"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 16 de novembro de 2013

A TORRE DA FAMÍLIA BOLHA

A arqueologia procura ver nas habitações escavadas como eram nossos antepassados, como evoluímos, quais eram nossos costumes secretos. Cientistas de chapéu e colete de couro fuxicaram a intimidade de "antigos nós" sem pedir licença. Escreveram tratados e biografias não autorizadas, interpretaram nossa cerâmica, pintura rupestre, adorno. Até nossos lixos fuxicaram. Paparazzi com autorização e financiamento do mundo acadêmico.

O que descobriram, além de que sabemos desenhar bisões?

A cidade representa a transição do homem neolítico para o agricultor. Uma cidade só era possível com comida e água abundante. No começo de tudo, o homem morava perto do trabalho. Construiu cidades próximo ao trabalho. As primeiras nasceram na Mesopotâmia, que tem a maior reserva de água doce do planeta.

Recentemente, descobriu-se que o vilarejo mais antigo da humanidade, Göbekli Tepe, construído há 12 mil anos, fica na Turquia. O arqueólogo alemão Klaus Schmidt começou a escavar em 1994. Primeiro achou um templo com pilares em forma de T.

Por que começamos a construir? E por que na Turquia?

Porque foi onde houve a mutação de uma gramínea chamada trigo, que proporcionou a confecção do pão, fácil de armazenar e transportar. O homem começou a construir cercado por aquilo que o alimentava, trigo selvagem. Como bem sabe todo português: a humanidade se desenvolveu graças aos padeiros.

Hoje, olhando os lançamentos imobiliários das cidades congestionadas e amedrontadas, se vê a união de casa, área com lazer de um clube e anexo comercial. Não é perfeito?

O homem mora e trabalha cercado pelo mesmo muro neolítico. Se diverte, se exercita e se liberta do que há de ruim nas cidades. Cultura? Uma rede de distribuição de filmes, peças, óperas, eventos esportivos e shows está disponível por banda larga. Tem as redes sociais, para fazer novas amizades e realimentar as antigas. Tem ensino à distância, para se aprimorar. Sair de casa? Pra quê?

Esquece calçadas, passeios a pé, comércio de rua, sorvete da esquina, banca de jornal, pipoqueiro, mamães com carrinhos de bebê, parquinho, mesinha de damas dos aposentados, quadra em que um filho pode jogar e conhecer um garoto de outro bairro ou classe social. Esquece as padarias.

Como o homem do neolítico, passamos a morar onde trabalhamos. Nas nossas bolhas. Em megacavernas. Eventualmente, em nosso SUV, visitamos outra caverna gigante, templo de compras: o shopping.

Somos mais saudáveis e viveremos com mais segurança. Mas a que preço?

*

Meu pai construiu prédios com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Dava os nomes. Anunciava nos jornais. Até hoje, uma das coisas que mais gosto de fazer é ver anúncios imobiliários.

Não estou atrás da garrafa de uísque que algumas incorporadoras oferecem para aqueles que visitam lançamentos residenciais e comerciais - ou melhor, empresariais, afinal, não somos mais comerciantes, mas empreendedores. Para ganhar uma garrafa, é "obrigatório" passar pelo atendimento do corretor. E é válido apenas para as 50 primeiras pessoas que visitarem o plantão. O que não é problema para meus amigos bebuns, que vão direto do bar. Que farra...

Há anos que me debruço fascinado sobre os anúncios, apesar de já ter a chamada casa própria. Ver como as pessoas pretendem morar é um exercício de arqueologia contemporânea. Ver como pretendem morar na vizinhança, voyeurismo. Sem contar a inveja saudável de futuros vizinhos bem-afortunados (literalmente).

Uma revolução acontece entre as coberturas e o térreo. Lançamento de alto padrão não vem com uma simples portaria, mas com "porta cochère". Outros não são apenas condomínios, mas "condomínios resort". Armário embutido desapareceu junto com o tigre da tasmânia. O quarto de empregada foi extinto. Alguns apartamentos vêm sem o quarto, mas com um banheiro na área de serviço. Seria o banheiro da diarista? Ou melhor, da "femme de ménage"?

Aliás, prédios não se chamam mais prédios, mas torres. Alguns se chamam "residencial". Outros, "boulevard". Alguns têm varanda gourmet, o sonho de todo morador de prédio, digo, torre: terraço com churrasqueira.

Outros vêm com fechadura biométrica, serviço pay-per-use, piscina com fundo infinito, fitness center, que antigamente chamávamos de academia, e a última onda, um espaço dedicado a seu quatro patas, agora popularmente conhecido como pet, cujo nome varia: space dog, pet garden, pet place, pet care, pet walk, pet play, pet space.

