O BC acabara de reduzir a taxa básica de juros para 9% ao ano. Empurrados por Dilma, os bancos estatais baixavam suas taxas. E a presidente malhava as casas bancárias privadas no horário nobre. Fazia isso com extremo gosto.
“Os bancos não podem continuar cobrando os mesmo juros para empresas e para o consumidor enquanto a taxa básica Selic cai, a economia se mantém estável, e a maioria esmagadora dos brasileiros honra com presteza e honestidade os seus compromissos”, bateu Dilma.
O Banco Central começara a passar os juros na lâmina em agosto de 2011. A Selic saíra de um patamar de 12,5% ao ano, passava pelos 9% que entusiasmavam Dilma e atingiriam o mínimo histórico de 7,25% ao ano em março de 2013. No mês seguinte, abril de 2013, o BC virou-se para trás e começou a fazer o caminho de volta.
Na noite desta quarta-feira (27), foi anunciada a sexta elevação consecutiva da taxa de juros. A Selic fecha 2013 em 10% ao ano. Voltou ao patamar dos dois dígitos. E ainda pode subir mais um pouco no início de 2014. Virou pó o discurso de Dilma. Ficou entendido que o gogó não é um bom domador de juros.
Em privado, Dilma e seus operadores econômicos dizem que o maior erro de Brasília foi dar ouvidos ao empresariado. Os investidores queixavam-se dos juros lunares e do fardo dos impostos. Além de podar a Selic, o governo serviu mais de R$ 70 bilhões em desonerações de tributos.
Dilma mandou para o beleléu suas metas fiscais. E imaginou que a resposta aos juros baixos e à moderação do apetite do fisco seria um aumento expressivo dos investimentos privados. Deu-se coisa bem diferente.
A redução da Selic minou o lucro financeiro das empresas. E as que obtiveram algum tipo de desoneração usaram o refresco tributário para recompor suas margens de lucro, não para investir.
Com a taxa de inflação a moder-lhe o calcanhar, Dilma parou de torcer o nariz dos banqueiros e viu-se compelida a dar liberdade ao BC para elevar os juros. Trocou o discurso fácil por um esforço árduo para fechar o ano com IPCA inferior aos 5,84% registrados em 2012 —muito acima do centro da meta oficial de inflação, que é de 4,5% ao ano.
Nesse contexto, uma taxa de juros de dois dígitos não é propriamente uma opção. É uma fatalidade. A carestia, como se sabe, costuma azedar o humor do eleitorado. Dilma sopesou os custos e os benefícios e concluiu: melhor perder o discurso do que a eleição.
28 de novembro de 2013
Josias de Souza - UOL
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