"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

UM POUCO ALÉM DAS BANANAS

Trabalhei na infância em fábrica de meias e loja de tecidos. Rigidez dos horários e tarefas mecânicas me entristeciam

Bolsonaro andou falando sobre trabalho infantil. De um modo geral, não costumo comentar todas as frases do presidente. Fazia o mesmo com Lula. Líderes populares falam muito e em lugares diferentes. Às vezes, precisam de um habeas língua; se não, nos obrigam a parecer rigorosos fiscais do politicamente correto.

Acontece que este artigo é resultado de algumas coincidências. Bolsonaro carregava banana nas plantações de Eldorado, no Vale do Ribeira. Eu, quando menino, vendia bananas num balaio. Hoje, também por coincidência, passei o dia documentando a rotina dos bananais. Nada a ver com Bolsonaro, apenas aspecto do meu aprendizado no Vale do Ribeira, nessas três semanas em que me dediquei a viajar pela região.

Vender bananas no balaio foi o trabalho mais fácil que tive. Era independente, podia sempre deixar o balaio num canto e, com um pedaço de cipó, montar um cavalo manso a pelo, colher goiabas ou mesmo tomar um refresco de groselha no armazém de um italiano chamado Seu Menta.

Mas trabalhei ainda na infância numa fábrica de meias e numa loja de tecidos. A rigidez dos horários, as tarefas mecânicas, tudo isso me entristecia como menino. Na verdade, gostava de brincar e satisfazer minha curiosidade sobre coisas que não estavam ali, naquele trabalho.

Isso foi o suficiente para que jamais pensasse em repetir com os filhos aquela experiência de 70 anos atrás. E a passagem dos anos confirmou em teses e até políticas internacionais a importância do brinquedo e do estudo na vida das crianças.

Interessante na passagem do tempo foi a evolução do próprio processo produtivo, não somente valorizando o conhecimento mas também um elemento essencial no brinquedo: a criatividade.

Aliás, foi isso que ponderei com Bolsonaro quando ele enfatizava a disciplina das escolas militares. Estimular a inovação prepara melhor para sobreviver no mundo de hoje. Por isso, sempre gosto de lembrar a música de Santana: “Let the children play”.

Na verdade, as coincidências me fizeram lembrar do trabalho infantil. O próprio Bolsonaro afirmou que não pretendia transformar esse tema em projeto, nem levá-lo ao Congresso. O trabalho infantil não consta oficialmente de sua “retropia”.

Voltando às bananas, tal como as vi num dia de trabalho adulto, creio que entendi melhor essa resistência visceral diante de nossas políticas ambientais.

As plantações de banana estão numa região que detém 60% da Mata Atlântica, grande riqueza hídrica. A região é coberta por um conjunto de parques estaduais, reservas privadas como a da Votorantim, já desenvolvendo negócios a partir da floresta em pé: produção de mudas, pesquisa biotecnológica.

Os plantadores de banana questionam as restrições ambientais. A contrapartida que uma visão sustentável poderia representar não existe ainda: estradas, conexão fácil. Ainda acreditam, como talvez no tempo de Bolsonaro, que o grande entrave ao negocio é essa condição de área preservada.

Alguns quilombos — há cerca de 70 no Vale — acharam um nicho plantando banana orgânica. Talvez não seja essa a alternativa para as grandes plantações. Mas o interessante é que planejam fazer uma campanha de marketing em torno da banana. Quem sabe, um dia, exportar.

Se o caminho for esse, certamente haverá compromissos e conciliações. Foi o que aconteceu com Bolsonaro ao assinar o acordo do Mercosul com a União Europeia.

Viajar pela Régis Bittencourt sempre nos lembra como o Vale do Ribeira é um caminho e parte de dois estados poderosos: São Paulo e Paraná. O fato de não ter ainda dado um salto para além de suas limitações atuais não significa que isto seja impossível. Sua riqueza florestal e hídrica deve ser a alavanca desse salto. O potencial turístico ainda é pouco explorado, faltam infraestrutura, restaurantes.

Por isso, um conselho de vendedor para carregador de banana: será melhor definir o futuro em função dessa realidade de um Vale preservado e adaptar suas principais atividades a ela.

O investimento em pesquisa, estradas e conexão também pode impulsionar a banana do Vale, como se fez com o café no Sul de Minas. Bolsonaro deveria ajudar seus amigos a olhar para a frente. Mas é um entusiasta do passado.

