"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

SÃO PAULO INAUGURA CRACKGARTEN

Segundo o secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Vitore Maximiano, "temos uma pesquisa recente que indicou uma prevalência de 0,8% da população brasileira (1,6 milhão). Estamos falando de quem faz uso regular do crack. Embora essa pesquisa reflita a prevalência das capitais, a nosso ver ela mostra um retrato do País. Em São Paulo, a média de uso estaria dentro da média nacional". O estudo foi feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com pesquisadores da universidade de Princeton, nos Estados Unidos, para a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad).

Consta que na cidade de São Paulo o número de viciados (perdão, leitor! Viciado é quem fuma cigarros. Quem fuma crack é usuário) é de 350 mil. Os números divergem conforme a fonte. Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, articulador da política antidrogas paulista, a quantidade de usuários de crack é maior. "Existe 1 milhão no Brasil – 40% no Estado de São Paulo", afirma.

Segundo pesquisas, o número de usuários (disse-o bem?) de cocaína ainda é maior. Isso sem falar na maconha. Há muito venho me divertindo com os bobalhões que falam em legalizar a droga no Brasil. Se pelo menos uns três, quatro ou cinco milhões de brasileiros – cálculo por baixo – usam crack, cocaína e maconha, com conhecimento das autoridades, a droga há muito está legalizada. Os fatos venceram as boas intenções.

Se é crime, como punir? Há pelo menos 150 mil criminosos julgados e condenados à prisão no país, circulando pelas ruas livres como passarinhos, por falta de vaga em prisões. Onde colocar três milhões? A droga venceu a lei e deu de dez a zero nos legisladores.

O Estadão publicou na semana passada uma série de reportagens que mostra o estrago que vem sendo feito pelo crack em todo país. Droga baratinha, é consumida tanto por miseráveis como pela classe média. A praga grassa por metrópoles e pequenas cidades de todo o país. Nas grandes, formam-se as cracolândias, onde os viciados (perdão, de novo), digo, os usuários, consomem a droga ao ar livre, sob o olhar protetor da polícia. Nas menores, existem quartos para o consumo, à semelhança das casas de ópio do Oriente, pagos inclusive com a própria droga.

Segundo Laranjeira, "o crack está em todos os municípios, isso a gente pode falar". Em sua opinião, o avanço pelo interior segue "um fenômeno nacional" de pulverização do mercado da droga, movido pela melhoria das condições econômicas da população. "A droga segue o dinheiro. No Estado, ocorreu a pulverização dessa rede de distribuição. O tráfico não é só mais na favela.

Não bastasse assolar as cidades, o crack foi para a roça. Diz a reportagem do Estadão:

“Nos canaviais, o problema é antigo e diminuiu significativamente com a substituição do corte manual pela colheita por máquinas. "Caiu mais de 70% a migração de pessoas do Nordeste e do Norte para regiões produtoras de cana de São Paulo", conta o padre Antônio Garcia Peres, da Pastoral do Migrante, que atendeu por 20 anos cortadores de cana na região de Guariba, onde havia muitos casos de crack nas lavouras.

“Mas, nos laranjais e cafezais, produtores e sindicatos ainda têm de lidar com o vício entre os agricultores, principalmente os mais jovens. Já chamada de "criptonita", em referência ao mineral que acaba com a força do Super-Homem, a droga é usada como combustível pelos trabalhadores rurais e também como válvula de escape, depois de extenuantes jornadas. Muitos alojamentos de trabalhadores que migram para passar seis meses no Sudeste e conseguir um pouco de dinheiro acabam virando casas de consumo. "A gente tem trabalhador da colheita de laranja e temporário da colheita do café. Gente que vem de fora, como ocorre muito em Gália e Fernão, e acaba se envolvendo com o crack, não no ambiente de trabalho, mas no local onde dorme e passa o fim de semana", afirma o coordenador do Caps AD de Garça, José Roberto Ottoboni”.

Na capital, os usuários (ah! agora finalmente acertei!) gozam de mordomias. Para estimular o uso da pedrinha, o prefeito Fernando Haddad, do PT, ofereceu trabalho, salário, hotel e comida de graça aos nóias, digo, usuários. O resultado foi um pouco contraproducente: o preço da pedra subiu em flecha.

Mês passado, para não perturbar o consumo público da droga, Haddad decidiu colocar um "cercadinho" na região da Cracolândia, no centro de São Paulo.

"Nós organizamos o território para que não haja obstrução. As pessoas têm o direito de transitar. Às vezes quando você toma uma medida causa uma reação até as pessoas compreenderem", disse o prefeito, que apontou ser uma medida que depende de um "pacto" com as pessoas que frequentam a área.

Um cercado de metal foi erguido na esquina da alameda Cleveland e da rua Helvetia. A idéia, segundo o prefeito, era organizar o fluxo de pessoas que passam por ali, pois moradores têm reclamado da presença dos usuários obstruindo as ruas, principalmente a alameda Dino Bueno.

Na Alemanha, os bares delimitam uma área nas calçadas para seus clientes, chamada Biergarten. Ou seja, jardim da cerveja. São Paulo, a pioneira – non ducor, duco – criou, para exemplo das nações, os crackgarten.

MALUF ENTROU NUMA FURADA AO APOIAR DILMA

 
   

Ou a presidente sabe muito bem o que está fazendo ou está cada vez mais metendo os pés pelas mãos, o que é eu acho mais provável.
De quem se esperava (ao menos foi isso que o Lula vendeu) uma competência gerencial, o que se viu foram apenas decisões desastrosas que fazem o país ficar patinando nesse pibinho medíocre.

Quanto à parte política, esperava-se que continuasse sendo conduzida pelo padrinho, mas o que se observa cada vez mais é que a criatura engoliu o criador, logo o PT não está unido em torno dela para a selvagem campanha eleitoral que se aproxima.

Assim, essa iniciativa de começar querer governar por meio de decretos é totalmente furada. É o caso de perguntar para ela (tal como Garrincha na Copa de 1958) se já combinou com os russos, isto é, com as cobras criadas do Congresso (leia-se: Sarney e Calheiros).
No fundo, o que eles mais desejam mesmo é que seja ela a candidata governista, pois aí mais do que nunca ela vai ter governar um segundo mandato comendo nas mãos deles, pois uma coisa é certa: a bancada do PT nas próximas eleições vai ser muito menor que a atual.

Escrevo isso tomando por base (apenas como um exemplo) as pesquisas eleitorais da Bahia, que apresentam o candidato do DEM disparado na frente com mais de 50% das intenções de votos, mas contraditoriamente também apresentam Dilma na liderança com os mesmos 50%. Ora, se está havendo um enfraquecimento do PT até na Bahia (onde o Bolsa Familia deveria ser decisivo e de certa maneira ainda é), imagine em outros estados.

