"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

SEU PADRÃO DE VIDA HOJE É MUITO MELHOR DO QUE O DE UM MAGNATA AMERICANO HÁ 100 ANOS

Sim, você é hoje mais rico que um Rockefeller em 1915



Morreu, no dia 20 de março de 2017, o bilionário David Rockefeller. Ele era o último neto vivo do magnata John D. Rockefeller, fundador da Standard Oil. Tinha 101 anos de idade.

Por ocasião de sua morte, a revista The Atlantic fez uma excelente reportagem descrevendo como eram as condições de vida nos EUA em 1915, ano em que David Rockefeller nasceu. Tomando por base o padrão de vida usufruído por uma pessoa de classe média hoje, as condições de vida há 100 anos, mesmo para um magnata, eram sombrias, extenuantes, perigosas e, por que não?, pobres.

(Para você ter uma ideia, em 1924, o filho de 16 anos do então presidente americano Calvin Coolidge faleceu em decorrência de uma bolha infeccionada em seu dedo do pé, machucado este que ele adquiriu ao jogar tênis no jardim da Casa Branca.)

Com isso em mente, eis uma pergunta que eu sempre faço em várias ocasiões, e que sempre gera reações controversas em meus interlocutores: qual seria a quantidade mínima de dinheiro que você exigiria para abrir mão de tudo o que você tem hoje, voltar no tempo e viver a vida de John D. Rockefeller em 1915?

Ou, colocando de outra maneira, se você vivesse em 1915 com um bilhão de dólares em sua conta bancária, você acha que teria o mesmo conforto e o mesmo padrão de vida que você tem hoje, com sua renda atual? Você acha que esta volumosa quantia de dinheiro seria capaz de garantir a você, em 1915, bens e serviços de alta qualidade, de modo a fazer com que você seja indiferente entre manter sua vida hoje, em 2017, ou viver como um Rockefeller em 1915?

Pense bem. Sem pressa. E com cuidado.

Comecemos pelo lado mais ameno e menos importante

Se você fosse um bilionário americano em 1915, você poderia, obviamente, adquirir imóveis de primeira. Você poderia ter um apartamente na Quinta Avenida, em Nova York, ou uma casa de praia em frente ao Oceano Pacífico, em Los Angeles, ou mesmo ter a sua própria ilha tropical em qualquer lugar do mundo (ou ter os três ao mesmo tempo).

Mas, quando você fosse viajar de Manhattan para a Califórnia, você levaria dias (em seu trem particular) e teria de atravessar vários terrenos inóspitos, sem muita opção de lugar para pernoite e sem a certeza de que haverá restaurantes no caminho (ou seja, você teria de separar quilos de comida apenas para a sua viagem de dias). E, se essa viagem fosse feita durante os escaldantes meses de verão, você não teria ar condicionado em seu vagão. Muito menos teria qualquer opção de entretenimento a bordo.

E, embora você talvez tivesse ar condicionado em sua casa em Nova York, vários dos locais aos quais você iria — escritórios, restaurantes, cinema, teatro — não teriam este luxo. E, no rigoroso inverno, praticamente não haveria calefação.

Viajar para a Europa levaria, provavelmente, mais de uma semana. Para ir além da Europa, várias semanas.

Quer enviar com urgência uma encomenda de Nova York para Los Angeles em apenas um dia? Lamento. Impossível.

Você também não poderia nem ouvir rádio (a primeira transmissão de rádio só ocorreu em 1920) e nem ver televisão (só a partir de 1935). Você, no entanto, poderia ter uma vitrola de última geração. (Não era estéreo, porém. E creio que mesmo os atuais adoradores do vinil iriam preferir ouvir música de um CD à musica tocada por uma vitrola de 1915). Obviamente, você não poderia baixar na internet as músicas que quisesse.

Também não havia muitas opções de filmes aos quais assistir. Você poderia, de fato, construir sua própria sala de cinema em sua mansão, mas não haveria muito material a ser visto. E, caso conseguisse que algum estúdio de Hollywood vendesse para você alguma película, esta seria muda e em preto e branco. (Hoje, você pode baixar gratuitamente vários filmes pela internet, ou mesmo pagar Netflix ou Amazon Prime para ter acesso a outros filmes e séries).

Você teria um telefone, mas ele seria fixado à parede. (Não, você não teria nem Skype e nem chamadas via WhatsApp).

Você também teria uma limusine de luxo (ou o equivalente da época), mas as chances de ela quebrar durante um passeio pela cidade (com motorista) seriam muito maiores que as chances de o seu carro atual enguiçar quando você está indo para a academia de ginástica, para o cinema, ou para a aula de ioga. E, com a limusine enguiçada, você pacientemente teria de esperar, no banco traseiro, o seu chofer tentar consertar a máquina de improviso, sem poder telefonar ou mandar mensagem para ninguém avisando que irá se atrasar para um eventual compromisso.

Mesmo quando estivesse em sua residência em Manhattan, se você fosse acometido de um súbito desejo por uma culinária mais específica, como comida tailandesa, vietnamita ou do Oriente Médio, você estaria sem sorte: é improvável que seu chef tivesse a mais mínima ideia de como fazer isso. Nem mesmo havia restaurantes com essas opções em Nova York.

E, ainda que você tivesse o dinheiro para, no inverno de 1915, abastecer sua despensa em Nova York com frutas, mesmo para um bilionário como você tal extravagância não valeria a pena. A logística necessária para fazer com que as frutas chegassem a Nova York ainda frescas seria cara demais.

