"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 22 de maio de 2016

"OS DEUSES VENCIDOS" E OUTRAS SEIS NOTAS DE CARLOS BRICKMANN

Acostumados a ignorar e atropelar as derrotas, eles acharam que as vitórias eram inevitáveis

1 – José Dirceu acaba de ser condenado a pouco mais de 23 anos de prisão. Dirceu já estava condenado no Mensalão – ou seja, com cartão amarelo, mostrado por um ministro, Joaquim Barbosa, que jamais teve fama de flexibilidade. Por que José Dirceu ficou à espera do quase infalível cartão vermelho dado agora pelo juiz Sergio Moro? Poderia ter procurado seus amigos bolivarianos, que o receberiam como um Guerreiro do Povo Brasileiro, gente especial, tipo exportação. Ficou, foi preso, está condenado. E agora? Tem mais de 70 anos, sonhava com uma vida em família. Que se terá passado no pensamento de Dirceu?

2 – João Santana também tem milhões de problemas com a Justiça, boas contas bancárias, uma esposa jovem, talentosa, requintada e rica. Estavam ambos fora do Brasil, num país seguro, ganhando bem, trabalhando para a BAAL, Bolivarianos Anti-Golpistas Amigos de Lula, com prestígio e futuro a escolher. Que é que os levou a atender ao juiz Sérgio Moro e fazer esta visita a Curitiba, ainda por cima mascando chicletes?

3 – Gilberto Carvalho foi o homem forte do PT nacional por mais de uma dezena de anos. Seria bem-vindo em todo o mundo latino, do Vaticano a Cuba, passando por El Salvador e Nicarágua (e não iria à Coréia do Norte nem à Venezuela, que Gilbertinho sabe das coisas). Mas preferiu ficar por aqui, enquanto Moro fazia mira cuidadosamente e o atingia com multa e perdas de direitos civis. Por que ficou? Ficou por quê?

4 – João Vaccari Netto tem tudo a ver com o tal triplex, construído pela construtora que presidia, a Bancoop. Foi réu há tempos, no caso do apartamento, por formação de quadrilha, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro. Escapou. E ficou fascinado, paralisado, admirando os predadores que se aproximavam. Quando chegaram, já não tinha para onde escapar, exceto o presídio de Pinhais, pertinho de Curitiba.

Triste destino

Parece que os deuses, acostumados a ignorar e atropelar as derrotas, acharam que as vitórias eram inevitáveis. Em algum momento os Antigolpistas Guerreiros do Povo Brasileiro, talvez pilotando osSukhoi supersônicos da Aeronáutica venezuelana, desceriam dos céus para salvá-los. Um dia a manobra falhou. E eles estavam no momento errado na hora errada.

Ideia puxa ideia

José Dirceu é um apparatchik, um homem de partido, absolutamente fiel, disciplinado e capaz de se manter em silêncio diante de pressões inimagináveis. Perdeu o cargo federal, nada falou. Foi condenado, preso, cumpriu pena, silenciou. Dirceu sabe das coisas: se falasse, poderia contar aquilo que poucos sabem. Manteve-se em silêncio.

Mas o tempo passa, o tempo voa. Dirceu pagou claro pela disciplina partidária. Agora tem mais de 70 anos, sabe que entregou seu futuro político a pessoas muito menos merecedoras do que ele, tem a prisão como perspectiva de vida. Seu sonho atual era assistir ao crescimento da filha pequena, sua paixão. Dirceu sabe o caminho para atingir seus objetivos. E se mudar de ideia nesta fase da vida – que bomba!

País do futuro

Retrato do Brasil: na Comissão de Ética, quem esteve melhor foi Eduardo Cunha.

Os dois lados

Tudo bem, há gente esquisitíssima (ou melhor, conhecendo nossos políticos, normalíssima) no governo Temer. Um grupinho ali entraria na antiga Petrobras só pela aparência, sem precisar nem mostrar crachá. Mas, ainda bem, não são os únicos. Alguns nomes brilham como surpreendentemente bons. Maria Sílvia Bastos Marques, Pedro Parente, Ilan Goldfajn são gente ótima e executivos de primeiríssima linha.

A terceira margem

Em compensação, Temer colocou como seu líder na Câmara o deputado André Moura, do PSC sergipano. Moura é réu em três ações penais, como suspeito de participação em tentativa de homicídio e na compra ilegal de alimentos e bebidas com dinheiro, é claro, público.

Só conseguiu autorização da Justiça na última hora para disputar as eleições que o levaram ao Parlamento, livrando-se assim da Lei da Ficha Limpa. Mas é amigo de Eduardo Cunha (que continua mandando muito) desde criancinha, o que lhe garante alto prestígio na área federal.

Teremos momentos interessantes na Câmara. Deputado que tem capivara no lugar de currículo vai acabar gerando confusão. Já imaginou se aparece alguém honesto na mesma fila de poltronas?

Quem pode, pode

Aquele presidente da Câmara Federal com cara de Nicolás Maduro mal acabado, Waldir Maranhão, já teve prestação de contas rejeitada pelo TRE do Maranhão em 2010. Foi reitor da Universidade Federal do Maranhão (o que explica muita coisa), dirigente do PP de Paulo Maluf. E é aliado do governador comunista Flávio Dino, PCdoB Maranhão, na luta contra Dilma, guru e aliada de ambos.

Mas há uma maneira mais fácil de defini-lo: Waldir Maranhão é o mais obediente dos seguidores de Eduardo Cunha. Até que… Salve, mestre, os que vão trair te saúdam.


22 de maio de 2016
Carlos Brickmann

SONIA SAGHETTO: FEIRA, BOTECO, BORDEL

Aos poucos consolidou-se a ideia de que, para se aproximar do povo, nossos representantes têm que adotar uma fala chula, rasteira

Não sei bem quando a política brasileira começou a se confundir com feira livre, boteco e bordel. Talvez na chegada de Cabral, quando escambo, compadrio, clientelismo e a frouxidão dos costumes desembarcaram, junto com os europeus, nas grandes praias da costa brasileira. Mas deixo aos historiadores e cientistas sociais a parte de explicar a gênese e evolução desse non-sense que hoje domina em grande parte a cena política nacional. Concentro-me por ora nos impressionantes artistas do Gran Circus Brasil.

Em um momento tão grave da história da República, os brasileiros assistem ao que ocorre na Praça dos Três Poderes com um sentimento que alterna descrença, desalento e vergonha. Não, não culparei apenas os políticos, que para lá foram conduzidos pelo voto livre e democrático. Responsabilizarei também por esse estado de coisas a proverbial opção pela chicana, pelo candidato histriônico e pelo discurso grosseiro.

Trouxemos para a vida real Odorico Paraguaçu, o personagem de Dias Gomes que encarnou o estereótipo do político corrupto que se vale do verbo torto para convencer os eleitores de que pode fazer chover no sertão, abrir caminho entre os sete mares e reinventar o paraíso. Populista e falastrão, Odorico parece ter sido um modelo levado a sério pela classe política.

Aos poucos consolidou-se a ideia de que, para se aproximar do povo, nossos representantes têm que adotar uma fala chula, rasteira, que eles acreditam reverberar melhor na alma popular. Por alguma razão que me escapa, nossos líderes entenderam que essa aproximação não se daria pela via da sensibilidade acerca das questões sociais, da eficiência administrativa, das atitudes comedidas, da responsabilidade perante as contas públicas, da postura equilibrada e de discursos onde a razoabilidade prevaleceria sobre a oratória vã.


Em 1990, Fernando Collor trombeteou aos eleitores: “Tenho aquilo roxo”. Referia-se à cor dos próprios genitais que, segundo a crença tradicional por ele evocada, seria sinônimo de homem corajoso. A frase tornou-se moda. Muita gente repetiu, os tolos riram ainda uma vez. Mais uma barreira vencida. A essa época, já tínhamos representantes que adotavam o estilo feira livre: berros ensurdecedores para vender seu peixe. E, claro, balcões onde se negociava de tudo, inclusive consciências.

Nos primeiros anos de seu governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que antes de adotar a configuração “paz e amor” era dono de um discurso extremado – descobriu as maravilhas da mansuetude e da autolouvação. Nunca antes na história deste país tornou-se um clássico à moda Goebbels. A eloquência mesmerizava as multidões a ponto de convencer a quase todos sobre as grandes virtudes de administradora de sua desconhecida auxiliar, guindada à condição de sucessora do trono. Consolidava-se a conversa de boteco, aquela superficial, em que, embalado por duas ou três cervejas, o sujeito converte-se em técnico de futebol renomado, cientista laureado ou historiador nato. Sob tais condições etílicas, acredita-se em muita lorota e derrama-se muita balela nos ouvidos alheios. Sem compromisso algum com a verdade.

A pièce de résistance que nutria o ódio entre os brasileiros na era Lula ganhou ainda mais espaço no primeiro reinado de Dilma Rousseff. A retórica oficial apostava em outro clássico da conversa de boteco: as generalizações. As elites brancas, de olhos azuis e opressoras tornaram-se objeto de ódio. Os slogans separatistas multiplicaram-se: agora, a Casa Grande do século 21 surta quando a senzala aprende a ler; meritocracia tornou-se palavrão e privatização é igual a sexo na era vitoriana: pratica-se a rodo no escurinho das alcovas, mas não se admite o ato nem sob tortura.