15 de julho de 2019
Fernando Gabeira,O Gloobo

A OUSADIA DE IR ALÉM DAS AMARRAS IDEOLÓGICAS

Muitos partidos já não representam de fato a sociedade, mas somente alguns de seus nichos

Faço aqui, no espaço quinzenal que tenho nesta Folha, uma provocação que julgo saudável para a política e para os partidos, com o único intuito de contribuir para um debate que temos postergado, mas que a sociedade há muito demanda. É uma reflexão necessária diante do impacto provocado pelos oito deputados do PDT, dentre os quais me incluo, que votaram “sim” à reforma da Previdência, e os 11 do PSB, contrariando a orientação partidária. Não estamos falando de dois ou três parlamentares, mas de praticamente um terço das bancadas de duas relevantes siglas que ocupam posição mais ao centro no espectro da esquerda. A expressividade dessa dissidência acendeu ao menos a luz amarela nas estruturas?

Sabemos que a extrema esquerda não admite flexibilidade alguma de posicionamento, pois está enclausurada em suas amarras. No entanto, uma parcela da centro-esquerda quer dialogar com o contexto e a sociedade e caminha para se modernizar. Nisso nos fiamos, nós que temos convicções sociais fortes, olhamos para o futuro do Brasil e enfrentamos o desafio urgente de termos crescimento sustentável, condição para a consolidação da justiça social.

Muitos partidos já não representam de fato a sociedade, mas somente alguns de seus nichos. Embora tenham em seus quadros um número cada vez maior de deputados com visão modernizante, as siglas ainda ostentam estruturas antigas de comando, e na maioria faz falta mais democracia interna. Muitas vezes, consensos sobre pautas complexas não são construídos de baixo para cima, e cartilhas antigas se sobrepõem aos estudos e evidências. Quando algum membro decide tomar uma decisão que considere responsável e fiel ao que acredita ser importante para o país, há perseguição política. Ofensas, ataques à honra e outras tentativas de ferir a imagem tomam lugar do diálogo. Exatamente o que vivo agora.

A boa política não pode ser dogmática. Discordâncias são normais no cotidiano e o ajuste e as acomodações das diferentes visões vão se dando em questões menores, com as bancadas muitas vezes sendo liberadas para as votações. O que foge completamente a esse processo e demonstra o grau do conflito instalado é quando a “rebeldia”, como está sendo interpretado o voto de opinião, atinge um terço de bancadas expressivas. Encaro esse debate como de fato a única tentativa da centro-esquerda de se renovar, mas os partidos estão virando as costas para essa realidade. É mais fácil lidar no plano da insubordinação. A construção de novas mentalidades não é processo fácil e exige coragem.

No fundo, são dois os temas que se sobrepõem nesse momento. A lógica de funcionamento dos partidos políticos no presidencialismo e o processo de renovação da política brasileira. A combinação de presidencialismo e federalismo, como ocorre no país, favorece as chamadas “indisciplinas partidárias”. Busca-se reforçar o poder da liderança partidária punindo dissidentes pela máxima de que os partidos não podem passar sinais de fraqueza. Será preciso uma reforma muito profunda do nosso sistema político para produzir os incentivos necessários para “disciplinar” as siglas. Enquanto existir o presidencialismo, o multipartidarismo e a federação, as lideranças partidárias precisarão ouvir e negociar com suas bases, dissidentes ou não.

A ampla renovação política que está em curso e da qual faço parte agrava o quadro de conflitos internos dos partidos. É racional que as lideranças recorram a argumentos de ocasião para justificá-los. Mais racional contudo é pensarmos no Brasil.

15 de julho de 2019
Tabata Amaral, Folha de SP
Cientista política, astrofísica e deputada federal pelo PDT-SP. Formada em Harvard, criou o Mapa educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

A FORMA DA REFORMA

Jogo de soma positiva: não há um grande vencedor, mas vencedores
O que explica o paradoxo da aprovação do texto-base da reforma da Previdência, por larga margem, por um presidente sem base formal?

Foram 139 dias para a aprovação —Lula levou 104 dias, FHC, 34 meses. FHC e Bolsonaro tiveram que enfrentar resistência por parte da oposição. No primeiro caso, efetiva, no segundo, inócua. Isso explica a diferença de tempo, em dias, para a instalação da comissão especial: 60 (Bolsonaro), 34 (Lula) e 162 (FHC). Lula contou com os votos da oposição, mas deparou-se com uma rebelião de correligionários.

A base parlamentar explica pouco: na fase de tramitação dessas PECs na Câmara, as coalizões estavam em gestação. O PMDB, o partido pivô, não as integrava.

Reformas da Previdência são politicamente difíceis. Os custos são tangíveis e ninguém é ganhador líquido: é uma guerra de atrito em torno de como não perder ou ser menos afetado do que os demais. Os benefícios são difusos e seu impacto diferido no tempo: promessa de crescimento.

