"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

VALE LEMBRAR

Justiça Eleitoral: confira o que será proibido de quinta-feira até o próximo domingo

urna_eleitoral_10Com o primeiro turno das eleições, no domingo (5), batendo à porta, a Justiça Eleitoral tem regras que não podem ser esquecidas por candidatos, partidos políticos e coligações.

De acordo com a Lei Eleitoral, quinta-feira (2) é o último dia para a exibição da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.

É também o prazo final para os candidatos fazerem reuniões públicas de campanha, comícios e para a utilização de aparelhagem de som fixa, entre as 8 horas e a meia-noite.

Quinta-feira também é a data limite para a realização de debates políticos na televisão ou no rádio. Debates iniciados no dia 2 podem se estender, no máximo, até as 7 horas do dia 3 de outubro. Também até amanhã, partidos políticos e coligações terão de indicar à Justiça Eleitoral o nome das pessoas autorizadas a expedir as credenciais dos fiscais e delegados de partido que estarão habilitados a acompanhar os trabalhos de votação.

Na sexta-feira (3) termina o período para que se faça a divulgação paga, na imprensa escrita, a reprodução na internet do jornal impresso, de propaganda eleitoral. Ainda na sexta-feira, os presidentes de mesa que não tiverem recebido o material destinado à votação deverão comunicar a falha ao juiz eleitoral.

No sábado (4), termina a propaganda eleitoral com uso de alto-falantes ou amplificadores de som, entre as 8 horas e as 22 horas. Carreatas, caminhadas, passeatas e a distribuição de material gráfico também só poderão ser feitos até as 22 horas do sábado.

Desde terça-feira (30), até 48 horas depois do encerramento da votação, nenhum eleitor pode ser preso ou detido, salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável, ou ainda por desrespeito a salvo-conduto. A proibição de prisão de candidatos está em vigor desde o último dia 20. No entanto, quem concorre a cargo eletivo pode ser detido ou preso em caso de flagrante delito.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, a competência para proibir a venda de bebidas alcoólicas no dia da votação é da Secretaria de Segurança Pública de cada estado, município ou do Distrito Federal. (ABr)

02 de outubro de 2014
ucho.info

LINHA DE TIRO

Odebrecht é arrastada para a Lava-Jato, mas castelo de virtudes do grupo deve ruir com o caso Triunfo

(Geraldo Magela - Agência Senado)
(Geraldo Magela – Agência Senado)

Demorou, mas o grupo Odebrecht foi incluído no escândalo que emoldura a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Conforme noticia o jornal “Folha de S. Paulo” na edição desta quinta-feira (2), Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, teria revelado às autoridades, durante os depoimentos decorrentes do acordo de delação premiada, que a Odebrecht seria a responsável por um pagamento no valor de US$ 23 milhões (equivalente a R$ 57 milhões), dinheiro recebido em um banco da Suíça entre 2010 e 2011.

Na época dos depósitos, Costa era responsável pela construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a obra mais cara da Petrobras, cujo custo final está estimado em R$ 45 bilhões, contra previsão inicial de R$ 5,6 bilhões. Em consórcio com a empreiteira OAS, a Odebrecht conquistou o terceiro maior contrato de Abreu e Lima, de R$ 1,48 bilhão (valor de 2010).
A Odebrecht nega ter feito qualquer depósito em favor de Paulo Roberto Costa ou um dos seus prepostos, mas uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgada no último dia 24 de setembro, revela que a Camargo Corrêa, a Odebrecht e a OAS superfaturaram contratos na obra da refinaria Abreu e Lima em R$ 367,9 milhões.
Como era de se esperar, a empreiteira baiana não apenas negou os fatos, mas acionou a artilharia na direção da Folha. Em nota, a empresa destaca: “A Odebrecht nega veementemente ter feito qualquer pagamento ou depósito em suposta conta de qualquer diretor ou ex-diretor da Petrobras. A Odebrecht mantém, há décadas, contratos de prestação de serviços com a Petrobras, todos conquistados de acordo com a lei de licitações públicas”.
A Odebrecht e seus controladores podem alegar o que bem quiser, mas contra fatos não existem argumentos. Se confirmada a informação de que Paulo Roberto Costa citou a empreiteira em um dos seus depoimentos, como forma de reduzir eventual pena condenatória, a Odebrecht terá muito a explicar às autoridades. Aliás, não custa lembrar que Marcelo Odebrecht, presidente do grupo, disse em recente entrevista que é a favor da ingerência da iniciativa privada no Poder Executivo. O que explica a nefasta proximidade do grupo com o Palácio do Planalto.
Mais adiante, ainda na nota divulgada em resposta à matéria jornalística, a Odebrecht conclui: “Neste sentido, é de estranhar a postura da Folha, que contradiz a cautela’ com supostos vazamentos de informações inverídicas em procedimentos de delação premiada, recomendada pelo editorial do jornal (Petrobras como prêmio’), publicado no último dia 9 de setembro”.
Problema maior
A grande questão é que nos desdobramentos da Operação Lava-Jato o grupo Odebrecht terá muito a explicar sobre o processo de expropriação da Petroquímica Triunfo, que na esteira de operação bisonha passou a integrar os negócios da Braskem, empresa do conglomerado baiano.
Para que os leitores compreendam a estranha manobra, que desrespeitou os direitos do empresário Boris Gorentzvaig (já falecido), então sócio da Triunfo, o setor petroquímico nacional é quase um monopólio do grupo Odebrecht. Isso porque o então presidente Lula quis assim, Dilma pressionou para que isso acontecesse dessa forma e Paulo Roberto Costa deu tratos às ordens palacianas.
No embalo das matérias do ucho.info sobre o estranho domínio da Odebrecht no setor petroquímico e a criminosa expropriação da Triunfo, o Ministério Público Federal decidiu abrir inquérito, no escopo da Lava-Jato, para investigar o caso. Sempre lembrando que as autoridades aproveitaram os muitos depoimentos de Costa para esclarecer dúvidas sobre o assunto.
No momento em que os sucessores de Boris Gorentzvaig abrirem a caixa de Pandora, o castelo de virtudes (sic) da Odebrecht deve ruir. Questão de tempo!

02 de outubro de 2014
ucho.info

AÉCIO ALCANÇA MARINA E AVANÇA PARA O SEGUNDO TURNO


 
A três dias da eleição, Aécio Neves (PSDB) conseguiu empatar com Marina Silva (PSB) na disputa pelo segundo lugar da corrida presidencial. Pesquisa Datafolha concluída nesta quinta-feira (2) mostra Marina com 24% das intenções de voto, Aécio com 21%. Como a margem de erro do estudo é de dois pontos para mais ou para menos, a situação é de empate técnico entre os dois postulantes. 

A tendência é de uma briga bastante acirrada pelo ingresso no segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff (PT), líder isolada do primeiro turno com 40% –o mesmo patamar dos dois últimos levantamentos. Marina cai ou oscila para baixo pesquisa após pesquisa desde o início de setembro. No mesmo período, o correu o oposto com Aécio. A vantagem da pessebista sobre o tucano chegou a ser de 20 pontos. Hoje é de 3 pontos. 

Juntos, os outros candidatos somam 4% das intenções de voto. Luciana Genro (PSOL), Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV) têm 1% cada, enquanto os demais totalizam 1%. Brancos são 5%, eleitores dispostos a votar nulo representam outros 5%. Em votos válidos (conta que descarta brancos e nulos), o placar do primeiro turno é Dilma com 45%, Marina com 27%, Aécio com 24%. Nos testes de segundo turno, Dilma vence tanto Marina quanto Aécio com o mesmo resultado: 48% a 41%. 

O Datafolha 12.022 entrevistas em 433 municípios por encomenda da Folha em parceria com a TV Globo. Os eleitores foram ouvidos nesta quarta (1º) e nesta quinta (2). O nível de confiança é de 95% (em 100 levantamentos com os mesmos métodos, os resultados estarão dentro da margem de erro em 95 ocasiões). O registro da pesquisa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é BR-00933/2014.
Em 19 de setembro, este Blog publicou a tabela abaixo, que denominou Tabela da Vitória. Observem e comparem com a Pesquisa Datafolha. Obrigado aos que acreditaram. E continuam acreditando.
02 de outubro de 2014
in coroneLeaks

O PT E A IMPRENSA - DE PEDRA A VIDRAÇA

 



Entre 1980 e 2002, o Partido dos Trabalhadores foi uma ininterrupta saraivada de pedras contra as vidraças do poder. Pedra dura sem ternura, nem meias palavras. O partido adotou a denúncia como elemento central de suas estratégias, dividindo-se entre as tribunas dos parlamentos e os balcões do Ministério Público e do Poder Judiciário.
 Era carga cerrada, que ganhava eficiência e eficácia com produção de cartilhas e com a rápida propagação das mensagens e orientações até o mais solitário vereador ou militante, no mais remoto dos municípios.