Há dois meses, Lula inaugurou uma nova fase no repertório do discurso político nacional: comparou-se a uma jararaca. Aristóteles, Demóstenes e Cícero – se vivos fossem – teriam meneado as clássicas cabeças. Quem, em sã consciência, se compara a uma serpente, associada a traição, veneno e morte? Imagine Barack Obama ou David Cameron proferindo algo semelhante! Aliás, imagine Obama ou Cameron bradando aos quatro ventos qual a cor de seus genitais! Atitude igual, lamento dizer, só na selva mesmo, com as feras disputando território à base de urina nos arbustos. Nem Putin, senhores, ousaria tanto. E ele é russo!

Se hoje boa parte de nossos políticos acha naturalíssimo expor a própria intimidade, igualmente não se peja de continuar a receber salários e benesses enquanto enfrenta processos e investigações. Flagrados em escândalos, acreditam-se donos dos cargos que ocupam e dali não se afastam, a não ser que sejam expurgados. Também não se constrangem em mentir: repetem com absoluta convicção teorias esdrúxulas e versões que não resistem a simples análises. E a todos nos deixam com a impressão que uma certa dose de psicopatia é necessária para alcançar os postos mais elevados da Nação.

Por muito menos do que vemos hoje no Brasil, renunciariam os homens públicos de outros países onde ainda sobrevive um certo pudor. A prostituição da política há muito já deixou de ser motivo de vergonha em nosso país – lamentavelmente.

Agora, quase não se vê vestígios de qualquer respeito aos cargos e funções públicos. Foi-se a solenidade do cargo e o comedimento do gesto. O varal de cartazes colados esta semana nos vidros do Palácio do Planalto é mais uma prova de que as instituições foram convertidas em meros “puxadinhos”. É a mais recente demonstração da confusão que se estabeleceu entre Estado e governo. Recuamos trezentos anos e caímos no absolutismo ególatra de Luís XIV: “L‘État c’est moi” (O Estado sou eu).

Aceitemos: somos co-autores dessa piada macabra que nos vitima. Felizmente, estamos deixando de rir como crianças tolas. Hora de dizer não aos discursos toscos e atitudes galhofeiras. Hora de varrer os slogans ocos e a crescente espetacularização da política, cujo ápice foram as excelências estourando bombas de confete no plenário da Câmara em plena votação do impeachment.

Não, senhores, apesar de seus esforços em nos infantilizar, uma grande parte da população reconhece a superioridade da elegância e da ética – e as prefere em seus representantes, embora, obviamente, muitos desavisados ainda se riam das baixezas. Alguns por mera identificação; outros porque acham no mínimo curioso que um homem público, ocupante de altas funções, desça ao nível dos bufões.

E há os que, justamente por se reconhecerem anões morais, deleitam-se com as bravatas e traquinagens dos governantes. A estes interessa assistir ao circo político como quem assiste a um episódio do Big Brother, comprazendo-se com a miséria das atitudes e com as pequenezas dos poderosos. “São todos iguais a mim”, dizem a si mesmos, contentes que a tacanharia seja coletiva. Traduzem aquele gozo miúdo dos que, incapazes de se erguer, debulham-se de alegria perante a queda alheia.

Estes passarão, assim como a era das mediocridades na política nacional.


22 de maio de 2016
in Augusto Nunes, Veja

RINOCERONTES

Ao contemplar a foto do novo ministério, o socialismo do século 21, uma espécie de Trabant que chora na rampa e consome todo o combustível disponível para o trajeto, faz beicinho duro e quer se projetar como moderno, inclusivo e tolerante com as minorias

Acho que o governo Temer está mal representado de rinocerontes. Sendo assim, é justo que algum filhote do Cacareco, de saudosa memória, seja incorporado às hostes administrativas do novo governo que mal se inicia. Vamos combinar, meus caros amigos. O eleitorado brasileiro tem uma propensão gigantesca a ser enganado pelas aparências, votando nos Cacarecos, macacos Tião, Tiriricas e outras minorias estridentes e de igual teor de representatividade rumbeira. Depois se danam.

Um ministério de governo não é o ajuntamento de uma fauna para uma foto. Antes de tudo, é um quadro administrativo. Nele cabem mulheres, negros, brancos, homo e heterossexuais, sem que isso precise ser uma norma ou uma bandeira. Apenas acontece o pronto, se os critérios forem do mérito e da representatividade. Por este prisma, o governo Temer simplesmente plantou dois superministros em sua pasta – os dois “belíssimos” presidenciáveis Henrique Meirelles e José Serra – e usou todo o resto dos ministeriáveis como massa de barganha para obter apoio político no Congresso, onde vai precisar de força para aprovar medidas muito impopulares na seara econômica.

Foi brilhante, com todos os seus capengas. É o que dá para ser feito nesse maldito presidencialismo de coalizão, cercado de partidos de fachada por todos os lados. Disso ninguém reclama. É claro que o socialismo do século 21, uma espécie de Trabant que chora na rampa e consome todo o combustível disponível para o trajeto, faz beicinho duro e quer se projetar como moderno, inclusivo e tolerante com as minorias. Por isso eles não se acanham em dizer que o governo liberal de Michel Temer é a imagem do atraso, seja lá o que eles considerem atraso.

Eu, por exemplo, considero atraso o que eles fizeram com a nossa sociedade, especialmente a produtiva. Quanto ao novo governo, não vimos resultados ainda. Fica evidente portanto o quanto essa gente é preconceituosa, limitada, oportunista e rumbeira, tentando de todas as formas desqualificar o que mal mostrou a que veio. Hoje era o dia para estes comunistas em botão perderem seu tempo explicando o que foi que deu tão errado num governo inclusivo, tolerante, diversificado e voltado para os pobres como o que eles protagonizaram cretinamente. Não o farão. Eles não conseguem ver nada de errado em si mesmos, enquanto veem tudo de errado nos outros.

Que fique claro uma coisa: Também me solidarizo com o fato de não termos mulheres e negros em número expressivo, não no governo, mas na vanguarda de uma sociedade que se diz plural e inclusiva. Isso, o governo patético e petético da mamulenga e seu dono – lulão da Silva – não cuidou de melhorar um milímetro, desde que ganharam as eleições, há treze longos anos. 
Ora, vão pro inferno.


22 de maio de 2016
Vlady Oliver

FRANSICHINI PEDIRÁ AO TCU AUDITORIA NAS CONTAS DA LEI ROUANET

Fernando Francischini

Acabou a FARRA com a Lei Roaunet!!
Vou pedir ao TCU auditoria nas contas da LEI ROUANET na gestão do PT!
Vamos ver se todos os projetos estavam dentro do regulamento e se não houve esquema de CAIXA 2!!!
QUEM ME APOIA???

LEIA A NOTA NA ÍNTEGRA!

Francischini pede ao TCU auditoria nos repasses da Lei Rouanet na gestão PT

O deputado Fernando Francischini (Solidariedade-PR) vai protocolar, nesta segunda-feira (23), na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle requerimento para abertura de uma Proposta de Fiscalização e Controle - PFC que solicitará ao Tribunal de Contas da União (TCU) a apuração de todos os projetos para os quais a Lei Rouanet concedeu captação de verba nos últimos 14 anos.

O deputado quer analisar se o Ministério da Cultura cumpriu os critérios estabelecidos TCU que proibiu a destinação de recursos para eventos com fins lucrativos e autossustentáveis.


Segundo o órgão, esse tipo de patrocínio distorce os objetivos do Ministério da Cultura, como o incentivo à cultura regional, já que o dinheiro prioriza as estratégias de marketing das empresas patrocinadoras.


O parlamentar ainda afirma que, segundo denúncias, poderia haver um plano em que parte do dinheiro investido por empresas - no momento da captação - era devolvida para as mesmas por fora, em esquema de caixa dois. 
E que também haveria pagamentos de valores a empresas terceirizadas, sem a devida comprovação dos serviços realizados, para desvio de dinheiro público.

"Parece que os supostos artistas, que com certeza não representam a grande maioria destes profissionais, que hoje berram pela volta do MinC vivem em uma realidade paralela.

Só no Ministério da Cultura, o rombo que Dilma deixou foi de R$ 260 milhões.

É impressionante que em um momento em que o SUS padece de total abandono, os artistas alinhados com o PT briguem somente pelo dinheiro público para a Cultura", critica Francischini.



22 de maio de 2016
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POR QUE OS INTELECTUAIS SE OPÕEM AO CAPITALISMO?



É surpreendente que os intelectuais se oponham ao capitalismo. Outros grupos de status socioeconômico comparável não demonstram o mesmo grau de oposição. Estatisticamente, portanto, os intelectuais constituem uma anomalia.

Nem todos os intelectuais estão na esquerda. Como ocorre com outros grupos, suas opiniões se estendem ao longo de uma curva. Mas, no caso deles, a curva desce e contorce para a esquerda política. A proporção exata do que denominamos anticapitalista depende de como se fixam os limites: de como se interpreta a postura anticapitalista ou de esquerda e de como se distingue o grupo dos intelectuais. As proporções podem ter mudado um pouco nos últimos tempos, mas na média os intelectuais se situam mais à esquerda dos que tem o mesmo status econômico. Por quê?