Com certeza Dilma não vence em nenhum estado do sul, nem em SP ) muito menos em MG. Outra coisa também é certa, tal como os donos do Congresso (Sarney e Calheiros), o candidato Aécio deseja mais do que ninguém que a candidata governista seja a própria Dilma, tal como o seu avô torcia para que o candidato governista em 1984 fosse o Maluf e não o Andreazza.

Aliás, sobre o Maluf afirmo aqui – é um excelente tocador de obras, um razoável administrador e um péssimo estrategista político. Está sempre na onda errada, e apoiar a Dilma agora é um tiro na água.
 

O BRASIL VAI SENTIR FALTA DE JOAQUIM BARBOSA


 
Na mesma semana em que o ministro Joaquim Barbosa anunciou sua saída precoce do Supremo Tribunal Federal, noutro ponto do país Lula aconselhava sua pupila: “Durante a campanha, seja Dilminha, paz e amor…”.
 
Sobre o primeiro, foi televisionada sua impaciência, grosseria mesmo, ao revidar ou se antecipar a seus pares em momentos de discordância no julgamento do mensalão. Dava vontade de aconselhá-lo a se conter, porque, com seus rompantes, quase punha a perder o conteúdo de suas argumentações. Mas este, infelizmente, é um país de aparências.
Todos que com Dilma convivem dizem que ela desrespeita, grita, leva às lágrimas, humilha subalternos.
 
Começam por aí as diferenças entre os dois. Ela destrata seus inferiores hierárquicos (enquanto bajula, sem parar, seu superior, Luiz Inácio Lula da Silva). Basta lembrar um filme de propaganda em que ela, ainda ministra da Casa Civil, gentilmente o tratava por “Senhor presidente”, “Sim, senhor, senhor presidente”. Bem me lembro. Aliás, para mim, péssimo sinal de caráter: os que aos berros gritam com os de baixo e que humildemente bajulam os de cima.
 
TEM DE TAMBÉM OUVIR
 
Joaquim vociferava contra pares, isto é, iguais e, por isso mesmo, deles ouvia resposta no mesmo tom. Nada era engolido. Com superior, você ouve calado e obedece. Com pessoa do mesmo nível, você se atraca, mas tem de também ouvir.
 
Joaquim Barbosa precisa ser lembrado pelo que trouxe de novidade à mais alta Corte do país. Para meu juízo, bastam duas preciosíssimas lições. A condução que deu ao julgamento mais célebre que já houve: a começar por provar desvio de dinheiro púbico, o relator da Ação Penal 470 pôs de pé o ovo de Colombo. Duvidei por muito tempo que o julgamento chegasse a qualquer lugar devido ao emaranhado de acusações, envolvendo falcatruas de toda sorte, gente graúda e simples assessores.

Como tornar tudo aquilo uma narrativa solidamente amparada por normas punitivas, segundo o ordenamento jurídico nacional? E aos que hoje se ressentem do envio do caso Azeredo para a primeira instância, que não se esqueçam de que há quem sustente que foi a pedido do réu José Dirceu que foram todos julgados no STF, e não apenas os que continuavam a deter mandato popular. Erro de avaliação, talvez.

A divisão dos acusados em núcleos diversos, conforme o papel que desempenhavam no processo, também merece registro. Com isso, pôde-se visualizar quem mandava e quem se locupletava (ou esperava locupletar-se), quem apenas agia como leva e traz e quem se valia do que propiciam os hoje famosos contratos de propaganda entre órgãos governamentais e agências de publicidade.
 
Para mim, mais que tudo isso, valeu sua disposição de entregar o cargo para que outros tenham a oportunidade de ocupar o lugar de magistrado no Supremo. Oxalá seu exemplo seja seguido por muitos que lá já deram o que tinham de dar, ou aqueles que no Parlamento e nos Executivos se perpetuam “ad saecula saeculorum”. Tomara que essa seja sua maior herança!

DILMA ESTÁ POR UM FIO. ATÉ O MARQUETEIRO DELA JÁ DIZ QUE "A COISA ESTÁ REALMENTE FEIA".

Não se fala em outra coisa no Planalto, no PT e no Instituto Lula. Aliás, não se fala em outra coisa também no governo e na oposição.
Todas as atenções estão concentradas para o diagnóstico feito pelo publicitário João Santana, que Dilma pensa ser marqueteiro dela, mas na realidade trabalha para o PT.

Numa reunião da campanha de Dilma na noite de anteontem no Palácio da Alvorada, diante do ex-presidente Lula e da atual presidente, o publicitário teria apresentado pesquisas mostrando que caiu a confiança do eleitor na capacidade do governo para promover mudanças.

“A “coisa está realmente feia para o governo federal”, teria dito Santana à cúpula do partido, segundo a Folha de São Paulo.
O marqueteiro se baseia nas pesquisas que o PT manda fazer semanalmente e que estão mostrando a presidente Dilma Rousseff em viés de baixa, sem conseguir mobilizar a opinião pública, apesar de seu boom de viagens e inaugurações pelo país nos últimos dois meses. Tem sido vaiada com frequência e a recepção é sempre fria. A a presidente se esforça, mas não tem despertado entusiasmo, muito pelo contrário.
 
AÉCIO COMEMORA

“Eu concordo com o marqueteiro-mor do governo, João Santana. A coisa está realmente feia para o governo. Mas deveriam ter percebido isso lá atrás quando aparelharam de forma irresponsável a máquina pública, desqualificando a gestão pública, permitindo que os malfeitos pudessem avançar por todas as áreas do governo”, afirmou Aécio Neves à Folha, ao saber das novidades.

Já se colocando como candidato, o tucano disse que será “a alternativa mais responsável” à Presidência, com “experiência e quadros para fazer as mudanças que o Brasil espera”. “O que eu percebo por onde eu ando é apenas um sentimento: já deu. Ninguém aguenta mais o que está se assistindo no Brasil’, afirmou Aécio Neves.

Traduzindo: a candidatura de Dilma Rousseff subiu no telhado, às vésperas da convenção do PT, que será dia 29 deste mês. No PT e no Instituto Lula, o clima é de euforia com a possibilidade de Lula sair candidato. E amanhã sai a nova pesquisa Datafolha, colocando ainda mais emoção na disputa presidencial.

05 de junho de 2014
Carlos Newton 

O NEGÓCIO DA CHINA




Em um momento em que os Estados Unidos tentam, inutilmente, isolar a Rússia, atacando-a com sanções, e enfraquecer a unidade dos BRICS, Putin viajou a Pequim e fecha o que pode ser chamado de o maior acordo comercial da história: o fornecimento, pelos russos, de 400 bilhões de dólares em gás, à China, pelos próximos 30 anos.