Sua conexão wi-fi seria dolorosamente lenta — opa, espera: não existia isso. Mas, pouco importa, pois você nem sequer teria um computador (ou um smartphone ou um tablet) e uma internet.

Você, de fato, poderia comprar todos os livros, enciclopédias e jornais científicos da época, bem como todas as revistas semanárias e jornais diários. (Haveria muita dificuldade para guardar todos eles, mas isso é o de menos.) No entanto, o seu acesso à informação, mesmo você sendo um bilionário, dificilmente seria maior e melhor que o acesso que qualquer cidadão munido de um smartphone e uma conexão à internet possui hoje.

Para começar, você não teria acesso instantâneo às notícias. Estas chegariam a você, na melhor das hipóteses, com um dia de atraso. Se fosse um evento ocorrido na Europa, a informação poderia vir com mais de uma semana de atraso. Adicionalmente, você não teria nada sob demanda. (Hoje, ao simples deslizar de um dedo, você tem acesso a toda e qualquer informação que queira, bem como a milhares de livros e filmes que podem ser lidos e vistos a qualquer momento. Pode também assistir, gratuitamente, a vários telejornais.)

Você poderia comprar o mais chique e refinado relógio suíço da época, mas mesmo ele não conseguiria manter as horas de maneira tão acurada como faz qualquer relógio barato de hoje (isso sem nem mencionar o relógio do seu smartphone, que está sempre atualizado).

Coisas mais sérias e graves

Mesmo a melhor e mais avançada medicina da época era horrível para os padrões de hoje: tudo era muito mais doloroso e muito menos eficaz (lembre-se do jovem filho do presidente Coolidge). Antibióticos simplesmente não estavam disponíveis. Disfunção erétil? Distúrbio bipolar? Aprenda a viver com isso. Essa era a única opção.

A mulher tinha muito mais chances de morrer durante o trabalho de parto. E o bebê, muito mais chances de não sobreviver após o parto. Mesmo tendo sobrevivido ao parto, a criança tinha muito menos chances de sobreviver à infância, uma vez que a cura para as várias doenças infantis ainda não havia sido descoberta. Paralisia infantil, tuberculose, difteria, tétano, coqueluche, meningite, pneumonia, rubéola, sarampo, varicela, hepatite etc. — tudo isso poderia levar à morte prematura de uma criança.

(Atualmente, não apenas a mortalidade infantil despencou em decorrência da invenção de remédios e vacinas para todas as doenças acima, como ainda fetos com problemas pulmonares recebem uma injeção intra-uterina e o problema é resolvido instantaneamente. Nos últimos 100 anos, a expectativa de vida aumentou 36 anos.)

Igualmente, por mais que você adorasse o seu labrador, a sua riqueza não seria capaz de comprar para ele todos os cuidados veterinários que hoje são rotina em todos os lares que possuem um cachorro. Ele não viveria muito.

Você poderia pagar um bom dentista, mas os serviços que ele seria capaz de fazer não eram nada invejáveis pelos padrões de hoje. E eram extremamente dolorosos. Ademais, a escova de dentes como conhecemos só surgiu em 1938. (Você poderia, no entanto, comprar as melhores dentaduras da época tão logo seus dentes apodrecessem e caíssem).

Se suas vistas ficassem ruins, o máximo que você poderia fazer seria contratar um bom oftalmologista para lhe fazer óculos. Tem catarata ou glaucoma? Que azar. Apenas se acostume com isso. (Hoje, você cura a sua catarata com um laser pela manhã e, à tarde, já sai do hospital e volta para casa.)

Métodos anticoncepcionais eram primitivos: não apenas eram bem menos confiáveis e eficazes, como também reduziam quase que por completo o prazer. Nada comparável à eficácia dos vários, baratos e altamente disponíveis métodos anticoncepcionais atuais.

Conclusão

Honestamente, eu não me sinto nem remotamente tentado a abandonar 2017 e me tornar um bilionário em 1915. Isso significa que eu, um simples professor universitário, sou hoje, pelos padrões de 1915, mais do que um bilionário. Significa que, pelo menos dadas as minhas preferências, sou hoje materialmente mais rico que John D. Rockefeller em 1915.

E se, como creio ser o caso, minhas preferências não forem atípicas, então praticamente cada indivíduo de classe média é hoje mais rico do que era o americano mais rico do país há 100 anos.

O que nos leva à grande constatação: todos esses avanços materiais criados pelo capitalismo resultaram primordialmente no benefício do cidadão comum. Essas conquistas disponibilizaram para as massas confortos, luxos e conveniências que não foram usufruídos nem sequer pelos bilionários de antigamente.

Uma porção desproporcional dos benefícios do capitalismo, do livre mercado, da inovação, da invenção de novos produtos, do comércio e dos avanços tecnológicos foi direcionada para o cidadão comum. E ainda há que vitupere tal arranjo.


04 de outubro de 2021
Donald Boudreaux

O ERRO CENTRAL DA TEORIA KEYNESIANA, EM UM ÚNICA FRASE

E nenhum keynesiano responde com sinceridade a esta pergunta




"Quando uma economia está em recessão, o governo tem de criar demanda agregada. E ele tem de fazer isso aumentando seus gastos".

Este é o mantra keynesiano.