Não entendo por intelectuais todas as pessoas inteligentes com certo grau de instrução, mas aqueles que, por vocação, lidam com as idéias, expressam-se em palavras, moldando o fluxo de palavras que outros recebem. Esses forjadores de palavras incluem poetas, romancistas, críticos literários, jornalistas e numerosos professores. Não incluem aqueles que primordialmente criam e transmitem informação formulada de maneira quantitativa ou matemática (os forjadores de números) ou os que trabalham com meios visuais, pintores, escultores, câmeras. Contrariamente aos forjadores de palavras, as pessoas que se dedicam a essas profissões não se opõem ao capitalismo de maneira desproporcionada. Os forjadores de palavras de concentram em certos âmbitos de ocupação: as instituições acadêmicas, os meios de comunicação de massa, a administração.

Os intelectuais forjadores de palavras se desenvolvem bem na sociedade capitalista; nela dispõem de ampla liberdade para formular, desenvolver, propagar, ensinar e debater as idéias novas. Há demanda por suas habilidades profissionais, estando sua renda muito acima da média. Por que, então, se opõem ao capitalismo de uma maneira tão exagerada? De fato, alguns dados indicam que quanto mais próspero é um intelectual e quanto mais êxito tem, mais provável é que se oponha ao capitalismo. Essa oposição ao capitalismo procede principalmente da “esquerda”, mas não exclusivamente. Yeats, Eliot e Pound se opunham à sociedade de mercado a partir da direita.

A oposição dos intelectuais forjadores de palavras ao capitalismo é um fato de transcendência social. Dá forma a nossas idéias e imagens da sociedade; estabelece as alternativas de atuação que analisam as administrações. Entre tratados e lemas, eles nos proporcionam as frases com que nos expressamos. Sua oposição é importante, especialmente em uma sociedade (usualmente denominada “pós-industrial”) que cada vez depende mais da formulação explícita da propagação da informação.

Devemos realmente buscar uma explicação específica da razão pela qual os forjadores de palavras se opõem de maneira desproporcional ao capitalismo? Consideremos a resposta direta que se segue: o capitalismo é mau, injusto, imoral ou inferior aos intelectuais, aos seres inteligentes, que se dão conta disso e, portanto, opõem-se a ele.

Essa explicação simples não tem validade para aqueles que, como eu, não pensam que o capitalismo, o sistema de propriedade privada e do livre mercado seja mau, injusto, malvado ou imoral. Os leitores que discordam devem observar que uma crença verdadeira não pode ter uma explicação direta: poder-se-ia crer nela devido a alguns fatores distintos de sua veracidade, tais como a socialização e a integração cultural.

Creio que há algo no modelo de oposição de muitos intelectuais que indica que não se trata só de se tomar consciência da verdade sobre o capitalismo. Porque, quando se refuta uma ou outra das queixas concretas sobre o capitalismo (talvez a de que conduza ao monopólio, ou à contaminação, ou à desigualdade exagerada, ou a de que implica a exploração dos trabalhadores, ou que deteriora o meio ambiente, ou que cause guerras, ou que impede o trabalho responsável, ou que trata por todos os meios de satisfazer os desejos das pessoas, ou que estimula a falta de honradez no mercado, ou que produz em função dos lucros e não da utilidade, ou que freia o progresso para aumentar os lucros, ou que conduz à superprodução, ou à subprodução), quando se demonstra e se aceita que a queixa tem uma lógica imperfeita ou hipóteses imperfeitas em termos dos fatos, da história ou da economia, aquele que se queixa não muda de opinião, apenas abandona um tema e rapidamente se lança a outro. (“Mas e o trabalho infantil, ou o racismo, ou a opressão das mulheres, ou os bairros decaídos das cidades, ou que em épocas menos complicadas podíamos viver sem planejamento, mas agora tudo é tão complicado que... Ou a propaganda seduzindo as pessoas para que comprem coisas, ou...). No debate se abandona um ponto após o outro. O que não se abandona é a oposição ao capitalismo. Porque a oposição não se baseia nesses pontos ou queixas, e desse modo não desaparece quando eles desaparecem. Há uma ojeriza oculta contra o capitalismo. Essa ojeriza suscita as queixas. As queixas racionalizam a ojeriza. Depois de alguma resistência, pode ser que se abandone uma queixa concreta e, sem voltar os olhos, se apresentarão outras tantas com a finalidade de desempenhar a mesma função: racionalizar e justificar o ódio do intelectual ao capitalismo. Se o intelectual estivesse simplesmente reconhecendo as falhas ou os erros do capitalismo, não encontraríamos essa ojeriza. A explicação dessa oposição necessitará de uma explicação menos simples, que leve em conta a ojeriza.

É possível objetar que a explicação é simplesmente a óbvia: as pessoas inteligentes podem ter apenas uma tendência natural a olhar em seu redor e criticar o que está mal. O que faz parte da natureza da atividade criativa e inovadora é o fato de gerar uma mente cética, que rechaça a ordem estabelecida. Mas por que, entre os inteligentes, são especialmente os forjadores de palavras, e não os forjadores de números, os que se inclinam para a esquerda? Se são os de temperamento crítico, por que os forjadores de palavras são normalmente tão pouco críticos dos programas “progressistas”? Se a atividade inovadora e criativa é a causa, por que deve conduzir ao ceticismo e à descoberta de virtudes sutis nas crenças e doutrinas estabelecidas? (Não se dedicaram Dante, Maimônides e São Tomás de Aquino à atividade intelectual criativa?) Por que deve expressar-se o ceticismo sobre a ordem estabelecida, e não sobre os planos para alternativas globais que, supõe-se, melhorarão essa ordem? Não, da mesma maneira que a idéia de que o capitalismo é simplesmente mau e que os intelectuais estão suficientemente preparados para se dar conta disso, a explicação de que os intelectuais são críticos e céticos por natureza não é satisfatória. Essas “explicações” são demasiado interessadas; não encaixam com os detalhes da situação. Devemos buscar a explicação em outro lugar. No entanto, não nos deveria surpreender que as explicações que ocorrem aos intelectuais resultem ser autocomplacentes. Quando se dão explicações, são os intelectuais que as dão. Podemos distinguir dois tipos de explicação para a proporção relativamente alta de intelectuais que se opõem ao capitalismo. O primeiro considera que há um fator exclusivo nos intelectuais anticapitalistas. O segundo tipo de explicação identifica um fator aplicável a todos os intelectuais, uma força que os impulsiona para os pontos de vista capitalistas. O que leva um intelectual concreto ao anticapitalismo dependerá das outras forças que atuam sobre ele. Em conjunto, não obstante, já que fez com que o anticapitalismo seja mais provável em cada intelectual, tal fator dará lugar a uma proporção maior de intelectuais anticapitalistas. Pensemos no número maior que o normal, de pessoas que vão à praia em um dia de sol. Pode ser que não sejamos capazes de prever se um indivíduo concreto irá – isso depende de todos os fatores restantes que atuam sobre ele, mas o sol torna mais provável que cada pessoa vá, e dessa forma leva a um número total maior de pessoas que vão à praia. Nossa explicação será desse segundo tipo. Identificaremos um fator que, em geral, faz com que os intelectuais se inclinem em favor de atitudes anticapitalistas.

Teorias anteriores

Foram propostas explicações distintas para a oposição dos intelectuais ao capitalismo. Uma delas, apoiada pelos neoconservadores, está centrada nos interesses de grupo dos intelectuais. Embora economicamente se dêem muito bem sob o capitalismo, se dariam ainda melhor, segundo pensam, em uma sociedade socialista, em que seu poder seria maior. Em uma sociedade de mercado, não há concentração centralizada do poder, e se alguém tem poder, ou parece tê-lo, é o empresário e o homem de negócios vencedor. As recompensas de riqueza material são certamente suas. Em uma sociedade socialista, em dúvida, seriam os intelectuais forjadores de palavras que nutririam as burocracias governamentais, que indicariam a política a seguir e supervisionariam sua execução. Uma sociedade socialista, pensam os intelectuais, é aquela em que eles governariam, idéia que lhes parece atraente, o que não é nenhuma surpresa (recordemos que Platão, na República, define a sociedade ideal como aquela em que governam os filósofos.)

Mas essa explicação, em termos dos interesses de grupo dos intelectuais, não é satisfatória em si mesma. Inclusive, se entre os interesses de grupo dos intelectuais estivesse a transição a uma sociedade socialista (e deixo de lado o caráter tão ilusório desse projeto), o fato de colaborar com a transição a longo prazo não necessariamente favorece os interesses individuais de um intelectual concreto. Os neoconservadores cometem o mesmo erro que os marxistas ao analisar o comportamento dos capitalistas. Eles passam por cima do fato de que as pessoas atuam não segundo os interesses de seu grupo ou classe, mas em função de seus interesses individuais. Favoreceria o interesse individual de todo intelectual preservar-se, enquanto os outros realizam a árdua tarefa de construir uma sociedade mais favorável aos intelectuais. Podemos formular uma exploração mais esclarecedora, contudo. Se os intelectuais pensam que passariam melhor em uma sociedade socialista e, assim, ficam satisfeitos lendo sobre as virtudes de uma tal sociedade e as imperfeições do capitalismo, eles mesmos constituirão um mercado fácil e substancial para tais palavras e, desse modo, favorecerá os interesses dos intelectuais como indivíduos produzir tal festim de palavras para o consumo dos demais intelectuais.