Onde houvesse um meio de comunicação e alguém para ser municiado, ali chegava a informação ou a versão mais conveniente para o ataque, em dimensões nacionais, aos adversários da hora. Foram mais de duas décadas disso.

Os alvos não eram apenas os ocupantes do Palácio do Planalto. Eram, também, as vidraças de todo espaço de poder cobiçado pelo partido. E o partido cobiçava todos os espaços de poder. A articulação com movimentos sociais e sindicatos permitia-lhe dar um jeito de mobilização popular às manifestações estrategicamente promovidas contra seus adversários em todo o país. Como era de se esperar, o partido tornou-se o queridinho da mídia porque, na área política, ninguém conseguia ser mais ativo.
O PT não era apenas fonte. Era protagonista e fonte torrencial de informações maliciosas, que geravam repercussão.

UM INCÔMODO…

Eram cotidianos, nos parlamentos, os discursos de senadores, deputados e vereadores petistas brandindo como tacapes, jornais e revistas que reproduziam suas denúncias e acusações. Não passava pela cabeça do PT a ideia de que o jornalismo, em especial o jornalismo investigativo, pudesse se tornar um incômodo. Não! Era uma parceria que dava bons resultados.
O PT atacava e a imprensa multiplicava os efeitos do ataque. A imprensa investigava e o partido repercutia. Os órgãos oficiais investigavam e vazavam para o partido e para a imprensa. E a vida sorria para todos.

No entanto, poucos meses após haver o PT chegado ao poder, os mesmos veículos que antes eram fidedignos e parceiros passaram a ser vistos como manipuladores e inimigos. Acumulam-se, desde então, as tentativas de lançar controle sobre os meios de comunicação.
Mais recentemente, tal proposta recebeu o nome de “marco regulatório” da mídia. Agora, foi a vez da presidente Dilma, numa de suas cotidianas crises de nonsense, proclamar, referindo-se às denúncias sobre a Petrobras: “Não é papel da imprensa investigar!”. Segundo ela, a tarefa pertence à Polícia Federal.

A frase atropela rudimentares liberdades propiciadas pela democracia, essenciais à subsistência desse regime. Tem potencial para destruir as pontes sobre as quais o partido de quem a proferiu palmilhou os caminhos do poder. E ergue nuvens negras sobre o futuro do país em suas mãos.

02 de outubro de 2014
Percival Puggina

MARCADO PARA MORRER

Paulo Roberto Costa terá proteção da Polícia Federal em casa   

 Foto: Reprodução de vídeo/G1
Paulo Roberto Costa é abraçado por sua filha na chegada ao Rio
 
A advogada Beatriz Catta Preta, que defende o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, disse que seu cliente terá proteção permanente da Polícia Federal (PF). Costa foi beneficiado com a delação premiada e, por isso, foi transferido na tarde de quarta-feira (1º/10) da Superintendência da PF em Curitiba, onde estava detido em prisão preventiva, para sua casa, no Rio de Janeiro.
 
“Ele terá proteção ostensiva da Polícia Federal nesse início. Ele ficará em casa, em prisão domiciliar, e só poderá sair de casa com autorização judicial. Se, no prazo de um ano, não houver sentença prolatada nos autos onde corre o acordo [de delação premiada], ele fica em liberdade aguardando a prolação da sentença”, disse a advogada.
Catta Preta acrescentou que, com a decretação da sentença, o juiz avaliará a colaboração de Costa e os efeitos alcançados para o processo. “Ele vai, então, aplicar a pena que, segundo o acordo, tem seu patamar máximo de dois anos em regime semiaberto”, explica.

No cumprimento da pena em prisão domiciliar, o ex-diretor usará uma tornozeleira eletrônica. Costa é investigado pela PF, por suspeita de participação em um esquema de corrupção da Petrobras, e decidiu colaborar com as investigações em troca de redução de pena.

02 de outubro de 2014
Deu no Correio Braziliense

VOTAR É A ÚNICA SAÍDA. NÃO DESPERDICE SEU VOTO





No desespero com a progressiva decadência dos três poderes da República, muitos brasileiros defendem uma renovação radical da classe política. Uns pretendem invalidar as eleições através do voto nulo ou em branco, outros defendem a abstenção e há também quem sugira que não se reeleja nenhum político, votando-se apenas em quem jamais disputou eleição.

Alguns acham que, se a maioria anular o voto, votar em branco ou se abster, a eleição será automaticamente invalidade, mas isso não é verdade. Nenhuma eleição jamais será invalidada por votos nulos, em branco ou abstenção massiva. Se houver apenas um voto, ele será válido e o resultado da eleição estará confirmado.

Na forma da lei, infelizmente a nulidade da votação somente ocorre em casos muito especiais, com ocorrência de fraude ou erro essencial de organização.

UMA DECEPÇÃO ENORME

Entende-se perfeitamente a decepção desses brasileiros. Realmente, é muito duro suportar tanta falta de espírito público, tanta corrupção e tanta impunidade, em meio à progressiva segregação de grande parte da população brasileira, que necessita dos serviços públicos de saúde, educação, saneamento e transportes, mas continua eternamente desassistida.

Veja-se o caso da saúde pública, por exemplo. Os governantes conseguiram dividir os brasileiros em duas classes – os que têm planos de saúde e os que não têm. Mas há, ainda, mais uma subclasse, formada pelos segurados de planos de saúde que não funcionam e fazem com que o suposto beneficiário acabe tendo de recorrer aos hospitais públicos.

Na educação, formaram-se as mesmas classes, dividindo os brasileiros entre os que têm escola particular e os que necessitam da escola pública, havendo também a subclasse dos que se sacrificam para colocar os filhos em colégios particulares que também quase nada ensinam.

REALIDADE MASSACRANTE

É diante desta realidade incontestável e massacrante que muitos brasileiros perdem a confiança nas eleições, por entenderem que votar não significa nada. É verdade, muitas eleições não mudam nada, mas não se pode aceitar esse posicionamento autodestrutivo de brasileiros conscientes, porque a eleição é nossa única arma.

Se os brasileiros conscientes desistem de votar, os únicos beneficiados são os políticos profissionais, que já têm seus feudos. Quando votamos nulo ou em branco, e quando deixamos de votar, os corruptos ficam cada vez mais fortalecidos.

Por tudo isso, fica claro que os brasileiros conscientes não podem se omitir nas eleições. Pelo contrário, precisam participar e influir para que os melhores candidatos (ou os “menos piores”, como diz o comentarista Théo Fernandes) sejam eleitos. Pensem nisso.

02 de outubro de 2014
Carlos Newton

MINISTRO DO STF CONFIRMA ENVOLVIMENTO DE PARLAMENTARES NOS ESCÂNDALOS DA PETROBRAS

   

Ministro Teori Zavascki é o relator e começa a abrir o jogo
 
Ao homologar o acordo de delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e principal envolvida no esquema de corrupção levantado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), destacou que por meio das revelações dele, “foi possível identificar um conjunto de pessoas físicas e jurídicas envolvidas em operações ilícitas, entre as quais as utilizadas inclusive para lavar dinheiro oriundo de crimes antecedentes praticados em detrimento da Petrobrás”.
 
Para o relator do processo, “há elementos indicativos, a partir dos termos do depoimento, de possível envolvimento de várias autoridades detentoras de prerrogativa de foro perante tribunais superiores, inclusive de parlamentares federais, o que atrai a competência do Supremo Tribunal Federal, a teor do artigo 102, I, b, da Constituição”. Ou seja, o processo vai se desenrolar no supremo como Ação Penal, exatamente como o Mensalão.
 
É pena que não haja vazamento dos nomes dos parlamentares antes das eleições, para que os eleitores pudessem mudar os votos. Mas de toda forma será reconfortante assistir ao martírios deles, perdendo os mandatos, caso sejam vencedores este domingo.

02 de outubro de 2014
Carlos Newton

CARTÃO VERMELHO PARA DILMA E MARINA

           


Quando a gente imaginava que não podia ficar pior, ficou. E mais ficará, estendendo-se a certeza até o segundo turno, dia 26. Fala-se da baixaria que assola não apenas a campanha presidencial, mas o pudor e a paciência de todos nós.
 