A maioria dos apartamentos está menor. Recentemente, um lançamento de 18 metros quadrados foi avacalhado nas redes sociais. É o espaço de três metros por seis. Apertado, mas dá. Nos idos tempos, se chamava quitinete, de kitnet. É a medida do apezinho do famoso Bloco B do Copan, antes, terra de ninguém (sã), hoje, valorizadíssimo.

Há poucos anos, os prédios vinham com lounge. Já ficou démodé. Como a sauna. Pelo visto, ninguém mais quer aliviar tensões apertado sobre um tablado de madeira, sufocado por calor e essência de eucalipto, suando com vizinhos, síndico e subsíndico, relembrando a última reunião condominial.

Não se veem mais lançamentos de quatro quartos, como no boom imobiliário da classe média alta da década de 1970. As famílias diminuíram. Mas aumentaram o número de vagas para carros. Menos filhos, mais carros. Dá menos trabalho. Estamos ficando tão estranhos...

O mercado não dorme no ponto, se renova. A PDG lançou o produto "vem com tudo". Imóveis já decorados. Imóveis com móveis planejados. Compra o imóvel de um, dois, três dormitórios, e ganha o móvel, ganha sala, cozinha, quartos e banheiros. Sensacional. Por que não pensaram nisso quando comprei a minha casa própria?

Vou também inovar. Me associar a um site de relacionamento matrimonial, encontrar a cara metade do cliente, a outra face da laranja, através de um programa que calcula por algoritmo as afinidades dos proponentes. Que ganham, no meu futuro empreendimento imobiliário, sala, cozinha, quartos e banheiros, um beagle saudável sem o selo Royal, uma adega com vinho, uísque, vodca e saquê, um marido ou uma esposa! E um ano de ração grátis. Para o pet. Onde está o telefone do Mendes da Rocha?

 
16 de novembro de 2013
Marcelo Rubens Paiva, Estado de São Paulo

O VÍCIO DE COMER


Essa armadilha não lembra, de fato, a que aprisiona dependentes de nicotina, cocaína, álcool ou heroína?


O povo diz que os gordos são mentirosos e preguiçosos, andam pouco e comem mais do que confessam.

Essa visão preconceituosa está por trás do atraso da medicina no tratamento da obesidade. Quando alguém com excesso de peso procura ajuda médica, a única prescrição que leva para casa é a de reduzir o número de calorias ingeridas.

Existe recomendação mais fadada ao insucesso? É o mesmo que aconselhar o alcoólatra a beber com moderação. Quem consegue controlar a compulsão para comer ou beber não engorda nem fica bêbado.

A primeira descoberta relevante no campo da obesidade só aconteceu nos anos 1990, quando Coleman e Friedman relataram que certos ratos obesos eram insaciáveis porque apresentavam um defeito genético nas células do tecido adiposo, que as tornava deficientes na produção de leptina --hormônio ligado à inibição do apetite.

Foi a demonstração inequívoca de que havia fatores hormonais envolvidos na obesidade.

Logo ficou claro, entretanto, que essa visão hormonal era incompleta: 1) São raros os casos de deficiência de leptina. 2) Muitos obesos, ao contrário, produzem níveis mais altos de leptina, insulina e outros hormônios inibidores da fome, mas são pouco sensíveis a seus efeitos.

A visão atual compara a neurobiologia da obesidade à da compulsão por drogas, como cocaína ou heroína.

Quando a fome aperta, hormônios liberados pelo aparelho digestivo ativam os circuitos cerebrais de recompensa localizados no núcleo estriado. Essa área contém concentrações elevadas de endorfinas, mediadores ligados à sensação de prazer.

À medida que o estômago se distende e os alimentos progridem no trato digestivo, há liberação de hormônios que reduzem gradativamente o gosto que a refeição traz, tornando os alimentos menos atraentes. Os hormônios que estimulam ou diminuem o apetite agem por meio do ajuste fino dos prazeres à mesa.

Carboidratos e alimentos gordurosos subvertem essa ordem. São capazes de excitar sensorialmente o sistema de recompensa a ponto de deixá-lo mais resistente aos hormônios da saciedade. Esse mecanismo explica por que depois do terceiro prato de feijoada, já com o estômago prestes a explodir, encontramos espaço para a torta de chocolate.

À medida que o peso corpóreo aumenta, o organismo responde aumentando os níveis sanguíneos de leptina, insulina e outros supressores do apetite.

Como consequência, surge tolerância crescente às ações desses hormônios. Na obesidade, os circuitos de recompensa respondem mal à presença de alimentos no estômago, exigindo quantidades cada vez maiores para disparar a saciedade. Pessoas obesas precisam comer mais para experimentar a mesma sensação de plenitude acessível com quantidades menores às mais magras.