O economista F. A. Hayek identificou outra razão pela qual os intelectuais poderiam estar a favor de uma sociedade socialista. Acredita-se que essa sociedade está organizada seguindo um plano consciente, isto é, uma idéia. As idéias são a matéria-prima dos forjadores de palavras, e desse modo uma sociedade planificada converte em primordial aquilo que constitui seu afazer profissional. É uma sociedade que encarna idéias. Como os intelectuais poderiam deixar de considerar uma tal sociedade como sedutora e valiosa? Sem dúvida, podemos expor as idéias que representam uma sociedade capitalista, a liberdade e os direitos individuais, mas essas idéias definem um processo de liberdade, não o modelo final resultante. Uma ideologia que deseja estampar um modelo em uma sociedade fará, portanto, com que uma idéia seja mais fundamental para a sociedade, e (a menos que a idéia seja repugnante) resultará atrativa para os gostos especiais dos intelectuais, que são profissionais das idéias.

Uma explicação diferente centra-se em como a motivação da atividade intelectual contrasta com as motivações mais altamente valorizadas e recompensadas em uma sociedade de mercado. Isto se diz da atividade capitalista – está motivada pela cobiça egoísta, puta e simples, enquanto a atividade intelectual está motivada pelo amor às idéias. Sem dúvida, esse contraste é exagerado. Um capitalista pode querer ganhar dinheiro para apoiar sua causa ou ação caritativa favorita. Uma atividade empresarial pode estar motivada por suas próprias recompensas intrínsecas, as recompensas do domínio, a concorrência profissional e o dever cumprido. Sem dúvida, essas atividades podem também aportar recompensas extrínsecas, mas pode igualmente um romancista que se move por motivos puramente artísticos ganhar um substancial direito autoral. A própria atividade intelectual está sempre motivada unicamente por suas recompensas intrínsecas? Diz-se que os escritores (homens) escrevem para obter a fama e o amor de belas mulheres. Tampouco estão claramente ausentes as motivações competitivas no mundo intelectual. Recordemos como Newton e Leibniz brigaram a respeito de qual dos dois havia inventado antes o cálculo, e como Crick e Watson correram apressadamente para adiantar-se a Pauling e ser os primeiros a descobrir a estrutura do DNA.

Mas ainda que as motivações das pessoas que triunfam economicamente sob o capitalismo não precisem ser claramente inferiores às dos intelectuais, não é menos verdade que em uma sociedade capitalista as recompensas econômicas tenderão a ser para os que satisfazem as demandas de outros expressas no mercado, para os triunfantes produtores do que querem os consumidores. Os intelectuais podem, igualmente, satisfazer uma demanda de mercado de seus produtos, como se mostra nos altos rendimentos de alguns romancistas e pintores. No entanto, não é necessário que o mercado recompense o trabalho intelectualmente mais meritório; recompensará (parte) o que o público gosta. Esse pode ser um trabalho de menor mérito, ou pode não ser em absoluto um trabalho intelectual. O mercado, por sua própria natureza, é neutro em relação ao mérito intelectual. Se o mérito intelectual não é recompensado de forma mais elevada, isso será por culpa, se houvesse culpa, não do mercado, mas do comprador, cujos gostos e preferências se expressam no mercado. Se há mais gente disposta a pagar para ver Robert Redford do que para assistir minhas conferências ou ler meus escritos, isso não implica uma imperfeição do mercado.

O mercado pode molestar ao máximo o intelectual, não obstante, quando ele vê uma oportunidade de triunfar, do ponto de vista econômico, produzindo uma obra que é de menor mérito a seus próprios olhos. O fato de ver-se tentando a degradar seus próprios critérios de qualidade para obter êxito e reconhecimento popular – ou de fato fazê-lo – pode lhe causar um ressentimento contra o sistema que o induz a cair em tais motivações e emoções de escasso gosto (os roteiristas de Hollywood são o exemplo paradigmático). De novo, não obstante, por que culparia o sistema de marcado mais que o público? Incomoda-lhe um sistema que traça seu caminho em direção ao êxito passando pelos gostos do público, um público menos aguçado, instruído e refinado que ele, um público que é intelectualmente inferior a ele? (No entanto, a maioria dos produtores do mercado sabe mais sobre seu produto e de seus níveis de qualidade que seus consumidores.) Por que os intelectuais têm que estar tão ressentidos por ter que satisfazer as demandas do mercado, se o que querem são os frutos do êxito de mercado? Sempre podem, afinal, escolher se aferrar aos níveis de seu ofício e aceitar recompensas externas mais limitadas. O economista Ludwig von Mises explicou a oposição ao capitalismo como um ressentimento por parte dos carentes. Mais que imputar sua própria falta de êxito, em um sistema livre em que outros iguais a elas triunfam, ao fracasso pessoal, as pessoas põem a culpa na natureza do próprio sistema. No entanto, os empresários fracassados, em geral, não culpam o sistema. Por que os intelectuais culpam o sistema, em vez de culpar seus concidadãos insensíveis? Dado o alto grau de liberdade que um sistema capitalista concede aos intelectuais e dado o status cômodo de que gozam os intelectuais dentro desse sistema de que culpam o sistema? Que esperam dele?

A formação acadêmica dos intelectuais

Os intelectuais de hoje confiam em ser as pessoas mais altamente valorizadas em uma sociedade, as de mais prestígio e poder, as que obtêm maiores recompensas. Os intelectuais consideram ter direito a isso. Mas, em geral, uma sociedade capitalista não presta honras aos intelectuais. Mises explica o ressentimento particular dos intelectuais, em contraste com os trabalhadores, dizendo que se misturam socialmente com capitalistas triunfantes (bem-sucedidos) e que, por isso, os consideram como um grupo de referência destacado, e seu status inferior os humilha. No entanto, também aqueles intelectuais que não se misturam socialmente estão ressentidos de uma maneira similar, já que não basta simplesmente misturar-se – os instrutores de esportes de dança que trabalham para os ricos e têm laços com eles não são especialmente anticapitalistas.

Por que, então, os intelectuais contemporâneos se sentem com direito às mais altas recompensas que sua sociedade pode oferecer, e se sentem incomodados quando não as recebem? Os intelectuais pensam que são as pessoas mais valiosas, as de maior mérito, e que a sociedade deveria premiar as pessoas em função de seu valor e mérito. Mas uma sociedade capitalista não observa o princípio distributivo “a cada um segundo seus méritos ou valor”. À parte os presentes, as heranças e os ganhos do jogo que ocorrem em uma sociedade livre, o mercado distribui àqueles que satisfazem as demandas dos demais, expressas através do mercado, e o que distribui desse modo depende do que se demande e do volume de oferta alternativo. Os empresários fracassados e os trabalhadores não sentem a mesma animosidade que os intelectuais que lidam com as palavras com a relação ao sistema capitalista. Somente a consciência de uma superioridade não reconhecida, ou de alguns direitos traídos, produz essa animosidade.

Por que os intelectuais que lidam com as palavras pensam que são valiosíssimos, e por que pensam que a distribuição deve se fazer de acordo com o seu valor? Observe-se que este último não é um princípio necessário. Foram propostos outros modelos de distribuição, incluindo a distribuição paritária, a distribuição segundo o mérito moral, a distribuição segundo a necessidade. De fato, não é necessário que haja modelo algum de distribuição que a sociedade esteja tratando de alcançar, inclusive uma sociedade preocupada com a justiça. A equanimidade de uma distribuição pode resistir em sua proposição a partir de um processo justo de intercâmbio voluntário de propriedade e serviços legitimamente adquiridos. Qualquer resultado que se produza nesse processo será então justo, mas não existe um modelo concreto a que se deva ajustar o resultado. Por que então os forjadores de palavras se consideram valiosíssimos e aceitam o principio de distribuição segundo o valor? Desde o começo do pensamento documentado os intelectuais nos disseram que sua atividade é valiosíssima. Platão valorizava a faculdade racional acima do valor e dos apetites, e considerava que os filósofos deveriam governar; Aristóteles sustentava que a contemplação intelectual é a atividade suprema. Não é surpreendente que os textos que chegaram até nós registrem essa alta valoração da atividade intelectual. As pessoas que expressaram valorações, que as escreveram com razões para apoiá-las, eram intelectuais acima de tudo. Eles se engrandecem a si mesmos. Os que davam mais valor a coisas diferentes da meditação sobre as coisas usando palavras, fosse a caça ou o poder, ou o prazer sensual ininterrupto, não se preocupavam em deixar informes escritos duradouros. Só os intelectuais elaboraram uma teoria sobre quem era melhor.

