"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

SUPREMO RECEBE PRIMEIRO PEDIDO DE PROGRESSÃO DE PENA DE MENSALEIRO, PARA PASSAR AO REGIME ABERTO



Por causa do recesso do Supremo, o pedido foi encaminhado ao vice-presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski, responsável por decidir questões urgentes até o dia 1º de agosto. Lamas começou a cumprir pena no dia 15 de novembro do ano passado e já teria direito a passar para o regime aberto no dia 14 de setembro, ao completar dez meses de prisão no semiaberto.

No entanto, os advogados afirmam que ele já cumpriu o prazo, descontando os dias trabalhados fora da prisão, em uma empresa de engenharia, e em cursos à distância.

“Com efeito, resta devidamente demonstrado o preenchimento do requisito objetivo de cumprimento de um sexto da pena no regime semiaberto, eis que com as referidas homologações o apenado totalizará o quantum superior ao necessário [dez meses e dois dias]”, alegou a defesa.

ALBERGADOS

De acordo com o Código Penal, a regime aberto deve ser cumprido em uma Casa do Albergado, para onde os presos devem retornar somente para dormir.

Diante da inexistência do estabelecimento nos sistemas prisionais estaduais, os juízes determinam que o preso fique em casa e cumpra algumas regras, com horário para chegar ao domicílio, não sair da cidade sem autorização da Justiça e manter endereço fixo.

O pedido de progressão de regime foi feito no dia 27 de junho à Vara de Execuções Penais do Distrito Federal e chegou na segunda-feira (14/7) ao STF.

21 de julho de 2014
André Richter
Agência Brasil

O HUMOR DO DUKE


 

Charge Super 16/07

 
21 de julho de 2014

LEI PELÉ ENTREGOU O FUTEBOL AO NEOLIBERALISMO



O neoliberalismo chegou ao futebol através da chamada Lei Zico substituída pela Lei Pelé. Que pregava a profissionalização do futebol, contra o que chamava de ditadura dos clubes.

Multiplicam-se as reclamações de que o dinheiro passou a mandar no futebol, que os clubes estão falidos, que os jogadores já não têm apego aos clubes, mudam às vezes durante o campeonato, passando para o rival, se contratam meninos ainda para jogar no exterior, uma parte deles fica abandonado, submetidos a todo tipo de irregularidade.
Mas o que aconteceu, o que está na raiz de tudo isso?

O futebol – assim como todos os esportes – não é imune às imensas transformações econômicas, sociais e éticas que as nossas sociedades sofrerem e ainda sofrem. No Brasil, o neoliberalismo chegou ao futebol através da chamada Lei Pelé. Que pregava a “profissionalização” do futebol, contra a ditadura dos clubes, que tinham os jogadores atrelados ao clube como se se tratasse de uma relação feudal, pré-capitalista.

Intensificou-se dura campanha contra os “cartolas”, com acusações – todas provavelmente reais -, de corrupção, concentração de poder, arbitrariedades, etc. Porém, de forma similar ao que se fazia na campanha neoliberal contra o Estado, não era para democratizar aos clubes, ou ao Estado, mas para favorecer o mercado.

A profissionalização foi isto. Supostamente para libertar os jogadores do domínio dos clubes, jogou-os nas mãos dos empresários privados. Não por acaso se deu durante a década de 90, em pleno governo FHC, que preconizou todo o tempo a centralidade do mercado, os defeitos do Estado, a necessidade de mercantilizar tudo, de transformar a sociedade em um lugar em que tudo se compra, tudo se vende, tudo é mercadoria.

Os jogadores foram transformados em simples mercadorias, nas mãos dos empresários, que reinam soberanos, assim como o mercado e as grandes empresas fazem no conjunto da sociedade.
Enquanto os clubes, da mesma forma que o Estado, ao invés de serem democratizados, são sucateados. Interessa aos empresários privados que os clubes sejam fracos, estejam falidos, serão mais frágeis ainda diante do poder do seu dinheiro.
Assim como ao chamado mercado interessa que o Estado seja mínimo, seja fraco, para que ceda cada vez mais a seus interesses.

VALE QUEM PAGA MAIS

Os clubes podem ser democratizados – de que o exemplo da democracia corintiana é claro. O jogo dos empresários não é democratizável, nem passível de ser controlado socialmente, vale quem paga mais, que tem mais dinheiro. Assim como o Estado pode ser democratizado – e as políticas de orçamento participativo são o melhor exemplo disso.

Com o reino do mercado, não há Estado, não há democracia, não há interesses coletivos. Triunfa o mercado e seu principio maior – o do dinheiro. Com o reino dos empresários privados, não há clubes, há times, que ocasionalmente são montados para disputar um campeonato, enquanto os empresários não vendem os jogadores. Os campeonatos servem apenas como vitrine para exibir as mercadorias dos empresários.

Em um tempo em que tantas identidades entraram em crise, nem sequer os clubes de futebol conseguem resistir, diante da privatização que a lei Pelé significou, fazendo da camisa dos jogadores um lugar em que mal cabe – quando cabe – o distintivo, de tal forma tudo é comercializado.
Ou se fortalecem os clubes, democratizando-os, destacando sua dimensão publica e não de empresas privadas a serviço da comercialização dos jogadores, ou a quebra generalizada que atinge o mercado capitalista não poupará os clubes. Que irão à falência, diante do enriquecimento ilimitado dos empresários privados.
                                                                                                                                                            (Matéria enviada pelo comentarista Paulo Peres)

21 de julho de 2014
Emir Sader
Carta Maior

MANUTENÇÃO DOS ESTÁDIOS/ARENAS DA COPA É TÃO CARA QUE A "SOLUÇÃO" SERÁ ENTREGA-LOS À INICIATIVA PRIVADA

Terminada a Copa do Mundo, é hora de pensar o que fazer com o principal legado, os 12 luxuosos estádios de futebol, que passaram a ser chamados de arenas. E a verdade é que o Brasil agora tem 12 moderníssimos elefantes brancos cuja manutenção custa uma fortuna e assusta os governantes.

Um bom exemplo é o Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, cuja reforma custou  R$ 1,4 bilhão. Desde a grandiosa reinauguração, em maio de 2013, com a presidente Dilma Rousseff dando o pontapé inicial e tudo o mais, o estádio foi palco de cerca de 50 eventos, entre partidas de futebol (incluindo amistosos da seleção e jogos da Copa) e apresentações musicais. No total, apenas cerca de 1,2 milhão pessoas passaram pela arena do ano passado para cá.
A arrecadação girou em torno de R$ 3,2 milhões, enquanto somente as despesas com água e energia elétrica foram de R$ 1,5 milhão, quase a metade. Somando-se os custos de pagamento de pessoal e manutenção, pode-se concluir que o empreendimento está dando um baita prejuízo e jamais pagará o investimento.

CENÁRIO SOMBRIO

A agenda até o final do ano só aprofunda esse cenário sombrio. O secretário extraordinário da Copa no Distrito Federal, Cláudio Monteiro, tenta fingir empolgação ao anunciar que o estádio deve ser palco de alguns eventos ao longo do segundo semestre. “Teremos pelo menos mais seis jogos da primeira divisão por aqui esse ano. Além disso, em dezembro, devemos realizar a segunda edição do Torneio Internacional de Futebol Feminino, com a seleção brasileira feminina”, disse, acrescentando que duas atrações musicais internacionais se apresentarão na cidade até o fim do ano.

Para se livrar do problema, a solução do governo do Distrito Federal é genial: o estádio Mané Garrincha será entregue à iniciativa privada. Este é o objetivo do governador Agnelo Queiroz (PT). Segundo ele, a discussão está avançada e será retomada agora com o fim da Copa do Mundo. “Estudaremos a realização de uma licitação internacional destinada a transferir a administração do estádio” afirmou.