Como defende Paul Kenny, do Scripps Research Institute, da Flórida: "A obesidade não é causada por falta de força de vontade. Como nas drogas causadoras de dependência, a compulsão pela comida provoca um feedback' nos centros cerebrais de recompensa: quanto mais calorias você consome, mais fome sente e maior é a dificuldade para aplacá-la".

Essa armadilha não lembra, de fato, a que aprisiona dependentes de nicotina, cocaína, álcool ou heroína? O efeito sanfona não é comparável às recaídas dos usuários dessas drogas? Faz sentido: a evolução não criaria um sistema de recompensa para cada forma de compulsão.

Durante milhões de anos, a sobrevivência de nossos ancestrais esteve ameaçada pela escassez de alimentos. Como ativar a saciedade era preocupação secundária, a seleção natural privilegiou aqueles dotados de circuitos cerebrais mais eficientes em estimular a fome do que em suprimi-la.

Os avanços da culinária, a fartura, a disponibilidade de alimentos industrializados ricos em gorduras e carboidratos, os sucos, refrigerantes, biscoitos e salgadinhos ao alcance das crianças, a cultura de passar horas à mesa e a vida sedentária criaram as condições ambientais para que a epidemia de obesidade se disseminasse.

Segundo o IBGE, há 52% de brasileiros com excesso de peso ou obesidade, número que nos Estados Unidos ultrapassou 70%. Em poucos anos chegaremos lá.

 
16 de novembro de 2013
Drauzio Varella, Folha de SP

ATÉ QUE AS IMAGENS NOS SEPAREM


O Cinema Novo conquistava para nós o direito à qualidade, já se podia dizer ‘eu te amo’ no cinema brasileiro



Quando eu era adolescente, havia no país a ideia generalizada de que o Brasil jamais produziria bons filmes. Uma cinematografia nacional de respeito era coisa para quem vivia a modernidade, dominava a tecnologia, produzia coisas para um público ilustrado como não era o nosso. A ausência de um cinema de qualidade era a marca mais nítida da incompetência crônica do país, de sua inferioridade em relação ao resto do mundo.

Um jornalista chegou a escrever que a língua portuguesa não servia para cinema. “É impossível alguém dizer na tela ‘eu te amo’, sem que o público caia na gargalhada”, escrevia ele.

Foi a geração do Cinema Novo que impôs um conceito nacional de qualidade que, consagrado internacionalmente, tornou-se no mínimo polêmico entre nós. O Cinema Novo conquistava para nós o direito à qualidade, já se podia dizer “eu te amo” no cinema brasileiro.

O passo seguinte seria a conquista do público, durante a existência da Embrafilme, empresa estatal através da qual se produziram, na passagem da década de 1970 para os 80, filmes como “Xica da Silva”, “Dona Flor e seus dois maridos”, “Eu te amo”, “A dama do lotação”, “Guerra conjugal”, “Eles não usam black tie”, “O amuleto de Ogum”, “Pixote” e muitos outros. Esse andar da carruagem foi interrompido pela crise econômica que levou o Brasil à moratória e empobreceu a população, no fim dos anos 1980. E pela ascensão do presidente Collor de Mello, o carrasco da cultura brasileira.

Hoje, assistimos ao renascimento do cinema brasileiro, que começou com a Lei do Audiovisual de 1993, criada durante o governo Itamar Franco, permitindo a volta da produção nacional. Essa recuperação é chamada de “retomada”, na esperança de que não seja apenas mais um ciclo que acabe daqui a pouco, mas a inauguração do cinema como atividade permanente no país.

Segundo a Ancine, até o fim de 2013 o Brasil terá produzido 106 filmes de longa-metragem, o que será um recorde mesmo se compararmos o número com os do auge da Embrafilme. Não somos obrigados a gostar de todos esses filmes. Que cinematografia no mundo é capaz de produzir mais do que 10% de grandes filmes por ano? Vemos 60 bons filmes americanos por ano, dos 600 que eles produzem? Ou 25 dos 250 franceses? Temos até mais chance com os nossos prováveis dez, que podem ser muito mais.

Antes de fazermos um filme, o cinema é um sonho. Quando o estamos fazendo com dificuldade, parece um pesadelo. Uma vez o filme pronto para ser lançado, caímos na real. A vida continua sendo mais importante que o sonho, mas a vantagem do filme é que no cinema temos cortes e elipses, enquanto que a vida é feita de um único e interminável plano sequência linear, cheio de excessivos tempos mortos. Mas não precisamos pagar o preço de uma vida por um filme.