O cálculo de custo-benefício dos cidadãos é alterado quando há ameaças aos seus benefícios. Enquanto essas ameaças forem intangíveis, não-críveis —"no futuro a Previdência estará falida"— ele não se altera.
Contudo, a crise fiscal dos estados e o não pagamento de benefícios e salários conferiu credibilidade a tais ameaças. É a crise que explica o forte e paradoxal apoio —popular e, por extensão, congressual— à reforma. A crise afetou assim os preços relativos da reforma mitigando para o presidente e os parlamentares o custo de patrociná-la e apoiá-la.

Não há um grande vencedor, mas vencedores. As relações Executivo-Legislativo não são um jogo de soma zero: há ganhos de troca. Os ganhos são máximos quando há delegação e o governo conta com uma base de apoio, pois reduz os custos de transação envolvidos.

Para Bolsonaro, que rejeita a barganha política e o compromisso parlamentar, a reforma que maximiza ganhos é aquela que não contém negociação pública, sobretudo com seu envolvimento pessoal, mas que de fato ocorre e viabiliza apoios (embora a um custo maior). Ele parecia ser o grande vencedor do jogo até decidir ser protagonista e patrocinar interesses corporativos de sua base.

De todo modo, se houver uma retomada da economia, o presidente poderá colher os créditos políticos (cenário mais provável); se não, seu alheamento terá sido eficiente politicamente.

Para Rodrigo Maia, a reforma ideal envolve capitalizar individualmente o surpreendente apoio congressual e na opinião pública à reforma e, sobretudo, ao Parlamento como instrumento de contenção do governo Bolsonaro.

O jogo entre os Poderes é de soma positiva.

15 de julho de 2019
Marcus André Melo, Folha de SPaulo
Professor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale (EUA).

MERCOSUL PRECISA CORRER APÓS PROLONGADA PARALISIA


O Mercosul saiu da letargia. Para se fazer justiça, foi um movimento iniciado pelo governo do ex-presidente Michel Temer, que já havia dado um caráter de pragmatismo ao bloco e recuperado sua vocação original: a de integrar comercial e economicamente os quatro países do Cone Sul - Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.

Não se duvida aqui do desejo sincero de lideranças como Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff, Néstor e Cristina Kirchner de unir politicamente a região. O problema é precisamente esse: convertido em tribuna, o Mercosul descumpria seus verdadeiros objetivos. Enquanto as cúpulas presidenciais serviam para proclamar, com evidente exagero, que nunca se havia feito tanto pelo fortalecimento do bloco, nós comerciais se multiplicavam e exigiam intervenções em instâncias políticas cada vez mais altas para serem desatados. Criaram-se fóruns de pouca serventia, como o Parlasul e o Instituto Social, mas o básico da integração não funcionava e continua sem funcionar. Basta perguntar a qualquer turista brasileiro se consegue recarregar o telefone celular em um hotel em Buenos Aires, sem uso de adaptador, ou questionar qualquer aposentado argentino se acha fácil retirar sua pensão morando no Rio.

Deixando de lado as caricaturas, o Mercosul foi perdendo importância. A livre circulação de bens jamais se consolidou. Do leite em pó uruguaio às maçãs argentinas, sem falar no comércio administrado de automóveis, o protecionismo interno sempre prevaleceu mesmo entre parceiros que se supunham preferenciais. A Tarifa Externa Comum está longe de honrar o nome e cada país vai abrindo exceções nas alíquotas de importação conforme necessidades e conveniências. Fora da região, só três acordos de livre comércio foram assinados. Todos com países inexpressivos: Israel, Egito e Palestina.

O tiro de misericórdia no pragmatismo do bloco foi dado com uma chicana para permitir a adesão da Venezuela, já em escalada autoritária. Travada pelo Senado paraguaio, a entrada do país caribenho ocorreu após uma polêmica suspensão que os sócios do Mercosul aplicaram ao Paraguai, como resposta ao impeachment relâmpago do ex-presidente Fernando Lugo. Se esse arranjo animava as discussões políticas, também gerava semiparalisia funcional.

Entre 2016 e 2018, houve movimentos para recuperar o tempo perdido. Em deterioração rápida no campo dos direitos humanos, a Venezuela foi suspensa. Dois importantes acordos foram alcançados: um de compras governamentais (dando tratamento nacional para empresas de cada país-membro em licitações públicas abertas por outro sócio), outro de cooperação e facilitação de investimentos (oferecendo maior segurança jurídica às empresas com negócios na região).

O maior avanço, no entanto, foi o anúncio do tratado de livre comércio com a União Europeia, negociado exaustivamente ao longo das últimas décadas. Por mais que detalhes, como tarifas e cotas, sejam desconhecidos, as informações já trazidas à tona sugerem um acordo relativamente equilibrado e vantajoso para os interesses sul-americanos. Dá-se, enfim, um sopro de ânimo no bloco como plataforma para a abertura de mercados, lembrando que quatro países negociando em conjunto têm poder de barganha mais alto do que agindo cada um isoladamente.