Tal raciocínio advém diretamente da fórmula matemática do PIB, a saber:

C + I + G + X - M = Y(PIB)

Consumo + Investimento + Gastos Governamentais + Exportações - Importações = Produto Interno Bruto

O consumo (C) envolve uma série de decisões individuais sobre como será a alocação de recursos por toda a sociedade. O investimento (I) envolve uma série de decisões individuais sobre como será a alocação de recursos por toda a sociedade. As exportações (X) envolvem uma série de decisões individuais sobre como será a alocação de recursos por toda a sociedade. O mesmo se aplica às importações.

Já os gastos governamentais (G) representam um tipo diferente de decisão de alocação

C, I, X e M se originam espontaneamente das ações dos proprietários originais dos recursos. Já o G não se origina das ações dos proprietários originais dos recursos. O governo não tem recursos próprios para gastar.

O que nos leva então à fatídica pergunta:

"De onde vem o dinheiro que o governo utiliza para aumentar seus gastos?"

Sim, isso é praticamente tudo o que você tem de fazer para refutar Keynes. Basta fazer essa pergunta e toda a ideia se desmorona.

Há um volumoso material acadêmico que se baseia abertamente na teoria de Keynes. São mais de 70 anos de publicações acadêmicas. Todo esse material preenche milhões de volumes de livros-textos de macroeconomia. Trata-se do dogma econômico reinante do mundo moderno. E todo esse material evita por completo essa pergunta: "De onde vem o dinheiro que o governo utiliza para aumentar seus gastos?"

Há três respostas: ou o governo aumenta impostos; ou ele toma dinheiro emprestado de bancos, pessoas e empresas; ou ele simplesmente imprime dinheiro.

Não é preciso ser um profundo conhecedor de economia para entender que nenhuma dessas três medidas cria riqueza.

Volte à fórmula do PIB. Veja que C, I, X e M são baseados na produção. Eles representam forças criativas. Já o G é baseado no confisco.

1) Se um aumento de G advém de mais impostos, então C, I, X e M serão prejudicados.

2) Se um aumento de G advém do endividamento do governo (com o governo emitindo títulos e esses títulos sendo adquiridos por bancos), então igualmente haverá menos dinheiro para C, I, X, e M. Os empreendedores agora não mais conseguirão empréstimos junto a esses bancos, que passaram a direcionar o dinheiro para os títulos do governo. Com mais empréstimos indo para o governo, os juros subirão e inviabilizarão investimentos produtivos. Igualmente, pessoas e empresas que também emprestarem dinheiro para o governo terão agora menos dinheiro para consumir e investir.

3) Se um aumento de G advém da simples criação de dinheiro pelo próprio governo, os preços dos bens e serviços subirão. Se os salários não forem reajustados, todos ficarão mais pobres. Se forem reajustados, todos ficarão na mesma situação de antes. (No extremo, a contínua criação de dinheiro leva à Venezuela.)

De novo: nenhuma dessas três medidas cria riqueza. Consequentemente, nenhuma dessas três medidas pode tirar uma economia de uma recessão.

G não é uma força criativa. Tudo o que é gasto por G é feito à custa de C, I, X ou M.

Tomando de Pedro para subsidiar Paulo

O item mais utilizado pelos governos durante uma recessão é o item 2: endividamento.

Dado que aumentar impostos é impopular (ainda mais durante uma recessão) e dado que simplesmente imprimir dinheiro para financiar despesas correntes não mais é uma prática legal na maior parte do mundo civilizado [N. do E.: no Brasil, isso foi proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, artigos 35 e 39; no entanto, no ano de 2020, a prática foi readmitida indiretamente, em caráter temporário], então os governos recorrem majoritariamente ao aumento dos déficits orçamentários e, consequentemente, da dívida pública.

Quando isso ocorre, apenas aqueles indivíduos mais iniciados irão fazer essas duas perguntas óbvias:

a) De onde o governo irá tirar dinheiro para pagar esse empréstimo e seus juros?

b) De onde as pessoas e empresas irão tirar dinheiro para emprestar ao governo?

As respostas dos políticos para a primeira pergunta é fácil: impostos e mais endividamento.

Já a segunda pergunta traz consigo a própria resposta: o dinheiro que as pessoas emprestam ao governo é aquele dinheiro que deixou de ir para C, I, X e M.

De novo: nada disso cria riqueza; nada disso pode tirar uma economia da recessão.

Os mais insistentes poderão, ainda, perguntar:

c) Qual a consequência de os bancos direcionarem mais dinheiro para o governo?

A resposta é direta, mas poucos fazem a conexão: mais dinheiro sendo emprestado para o governo significa menos dinheiro sendo emprestado para pessoas e empresas. Com menos dinheiro disponível para pessoas e empresas — e sabendo que é mais arriscado emprestar para pessoas e empresas do que para o governo —, os juros serão bem mais altos. (Veja mais detalhes aqui).

De novo, pela quarta vez: nada disso cria riqueza; nada disso pode tirar uma economia da recessão.

O grande truque

O núcleo da teoria econômica keynesiana é este: atribuir uma produtividade econômica a uma agência que nada mais faz do que se apossar do dinheiro alheio sem nada produzir.

De alguma forma, segundo a teoria keynesiana, o governo pode elevar o gasto agregado da economia (1) sem estar produzindo nada de novo e (2) sem que isso reduza os gastos em outros lugares da economia. Keynes nunca explicou como isso seria possível. Nem seus discípulos.