Aturdidos, “analistas” e observadores “ocidentais” estão fazendo força, nos diários econômicos internacionais, para ressaltar o caráter comercial do acordo. Esquecem-se, ou fingem esquecer-se, por conveniência, que  tudo, ou quase tudo, que a Rússia e a China fazem, neste novo  século, têm, em seu âmago, forte conotação geopolítica.

A decadência econômica da União  Européia, hoje, um projeto fracassado, que os alemães relutam em continuar bancando; a vassalagem europeia, do ponto de vista político e militar, aos interesses norte-americanos a que cada vez mais europeus se opõem; a desorientação estratégica dos EUA, em um mundo em que sua hegemonia se esfarela a cada dia, e suas aventuras perigosas e mal sucedidas em lugares como a Síria e a Ucrânia.

São estes os fatores que estão por trás da assinatura do Negócio da China e que atraem Pequim e Moscou como gigantescos imãs, para um novo projeto euro-asiático que pode mudar o mundo.

PRIMEIRO PASSO

Nessa aliança, o gasoduto previsto no contrato – classificado por Vladimir Putin como a maior obra do mundo nos próximos quatro anos – é apenas o primeiro passo para a ocupação e o desenvolvimento da vasta fronteira que se estende entre os dois países, e o imenso território da Mongólia, nação que também se beneficiará com o acordo.

Junto com a Ferrovia Transiberiana, e a Transmongólica, que liga São Petersburgo a Pequim, e as novas obras que estão sendo construídas para a interligação terrestre dos dois países, no que já se está chamando de Nova Rota da Seda, o gasoduto unirá, como gigantesca ponte, os países da CEI – Comunidade dos Estados Independentes,  que estão ligados a Moscou pelo passado comum soviético, e os países da OCX – Organização de Cooperação de Xangai, que, junto com a China, já representam o maior mercado do mundo.

Para se desenvolver, o projeto euro-asiático, ao qual poderá se unir, também, depois, a Índia, contará, no coração do maior continente do planeta, com dezenas de milhões de quilômetros quadrados de área e bilhões de habitantes, unindo a maior potência energética do século XXI ao maior consumidor de energia da nossa época.

Historicamente estendida entre o Leste e o Oeste, a Rússia, traz, em seu brasão, uma águia bicéfala dourada sobre campo vermelho.

A partir de agora, uma cabeça vigiará, permanentemente, o Ocidente, enquanto a outra trabalhará, junto com o Urso Chinês, na epopeia da construção da Nova Eurásia, nas vastas estepes do oriente.

05 de junho de 2014
Mauro Santayana
(Jornal do Brasil)

ELES NÃO SENTEM PIEDADE DE NÓS

  
 

14 DE JANEIRO DE 1996 -  Neste dia, a comerciária Cleusa de Oliveira, 39 anos, foi levada por populares ao Hospital Padre Olivério Kremer, em Realengo, subúrbio do Rio, após ter sido encontrada caída na rua, com fortes dores no peito e sem força para caminhar. Carregada, chegou ao hospital às 21 horas. Mas não passou da porta de entrada, onde permaneceu deitada num banco de cimento. Uma hora e meia depois de agonizar, morreu ali mesmo. O relógio marcava 22 horas e 30 minutos.

Foram inúteis os apelos, os gritos, a revolta das pessoas que se agrupavam perto de Cleusa. Uns à espera de atendimento. E todos clamando  para que os médicos socorressem Cleusa. Quase derrubaram as grades da portaria, que estavam fechadas. Os médicos não a socorreram. “Estamos em greve“, ouvia-se dizer as vozes do pessoal vestido de branco e que vinham lá de dentro do hospital. Era o que também se lia nas faixas esticadas na portaria. Por causa da greve, equipes de televisão estavam presentes à porta do Olivério Kremer. Tudo foi flagrado pelas câmeras, desde a chegada até Cleusa morrer e  exibido nos noticiários do dia seguinte.
 
O PROCESSO JUDICIAL

Cleusa deixou apenas um filho de 14 anos. Posto sob a tutela da tia, o menino deu entrada na Justiça com ação indenizatória contra o Estado do Rio de Janeiro. Em fevereiro de 1997 veio a sentença impondo ao Estado-réu a obrigação do pagamento de pensão e dano moral ao filho. E paralelamente, o Promotor de Justiça ofereceu denúncia contra 5 médicos plantonistas, acusados pelo Ministério Público como autores de homicídio (artigo 121 do Código Penal). Ouvido a respeito da condenação do Estado, o então governador Marcelo Alencar declarou à Folha de São Paulo: “O Estado vai recorrer”. De minha parte e como advogado da causa e também procurado pelos jornalistas, respondi: “O Estado se recorrer vai perder novamente”. O Estado recorreu e perdeu. O Tribunal de Justiça manteve integralmente a Sentença da 1ª instância. Da parte do Estado, houve uma só mudança: trocaram o nome do hospital que passou a chamar Hospital Albert Schweiter. Nada mais.

NADA MUDOU. PIOROU, ATÉ.

2 DE JUNHO DE 2014 -  Foi anteontem. O fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, 63 anos, saiu de casa para caminhar no Aterro do Flamengo. Ao voltar para casa de ônibus, sentiu fortes dores no peito dentro do coletivo (linha 422, Grajaú-Cosme Velho). Sem perder tempo, o motorista Amarildo, imediatamente, parou o ônibus na porta do Instituto Nacional de Cardiologia  (INC)e pediu que socorressem aquele passageiro. Amarildo — e mais gente com ele — todos imploraram socorro, justamente na instituição pública federal especializada em cardiologia. No entanto, como noticiam os jornais de ontem e de hoje, Luiz Cláudio “não recebeu qualquer cuidado dos médicos do instituto… após dez minutos de espera, ele foi atendido pela equipe de uma ambulância que chegava ao instituto. Só meia hora depois à parada do ônibus é que bombeiros do Samu chegaram para prestar socorro. Eles tentaram, em vão, reanimar o fotógrafo por 40 minutos… Além de a unidade de saúde não ter serviço de emergência, os profissionais de saúde estavam em greve
(O Globo, edição de hoje, 4.6.2014, p. 12/13).

SEM DESCULPAS, SEM JUSTIFICATIVAS

Não existe motivo algum, minimamente plausível, para que Luiz Cláudio não fosse socorrido pelo INC. Imediata e eficazmente socorrido. Dizer que lá não existe serviço de emergência é de um cinismo sem igual e repugnante. Tem, sim. E tem muito mais que uma emergência. Tem um serviço completo e moderno e que as emergências não têm. Tem médicos e pessoal especializado. Tem equipamentos e tecnologia avançadas e específicas para prestar todo tipo de socorro aos cardíacos. Mais ainda àquele que está com a vida por um fio, agonizante, caído no chão de um ônibus parado na porta do INC e com o coração quase parando. Até que parou de bater.