Do lado brasileiro, uma vez mais para se fazer justiça, é preciso dar o devido crédito a governos anteriores pelo tratado. Dilma foi responsável pela retomada das negociações com a UE e conseguiu costurar, em seu breve segundo mandato, uma oferta de abertura do Mercosul aos europeus - apresentada, curiosamente, na véspera do afastamento pelo Senado. Temer, beneficiando-se do maior engajamento de Mauricio Macri na Argentina, em relação ao protecionismo kirchnerista, acelerou as discussões. Bolsonaro, ao entrar no Palácio do Planalto, já encontrou grande parte do esforço empreendido. Deve-se reconhecer, porém, que nos acordos comerciais a "última milha" das negociações constituem sempre o ponto mais desafiador. Isso dá méritos incontestáveis à sua equipe, embora - ressalte-se - o diabo more nos detalhes e seja necessário ver atentamente se há armadilhas no texto final, como a aplicação do "princípio da precaução" para produtos agrícolas.

Será mais do que legítimo nesta semana, durante a cúpula do Mercosul em Santa Fé, se Macri e Bolsonaro se dedicarem a comemorar o acordo com a UE. Mas a estagnação do bloco foi tão longeva que se recomenda economizar nas congratulações e aproveitar a presidência rotativa do Brasil, nos próximos seis meses, para atacar uma agenda prioritária: eliminar barreiras internas, acelerar tratados de livre comércio, reestruturar a TEC e buscar convergência no que afeta os cidadãos, das aposentadorias a celulares.

15 de julho de 2019
Valor Ecpmômico

"EMBAIXADOR" INDICA QUE BOLSONARO GOVERNA EM FAMÍLIA, COMO SE FOSSE DONO DO PAÍS

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Charge do Iotti (Zero Hora)
Quando a então primeira-dama Marisa Letícia manchou o gramado do Palácio da Alvorada com uma vistosa estrela vermelha do PT, foi um Deus nos acuda e todos nós criticamos o presidente Lula e sua mulher por se comportarem como se fossem donos da residência oficial da Presidência.
Ao indicar publicamente o seu filho Eduardo, o “03”, para ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro age como se sentisse dono, não de um imóvel público, mas do próprio Brasil, supondo que pode fazer o que bem entende.
DIZ MUITO… – A estrela vermelha era inadequada, mas flores num gramado são apenas um símbolo. Indicar o próprio filho para a principal embaixada do planeta não é só símbolo, mas uma decisão concreta que diz muito sobre o presidente e o governo.
Quais as credenciais do deputado Eduardo Bolsonaro para ser embaixador, e logo em Washington, para onde vão os diplomatas mais experientes, preparados e reluzentes da carreira? Fez intercâmbio, fala inglês e espanhol, passou frio no Maine. Ah! E já fritou muito hambúrguer para os gringos.
Ele não cursou o Instituto Rio Branco e só passou em um concurso público: para escrivão de polícia. Segundo o embaixador Rubens Ricupero, ao Estado, “trata-se de uma medida sem precedentes em nossa tradição diplomática e na história diplomática de países civilizados e democráticos”.
QUATRO MESES – Na verdade, coisa de paisecos e ditaduras, ou melhor, de uma ditadura, a da Arábia Saudita, onde o monarca nomeou seu filho Khalid bin Salman embaixador em Washington.
Bolsonaro, o pai, anunciou a demissão do embaixador Sérgio Amaral em março, às vésperas da ida aos Estados Unidos. Mas esperou quatro meses para lançar o nome do filho para a vaga. Por quê? O “menino” só completou na quarta-feira passada a idade mínima para assumir embaixadas. Fez 35 anos e o pai lançou seu nome para Washington no dia seguinte. Pela imprensa! Aliás, subvertendo uma praxe diplomática internacional, de anúncio só após o “agrément” do governo amigo.
Desde a eleição, o “03” já é mentor e executor da política externa, sob a influência do tal guru Olavo de Carvalho. Vetou nomes para chanceler, definiu a lista de candidatos, fez sabatinas com eles e se fixou em Ernesto Araújo (embaixador júnior, diga-se). Adivinhem quem manda?
A ESTRELA – Nos Estados Unidos, a estrela não foi o chanceler nem o embaixador. Foi Eduardo, o único na reunião bilateral do pai com Donald Trump. Nunca se viu algo assim. E ele se meteu nas articulações sobre a Venezuela, visitou o presidente da Hungria ao largo da embaixada do Brasil e nomeou o jovem olavista Filipe Martins como assessor internacional da Presidência da República, fechando o tripé da área externa.
Isso confirma o jeito de ser e de governar de Bolsonaro: com a família, os amigos e quem está próximo o suficiente para incutir ideias em seus ouvidos, como se as decisões de Estado e os planos de governo saíssem de papos no café da manhã ou em mesas de bar. “Cadeirinha é muito chato, né?” “Põe o menino lá.”
ESTÁ PREPARADO? – Daí a mania de armas e a perseguição a conselhos e ONGs, à filosofia e à sociologia, às políticas indígenas e de meio ambiente, aos radares e cadeirinhas, com loas ao trabalho infantil. E as pesquisas e dados científicos, essenciais para a definição de políticas públicas? As universidades? O IBGE? A Fiocruz? O Ibama? Os Denatrans?
O “03” foi o deputado mais votado da história, com 1,8 milhão de votos. Se for para Washington, perde-se um deputado, ganha-se uma dúvida: ele está sendo preparado para ser presidente? Uma dinastia Bolsonaro…