Pode ser que estejamos discutindo um passado que ainda não passou. Não só a televisão consolidada, como também a tecnologia digital, a grande rede, a produção audiovisual pós-industrial, tudo isso pode estar tornando o cinema, como o conhecemos hoje, um objeto de museu ou de galeria chique. Quando vejo reportagens instantâneas sobre o tufão nas Filipinas, filmes realizados por rapazes durante as manifestações de rua, programas na internet do tipo “Porta dos fundos” ou do francês Bref, longa-metragens destinados a telas que não são mais as das salas de cinema, me pergunto ansioso pelo futuro do cinema e do audiovisual.

Mas o cinema existe, não é à toa que representa hoje a terceira economia de exportação dos Estados Unidos, a maior potência econômica do mundo, vendendo para o mundo inteiro, junto com os filmes, uma mitologia, um comportamento, um modo de viver. Além de produtos da nação de origem, é claro.

Os filmes que têm feito sucesso são os que nosso público quer ver, os que fizeram de 2013 um ano excepcional para a bilheteria do cinema brasileiro. Nem armados de metralhadora podemos obrigá-lo a ver outros filmes mais a nosso gosto. A outra solução seria trocarmos de povo, importarmos uns dois milhões de franceses ou coisa parecida para substituir nosso público. Mas também não ia dar certo — no cinema da França e dos outros países, a situação é a mesma daqui.

Porém, assim como temos o dever de respeitar o gosto popular, temos também o direito de tentar mudá-lo com novas histórias, novas linguagens, novos modos de fazer. E esses novos filmes, sim, precisam de leis e decretos para lutar pelo futuro, uma atenção do estado que deve atender a todos os cidadãos, mesmo os que são minoritários.

Ainda que não gostemos do particular (os filmes), não podemos deixar de comemorar o geral (o sucesso do cinema brasileiro), e trabalhar pela sua diversidade, para que todas as telas sejam ocupadas por toda espécie de filme, de todas as tendências. Até que, quem sabe, a humanidade se canse de tanta imagem à sua disposição e decida não precisar mais de audiovisual.

 
16 de novembro de 2013
Cacá Diegues, O Globo

MAIS COMO NOS FILMES

RIO DE JANEIRO - Saí à calçada e estiquei o braço em busca de um táxi. Passaram vários, todos cheios. Levei 20 minutos para conseguir um. Muito diferente do que acontece nos filmes, em que não apenas o vilão chega à rua e para imediatamente um táxi para fugir, como o herói toma outro segundos depois e começa a perseguição.

No cinema, os bandidos armam uma bomba atômica e a equipam com um mostrador para que o herói saiba a quantos segundos ela vai explodir. Quando o herói, que é um mosqueteiro, enfrenta 20 espadachins, eles o atacam um a um, em vez de todos de uma vez. O herói resiste bem às dezenas de socos que leva dos bandidos, mas geme quando sua namorada aplica um lencinho molhado aos seus ferimentos.

Ao fugir juntos de uma ameaça, o herói e a mocinha insistem em correr de mãos dadas quando fugiriam muito mais depressa se corressem separados. Quando o herói vai ao médico, nunca será por causa de uma diarreia, mas para enfaixar o ombro ou extrair uma bala. O herói só pode ser ferido no braço --jamais será visto mancando ou com uma atadura na cabeça. Ao acordar e pular da cama, toda mulher entrará imediatamente no chuveiro e nenhuma fará xixi.

Os cavalos do cinema são à prova de balas. Todas as invasões de extraterrestres começam pelos EUA. Qualquer monstro tipo morto-vivo, mesmo que recém-saído do túmulo e arrastando os pés ao andar, consegue capturar a mocinha que tenta escapar dele. Quando uma mulher recordar sua infância, será sempre mostrada de tranças, brincando de amarelinha ou pulando corda. Ao pagar uma conta no restaurante, o galã deixará várias notas na mesa --nunca apresentará o cartão ou fará um cheque.

E por aí vai. Estes são alguns dos casos recolhidos no livro "Tous les Clichés du Cinéma", pelo francês Philippe Mignaval. A vida devia ser mais como nos filmes.

 
16 de novembro de 2013
Ruy Castro, Folha de SP

ISSO NÃO VAI ACABAR NUNCA...

Dois assessores diretos do ministro da Fazenda, Guido Mantega, estão na mira da Polícia Federal. O chefe de gabinete, Marcelo Estrela Fiche (foto), e seu adjunto, Humberto Alencar, que ocupa a chefia da Assessoria Técnica e Administrativa, são suspeitos de receberem propina da empresa Partnersnet Comunicação Empresarial, que presta serviços de assessoria de imprensa à pasta.