No que diz respeito à greve, subscrevo o editorial de hoje do O Globo: “HOMICÍDIO - A SAÚDE é um serviço essencial, regido por normas em caso de greve, a fim de que, em hipótese alguma, haja risco de vida e a segurança do cidadão. O CONTRÁRIO do que ocorreu no caso do fotógrafo Luiz Claudio Morigo, que morreu num ônibus, em frente ao Instituto Nacional de Cardiologia, devido à falta de atendimento por médicos de braços cruzados. UM TRÁGICO episódio que exige investigação policial séria, para cobrar responsabilidades, inclusive com o possível enquadramento de culpados por homicídio“.

E concluo eu:  Eles não sentem piedade de nós, como não sentiram de Cleuza, da pequena Adrielly, de Luiz Cláudio…..

05 de junho de 2014
Jorge Béja

FORÇA DA EQUIPE BRASILEIRA




Felipão, em uma entrevista a Falcão, para o Fox Sports, disse que gosta e presta muita atenção no que escrevo, que respeita minhas críticas, mesmo quando discorda. Fico satisfeito e digo a ele que também admiro seu trabalho. Mas não sigo nenhuma linha crítica. O elogio e o critico, e a todos os treinadores, pelo que vejo, certo ou errado, sem pré-conceitos.
 
Pelé disse, em uma entrevista à “Folha”, que hoje faltam craques, e que Cristiano Ronaldo é apenas um bom finalizador, um Dadá Maravilha. Discordo. Cristiano Ronaldo já está entre os grandes da história, e existe hoje um grande número de craques, evidentemente, nenhum como Pelé.
 
Enfim, vi, da varanda de meu apartamento, uma bandeira verde e amarela, em um dos prédios vizinhos. Lembro-me que, poucos dias antes da Copa de 1998, me encontrei com um torcedor brasileiro em Paris, decepcionado, porque não havia festa na cidade. Para ele, se fosse no Brasil, todas as ruas já estariam enfeitadas. Isso deve ocorrer quando a bola rolar, para valer. Ontem, em Goiânia, o torcedor começou a festejar, sem deixar de protestar.
 
VITÓRIA FÁCIL PARA O BRASIL
 
O sistema defensivo não teve trabalho, pela fraqueza do Panamá e porque a equipe brasileira marca por pressão, o que dificulta para o outro time se organizar e chegar ao ataque. Mesmo em um jogo fácil, o Brasil usa muito a falta técnica. Cometeu 20, contra 11 do Panamá.
 
Enquanto Alemanha e Espanha têm vários craques no meio-campo, ficam com a bola, mas criam poucas chances de gol, o Brasil, mesmo sem ter um grande talento nesse setor e sem trocar muitos passes, mostra eficiência no ataque, por causa do avanço dos laterais, das ótimas finalizações de Hulk, das jogadas aéreas e, principalmente, dos lances individuais e espetaculares de Neymar. O Brasil tem um excelente time, mesmo sem ter um excelente meio-campo.

Tostão
O Tempo

O HUMOR DO DUKE


 
Charge O Tempo 04/06

 
05 de junho de

E AÍ? A NOVA PESQUISA DATAFOLHA SAI OU NÃO SAI HOJE?

   



Enorme expectativa no Planalto, no PT e no Instituto Lula quanto à nova pesquisa Datafolha sobre as intenções de voto da eleição presidencial e da sucessão paulista, que está prevista para ser divulgada hoje, quarta-feira, segundo o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O motivo do suspense ser ainda maior é porque este levantamento deve ser mais confiável que todas as pesquisas feitas até agora, porque desta vez estão sendo ouvidos 4.340 eleitores, o que significa aproximadamente o dobro do número de entrevistados em outras pesquisas.
 
A última pesquisa do Ibope, por exemplo, ouviu apenas 2. 002 eleitores. E neste caso do Datafolha o erro admitido será de aproximadamente 2% para cima ou para baixo, enquanto as outras pesquisas têm margem de 3% ou mais.
 
O PT está fazendo levantamentos mensais, mas são sigilosos e não têm registro do TSE. A diferença é que as pesquisas encomendadas pelo partido também não chegam ao número de entrevistados ouvidos pelo Instituto Datafolha. Como se sabe, a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição depende das pesquisas indicarem se haverá ou não segundo turno e se o prestígio dela estiver em viés de baixa. Caso contrário, o PT lançará Lula.
 
O Datafolha está fazendo simultaneamente uma pesquisa sobre a preferência do eleitorado de São Paulo para governador e senador. A divulgação do resultado também deve ocorrer hoje ou amanhã.
Estava previsto que seriam entrevistadas 2.030 pessoas em 61 municípios paulistas.
 

OCÊ SABE COM QUEM CÊ TÁ FALANDO?

Para juiz, Paulo Octávio foi preso porque seguiria na ‘seara criminal’ e acreditava na impunidade 

 


No despacho que determinou a prisão do ex-vice-governador do Distrito Federal Paulo Octávio (PP), o juiz da 2ª Vara Criminal de Taguatinga, Wagno de Souza, disse que o envio do político à cadeia era a única forma de desestimulá-lo a continuar na “seara criminosa”.
 
Segundo o magistrado, Octávio acreditava na “impunidade da repressão Estatal” e descumpria ordens judiciais afrontando “a tudo e a todos” para “atingir seus objetivos empresariais”. A prisão de Octávio se deu no bojo da operação Átrio da Polícia Civil de Brasília. Ela investigou uma organização criminosa, da qual o político supostamente faz parte, voltada para a liberação ilegal de alvarás para empreendimentos.
 
Para o Ministério Público, além de ter usado o esquema para obter alvarás de seus empreendimentos, entre eles um shopping center, Octávio ainda teria atrapalhado as investigações ao pedir para que o então administrador de Taguatinga Carlos Jales não entregasse documentos a uma promotora de Justiça.
 
“BRECAR UMA PROMOTORA”
 
Em gravações telefônicas autorizadas pela Justiça, Jales pergunta a Octávio como faria para “brecar uma promotora”. Octávio, por sua vez, responde: “Você não entrega [os documentos], ué”. “Todos esses fatos evidenciam que em liberdade o representado encontrará estímulos para continuar na seara criminosa, uma vez que a atuação Estatal, até o momento, não se mostrou suficiente para lhe impor um freio inibitório. Certamente ele acredita na impunidade da repressão Estatal”, diz o juiz em trecho da decisão.