15 de julho de 2019
Eliane Cantanhêde
Estadão

A DIREITA SUICIDA 1


15 de julho de 2019

A DIREITA SUICIDA 2


15 de julho de 2019

A DIREITA SUICIDA 3


15 de julho de 2019

A DIREITA SUICIDA 4


15 de julho de 2919

RECORDAR É VIVER. ENTENDA O QUE FOI O LULISMO

POR QUE GREENWSALD ESTÁ ACIMA DA LEI E DA ORDEM, SEGUNDO O APRTIDO DE MARINA SILVA?

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Nenhum cidadão, estrangeiro ou brasileiro, pode ser “blindado”
A única diferença entre Glenn Greenwald e os traficantes internacionais de drogas é que estes fazem mal apenas aos viciados, enquanto o jornalista está causando mal a um país inteiro. Há brasileiros que estão presos em outros países por tráfico de drogas; exceto os foram condenados à morte e executados.
Aqui, em nossa amada (?) Republiqueta de Bananas Podres, a mídia noticiou semana passada que a Rede Sustentabilidade – partido da dona Maria Osmarina da Silva, vulgar e politicamente conhecida como Marina Silva – entrou com ação no Supremo Tribunal Federal para impedir qualquer investigação sobre Glenn Greenwald. 
BLINDAGEM – Notem bem: impedir qualquer ação sobre o cônjuge (marido ou esposa, pois já foram divulgadas as duas situações civis) do suplente David Miranda, aquele  que ocupou a vaga do deputado federal eleito Jean Wyllys, do Psol-RJ, que renunciou ao mandato em situação agora qualificada pela mídia como “inusitada” e merecedora de investigação, já requerida à Procuradoria-Geral da República e à Polícia Federal pelo deputado José Medeiros (Podemos-MT).
Neste pedido ao Suprelo, o partido (Rede) argumenta que o hackeamento de celulares de autoridades não justifica apuração sobre a conduta do jornalista, inclusive por meio do Coaf, e que a Polícia Federal não pode ser instrumentalizada “para fins de revanchismo” contra quem divulgou as mensagens.
REVANCHISMO – Pergunto: apurar a verdade sobre fatos graves é “revanchismo”?  Desde quando agentes e órgãos exercerem suas atividades fins podem ser considerados atos de “revanchismo”?
Notem bem: o Rede defende a estranha posição de que “o hackeamento de celulares de autoridades não justifica apuração sobre a conduta do jornalista”. Em português claro: a privacidade de um ministro de Estado brasileiro pode ser invadida por qualquer marginal corrupto, mas a vida do marginal corrupto não pode ser investigada pelo Estado brasileiro.  É isso aí, donos do Rede.
E tem mais: na ação o Rede Sustentabilidade (no caso, incluindo a sustentação da impunidade de notório corrupto) está incluído um pedido de decisão liminar, que poderá ser concedida pelo sapientíssimo Dias Toffoli durante o recesso do Judiciário. Se isso não ocorrer, também poderá ser concedido pelo relator do processo, que assume o caso em agosto, o não menos sapiente e popular ministro Gilmar Mendes.
HOMOFOBIA – No dia 13 de junho passado o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou, que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero passe a ser considerada crime. Os protagonistas dos fatos, com declarações públicas, têm demonstrado, à saciedade, seus enquadramentos no que diz respeito à orientação sexual e identidade de gênero, portanto, adquiriram o status de blindados.
Hoje, devido à cronologia dos fatos consumados e de conhecimento público, muitas pessoas estão pensando – acho que erroneamente – que essa decisão talvez tenha sido tomada para proteger Glenn Greenwald e seus comparsas, pois o site de notícias The Intercept Brasil divulgou trechos de mensagens atribuídas ao atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e a membros da força-tarefa da Lava Jato no dia 9 de junho – uma semana antes da decisão do STF.
Situação curiosa; enfim, aguardemos, pois o tempo é o senhor da razão e a verdade é filha do tempo –  até em nossa amada Republiqueta de Bananas Podres.

