Você já ouviu empresário falar abertamente que algum político ou agente público pediu propina em troca de um favor do governo?
Só lembro de uma honrosa exceção em tempos recentes: o caso em que o Itaú Unibanco acionou a Polícia Federal, no começo deste mês, quando o conselheiro de um órgão da Receita Federal pediu R$ 1,5 milhão para votar a favor da instituição num processo sobre os impostos decorrentes da fusão.
Antes disso, o máximo que vi foi empresário preso pela Lava Jato alegar que só pagara suborno porque fora extorquido: ou pagava ou o negócio não seria fechado.
A resposta do juiz federal Sergio Moro a essa alegação é quase sempre a mesma: "Quem é extorquido procura a polícia, não o mundo das sombras".
Ao preferir o silêncio à acusação, os empresários tornam-se sócios dos políticos corruptos. O argumento de que faliriam se abrissem a boca poderia ser verdadeiro no passado, mas não no mundo pós-Lava Jato. O estágio pré-falimentar de grandes empreiteiras, como a OAS, é um indício da falácia dessa justificativa.
Os empresários precisam falar sobre corrupção porque o pagamento de propina tornou-se um modelo de negócio, com vários efeitos negativos: eleva custos, aumenta riscos e pode resultar em perdas milionárias quando se descobre o crime.
Algumas das empresas que mais cresceram na última década estão sob investigação. E elas cresceram não por conta de aumento de produtividade ou inovação, dois vetores clássicos da expansão dos negócios, mas por pagar suborno para obter contratos.
A ideia de que empresários precisam falar abertamente sobre corrupção é da Control Risks, empresa global especializada em integridade corporativa. Foi apresentada em seminário internacional realizado em Londres sobre corrupção.
A Control Risks fez uma pesquisa global com 800 executivos da área legal e chegou a um resultado que os próprios consultores consideram assustador: 42% dos entrevistados diziam que não fariam nada se perdessem um negócio para um competidor que pagou suborno para fechar o contrato; só 19% afirmaram que procurariam a polícia.
Quase dois anos antes da Control Risk defender essa estratégia, Moro já batia na tecla de que os empresários são uma das forças mais importantes para combater a cultura do suborno. É por isso que costuma aceitar convites para falar em eventos corporativos.
É óbvio que não é fácil para os empresários falar de suborno. As corporações precisam de segurança jurídica e de apoio governamental para se sentirem seguras de que não sofrerão retaliação. Esse é o maior desafio para um governo que se mostra titubeante no combate à corrupção, quando não parece querer enterrar a Lava Jato para salvar a caciquia do PMDB.
24 de julho de 2016
Mario Cesar Carvalho, Folha de SP
Só lembro de uma honrosa exceção em tempos recentes: o caso em que o Itaú Unibanco acionou a Polícia Federal, no começo deste mês, quando o conselheiro de um órgão da Receita Federal pediu R$ 1,5 milhão para votar a favor da instituição num processo sobre os impostos decorrentes da fusão.
Antes disso, o máximo que vi foi empresário preso pela Lava Jato alegar que só pagara suborno porque fora extorquido: ou pagava ou o negócio não seria fechado.
A resposta do juiz federal Sergio Moro a essa alegação é quase sempre a mesma: "Quem é extorquido procura a polícia, não o mundo das sombras".
Ao preferir o silêncio à acusação, os empresários tornam-se sócios dos políticos corruptos. O argumento de que faliriam se abrissem a boca poderia ser verdadeiro no passado, mas não no mundo pós-Lava Jato. O estágio pré-falimentar de grandes empreiteiras, como a OAS, é um indício da falácia dessa justificativa.
Os empresários precisam falar sobre corrupção porque o pagamento de propina tornou-se um modelo de negócio, com vários efeitos negativos: eleva custos, aumenta riscos e pode resultar em perdas milionárias quando se descobre o crime.
Algumas das empresas que mais cresceram na última década estão sob investigação. E elas cresceram não por conta de aumento de produtividade ou inovação, dois vetores clássicos da expansão dos negócios, mas por pagar suborno para obter contratos.
A ideia de que empresários precisam falar abertamente sobre corrupção é da Control Risks, empresa global especializada em integridade corporativa. Foi apresentada em seminário internacional realizado em Londres sobre corrupção.
A Control Risks fez uma pesquisa global com 800 executivos da área legal e chegou a um resultado que os próprios consultores consideram assustador: 42% dos entrevistados diziam que não fariam nada se perdessem um negócio para um competidor que pagou suborno para fechar o contrato; só 19% afirmaram que procurariam a polícia.
Quase dois anos antes da Control Risk defender essa estratégia, Moro já batia na tecla de que os empresários são uma das forças mais importantes para combater a cultura do suborno. É por isso que costuma aceitar convites para falar em eventos corporativos.
É óbvio que não é fácil para os empresários falar de suborno. As corporações precisam de segurança jurídica e de apoio governamental para se sentirem seguras de que não sofrerão retaliação. Esse é o maior desafio para um governo que se mostra titubeante no combate à corrupção, quando não parece querer enterrar a Lava Jato para salvar a caciquia do PMDB.
24 de julho de 2016
Mario Cesar Carvalho, Folha de SP
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