"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 13 de setembro de 2014

O BC E O DIREITO DE CRÍTICA

Um dia depois de ter anunciado que impetraria no Tribunal Regional Federal um recurso contra a decisão da primeira instância da Justiça Federal que negou seguimento à queixa-crime oferecida contra o economista Alexandre Schwartsman por entrevistas concedidas aos jornais Correio Braziliense e Brasil Econômico, entre abril e maio, quando chamou os gestores da política monetária de "incompetentes" e "subservientes", o procurador-geral do Banco Central (BC), Isaac Sidney Menezes Ferreira, voltou atrás. Em nota, limitou-se a afirmar que o Banco Central deu o litígio como encerrado sem, contudo, explicitar os motivos do recuo.

Antigo diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, ex-executivo de importantes instituições financeiras privadas, diretor de uma empresa de consultoria econômica, colunista de dois jornais e com doutorado na Universidade da Califórnia, em Berkeley, Schwartsman há muito tempo vinha classificando como "temerária"a política monetária do governo da presidente Dilma Rousseff e cobrando "mais independência" e "menos subserviência" da atual diretoria do Banco Central com relação ao Palácio do Planalto.

Os argumentos de Schwartsman vão na mesma linha das críticas que têm sido disparadas à política monetária do governo por economistas das mais variadas orientações. Por isso, causou surpresa quando o procurador-geral do Banco Central, autorizado pela diretoria do órgão, impetrou uma queixa-crime contra ele, sob a justificativa de que teria passado do campo da "mera opinião" ou da "crítica técnica" para o campo do insulto. Houve "inequívoco desejo de insultar, denegrir, enxovalhar e ultrajar a honra e a imagem do Banco Central e de seu corpo funcional", afirmou o procurador-geral.

Os argumentos invocados pelo procurador causaram perplexidade entre os economistas que atuam no universo acadêmico e bancário. Eles viram na queixa-crime não apenas uma tentativa de intimidação contra um colega conhecido e respeitado que tem exercido o direito de opinião, mas também uma ameaça velada do Palácio do Planalto a todos os analistas do mercado financeiro, para que suspendessem toda e qualquer crítica ao governo num momento em que a campanha eleitoral estava começando. Pela imprensa, alguns diretores do Banco Central alegaram que já haviam avisado a Schwartsman que o processariam, se não moderasse suas críticas à política monetária. E, numa das atas do órgão, assinada pelo secretário do Conselho Monetário Nacional, Henrique Machado, a diretoria registrou que considerou "ofensivas" e "abusivas" as críticas recebidas.

Pelas redes sociais, professores de economia e analistas do mercado financeiro manifestaram solidariedade a Schwartsman, pondo às claras o equívoco da atitude do Banco Central.

Com a queixa-crime, alguns diretores do órgão esperavam calá-lo. Mas, como a iniciativa não passa de uma insensata afronta à liberdade de expressão, o amplo apoio recebido pelo economista, pela internet, acabou dando ainda mais visibilidade às suas críticas. O caso ganhou repercussão nacional e internacional quando a primeira instância da Justiça Federal rejeitou a queixa-crime, reafirmando que o direito de opinião, além de assegurado pela Constituição, é uma garantia fundamental do regime democrático.

Reincidindo em erro, o Banco Central anunciou, por meio de seu procurador-geral, que recorreria dessa decisão. E foi aí que entraram em cena os mais importantes economistas do País, assinando um contundente abaixo-assinado. Para muitos membros da cúpula do órgão, a situação não poderia ser mais patética, uma vez que muitos dos signatários, além de terem sido seus professores, já foram seus superiores hierárquicos na administração pública e até no Banco Central.

Da cúpula do Banco Central espera-se que saiba conviver com a liberdade de expressão e o direito de crítica, não que ameace, intimide e processe quem não reza por sua cartilha.

CORRUPÇÃO ABALA FINANCIAMENTO PÚBLICO DA POLÍTICA

É uma falácia procurar relacionar o escândalo de desvio de dinheiro da Petrobras a uma pretensa reforma que estatize de vez as finanças das eleições

É do jogo político aproveitar oportunidades para a defesa de propostas programáticas, embora, nessas circunstâncias, costumem ocorrer exageros. Nas jornadas das manifestações de meados do ano passado, o governo, entrincheirado em Brasília, procurou sair daquela situação com algumas propostas de “pactos”, entre eles o da reforma política.

