas escolas. Esse movimento silencioso dentro das escolas e universidades, de ressurgimento do pensamento liberal, tem gerado frutos evidentes. O próprio crescimento do movimento libertário deve muito a professores conservadores que conseguiram mostrar a seus alunos uma nova literatura.
Depois de ler Hayek e Mises, é evidente que ler Rothbard é a sequência natural. Também merecem destaque dois grandes amigos: Mario Jorge Cardoso de Mendonça e Tito Moreira. Ambos, além de difundirem o pensamento liberal, tentam testar hipóteses de pensadores austríacos em arcabouços de política monetária. Mendonça por exemplo testou a hipótese de bolha imobiliária usando a teoria austríaca do ciclo de negócios (tive o prazer de ser seu co-autor nesse texto que é um dos textos mais lidos da história do IPEA). Já entre os austríacos propriamente ditos podemos citar: Ubiratan Iorio (UERJ), Fabio Barbieri (USP-RP), e Antony Mueller (UFS).

Hoje o mais famoso os liberais brasileiros é Rodrigo Constantino, seu sucesso como colunista primeiro no GLOBO e depois na VEJA fez muito pela divulgação das ideias liberais. Mas, devemos ressaltar sempre o papel fundamental feito por Olavo de Carvalho. Olavo lutou sozinho, e por muito tempo, contra uma avalanche de hordas vermelhas. Praticamente todos os libertários e conservadores do Brasil beberam fortes doses de Olavo de Carvalho.
Goste-se ou não, e eu o acho um craque, foi Olavo de Carvalho quem manteu viva a chama do pensamento conservador, e estimulou a curiosidade dos libertários, por um bom tempo. Reinaldo Azevedo também merece destaque aqui. Ele e Diogo Mainardi foram vozes isoladas na impresa. Suas defesas da propriedade privada, da liberdade individual, e do Estado de Direito, foram importantes para a formação de um amplo número de indivíduos que os lêem e assitem diariamente. Também ressalto a importância de dois blogs anônimos: o Selva Brasilis e o Blog do Coronel, que são simplesmente excelentes.

Hoje toda uma nova geração está entrando na batalha ao lado dos liberais por causa de muitos dos que citei acima. E ressalto: os professores liberais fizeram a diferença para muitos alunos. Alunos esses que em breve serão também professores. Alunos que são ativos na defesa da causa liberal. Alunos como Bruna Luiza do blog Meninas Direitas. Outro exemplo é a formação e sucesso do grupo Dragão do Mar (Fortaleza).

Certamente deixei muita gente de fora, e peço desculpas por isso. Se alguém quiser escrever mais a respeito, terei prazer em publicar no blog. Ressalto também que não citei muitos dos eventos pois os mesmos já estavam citados no texto de Filipe Celeti. Enfim, esse foi mais um relato pessoal do que exatamente uma pesquisa histórica. Como disse antes, esse texto é muito mais um complemento ao texto de Filipe. Complemento esse que ressalta a contribuição dos professores na disseminação das ideias liberais.
 
12 de fevereiro de 2014
in Adolfo Sachsida

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