As denúncias são de que os subordinados de Mantega teriam recebido R$ 60 mil em pacotes de dinheiro vivo das mãos de uma secretária da empresa em Brasília. Há suspeitas também de que a Partnersnet tenha colocado na folha de pagamento do ministério funcionários fantasmas e outros que nem sequer dão expediente na capital. O caso foi revelado em matéria publicada no site da revista Época.

A Fazenda informou já ter adotado medidas para investigar o caso. Mantega enviou, na noite de quinta-feira, ofício ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, pedindo que a PF apure as denúncias. Um processo também foi aberto na Corregedoria do ministério, para investigar se os servidores receberam ou não algum tipo de vantagem da Partnersnet.

16 de novembro de 2013
Deu na Época

O HUMOR DO DUKE

Charge O Tempo 16/11
 
16 de novembro de 2013


CONFUSÃO NOVA

Ministério Público Federal será acionado para investigar denúncia de corrupção no Ministério da Fazenda

Na próxima semana, o Ministério Público Federal será acionado para investigar a denúncia de corrupção envolvendo o chefe de gabinete do Ministério da Fazenda, Marcelo Fiche, e o chefe da assessoria técnica da pasta, Humberto Alencar.

Trata-se de mais um escândalo envolvendo o governo petista de Dilma Vana Rousseff, desta vez na seara do incompetente e ainda ministro Guido Mantega.

De acordo com reportagem publicada no site da revista Época, Fiche e Alencar são acusados pela ex-secretária da empresa Partnersnet Comunicação Empresarial, Anne Paiva, de receber cerca de R$ 60 mil que ela mesma teria entregado aos suspeitos, em ao menos quatro ocasiões, no próprio Ministério da Fazenda.

A Partnersnet firmou contrato com a pasta em dezembro do ano passado, no valor de R$ 4,75 milhões, para prestar serviços de assessoria de comunicação ao gabinete do ministro Guido Mantega. Segundo a reportagem, há ainda a suspeita de que o contrato esteja superfaturado.

Para o líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR), “a gravidade da denúncia requer uma investigação aprofundada por parte do Ministério Público Federal”. O parlamentar disse que também pedirá a instalação de uma PFC (Proposta de Fiscalização Financeira e Controle) na Câmara para que o TCU (Tribunal de Contas da União) faça um “pente fino” no contrato entre o Ministério da Fazenda e a Partnersnet.
 “É lamentável que o número dois do Ministério da Fazenda esteja envolvido em denúncia de recebimento de propina. Pela intimidade que eles têm [Marcelo Fiche e Humberto Alencar] com o ministro Mantega, o escândalo poderá contaminar a credibilidade da gestão econômica”, afirmou Rubens Bueno.

O ministro não está livre de ter de comparecer à Câmara dos Deputados para explicar o envolvimento dos subordinados no escândalo, além da denúncia de superfaturamento no contrato de assessoria de imprensa do ministério com a empresa. “É mais um escândalo que se soma aos inúmeros produzidos pelo governo do PT que a oposição vai cobrar todo rigor na apuração”, disse Bueno.

O escândalo vem à tona em momento difícil para o Partido dos Trabalhadores, que chegou ao poder central, em 2003, a bordo do discurso de combate à corrupção. Uma década se passou e o PT aparece em cena como protagonista do período mais corrupto da história nacional. O imbróglio do Ministério da Fazenda surge à sombra do escândalo dos auditores fiscais paulistanos, que derrubou o secretário de Governo da gestão Fernando Haddad, e da decisão do STF de determinar a imediata prisão dos mensaleiros.

Como disse certa feita um conhecido e falante comunista de botequim, “nunca antes na história deste país”. Mesmo assim, os petistas continuam acreditando que o partido é a derradeira salvação do universo. Enfim…

16 de novembro de 2013
ucho.info

CUMPRINDO ORDENS

Parcela amestrada da mídia nacional já começa a minar o palco das prisões do Mensalão do PT

As superintendências regionais da Polícia Federal mal receberam os mandados de prisão dos condenados na Ação Penal 470 (Mensalão do PT) e jornalistas amestrados já começam a repercutir as chicanas jurídicas sustentadas pelos advogados dos réus. A principal delas é que em Brasília, para onde os condenados serão enviados após o cumprimento dos mandatos de prisão, não há vagas no regime semiaberto.

Diferentemente do que anunciam esses jornalistas que prestam um desserviço à sociedade, há na capital do País estabelecimento prisional para o cumprimento de penas em regime semiaberto. A unidade prisional está localizada no Setor Industrial e de Abastecimento (SIA).