Dilma chama Marina de mentirosa, acusando-a de desvio de caráter por conta da votação da emenda da CPMF. Marina retruca que mentirosa é a Dilma, por sustentar não ter conhecimento dos escândalos na Petrobras.
 
As duas vão se encontrar cara a cara no último debate entre os candidatos, dentro de horas, na Rede Globo. Irão armadas? Porque já prepararam novas injúrias, além das que dispararam ontem, durante as campanhas. Fosse num campo de futebol e teriam recebido o cartão vermelho, tanto pelas agressões quanto pelas mentiras.
 
Do fundo da memória, só se encontra paralelo nessa lambança promovida pelas candidatas quando Jânio Quadros e Ademar de Barros disputaram o governo de São Paulo, em 1954. Um levava para os comícios um rato morto pendurado num bambu, por um fio. O outro reagia com um gambá, na mesma situação – ambos sustentando ser o adversário.
 
A pergunta que se faz é se tanto Dilma quanto Marina terão condições emocionais para dirigir o país pelos próximos quatro anos. No Congresso, adversários serão transformados em inimigos? E nos governos estaduais? A presidente, quando de sua eleição contra José Serra, em 2010, jamais levou a campanha para tamanho baixo nível. Nem a ex-senadora, ao disputar o mesmo pleito, ficando em terceiro lugar. Qualquer uma que vença agora carregará o peso da falta de equilíbrio.
 
PESQUISAS EM XEQUE
 
Longe de levantar suspeitas, mas como explicar que as pesquisas indicavam Garotinho em primeiro lugar, na disputa pelo governo do Rio, com Luís Pezão lá em baixo, mas, pouco depois, inverteu-se o pêndulo? Eunício Oliveira, no Ceará, já podia encomendar o terno da posse, agora corre o risco de perder.
E no Rio Grande do Sul, com Ana Amélia considerada eleita e hoje perdendo para Tarso Genro? Os exemplos da inconstância do eleitorado se multiplicam. Ou os institutos de consulta popular se enrolaram? Vale aguardar a verdadeira pesquisa, domingo.

02 de outubro de 2014
Carlos Chagas

AFINAL, POR QUE MARINA CAIU TANTO NAS PESQUISAS?

         

Marina Silva precisa dar demonstração de força

No final do primeiro turno, estamos assistindo a uma reta de chegada espetacular, como se diz no linguajar turfístico. A primeira colocada Dilma Rousseff segue com folga, mas se acirra a luta pelo segundo posto, com Marina Silva caindo de produção e o terceiro colocado Aécio aparecendo por fora, numa atropelada em busca de fazer a dupla exata e se inscrever para o Grande Prêmio Governo do Brasil, a corrida final e decisiva, mano a mano, no segundo turno.

Em meio a essa arrancada dos últimos metros, com decisão de segundo lugar no photochart, os torcedores se perguntam por que Marina, que chegara a ser favorita nas apostas, caiu tanto em relação aos outros dois concorrentes. Ninguém consegue entender esse vaivém das pesquisas, porque parece não haver um motivo consistente.

O fato é o seguinte: quando ela se tornou candidata e passou a subir rapidamente nas pesquisas, os outros candidatos começaram a atacá-la de todas as maneiras. Essa reação já era esperada, faz parte do jogo, a política brasileira ainda é feita assim, de uma forma sórdida, sem debate de ideias ou programas de governo. A baixaria come solta.

É claro que Marina e seu marqueteiro Diego Brandy tinham de estar preparados para isso. Brandy é um sociólogo argentino que trabalhou nas duas campanhas vitoriosas de Campos ao governo de Pernambuco, em 2006 e 2010. Mas será que Marina ouviu as indicações dele? Provavelmente, não.

ATAQUES DE DILMA E AÉCIO

O certo é que a estratégia de Dilma Rousseff e Aécio Neves passou a ser o ataque direto a Marina Silva. Ao adotar essa postura agressiva, demonstraram disposição, força e empenho para ganhar a eleição. Enquanto isso, Marina aceitava passivamente essas agressões, não quis atacar os erros de Lula, chegou a chorar em público lembrando a antiga amizade. Sua equivocada estratégia limitou-se a se defender, adotando uma atitude passiva, passando por vítima, enquanto os outros dois candidatos mostravam-se proativos e aguerridos.

Marina demorou a aprender que ninguém gosta de líder fraco. O candidato precisa ter o estilo de Euclides da Cunha – ser, antes de tudo, um forte.  O resultado é que parte dos eleitores de Marina voltou a pender para Dilma e outra parte preferiu refluir para Aécio Neves, que mostra grande poder de recuperação e voltou a disputar com chances a passagem para o segundo turno.

É claro que Marina sentiu o golpe e subiu o tom da campanha, mas ainda está longe de falar o que se espera de uma candidata de oposição ao mais corrupto dos governos brasileiros, em todos os tempos. O próprio Aécio, em nome da “velha amizade”, também é comedido nas críticas a Lula, mas na política não se aceita esse tipo de vacilação. Não se pode contemporizar com um adversário de tamanho porte. É um erro.

DEBATE NA TV

Candidato precisa tomar posições e falar claro, para ser bem entendido. A realidade brasileira não admite dúvidas: há 12 anos no poder, o PT tornou-se uma quadrilha e o cappo chama-se Luiz Inácio. O país vai mal. Até as contas públicas passaram a ser maquiadas e perderam a confiabilidade. Qualquer outro governo deve ser preferível para os brasileiros.
“Além da corrupção, é a economia, estúpido!”, podemos adaptar ao Brasil de hoje a frase genial de James Carville, estrategista de Bill Clinton na campanha americana de 1992.
O debate da TV Globo, hoje à noite, a partir de 22h45m, deve decidir quem disputará o segundo turno. Aí vai começar uma outra eleição, que parte do zero, com mesmo espaço na TV. E daqui até lá, 26 de outubro, o que vai sair de denúncia de corrupção não está no gibi. E ninguém se compara ao governo do PT nesse quesito de repúdio eleitoral. Podem acreditar.

02 de outubro de 2014
Carlos Newton

DILMA E O MARQUETEIRO JOÃO SANTANA SÃO OS "SENHORES DO UNIVERSO"

 

 

A pesquisa Datafolha dos dias 29 e 30 mostra Dilma Rousseff (PT) com 40% contra 25% de Marina Silva (PSB). Aécio Neves (PSDB) está em terceiro lugar, com 20%.
Foi muito bem sucedida a estratégia petista de ataque a Marina. Numa eleição tão cheia de incertezas, ninguém duvida da presença de Dilma Rousseff no segundo turno.

Mas o cenário é mais sofisticado. Dilma e seu marqueteiro, João Santana, transformaram-se nos “senhores do universo” desta eleição, para usar a metáfora de Tom Wolfe no livro “A Fogueira das Vaidades”.

A dupla tem o poder de modular o processo de desossar Marina. Pode decidir quem passará ao segundo turno ao apertar um pouco mais o botão ou ao suavizar a “blitzkrieg”. Aécio fica ali embaixo com uma bacia coletando os votos que desabam da prateleira marinista.

Ocorre que parece ter chegado a um limite o benefício direto da estratégia para Dilma. Ela tem hoje os mesmos 40% registrados no último dia 26. Seus comerciais vitriólicos na TV fazem os votos perdidos por Marina deslizarem para Aécio.

CONTRA AÉCIO OU MARINA

Se os “senhores do universo” Dilma e Santana desejarem, podem pisar no acelerador e catapultar Aécio ao segundo turno. A alternativa é reduzir a guerrilha, permitindo que Marina passe à rodada final de votação. A decisão será tomada depois de ponderar a respeito de quem seria o adversário mais fraco contra Dilma numa disputa mano a mano.

A julgar pelo demonstrado até agora pelo Palácio do Planalto, Marina é uma candidata muito mais indesejada do que Aécio. Ela (ainda) incorpora o sentimento de mudança mais do que o tucano.
E assim chegamos à reta final. Dilma e seu marqueteiro comandam a situação a ponto de poderem escolher quem preferem enfrentar. E por que Marina não reage? Essa é uma pergunta que renderá quilômetros de análises depois da eleição, se a pessebista de fato for ejetada da disputa.