A fração hegemônica no partido tentou emplacar, por meio do Planalto, o projeto golpista da “Constituinte exclusiva”, derivado da cepa bolivariana chavista que contamina parte da América Latina.

Alertado por juristas, políticos da própria base e até ministros do Supremo sobre a ilegalidade da ideia — convoca-se Constituinte apenas em rupturas institucionais —, o governo recuou. Mas o golpe se mantém no programa do PT. E a presidente Dilma reciclou o “pacto” para um “plebiscito” sobre essa reforma. Algo de difícil execução, mas a ver.

O crescimento da história de corrupção na Petrobras patrocinada pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso em Curitiba, e cujos primeiros depoimentos num acordo de delação premiada identificam políticos do PMDB, PT e PP como beneficiários de dinheiro desviado da estatal, começou a ser manipulado por petistas, como as manifestações do ano passado. Mais um exagero.

A esperteza, agora, é usar mais este saque a uma estatal, como tudo leva a crer, para financiar os subterrâneas da política— o anterior ocorreu no Banco do Brasil, no mensalão —, com o objetivo de justificar o afastamento das empresas do financiamento de campanha, e criticar o sistema eleitoral. É o que fez, rápido no gatilho, o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, liderança do PT próxima ao ex-presidente Lula.

O afastamento das pessoas jurídicas do caixa um da política está decidido por maioria de votos em julgamento no Supremo. Falta apenas um último voto, para ser declarado o veredicto.

Petistas, diante de mais esse escândalo, de contornos semelhantes ao mensalão e talvez maior que este, tentam afastar do partido a radioatividade do caso, jogando a culpa no “sistema eleitoral” e em corruptores privados. A tática é conhecida.

Procura-se reforçar a campanha pelo financiamento público integral da política, antessala da pretendida conversão do regime eleitoral para o voto em lista fechada, em que o poder do eleitor é cassado e transferido para caciques dos partidos. Aqueles que montarão as listas. O verdadeiro objetivo desta reforma está escondido atrás do biombo do “fortalecimento dos partidos”.

Ora, a tecnologia de lavagem de dinheiro usada no esquema do ex-diretor Paulo Roberto e de Alberto Youssef, doleiro do esquema, comprova que a decisão do STF e a estatização total das finanças eleitorais apenas incentivarão empresas de volta ao caixa dois da política. Do qual, nem todos os financiadores pessoas jurídicas se afastaram.

É uma falácia procurar relacionar este novo mensalão a uma pretensa reforma política.

LAMA NA PETROBRAS

A NOTA EM RISCO

Agência norte-americana emite sinal de alerta sobre fundamentos econômicos do Brasil; rebaixamento seria inegável retrocesso

A Moody's, agência norte-americana de classificação de risco, emitiu ontem mais um sinal de alerta a respeito dos fundamentos econômicos do Brasil.

No ano passado, havia diminuído a perspectiva da nota do crédito brasileiro de "positiva" para "neutra"; agora, passou-a para "negativa". Se for dado um próximo passo nessa mesma direção, o país terá seu crédito rebaixado de acordo com os critérios da agência.

O Brasil, hoje, está na categoria Baa2, que indica um grau de investimento com risco moderado. Esse patamar é o segundo acima do "especulativo", que implica menor segurança para investidores.

Ainda que estejam desacreditadas desde 2008, quando papéis imobiliários com a nota máxima viraram pó nos EUA, e mesmo considerando conflitos de interesses, já que seus financiadores compram títulos, as agências balizam inúmeros investidores. Alguns, como os fundos de pensão internacionais, por vezes nem podem aplicar em países considerados especulativos.

Não é só por isso, contudo, que o alerta da Moody's deve ser levado em consideração. A agência reuniu três fortes argumentos para justificar sua decisão. O primeiro diz respeito à perda de vigor da economia nacional, que deve permanecer até pelo menos 2015.

Há, além disso, o colapso da confiança empresarial e a retração dos investimentos --estes caíram em nove dos últimos 12 trimestres e estão no mesmo patamar de 2010. Tal comportamento resulta, para a agência, do intervencionismo do governo Dilma Rousseff (PT).