O secretário Cláudio Monteiro admite que os estudos para a privatização do estádio ocorrem desde a época em que a arena estava sendo construída. Ou seja, o governo já sabia que se tratava de uma obra sem perspectivas.
E Monteiro tenta aparentar otimismo. Segundo ele, existem diversos empresários interessados em assumir a gestão do espaço. “A Copa serviu para valorizar ainda mais o Mané, é uma pena que ainda haja quem pense que se trata de um elefante branco”, desabafou.

Bem, privatizar é preciso, mas vai ser muito difícil que o poder público consiga recuperar pelo menos um centavo do total de R$ 1,4 bilhão consumido pela reforma. E tudo isso já era sabido e esperado, em função dos elefantes brancos abandonados na África do Sul. E la nave va…

21 de julho de 2014
Carlos Newton

O HUMOR DO ALPÍNO




 
21 de julho de 2014

A REJEIÇÃO DAS ESTRUTURAS POLÍTICAS




Esta semana a Câmara dos Deputados aprovou o pedido de urgência para a votação do decreto legislativo que, se votado favoravelmente, anula o decreto executivo responsável pela ampliação de consultas populares para as principais iniciativas do próprio governo. Nos últimos dois meses criou-se desimportante conflito. De um lado, deputados e senadores reivindicando que apenas o Legislativo deve dispor do poder de aprovar atos do Executivo. De outro lado, Dilma e seus ministros, sustentando que ampliar decisões com a participação popular só faz bem à democracia.
 
O diabo é saber quem vai designar e regulamentar os tais conselhos populares capazes de apoiar ou reprovar atos oficiais. É o próprio governo, capaz de escolher entre seus simpatizantes aqueles que julgarão suas decisões. Alguma coisa como um jogo de cartas marcadas.
 
A questão é que a Câmara não sabe quando votará o projeto legislativo já beneficiado com o pedido de urgência para votação. Pode ser em agosto, pode ser depois, tendo em vista que até as eleições de outubro o Congresso trabalhará muito pouco.
Sob o rótulo de esforço concentrado, também chamado de recesso remunerado, os deputados passarão a maior parte do tempo em seus estados, cuidado das próprias reeleições e da eleição de seus caciques. Vale o mesmo para os senadores, ou seja, a revogação do decreto executivo criando facilidades para o governo não tem data para acontecer. Continuará valendo.
 
Enquanto isso os candidatos à presidência da República ensaiam os primeiros passos de suas campanhas, valendo o mesmo para os candidatos a governador e aos Legislativos federal e estaduais.
Até agora, nada sensibilizou o eleitorado para as decisões a ser tomadas em outubro. Nem decretos executivos nem campanhas, muito menos programas, planos e promessas de realizações.

 Parece imensa a distância entre o Brasil formal, dos debates parlamentares e das ações de governo, e o Brasil real, que dá de ombros diante de movimentações que não lhe dizem respeito. No máximo, algumas minorias insatisfeitas vão para a rua, fecham o trânsito, queimam pneus e até depredam patrimônio público e privado, mas também sem maiores reflexos na vida nacional.
 
É dessa apatia que tanto governo quanto políticos e parlamentares deveriam estar cuidando. Porque se durante a ditadura militar o povão ficou anos sem reagir, só se insurgindo no seu final desgastante, agora a situação mudou. A opinião pública, da mais simples à mais sofisticada, cruzou os braços e rejeita as estruturas políticas que deveriam estar dirigindo o processo.
 
DONA MARIQUINHAS E DONA MARICOTA
 
As duas velhinhas lá do subúrbio, viúvas e com os filhos criados, passam o dia se vigiando e empenhadas em tertúlias a respeito de que goiabeira é mais florida e dará melhores frutos, ou sobre que quintal está mais bem cuidado. São vistas no quarteirão como senhoras que devem ser respeitadas pela idade, mas sem qualquer importância para a vida da comunidade.
 
Assim parecem os ex-presidentes Fernando Henrique e Lula. Não se passa uma semana sem que deixem de agredir-se, comparando suas goiabeiras e seus jardins. Artigos, entrevistas e comentários sucedem-se de uma para outra velhinha, mas, convenhamos, apenas para que passe o tempo das duas. A vida sabe ser cruel.

23 de julho de 2014
Carlos Chagas

A REALIDADE DA ECONOMIA NO PLANO DA FANTASIA


 

 
Há notícias suficientes a indicar que a relação com o mundo financeiro centraliza as preocupações da coordenação de campanha do PT – e, mais que isso, as ações de perfis estratégicos empenhados na vitória eleitoral da presidente Dilma Rousseff.
Faz sentido e, por mais dissimulada no discurso,  a angústia com a situação econômica e sua influência no desgaste da candidata,  restrita ao bastidor da campanha, cede espaço à realidade quando se trata de buscar caminhos de resgate da relação com o mercado.

A maior dificuldade do governo, no entanto, continua sendo a de acreditar em uma teoria conspiratória, com origem na mídia e nos agentes empresariais conservadores, como premissa para um diagnóstico que ignora as causas.

“Uma ojeriza ao PT”, como define o experiente Walfrido Mares Guia, ex-ministro das Relações Institucionais do governo Lula, e atual coordenador da campanha da presidente Dilma Rousseff em Minas, ele próprio personagem e testemunha de que o PT viveu com o ex-presidente dias melhores na relação com os agentes econômicos.

Mudou, pois, a economia no governo Dilma, razão exclusiva do distanciamento dos investidores que, na época de seu antecessor, estavam muito próximos do Planalto.  Coube ao próprio Lula afirmar que o mundo empresarial nunca lucrou tanto quanto em sua gestão, desmentindo a tese golpista de seu ex-ministro.

SEGUINDO FHC

Com Antonio Palocci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central, o governo do PT, sob a regência de Lula, garantiu a reeleição mantendo as bases de um modelo implantado pelo antecessor, Fernando Henrique Cardoso, colhendo os frutos do plano de estabilização anterior ao seu primeiro mandato.

Não é demais lembrar que a dupla Meirelles/Palocci  sofreu ininterrupta oposição do partido do ex-presidente, cujas lideranças políticas e técnicas, entre as quais a presidente Dilma Rousseff, considerava o modelo em vigor, “rudimentar”.

É provável que a saída escapista absorvida por Mares Guia esteja vinculada à percepção de que a desconfiança do mundo capitalista com este governo esteja de tal forma consolidada que sua reversão, especialmente em curto prazo, não deva ser uma perspectiva concreta.

É difícil sustentar com tese tão superficial, como a “ojeriza ao PT”, o comportamento de agentes econômicos, cujo perfil se caracteriza pelo pragmatismo próprio do capitalismo.

QUANDO TUDO IA BEM...

Esses mesmos agentes estavam satisfeitos antes quando o mesmo PT estava no governo, porque a economia ia bem e o Planalto emitia sinais claros de apoio à sua área econômica, isolando sua oposição interna.

A presidente Dilma Rousseff interrompeu esse ciclo, menos para ceder ao PT, como Lula recusara, e mais por comandar a economia a partir de suas próprias convicções, como quem coloca acima da realidade a obsessão de provar que está certa.

Nesse contexto, o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central se tornam peças secundárias, submetidas ao pensamento presidencial, que centraliza as decisões e restringe o espaço do debate entre governo e mercado, subtraindo-lhes o oxigênio essencial. A presidente é solitariamente a ministra da economia de seu governo.

