Pesquisa de Inovação 2011, divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE, constata desaceleração na criação de produtos e processos inovadores no setor industrial. No Brasil, segmento de energia e eletricidade é o que tem maior percentual de investimento e produção de novidade

O estudo conclui que, em relação à indústria, que já constava na edição anterior, houve redução de 38,1% para 35,6% na taxa de inovação. Enquanto aumentou o total de empresas que se enquadram nesse grupo pesquisado, com um crescimento de 16,1%, o crescimento entre as indústrias que apresentaram alguma transformação inovadora no período pesquisado foi de apenas 8,3%.
Especialistas ouvidos pelo site de VEJA relacionam a queda no nível de inovação nas indústrias brasileiras à crise financeira global iniciada em 2008. Em um cenário de incertezas, gastos em inovação acabaram suspensos ou adiados para preservar recursos em cenários de maior adversidade, destaca Felipe Scherer, sócio-fundador da consultoria Innoscience, que presta serviços para empresas do setor farmacêutico e de telecomunicações, entre outras áreas em que a inovação é um fator de competição. “Investimento em pesquisa e desenvolvimento é feito com visão de longo prazo. Tem risco de não dar retorno. Quando a empresa percebe um cenário futuro incerto, a inovação é um dos primeiros cortes pela necessidade de proteger o caixa”, avalia Scherer.

A Pintec 2011 destaca o setor de eletricidade e gás como o de maior presença da inovação entre as empresas. No período de 2009 a 2011, 44,1% das companhias desse setor foram inovadoras. Já no grupo de empresas de serviços, 36,8% apresentaram algum tipo de transformação nesse sentido. Estão enquadradas no grupo de serviço as firmas que atuam nas seguintes áreas: edição e gravação e edição de música; telecomunicações; atividades dos serviços de tecnologia da informação; tratamento de dados, hospedagem na internet e outras atividades relacionadas; e pesquisa e desenvolvimento.
Formas de inovação – De acordo com a pesquisa, no período estudado foi mais frequente a inovação na indústria restrita aos processos internos (18,3% do total de entidades que apresentaram alguma inovação). Em seguida, vieram as firmas que inovaram tanto em produto quanto em processos (13,4%). O resultado representa uma mudança em relação à tendência diagnosticada em 2008, quando o maior percentual se concentrava entre as empresas que inovavam tanto em produtos como em processos (16,8%). Já entre as empresas do setor de serviços, foi maior a presença de companhias que inovaram nos dois aspectos (21,8%).
Investimento – Na escala de desenvolvimento de produtos e processos, os investimentos de menor custo ainda predominam no Brasil, porque há menor risco envolvido, destaca Scherer. Das quase 46 mil empresas consideradas inovadoras, pelo IBGE, 85,9% realizaram pelo menos uma inovação de gestão e/ou marketing, 77,2% realizaram ao menos uma inovação organizacional e 60,7% alguma inovação de marketing. "Inovações de marketing e gestão possuem menor nível de risco, porque são replicações de metodologias ou adequações. Buscam muito mais uma excelência operacional, que também acabam gerando resultados com menor risco. Mas preocupa o nível baixo em relação a outros temas, que são também importantes", disse o especialista em inovação.
Pela primeira vez, a falta de mão de obra qualificada aparece entre os dois maiores obstáculos para inovação na indústria. Pouco mais de 72% das indústrias apontaram a escassez de talentos como uma dificuldade. O problema só era superado, entre 2009 e 2011, pelos custos elevados para investir, segundo a resposta de 81,7% dos representantes de empresas entrevistados. "Falta ensino qualificado, graduação com bom conteúdo, nas engenharias principalmente", disse Ana Arroio, gerente de desenvolvimento e inovação da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
Com os dispêndios em pesquisa ainda bastante dependentes de recursos públicos, a especialista avalia que o governo deveria identificar melhor as necessidades de fomento. Esse tipo de iniciativa supriria a falta de opções para pequenas e médias empresas em relação à formação de pessoal. “O governo tem que ouvir as empresas para identificar a demanda real de inovação em cada área. Muitas das linhas oferecidas são de tecnologia de ponta, como nanotecnologia. Mas muitas vezes a empresa precisa de pequeno apoio para inovar", alerta Ana.
05 de dezembro de 2013
Daniel Haidar - Veja
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