Ainda chegaremos ao dia em que economistas, historiadores e investidores olharão para o passado e quedarão espantados com a total incapacidade de três gerações (1950-20??) de economistas e investidores de perceberem o óbvio.

O cético há de gritar: "Mas toda a economia keynesiana não pode ser resumida apenas a isso". Pode. Com efeito, toda a economia keynesiana é apenas isso. E o cético retrucará: "Alguém teria apontado isso ainda em 1936 se isso fosse tudo o que há nela." Poucos, além de Mises e Hayek, fizeram isso. E esses poucos passaram a ser ignorados após 1948, o ano em que Paul Samuelson publicou seu livro-texto de economia.

Como assim? Por que toda essa platitude foi aceita? Por causa daquilo que George Orwell observou em 1946, o mesmo ano em que Keynes morreu. "Enxergar o que está na frente do nariz exige um esforço constante".

Keynes foi um mestre da prestidigitação verbal. Ele soube como manter os olhos da platéia direcionados para qualquer outro lugar do palco e não para o coelho dentro da cartola: o coelho da riqueza criada pelo gasto do governo. O governo não pode tirar nada de sua cartola que não tenha antes colocado lá.

A estória de criação keynesiana de riqueza sempre foi a estória do imperador nu. Quando toda uma civilização se mostra alegremente enganada por esse tipo de conto, a verdade sempre encontra enorme resistência.

E quando você descobre um fato óbvio que não foi percebido por toda uma cultura, você identificou o calcanhar de Aquiles daquela cultura.

Mais uma vez: "De onde vem o dinheiro que o governo utiliza para aumentar seus gastos?"


04 de outubro de 2021
Gary Morth

OS 'PANAMA PAPERS' - OS REFÚGIOS FISCAIS E OS HIPÓCRITAS QUE DEFENDEM IMPOSTOS, MAS NÃO ARCAM COM ELES




Notícia global do momento, o "escândalo" dos Panama Papers consiste de um conjunto de 11,5 milhões de documentos confidenciais que foram vazados da base de dados da empresa Mossack Fonseca, uma sociedade de advogados sediada no Panamá. Esses documentos vazados fornecem informações detalhadas sobre mais de 214.000 empresas criadas em refúgios fiscais offshore, incluindo as identidades dos acionistas e administradores.

Na prática, os "Papeis do Panamá" expõem várias personalidades que se utilizaram da benevolente legislação fiscal do Panamá para ou escapar da Receita Federal de seus respectivos países ou para ocultar patrimônio obtido por meio da corrupção.

O problema é que, quando se fala de refúgios fiscais, há sempre mocinhos e bandidos, e é bom não misturar todos no mesmo balaio.

Não é "paraíso fiscal", mas sim "refúgio fiscal"

Thomas Piketty, autor do famoso livro O Capital no Século XXI, enxerga os refúgios fiscais como "países que roubam as bases tributárias de seus vizinhos".

Segundo um colaborador próximo de Piketty, Gabriel Zucman, a riqueza escondida nos refúgios fiscais chegam a 7,6 trilhões de dólares, o que dá 10% do PIB mundial (e 15 vezes o PIB da Argentina).

O argumento de Zucman contra os refúgios fiscais faz coro ao que dizem todos os defensores do estado e de seus programas de redistribuição de renda: os refúgios fiscais constituem um problema maiúsculo, uma vez que todo esse dinheiro não está sendo utilizado na forma de impostos em seus países natais, impostos esses que os governo poderiam utilizar para fazer todas as obras e programas de redistribuição que estes analistas consideram desejáveis.

Os malvados ricos, ao recorrerem aos refúgios fiscais para proteger seu patrimônio da sanha dos burocratas do estado, não estão contribuindo como deveriam para sustentar as crescentes despesas exigidas dos estados de bem-estar social.

Para essa turma, o dinheiro das pessoas pertence na verdade ao estado e este deve tributar o máximo possível. O governo, de acordo com esta visão de mundo, é o ente que está na melhor posição de administrar os recursos das pessoas. Sendo assim, eles lamentam que haja pessoas que consigam manter seus proventos longe das garras do estado, fazendo com que o governo não seja capaz de confiscar o tanto que gostaria do dinheiro dos cidadãos.

Não obstante, há alguns detalhes sobre os refúgios fiscais que devem ser mencionados.

O primeiro que deve ser dito é que a denominação "paraíso fiscal" surge de uma má tradução. Em inglês, o termo tax haven não significa "paraíso fiscal" (teria de ser tax heaven para ter esse significado), mas sim "refúgio fiscal". Essa tradução explica com maior realismo o que ele verdadeiramente é: um refúgio fiscal, ou seja, um país para onde várias pessoas mandam seus proventos a fim de escapar da voracidade fiscal de seus governos.

O atrativo de levar seu dinheiro a um refúgio fiscal surge do fato de estes locais, em geral, dispensarem um tratamento muito favorável aos estrangeiros que abrem contas bancárias ou constituem sociedades nessas jurisdições. Em alguns casos, estabelecer a sede de uma empresa em um refúgio fiscal pode representar a diferença entre pagar 35% de impostos sobre a renda ou zero por cento.

E o benefício não é usufruído apenas por essa empresa; ele perpassa toda a economia. Todos nós somos beneficiários dos refúgios fiscais. Como?