Sem investimento, a capacidade de produção da economia não aumenta, com o que uma expansão do PIB provocará mais inflação.

A falta de crescimento, por sua vez, é um problema para a nota de crédito por comprometer a geração de renda e reduzir a arrecadação. Levando-se em conta os crescentes gastos federais, tem-se um processo de aumento da dívida pública --que, como proporção do PIB, já é cerca de 50% maior que a da média de países de risco similar.

Esse é o terceiro motivo de preocupação da agência. Diante dessa combinação de fatores, os desafios não serão pequenos para o próximo governo, qualquer que seja ele.

Por fim, a Moodys não deixa de destacar pontos fortes da nossa economia: reservas internacionais elevadas, diversificação produtiva e sistema bancário sólido, entre outros. Se não houver alteração no horizonte próximo, entretanto, o corte da nota será inevitável.

A receita para não haver esse retrocesso é conhecida e tem sido repetida por incontáveis analistas brasileiros: restaurar a credibilidade das contas públicas e estabelecer uma gestão competente.

PALPOS DE ARANHA


As duas candidatas que disputam a liderança da corrida presidencial estão em palpos de aranha com os problemas internos de suas campanhas. Marina não tem como explicar a contabilidade do PSB anterior à sua assunção como candidata, mas também não pode lavar as mãos como se nada tivesse com isso.
O avião fantasma que não tem dono e a contabilidade paralela da usina Abreu e Lima em Pernambuco, pela qual o falecido ex-governador Eduardo Campos está incluído na lista dos beneficiários do esquema de corrupção da Petrobras, são temas delicados que ela tenta driblar com alguns constrangimentos óbvios.

Também a presidente Dilma e obrigada a dizer que nunca notou nada de anormal nas contas da Petrobras, passando recibo de má gestora, sem poder assumir as ações que tomou para tentar estancar a sangria na estatal Ela garantiu recentemente que "as sangrias foram contidas",' embora oficialmente não saiba de nada.

A disputa entre o grupo da presidente Graça Foster, nomeada por Dilma para justamente tentar controlar o esquema que dominava a Petrobras, e o do ex-presidente José Gabrielli, responsável pela atuação do ex-diretor Paulo Roberto Costa, é conhecida de todos, mas Dilma não pode admitir que seu padrinho Lula, que chamava de Paulinho o ex-diretor hoje preso, dava apoio político ao velho esquema da Petrobras. Paulinho disse ao juiz Sérgio Moro que teve várias conversas com Lula.

Das duas, porém, Dilma tem culpa formal pela demora das providências, apesar dos constrangimentos partidários que a tolhiam. Ficou com Paulo Roberto Costa como diretor da Petrobras durante um bom tempo, e só protestou contra a compra da refinaria de Pasadena nos EUA depois de anos da negociata feita, tendo inclusive preservado o diretor responsável, Nestor Cerveró. Marina não tem nada a ver com eventuais malfeitos anteriores à sua chegada no PSB.

O 2º turno mais longo dos últimos anos, como definiu o ex-presidente Lula, já está em curso, com a disputa polarizada entre Dilma e Marina, e as novas pesquisas que estão saindo confirmam uma reação da presidente, ao mesmo tempo em que Marina se mantém competitiva, apesar do bombardeio a que está sendo submetida.

A agressão verbal de que foi vítima ontem, com Dilma insinuando que Marina é sustentada por banqueiros, numa referência a Neca Setúbal, herdeira do Itau, e exemplo dessa estratégia petista, confirmando que Dilma é capaz de "fazer o diabo" para se reeleger.

Não se sabe a essa altura como o 2º turno se desenrolará, mas Marina mantém uma vantagem numérica que tende a se reduzir à medida que a saraivada de golpes, alguns abaixo da linha da cintura, sucede-se. Tudo indica que será uma disputa acirrada, com Dilma mobilizando toda a máquina partidária, e a máquina do governo também, para combater Marina, a adversária presumida no 2° turno.