Os advogados dos réus tentam fazer prevalecer a tese de que os condenados que se encaixam no regime semiaberto cumpram pena de prisão domiciliar. Na pior das hipóteses a Justiça pode liberar alguns presos que têm penas em fase final de cumprimento para possibilitar a abertura de vagas no sistema penitenciário. Os advogados dos mensaleiros que se encaixam nessa modalidade de cumprimento de pena alegam que será casuísmo se a Justiça adotar tal medida.
Aos réus e seus advogados cabe o direito constitucional de preservar a liberdade, desde que não haja desrespeito à legislação vigente e à decisão judicial que deu origem ao mandão de prisão. Contudo, não cabe a qualquer das partes julgar os atos do Judiciário, que na qualidade de Poder constituído tem todas as prerrogativas para garantir o cumprimento da lei.

O ucho.info reitera aos leitores para que não comemorem a prisão dos condenados no processo do maior escândalo de corrupção da história nacional, acolhendo esse momento com serenidade e respeito, independentemente das transgressões cometidas pelos réus.
O que se tem neste dia 15 de Novembro é a remoção de apenas uma nuvem negra no horizonte do Brasil. Ainda há muito para os brasileiros de bem fazerem em prol da nação, o que dispensa qualquer situação de revanchismo.

16 de novembro de 2013
ucho.info

JOGO DE CENA

Os brasileiros que se preparem, pois acaba de começar o dramalhão rocambolesco do Mensalão do PT

A ópera bufa do Mensalão do PT entra em seu segundo ato. Enquanto aguardava a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a expedição dos mandados de prisão, o ex-ministro e deputado federal cassado José Dirceu de Oliveira e Silva, um dos condenados no processo do Mensalão do PT, preparou nota em que destaca sua indignação. “Ainda que preso, permanecerei lutando para provar minha inocência e anular essa sentença espúria”.

“Não importa que me tenham roubado a liberdade: continuarei a defender por todos os meios ao meu alcance as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo brasileiro, combatendo por sua emancipação e soberania”, afirmou.

Dirceu sabe do seu envolvimento no maior escândalo de corrupção da história nacional e de sua respectiva culpa. Se de fato o ex-comissário não participou do esquema de compra de parlamentares no Congresso, por certo não poderia ter ocupado cargo de tamanha importância como o de chefe da Casa Civil. Somente um inocente convicto é capaz de acreditar que um farsante como Lula seria capaz de arregimentar a maioria do Parlamento apenas pela competência.

“Não importa que me tenham roubado a liberdade: continuarei a defender por todos os meios ao meu alcance as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo brasileiro, combatendo por sua emancipação e soberania”, escreveu o ex-ministro na nota distribuída à imprensa. O mensaleiro petista afirmou ainda que o julgamento “permanece sob o signo da exceção” e que “a pior das injustiças é aquela cometida pela própria Justiça”.

“Fui preso político durante a ditadura militar. Serei preso político de uma democracia sob pressão das elites”, completou Dirceu, tomando emprestado o discurso chicaneiro do ex-presidente e agora lobista Lula.

José Dirceu e seus comparsas devem se dar por satisfeitos com a decisão do Supremo, porque a Justiça e o Ministério Público federal preferiram não investigar a fundo todos os anéis orbitais do escândalo do Mensalão do PT, como já noticiou em diversas ocasiões o ucho.info. No guarda-chuva do Mensalão do PT estão os casos do assassinato do então prefeito Celso Daniel, de Santo André, e o que deu origem à Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Quem conhece os três casos sabe identificar com facilidade a conexão entre eles.
 Confira abaixo a íntegra da nota divulgada pelo ex-ministro e mensaleiro condenado José Dirceu
“O julgamento da AP 470 caminha para o fim como começou: inovando – e violando – garantias individuais asseguradas pela Constituição e pela Convenção Americana dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.

A Suprema Corte do meu país mandou fatiar o cumprimento das penas. O julgamento começou sob o signo da exceção e assim permanece. No início, não desmembraram o processo para a primeira instância, violando o direito ao duplo grau de jurisdição, garantia expressa no artigo 8 do Pacto de San Jose. Ficamos nós, os réus, com um suposto foro privilegiado, direito que eu não tinha, o que fez do caso um julgamento de exceção e político.

Como sempre, vou cumprir o que manda a Constituição e a lei, mas não sem protestar e denunciar o caráter injusto da condenação que recebi. A pior das injustiças é aquela cometida pela própria Justiça.
É público e consta dos autos que fui condenado sem provas. Sou inocente e fui apenado a 10 anos e 10 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha – contra a qual ainda cabe recurso – com base na teoria do domínio do fato, aplicada erroneamente pelo STF.

Fui condenado sem ato de oficio ou provas, num julgamento transmitido dia e noite pela TV, sob pressão da grande imprensa, que durante esses oito anos me submeteu a um pré-julgamento e linchamento.