Por isso, mudanças na equipe econômica, sempre uma sinalização ao mercado, não surtiria qualquer efeito no cenário atual. Para mudar a economia, que vai de mal a pior, raciocina o investidor, só mudando o governo, o que explica a alta nas bolsas a cada pesquisa negativa para a presidente da República.

Ajuda a consolidar esse raciocínio do mundo dos negócios, a postura inflexível da presidente, o que levou a comparações de ocasião (válidas, diga-se) com o comportamento do técnico da seleção brasileira, espanada da Copa em seu país, pela insistência em uma gestão por todos criticada.

NENHUM SINAL

Dilma não emitiu qualquer sinal de mudança na gestão econômica que justificasse um crédito do mercado a um novo mandato. Ao contrário, para sustentar um debate acadêmico, mantém o discurso que torna excludentes desenvolvimento e inflação e acena, assim, com mais do mesmo em um eventual segundo mandato.

Durante boa parte do tempo, com o índice de aprovação ainda positivo, apostou no agravamento dessa queda de braço, mesmo quando os resultados se mostravam gradualmente piores. A maquiagem dos números, a contabilidade criativa e o discurso da inclusão social foram dados como paliativos seguros para que se chegasse a outubro sem que a percepção da inflação alcançasse o contribuinte.

Essa postura restringiu a campanha oficial, mais uma vez, a um exercício comparativo entre o período do PT no poder e o do PSDB, estratégia sem a eficácia de antes, até pelo tempo em que o partido está no governo: uma década, suficiente para que a comparação seja feita com a gestão anterior, também sua.

Melhor seria a presidente dizer claramente o que fará com a economia, se reeleita.  Não só para o mercado, mero reflexo das decisões do governo, mas também para o contribuinte, vítima direta de seus equívocos. Ou, como o técnico brasileiro, manter sigilo sobre o jogo, para confundir o adversário, e acabar surpreendido pela realidade.

21 de julho de 2014
João Bosco
Estadão

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE




 
21 de julho de 2014

NAS PESQUISAS E NAS ESTATÍSTICAS, O MAIOR PROBLEMA SÃO AS PIROTECNIAS...




A Estatística não é mentira vestida de algarismos. Este tipo de afirmação apenas contribui para desmerecer a aplicação séria de métodos estatísticos em geral.
O que existe é o mau uso das estatísticas, e não canso de dizer isso a meus alunos de graduação e pós-graduação nos últimos 20 anos: conclusões “científicas” baseadas em dados cuja origem é questionável, pesquisas de opinião eleitoral que por absoluto desprezo às suposições de inferência estatística (em nome de uma pretensa “praticidade”) não podem garantir os resultados, mudanças nas escalas dos gráficos apresentados para salientar ou esconder tendências, apresentação de percentuais sem a referência (ou apenas percentuais sem números absolutos, ou apenas números absolutos sem percentuais), entre várias outras “piroctenias”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGO professor Marcelo Menezes Reis é Chefe do Departamento de Informática e Estatística da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem toda razão ao defender a estatística como ciência. E as “pirotecnias” que ele cita têm ajudado muito candidato a vencer eleição. (C.N.)

21 de julho de 2014
Marcelo Menezes Reis

CPI MISTA DA PETROBRAS ENFIM APROVA QUEBRA DE SIGILO DO DOLEIRO E DE EX-DIRETOR DA ESTATAL, MAS ENTRA EM RECESSO E NÃO APURARÁ MAIS NADA



 
A CPI mista da Petrobrás aprovou na tarde desta quarta-feira, 16, uma bateria de requerimentos que inclui a quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico do doleiro Alberto Yousseff e do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. A aprovação foi conseguida por um acordo entre líderes do governo e da oposição que participam da CPI.
O entendimento, no entanto, não incluiu o requerimento de quebras de sigilo de grandes empreiteiras relacionadas aos escândalos da Petrobrás e potenciais financiadores de campanha, como a Queiroz Galvão, Odebrecht, OAS, Mendes Júnior e Galvão Engenharia.
O doleiro e o ex-diretor da estatal estão presos por envolvimento nas investigações da Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal.
A sessão desta quarta da CPI mista foi a última antes do início do recesso branco, que deve abranger as duas próximas semanas.

ESVAZIAMENTO DA CPI

Conforme publicado pelo Estado, alguns congressistas da base aliada e da oposição avaliam que, no segundo semestre, não será possível aprovar mais nenhum requerimento da CPI porque os políticos estarão envolvidos em suas campanhas e a comissão dificilmente terá quórum para votação. Segundo o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), a investigação sobre a Petrobrás na CPI deve morrer nesta sexta-feira, 18.

Antes do início da sessão desta tarde, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), convocou os líderes partidários para uma reunião a fim de votar em bloco dezenas de requerimentos apresentados. Em votação simbólica, foram aprovados 55 requerimentos, entre eles a da convocação de duas filhas de Paulo Roberto Costa, Shanni Azevedo Costa e Arianna Azevedo Costa.

“Nós demos o primeiro passo”, afirmou o líder do Solidariedade da Câmara, Fernando Franceschini (PR), após a sessão da CPI. O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), disse que espera receber os dados das investigações em até 15 dias e que os técnicos da CPI farão análise das apurações já feitas.

Outro bloco de 28 requerimentos que envolviam quebra de sigilo foram votadas nominalmente, para evitar, segundo o presidente da CPI, contestações judiciais.

21 de julho de 2014
Ricardo Brito e Fábio Brandt
O Estado de S. Paulo

O JOGO DA VIDA

  


Jogo é jogado, e lambari é pescado… Quem não sabe perder não sabe ganhar. Ganhar e perder são faces de uma mesma moeda. Felipão ganhou no Japão e perdeu no Mineirão, e quem não arrisca não petisca. Técnico não ganha nem perde jogo sozinho, depende dos jogadores, de suas qualidades, da sorte e, às vezes, até do momento político, como é o caso de agora e foi em 1970, quando os pensionistas de hoje queriam transformar nosso país em uma República Socialista Soviética.

Aí, vem a história de João Saldanha, jornalista comunista e um dos diretores do Botafogo que foi indicado pela ex-CBD para técnico, que logo convocou as suas 22 feras. João era um cara de opinião e rusguento que só ele. Eu gostava de suas histórias, teimoso que só jegue de chapada.

Logo no começo dos treinamentos, inventou ou revelou que Pelé estava quase cego de miopia. Foi um Deus nos acuda. Depois, que Tostão não podia jogar com Pelé, ou um, ou outro. E foi criando um clima que só podia dar no que deu.

Foi dispensado e convocado o Zagallo, que, além de manter a convocação de todos e mais alguns, inclusive Dario, passou a ser, para a oposição, pau mandado do presidente Médici. Quem convocou Dario, o maior artilheiro do país na época, foi Zagallo. É com essas intrigas que já já aparecerão os fuxicos dessa tal “Copa das Copas”, um negócio tão ridículo quanto o próprio governo da “presidenta”.

ROBBEN, O MELHOR

Eu, como todo brasileiro, sei tudo sobre futebol. Acho, por exemplo, que Messi é, atualmente, o maior jogador do mundo, como foram Pelé e Garrincha nos seus tempos, mas que o melhor jogador dessa Copa foi disparado o holandês Robben, e que o time do Brasil foi o pior que já vi jogar, sem dúvida. Nada de pessoal quanto a qualquer jogador, mas tudo resultado do conjunto da obra, do momento político, que teve suas culminâncias quando o Maracanã em peso ofereceu Caracu para a terrorista presidente.