O juiz ainda destacou que Octávio teria orientado “seus subalternos” a mentirem sobre seu paradeiro, dizendo que ele estava em “viagem e sem previsão de retorno”, para evitar que oficiais de Justiça o encontrassem.
Outro ponto destacado pelo magistrado foi o fato de Octávio, mesmo após ter sido levado coercitivamente a depor sobre os supostos crimes, em novembro passado, manteve a data de inauguração de seu shopping e foi flagrado em diálogo dizendo que só “só a força policial” poderia impedi-lo de inaugurar o empreendimento.
 
DESPREZO PELA LEI
 
“Os documentos carreados nos autos apontam no sentido de que ele [Octávio] despreza o ordenamento jurídico e o convívio social harmônico (…) a segregação cautelar se mostra indispensável, sobre tudo para assegurar a tranquilidade social e resguardar a credibilidade da Justiça”, diz trecho da decisão.
No mesmo despacho, o magistrado considerou que não seria necessária a determinação de prisão preventiva do ex-administrador de Taguatinga Carlos Jales, uma vez que ele já não estava mais ocupando a função pública. Determinou, contudo, que Jales e outros investigados se apresentem à Justiça uma vez por mês sob risco de detenção no caso de não comparecimento.
 
ESTRELA DO PP
 
A advogada Roberta Castro, que faz a defesa de Octávio, negou os crimes e disse à reportagem que o ex-vice-governador já se manifestou em juízo sobre todos os fatos. Por isso, não há justificativas para uma prisão preventiva. “A prisão foi mal fundamentada e está equivocada. Não há menção a crime no diálogo [com Jales sobre a entrega de documentos à promotora]. Vamos aditar o habeas corpus e rebater cada ponto”, disse.
Apesar de preso, Octávio estrelou programas de TV do PP nesta terça-feira (3). As inserções foram ao ar em Brasília em horários próximos aos dos telejornais que comentavam sua prisão.

05 de junho de 2014
Deu no site BemParaná

OS PASTORES DO BRASIL E OS FÉRTEIS PASTOS

Trabalhe mais, mais, mais para carregar o clero e a nobreza da politicalha e de seus amigos nas costas




Muitos são os maus políticos e falsos pastores, sempre muito bons no discurso, mas quase sempre péssimos na prática. Na hora da verdade, quando dotados de poder, é que as atitudes revelam os homens e os partidos.

País rico é o de povo mais forte e governo menos corrupto. A frase que substituiu a do país de tolos poderia ser essa. Por que não?

Temos que chamar o psicanalista Caio Fábio para explicar a aplicação pelo governo da “teologia da prosperidade” no Brasil.
Essa doutrina se multiplica na televisão, no governo, contaminando e implodindo igrejas, mentes e Estados.

Ela já minou e descaracterizou o cristianismo, pois não tem nada a ver com as suas bases e com seu conteúdo de humildade, verdade e não manipulação bíblica, prudência, sabedoria, amor, justiça e caridade, e também está matando o Brasil, pois encontra-se instalada e em plena aplicação no governo do país rico (que só paga mico).

TRABALHE E CONTRIBUA MAIS

Contribua mais, mais, mais, mais, cabalística e cavalísticamente para pagar juros, desviar, doar, emprestar com molezinha, enriquecer e dar boa vida aos vigaristas, e você será “abençoado” por um “Uelfairisteiti”. Trabalhe mais, mais, mais para carregar o clero e a nobreza da politicalha e de seus amigos nas costas.

O problema dessa “teologia da prosperidade” governamental é que ela só gera prosperidade para um lado, aquele que tributa, aquele que recebe, aquele que se beneficia.

Para aquele que é pesadamente tributado, jurado e enganado, essa doutrina herege somente gera pobreza e desilusão, por ter confiado demais nos homens.
 

DEPUTADO QUER VETAR IMPORTAÇÃO DE SABER


A conspiração para analfabetizar o país deve ter começado há pelo menos meio século. Foi quando retiraram do secundário o ensino do grego e do latim e do francês. De lá para cá, só tem avançado. Continuou com o despreparo dos professores, a tal de progressão continuada e culminou recentemente com a adaptação de O Alienista, de Machado, a uma linguagem que os jovens entendam. Curiosamente, ninguém pensou ainda em traduzir Guimarães Rosa ao português.

A analfabetização imposta ao ensino secundário avançou universidade adentro. Ainda há pouco, falei do que ouvi na UFSC, Universidade Federal de Santa Catarina, na primeira reunião que participei no Departamento de Língua e Literatura Vernáculas. Duas alunas, quartanistas de Letras, pediam ao Departamento um professor para explicar-lhes o que era sujeito e predicado, que até então elas desconheciam o que fosse. Perplexo, eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo, nem como elas haviam sido admitidas na universidade. Pior ainda, estavam se formando e já praticamente habilitadas a exercer o magistério. Que se pode esperar desta geração de professores?

O esforço para analfabetizar o país acaba de marcar mais um tento, com o Projeto de Lei nº 7299/2014, de autoria do deputado federal Vicentinho (do PT, é claro), que visa a proibir a compra de publicações estrangeiras pelo setor público. No texto, o parlamentar alega que não se deve “favorecer o mercado externo em detrimento das produções nacionais” e que é necessária a “adoção de restrições à importação de livros e demais publicações gráficas comumente adquiridas”.

Vicentinho – que não nasceu ontem – está querendo voltar aos dias da ditadura, quando tínhamos de viajar para comprar certos livros e ver determinados filmes, que o regime militar houvera por bem vetar, para preservar o Ocidente dos perigos do comunismo. Na verdade, o projeto do iluminado deputado é tímido. Livros até que não são tão nocivos assim. O pior são esses periódicos, como The Economist, New York Times, El País, que tentam solapar, com suas calúnias, tanto a Copa como o governo de Dona Dilma.

Por outro lado, dada a excelência de nossas universidades e das pesquisas de nossos acadêmicos, dispensamos tratados de medicina ou engenharia, física ou química, história ou economia, publicados no estrangeiro. O mundo editorial brasileiro supre com suficiência quaisquer novas pesquisas. Aliás, proíba-se também a importação de revistas científicas, que só servem para humilhar nossos pesquisadores.

Melhor ainda: proíba-se o ensino de línguas, aprendizado que sempre foi mal visto em democracias como as soviéticas. Para que precisamos do inglês, do alemão, espanhol ou francês, quando temos língua tão linda quanto a última flor do Lácio, incuta e bela? Esta proibição seria inclusive bem mais eficaz que a proibição da importação de livros. Esta pode ser burlada pelos contrabandistas. A proibição de idiomas estrangeiros torna inútil qualquer tentativa de contrabando ou compras inadequadas por turistas nacionais no Exterior.