Que fator provocou a sensação, por parte dos intelectuais, de que tinham um valor superior? Vou me concentrar em uma instituição concreta: as escolas. À medida que o conhecimento livresco se tornou cada vez mais importante, ampliou-se a escolarização – ensinar aos jovens a ler e a familiarizar-se com os livros. As escolas se converteram na principal instituição, a fora a família, para forjar as atitudes dos jovens, e quase todos que mais tarde se converteram em intelectuais passaram por uma escola. Ali venceram. Eram julgados acima dos outros, e se consideravam superiores a eles. Eram engrandecidos e premiados, eram os favoritos dos professores. Como poderiam deixar de se sentir superiores? Diariamente experimentavam diferenças na facilidade para as idéias, para o engenho. As escolas lhes diziam e lhes demonstravam que eram os melhores.

As escolas também exibiam e, portanto, ensinavam o princípio da recompensa de acordo com o mérito (intelectual). Ao intelectualmente meritório se dirigiam os elogios, os sorrisos dos professores e as notas mais altas. Na moeda que ofereciam nas escolas, os mais inteligentes constituíam a classe alta. Ainda que não fizesse parte dos currículos oficiais, nas escolas os intelectuais aprendiam as lições sobre seu próprio valor, superior em comparação com os demais, e de como esse valor superior lhes dava direito a maiores recompensas.

A mais ampla sociedade de mercado, todavia, ensinava uma lição diferente. Ali as principais recompensas não eram para os mais brilhantes verbalmente. Ali não se concedia o maior valor às habilidades intelectuais. Instruídos na lição de que eles eram os mais valiosos, os que mais mereciam a recompensa, os que tinham maiores direitos à recompensa, como podiam os intelectuais, em geral, deixar de ficar ressentidos com a sociedade capitalista que os privava das justas retribuições a que sua superioridade lhes “dava direito”? É de surpreender, então, que os sentimentos dos intelectuais instruídos, com relação à sociedade capitalista, sejam uma profunda e sombria ojeriza que, embora revestida de diversas razões publicamente apropriadas, continuava inclusive quando se demonstrava que essas razões particulares eram inadequadas?

Ao afirmar que os intelectuais consideram ter direito às mais altas recompensas que a sociedade em seu conjunto pode oferecer (riqueza, status, etc.), não quero dizer que os intelectuais considerem essas recompensas como os bens mais preciosos. Talvez eles valorizem mais as recompensas intrínsecas da atividade intelectual ou o fato de entrar para a história. No entanto, também se sentem com direito à mais alta consideração por parte da sociedade em geral, ao máximo e melhor que se possa oferecer, por insignificante que resulte. Não pretendo conceder relevância especial às recompensas que abrem caminho até os bolsos dos intelectuais ou que afetem a suas próprias pessoas. Ao identificar a si próprios como intelectuais, podem sentir-se incomodados pelo fato de que a atividade intelectual não seja a mais valorizada e recompensada.

O intelectual quer que a totalidade da sociedade seja uma extensão da escola, para que seja como o entorno que lhe foi tão bom e onde ele foi tão apreciado. Ao incorporar critérios de recompensa que são diferentes dos próprios da sociedade global, as escolas garantem que alguns venham a experimentar posteriormente uma queda na escala social. Os que estão na ponta mais alta da hierarquia escolar se considerarão com direito a uma posição de primeira, não só naquela microssociedade, mas na mais ampla, uma sociedade cujo sistema os incomodará quando não os tratar de acordo com suas necessidades e direitos auto-adjudicados. O sistema escolar cria, portanto, um sentimento anticapitalista entre os intelectuais. Mais precisamente, cria um sentimento anticapitalista entre os intelectuais da palavra. Por que não desenvolvem os forjadores de números as mesmas atitudes que esses forjadores de palavras? Presumo que essas crianças brilhantes com as contas, ainda que consigam boas notas nos exames correspondentes, não recebem dos professores a mesma atenção e aprovação pessoal que as crianças brilhantes com as palavras. São as destrezas verbais as que acarretam essas recompensas pessoas por parte dos professores, e, aparentemente, não essas recompensas específicas que dão forma a esse sentimento de ter direito a algo.

Há que acrescentar um outro aspecto. Os futuros intelectuais forjadores de palavras vencem pelo que corresponde à forma oficial do sistema social escolar, em que as recompensas importantes são distribuídas por parte da autoridade central do professor. As escolas incluem outro sistema social de aspecto informal nas aulas, os corredores e os pátios, no qual as recompensas se distribuem não por parte da autoridade central, mas de maneira espontânea, ao prazer e capricho dos companheiros. Aqui os intelectuais se dão menos bem. Não surpreende, portanto, que a distribuição dos bens e recompensas por meio de um mecanismo distributivo centralizado seja mais tarde considerada pelos intelectuais como mais apropriada que a “anarquia e o caos do mercado”. Por que a distribuição em uma sociedade socialista planificada centralmente está para a distribuição em uma sociedade capitalista como a distribuição por parte do professor está para a distribuição por “parte do pátio”.

Nossa explicação não postula que os futuros intelectuais constituam uma maioria, inclusive entre as classes academicamente superiores na escola. Esse grupo pode estar formado sobretudo pelos que têm destrezas livrescas consideráveis (mas não assombrosas) junto com um pouco de graça social, forte desejo de agradar, cordialidade, encanto pessoal e habilidade para respeitar as regras do jogo (e mostrá-lo). Tais alunos também serão muito bem considerados e recompensados pelo professor, e igualmente terão sucesso na sociedade mais ampla. E se desenvolvem bem dentro do sistema social informal da escola, de maneira que não aceitarão de um modo especial as normas do sistema formal da escola. Nossa explicação propõe a hipótese de que os futuros intelectuais estão representados de um modo desproporcional nessa parte da classe alta (oficial) da escola que experimentará um relativo movimento de declínio. Ou melhor, no grupo que prevê para si mesmo um futuro em declive. A ojeriza surgirá antes do deslocamento para o interior de um mundo mais amplo e de experimentar uma queda real de status, no momento em que o aluno preparado se dá conta de que (provavelmente) se desenvolverá pior na sociedade mais ampla que em sua situação escolar atual. Essa conseqüência não procurada do sistema escolar, o espírito anticapitalista dos intelectuais, se vê naturalmente reforçada quando os alunos lêem ou recebem os ensinamentos de intelectuais que apresentem essas mesmas atitudes anticapitalistas.

Sem dúvida, alguns intelectuais forjadores de palavras foram alunos conflitivos e críticos, e por isso não contaram com a aprovação de seus professores. Eles também terão aprendido a lição de que os melhores deveriam obter as recompensas mais altas e pensam, apesar de seus professores, que eles mesmos eram os melhores, e começam por isso a ter bem cedo um ressentimento contra a distribuição realizada pelo sistema escolar? Claramente, a respeito desta e de outras questões aqui tratadas necessitamos de dados em torno das experiências escolares dos futuros intelectuais forjadores de palavras para matizar e testar nossas hipóteses.

Propostas como fenômeno global, apenas se pode negar que as normas internas das escolas estejam afetando as crenças normativas das pessoas depois de passarem pelas escolas. As escolas, afinal, são a principal sociedade alheia à família em que as crianças aprendem a se comportar, e daí que a escolarização constitua sua preparação para sociedade mais ampla não-familiar. Não surpreende que os que vencem o calor das normas de um sistema escolar se queixem de uma sociedade que se atém a normas diferentes e que não lhes assegura o mesmo êxito. Tampouco é surpreendente quando estes são os mesmos que dão forma à própria imagem da sociedade, ao juízo sobre si mesma, se a parte da sociedade que é sensível às palavras se volta contra ela. Se se estivesse projetando uma sociedade, não se desejaria projetá-la de maneira que os forjadores de palavras, com toda a sua influência, estivessem instruídos na ojeriza contra as normas da sociedade.

Nossa explicação do anticapitalismo desproporcional dos intelectuais está calcada sobre a base de uma generalização sociológica muito plausível.

Em uma sociedade em que um sistema ou uma instituição extra-familiar, a primeira em que ingressam os jovens, distribui recompensas, os que têm melhor desempenho tenderão a internalizar as normas dessa instituição e confiarão que a sociedade em geral funcionará segundo essas normas; eles se considerarão com direito a uma parte na distribuição de acordo com essas normas ou (no mínimo) a uma posição relativa igual àquela que essas normas dão como resultado. Além disso, os que constituem a classe superior dentro da hierarquia dessa instituição extrafamiliar e que experimentam (ou prevêem experimentar) um deslocamento para uma posição relativamente inferior na sociedade em geral , devido a sua percepção do direito frustrado, tenderão a se opor ao sistema social mais amplo e a sentir ojeriza em relação a suas normas.

Observe-se que esta não é uma lei determinista. Nem todos os que experimentam uma mobilidade social para baixo se voltarão contra o sistema. Essa mobilidade social para baixo, não obstante, é um fator que tende a produzir efeitos desse tipo, e por isso se manifestará em proporções distintas com relação ao conjunto. Poderíamos distinguir formas nas quais a classe alta pode deslocar-se para baixo: pode obter menos que outro grupo: pode obter menos que outro grupo ou (quando nenhum grupo de desloca para cima dela) pode empatar, sem conseguir mais que aqueles previamente previstos como inferiores. É o primeiro tipo de deslocamento para baixo o que mais indigna e humilha; o segundo tipo é bastante mais tolerável. Muitos intelectuais (dizem eles) estão a favor de uma igualdade, ao mesmo tempo em que só um número reduzido exige uma aristocracia de intelectuais. Nossa hipótese se refere ao primeiro tipo de deslocamento para baixo como especialmente gerador de ressentimento e ojeriza.