Ignoraram-se provas categóricas de que não houve qualquer desvio de dinheiro público. Provas que ratificavam que os pagamentos realizados pela Visanet, via Banco do Brasil, tiveram a devida contrapartida em serviços prestados por agência de publicidade contratada.

Chancelou-se a acusação de que votos foram comprados em votações parlamentares sem quaisquer evidências concretas, estabelecendo essa interpretação para atos que guardam relação apenas com o pagamento de despesas ou acordos eleitorais.

Durante o julgamento inédito que paralisou a Suprema Corte por mais de um ano, a cobertura da imprensa foi estimulada e estimulou votos e condenações, acobertou violações dos direitos e garantais individuais, do direito de defesa e das prerrogativas dos advogados – violadas mais uma vez na sessão de quarta-feira, quando lhes foi negado o contraditório ao pedido da Procuradoria-Geral da República.

Não me condenaram pelos meus atos nos quase 50 anos de vida política dedicada integralmente ao Brasil, à democracia e ao povo brasileiro. Nunca fui sequer investigado em minha vida pública, como deputado, como militante social e dirigente político, como profissional e cidadão, como ministro de Estado do governo Lula. Minha condenação foi e é uma tentativa de julgar nossa luta e nossa história, da esquerda e do PT, nossos governos e nosso projeto político.

Esta é a segunda vez em minha vida que pagarei com a prisão por cumprir meu papel no combate por uma sociedade mais justa e fraterna. Fui preso político durante a ditadura militar. Serei preso político de uma democracia sob pressão das elites.

Mesmo nas piores circunstâncias, minha geração sempre demonstrou que não se verga e não se quebra. Peço aos amigos e companheiros que mantenham a serenidade e a firmeza. O povo brasileiro segue apoiando as mudanças iniciadas pelo presidente Lula e incrementadas pela presidente Dilma.

Ainda que preso, permanecerei lutando para provar minha inocência e anular esta sentença espúria, através da revisão criminal e do apelo às cortes internacionais. Não importa que me tenham roubado a liberdade: continuarei a defender por todos os meios ao meu alcance as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo brasileiro, combatendo por sua emancipação e soberania.”

16 de novembro de 2013
ucho.info

PIZZOLATO É CIDADÃO ITALIANO E QUALQUER NOTÍCIA SOBRE EVENTUAL EXTRADIÇÃO É ESPECULAÇÃO

 

Muita fumaça – A chance de Henrique Pizzolato, condenado à prisão no processo do Mensalão do PT e refugiado na Itália, ser extraditado é quase nula.

O Brasil e a Itália mantêm um tratado de extradição, mas o documento, no item 1 do artigo VI, é claro ao fixar as regras da recusa facultativa de extradição:

“1. Quando a pessoa reclamada, no momento do recebimento do pedido, for nacional do Estado requerido, este não será obrigado a entregá-la.

Neste caso, não sendo concedida a extradição, a parte requerida, a pedido da parte requerente, submeterá o caso às suas autoridades competentes para eventual instauração de procedimento penal. Para tal finalidade a parte requerente deverá fornecer os elementos úteis.
A parte requerida comunicará sem demora o andamento dado à causa e, posteriormente, a decisão final”.

Henrique Pizzolato se enquadra nessa modalidade porque tem dupla cidadania e como cidadão italiano não será extraditado. O ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, que abasteceu as contas do Mensalão do PT com dinheiro público, informou que pretende requerer novo julgamento, mas isso não cabe porque ele já foi julgado no Brasil e com sentença condenatória transitada em julgado. A eventual alegação de que o processo foi injusto é mera pirotecnia, pois Pizzolato foi submetido a um processo legítimo e gozou do amplo direito de defesa, como prevê a Constituição Federal. Nem mesmo a tese da ausência do duplo grau de jurisdição servirá como justificativa.

A situação é muito simples. A Polícia Federal informará oficialmente ao Supremo Tribunal Federal o não cumprimento do mandado de prisão relativo a Henrique Pizzolato. O STF pedirá ao Ministério da Justiça para que requeira junto ao governo italiano a extradição do mensaleiro condenado, mas isso não acontecerá pelo motivo acima exposto.
O Ministério da Justiça sabe que a possibilidade de o pedido de extradição ser aceito pelo governo de Roma é ínfima, mas cumprirá o ritual apenas para lavar as mãos.