02 de outubro de 2014
Fernando Rodrigues
Folha

PERIGO NO HORIZONTE ECONÔMICO DA AMÉRICA LATINA

       


A América Latina deve se preparar para tempos difíceis, especialmente os países com rombos nas contas externas, como o Brasil. Com a forte queda dos preços das commodities (mercadorias com cotação internacional) exportados pela região, uma quantidade menor de dólares será despejada nessas economias, dificultando o financiamento dos déficits. O resultado será o enfraquecimento das moedas locais e a valorização da divisa norte-americana, um perigo para o controle da inflação.

Na avaliação de Marcos Buscaglia, economista do Bank of America Merrill Lynch, para tentar manter o controle da situação, os bancos centrais latinos serão obrigados a se desfazerem de parte de suas reservas internacionais a fim de conter excessos na alta da moeda dos Estados Unidos. Ele ressalta, porém, que essas operações de venda de dólares têm limite.
Por isso, o risco de alguns países mais intervencionistas recorrerem a medidas extremas, como a limitação de importações. “Esse tipo de decisão não cabe, contudo, para Brasil, Colômbia e Peru”, afirma.

Pelos cálculos de Buscaglia, os preços da soja, principal produto agrícola exportado pela região, caíram 33% desde 25 de junho último. O tombo já se reflete no saldo da balança comercial de vários países e deve ficar mais explícito a partir de 2015, justamente quando o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA, começará a elevar a taxa de juros, tirando recursos que hoje irrigam as economias latinas emergentes.

CHILE SAIU NA FRENTE

Prevendo possíveis dificuldades, o Chile saiu na frente e começou a reduzir o rombo nas contas externas. A previsão de Buscaglia é de que o deficit caia de 1,4% para apenas 0,5% do PIB entre 2014 e 2015.
No Brasil, a desaceleração será bem mais lenta, de 3,5% para 3,1%. Hoje, quase 30% do buraco nas transações correntes do país governado por Dilma Rousseff com o exterior vêm sendo financiado com capital especulativo, de curto prazo, que pode fugir a qualquer momento.
Por isso, a economia brasileira é apontada como uma das mais frágeis do mundo em caso de mudança na política monetária norte-americana.

O Peru também não está em situação das mais confortáveis, destaca o economista do Bank of America Merrill Lynch. Como a economia local está muito dolarizada, uma forte valorização da moeda dos EUA pode provocar estragos significativos. Não é só. A perspectiva é de que o rombo nas contas externas do país vizinho aumente, em vez de encolher, de 6,5% para 7,1% do PIB.

02 de outubro de 2014
Vicente Nunes
Correio Braziliense

POLÍCIA FEDERAL INVESTIGA AÇÃO DO PT EM FUNDOS DE PENSÃO

 


A Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que revelou a relação entre o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, começa a esbarrar em possíveis ramificações nos fundos de pensão de funcionários das estatais.
Controladas por dirigentes indicados por partidos da base do governo, essas entidades acumulam prejuízos em operações financeiras complexas e parecem obedecer a uma coordenação externa para fazer os mesmos investimentos controversos.

A PF abriu uma nova frente de investigação para apurar se investimentos feitos por fundos de pensão em empresas ligadas a Youssef foram influenciados pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. O Globo revelou que o advogado Carlos Alberto Pereira Costa, um dos principais auxiliares de Youssef, disse em depoimento que Vaccari frequentou uma empresa em São Paulo, entre 2005 e 2006, para tratar de negócios com fundos de pensão com um operador do doleiro.

Domingo, o jornal “Folha de S.Paulo” revelou que a PF encontrou e-mails em computadores de pessoas ligadas a Yousseff atribuindo à influência de Vaccari a aplicação, em 2012, de R$ 73 milhões das fundações Petros e Postalis, dos funcionários da Petrobras e dos Correios, na empresa Trendbank, que administra fundos de investimentos, causando prejuízos às fundações. Vaccari nega participação. Em maio, O Globo já havia mostrado que Postalis teve prejuízo ao aplicar R$ 40 milhões num fundo no Banco BNY Mellon por meio de uma gestora de investimentos indicada a dirigentes da fundação por operadores de Youssef, em 2012.
OPERAÇÕES SUSPEITAS
A complexidade e o grande número de operações, muitas delas feitas de forma indireta por meio de fundos que fazem outros investimentos, dificultam a identificação dos prejuízos dessas fundações, que administram as contribuições de funcionários das estatais e pagam os benefícios complementares aos aposentados dessas empresas.
Os negócios suspeitos já revelados mostram que os interessados em lesar os fundos usam como estratégia a capilaridade e a divisão dos riscos entre vários fundos.

Um caso emblemático é a quebra do Banco BVA, em 2013, cuja falência foi formalmente pedida no início deste mês. Apuração do Banco Central apontou indícios de conluio entre dirigentes do BVA e da Petros na formulação de operações fraudulentas.
No entanto, mais de 70 fundos de pensão de funcionários de estatais, estados e prefeituras perderam dinheiro no BVA comprando principalmente títulos lastreados em empréstimos dados pelo BVA a empresas com poucas condições de pagamento. Compraram juntos R$ 2,7 bilhões diretamente ou por fundos de investimento ligados ao BVA.

Nesse tipo de papel, se o credor não paga numa ponta, o investidor (no caso o fundo de pensão) perde na outra. Petros e Postalis estão entre os que mais perderam dinheiro no BVA. Os dois fundos são protagonistas de outro fracasso: compraram R$ 100 milhões em debêntures do Grupo Galileo, mantenedor da Universidade Gama Filho, que fechou as portas insolvente no ano passado. A Petros comprou 25% dos papéis e o Postalis ficou com os outros 75%, contra a regulação que limita aos fundos a aquisição de até 25% de emissões de títulos.

PÉSSIMAS APLICAÇÕES

Postalis e Petros têm muito mais em comum do que péssimas aplicações. O atual presidente do Postalis, Antonio Carlos Conquista, foi executivo da Petros entre 2003 e 2009, quando o fundo de pensão era dirigido por Wagner Pinheiro, atual presidente dos Correios, que o indicou para o Postalis. O fundo de pensão dos Correios é dividido entre o PT, que indicou o presidente, e o PMDB, que indicou os outros diretores, inclusive o financeiro.
A Petros segue sob domínio exclusivo do PT, embora as diretorias sejam divididas por dois grupos: o dos ex-sindicalistas bancários e o dos petroleiros, todos oriundos da CUT, braço sindical do PT.

Com um patrimônio de R$ 6,8 bilhões, bem menor que o da Petros (R$ 60 bilhões), o Postalis tem sofrido mais com a má gestão. Os prejudicados são os 140 mil participantes, o maior contingente entre as fundações de estatais. Em 2012, o Postalis passou a cobrar contribuição adicional dos participantes e pensionistas para cobrir um rombo de R$ 1 bilhão, cuja metade foi assumida pelos Correios. Agora, segundo funcionários, novo déficit atuarial chega a R$ 2,2 bilhões.

A Previc, órgão do Ministério da Previdência que fiscaliza as fundações, é considerada lenta nas investigações, que não são transparentes e geralmente terminam em punição leve. Em agosto, a Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap) e outras entidades pediram à Previc uma intervenção no Postalis.

02 de outubro de 2014
Alexandre Rodrigues e Rennan Setti

GUSTAVO LOYOLA: "CRESCIMENTO DE VERDADE SÓ EM 2017"

         


O economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, traça um quadro nada promissor para o país.
Diz que, independentemente de quem vencer as eleições, a economia só voltará a crescer de forma mais consistente em 2017, a inflação média anual dos dois próximos anos deverá ficar em 6,3%, o dólar chegará a R$ 2,60 já no ano que vem e a taxa básica de juros (Selic) será elevada até 12,25% ao longo de 2015.

Professor da Universidade Columbia, em Nova York, o economista Marcos Buscaglia, analista do Bank of America Merrill Lynch, não se surpreende com as fragilidades da economia brasileira. No entender de Buscaglia, nos últimos quatro anos, o Brasil ficou menos competitivo e se distanciou dos eixos mais dinâmicos de inovação e produção do mundo. Pior, diz ele:

“Nesse período, conjugou inflação alta, crescimento medíocre e excesso de estatismo, ou seja, intervenção na economia”. Sendo assim, avalia, o próximo presidente da República, independentemente de quem seja o vencedor, terá que trabalhar por um Brasil ágil, resiliente e conectado.

“Terá ainda de manter uma sólida disciplina fiscal, mais transparência nas contas públicas, além de redimensionar o papel e tamanho do Estado para manter o grau de investimento (país seguro para o capital)”, assinala.