O sistema escolar valoriza e premia somente algumas das destrezas válidas para o êxito posterior (é, afinal, uma instituição especializada), razão pela qual o seu sistema de recompensas será diferente do sistema próprio da sociedade em geral. Isso garante que alguns, ao passar à sociedade mais ampla, experimentarão um deslocamento social descendente, junto com as correspondentes consequências. Afirmei antes que os intelectuais querem que a sociedade seja uma extensão das escolas. Agora vemos como o ressentimento devido a um senso do direito frustrado deriva do fato de que as escolas (na qualidade de sistema social extrafamiliar) não constituem uma condensação da sociedade.

Nossa explicação parece prever agora o ressentimento (desproporcional) apresentado pelos intelectuais instruídos com relação à sociedade em que vivem, qualquer que seja a natureza da mesma, capitalista ou comunista (os intelectuais se opõem desproporcionalmente ao capitalismo em comparação com outros grupos de status socioeconômico similar dentro da sociedade capitalista. Outra questão é saber se eles se opõem de maneira desproporcional em comparação com o grau de oposição dos intelectuais de outras sociedades com relação a essas outras sociedades). Claramente, pois, seriam relevantes alguns dados sobre as atitudes dos intelectuais dos países comunistas com relação ao aparato do partido; esses intelectuais sentiriam ojeriza desse sistema?

Nossa hipótese deve ser matizada para que não se aplique (ou se aplique de um modo tão contundente) a qualquer sociedade. Os sistemas educativos de todas as sociedades devem produzir inevitavelmente uma ojeriza anti-social nos intelectuais que não recebem as maiores recompensas dessas sociedades? Provavelmente não. Uma sociedade capitalista é peculiar, no sentido de que parece anunciar que está aberta e é receptiva somente ao talento, à iniciativa individual, ao mérito pessoal. O fato de alguém crescer em uma sociedade feudal ou de castas hereditárias não cria expectativa alguma de que a recompensa está ou deva estar de acordo com o valor pessoal. Apesar da expectativa criada, uma sociedade capitalista premia as pessoas na medida em que estas satisfazem os desejos alheios, expressos através do mercado; recompensa de acordo com a contribuição econômica, não de acordo como o valor pessoal. No entanto, a sociedade capitalista se assemelha o suficiente a um sistema de recompensas que premia o valor pessoal – valor e contribuição muitas vezes se misturam – como que para fazer crescer as expectativas criadas pelas escolas. O ethos da sociedade mais ampla está próximo o suficiente do das escolas, de tal forma que a proximidade gera ressentimento. As sociedades capitalistas premiam o sucesso individual ou proclamam que o fazem, e desse modo deixam o intelectual, que se considera boníssimo, especialmente amargo.

Creio que outro fator desempenha um determinado papel. As escolas tenderão a criar tais atitudes anticapitalistas quanto maior for a diversidade dos que as frequentam. Quando quase todos que vão ter sucesso financeiro frequentam escolas diferentes, os intelectuais não adquirirão essa atitude de ser superiores a eles. Mas mesmo que muitas crianças da classe alta frequentem escolas diferentes, uma sociedade aberta terá outras escolas que incluam também muitos dos que virão a triunfar economicamente como empresários, e os intelectuais irão recordar com ressentimento, mais tarde, quão superiores eram academicamente aos de sua idade que obtiveram maior riqueza e poder. A transparência da sociedade tem outra consequência, além disso. Os alunos, tanto os futuros forjadores de palavras como os demais, não sabem que sucesso terão no futuro. Podem esperar qualquer coisa. Uma sociedade fechada ao progresso destrói de imediato essas esperanças. Em uma sociedade capitalista aberta os alunos não se resignam de imediato a que se limite o seu progresso e sua mobilidade social; a sociedade parece anunciar que os mais capacitados e valiosos chegarão ao ponto mais alto, suas escolas já terão transmitido aos que têm mais talento a mensagem de que são valiosíssimos e que merecem as maiores recompensas, e depois esses mesmos alunos com o mais alto estímulo e as maiores expectativas verão outros companheiros seus, que sabem que são e que consideram menos meritórios, subir mais alto que eles mesmos, recebendo as melhores recompensas, as quais eles consideravam como suas de direito. É estranho que sintam ojeriza por essa sociedade?

Polimos de certa maneira a hipótese. Não se trata simplesmente das escolas formais, mas é a escolarização formal em um contexto social específico que gera um sentimento anticapitalista nos intelectuais que trabalham com a palavra. Sem dúvida, a hipótese requer matização posterior. Mas como está, está bem. É hora de mostrar a hipótese dos especialistas em ciências sociais, retirá-la das especulações das poltronas e entregá-la a quem se aprofunda em fatos e dados mais específicos. Podemos assinalar, no entanto, algumas áreas em que nossa hipótese poderia levar a consequências e previsões verificáveis.

Em primeiro lugar se poderia prever que quanto mais meritocrático for o sistema escolar de um país, maiores as possibilidades de que seus intelectuais sejam de esquerda (tenham em mente o caso da França).

Em segundo lugar, os intelectuais que foram "frutos tardios" na escola não teriam desenvolvido o mesmo sentido de direito às recompensas mais elevadas; portanto, o percentual de intelectuais de tipo “fruto tardio” que serão anticapitalistas será menos do que o de tipo “fruto antecipado”.

Em terceiro lugar, limitamos nossa hipótese às sociedades (contrariamente ao sistema de castas da Índia) em que o estudante vencedor pode confiar bastante em um êxito posterior parecido na sociedade mais ampla. Na sociedade ocidental, as mulheres não desfrutaram até agora de tais expectativas, e por essa razão não seria de se esperar que as estudantes que fazem parte da classe acadêmica superior, e que, no entanto, sofreram logo um deslocamento descendente, mostrassem a mesma ojeriza anticapitalista dos intelectuais masculinos. Poderíamos prever, pois, que quanto mais se veja que uma sociedade se move em direção à igualdade entre as mulheres e os homens, maior será a tendência de suas intelectuais ao mesmo anticapitalismo desproporcional que mostram seus intelectuais masculinos.

Alguns leitores podem ter dúvidas sobre esta explicação sobre o anticapitalismo dos intelectuais. Seja como for, creio que se identificou um fenômeno importante. A generalização sociológica que enunciamos é intuitivamente convincente. Algo desse tipo deve ser verdadeiro. Portanto, algum tipo de efeito deve se produzir nesse setor da classe alta escolar que sofre um deslocamento social descendente, algum tipo de antagonismo deve ser gerado contra a sociedade em geral. Se esse efeito não é a oposição desproporcional dos intelectuais, então o que é? Começamos com um fenômeno intrigante, que requer explicação. Encontramos, creio, um fator explicativo que (uma vez estabelecido) é tão evidente que temos que crer que explica algum fenômeno real.

Tem solução?

Os que pensam que a sociedade capitalista deve ser fortemente contestada se alegrarão com esse efeito não intencional do sistema escolar. No entanto, como observamos, o problema da falta de harmonia entre a intelectualidade e as normas da sociedade global é um problema de alcance mais geral. Todas as sociedades o enfrentarão, qualquer que seja seu caráter, sempre que seu sistema escolar se especialize e não seja uma condenação da sociedade. Quanto mais importantes e influentes forem seus intelectuais forjadores de palavras (como nas “sociedades pós-industriais”), maior será esse problema. Desse modo, todos os leitores podem se perguntar sobre como se poderia evitar essa oposição dos intelectuais à sociedade - ainda que alguns leitores pudessem preferir que se fizesse essa pergunta a alguma sociedade não-capitalista.

Quando as escolas e a sociedade global não estão bem articuladas, as duas soluções óbvias são reestruturar qualquer uma delas para alinhá-la com a outra. Em primeiro lugar, poder-se-ia tentar que a sociedade se ajustasse às normas da escola, seja mediante uma reestruturação socialista que situe os intelectuais no topo, seja mediante uma meritocracia que surja de maneira natural. No entanto, por mais importante que chegue a ser o conhecimento na sociedade, nenhuma sociedade relativamente livre premiará ou poderá premiar de forma mais destacada as habilidades escolares mais altas. As escolas, com grande esforço, se concentram somente em algumas qualidades; estas, ao mesmo tempo em que desempenham um papel significativo no êxito econômico em certos casos, nunca explicarão totalmente a posição social resultante. Os consumidores não são professores que dão nota a resultados de provas e intervenções em salas de aula.

Como alternativa, de uma forma não tão ambiciosa, as escolas poderiam se modificar para ajustar-se à sociedade em geral ou, pelo menos, para evitar que inculquem normas contrárias. Se os inteligentes têm direito a algo que o mercado não lhes dá, é ao reconhecimento de que são inteligentes – nada mais. Não têm direito às maiores recompensas da sociedade em geral.