O ex-Luiz sabia que a bebida seria Caracu, e como ele gosta é da branquinha, lá não apareceu. Aliás, por onde andas tu, oh guru maldito, tens medo de vaias? Sumiste, no vendaval da Copa que inventaste? Então, saibas que a festa acabou, que a ponte caiu, que o panorama está sendo visto da ponte, que a hora é de cobranças, que a vaca está indo para o brejo e que as visitas já se foram. Apareça quando puderes, já que teu Caracu está guardado, e a Fifa já devolveu o país a seu legítimo dono.

Perdemos o jogo que podíamos perder. Temos que ganhar é o jogo da nossa vida com o Brasil, em 5 de outubro próximo, apesar de eu não concordar com a escalação do time. O goleiro atual tem falha nos dedos da mão e olho gordo, e muita gente em Brasília, além de mão grande, aprendeu com um jogador uruguaio a morder os outros. Assim, a maioria do time é de bocudos.
E, em assim sendo, que na alma daqueles que sabem que futebol é um perde-ganha, fique a certeza de que no dia 5 de outubro o Brasil ganhará de goleada da pelegada, e Deus seja louvado.

(transcrito de O Tempo)

21 de julho de 2014
Sylo Costa

CHINA E ÍNDIA BENEFICIADAS NO RATEIO PARA CRIAR O BANCO DOS BRICS


 


A propósito da recente criação do banco CRA – banco dos países componentes do BRICS, faço um comentário.
Por mero cálculo aritmético verifica-se que o rateio do investimento dos cinco países se baseou na média de três índices: população, PIB, renda per capita. O aporte de cada um foi: China, 41; Índia, 18; Brasil, 18; Rússia, 18; África do Sul, 5 (bilhões de dolares).

Ocorre que o terceiro índice (renda per capita) teria de ser descartado por dissimular uma falácia. Como ele é a relação entre PIB e população – que já foram devidamente computados nos dois primeiros – a sua consideração é uma redundância que se traduz no notório “dar com uma mão e tirar com a outra”.

Ou seja, neste último indicador a população entra como denominador de uma fração, o que tem o poder de diminuir sensivelmente o correto aporte dos países mais populosos, a China e a Índia, justamente os gigantescos países asiáticos que mais precisam de infraestrutura (para a qual, específicamente, o fundo foi criado). Hermanos vizinhos!

A média legítima seria somente entre a população e o PIB. Ficando assim o rateio: China, 52,4; Índia, 26,3; Brasil, 10,3; Rússia, 9,0; África do Sul, 2,0 (bilhões de dolares).

Como ficou, a China e a Índia deixaram de aportar 11,4 e 8,3 bilhões (22 e 32% de vantagem); Brasil, Rússia e África do Sul, investiram a maior 8, 9 e 3 bilhões (75, 100 e 150% de desvantagem), respectivamente.

Não é a toa que os indianos são os maiores matemáticos do planeta. E adivinhem quem será o primeiro presidente?
Mais uma copa perdida?

21 de julho de 2014
José Ronaldo Saad

COPA FOI BOM NEGÓCIO PARA INGLÊS VER


  
Charge O Tempo 15/07

A Copa foi bom negócio? Sob qual ponto de vista? Cá, de onde a vejo, como cidadão, não me parece que a resposta seja afirmativa. É obvio que não opino e não devo opinar sobre ela na condição de torcedor, que sou, porque considero essa posição imprópria como ponto de observação para analisar empreendimento tão vultoso e oneroso.
Como torcedor, talvez fosse arrastado para a lógica de Ronaldo, segundo quem “não se faz Copa do Mundo com hospital”.
Nem posso assumir como meus os pontos de vista da FIFA, dos jogadores, dos patrocinadores, ou seja, da rentável cadeia produtiva do espetáculo futebolístico. Vista por eles, a Copa é algo tão extraordinário quanto deveria ser porque, afinal, trata-se de empreendimento padrão FIFA.

Mas não é esse o modo correto, como cidadão brasileiro, de avaliar o evento. Os visitantes foram embora. Nos gramados, mescladas com suor e sangue, secaram todas as lágrimas de alegria e de tristeza.
É hora de olhar meu país e me lembrar das cidades que o príncipe Potemkin construiu para despertar o interesse de Catarina II pela região da Crimeia, onde ele queria implantar um projeto de colonização.
Consta que a rainha o acompanhou nessa longa viagem por motivos que não eram propriamente de Estado. E consta que eram todas de fachada as cidades salpicadas pelo príncipe ao longo do caminho por onde os dois arrulhantes pombinhos haveriam de passar.
Eram para inglês ver, como dizemos por aqui.

Será inevitável pensar assim depois de ter visto nossas capitais tão bem guarnecidas, nosso noticiário policial tão sossegado, nosso trânsito tão fluido nos dias de jogos. E é nisso que penso hoje ao observar multidões carregando nos rostos as cores da pátria. Como não se vê em Sete de Setembro algum.

Estaremos, meados de julho, em situação melhor do que estávamos em meados de junho? Não parece crível, depois de tanto empréstimo tomado e de tanto gasto feito para “inglês ver”. Levarão em conta, as avaliações oficiais, as consequências no PIB nacional das horas e dos dias não trabalhados em todo o país? Pois é.

Para que não digam que só vi problemas, a Copa deixa um legado político significativo. A turma do “Não vai ter copa”, aqueles aprendizes de terrorista, arrogantes, perniciosos, que se mediam pelos estragos que faziam, doravante terão que conviver com a irrecusável constatação de sua insignificância e da rejeição que o mundo civilizado nacional lhes explicitou. Também esses brutamontes, grotescos e supérfluos, foram só para inglês ver.

21 de julho de 2014
Percival Puggina

GOVERNO SEGUE EMPURRANDO A ECONOMIA COM A BARRIGA




Dentro do governo, o que se ouve é que, dada a situação atual da economia, com inflação alta no acumulado de 12 meses — o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve se manter acima do limite de tolerância pelo menos até outubro —, o jeito será empurrar com a barriga e apostar nos marqueteiros da presidente Dilma Rousseff para convencer o eleitorado de que tudo vai muito bem.

Do ponto de vista prático, o governo não pode fazer nada. O elevado custo de vida não recomenda ao Banco Central baixar a taxa básica de juros (Selic), que está em 11% ao ano, e, na área fiscal, as agências de classificação de risco Standard & Poor’s e Moody’s estão ávidas por verem o superavit primário deste ano. Se a meta de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) não for cumprida, o rebaixamento do país será inevitável.

O governo ainda está contando com a força do crédito para segurar o consumo das famílias até o fim do ano e, assim, evitar um vexame do Produto Interno Bruto (PIB), mas são remotas as chances de os empréstimos e financiamentos sustentarem o ritmo da atividade.

JUROS ALTOS DEMAIS

Além de os bancos estarem arredios na hora de fechar operações, temendo o calote, elevaram os juros de uma forma espantosa. Enquanto a taxa básica da economia (Selic) subiu 3,25 pontos desde abril do ano passado, o custo do cheque especial saltou, no mesmo período, 25 pontos. Ou seja, seis vezes mais. Nos financiamentos de automóveis, a alta foi de 9 pontos.

Na visão do sistema financeiro, é mínimo o espaço para as famílias se endividarem. De cada 10 pedidos de empréstimos e financiamentos, no máximo dois estão sendo aprovados, mesmo assim, com garantias seguras de que os pagamentos das prestações serão feitos em dia. Mesmo aqueles que não têm por hábito entrar no cheque especial estão tendo os limites de crédito em conta-corrente reduzidos.