02 de outubro de 2014
Vicente Nunes
Correio Braziliense

OS RICOS INVISÍVEIS NOS ESTADOS UNIDOS



Meio século atrás, a revista “New Yorker” publicou um artigo que se tornou um clássico, “Nossos Pobres Invisíveis”, para demolir o mito que prevalecia então, o de que os Estados Unidos eram uma sociedade afluente com apenas alguns “bolsões de pobreza”.
 
Para muita gente, os fatos sobre a pobreza foram uma revelação, e o artigo de Dwight Macdonald talvez tenha feito mais do que qualquer outro esforço militante para preparar o terreno para a guerra contra a pobreza decretada pelo presidente Lyndon Johnson.
 
Não acredito que os pobres sejam invisíveis hoje, ainda que ocasionalmente seja possível ouvir alegações de que eles não vivem realmente na pobreza –alguns têm até consoles Xbox em casa! Hoje em dia, são os ricos que se tornaram invisíveis.
 
Calma lá: metade da programação de TV dos Estados Unidos não se dedica a retratar o estilo de vida, real ou imaginário, dos ricos e fátuos? Sim, mas isso é produto da cultura da celebridade, e não significa que o público faça ideia correta de quem exatamente é rico, ou de quanto dinheiro essas pessoas têm. A realidade é que a maioria dos norte-americanos não faz ideia de que até que ponto a sociedade de seu país se tornou desigual.
 
SALÁRIOS
 
As mais recentes provas quanto a isso surgiram de uma pesquisa que perguntava a pessoas de diversos países quanto elas achavam que os executivos mais importantes das grandes empresas ganhavam, se comparados aos trabalhadores comuns.
 
Nos Estados Unidos, a resposta média foi a de que os presidentes-executivos de empresas ganham 30 vezes mais que a média de seus funcionários –o que era mais ou menos verdade nos anos 60. Mas de lá para cá a disparidade explodiu, e com isso os atuais presidentes-executivos ganham cerca de 300 vezes mais que os trabalhadores comuns.
 
Assim, os norte-americanos não fazem ideia do quanto faturam os Mestres do Universo, uma constatação que parece estar em linha com as provas de que os norte-americano subestimam fortemente o grau de concentração da riqueza no topo da escala.
 
Será que o fato é apenas um reflexo da baixa capacidade matemática dos plebeus? Não. Pessoas supostamente bem informadas também parecem comparativamente desinformadas. Até que o movimento Occupy transformasse a expressão “o 1%” em lema, era comum ouvir sabichões e políticos proeminentes falar de desigualdade como se isso envolvesse as diferenças entre pessoas dotadas de educação superior e os demais, ou os 20% mais ricos da população em oposição aos demais 80%.
 
E mesmo o 1% é uma categoria ampla demais; os ganhos verdadeiramente altos ficam para uma elite ainda menor. Por exemplo, estimativas recentes indicam não só que o patrimônio do 1% mais rico disparou ante o de todos os demais cidadãos –subindo de 25% da riqueza do país em 1973 para 40% hoje– mas que a fatia mais generosa dessa ascensão aconteceu para o 0,1% de norte-americanos mais ricos, ou seja, o milésimo mais rico da população.
 
VIVEM ISOLADOS
 
Como é que as pessoas podem estar inconscientes desse desdobramento, ou, no mínimo, inconscientes de sua escala? A principal resposta, eu sugeriria, é que os verdadeiramente ricos ficam tão isolados das vidas das pessoas comuns que jamais vemos o que eles têm.
 
Às vezes vemos jovens universitários dirigindo carros de luxo, e isso nos incomoda; mas não vemos os dirigentes das companhias de capital privado se deslocando de helicóptero para suas imensas mansões nos Hamptons. Os píncaros de nossa economia são invisíveis porque estão envoltos em nuvens.
 
As exceções são as celebridades, que vivem suas vidas em público. E as defesas da extrema desigualdade sempre envolvem citar astros do cinema e esporte como exemplos. Mas as celebridades faturam apenas uma minúscula fração daquilo que os mais ricos ganham, e até mesmo os maiores astros ganham muito menos que os barões financeiros que realmente dominam os escalões mais altos da distribuição de renda.
 
ATOR MAIS BEM PAGO
 
A revista “Forbes” revela, por exemplo, que Robert Downey Jr. é o ator mais bem pago dos Estados Unidos, tendo faturado US$ 75 milhões no ano passado. De acordo com a mesma publicação, em 2013 os 25 administradores de fundos de hedge mais bem pagos faturaram em média quase US$ 1 bilhão cada um.
 
A invisibilidade dos muito ricos importa? Politicamente, importa muito. Os estudiosos às vezes indagam por que os eleitores norte-americanos não se incomodam mais com a desigualdade; parte da resposta é que não estão cientes de o quanto ela é extrema. E os defensores dos ricos tiram vantagem dessa ignorância.
 
Quando a Heritage Foundation nos diz os 10% mais ricos dos contribuintes sofrem uma pesada sobrecarga, porque pagam 68% de imposto de renda, a esperança é de que a pessoa não repare na palavra “renda” –outros impostos, como as contribuições previdenciárias, são muito menos progressivos. Mas a publicação também espera que o leitor não saiba que esses 10% dos contribuintes receberam quase metade da renda nacional, e controlam 75% da riqueza do país, o que faz com que o fardo que carregam pareça bem menos desproporcional.
 
SOLUÇÕES???
 
A maioria dos norte-americanos, quando consultada, diz que a desigualdade é grande demais e que é necessário fazer algo a respeito – existe apoio esmagador a um aumento no salário mínimo, e a maioria dos cidadãos apoia impostos mais altos para os ricos. Mas pelo menos até agora, enfrentar a desigualdade extrema não se provou uma causa capaz de vencer eleições.
 
Talvez isso continuasse a ser verdade mesmo que os norte-americanos estivessem informados sobre os fatos quanto à nossa nova Era Dourada. Mas ninguém pode ter certeza. O balanço político atual repousa sobre um leito de ignorância, e sobre o fato de que o público não faz ideia alguma de como nossa sociedade realmente é.

02 de outubro de 2014
Paul Krugman
Folha

LICENÇA PARA ENGANAR

Fica, pois, assentado que campanha é assim mesmo, um vale-tudo emocional, sem relação com os fatos e com a lógica

Dá para compreender: eleição tem muito de emoção, de modo que as campanhas, dominantemente de rádio e TV, precisam apelar para o sentimento dos eleitores. Mas vale enganar, especialmente, as pessoas mais desinformadas?

Pessoal que trabalha com Dilma tem dito que muitas afirmações feitas pela presidente, como a que os banqueiros querem dominar o Banco Central para tirar a comida do povo, são “coisa de campanha”. Reparem: o pessoal faz essa ressalva para os eleitores mais informados, líderes de setores, formadores de opinião ou, para usar a linguagem de Lula, a elite rica.

Supondo que vale a ressalva, fica assim, portanto: a campanha tem umas mentirinhas para pegar o voto daquela turma que, vocês sabem, não é muito esperta; mas no governo será diferente, mais razoável e menos emocional.

Se for isso, a conclusão é inevitável: campanha é uma licença para mentir; e não se trata “apenas de propaganda”, mas de propaganda enganosa.

Muita gente diz que nos Estados Unidos é pior. Não é. Sobram lá os ataques pessoais, assim entendidos como a crítica feita diretamente à pessoa do candidato, não tanto a suas posições. Por exemplo: dizer que o adversário é incompetente, falso e sem moral.

Acontece. Cada campanha assume os riscos desses ataques. Sim, riscos, porque muitas vezes produzem efeito contrário. De todo modo, os candidatos não têm como escapar de posições definidas sobre os grandes temas nacionais e internacionais. Trata-se de uma cobrança do ambiente político.

Considerem os debates pela televisão, aliás, uma invenção da democracia americana. As regras são mínimas, em geral, selecionando apenas o assunto central, por exemplo, diplomacia ou economia. Os mediadores, jornalistas, têm ampla liberdade para perguntar e reperguntar, para gastar tanto tempo quando considerem necessário para esclarecer uma posição.

Aqui, por exigência dos candidatos, nisto apoiados pela legislação eleitoral, não por acaso feita pelos próprios políticos, as regras são colocadas de modo a criar menos riscos para os participantes. Falando francamente: são regras para permitir que os candidatos se escondam nas generalidades e não sejam cobrados por isso.

Fica, pois, assentado que campanha é assim mesmo, um vale-tudo emocional, sem relação com os fatos e com a lógica, e, sobretudo, não constitui um compromisso de governo. Eis uma ideia generalizada por aqui.