Sua campanha já descartou a possibilidade de Aécio Neves do PSDB recuperar sua posição na corrida presidencial, e tudo que não querem é que ele apoie Marina ainda no 1º turno. Temem que essa ação possa criar um ambiente favorável ao voto útil em Marina, levando-a a uma vitória já no primeiro turno Não parece ser um movimento estratégico inteligente por parte de Aécio, que tem atrás de si um partido que pode ganhar diversos governos estaduais e precisa fazer uma bancada no Congresso que o coloque no jogo partidário. Além do mais, o senador Aécio precisa necessariamente vencer a eleição para o governo de Minas, elegendo seu candidato Pimenta da Veiga, e passando a frente de Dilma e Marina na disputa presidencial.

A campanha de Dilma pretende, com o ataque a Marina sendo a sua tônica, debilitar a adversária para que chegue ao 2º turno enfraquecida. Em parte estão tendo sucesso, pois Marina, atacada sem dó nem piedade tanto por Dilma quanto por Aécio, parou de crescer.

Para Marina, o que importa é chegar ao 2º turno, para reagrupar suas forças numa nova campanha que a colocará em igualdade de condições na propaganda eleitoral com Dilma. Se o voto útil ainda lhe der folego de sobra para aumentar sua votação no primeiro turno, tirando votos do candidato Aécio Neves, melhor ainda.

O PSDB ainda mantém esperanças de alterar o quadro que parece cristalizado, com as revelações dos escândalos da Petrobras e a situação da economia, que a cada dia se deteriora mais, a ponto de a agencia de classificação Moodys ter sinalizado com a redução da nota brasileira. Não é um tema de apelo popular, mas demonstra que a economia brasileira não vai bem. 
13 de setembro de 2014
Merval Pereira, O Globo

POLÍTICA DO COTIDIANO, DO JORNALISTA CLAUDIO HUMERTO

‘Nunca os banqueiros ganharam tanto quanto no seu governo’
Marina Silva (PSB) sobre os lucros siderais dos bancos durante o governo Dilma


MPF QUER ANULAR DELAÇÃO PREMIADA DE YOUSSEF

O Ministério Público Federal requereu à Justiça do Paraná a anulação do acordo de delação premiada que beneficiou o megadoleiro Alberto Youssef em 2004, no caso Banestado. Condenado pelo envolvimento no escândalo, ele admitiu ter movimentado ao exterior mais de US$ 5 bilhões ilegalmente. No acordo, que o livrou da cadeia, Youssef se comprometeu a não cometer mais crimes e a entregar comparsas.

YOUSSEF 2.0

Ao sustentar a anulação do acordo, o MPF lembrou que a Operação Lava Jato constatou que Youssef até expandiu seus “negócios”.

PERPÉTUA?

Os processos suspensos em razão do acordo de delação premiada devem ser retomados. E Youssef terá anos adicionais de cadeia.

DE ONDE PAROU

Em sua petição à Justiça Federal, a procuradora Mônica Dorotea Bora mostrou que não há extinção de punibilidade em razão de prescrição.

CONTAS CC5

O caso do Banestado, em 2002, foi investigado pela Polícia Federal por remessas ilegais de US$30 bilhões ao exterior, por meio de contas CC5.

DELAÇÃO: PMDB JÁ ADMITE A DEMISSÃO DE LOBÃO

Assim como Guido Mantega (Fazenda), que já teve sua demissão confirmada em eventual segundo governo de Dilma, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) também entrou na lista negra da presidenta. No PMDB, lideranças admitem que será difícil o partido brigar para manter Lobão no cargo, caso venham a ser confirmados os rumores de sua participação no esquema bilionário de corrupção na Petrobras.

DELAÇÃO PREMIADA

Lobão é um dos graúdos do PMDB citados pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, em depoimento à Polícia Federal.

TÔ FORA

O ministro Edison Lobão está de férias desde terça (2). O secretário-executivo, Márcio Zimmermann, assumiu interinamente o cargo.

MANTRA

Políticos citados por Paulo Roberto Costa adotaram discurso padrão: “Mais importante do que a acusação são as provas”. Humm...

NITROGLICERINA PURA

Se fizer delação premiada, Carlos Alberto Pereira da Costa, “laranja” oficial do megadoleiro Alberto Youssef, provocaria estragos. Ele é quem assinava a documentação apreendida pela PF com Youssef.