Como poderia dar então essa lição de modéstia? Dizer simplesmente que a economia premia adequadamente outros atributos não será suficiente. As crianças aprenderão os fatos da escola, não das palavras, e os internalizarão. Sem dúvida, o sistema social global do meio escolar valora muitas coisas: destreza atlética no pátio, fazer-se respeitar pelos companheiros, talento para cantar no auditório, uma boa impressão em toda parte. Mas a escola só reconhece oficialmente as destrezas intelectuais e o rendimento. Dado que, afinal, isso é o que vale, seria difícil para uma escola dar paridade ou um reconhecimento muito significativo a outros atributos.

Outra possibilidade é reduzir a hierarquia acadêmica dentro do sistema escolar. As escolas poderiam ensinar sem hierarquizar os estudantes, sem qualificá-los em função do êxito do seu aprendizado. Os reformadores apelam de vez em quando à abolição dos exames e das qualificações. Paul Goodman argumentava que eles têm uma função extrínseca à da própria educação, ao atender unicamente às necessidades dos futuros empregadores ou das comissões de admissão de outros centros docentes, a quem se pode deixar que façam suas próprias provas informativas (está claro, não obstante, que os exames e os certificados também ampliam a escolha discrecional dos estudantes. Os empregadores aceitam a declaração de uma faculdade de que um estudante cumpriu todos os requisitos para uma licenciatura sem se aprofundar demais em quais são esses requisitos ou que utilidade têm os cursos com relação aos objetivos do emprego).

No entanto, os exames desempenham também outras funções, intrínsecas ao processo educativo. Informam o estudante como está se saindo em relação aos critérios objetivos, como está se saindo comparado com outros de seu grupo de referência (o que , afinal, deveria esperar de si mesmo?) Eles proporcionam informação para a divisão dos discentes em grupos de acordo com o nível acadêmico quando isso for adequado do ponto de vista educativo, assim como para uma possível formação continuada.

Em qualquer caso, dada a função informativa extrínseca, os empregadores considerarão vantajoso contratar as pessoas procedentes das escolas que avaliam e certificam e, portanto, os estudantes considerarão vantajoso frequentar essas escolas. Qualquer que seja o interesse social geral, as pessoas buscarão atender seus próprios interesses individuais. Ninguém se negará a contratar alunos de uma escola concreta ou a frequentá-la pelo fato de que esse tipo de escola cria intelectuais com uma ojeriza anticapitalista. Ao mesmo tempo em que uma legislação para modificar os sistemas educativos poderia atingir esse objetivo, seus benefícios são tão remotos em comparação com seu custo que não é provável que se aprove uma legislação desse tipo. Tampouco uma legislação desse tipo, pelo menos no que se refere às escolas particulares, é compatível com o ethos capitalista da liberdade e dos direitos individuais.

Reestruturar as escolas para dar menos importância às destrezas e aos sucessos intelectuais suscita questões problemáticas, à parte outras questões muito claras relativas ao custo e à eficácia social (a curto prazo). O cultivo das capacidades intelectuais a do talento é, pensamos, um valor importante em si mesmo. No entanto, os sistemas escolares que sabemos que o cultivam também geram, involuntariamente, uma ojeriza contra o sistema social entre alguns dos intelectuais mais bem dotados. Se a estabilidade a longo prazo do sistema social desejável se vê mais bem atendida freando o cultivo de alguns aspectos valiosos e enormemente admiráveis dos indivíduos, então estamos diante de um sério conflito de valores.

Aqueles que apóiam a continuidade da sociedade capitalista ficarão mais tranquilos ao recordar que esse conflito é geral. A sociedade comunista considera igualmente que os intelectuais se descaminham. Na raiz da Revolução Cultural, os chineses, com um grande custo econômico e pessoal, tentaram convertê-los em seres como os demais, mediante a reeducação forçada, o exílio no campo e a perseguição pessoal. Falhou o intento. A tensão da sociedade capitalista com seus intelectuais é muito menos grave – podemos simplesmente ter de conviver com ela. Ocorra o que ocorrer, os intelectuais terão a última palavra.


22 de maio de 2016
Robert Nozick
in ordem livre

PIMENTEL NO OLHO DO FURACÃO DA ROUBALHEIRA NO BNDES EM CONLUIO COM ODEBRECHT, REVELA A REVISTA "ÉPOCA"


Fernando Pimentel e Lula nos tempos das "vacas gordas" e Marcelo Odebrecht há 11 meses engaiolado numa penitenciária de Curitiba.
A revista Época desta semana traz uma reportagem exclusiva sobre as descobertas da Polícia Federal a respeito de um fabuloso esquema de roubalheira e propinas que envolvem o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel e Marcelo Odebrecht, ex-chefão da empreiteira e que há 11 meses está preso num penitenciária em Curitiba, acusado e condenado no inquérito do petrolão. 
Mas essa novela e mistério e roubalheiras variadas de milhões de dólares na esteira do petrolão parece que não terá fim tão cedo. 
É como um balaio de siri. Puxando um vem junto uma penca. 
A suspeita de gatunagem também no BNDES já era aventada antes mesmo de explodir o escândalo do petrolão, quando Lula, Dilma e seus sequazes, incluindo Pimentel, se sentiam os donos do Brasil. 
Segundo Época, a Odebrecht passa a ser o alvo central das duas maiores investigações em curso no país. Na Lava Jato, pelo cartel formado para conseguir obras na Petrobras. Agora, na Acrônimo, por suas relações com oBNDES
A PF chega ao banco a partir de uma devassa nas contas e na vida de Benedito de Oliveira Neto, o Bené, o principal operador do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel – na ocasião ministro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e chefe do BNDES. 
A PF é taxativa ao resumir o caso: “Pagamento de vantagens indevidas realizado pela empresa Odebrecht, por meio de intermediação de João Carlos e Bené, a Fernando Damata Pimentel, em contraprestação a benefícios recebidos junto ao BNDES para investimentos no exterior”.
 João Carlos Mariz era o homem da Odebrecht responsável por conseguir financiamentos no BNDES. Vantagens indevidas é o termo técnico para propina. 
A partir de depoimentos de testemunhas e de planilhas recolhidas, a PF suspeita que o grupo de Fernando Pimentel levantou mais de R$ 6 milhões em propina da Odebrecht. 

22 de maio de 2016
in aluizio amorim

O QUE SIGNIFICA O RECUO DE TEMER NO CASO MinC?

Resuminho: o Brasil por muito tempo teve o MEC, Ministério da Educação e Cultura; as pastas foram separadas no governo de José Sarney; o presidente Michel Temer refundiu as pastas; os artistas tiveram um piripaque e saíram difamando o Brasil pelo mundo; Temer recuou e recriou o Ministério da Cultura. 
A pergunta sobre a qual #PensarNãoDói é: o que significa isso no atual cenário político?


A resposta não é óbvia. Por um lado, isso pode indicar fraqueza de Temer; por outro lado, isso pode indicar uma avaliação estratégica para evitar desgaste comprando uma briga de longo prazo com uma classe artística ideologicamente comprometida com seus adversários políticos, com alta visibilidade e grande capacidade de mobilizar multidões contra o governo.

Se o recuo foi mera demonstração de fraqueza, estamos ferrados. Um governante que já na primeira semana recuasse em medidas anunciadas sob holofotes internacionais por não querer se incomodar com cantores, atores e cineastas em meio a um déficit orçamentário de R$ 170.000.000.000,00 e onze milhões de desempregados não chegaria ao final do primeiro ano de governo. 
Eu prefiro acreditar que não seja assim. Espero não estar me enganando.

Se o recuo foi estratégico, ótimo! 
Um governante capaz de se adaptar rapidamente e de tomar decisões estratégicas difíceis em pouco tempo será muito bem-vindo ao país. 
Se Temer optou pelo recuo numa questão pouco relevante para poder se concentrar naquilo que realmente importa, é sinal de que teremos finalmente um governo que saberá atuar com prioridades claras. Esperemos que seja assim na maior parte das vezes.

Em qualquer dos casos, a medida terá um efeito colateral negativo para o qual Temer terá que se preparar. 
O PT e a esquerda em geral certamente não vão elogiar o presidente por sua sensatez e disposição democrática, eles vão aproveitar o recuo de Temer para criticá-lo ainda mais e para mobilizar suas bases alegando que “basta pressionar que o golpista cede” e coisas do tipo.

Este episódio pode vir a nos mostrar uma característica positiva do presidente da República, mas de qualquer modo terá sido um erro que custará ao governo críticas, desgaste e acirramento de ânimos e obstinação de seus adversários. Temer precisa de uma assessoria para assuntos estratégicos melhor.

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22 de maio de 2016
Arthur Golgo Lucas
in pensar não dói

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Pareceu-me coerente a atitude de Temer. Estratégica, se aproveitar o momento extremamente difícil da economia, e simplesmente deixar o Ministério da Cultura a pão e água. E muito bem justificado. O momento não está para as belas artes da enganação...
Eles querem um Ministério? Pois aí está o Ministério... Agora, 'grana', bufunfa, 'tutu', nem pensar... E mais uma coisita: vamos apurar onde foi colocado a grana preta que "os artistas" embolsaram. Afinal nada mais justo,  uma vez que não existe 'dinheiro público', mas dinheiro do contribuinte.
Transparência, apenas, meus amigos... Transparência...
Seu Chic de Holanda vive e mora em Paris com o seu comunismo de araque, regado a vinho e outras culinárias... O patropi que se f...
m.americo

LULA E SUA COMPULSÃO PELA MENTIRA

O “garçom” do Planalto é mais uma mentira de Lula

O ex-presidente e principal investigado na Operação Lava Jato, Luis Inácio Lula da Silva (PT/SP) postou (através de sua equipe) em seu perfil de Facebook, o seguinte recado (imagem abaixo), em 18/05/2016:



O único “problema” é que José da Silva Catalão, funcionário do Palácio do Planalto, ocupava cargo comissionado de Assessor Técnico, e não de garçom. Ora, como um Assessor Técnico, contratado para tal função conforme o próprio Portal da Transparência do Governo Federal, poderia estar exercendo a função de garçom?