Os bancos justificam que o momento é de ajuste. Como a renda e o emprego já não crescem na velocidade do passado, restringiu-se muito a margem disponível nos salários para a tomada de dívidas. As instituições alegam ainda que são pouquíssimos os novos clientes conquistados pelo sistema nos últimos meses. Então, não há como expandir o crédito, como quer o governo.

SEM DEMANDA

“De que adianta termos linhas para emprestar se não há quem queira se endividar”, diz um executivo do sistema. “Temos percebido, entre os trabalhadores, um temor crescente do desemprego. Muitos chegam às agências assustados com a possibilidade de serem demitidos diante do fraco desempenho da economia. O pior é que a maioria já está com a corda no pescoço”, acrescenta.
Ele diz mais:
“A falta de espaço no orçamento para tomar crédito não se restringe às pessoas físicas. Também entre as empresas, os limites para dívidas estão estourados”.

No entender de técnicos da equipe econômica, há exagero no discurso das instituições financeiras. Com base em informações do Banco Central, eles garantem que o sistema está sadio e com folga para liberar crédito.
A resistência maior está entre as instituições privadas, que, no discurso, dizem estar atuando normalmente, mas, na prática, botaram o pé no freio como há tempos não se via.

ARRUMANDO A CASA

Apesar das críticas ao que chama de má vontade dos bancos, parte do governo reconhece que, após forte expansão, com crescimento anual superior a 20%, o mercado de crédito ao consumo necessitava equilibrar as contas. A arrumação da casa, sobretudo depois das medidas macroprudenciais baixadas pelo BC no fim de 2010, resultou em menor quantidade de recursos disponíveis no sistema. E, provavelmente, fez cair o risco de calotes em série.

21 de julho de 2014
Vicente Nunes
Correio Braziliense

BRASIL NÃO SE INTERESSOU EM SEDIAR O BANCO DOS BRICS, MAS TODOS OS OUTROS PAÍSES QUERIAM

 

 
O Banco e o Fundo do Brics, que estão sendo criados na sexta reunião de cúpula do bloco, que termina hoje em Brasília, não serão competidores do Banco Mundial (Bird) nem do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas suplementares a essas entidades, segundo o embaixador José Alfredo Graça Lima, subsecretário de Política do Ministério das Relações Exteriores.
“Os financiamentos serão para projetos sustentáveis e de infraestrutura. O banco suplementa o Bird e o arranjo de contingente de reservas espelha o FMI. Os países do Brics têm propostas de reformas que não podem ser atendidas, especialmente pelo FMI. De certa maneira, a criação do arranjo contingente de reservas e do banco atende a essas necessidades”, disse ele. 

“O foco da participação do Brics está na responsabilidade em uma ordem mais justa, não para ter mais poder. Nos dias de hoje não é importante apenas crescer, é preciso crescer com melhor distribuição da renda, e é disso que estamos justamente tratando na 6ª Cúpula do Brics”, completou.

CAPITAL INICIAL

O capital inicial autorizado do banco será US$ 100 bilhões e o capital subscrito do banco será US$ 50 bilhões, igualmente distribuídos entre os cinco países que integram o Brics. O primeiro escritório regional do banco será na África do Sul, a primeira direção da equipe de governadores será da Rússia e a primeira direção da equipe de diretores será do Brasil.

Depois da assinatura do acordo para sua criação, o banco terá que ser aprovado pelos Parlamentos dos cinco países. O fundo terá capital inicial de US$ 100 bilhões para fazer face a desequilíbrios nos balanços de pagamentos de algum dos países do Brics que venha a enfrentar dificuldades.

A expectativa é que outros países em desenvolvimento também possam tomar empréstimos do banco, mas os critérios para tanto serão definidos em um segundo momento, disse Graça Lima.

No seu entendimento, com esse aporte de recursos e foco no desenvolvimento sustentável, o banco deve influir em uma ordem econômica mais justa. “Isso é parte de uma estratégia não escrita, mas muito segura, dos países do Brics, de procurar influir, mas de maneira construtiva”, comentou.

BRASIL NÃO SEDIARÁ

A presidência do banco, que será rotativa, e a sede serão definidas na cúpula, bem como o conselho de administração e outras questões técnicas. O Brasil foi o único membro que não se candidatou a sediar o banco. As opções eram Xangai (China), Joanesburgo (África do Sul), Moscou (Rússia) e Nova Delhi (Índia). A escolhida foi Xangai e a primeira presidência do órgão será de um representante da Índia.

O primeiro escritório regional do banco será na África do Sul, a primeira direção da equipe de governadores será da Rússia e a primeira direção da equipe de diretores será do Brasil. A presidência do banco será rotativa entre os integrantes do bloco.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGO desinteresse do Brasil em sediar o Banco é inexplicável. Havia interesse em sediá-lo no Rio de Janeiro, mas a delegação brasileira deixou para lá. Foi uma grande bobeada. É muito mais importante ter uma instituição desse porte em nosso país do que sediar uma Copa ou uma Olimpíada. (C.N.)

21 de julho de 2014
Flavia Villela
Agência Brasil 

DINHEIRO SOBRE A MESA

Com R$ 250 bilhões de desonerações, é descabido cogitar mais renúncia fiscal ou aumento de impostos

OS RESULTADOS orçamentários do governo federal, com a arrecadação em queda e os gastos em alta, não recomendam maiores desonerações fiscais, por mais justas e necessárias que elas sejam. Não fossem os problemas do Orçamento federal, uma parada técnica tanto de novos gastos como de desonerações já seria aconselhável para que a sociedade avaliasse a eficácia de tais decisões. Historicamente, o orçamento tem sido sempre deficitário. Deficit são financiados com a emissão de papéis do Tesouro, implicando aumento de sua dívida pública.

E não é só. Um ponto crucial, ao qual não se dá a devida importância, é o estoque de desonerações, também chamadas de incentivos fiscais. Não é possível que uma profunda revisão no inventário desses incentivos, empilhados durante décadas de ajuda oficial a diversos setores para atender diferentes finalidades, não encontre itens que possam ser repensados ou simplesmente eliminados.

O Orçamento federal abriga dezenas de renúncias de arrecadação. Muitas delas certamente já caducaram e, assim, perderam razão de existir. Ou o percentual de renúncia devesse ser revisto, tal como faxina para abrir espaço nos armários de casa. O que há a liberar é dinheiro grosso para outros fins, o suficiente, aliás, para evitar novos aumentos de impostos, como tem se ventilado, ou quiçá até reduzir a carga tributária.

O valor do que a Receita Federal chama de gasto tributário foi estimado na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2014 em enormes R$ 249,7 bilhões, correspondendo a 20,6% da arrecadação prevista para todo o ano --ou 4,76% do Produto Interno Bruto (PIB). Equivale a 85% do Imposto de Renda recolhido por empresas, bancos e pessoas no ano passado. Ou a dez vezes o gasto anual do Bolsa Família, que atende 14,1 milhões de famílias (cerca de 50 milhões de pessoas).

Não se faz, a priori, juízo de valor sobre tais renúncias fiscais. O que se discute é o acúmulo silencioso da miríade de "isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza tributária, financeira e creditícia", como a Receita define tais desonerações.

Com 19 funções orçamentárias listadas entre os benefícios, envolvendo 147 subitens, cobrindo itens variados, de transporte escolar a insumos processados na Zona Franca de Manaus, quase nada se sabe sobre o resultado desses incentivos (vários deles longevos, embora nenhum tenha validade permanente) nem sobre a sua eficácia.

Os benefícios fiscais têm prazo para expirar, mas na prática raramente é assim. O desconto do IPI sobre a venda de carros, por exemplo, existe desde 2009, embora venha sendo renovado sucessivamente. Neste ano, antes de o governo se decidir por mais uma prorrogação, a perda de arrecadação estava estimada pela Receita em R$ 1,3 bilhão. Cabe a dúvida sobre a pertinência desse subsídio, depois de seis anos de desoneração.