QUEM PAGA A CONTA

Citado na delação premiada do ex-diretor da Petrobras, Paulo Costa, o ex-governador Sérgio Cabral tem dito a aliados que o escândalo “colará muito mais na campanha do PT que na campanha do PMDB no Rio”.

FOME DE CARGOS

A coluna parou de contar em 1.763, mas com quase três mil servidores, em atividades superpostas e desnecessárias, a Embrapa deveria ser o celeiro do mundo: só o setor de arroz e feijão empregam 348 pessoas.

REFORÇO

O ministro Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) foi escalado para fazer a ponte com o movimento sindical e cuidar da campanha de Dilma em São Paulo, onde Alexandre Padilha não decola.

CONVERSA MOLE

Candidato ao governo, Armando Monteiro (PTB-PE) virou alvo de piada ontem nas redes sociais após convocar coletiva para revelar informação bombástica sobre o Cessna. Era só conversa mole.

TIRANDO ATRASO

Atrás de Marina Silva nas pesquisas, Aécio Neves (PSDB) intensificará a campanha no Rio, onde já tem três atos programados nas próximas duas semanas em São Gonçalo, Zona Oeste e Baixada Fluminense.

CONSULTAS

Relator da cassação de Luiz Argôlo (SD-BA), Marcos Rogério (PDT-RO) consulta membros do Conselho de Ética para concluir seu parecer pela cassação do deputado, que deve ser entregue na segunda (15).

NO DIVÃ DO ANALISTA

Tem petista no divã tentando entender a dificuldade para Dilma se reeleger. Em cinco anos, o Programa Minha Casa, Minha Vida contratou a construção de 3,4 milhões e entregou 1,7 milhão moradias. São mais de 6,4 milhões de beneficiados. Quase população do Rio de Janeiro.

CONGRESSO CHAPADO

Os médicos do Congresso prescreveram doses industriais de tranquilizantes desde a delação premiada do ex-diretor da Petrobras.



PODER SEM PUDOR

CHEIRO DE POVO

Ao chegar a Belo Horizonte (MG) na campanha presidencial de 1960, Jânio Quadro recusou as ofertas de hospedagem, inclusive a do aliado Magalhães Pinto. Preferiu um hotel, "para evitar ciúmes e intimidades".

Para garantir a privacidade do candidato, Magalhães conseguiu que a Polícia Militar isolasse o hotel, mas ao deixar o prédio para ir ao comício, Jânio ficou revoltado com o aparato. Desabafou com Magalhães:

- É por isso que a UDN de vocês não ganha eleição. Eu quero meu povo!

Seguiu para o comício nos braços dos eleitores. Magalhães foi a pé.


13 de agosto de 2014
 

O SILÊNCIO DE LULA (Vale a pena reler. E refletir!)

Ao escolher candidatos sem consulta à direção partidária, ele transformou o PT em instrumento de vontade pessoal

Na história republicana brasileira, não houve político mais influente do que Luiz Inácio Lula da Silva. Sua exitosa carreira percorreu o regime militar, passando da distensão à abertura. Esteve presente na Campanha das Diretas. Negou apoio a Tancredo Neves, que sepultou o regime militar, e participou, desde 1989, de todas as campanhas presidenciais.

Quando, no futuro, um pesquisador se debruçar sobre a história política do Brasil dos últimos 40 anos, lá encontrará como participante mais ativo o ex-presidente Lula. E poderá ter a difícil tarefa de explicar as razões desta presença, seu significado histórico e de como o país perdeu lideranças políticas sem conseguir renová-las.

Lula, com seu estilo peculiar de fazer política, por onde passou deixou um rastro de destruição. No sindicalismo acabou sufocando a emergência de autênticas lideranças. Ou elas se submetiam ao seu comando ou seriam destruídas. E este método foi utilizado contra adversários no mundo sindical e também aos que se submeteram ao seu jugo na Central Única dos Trabalhadores.
O objetivo era impedir que florescessem lideranças independentes da sua vontade pessoal. Todos os líderes da CUT acabaram tendo de aceitar seu comando para sobreviver no mundo sindical, receberam prebendas e caminharam para o ocaso. Hoje não há na CUT — e em nenhuma outra central sindical — sindicalista algum com vida própria.