Quem vive em países desenvolvidos sabe que os impostos sobre a renda e sobre a propriedade são hoje provavelmente muito menores do que eram há 30 anos (inclusive nos países nórdicos). Isso se deve, em parte, ao surgimento e subsequente popularização dos refúgios fiscais. Em 1980, as maiores alíquotas do imposto de renda de pessoa física nos países membros da OCDE eram, em média, de 67%. Para pessoa jurídica, as alíquotas chegavam a quase 50%.

A partir das administrações Reagan e Thatcher, os governos começar a diminuir suas alíquotas e a reformar seus regimes fiscais. Atualmente, a alíquotas máximas para pessoas físicas estão ao redor de 40% e para pessoas jurídicas, em torno de 27%. Mesmo nos países em desenvolvimento, as alíquotas máximas dos impostos diretos sobre pessoas físicas seguem relativamente congeladas desde a década de 1980.

Em grande medida, foi a globalização — e não a ideologia — o que conduziu esta virtuosa "descida morro abaixo". Os governos foram forçados a reduzir seus impostos porque temem que os empregos e os investimentos fujam de seus respectivos países.

Ao fornecer um refúgio seguro para as pessoas que querem escapar de alíquotas confiscatórias, os refúgios fiscais desempenharam um papel imprescindível. Os políticos e legisladores concluíram que é melhor receber alguma receita com alíquotas menores a impor altas alíquotas e perder receitas.

É comum ver a acusação de que os refúgios fiscais servem de abrigo e proteção não apenas às vítimas do estado fiscalmente voraz, mas também a terroristas, narcotraficantes e políticos corruptos (mais sobre isso abaixo). Essa acusação procede. No entanto, desnecessário dizer que os responsáveis por punir essas pessoas são os estados do seu país de origem — que, aliás, falharam miseravelmente nessa atribuição —, e não um arranjo voltado para proteger a privacidade e a propriedade das pessoas. Culpar os refúgios fiscais pela existência de criminosos é o equivalente a culpar a faca pelo esfaqueamento.

No mais, a função de perseguir e punir criminosos é da polícia e do poder judiciário, e não dos arrecadadores de impostos.

Que muitos criminosos se escondem nestes países é um fato que ninguém ignora, mas muitos dos milionários e bilionários que depositam sua fortuna nestes paraísos estão apenas fugindo da ferocidade dos governantes, que estão sempre a falar de justiça social, a alimentar a luta de classes, e a extorquir as pessoas mais competentes, tudo para alimentar o leviatã, que está a devastar o mundo.

A raiva gerada pelos refúgios fiscais deveria, com efeito, ser redirecionada para outro lugar: as elevadas alíquotas que cobram os governos, os quais nos confiscam não apenas nosso dinheiro, mas também nossa liberdade, sobretudo empreendedorial. Os refúgios fiscais, erroneamente chamados de "paraísos fiscais", nada mais são do que uma reação a esse estado de coisas.

Aqueles que mais defendem impostos são os que menos pagam

Há, no entanto, algo de extremamente interessante nos "Panamá Papers", o qual deveria ser a principal lição a ser extraída da notícia: a maioria das elites políticas — de todos os países do mundo — está utilizando corruptamente as instituições estatais para lucrar à custa de seus compatriotas, remetendo o esbulho para as offshores por meio de testas-de-ferro.

Nos papeis que vazaram até o momento figuram:

Chefes de estado e de governo atuantes: o presidente ucraniano, o rei da Arábia Saudita, o presidente argentino, o presidente dos Emirados Árabes Unidos.

Chefes de estado e de governos passados: o recém-renunciado presidente da Islândia, um ex-presidente do Sudão, e os ex-primeiros ministros da Geórgia, do Iraque, da Jordânia, da Moldávia, do Catar e da Ucrânia.

Ministros e políticos variados: o ministro das indústrias da Argélia, o ministro do petróleo da Angola, o prefeito de Lanús na Argentina, o presidente do Tribunal de Apelações de Botsuana, o presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil, o ministro da Justiça do Camboja, um ministro da Indústria e Desenvolvimento da República do Congo, o presidente do Banco Central do Equador, um ex-ministro da fazenda francês, o ministro das finanças da Islândia, o ministro da Saúde de Malta, um ex-ministro da economia da Palestina, o diretor do centro de inteligência do Peru, um ex-prefeito de Varsóvia, o ministro do Interior de Arábia Saudita, um ex-chefe das forças armadas da Venezuela, um ex-diretor da petrolífera pública venezuelana PDVSA, um ex-embaixador dos EUA na Zâmbia, e deputados brasileiros, congoleses, húngaros e ingleses.

Amigos ou parentes de políticos: um assessor político dos Kirchner, o empreiteiro mais próximo do presidente mexicano Enrique Peña Nieto, a família do presidente do Azerbaijão, o marido de um deputado canadense, um cunhado do presidente chinês, uma filha do ex-primeiro ministro chinês, um filho do ex-ditador egípcio Hosni Mubarak, um filho de um ex-presidente de Gana, a viúva de um ex-presidente de Guiné, um filho do vice-presidente de Honduras, um neto do presidente do Cazaquistão, um filho do primeiro-ministro da Malásia, o assistente pessoal do rei de Marrocos (Maomé VI), vários netos do primeiro-ministro do Paquistão, o amigo pessoal de Putin, um sobrinho do presidente da África do Sul, um filho de um ex-presidente da Coréia do Sul, uma irmã do rei emérito da Espanha, o pai de David Cameron, e o filho de Kofi Annan.