A situação do Simples Nacional é diferente. Essa modalidade deve representar uma renúncia tributária de R$ 12,3 bilhões neste ano, 5% do total da arrecadação desonerada. O que cabe indagar é se seria correto tratar como incentivo fiscal o que, de fato, requer um corte permanente da carga tributária sobre as pequenas e médias empresas.

Há casos em que a desoneração é um simples exercício de bom senso tributário; noutros, a persistência do benefício se deve à força de lobbies; e há situações ainda em que o confronto entre o resultado do incentivo fiscal vis-à-vis o custo-oportunidade da receita perdida deve deixar os governantes vexados.

Com carga tributária de 36% do PIB, a maior do mundo para países com renda per capita assemelhada, deficit orçamentário de 4% do PIB e a dificuldade do governo em entregar a sua meta de superavit primário, tudo o que não se espera é que haja dinheiro de impostos deixado sobre a mesa, no mais das vezes, devido à falta de controle sobre o resultado pretendido em cada desoneração.

Se há 5% do PIB distribuídos à revelia do sistema de freios e contrapesos da sociedade, vamos combinar o seguinte: é impróprio cogitarem-se mais subsídios e, sobretudo, novos aumentos de impostos. É imperativa uma revisão urgente dessa montanha de benefícios tributários, porque, em minha opinião, parece evidente que existem muitos recursos a recuperar.

 
23 de julho de 2014
Pedro Luiz Passos, Folha de SP

LULA, BOULOS E AS FANTASIAS BURGUESAS

O MTST resgata certa pureza e certa crueza proudhonianas, distantes do legalismo petista

O MTST, os ditos "trabalhadores sem teto", está descontente com os serviços de telefonia. Na quarta, seus militantes protestaram na Anatel e nas respectivas sedes da TIM, Claro e Oi. Não deu tempo de ir à da Vivo. A turma agencia também essa causa. Um comunicado parece inaugurar a fase holístico-roqueira do socialismo: "Se acham que a gente vai se contentar só com nossa casa, estão enganados. Queremos moradia, transporte público de qualidade, telefonia e internet, e a gente não aceita pagar caro, não". É o "aggiornamento" dos Titãs --"A gente não quer só iPhone..."-- e o embrião de um novo partido.

Guilherme Boulos, um dos comandantes do MTST e colunista desta Folha, traz consigo o charme irresistível da renúncia. Oriundo da classe média-alta, com formação intelectual, prefere dedicar-se à categoria dos "Sem" --até dos "Sem-Sinal" de telefonia. Lembro-me do fascínio que tive ao ler, aos 15 anos, "Minha Vida", a autobiografia de Trótski. Largou as benesses do pai abastado para morar no quintal do jardineiro Shvigovski, o revolucionário "do pomar". Um encanto!

A coisa meio chata para mim é que eu lia o livro com um fio de lâmpada sobre a cabeça, na cozinha de modestíssimos dois cômodos, à beira de um córrego fétido. Não demorei a entender que certa renúncia é um privilégio de classe, não uma superioridade moral. Dispensar a riqueza abre a vereda para a terra da santidade. A trajetória contrária é coisa de um parvenu. Muita gente com dificuldades de acreditar em Deus crê nos profetas.

Não falo de Boulos, mas do que ele representaria: o anunciador de uma nova era, quem sabe uma Idade de Ouro da real igualdade, uma espécie de celebração do encontro de Virgílio com Marx. "Ecce homo." Lula sempre constrangeu as esquerdas com suas grosserias. Em 1979, por exemplo, concedeu uma entrevista à revista "Playboy" (is.gd/g948iR) em que barbarizou.

Confessou, de modo oblíquo, que sua iniciação sexual se dera com animais. Pegava as viuvinhas que iam ao sindicato resolver problemas relacionados à Previdência. Conhecia o sogro de Marisa, sua atual mulher --então viúva--, e pensava: "Ainda vou papar a nora desse velho". Filosofou: "O problema de mulher é você conseguir pegar na mão. Pegou na mão"¦". Admirava pessoas "que estiveram ao lado dos menos favorecidos". Entre os mortos, Tiradentes, Gandhi, Che Guevara, Mao Tse-tung e Hitler ("mesmo errado" --ufa!!!). Entre os então vivos, Khomeini e Fidel Castro. Mas a semente estava lá. Pensou alto: "É preciso fazer alguma coisa para ganhar mais adeptos, não se preocupar com a minoria descontente, mas se importar com a maioria dos contentes". Poderia ser a divisa de um fascismo. Deu no petismo.

Poucos, ou ninguém, teriam sobrevivido àquela entrevista. As circunstâncias históricas --primeiro ano da "ditadura esculhambada", de Figueiredo-- o salvaram. Era a suposta realização de um projeto acalentado por parte da esquerda: o "intelectual orgânico" da classe operária, que não mais distinguia o pensar do fazer. Em 1982, candidato ao governo de São Paulo, foi inquirido por Rogê Ferreira, do PDT: "Você é socialista, comunista ou trabalhista?". Lula mandou ver: "Sou torneiro mecânico". Marilena Chaui aplaudiu como se fosse Spinoza. Ela encontrava, finalmente, a "nervura do real".

Mas Lula também já é um parvenu. Há quem não goste dele não por aquilo que pensa, mas por ter traído supostos emblemas de sua "classe natural". O MTST, atuando como partido, resgata, por intermédio de sua principal liderança, certa pureza e certa crueza proudhonianas, distantes do legalismo petista. Ao movimento, tudo é permitido --violar leis ou furar a fila das pessoas que aguardam, pacificamente, por uma casa. Se preciso, a turma cerca o Poder Legislativo e sobrepõe a vontade de uns poucos milhares aos votos de muitos milhões. É a "democracia direta" reduzindo o grupo decisório para ganhar eficiência, compreendem?

Lula foi a encarnação do delírio das esquerdas à espera do "intelectual orgânico" da classe operária. Mas ele se aburguesou sem nunca ter buscado a altitude das ideias. Boulos, não! Ele nos devolve ao refinado Iluminismo francês. Os seus sem-teto são os "sans-cullotes" das fantasias jacobinas --que são, desde sempre, fantasias... burguesas!

 
23 de julho de 2014
Reinaldo Azevedo, Folha de SP

ÁGUA MORNA

O eleitorado já fez a parte que lhe cabe nessa altura: posicionou-se quanto ao que espera de quem venha a comandar o país nos próximos quatro anos, dizendo que deseja mudanças; um Brasil melhor, portanto.

Emprego, renda, devolução dos impostos na forma de bons serviços, oportunidades, representação política com um mínimo de qualidade, estabilidade nos preços, segurança e a elevação do grau de maturidade no diálogo entre Estado e sociedade.

Os candidatos a presidente da República, contudo, ainda estão devendo uma resposta à altura desses anseios. E que não peçam para cada cidadão ler atentamente os programas de governo registrados na Justiça Eleitoral.

A conquista da emoção e da razão do público se dá no ambiente da interlocução que consigam construir mostrando que estão identificados com os desejos e sabem exatamente como realizá-los. De preferência, pensando em algo que ainda não tenha ocorrido ao eleitor, mas que uma vez dito desperte o inconsciente coletivo.

Isso quer dizer ir além do óbvio, fazer a diferença e ousar com vontade de acertar. Hoje os principais concorrentes parecem todos na defensiva, com muito mais medo de errar.