Trata-se de um dano para a democracia. Primeiro, porque coisas de campanha acabam sendo coisas de governo. O candidato passa o tempo todo fugindo de temas como reforma da Previdência, da legislação trabalhista ou ineficiência do serviço público — e não terá como introduzi-los no governo, mesmo porque logo haverá outra eleição.

Segundo, essas campanhas não formam opinião geral ou consensos ou mesmo maiorias sobre políticas de governo. Surgiu assim uma geração de líderes de campanha, tão vagos e tão indefinidos como suas propagandas de rádio e TV. No governo, esses líderes tratam de empurrar com a barriga, atender clientelas organizadas e não criar caso com ninguém.

Por isso, aliás, acontecem alianças que parecem estranhas, mas que, na verdade, são muito lógicas, pois estão todos na geleia geral.

Claro, não é todo mundo igual. Há níveis e escalas. Marina, por exemplo, foi surpreendentemente clara, para os padrões vigentes, quando propôs a independência do Banco Central ou a flexibilização da legislação trabalhista. Verdade que precisou depois “amenizar” a última proposta, mas foi um avanço.

Pequeno. Por exemplo, ninguém discutiu a sério, em todo o período eleitoral, um tema crucial para a produtividade da economia brasileira: a terceirização do trabalho.

E a campanha da presidente Dilma está no lado oposto, no lado do máximo vale-tudo: banqueiro é ladrão de comida, os ricos querem expulsar os pobres dos aeroportos, a imprensa é contra o povo, as empresas querem matar os seus trabalhadores para ter mais lucro, ter uma colaboradora acionista de banco é grave falta pessoal.

Já ter aliados na cadeia ou perto disso é perseguição política do Judiciário das elites.

Classificar isso de esquerda, progressista ou popular, é até injusto com as doutrinas socialistas ou trabalhistas. Cai mesmo no lado dos bolivarianos. E se é tudo coisa de campanha, é pior ainda: um falso bolivarianismo seria o quê?

 
02 de outubro de 2014
Carlos Alberto Sardenberg, O Globo

A VIDA COMO ELA É (OU NÃO)

Melhor desconfiar da banalidade; talvez ela seja o disfarce que permite ao horror passear entre nós

Durante o fim de semana, assisti a "O Protetor", de Antoine Fuqua, com Denzel Washington.

Imaginava que não fosse nenhuma obra-prima, e de fato não é. Mas, para um público numeroso (do qual faço parte), o que se sabe da história pelo trailer torna o filme irresistível.

Robert McCall vive a rotina um pouco aflitiva de um solitário que trabalha como vendedor num supermercado de materiais de construção e passa as noites lendo clássicos num café 24 horas, ao lado da sua casa. Fora essa pequena excentricidade, ele é o retrato da mesmice: sua vida parece se justificar na simples repetição ordeira.

De repente, McCall encontra uma mocinha muito injustiçada e não consegue (mais) ficar de espectador. Claro, aprendemos nessa ocasião que McCall tem um passado "animado" (e certamente sofrido); é desse passado que ele está se escondendo na rotina de seus dias.

Quando McCall sai de sua tranquila aposentadoria entendemos um sentido e um charme diferentes da famosa frase "você não sabe com quem está falando": a ameaça não se refere apenas (estupidamente) a algum privilégio social, mas é um jeito de dizer que podemos ser bem diferentes do que aparentamos ser.

Lembre-se do Hulk: "Você não quer me ver irritado"¦". E lembre-se de Glenn Ford em "The Fastest Gun Alive", o clássico de Russell Rouse de 1956 (trad. "Gatilho Relâmpago"--mamma mia!), em que um grande pistoleiro se torna comerciante de secos e molhados até que"¦etc.

Nosso pensamento moral é livre como nunca foi: cada um pode decidir o que é, para ele, certo ou errado, sem obedecer necessariamente ao que mandam o figurino, a lei e os costumes da cidade e dos tempos. A liberdade moral moderna entra facilmente em conflito com a administração pública da justiça, que pode ser corrupta, preguiçosa e mesmo injusta.

Esse conflito, que todos vivemos um dia, resolve-se na figura do justiceiro, que age segundo suas convicções morais, sem esperar que a lei instituída saia de sua letargia.

Nota: não pense que o justiceiro seja uma invenção de Hollywood. Ele existe desde os começos da liberdade moral na nossa cultura: Robin Hood é uma lenda do século 13.

Enfim, as vítimas, em geral, estão ou deveriam estar sempre a favor do justiceiro e contra o legalismo um pouco covarde de quem nunca coloca as mãos na massa. Se você estiver em apuros na Síria ou no Iraque de hoje, você vai contar com os bombardeios dos aliados ocidentais e rezar para que nunca o Brasil consiga um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Mas o que mais me seduz em "O Protetor" e narrativas análogas não é tanto o charme do justiceiro quanto o sonho de uma virada, de uma decisão ou de um gesto que, de repente, tornem o cotidiano extraordinário e atribuam à nossa vida comum a intensidade de uma ficção.

No filme, um detalhe narrativo salienta essa possibilidade de transformar o cotidiano numa épica: claro, se o inimigo vem com uma arma, McCall pode virá-la contra ele, mas, em geral, ele só combate com objetos de todos os dias, do saca-rolha à broca elétrica.

O segredo de uma vida que valha a pena consiste em viver nosso cotidiano como uma aventura. Para isso, não é preciso matar mafiosos e salvar donzelas (até porque, às vezes, não há donzelas, embora os mafiosos estejam em toda parte).

Em suma, o cotidiano não exige nosso heroísmo (ou super-heroísmo) para mostrar uma face menos trivial e mais intensa. Só que, cuidado: nem sempre essa outra face é divertida. No fim de semana, também assisti a "Miss Violence", de Alexandros Avranas, que é uma obra-prima, imperdível (atenção: não é para crianças, e não é o caso de levar sua filha de 14 anos sob pretexto de que ela é madura).

"Miss Violence" nos leva para o cotidiano de uma família aparentemente muito "normal", mas na qual, desde o começo, um acidente nos sugere que nem tudo o que brilha é ouro. Nenhum spoiler: é preciso que a descoberta do sinistro e do horror seja lenta, gradual.

Só algumas conclusões:

1) O cotidiano aparentemente insosso (o nosso ou o do nosso vizinho) pode se transformar em conto de fadas, mas pode também revelar um romance de horror, escondido ou envergonhado.

2) Melhor desconfiar da banalidade e não perdoá-la por ela ser comum; pois a banalidade é um disfarce que permite ao horror passear entre nós (para entender como, basta escutar ou ler as palavras de Levy Fidelix no último debate da Record).

 
02 de outubro de 2014
Contardo Galligaris, Folha de SP

MOMENTO DE INDECISÃO

Não chega a ser a “onda da razão” esperada pelo senador Aécio Neves, mas uma marola razoável o suficiente para levar o candidato do PSDB de volta à perspectiva de disputa por uma vaga no segundo turno, considerando-se a hipótese mais provável de que a eleição não se decida neste domingo.

Como a presidente Dilma Rousseff continua inabalável em seu patamar de 40% de intenções de votos, quem andou foi o eleitor de oposição que havia caminhado rumo à candidatura de Marina Silva e há duas semanas vem dando de maneira vagarosa passos na direção oposta.

A tendência é nítida, a única dúvida é se haverá tempo para a ultrapassagem. Situação considerada praticamente impossível pelos analistas de pesquisas em meados do mês de setembro, quando o crescimento inicial de Marina se estabilizou, mas ela parecia resistir bem à despudoradamente desleal pancadaria petista.

Não resistiu. Tampouco caiu apenas por força da credulidade popular nas falsificações do marketing da campanha de Dilma ou pelo repentino convencimento do eleitorado nos méritos do candidato Aécio. Submetida ao confronto duro do embate eleitoral na condição de favorita, Marina foi retirada à força do altar em que reinava como figura sagrada.

Não soube – não quis ou não contou com ajuda para tal – como Lula alimentar a construção do mito e submergiu ao encontro com a realidade. Isso ao menos em relação à imagem que o público fazia dela. Uma expectativa alta, artificial até por inatingível, mas era nesse campo da utopia que transitava Marina. Sentimento alimentado pela definição do projeto “sonhático” na eleição de 2010, termo deixado de lado quando assumiu a candidatura.