Evidentemente, nem todos os que figuram nessa lista não-exaustiva necessariamente obtiveram sua fortuna de maneira ilícita (roubando seus compatriotas). Porém, sua proximidade e cumplicidade com o poder político deveria fazer soar todos os alarmes.

Colocar em um mesmo saco todas aquelas pessoas que utilizaram o poder político do estado para espoliar seus concidadãos — seja de maneira direta, como o desvio do dinheiro de impostos, seja de maneiras mais elaboradas, como contratos superfaturados com empreiteiras ou a "venda" de concessões legais — e aquelas outras pessoas que, tendo obtido sua fortuna de uma maneira totalmente lícita, trataram de protegê-la da voracidade tributária dos governos é um grave erro que serve apenas para alterar o foco do debate: ignora-se a espoliação generalizado a que nos submetem as atuais instituições estatais e os políticos que as controlam, e concentra-se no muito menos relevante problema da "evasão fiscal geral".

Como mostra a lista acima, a "evasão fiscal" é, na maioria das vezes, efetuada por aqueles mesmos hipócritas que não hesitariam em utilizar toda a força e violência do aparato repressor do estado para perseguir os cidadãos que ousarem desafiar sua autoridade tributária.

Aqueles que mais defendem aumentos de impostos são os que nunca arcam com eles. Defender aumento de impostos quando se está isento de pagá-los é bem gostoso.

Em vez de preocuparem-se com como extrair ainda mais recursos de quem os obteve legalmente, os fanáticos por impostos deveriam, isso sim, trabalhar para evitar que os políticos continuem extraindo os nossos recursos. A luta contra a evasão fiscal é apenas uma cortina de fumaça: a verdadeira sangria, como mostram os Papeis do Panamá, é aquela causada pelo vampirismo político.

Aguardemos o pronunciamento de Piketty
.

04 de outubro de 2021
Juan Ramon Rallo


SIM, A INFLAÇÃO É MUNDIAL, MAS NÃO DECORRE SÓ DE GARGALOS - E PODE ABORTAR A RETOMA ECONÔMICA

E os causadores, é claro, já estão culpando os empreendedores




Na semana passada, a Ned Davis Research (empresa global fornecedora de dados para análises de investimentos) publicou um relatório em que, fazendo ironia com a recorrente afirmação dos Bancos Centrais de que "a inflação é transitória", afirmou o seguinte: "No final, parece que o crescimento é que era transitório — já a inflação será mais permanente".

E, com efeito, há vários fatores comprovando que, ao redor do mundo, consumidores e salários estão sendo devorados pela carestia, levando a uma abrupta interrupção na recuperação econômica pós-Covid19.

Ao redor do mundo, as vendas de automóveis e de imóveis novos desabaram. Só nos EUA, as vendas da Ford desabaram 33%; não há chips a serem utilizados nos novos veículos. Na zona do euro, as vendas estão no menor valor da série histórica (que começou no fim da década de 1980). A renda real disponível da população mundial está em forte queda, e o crescimento da mediana dos salários está menor que a inflação.

Para piorar, a Europa também está em vias de enfrentar um inverno do descontentamento. Há uma crise de abastecimento de gás natural. Ao mesmo tempo em que há previsões de que a oferta de gás da Rússia será menor, há também o fato de que a própria produção de gás na Europa foi restringida por políticas ambientalistas. Isso significa que, em alguns países europeus, os consumidores não só enfrentarão um aumento explosivo em suas contas de energia, como ainda terão racionamento. Na prática, os ambientalistas europeus deixaram o continente à mercê de Vladimir Putin.

O gás natural, que custava US$ 1,50 por milhões de BTUs há um ano, agora custa US$ 6,00 (aumento de 300%).




Gráfico 1: evolução do preço, em dólares, do gás natural

Nos EUA, os preços aos produtores — ou seja, os preços que os produtores pagam em suas matérias-primas para fabricar bens — subiram 20% nos últimos 12 meses. É a maior taxa desde 1974, quando ocorreu o choque do petróleo.




Gráfico 2: Variação anual dos preços ao produtor nos EUA (commodities)

Na Europa, a inflação ao produtor acumulada em 12 meses está em 13%, o maior valor desde o início da década de 1980.




Gráfico 3: Preços ao produtor na zona do euro (geral)

Sempre um fenômeno monetário

Desde a pandemia de Covid-19, os banqueiros centrais ao redor do mundo inflacionaram a oferta monetária a um ritmo sem precedentes, recorrendo à mais agressiva política monetária de que se tem notícia desde o fim do padrão-ouro.

Apenas nos EUA, a oferta monetária chegou a subir mais de 25% nos últimos 12 meses.




Gráfico 4: taxa de crescimento acumulada em 12 meses do M2 nos EUA

Os países em desenvolvimento que tentaram fazer o mesmo com suas moedas se saíram ainda piores (e por motivos explicados em detalhes aqui).

Bastou uma recuperação econômica normal após a reabertura econômica para demonstrar, mais uma vez, por que a inflação generalizada de preços sempre é um fenômeno monetário: os Bancos Centrais aumentaram a oferta monetária para muito além da demanda por moeda. A inflação de preços, no fim, sempre é um fenômeno monetário, e decorre do fato de haver mais dinheiro a ser trocado por ativos escassos.