15 de julho de 2019
Celso Serra

PAUTAS COM PEGADA

Ninguém pagará por aquilo que pode encontrar de forma similar e gratuita na rede

É preciso sentir o cheiro da notícia. Persegui-la. Buscar novas fontes e encaixar as peças de um enorme quebra-cabeças para apresentá-lo o mais completo possível. Dentre as competências necessárias para exercer um bom jornalismo, algumas parecem ser inatas e por mais que se tente aprender, inútil será o esforço. É assim o tal “faro jornalístico”. Uma capacidade quase inexplicável que alguns profissionais possuem de descobrir histórias inéditas, de furar a concorrência e manter pulsando a certeza de que é possível produzir conteúdo de qualidade que sirva ao interesse público.

Nunca se pôs em xeque o papel essencial do instinto jornalístico. Nem eu pretendo fazê-lo agora. Como já venho reiterando há tempos neste espaço, apenas essa vibração será capaz de devolver a alma que, por vezes, percebo faltar ao trabalho das redações. O que quero é acrescentar um aspecto que julgo importante nesta discussão: na era digital, a intuição pode e deve ser apoiada pelos números. A informação precisa ser bem fundamentada.

Realidades que pareciam alheias aos negócios da mídia estão cada vez mais próximas dos veículos. É o caso do Big Data. A cada dia os acessos digitais aos portais de notícias produzem quantidades incríveis de dados sobre o comportamento de nossas audiências, mas ainda não fomos capazes de enxergar o potencial que há por trás dessa montanha de informação desestruturada. Nas redações brasileiras multiplicam-se as telas coloridas que trazem, minuto a minuto, indicadores e gráficos mirabolantes. Ao final de um dia de trabalho, qualquer editor está habilitado a responder quais foram as reportagens mais lidas. Mas e depois disso? Continuamos incapazes de interpretar adequadamente todas essas cifras e utilizá-las a nosso favor.

É preciso investir forte em tecnologia, não há outro caminho. Os jornais The New York Times e The Washington Post, para citar algumas referências da mídia impressa, já entenderam que, neste novo contexto digital, produção de conteúdo e tecnologia vão de mãos dadas. Tanto que em tempos de crise no setor o renomado diário de Jeff Bezos parece fazer questão de andar na contramão da concorrência. Ao invés de enxugar os seus quadros, o que faz é expandir suas equipes. Mas Bezos não contrata apenas jornalistas. Busca também profissionais que, controlando ferramentas de dados, apoiem a redação, o departamento comercial e o marketing. São engenheiros, estatísticos e desenvolvedores que interpretam os números gerados pelas audiências digitais, identificam tendências e propõem estratégias relacionadas ao negócio.

Também não levará muito tempo para que a tão comentada inteligência artificial seja incorporada à rotina das redações. Na Associated Press e em outras agências de notícias já são os robôs que geram parte das notícias sobre os balanços corporativos e o fechamento das bolsas de valores. Um prato cheio para empresas jornalísticas especializadas na cobertura do setor financeiro. Mas com isso não quero dar a entender que, num futuro não muito distante, as redações poderão prescindir de seus repórteres. Apenas acredito que profissionais altamente capacitados deixarão de se dedicar a informações que podem ser geradas automaticamente para contribuírem com reportagens analíticas e contextualizadas. Quem ganha é o consumidor.

Certo é que os veículos não podem assistir inertes ao avanço dessas novas tendências. Não podemos repetir a atitude que tivemos nos primórdios da internet, quando raras figuras nas redações apostavam que o ambiente multimídia tomaria a dianteira nos negócios. Também não podemos reproduzir a postura de meados da década passada, quando, fechados em nossos paradigmas, observávamos, atônitos, como o Google e o Facebook abocanhavam parcelas cada vez mais significativas da verba publicitária.

Na última semana tive a oportunidade de conversar com um grupo de competentes jornalistas e gestores de veículos de comunicação, todos eles responsáveis pelo processo de transição digital em suas empresas. Vindos de diferentes Estados brasileiros e de alguns países da América Latina, eles se reuniram em São Paulo para o segundo módulo do programa Estratégias Digitais para Empresas de Mídia, que dirijo na ISE Business School.

Todos eles estavam desejosos de encontrar novos caminhos de monetização. Em sala de aula crescia a certeza de que as verbas publicitárias não retornarão aos níveis de antigamente e, portanto, os ingressos deverão ser alavancados prioritariamente por meio do conteúdo digital. Como tarefa de casa levaram um desafio nada fácil: olhar para a cobertura de seus veículos e questionar-se se há valor diferencial naquilo que estão entregando aos seus consumidores. Sabem que se a resposta for negativa poucas serão as possibilidades de monetizar esse conteúdo. Afinal, ninguém pagará pelo que pode encontrar de forma similar e gratuita na rede.