Tomemos o exemplo da questão da CPMF. Discussão desnecessária, assunto vencido, mas para o eleitor de Marina ela ser flagrada numa afirmação falsa sobre uma votação do passado é falta grave. O eleitor do PT está pouco se lixando para as mentiras do partido. Acostumou-se. O de Marina esperava mais e não deve ter gostado de vê-la cair em tantas contradições quando puxada para o terreno lamacento da vala dos comuns.

Foi levada a ser igualada. Com a desvantagem de ser mais frágil na reação e na resistência ao empuxo.

Elementar. O mínimo que o doleiro Alberto Youssef tem para contar em seu acordo de delação premiada é o número das contas e o nome dos respectivos beneficiados onde eram feitos, aqui e lá fora, os depósitos das propinas dos contratos da Petrobras.

Como informou sua ex-contadora Meire Poza quando esteve na CPI, ele era o “banco” do esquema.

Quanto a Paulo Roberto Costa, preso desde junho, a autorização para que responda os processos em prisão domiciliar evidencia que, ao juízo do Ministério Público e da Justiça, os cem depoimentos prestados no acordo firmado por ele contêm provas consistentes para desvendar as autorias e a materialidade (provas) dos crimes cometidos na estatal.

Com a homologação do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, já não é possível o governo dizer que as traficâncias são apenas produtos de material de imprensa desprovido de fé jurídica.

Revanche. Por enquanto não se pode dizer que a atitude do presidente da OAB-DF de negar a renovação da licença de Joaquim Barbosa para advogar seja corporativista porque, a despeito da alegação de que o ex-ministro tratou mal advogados, parece um ato de tolice à deriva.

Caso o conselho da Ordem corrobore o veto ao trabalho nem assim caberá a razão corporativa. Terá sido um gesto obscurantista.

 
02 de outubro de 2014
Dora Kramer, O Estadão

OS ERROS DE MARINA

SÃO PAULO - Mesmo que estanque a sangria nas pesquisas e garanta a ida ao segundo turno, Marina Silva deve sair das urnas no domingo menor do que há um mês, quando posava como favorita a vencer a eleição. Alguns aliados já reconhecem que o derretimento foi impulsionado por erros no discurso, no marketing e na formação de palanques.

No afã de se diferenciar dos rivais, a ex-senadora esnobou uma regra básica da política: apoio se recebe. Há limites para as alianças, mas não é razoável que alguém se ache tão virtuoso a ponto de pairar acima dos partidos ou tão forte que se dê ao luxo de recusar adesões gratuitas.

Marina fez isso nos três maiores colégios eleitorais: São Paulo, Minas e Rio. Para ficar no primeiro exemplo, desprezou a estrutura e a infantaria de Geraldo Alckmin (PSDB), prestes a ser reeleito no primeiro turno. Recuou semana passada, ao permitir que seu nome apareça nos santinhos do tucano, mas pode ter sido tarde demais: faltam três dias para a votação e 53% de seus eleitores não sabem que número digitar na urna.

Agora, no horário eleitoral dos deputados paulistas, barganha aparições-relâmpago com nanicos como PHS, PRP e PPL, o último reduto dos seguidores de Orestes Quércia.

A presidenciável também errou ao divulgar um programa de governo sem revisão, o que passou imagem de improviso e forçou uma série de recuos em temas sensíveis como os direitos dos homossexuais.

Depois se enrolou ao dizer que votou a favor da criação da CPMF e insistir no mantra da nova política em uma sigla que abriga Jorge Bornhausen e Heráclito Fortes. As contradições viraram arma da máquina de propaganda do PT, de quem não se deve esperar boa-fé com adversários.

Marina tem muitas qualidades e merece respeito por sua história e pelas bandeiras que defende. Mas precisa fazer uma autocrítica e se curvar um pouco à "realpolitik" caso queira vestir a faixa presidencial --seja agora ou em uma terceira tentativa.

 
02 de outubro de 2014
Bernardo Mello Franco, Folha de SP`

UNIDADE (RE) FORÇADA

Igual a esta eleição, só a de 1989, a primeira direta para a Presidência da República depois da redemocratização. Naquela ocasião, Brizola e Lula disputaram palmo a palmo quem iria para o segundo turno contra Collor de Mello, que venceu o primeiro com 28,52% dos votos.

Lula se classificou por menos de um ponto percentual (exato 0,63), teve 16,08% dos votos, e Brizola, que teve 15,45%, morreu certo de que havia sido roubado. O segundo turno foi dos mais disputados, e Collor venceu Lula por menos de seis pontos percentuais: 49,94% contra 44,23%. Ou, em votos válidos, 53,03% contra 46,97%.

Hoje, mesmo que a presidente Dilma apareça em pesquisas do Datafolha abrindo quase dez pontos sobre Marina ou Aécio, os analistas de pesquisas eleitorais acreditam que dificilmente a diferença para o vencedor será tamanha.

Por paradoxal que pareça, a disputa acirrada entre Marina e Aécio para ver quem chega ao segundo turno pode (re)forçar uma união que estava prevista lá atrás, quando o ex-governador Eduardo Campos ainda era o candidato do PSB.

Qualquer um dos dois que chegue ao segundo turno contra Dilma chegará praticamente empatado com o terceiro colocado, o que quer dizer que precisará do apoio do outro para se tornar competitivo. Segundo o Datafolha, a presidente Dilma está fechando o primeiro turno com a perspectiva de ter menos votos para o segundo do que teve em 2010 contra José Serra: naquela ocasião, teve 56,05% contra 43,95%. Hoje, contra Martina, tem 54% contra 46% e, contra Aécio, 55% contra 45%.

Isso demonstra que seus votos estão consolidados, mas também que não conseguiu ampliar seu eleitorado depois de quatro anos de governo. Ao mesmo tempo, a oposição, que historicamente sempre teve uma média de 40% dos votos, ampliou um pouco seu eleitorado desde 2010. O que está em jogo para a oposição é reduzir a diferença no início do segundo turno em cerca de seis pontos percentuais, enquanto a presidente Dilma tentará ampliar o seu eleitorado para a média histórica petista de 60% de votos válidos no segundo turno.

Até o momento, no entanto, a intenção de votos da presidente tem batido num teto de 40%, enquanto o eleitorado oposicionista já chegou a colocar Marina Silva à frente com dez pontos de vantagem, o que significa que ela tem potencial para recuperar esses votos que já foram seus.

Ou, como preferem os tucanos, que o candidato Aécio Neves já mostrou que ele é quem é capaz de enfrentar o aparelho petista, pois tem experiência e uma máquina partidária mais bem distribuída pelo país, com força em estados importantes como São Paulo e Minas Gerais. O problema de Aécio Neves é que ele foi surpreendido por uma reação do eleitorado mineiro que não estava nos seus planos.

A derrota do tucano Pimenta da Veiga, se não for revertida, será um baque político importante, a ponto de prejudicá-lo na corrida presidencial mesmo que vá para o segundo turno. Segundo as pesquisas, em Minas, ele disputa o primeiro lugar com Dilma, que também é mineira. Em São Paulo, ao contrário do que eu escrevi ontem, segundo o Ibope, ele está em terceiro lugar, embora crescendo de 19% para 22%.

Marina Silva, que já liderou a disputa em São Paulo, hoje está empatada com Dilma em 29%, mas em queda, enquanto a presidente está subindo. O PSDB, que já estava fora do jogo, está se recuperando de maneira imprevisível e já garantiu seu papel de força oposicionista de peso na definição do segundo turno.

Mesmo que Marina resista ao assédio de Aécio, precisará do apoio do PSDB para ter competitividade e, sobretudo, para demonstrar que tem capacidade de montar um acordo partidário pela governabilidade. Caso Aécio Neves a ultrapasse, será difícil para Marina, depois de ter sido massacrada pelo PT, ficar em cima do muro como fez em 2010.
 
02 de outubro de 2014
Merval Pereira, O Globo

ELEIÇÕES E REFORMA TRIBUTÁRIA

A campanha eleitoral continua lamentável. O que prevalece é propaganda, cujo produto final poderia ser, indistintamente, política, iogurte ou sabonete. As mensagens dos candidatos às eleições proporcionais correspondem, tanto quanto em anos anteriores, a uma impressionante coleção de sandices, exibições grotescas e arroubos mitômanos. Se a razão fosse eleitora, votaria em branco.

As eleições majoritárias, salvo em raros momentos, são um festival de fantasias delirantes e difamações. A campanha abomina a discussão de temas complexos, mesmo que sejam cruciais para o futuro do País, preferindo questões de apelo midiático ou demagógico. Nada disso, contudo, é surpreendente, considerado nosso grau de maturidade política.