Isso levou a maciças elevações de preços para bens essenciais e serviços.

A retórica de que a carestia é "transitória" e que tudo é culpa de "interrupções na cadeia de oferta" foi rapidamente desmistificada. Os chamados "efeitos de base" (quando se parte de números baixos para a inflação, o que faz com que seus aumentos sejam matematicamente grandes) já terminaram, mas os preços continuam subindo fortemente.

Ademais, os preços das commodities nos setores em que há ociosidade aumentaram tanto quanto nos setores em que quase não há ociosidade. De novo: a inflação de preços, no final, decorre do fato de haver mais dinheiro perseguindo ativos escassos. E é por esse motivo que vemos os preços do alumínio e dos fretes marítimos alcançando os maiores valores de sua história, ao mesmo tempo em que há ampla capacidade nestes seguimentos, até mesmo excesso de capacidade (nos EUA, há até congestionamento de navios cargueiros nos portos; e o número de cargueiros em operação bateu recorde, bem como sua capacidade volumétrica).

Mesmo os alimentos, cujos preços também dispararam para níveis historicamente recordes, não estão enfrentando nenhum grave problema de oferta. Os lockdowns não fecharam o agronegócio. Há problemas de secas pontuais, como com o milho, e colheitas atrasadas, mas estes sempre existiram. E são sazonais.

Pela terceira vez: no fim, o que empurra os preços gerais — bens e serviços — para cima é a inflação monetária.

Os culpados de sempre

A história monetária mostra que políticos sempre recorrem às mesmas desculpas quando a inflação de preços surge em decorrência da inflação monetária: primeiro, eles dizem que não há nenhuma inflação; depois, reconhecem que até há alguma inflação de preços, mas afirmam que ela é transitória; depois, tão logo fica claro que não há nada de transitório na carestia, dizem que os culpados são os empresários gananciosos; depois, passam também a culpar os consumidores, que estão gastando demais. Por último, os próprios políticos se apresentam como a "solução": impor controle de preços, o que termina por destruir a economia.

Nos EUA, o crescimento da mediana dos salários já foi mais do que contrabalançado pela inflação de preços. Na zona do euro, o crescimento salarial desabou em julho. Com efeito, o risco na zona do euro é maior, dado que os salários caíram no segundo trimestre de 2021 em relação ao mesmo trimestre de 2020.

Ao redor do mundo, os consumidores veem que os preços daqueles bens e serviços que compram diariamente aumentam bem mais rapidamente do que o relatado pelos números oficiais da inflação. Nos EUA, como consequência, o índice de confiança do consumidor caiu para níveis vistos apenas na esteira da crise financeira de 2008.

E isso, por sua vez, está descarrilhando a suposta recuperação econômica que deveria advir de um boom no consumo (algo cada vez menos provável) e de uma explosão no setor de serviços. Nenhum destes milagres keynesianos se consumou.

Considerando que os governos se beneficiam fiscalmente da inflação monetária (a qual aumenta sua arrecadação, pelo simples fato de haver mais dinheiro na economia), é difícil imaginar que haverá medidas drásticas contra essa inflação.

Estamos agora adentrando na fase em que os governos culpam os empresários pela inflação. O presidente americano Joe Biden atribuiu o aumento da gasolina à ganância dos donos dos postos, e mandou o governo investigar. Nenhuma palavra sobre o fato de o barril de petróleo estar perto dos US$ 80 dólares, graças à política inflacionista do Federal Reserve.




Gráfico 5: evolução do preço do barril de petróleo do tipo Brent, em dólares

Ainda mais estridente é o seu silêncio sobre o fato de o seu próprio governo ter revogado a licença para a construção do Gasoduto Keystone, que seria construído entre Alberta, no Canadá, e as refinarias do estado americano de Nebraska, de onde ele seria conectado à rede já existente de oleodutos nos EUA, chegando às refinarias do sul do Texas. Adicionalmente, o governo Biden também vetou novos projetos de fracking no Alasca e em todas as terras federais do país.

Já um de seus principais conselheiros econômicos veio a público dizer que as carnes de porco, boi e frango aumentaram fortemente de preço porque apenas quatro empresas controlam a oferta. É de se perguntar por que, já que há esse oligopólio, elas não aumentaram os preços antes.

Na Europa, a coisa não é melhor.

Em meu país natal, a Espanha, as tarifas de eletricidades dispararam. O governo, obviamente, culpou as geradoras. Nenhuma palavra a respeito do imposto sobre CO2 criado pelo governo em 2020, o qual elevou enormemente os custos operacionais — e com o qual os governos europeus esperam arrecadar 20 bilhões de euros em 2021.

Ou seja, o governo espanhol estava efetivamente lucrando com o aumento dos preços ao mesmo tempo em que culpava empresas por isso.

O mesmo ocorreu na Alemanha: os preços da energia dispararam devido ao forte aumento do gás natural e dos preços do CO2, e os partidos políticos culparam a especulação e as empresas. Já os ambientalistas passaram incólumes.

E a tendência é que isso se intensifique no último trimestre, com a chegada do inverno. Governos irão culpar empresas pela inflação que os próprios governos causaram. E, em seguida, irão se apresentar como a solução e impor controle de preços, o que irá destruir o tecido empreendedorial, especialmente as pequenas empresas.