No Partido dos Trabalhadores — e que para os padrões partidários brasileiros já tem uma longa existência —, após três decênios, não há nenhum quadro que possa se transformar em referência para os petistas.
Todos aqueles que se opuseram ao domínio lulista acabaram tendo de sair do partido ou se sujeitaram a meros estafetas.

Lula humilhou diversas lideranças históricas do PT. Quando iniciou o processo de escolher candidatos sem nenhuma consulta à direção partidária, os chamados “postes”, transformou o partido em instrumento da sua vontade pessoal, imperial, absolutista. Não era um meio de renovar lideranças. Não. Era uma estratégia de impedir que outras lideranças pudessem ter vida própria, o que, para ele, era inadmissível.

Os “postes” foram um fracasso administrativo. Como não lembrar Fernando Haddad, o “prefeito suvinil”, aquele que descobriu uma nova forma de solucionar os graves problemas de mobilidade urbana: basta pintar o asfalto que tudo estará magicamente resolvido. Sem talento, disposição para o trabalho e conhecimento da função, o prefeito já é um dos piores da história da cidade, rivalizando em impopularidade com o finado Celso Pitta.

Mas o símbolo maior do fracasso dos “postes” é a presidente Dilma Rousseff. Seu quadriênio presidencial está entre os piores da nossa história. Não deixou marca positiva em nenhum setor. Paralisou o país. Desmoralizou ainda mais a gestão pública com ministros indicados por partidos da base congressual — e aceitos por ela —, muitos deles acusados de graves irregularidades. Não conseguiu dar viabilidade a nenhum programa governamental e desacelerou o crescimento econômico por absoluta incompetência gerencial.

Lula poderia ter reconhecido o erro da indicação de Dilma e lançado à sucessão um novo quadro petista. Mas quem? Qual líder partidário se destacou nos últimos 12 anos? Qual ministro fez uma administração que pudesse servir de referência? Sem Dilma só havia uma opção: ele próprio. Contudo, impedir a presidente de ser novamente candidata seria admitir que a “sua” escolha tinha sido equivocada. E o oráculo de São Bernardo do Campo não erra.

A pobreza política brasileira deu um protagonismo a Lula que ele nunca mereceu. Importantes líderes políticos optaram pela subserviência ou discreta colaboração com ele, sem ter a coragem de enfrentá-lo. Seus aliados receberam generosas compensações. Seus opositores, a maioria deles, buscaram algum tipo de composição, evitando a todo custo o enfrentamento.
Desta forma, foram diluindo as contradições e destruindo o mundo da política.

Na campanha presidencial de 2010, com todos os seus equívocos, 44% dos eleitores sufragaram, no segundo turno, o candidato oposicionista. Havia possibilidade de vencer mas a opção foi pela zona de conforto, trocando o Palácio do Planalto pelo controle de alguns governos estaduais.

Se em 2010 Lula teve um papel central na eleição de Dilma, agora o que assistimos é uma discreta participação, silenciosa, evitando exposição pública, contato com os jornalistas e — principalmente — associar sua figura à da presidente. Espertamente identificou a possibilidade de uma derrota e não deseja ser responsabilizado. Mais ainda: em caso de fracasso, a culpa deve ser atribuída a Dilma e, especialmente, à sua equipe econômica.

Lula já começa a preparar o novo figurino: o do criador que, apesar de todos os esforços, não conseguiu orientar devidamente a criatura, resistente aos seus conselhos.
A derrota de Lula será atribuída a Dilma, que, obedientemente, aceitará a fúria do seu criador. Afinal, se não fosse ele, que papel ela teria na política brasileira?

O PT caminha para a derrota. Mais ainda: caminha para o ocaso. Não conseguirá sobreviver sem estar no aparelho de Estado. Foram 12 anos se locupletando. A derrota petista — e, mais ainda, a derrota de Lula — poderá permitir que o país retome seu rumo. E no futuro os historiadores vão ter muito trabalho para explicar um fato sem paralelo na nossa história: como o Brasil se submeteu durante tantos anos à vontade pessoal de Luiz Inácio Lula da Silva.

13 de setembro de 2014
Marco Antonio Villa é historiador