O governo tentando se equilibrar na sua zona de conforto das realizações passadas e promessas vagas de “fazer mais” e a oposição igualmente genérica, não raro demagógica e temerosa de se confrontar com programas governamentais de resultado inócuo.

Um exemplo? Aécio Neves prometendo reformular o programa Mais Médicos. Segundo ele, vai rever as regras de contratação com o governo cubano. Conversa de mineiro, pois sabe perfeitamente bem que a questão da saúde pública não se resolve com a importação de profissionais.

Podemos citar também a proposta do candidato Eduardo Campos sobre o passe livre para estudantes do transporte público. Isso lá é assunto para pretendente à Presidência de uma República complexa como a do Brasil?

A ideia aí é atrair a juventude. Sacada boa, porém óbvia demais e pequena ante a intenção de quem se propõe a dar um choque de renovação na política.

Esse poderia ser um bom tema para todos eles. Mas nenhum deles se atreve (no sentido original do termo, clarear as trevas) a propor algo de realmente inovador: a mudança do modelo das relações entre Executivo e Legislativo.

Eduardo Campos, em tese, propõe. Na prática, faz todo tipo de aliança na eleição e diz que isso é tática para tentar se eleger. Por que não seria para, se eleito, governar? Sobre a reforma política, nenhum dos três sai do lugar.

Dilma quer plebiscito e financiamento público, ambas as sugestões inexequíveis; Aécio defende um voto distrital que sozinho não faz verão; Campos fala sobre o misto de financiamento público e privado junto com lista fechada e limitação de mandatos legislativos.

O eleitor só fica olhando enquanto nenhum deles dá uma palavra sobre voto obrigatório ou facultativo, porque não lhes interessa a quebra dessa reserva de mercado.

Carochinha. Uma graça a justificativa de suas excelências para a suspensão dos trabalhos legislativos até as eleições: livrar o contribuinte do risco da aprovação de propostas demagógicas que resultem em aumento de gastos públicos.

Quanto a obrigar o contribuinte a pagar-lhes os salários enquanto cuidam das respectivas vidas políticas no lugar de exercer o mandato, os congressistas já não têm restrições.

Ademais, se a preocupação com o populismo é assim tão séria, bastaria que os líderes partidários usassem o mesmo poder que tiveram de suspender as sessões deliberativas para derrubar por votação simbólica as tais propostas demagógicas.

Vitamina. Quanto mais se noticia o afastamento entre a presidente Dilma e o coordenador de internet da campanha, Franklin Martins, mais os dois se reaproximam.

 
23 de julho de 2014
Dora Kramer, O Estadão

QUADRO PREOCUPANTE


Apesar de ter variado para menos na margem de erro e de seus competidores mais próximos não terem saído do lugar, a presidente Dilma tem na pesquisa do Datafolha/TV Globo divulgada ontem um quadro prospectivo preocupante. No mais longo prazo, a redução da diferença que a separa de Aécio Neves, do PSDB, no segundo turno leva a um empate técnico pela primeira vez, com a tendência de queda de Dilma se confirmando, enquanto o candidato tucano cresce.

Também para o candidato do PSB, Eduardo Campos, a diferença num hipotético segundo turno foi reduzida para sete pontos percentuais apenas, de 45% para 38%. Isso quer dizer que, quando a presidente Dilma é confrontada diretamente com seus principais opositores, a possibilidade de que ela perca aumenta a cada pesquisa, embora os dois sejam bem menos conhecidos do que ela.

Há outros dados preocupantes para a candidatura oficial. Ela continua sendo a mais rejeitada de todos os candidatos, com 35% de índice, o dobro da rejeição de Aécio e o triplo da de Campos. Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, a rejeição de Dilma atinge nada menos do que 47%.

A presidente Dilma, no entanto, continua vencendo em praticamente todas as regiões do país, com exceção do Sudeste, onde está em empate técnico com o candidato tucano Aécio Neves. O Nordeste continua sendo sua fortaleza, embora a pesquisa Datafolha tenha detectado uma queda de sua popularidade na região. Ela vence Aécio de 49% a 10%, mas tinha 55% na pesquisa anterior. O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos aparece com apenas 12% na região em que é mais conhecido politicamente.

O que deve estar preocupando a campanha da presidente Dilma é o ânimo do eleitorado, que não está nada otimista. A maioria acha que a inflação e o desemprego vão aumentar, que o poder de compra vai ser reduzido, embora 70% dos entrevistados tenham dito que não temem perder o emprego, e a maioria, embora considere que a perspectiva econômica é ruim para o país, considera que sua vida pessoal vai melhorar ou continuar como está.

A Copa do Mundo não teve nenhuma influência na aprovação dos candidatos, tanto que Aécio, com 20%, e Campos com 8% (tinha 9% no levantamento anterior) mantiveram-se no mesmo lugar e a própria presidente Dilma caiu na margem de erro, de 38% para 36%. Apesar disso, a maioria acha que a presidente Dilma foi a mais beneficiada pela realização do campeonato mundial de futebol, o que pode ser um indício ruim para ela, pois mesmo assim ela perdeu pontos.

Outro índice muito analisado nas pesquisas eleitorais, o que mede a avaliação do eleitor sobre o governo do candidato(a) à reeleição, está, há alguns meses, dentro da margem que indica dificuldade para a eleição do(a) incumbente. Dilma caiu de 35% para 32% entre aqueles que consideram seu governo ótimo ou bom, e a marca de 35% já é o início do ponto negativo nessa avaliação.

Somente os governantes que estão acima de 35% de ótimo ou bom entram na faixa de reeleição mais provável. Nesta mesma época, quando tentaram a reeleição, os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso tinham 38% de ótimo e bom.

Todos esses dados ficam piores quando se sabe que a presidente Dilma é conhecida por 99% dos eleitores, sendo que 53% dizem que a conhecem muito bem . Já o candidato Aécio Neves é conhecido por 81% dos eleitores, mas somente 17% dizem que o conhecem bem . O candidato do PSB, Eduardo Campos, tem ainda mais espaço para crescer: apenas 59% dos eleitores dizem conhecê-lo, mas somente 7% consideram que o conhecem muito bem .

23 de julho de 2014
Merval Pereira, O Globo

TODOS NO MESMO BOTE DE FIBRA ÓTICA

Na Copa das Confederações torcemos para o Taiti. Mesmo quando perdia de 10 a 0, ainda vibrávamos com as raras oportunidades de um gol de honra. O Taiti não é aqui. É um país do surfe de ondas gigantes, com suas águas azuis e a temível Praia de Teahupoo, conhecida como Quebra Crânio. Já o Brasil é, ou era, o país do futebol. Gastamos R$ 40 bilhões para sediar a Copa do Mundo e fomos os únicos a perder de 7 a 1.

A presidente Dilma declarou no Paraná que o Exército usaria, para resgatar as vítimas do temporal, um bote de fibra óptica. No início fiquei em dúvida. Tinha visto na TV um programa sobre como o GPS orienta a agricultura americana, aumentando sua produtividade e traçando com rigor a trajetória ideal dos tratores. Será que haviam inventado um bote de fibra óptica para explorar as riquezas do mar, quem sabe até do pré-sal? Mas o bote de fibra óptica não existe nem será inventado. Ele é, para mim, o sinônimo de uma canoa furada em que todos navegamos no momento.

Dilma também chamou de urubu quem não acreditava nas maravilhas da Copa. Caiu um pequeno viaduto, mas isso não é problema, porque não havia ninguém do governo embaixo dele no instante da queda. Já escrevi sobre ser chamado de urubu pela artilharia eletrônica petista. Urubu é o símbolo da torcida do Flamengo. É o preto da camisa rubro-negra, cores do Íbis, o pior time do mundo, ou da Alemanha, que nos serviu o chocolate da Copa das Copas, portanto, o chocolate dos chocolates.