Ainda segundo o Portal de Transparência do Governo Federal, o salário de tal servidor não é de um garçom qualquer, mas compatível com o de um Assessor Técnico.


Dilma Rousseff estava recebendo assessoria técnica para exercer a profissão de garçonete, por medo do impeachment? E se trata do mesmo servidor, pois além do nome, temos em comum o fato de estar na função desde fevereiro de 2007, ou seja, há mais de 9 anos, conforme relatado no post de Lula.
Podem argumentar agora (os defensores de Lula) que seria apenas um erro da equipe do Facebook do ex-presidente, contudo, se é um funcionário tão querido, como errariam a função?

Ou se há um garçom tão querido que foi demitido, como errariam o nome? Só uma coisa faz sentido: Lula pode até ter ligado para tal servidor, mas seu post mentiu sobre a função do mesmo, visando gerar comoção em seu público, afinal, é mais fácil sentir dó de um pobre garçom demitido, do que de um assessor técnico bem remunerado e que ocupava cargo comissionado, não é mesmo?

E é óbvio que Lula necessita de toda a carga emocional e sentimentalista que puder descarregar sobre seus (ainda) seguidores, com as investigações da Lava Jato e até o relatório do Procurador-geral da República apontando para ele, cada dia mais e mais.

COMENTO: para quem não sabe, esse 3º Sgt QE da Reserva do Exército, contratado como Assessor Técnico, mas que exercia as funções de garçom, foi acusado de espionar a reunião fechada do presidente em exercício, Michel Temer, com seus ministros e repassar o que ouviu a outros assessores da quase ex presidente Dilma Rouseff. 

Nada mais óbvio que os canalhas tentem vitimizar seu informante flagrado/fracassado, mas o episódio deixa claro outro despropósito que ocorre nos corredores palacianos. 

Pelo que se vê, para não contratarem simplesmente um garçom pagando-lhe o correspondente salário, contrata-se um "assessor técnico" (cargo de Direção e Assessoramento Superior = DAS 102.3), com um salário substancialmente maior. 

Claro que deve haver muitos outros casos assim. Podem até alegar que o funcionário deve ter um salário elevado para garantir sua confiabilidade no desempenho de seu trabalho (ninguém pode dizer que ele não estava sendo fiel - ao seu empregador original). 

Mas, em um país onde um professor com curso superior tem que enfrentar 40 horas semanais tentando domar 30 a 40 crianças e/ou adolescentes em troca de menos de dois mil reais mensais, o preço desse garçom me parece superfaturado (como muita coisa governamental nos últimos anos).

22 de maio de 2016
in mujahdin cucaracha

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA JORGE SERRÃO

           Temer, corte juros, impostos e a gastança


Mesmo sem voto e popularidade, Presidento Michel Temer, o Brasil espera de você, imediatamente, três atos fundamentais. Primeiro, elimine a gastança inútil e improdutiva da administração federal. Segundo, promova um corte de juros, como indicador de que a dívida pública pode ser contida e reduzida. Terceiro, promova uma redução drástica dos 93 impostos, taxas e contribuições em vigor. Tais medidas, no curto prazo, fazem a economia brasileira reverter a suicida perspectiva de crise.

Michel Temer tem conhecimento suficiente para saber que o governo tem de criar condições honestas de estímulo ao investimento público que, por sua vez, induz o investimento privado, desde que exista um ambiente de segurança do Direito. Infelizmente, estamos longe disso no Brasil. Todo mundo sabe que a gastança desenfreada na última década, financiada pela rolagem da dívida pública a juros altos, provocou a disparada da inflação - que se mantém resistente, mesmo com os juros nas alturas. Mexer na usura oficial reduziria a pressão sobre a dívida pública, incentivaria o investimento, estimularia o consumo e, como consequência, promoveria um aumento da arrecadação de impostos.

O passo seguinte dependerá de uma repactuação política com o setor produtivo. Reduzidos os impostos e os juros, ao mesmo tempo em que se simplifica o pagamento de dívidas com os governos, será fundamental um acerto geral com a sociedade para um realinhamento dos preços relativos dos produtos e serviços. Este é o único jeito de conter e reverter a inflação, sem lances de truculência econômica. O custo cobrado por qualquer produto ou serviço no Brasil é absurdo e fora da realidade na comparação com outros países, desenvolvidos ou subdesenvolvidos.

Depois de tomar as medidas básicas que reverterão o processo de inflação alta sem crescimento, aí é preciso sentar, urgentemente, com todos os segmentos esclarecidos da sociedade para um redesenho do modelo de Estado no Brasil. Temos de romper com o Capimunismo rentista e corrupto em vigor. Fazer meras "reformas" não resolve a crise estrutural brasileira. Não podemos mais adiar as mudanças tributária, fiscal, bancária, trabalhista, Previdenciária e educacional.

Sem isso, mudanças efetivas há como redefinir um pacto federativo. É urgente reproclamar a República em bases constitucionais realistas, verdadeiras e efetivamente democráticas (onde haja segurança do Direito). O combate efetivo à corrupção - problema culturalmente arraigado na sociedade brasileira - dependerá de mudanças que façam o Judiciário cumprir seu papel de poder moderador. Do jeito que funciona atualmente, o judiciário apenas legitima as ações do desgoverno do crime organizado e de outras facções criminosas menos votadas. Magistrados conscientes reconhecem o problema, e desejam trabalhar pela mudança.

Não existe outro jeito de mudar. Só uma Intervenção Cívica Constitucional, bem executada politicamente, tem a capacidade de reinventar o modelo estatal brasileiro. É preciso redefinir o papel do Executivo, Legislativo, Judiciário. Temos também de fortalecer a expressão Militar do poder. Sem ela, democraticamente atuando, não existe nação que seja respeitada perante o resto do mundo. Os militares têm uma inestimável contribuição a dar. Os comandantes querem participar do debate pelas mudanças, mas acabam impedidos pelos preconceitos ideologicamente fabricados depois do governo dos generais-presidentes. 
 
Não existe milagre a ser feito por um gênio da lâmpada ou por qualquer ditador carismático. A "salvação nacional" só será efetiva se for feita através de uma Intervenção Cívica Constitucional. O processo só será viável se for pactuado com a sociedade na base da Política com "p" maiúsculo. Infelizmente, nossa classe política não está preparada para isto. Pior ainda, ela não quer mudanças, apenas finge desejar "reformas". No entanto, a maioria esmagadora dos cidadãos-eleitores-contribuintes deseja mudanças reais, objetivas e efetivas.

O Presidento interino Michel Temer tem a chance de se tornar Presidente de verdade. Não pode e nem deve desperdiçar a oportunidade histórica. É preciso agir com conceitos corretos e urgência cirúrgica. A crise estrutural brasileira é gravíssima. Se não for resolvida depressa, tem tudo para nos levar a uma ruptura institucional violenta, combinada com um desastre econômico de proporções nunca antes vista em nossa História.

Resumindo: temos de ir muito além de apenas tirar o PT do poder, substituindo-o pela turma do PMDB que era parceira do petismo até outro dia. Se Temer não tiver capacidade de liderar o processo político de mudança, vamos mergulhar no caos. Muita gente acredita que passar por tal sacrifício possa ser o atalho para o Brasil tomar vergonha e se reinventar. O problema é o alto custo humano e econômico que o processo de ruptura vai demandar...

Por tudo isso pesado na balança, os próximos 15 dias de Michel Temer serão decisivos para o sucesso ou fracasso do Brasil. A percepção geral é que, se Michel Temer não mudar, acabará mudado. A implacável sentença da História o mandará para casa, cuidar da Marcela... Veremos sinais de pré-condições para futuras mudanças se Michel Temer, no curtíssimo prazo, cortar os impostos, os juros e coibir a gastança (missões complicadíssimas e quase impossíveis para quem tem uma base política fisiológica e patrimonialista). Se o básico não for feito, o pirão vai desandar. As consequências serão trágicas.

No salve-se-quem puder, com o famoso botão phoda-se apertado, tudo pode acontecer... Melhor não pagar para ver...
E pode escrever: Se o pacotão do Temer-Meirelles vier com aumentos de impostos, a porrada vai comer, mais depressa que o previsto... Melhor não pagar para ver...
Tirando o estresse do impeachment?



Flagrante enviado por um leitor do senador petista Humberto Costa passeando ontem na sala VIP do Aeroparque Jorge Newbery da Argentina, embarcando em vôo da Condor (classe executiva da Aerolineas) rumo ao Uruguai...
Provocação




Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus. Nekan Adonai!

22 de maio de 2016
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.