Estou sendo maldoso com o excelso projeto do nobre deputado. Segundo seu chefe de gabinete, Paulo Cesar de Mello, “o foco principal da proposição é a proteção ao parque industrial gráfico brasileiro, com consequências na geração de empregos nacionais e aquecimento da economia”.

Ah bom! Então era para resguardar a indústria editorial brasileira, empenhada em produzir a altos custos literatura inócua feita pelos amigos do MinC, para ser enfiada goela abaixo dos alunos. No entanto, segundo o assessor do deputado, a proposta vem sendo descaracterizada nas redes sociais, levando o leitor a acreditar que o projeto visa a proibição de livros estrangeiros – científicos ou não. “Qualquer um poderá adquiri-los, menos o governo, que no nosso entendimento não deveria concorrer com o próprio mercado interno, favorecendo editoras estrangeiras.”

O deputado mirou bem. Com a aquisição de tais publicações pelo governo, ocorre o risco de que acabem em bibliotecas públicas, onde ficariam ao alcance de quem não as pode comprar. Educação é para elites, ora bolas, e não para desprovidos de poder de compra.

Questionado se o projeto não facilitaria a criação de uma reserva de mercado para o setor gráfico, Mello refutou. Para ele, “apenas protegeria o mercado interno, com as suas concorrências de praxe”.

Confiando que o público ao qual se dirige não conhece o idioma que fala, o assessor pretende que proteção de mercado interno e reserva de mercado são dois conceitos distintos, que nada têm a ver um com o outro. Parece também não lembrar do atraso em informática amargado pelo Brasil, com a tentativa do governo de proteger a indústria nacional.

Já em reduzir impostos para tornar o produto nacional acessível aos nacionais, nisto nem pensar.

O deputado Vicentinho enviou a seguinte nota à comunidade científica:

"A propósito das mensagens recebidas tecendo considerações sobre o PL 7299/14, cumpre-nos informar que o projeto foi gestado em comum acordo com os trabalhadores da indústria gráfica brasileira.. Consideramos as argumentações do setor e apresentamos a proposta com o objetivo de proteger os empregos, a indústria e o desenvolvimento econômico nacionais.”

Nada de insólito. Só não foi consultado o consumidor. Continua o paladino da indústria da indústria nacional: “Em hipótese alguma aventamos a possibilidade de restringir o acesso da comunidade científica e/ou outros setores às publicações tão necessárias para o desenvolvimento do conhecimento e da pesquisa”.

Ora, claro que não. É óbvio que restringir a importação de livros estrangeiros em nada prejudica o desenvolvimento do conhecimento e da pesquisa. É espantoso ouvir tal despautério de alguém que propõe leis.

Há alguns meses, falei de livro que comprei, uma edição no mínimo curiosa. Trata-se de Cristianismo, organizada por Ann Marie Bahr, uma muito bem elaborada história do Cristianismo, que analisa a religião, desde seu surgimento, a Bíblia, a oração, os ritos religiosos, entre outros tópicos. No cardápio: Os primeiros cristãos e as primeiras igrejas; O Cristianismo durante o Império Romano; O Sacro Império Romano; As cruzadas; As mulheres cristãs ao longo dos séculos; A Reforma; Espanha, Portugal, e a Inquisição; A Igreja anglicana; A Contra-Reforma; Ciência e Religião; Os cristãos indígenas; Do evangelismo ao tele-evangelismo; entre outros.

Mas isto é o de menos. O que espanta é a obra, com bela e farta iconografia, ter sido publicada em Postdam, Alemanha (2011) e impressa na China, em português. Capa dura, iconografia belíssima, dimensões 32,5 x 24,5cm, 448 páginas. Atenção! A obra é literalmente de peso: 3,3 quilos.

Até aí, nada muito surpreendente. O que me deixou perplexo foi o preço, 199 reais. É obra que jamais seria editada e impressa no Brasil. Custaria no mínimo 500 reais. Ora, se um livro editado lá nas antípodas em português, considerando-se ainda o custo de transporte, sai por menos da metade do preço que custaria no Brasil, a culpa obviamente não é da China.

Em nome da sacrossanta economia nacional, o deputado quer revogar a lei da oferta e da procura.

05 de junho de 2014
janer cristaldo

A MOSCA E A VACA


Ney Messias
 

Não sei quem é o deputado Geraldo Freire, mas vejo que ele é esplêndido como deputado que se esqueceu do resto. Comentam os jornais que esse parlamentar, indagando sobre se sabia alguma coisa acerca da suspensão do recesso parlamentar, respondeu: “Não sei dizer nada. Ainda não pude habituar-me à idéia do recesso. Venho diariamente à Câmara, como se tudo estivesse normal”. Depois citou um filme do Gordo e do Magro, em que o Magro, durante uma guerra, foi posto de sentinela na fronteira da Alemanha com a Alsácia. Veio a paz e esqueceram de comunicar a novidade ao Magro que, depois de vinte anos, foi encontrado em seu posto, caminhando de um lado para o outro. E o deputado Geraldo Freire conclui: “Estou como o Magro, na minha trincheira. Esta sala... o edifício do Congresso! Ainda não me dei conta do recesso”.

Isso é admirável. Dizem que o pingüim choca os seus ovos nas patas, e que se alguém substitui os ovos por pedrinhas, ele continua chocando sem se aperceber de que não conseguirá descascar pingüins: heroísmo cego da maternidade que choca. Há ainda o caso dos místicos mergulhados nas suas visões transindividuais: com as mãos fechadas não notam o crescimento das unhas nem a passagem do tempo, motivo pelo qual as unhas crescem e atravessam a palma das mãos e vão sair triunfantes no dorso. São casos heróicos como o do Magro posto de sentinela durante vinte anos, sem saber da paz. Tudo isso me lembra a parábola da mosca encharcada de metafísica. “Esta sala... esta cadeira... o edifício do Congresso! Ainda não me dei conta do recesso” — eis o que uma mosca metafísica bem que poderia pensar indefinidamente.

Querem a história da mosca? Pois vou contá-la.

Ela estava pousada na grama do campo, a pensar na definição do indefinível, quando a vaca veio e comeu a grama em que ela sonhava. A divina mosca não interrompeu as suas meditações. Quando foi engolida estava pensando no «elã vital» de Bergson, e em suas relações com a «enteléquia» de Driesch. Quando passou pela garganta da vaca, sem saber de nada a não ser dos seus transcendentes pensamentos, meditou em que, segundo os ensinamentos de Aristóteles em seu tratado De Anima, Plotino chama a inteligência de «nous poiêticos», o que quer dizer «mente ativa», distinguindo-a do «nous patéticos», o que quer dizer «mente passiva».

