Atribui-se a Mario Cuomo, governador de Nova York de 1983 a 1994, a ideia de que campanhas se fazem em poesia, mas mandatos são cumpridos em prosa.
A lição é valiosa para o prefeito Fernando Haddad (PT). Na seara retórico-eleitoral, esforça-se por deixar em primeiro plano promessas de investimentos e melhorias no transporte público municipal.
No campo prático, contudo, parece esperar que suas promessas se materializem por encanto, tantas são as falhas de gestão nas medidas que tem adotado.
Nesta semana, o jornal "Agora" mostrou que um dos projetos da Prefeitura de São Paulo incluiu a instalação de um ponto de ônibus provisório em uma rua onde não há circulação de coletivos.
Não se trata de simples ponto fora da curva, por assim dizer, mas de exemplo eloquente de inépcia administrativa e de falhas tão frequentes que se tornaram a regra.
Tome-se a implantação das faixas exclusivas de ônibus, até aqui a principal marca do governo Haddad. Após notar apoio da opinião pública à medida, ou pelo menos à prioridade dada aos transportes públicos, o prefeito decidiu ampliar sua proposta inicial, que previa a construção de 150 km de vias para coletivos até 2016, para 300 km até o fim deste ano.
Baseada em critérios políticos, e não técnicos, a decisão padece de planejamento. No afã de cumprir a nova meta, a administração municipal se vê impelida a pintar faixas até em trechos de pequena circulação --inócuas, portanto.
Além disso, a criação de espaços de circulação expressa, na maior parte dos casos, não veio acompanhada da necessária reorganização das linhas de ônibus em função da demanda. Mesmo onde isso ocorreu, porém, a pressa da prefeitura deixou passageiros desinformados, e terminais, lotados.
Sem que tenha avançado nas prometidas obras de construção de 150 km de corredores --mais caros, mas mais eficientes--, a prefeitura ainda trata com incúria aqueles que estão em funcionamento.
A degradação dos corredores e a desorganização na distribuição de linhas faz com que registrem média de velocidade inferior à das faixas exclusivas --um absurdo, como a própria prefeitura reconhece.
Para Haddad, as medidas adotadas "sinalizam à população que o dirigente está agindo". Lirismo à parte, não basta agir; é preciso fazê-lo da forma mais adequada aos objetivos que pretende alcançar.
28 de novembro de 2013
Editorial da Folha
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