Receberam também a missão de colocar a audiência no centro do processo. Já não basta que definamos nós o que precisam os consumidores de informação. É preciso ouvir o que eles têm a dizer. Felizmente, o ambiente digital rompeu a comunicação unidirecional que, por muitas décadas, imperou nas redações. O fenômeno das redes sociais estourou a bolha em que se confinavam alguns jornalistas que produziam notícias para muitos, menos para o seu leitor real. Além disso, perdemos o domínio da narrativa. Chegou a hora das pautas com pegada.

Sou otimista quanto ao futuro das empresas de comunicação, mas não deixo de considerar que o renascer do nosso setor será resultado de um doloroso processo. Passará pela construção de uma identidade editorial sólida, com apoio da tecnologia que permita escutar a voz dos consumidores. Mas, antes de tudo, exigirá uma boa dose de audácia para dinamitar antigos processos e modelos mentais que, até este momento, vêm freando as tentativas de inovação.

15 de julho de 2019
Carlos Alberto Di Franco, O Esado de S.Paulo

RITUAL PARA GASTAR PODE SAIR CARO PARA O CONSUMIDOR

Compradores às vezes adotam comportamento distinto para certos produtos e marcas

Não é segredo que muita gente usa rituais para consumir. É costume de algumas pessoas, por exemplo, separar o biscoito recheado em duas metades antes de comer ou colocar uma rodela de limão no gargalo se a cerveja for mexicana. Alguns mais bem dispostos até enfrentam filas de dias ou semanas pelo direito de ser um dos primeiros a ter um iPhone. As empresas sabem disso e estimulam esses comportamentos, esperando que ajudem nas vendas.

Mas por que os consumidores adotam hábitos só para alguns produtos e marcas? Em um estudo Kathleen Vohs, Yajin Wang (ambas da Universidade de Minnesota), Michael I. Norton e Francesca Gino (Harvard) sugerem que um ritual ressalta o lado positivo de uma compra ou uma experiência. O trabalho foi publicado na revista Psychological Science Magazine.

Em quatro experimentos, 284 estudantes se envolveram em rituais como quebrar um chocolate ao meio, fazer uma pausa para beber limonada ou bater na madeira e respirar antes de comer cenouras. Depois, davam uma nota, de a 1 a 7, para o quanto aprovavam o alimento. Pode parecer inusitado, mas cada ritual levou a uma avaliação mais positiva, e as pessoas também atribuíam um preço maior ao produto.

Rituais tornam a vida melhor e o consumo mais desfrutável, concluem os psicólogos. Vale para alimentos e também café, nossa bebida mais nacional, segundo um trabalho brasileiro.

Estudo dos professores Ronan Torres Quintão (Instituto Federal de Educação Tecnológica de São Paulo), Eliane Pereira Zamith Brito (FGV-SP) e Russell W. Belk (York University), entre os fãs dos cafés mais refinados, aponta que rituais são usados para se destacar dos consumidores comuns.

Beber o café puro, sem leite e sem açúcar, buscar informações sobre a origem do grão e gastar com cafés gourmet até dez vezes o preço de um café comum no supermercado, bem como com moedores e cafeteiras, estão entre os hábitos dos fãs dos cafés especiais. Geralmente, esse conhecimento vem de baristas ou de comunidades especializadas, levando a novos hábitos de consumo.

É lógico que tudo isso torna o ritual de beber café muito mais do que apenas ir ao botequim da esquina — e certamente muito, muito mais caro. A razão? O trabalho, com base nas entrevistas e apontamentos da visita de Quintão a 48 cafeterias nos Estados Unidos e no Canadá, sugere que se identificar com uma subcultura ajuda seus praticantes a gastarem mais, pois estão se diferenciando dos consumidores comuns.

E, falando em beber café, outro caso conhecido de ritual com a bebida é uma ida ao Starbucks. No livro “The Starbucks Experience”, o psicólogo Joseph Michelli nota que a rede de cafeterias americana criou um espaço que vende a mística de que cada empregado gosta tanto de café quanto os clientes. A ideia veio de pequenas cafeterias italianas, visitadas pelo criador da rede, Howard Schultz. Todo esse esforço, diz Michelli, torna o ritual de beber um expresso no Starbucks uma espécie de oásis na vida atribulada das grandes cidades americanas.

A razão? Rituais levam a interesse e envolvimento maior com o que consumimos, dizem Kathleen Vohs e seus colegas. Do lado positivo, como mostra o primeiro estudo, rituais podem ajudar no esforço de uma alimentação saudável, fazer exercícios, bons hábitos financeiros ou ser mais produtivo. Mas, quando se trata de consumo, quase sempre significam que você vai gastar mais.

A não ser que se tenha um ritual contra isso.