Não sei o que a presidente tem contra os urubus. Tom Jobim amava-os e discorria longamente sobre a elegância de seu voo, nas mesas do Degrau, no Leblon da sua época. Fez uma linda melodia para traduzir em sons a beleza de seus movimentos. Não creio que seja pela cor, porque esse tipo de preconceito, teoricamente, o PT não tem. Ou porque come bichos mortos, algo que a maioria da humanidade faz. Pode-se dizer em defesa dos seres humanos que não comem um animal cru. Mas isso era antes da chegada dos restaurantes japoneses, de vez que os bifes tártaros eram exclusividade de uma minoria.

Dilma estava rígida na final da Copa. Nem se levantou para aplaudir o gol da Alemanha. E quem não aplaudiu aquele gol de Götze ou não gosta de futebol ou é argentino, pois os hermanos sentiram ali que perdiam o título. Compreendo esse medo, já que estamos no mesmo bote de fibra óptica, na mesma canoa furada. Durante os primeiros dias após os 7 a 1 fiquei com medo de abrir as gavetas e encontrar mais um gol da Alemanha. Se Dilma deixasse sua cadeira, poderiam encontrar mais um gol da Alemanha embaixo dela.

Continuo defendendo o direito ao delírio e, claro, as opiniões. Lula disse na África do Sul que os outros países viriam disputar o segundo lugar, porque a Copa era nossa. Parreira disse que estávamos com a mão na taça. Felipão elogiou o próprio trabalho e o da geração tóis, que se define com um movimento de braços que faz um T, o mesmo com que Dilma posou na internet quando as coisas iam bem. A geração tóis, que se descreve com os braços, na verdade, deu uma banana para os que esperavam, ao menos, a garra dos argelinos.

Livre do furor patriótico, estimulado pelo governo e por grandes empresas envolvidas, é possível agora pensar com calma.

Como encarar com otimismo uma seleção que toma a família como modelo? Nada contra a família, respeito a opinião do herói da torcida, David Luiz: sexo só depois do casamento. Mas a família não é a forma adequada para desenvolver um trabalho desse tipo. Entre crises de choro e rezas, os jogadores se desmanchavam. E os psicólogos diziam que era o peso de tanta expectativa nacional. Somos o único país do mundo onde torcida a favor é vista como um fator negativo.

A torcida foi ótima. Não podia ser a mesma do Taiti, porque levamos o Brasil a sério no quesito futebol. Os inúmeros canais de TV nos puseram, nos últimos anos, em contato com o futebol de quase todo o mundo. Campeonatos espanhol, inglês, alemão. Era possível ver uma evolução maior que a brasileira. Mas isso era uma evidência para os que gostam e acompanham o futebol, embora muitos cronistas se tenham deixado levar pela emoção patriótica.

A cúpula do futebol está apodrecida. Talvez venha agora uma mudança, já que o foco está na análise da catastrófica participação brasileira na Copa. Mas quantas coisas não estão decadentes no Brasil e ainda estão camufladas? A indústria está em decadência e seu movimento para baixo ainda não desperta o interesse nacional. A política está decadente, num nível de putrefação que os franceses definem como faisandé, o qual repugna até meu estômago de urubu.

Somos um povo alegre e comunicativo. Mas isso não supera uma lacuna em nossa educação: um esmagador número de monoglotas. Em 2008 tentei transformar isso num grande tema político. Avançamos muito pouco desde então e não há sinais de termos tomado consciência dessa fragilidade. Seria injusto com o marxismo atribuir a indiferença ao inglês a uma resistência ideológica. Os chineses não pensam assim e tratam de dar passos mais largos.

Sei que é difícil apontar essas lacunas. No Brasil vivemos num mundo tão extraordinário que temos de imitar o célebre urubu de Stanislaw Ponte Preta e voar de costas. Sobrevoar um país onde os jornais diziam que o zagueiro Dante iria ser um trunfo porque, jogando no Bayern, conhece os alemães. E nem uma vivalma para lembrar as fortíssimas evidências de que os alemães podiam também conhecer Dante.

Nos morros do Rio, estimulados por traficantes, alguns moradores chamam os adversários de alemães. Está na hora de nos abrirmos um pouco para algumas qualidades dos alemães.

Podemos ser um país melhor. Antes teremos de perder esse espírito de fodões de que com tóis ninguém pode, vem quente que estou fervendo. Ele favorece os apagões, nas semifinais da Copa ou na noite de núpcias. Foi-se o tempo em que pensávamos que os alemães eram limitados porque eram apenas organizados e bem treinados. São tudo isso e têm talento. É a única combinação que leva à vitória ou, ao menos, a uma derrota honrosa.

 
23 de julho de 2014
Fernando Gabeira, O Estadão

A COR DO RECESSO

Está decidido que, até o fim do primeiro turno das eleições deste ano, Senado e Câmara dos Deputados simplesmente fingirão que trabalham


Tudo bem — ou, melhor dizendo, tudo mal —, a Copa acabou e está na hora de o Brasil voltar ao batente. Na área dos poderes da República, isso significa tocar para frente este país que todos acreditamos ser maravilhoso e promissor; ou seja, ele tem ao mesmo tempo um belo futuro pela frente e não está ainda, digamos assim, inteiramente pronto.

É óbvio e indispensável que a decisão de arregaçar as mangas e mergulhar no tal batente seja visível e, digamos assim, realmente honesta. Assim deve ser — mas, lamentavelmente, não é o que nos contam as notícias de Brasília. Acabamos de ficar sabendo que as duas Casas do Congresso — pelo visto exaustas com os dias de patriótico esforço na torcida pela vitória que não tivemos no gramado — decidiram entrar num tal de recesso branco. A expressão, para quem ainda não sabe, tem lamentável significado: não se trabalha, mas, para efeito público, finge-se que há trabalho.

Talvez fosse mais honesto rotular o recesso branco com outra cor: talvez, chamá-lo de vermelho, que é a cor da vergonha. Está decidido que, até o fim do primeiro turno das eleições deste ano, Senado e Câmara dos Deputados simplesmente fingirão que trabalham. Fica a triste impressão de que os nossos ilustres representantes estão convencidos que este nosso país já está, digamos assim, pronto e descansado.

Só isso justificaria o que foi decidido: nos 80 dias que nos separam das eleições, os senadores trabalharão exaustivos dois, em agosto. Os deputados terão maior sacrifício, com dois dias em agosto e mais dois em setembro. Mas os eleitores não precisam se preocupar com o bem-estar daqueles em quem votaram: seus representantes não perderão um só tostão de seus vencimentos. Para quem não sabe, são R$ 26.700 por mês pelos seus patrióticos esforços.

O tal recesso branco seria aceitável, pelas normas do Legislativo, caso senadores e deputados tivessem votado a indispensável Lei de Diretrizes Orçamentárias do ano que vem. Mas nem isso aconteceu. Em defesa do que foi decidido pelos nossos exaustos parlamentares, o presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros (do PMDB de Alagoas) teve uma admirável explicação: não se trata de recesso branco, mas de “compatibilização entre as atividades do Legislativo e as eleições”. Ele reconheceu que não haverá ordem do dia, mas “sessões de discussão”. Ou seja, uma oportunidade para discursos de eminentes representantes do chamado baixo clero, que não perdem a oportunidade de soltar o verbo para plenários vazios ou, simplesmente, desinteressados.

 
23 de julho de 2014
Luiz Garcia, O Globo