Para concluir


Políticas keynesianas sempre destroem aquilo que pretendem ajudar e proteger.

No atual caso, as classes médias, os salários reais e as pequenas empresas estão sendo esmagadas pelo imposto inflacionário (a inflação é um imposto) e pelo aumento de outros impostos, à medida que os governos colhem o benefício das políticas inflacionistas e vão aumentando o tamanho do setor público como consequência.

Apenas uma drástica reação dos Bancos Centrais podem mudar o atual cenário inflacionista. A questão é: irão os BCs contrair a política monetária em um momento em que os déficits do governo estão altos e, pior ainda, qualquer pequeno aumento nos juros pode gerar uma crise da dívida (uma vez que estes países possuem uma relação dívida/PIB muito maior que 100%)?

Irão os BCs reagir àquilo que claramente é — como sempre foi — um processo de inflação monetária?
quinta-feira, 30 set 2021

04 de outubro de 2021
Daniel Lacalle




A INFLAÇÃO PERMANECE INSISTENTE

Ao final de cada trimestre, o BC (Banco Central) torna público o RTI (Relatório Trimestral da Inflação). 
Seguramente, este é um trabalho muito bem elaborado tecnicamente, abordando o cenário sobre a inflação e os juros. Nele, a autoridade monetária analisa os riscos apresentados na variação de preços para cima ou para baixo, quando estes saem dos parâmetros estabelecidos nas metas de inflação. 
Inclusive, monitora as expectativas inflacionárias, mostrando atualizações de previsões mais amplas e estudos sobre a economia do País. 
O último relatório que foi divulgado na semana passada sinaliza uma preocupação muito grande com dois fatores impactantes nos índices, que relacionam a crise hídrica com a elevação dos preços da energia e dos alimentos. Ele comenta também que a elevada inflação ao consumidor permanece insistente e sempre surpreendendo. 
Para se ter uma noção, a inflação acumulada em doze meses está muito próxima ao patamar de dois dígitos, saindo de 8,06% em maio para 9,68% em agosto, ultrapassando com desenvoltura a meta de inflação fixada para este ano em 3,75%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais (5,25%) e para menos (2,25%). 
Existem duas justificativas sobre essa questão: os preços dos alimentos e dos bens industriais. 
No decorrer do trimestre, os alimentos aumentaram 2,76%, tendo como protagonistas os preços da carne, das aves, do leite e dos ovos, em virtude dos elevados custos da ração animal e, principalmente, da escassez de pastagens com essa terrível estiagem que estamos atravessando há algum tempo. 
Quanto aos bens industriais, eles subiram pelo quinto trimestre consecutivo num patamar superior a 1,50%, somente neste último período trimestral. 
Isso se deve a uma alteração na formação dos gastos da família, a dificuldades apresentadas pelo lado da oferta, à transferência de custos dentre os quais, o de commodities, à alta do dólar e das tarifas de energia. 
Segundo o BC, com esse cenário, existem três iminentes riscos: a piora da crise hídrica com a possibilidade de um racionamento de energia; o fortalecimento da pandemia e ações que venham a agravar as expectativas quanto à trajetória fiscal do Brasil. 
Esses elementos, certamente, pressionarão os prêmios de risco, levando uma acentuada insegurança aos agentes econômicos, com efeitos extremamente negativos, provavelmente defasados sobre a atividade econômica e, sobretudo, os investimentos, desestimulando pessoas e empresas a investirem. 
Embora o BC tenha admitido um insignificante crescimento no PIB (Produto Interno Bruto) de 4,6% para 4,7%, ele procurou ser cauteloso, independente da avaliação mais agregada do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do BC, considerado uma "prévia" informal do PIB), com dados muitos semelhantes aos divulgados em agosto, cujas variações não demonstram uma direção unânime e não sugerem expansão generalizada. Até então, o horizonte que se descortina para o próximo ano não é dos mais tranquilos para nossa economia. 
De acordo com o BC, no decorrer de 2022, é provável que o ritmo de crescimento seja inferior ao segundo semestre desse ano, resultando num crescimento anual de aproximadamente 2,10%. 
Também destaca que há menos espaço para uma recuperação cíclica em função da redução do “hiato do produto” (indicador que mensura as oscilações cíclicas da economia). Aliás, a consequência prevista na incidência da alta dos juros sobre a atividade econômica, não se dará jamais no curto prazo e, certamente, acontecerá num prazo mais longo. 
Entretanto, não podemos contar com este cenário como garantido. Acontece que ele apresenta um elevado grau de incerteza, pois se encontra apoiado nas seguintes premissas: continuidade no enfraquecimento da crise sanitária; redução progressiva dos níveis de incerteza na economia; manutenção do regime fiscal e ausência de restrições diretas ao consumo de eletricidade. 
Com isso, o BC demonstra nas entrelinhas do relatório não estar contando muito com o racionamento de energia que, na realidade, não pode ser totalmente desprezado. 
Em suma, o RTI aponta um cenário mais adverso para inflação à frente e, diante disso, os empresários e investidores procuram refazer seu planejamento para 2022. 
Só nos falta mais um trimestre para encerrarmos este exercício e o cenário de 2021 está praticamente cristalizado, a não ser que apareça uma grande surpresa. 
Portanto, é sensato refazer as contas e se organizar para enfrentar o próximo ano que transparece ser de grandes desafios para a economia brasileira.

04 de outubro de 2021
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)

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