Reforma tributária é um desses temas complexos. Todos proclamam sua necessidade imediata, mas de forma tão abstrata que o conteúdo se ajusta a qualquer proposta.

Reformar significa mover-se de uma situação vigente até um modelo idealizado, o que desde logo torna evidente que se trata de um bom instrumento para responder à vontade de mudanças dos eleitores. No caso específico da reforma tributária, não se pode perder de vista, entretanto, que há uma enorme diversidade de paradigmas.

Como bandeira política, a reforma tributária ganhou destaque em dois momentos da história recente do País.

No governo João Goulart (setembro de 1961 a março de 1964), após o insucesso do Plano Trienal de Desenvolvimento (1963-1965), optou-se pelo discurso das "reformas de base". Esse mal alinhavado conjunto de ideias incluía a reforma tributária. Em setembro de 1963 foi constituída, no Ministério da Fazenda, uma comissão para cuidar da reforma administrativa da pasta, que findou sendo o surpreendente embrião do audacioso projeto de reforma da tributação do consumo de 1965.

Outro momento foi a Constituinte de 1988. Então, a reforma tributária foi essencialmente um movimento em direção a uma maior descentralização fiscal. A União absteve-se de participar ativamente dos debates, com graves repercussões sobre as finanças do País.

Reforma tributária é tema permanente em todos os países. A despeito das questões envolvidas, é matéria com elevada sensibilidade política. Por conseguinte, sua condução requer estratégia e habilidade negocial.

Sistemas tributários não são softwares de prateleira nem meras construções de especialistas. Decorrem de tensões políticas, e justamente por isso são intrinsecamente imperfeitos.

O imposto sobre valor agregado (IVA), sufragado por mais de 150 países, não vigora nos EUA, porque sua adoção implicaria graves perturbações nas relações federativas.

No Brasil, a desproporcional expansão das contribuições sociais resultou de sucessivos aumentos na partilha do IR e do IPI com Estados e municípios. Essas contribuições, hoje, pouco se assemelham às de outros países, guardando maior proximidade com o conceito de impostos.

Os modelos tributários são dinâmicos, porque sujeitos à obsolescência, em virtude de novas circunstâncias econômicas ou sociais. Daí o entendimento de que reforma tributária é um processo, e não um evento.

Desde a reforma de 1965, todas as emendas constitucionais que cuidaram da matéria tributária concorreram para a perda de qualidade do sistema. Representam, pois, uma perigosa via para implementar mudanças tributárias. Sempre que possível se deve optar por soluções infraconstitucionais.

Não convém acumular propostas, tendo como pretexto uma reforma abrangente. Essa é a forma segura de maximizar as tensões políticas que levam a impasses. O antônimo de abrangente não é pífio. Poderia ser cirúrgico.

Deve-se ter muito cuidado com a tentação de transportar acriticamente modelos de um país para outro, sem ter em conta que eles têm história e, em consequência, reproduzem situações específicas. A experiência internacional pode, no máximo, servir de inspiração para construir soluções locais.

Num próximo artigo, cuidarei de proposições concretas.

 
02 de outubro de 2014
Everardo Maciel, O Estado de S.Paulo

ELEIÇÃO É COISA SÉRIA

Ninguém, em sã consciência, nomeia um bandido para seu procurador privado. Por que o desdém com a outorga pública a mandatários representada pelo voto?

Os indivíduos de uma espécie dispõem de movimentação própria limitada e pouco perceptível, como a rotação da Terra, por exemplo. Tudo o que ocorre entre os indivíduos, até o sexo e a alimentação, é decorrência de imposição anterior das próprias espécies e da movimentação coletiva à qual pertencem. Os pensadores sociais que mais se aproximaram dessa constatação singela, no caso da espécie humana, foram Durkheim, com sua “consciência coletiva”, e Jung, com seu “inconsciente coletivo”. Há uma ordem universal preconcebida e preestabelecida com rigor imutável que torna o indivíduo de qualquer espécie dependente desta, mesmo depois de morto biologicamente. Isto porque a morte de um indivíduo não significa a morte da espécie, como comprovação incontestável dessa hipótese. Já o contrário é inexorável: a extinção de determinada espécie não consegue poupar seus indivíduos, o que é outra prova dessa interdependência entre o monos e a polis, como assinalam os filósofos pré-socráticos em seus preciosos fragmentos. Portanto, as coletividades estão hierarquicamente acima das individualidades. A polis grega é a matriz, até semântica, da ciência política, como é sabido. E nessa matriz, o voto das coletividades em torno de uma liderança candidata (vindo de candura e não de arrogância ou prepotência) é a maneira mais adequada e eficaz da representação individual e coletiva ao mesmo tempo. O mandato que se outorga a um representante, nas democracias, deve ser revestido até de maior solenidade e de maior responsabilidade do que os poderes que se outorgam a alguém, no plano individual, por uma procuração, para representação na vida privada.

Ninguém, em sã consciência, nomeia um bandido, um marginal ou mesmo uma pessoa de caráter duvidoso para ser seu procurador privado. Por que, então, esse desleixo e até esse desdém com a outorga pública a mandatários representada pelo voto? Ao contrário, o mandato público requer até muito maior cautela e consciência que o mandato privado. O mandatário público, ao inverso do privado, lidará com verbas na casa de bilhões e, às vezes, trilhões. Um mandatário privado se restringe, no máximo, a milhares ou a milhões. O mandatário público lida com a saúde, a educação, a segurança, a energia, o transporte, a água, a fiscalização dos alimentos, a infraestrutura, a moeda, o crédito, a preservação do meio ambiente e a qualidade do ar que respiramos, entre tantas outras relevâncias. Um mandatário privado nunca se ocupa de temas tão abrangentes. Muitas vezes o mandato privado se restringe a um único e específico ato.

Quando um mandatário privado lesa seu outorgante, vira procurador infiel e se submete aos rigores da lei. Mas isso é muito raro se comparado aos desmandos e à corrupção generalizada constatados nos mandatários públicos. No Brasil da impunibilidade geradora da impunidade, essa prática já virou quase regra. Dilapida-se a coisa pública, os bens e o dinheiro públicos com a mais completa desfaçatez (e até cinismo) sem qualquer punição imediata. Com as raras e honrosas exceções de praxe. De quem é a culpa primeva? Óbvio que do eleitor. Do outorgante do mandato público irresponsável e leviano. Em duas palavras: nossa culpa.

Desde o fim da ditadura militar, elegemos pelo voto universal direto e secreto (essa nossa procuração pública outorgada na solidão da cabine eleitoral e no sigilo da urna lacrada) apenas quatro mandatários para dirigir nossos destinos. O primeiro deles vinha ungido pela mística da mudança e foi deposto nas ruas por corrupção. Assumiu o vice, que evitou o retrocesso institucional. O segundo, um intelectual de peso internacional, governou por dois mandatos, reformou a economia e consolidou a democracia, mas não conseguiu fazer seu sucessor. O terceiro, um operário sindicalista, também em dois mandatos, promoveu um simulacro de crescimento e de integração social, mas sua equipe central foi parar na cadeia. A quarta, uma técnica da mesma burocracia partidária, sem qualquer experiência como mandatária, entrega um país pior do que encontrou. Estamos às vésperas de eleições gerais no Brasil. Ainda dispomos de leis muito precárias e de instituições muito tíbias e muito frágeis em nossa infante democracia. Cabe a nós, coletivamente, o aperfeiçoamento dessas leis e dessas instituições para reger o político, o social e o econômico. E não há outro caminho senão a representação, o mandato, o voto consciente e ponderado, abstraído do “marketing político”, essa aberração cosmética produzida em estúdios como qualquer personagem novelesca de ficção. Já conseguimos a Lei da Ficha Limpa e isso foi conquistado através de incisiva campanha coletiva. O voto consciente é o desdobramento natural da ficha limpa, nesse sentido. Se cada brasileiro conseguir dois votos conscientes dessas pobres vítimas do fisiologismo corporativista e do paternalismo clientelista e eleitoreiro, certamente teremos uma representação bem melhor do que esta que substituiremos nesse próximo pleito. Por isso, a política é importante e transcendental. E, nela, o voto consciente e cauteloso é, por certo, a maior arma de defesa dos verdadeiros interesses dos indivíduos e da coletividade. Um tema sério para a reflexão autocrítica de cada eleitor.
 
02 de outubro de 2014
Nelson Paes Leme, O Globo