Embora toda a escuridão em que estava mergulhada, a mosca de heróica metafísica continuou pensando: atrás do universo material, de que nosso corpo faz parte, Plotino e os antigos pensadores da índia divisam a torrente da vida cósmica que se manifesta no Universo, e da qual o Universo é a expressão. Tudo isso não passa - pensava a mosca - de «longe» de Heráclito e dos estóicos, a razão imanente do fluir perpétuo das coisas. Mas os estóicos, que professavam um singular panteísmo, faziam do «Logos», ou da «razão seminal» como eles diziam, a causa primária da existência.

A mosca mal sentiu um baque surdo que sacudiu toda a sua estrutura entomológica, e continuou pensando: talvez estivesse na «razão seminal» estóica, a «natureza naturante» de Jacob Bohème, que é o Deus que demarrou da «natureza inaturada» para acabar sendo, como todas as moscas, e os demais seres menos importantes da escala animal, a «natureza naturada» que está perto do júbilo do ser, que é a alegria dos entes que perderam a transcendência mas que ganharam o gozo do pecado e a suprema possibilidade da reconciliação que decorre das paixões dominadas e dos instintos refreados.

Pensava nisto a mosca quando abriu os olhos para o mundo aqui e agora do real. Viu então, com espanto, que a vaca já ia longe: viu-a de costas, sacudindo o rabo, no gesto magnífico da plena exoneração. Mas continuou pensando: «O processo mediante o qual, segundo Plotino. o «Uno» se manifesta através do “Nous” e do “Logos” não possui um caráter cronológico, mas lógico. É um processo eterno, a processão criadora, a que corresponde, na natureza naturada, o contraprocesso da ascenção reintegradora».

É como se pensasse: «Esta sala... esta cadeira... o edifício do Congresso! Ainda não me dei conta do recesso», enquanto a vaca se sumia no horizonte, que por acaso não é horizonte algum.

* Ney Messias foi um dos mais brilhantes cronistas que o Brasil já teve. Como não participava de igrejas literárias ou ideológicas, morreu praticamente desconhecido, em Porto Alegre, em 1970. Boa parte das crônicas escritas enquanto agonizava foram por mim compiladas na antologia O Construtor de Mistérios, hoje só encontradiça em sebos.

05 de junho de 2014
in janer cristaldo

MOVIMENTO "AEZÃO" FLUMINENSE PEGA FOGO

Sessenta prefeitos do PMDB fluminenses confirmam presença em encontro do movimento ‘Aezão’

Grupo peemedebista defende o apoio do candidato tucano no palanque de Pezão

Aecio Neves foi a Niterói de catamarã Foto: Pedro Kirilos/ O Globo
Aécio Neves foi a Niterói de catamarã - Pedro Kirilos/ O Globo



RIO — Peemedebistas fluminenses vão oficializar nesta quinta-feira, durante um almoço, o movimento “Aezão”, que defende o apoio à candidatura a presidente do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e sua presença no palanque do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato à reeleição.

Com o lançamento, o grupo de dissidentes sepulta de vez o apoio no estado à reeleição da presidente Dilma Rousseff e enfraquece a aliança nacional entre o PMDB e o PT.

Os organizadores do evento querem mostrar força e contabilizavam até a tarde desta quarta-feira a confirmação da presença de pelo menos 700 convidados, entre lideranças políticas de nove partidos, deputados federais e estaduais, um senador, prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Todos os 92 municípios estarão representados.

O lançamento do “Aezão” fez com que representantes da Executiva Nacional do PMDB acionassem o ex-governador Sérgio Cabral; o prefeito do Rio, Eduardo Paes; e o presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Melo, para que pressionassem os dissidentes a não comparecer ao almoço. No entanto, de acordo com interlocutores dos três caciques, pouco foi feito esta semana para tentar barrar a presença dos descontentes com o PT.

Durante o evento, em uma churrascaria na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, líderes do PSD-RJ vão propor a Aécio Neves que integre formalmente a aliança com o PMDB, o que facilitaria a confecção de material de propaganda em conjunto sem a ameça de problemas com a Justiça Eleitoral. Os tucanos, que ainda discutem uma aliança com o candidato do DEM ao Palácio Guanabara, o ex-prefeito e vereador Cesar Maia, devem bater o martelo sobre a proposta em até dez dias.

— É fundamental para Aécio que tenha o PSDB formalmente na aliança de Pezão. Sem os tucanos, o movimento perde vitalidade política e, principalmente, jurídica, dificultando a produção de material — afirma o líder do governo na Alerj, André Corrêa (PSD), um dos organizadores do evento, junto com o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani; o prefeito de Queimados, município da Baixada Fluminense, Max Lemos (PMDB); e o deputado Domingos Brazão (PMDB).

Pelos menos 60 dos 92 prefeitos fluminenses confirmaram presença no almoço em apoio a Aécio. Em outros municípios, como Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e São Gonçalo, na Região Metropolitana, os dissidentes serão representados por deputados e vereadores. São Gonçalo é o segundo maior colégio eleitoral do estado, e Nova Iguaçu, o quarto. Somente a comitiva da cidade da Baixada vai reunir um deputado e 29 vereadores.

— Será uma demonstração de força e uma prova de que Aécio vai caminhar para uma vitória no estado. Os descontentes com o governo de Dilma no Estado do Rio são muitos — diz o deputado federal Otavio Leite (PSDB), que embarcará nesta quinta-feira, às 10h30min, em Brasília junto com Aécio com destino ao Rio.

As traições aos acordos nacionais também reúnem o PP e o PSD, da base aliada de Dilma, que abraçaram o movimento “Aezão”. Entre os convidados, está o senador Francisco Dornelles, aliado histórico do grupo de Cabral, e o presidente do PSD no estado, Indio da Costa, vice na chapa derrotada ao Planalto do tucano José Serra, em 2012.
 
As alianças inusitadas no Rio, terceiro maior colégio eleitoral do país, e o descontentamento no estado de parlamentares de partidos aliados de Dilma fizeram com que presidenciáveis reservassem espaço em suas agendas para o estado. Até então, o Rio servia de moeda de troca do PT em negociações nacionais com o PMDB. Aécio é o terceiro candidato ao Planalto a desembarcar no estado esta semana. Eduardo Campos (PSB) e a presidente Dilma cumpriram agenda no Rio nos últimos dias.
 
Após o lançamento do “Aezão” — nome que alude à união Aécio e Pezão —, líderes tucanos mineiros e paulistas vão compor uma frente de deputados que buscará o apoio de prefeitos de cidades fluminenses que ficam na divisa do Estado do Rio com Minas e São Paulo, e sofrem influência de ambos os estados. A ideia é colocar a máquina eleitoral dos parlamentares atuando nessas regiões em busca de votos para Aécio e Pezão.