15 de julho de 2019
Samy Dana
O Globo

A TENTAÇÃO ESTOICA

A própria ideia de que a prosperidade seja parâmetro de saúde mental é algo ilusório

Alguns leitores me perguntaram o que eu quis dizer quando me referi dias atrás a “opção Jon Snow”, um dos personagens centrais da série “Game of Thrones”. Descrevi essa opção como sendo uma utopia estoica.

Jon Snow, verdadeiro herdeiro legítimo ao trono de ferro na série, recusa desde cedo qualquer cargo de poder que lhe é oferecido, evoluindo ao longo da trama para uma atitude muito próxima ao ideal estoico. O que é esse ideal estoico?

Os nomes mais famosos dessa escola filosófica são romanos, e gente poderosa, como o imperador Marco Aurélio e os senadores Sêneca e Cícero, todos vivendo no auge do império romano. Mas, para além de nomes famosos, a ética estoica permanece encantadora por seu chamado à renúncia dos engodos do mundo.

Muitas pessoas que detestaram o final da série o fizeram por entender que o destino de seu maior herói, Jon Snow, foi demasiadamente melancólico.

Se o temperamento estoico sempre foi marcado por uma certa melancolia, como pode essa ética antiga permanecer encantadora para aqueles que se sentem atraídos pela sua visão de mundo? A fortuna crítica se refere a ela como “constante estoica” no sentido que, apesar das mudanças históricas entre o mundo antigo e o nosso, o estoicismo continua falando conosco. Qual seria esse idioma?

O estoicismo parte do pressuposto de que há um grande engodo na vida. Esse engodo é a busca do sucesso. Talvez, uma das melhores sínteses do estoicismo seja as seguintes questões: vale a pena buscar o sucesso na vida? Isso deve ser nosso critério de felicidade? E aí, tocamos numa nota essencialmente constante do estoicismo.

Arriscaria dizer que, se o desafio estoico (a recusa ao engodo do sucesso) era um desafio para poucos na Antiguidade (reis, senadores, aristocratas, Jon Snow), hoje ele foi “democratizado”. A própria ideia de que a prosperidade seja parâmetro de saúde mental é algo que chama a atenção para qualquer temperamento estoico. Dito de outra forma: o estoicismo nunca foi tão necessário em dias como os nossos, rasgados pela breguice do sucesso como ontologia.

Marco Túlio Cícero, senador romano envolvido no assassinato de Júlio Cesar, um dos filósofos mais importantes do período romano, em seu “Paradoxo dos Estoicos”, publicado no volume “Textos Filosóficos” da Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa, analisa algumas máximas estoicas.

Sabemos que Cícero guardava uma relação no mínimo ambivalente, para não dizer eclética, com o estoicismo, diriam alguns, justamente, pela sua enorme vaidade moral e ambição política. Traços que conflitam frontalmente com a ética estoica.

Nessa obra, entre outras máximas, duas são muito características do temperamento estoico. Vamos a elas: 1) “Apenas o sábio é livre, todo o insensato é escravo”; 2) “Apenas o homem sábio é rico”.

De partida, sabemos que o estoicismo sempre relacionou felicidade a sabedoria. A primeira nos fala da liberdade do sábio. Mas liberdade em relação a quê? A pergunta é vasta, mas, seguramente, liberdade em relação às ambições mundanas, como dinheiro, poder e sexo.

Não se trata de uma condição celibatária, tampouco de um voto de pobreza, mas do reconhecimento de que há um combate contínuo com o risco da insensatez, entendida como a escravidão a dinheiro, poder e sexo —numa palavra, as paixões. Essa é busca pela autonomia estoica. Sempre se soube que essas três coisas estão relacionadas.

Os americanos sempre dizem “siga o dinheiro”, os franceses “busque onde está a mulher na história”, ambas as máximas no sentido de que, onde há dinheiro e sexo (claro, estou falando do ponto de vista masculino heterossexual, que sempre teve a maior parte do poder no mundo; é sempre bom avisar aos inteligentinhos e seus irmãos caçulas, os idiotas de gênero), há briga pelo poder. As três realidades estão profundamente imbricadas.

Se juntarmos as duas máximas estoicas citadas por Cícero, chegamos à conclusão de que a riqueza verdadeira não é muito dinheiro e muito poder para ter muitas mulheres, mas a capacidade de resistir à atração incontrolável desses três fatores sobre nossa natureza (claro, isso vale pra todos os sexos da humanidade).

A utopia estoica é atingir a ataraxia, uma alma em repouso, que não se ilude com as promessas efêmeras do mundo. Numa cultura da prosperidade como a nossa, o estoicismo continuará encantador, justamente pelo seu desprezo a tudo aquilo que os idiotas do sucesso pregam.

15 de julho de 2019
Luiz Felipe Pondé, Folha de SPaulo
Escritor e ensaísta, autor de “Dez Mandamentos” e “Marketing Existencial”. É doutor em filosofia pela USP.