05 de junho de 2014

O VELHO HOMEM

O velho homem procura um lugar para descansar.
O velho homem pertence a outro tempo e não sabe mais dos caminhos que antes conhecia.
O velho homem ainda escreve poemas e muitas vezes chora sozinho sem saber porquê.
O velho homem procura um lugar para descansar. Mas não existe esse lugar que o velho homem procura.
O velho homem vê tudo distante e começa a esquecer das imagens que costumava guardar no coração.
O velho homem só procura um lugar para descansar. Quer conversar consigo mesmo mas não sabe mais como usar as palavras.
O velho homem anda pelas ruas como se observasse as sombras.
O velho homem sonha com o mar.
O velho homem esqueceu amores, esqueceu das amoras, das cerejas, não sabe mais colher figos.
O velho homem quer adormecer. Mas antes gostaria de colher uvas com uma camponesa de Portugal. Mas antes gostaria de molhar os pés num rio.
O velho homem procura um lugar para descansar.

05 de junho de 2014
Álvaro Alves de Faria

ALUNO PROCESSA PROFESSOR POR CELULAR RETIRADO EM SALA DE AULA E PERDE

Em sentença, juiz afirmou que país virou as costas para educação e culpa novelas e reality-shows

Foto: Paula Giolito / Paula Giolito / Agência O Globo
- Paula Giolito / Paula Giolito / Agência O Globo


RIO - A polêmica do uso de celular em sala de aula chegou nos tribunais depois que um aluno processou o seu professor por ter tomado o aparelho no meio de uma aula. O episódio aconteceu em Recife e teve a decisão do juiz Elieser Siqueira de Souza Junior a favor do docente.
O magistrado aproveitou a sentença para criticar as novelas, reality-shows e a ostentação, considerados pelo magistrado como contra educação.

“Julgar procedente esta demanda é desferir uma bofetada na reserva moral e educacional deste país, privilegiando a alienação e a contra educação, as novelas, os ‘realitys shows’, a ostentação, o ‘bullying‘ intelectivo, o ócio improdutivo, enfim, toda a massa intelectivamente improdutiva que vem assolando os lares do país, fazendo às vezes de educadores, ensinando falsos valores e implodindo a educação brasileira”, afirmou o juiz.

A ação foi movida pelo aluno Thiago Anderson Souza, representado por sua mãe Silenilma Eunide Reis, que, segundo consta nos autos do processo, passou por “sentimento de impotência, revolta, além de um enorme desgaste físico e emocional” após ter o celular retirado pelo professor Odilon Oliveira Neto. O estudante disse que apenas utilizava o aparelho para ver o horário. Porém, perante outras provas, o juiz não acreditou na versão de Thiago.

“Vemos que os elementos colhidos apontam para o fato de que o Autor não foi 'ver a hora'. O mesmo admitiu que o celular se encontrava com os fones de ouvido plugados e que, no momento em que o professor tomou o referido aparelho, desconectou os fones e... começou a tocar música”.

Em depoimento, o professor e a coordenadora do colégio afirmaram que não foi a primeira vez que o aluno foi chamado a atenção para o uso do aparelho em sala de aula. O juiz apontou que, para além da proibição do colégio, existem normas do Conselho Municipal de Educação que proíbem o uso do celular em sala de aula, exceto para atividades pedagógicas.

“Pode-se até entender que o Discente desconheça a legislação municipal sobre os direitos e deveres dos alunos em sala de aula. O que não se pode admitir é que um aluno desobedeça, reiteradamente, a um comando ordinário de um professor, como no presente caso”, observa.

O juiz ainda aproveitou a execução para fazer uma análise sobre a educação do Brasil apontando que a mesma tornou-se uma espécie de “carma” para quem trabalha.

“No país que virou as costas para a Educação e que faz apologia ao hedonismo inconsequente, através de tantos expedientes alienantes, reverencio o verdadeiro herói nacional, que enfrenta todas as intempéries para exercer seu ‘múnus’ com altivez de caráter e senso sacerdotal: o Professor”, sentenciou.

05 de junho de 2014

KASSAB É CONDENADO POR IMPROBIDADE E TEM DIREITOS POLÍTICOS SUSPENSOS, MAS PODE APELAR

Ex-prefeito de São Paulo teria desviado R$ 118 milhões em precatórios alimentares, em 2006



SÃO PAULO — O juiz da 7ª Vara da Fazenda Pública da Capital, Evandro Carlos de Oliveira, condenou nesta quarta-feira o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) por improbidade administrativa, em razão do não-pagamento de precatórios judiciais previstos em lei orçamentária.
Kassab foi acusado pelo Ministério Público de, em 2006, ter recebido determinação judicial de pagar R$ 240,7 milhões em precatórios alimentares, mas destinou apenas R$ 122 milhões. A diferença de valor (R$ 118 milhões) teria sido desviada por meio de decretos para outras finalidades. Cabe recurso da decisão.

Ele terá de pagar multa civil no valor correspondente a 30 vezes o valor de sua remuneração recebida no último mês do exercício de 2006. Também foram determinadas a suspensão dos direitos políticos por três anos e a proibição de contratar com o Poder Público pelo mesmo prazo.

“O dolo exigido para a configuração do ato de improbidade é evidente em razão da deliberada alteração da destinação da quantia prevista e vinculada na lei orçamentária por meio dos decretos impugnados”, afirmou em sentença o juiz Evandro Carlos de Oliveira.

Kassab, que já decidiu apoiar a presidente Dilma Rousseff (PT) para presidente, vem sendo muito assediado nos últimos dias por todos os pré-candidatos a governador de São Paulo, que desejam seu apoio.
Ele tem dito que pode ser candidato a governador pelo PSD, mas o PSDB do governador Geraldo Alckmin chegou a lhe oferecer a vice na chapa. O PT e o PMDB também querem seu apoio, mas se o ex-prefeito não conseguir derrubar essa decisão na Justiça rapidamente, ele pode não ter condições de disputar o pleito.

O ex-prefeito Kassab, por meio de sua assessoria, disse que ainda não foi notificado da decisão da 7ª Vara da Fazenda Pública, mas tão logo isso aconteça irá apelar e acredita que reformará a sentença de primeira instância. Ele não acredita na hipótese de ficar de fora da disputa eleitoral deste ano.

Segundo ele, não pagar precatórios, que é um problema nacional (todos os municípios brasileiros tem dívidas com precatórios), não configura improbidade administrativa. Por isso, vai apelar para o Tribunal de Justiça derrubar a atual condenação.
— Tenho plena confiança de que a Justiça vai decidir favorável a mim — disse Kassab

05 de junho de 2014

CADÊ A INDIGNAÇÃO? CADÊ O BRASIL?