Na verdade, ao PT interessa que Pizzolato esteja bem distante, pois entre todos os condenados na Ação Penal 470 ele é possivelmente o mais frágil em termos emocionais. O que funcionaria como um indutor para que, pressionado pelo cerceamento da liberdade, revele o que sabe a respeito do esquema de compra de parlamentares. Não custa lembrar que Pizzolato perdeu a proteção jurídica do PT quando acusou o ex-ministro Luiz Gushiken de ter ordenado o repasse de dinheiro do Visanet para as agências de Marcos Valério, o operador financeiro do criminoso esquema palaciano.

Um telejornal noticiou que Henrique Pizzolato teria fugido do Brasil e ingressado na Europa com documentos falsos, mas isso é mais uma aberração noticiosa, pois o ex-diretor do BB é cidadão italiano e não correria o risco de cometer um crime que o tornaria vulnerável em termos de extradição. Pizzolato entrou na Europa com passaporte italiano e não há garantia de que de fato ele esteja na Itália. Pessoas que próximas ao ex-diretor do BB garantiram ao editor do ucho.info que ele está na Europa, mas não na Itália.

Para finalizar, o site lembra que qualquer condenado tem o direito de fuga, cabendo às autoridades o dever de evitá-la. Ainda na fase final do julgamento do Mensalão do PT, Henrique Pizzolato viajou à Europa, o que na ocasião rendeu muitas especulações sobre eventual fuga. Naquele momento ele ainda não estava condenado e tinha o direito de ir e vir garantido pela Constituição. Foi a partir desse episódio que o Supremo requereu aos réus a entrega imediata dos passaportes. Era sabido que Pizzolato poderia fugir, mas as autoridades brasileiras não tiveram competência suficiente para impedir que isso acontecesse.

16 de novembro de 2013
ucho.info

E NÃO É QUE UM FUGIU E AINDA DEIXOU? CARTA DIZENDO QUE ROUBA POR SOLIDARIEDADE?


 
Henrique Pizzolato (Concórdia 9 de setembro de 1952) é um militante do Partido dos Trabalhadores (PT) há mais de 20 anos, foi diretor do Banco do Brasil e presidente do Sindicato dos Bancários em Toledo e da CUT no Paraná.
 
Concorreu a cargos eletivos, como o de vice-governador do Paraná (1994) e de vice-prefeito de Toledo (1996), sem sucesso.
 
Foi alçado a diretor de Seguridade da Previ em 1998, eleito pelos funcionários do Banco do Brasil, tendo deixado o cargo em maio de 2002, para trabalhar na eleição do presidente Lula, administrando os recursos da campanha juntamente com o ex-tesoureiro Delúbio Soares de Castro.
 
Ocupou o cargo de diretor de marketing do Banco do Brasil e antecipou sua aposentadoria após denúncias de envolvimento no caso do mensalão, em que teria autorizado a transferência de R$ 73 milhões do Fundo Visanet (administrado pelo Banco do Brasil) para as agências de Marcos Valério.

No julgamento da Ação Penal 470 (“Mensalão”) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em agosto de 2012, foi condenado,3 pelos ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro.

Em 1º de outubro de 2012, encontrava-se aparentemente fora do país, tendo deixado o território brasileiro no mês de julho, de acordo com a Polícia Federal. Voltou para o Brasil e votou no Rio de Janeiro.

Condenado pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Penal nº 470, pelos crimes de peculato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, em 13 de novembro de 2013, teve sua prisão imediata determinada, depois do julgamento do último recurso. E se mandou.

A carta do ladrão:

“Minha vida foi moldada pelo principio da solidariedade que aprendi muito jovem quando convivi com os franciscanos e essa base sólida sempre norteou meus caminhos.
 
Nos últimos anos minha vida foi devassada e não existe nenhuma contradição em tudo que declarei quer seja em juízo ou nos eventos públicos que estão disponíveis na internet.
Em meados de 2012, exercendo meu livre direito de ir e vir, eu me encontrava no exterior acompanhando parente enfermo quando fui mais uma vez desrespeitado por setores da imprensa.
 
Após a condenação decidida em agosto retornei ao Brasil para votar nas eleições municipais e tinha a convicção de que no recurso eu teria êxito, pois existe farta documentação a comprovar minha inocência.
Qualquer pessoa que leia os documentos existentes no processo constata o que afirmo.
Mesmo com intensa divulgação na imprensa alternativa – aqui destaco as diversas edições da revista Retrato do Brasil – e por toda a internet, foi como se não existissem tais documentos, pois ficou evidente que a base de toda a ação penal tem como pilar, ou viga mestre, exatamente o dinheiro da empresa privada Visanet. Fui necessário para que o enredo fizesse sentido. A mentira do “dinheiro público” para condenar... Todos. Réus, partido, ideias, ideologia.
Minha decepção com a conduta agressiva daquele que deveria pugnar pela mais exemplar isenção, é hoje motivo de repulsa por todos que passaram a conhecer o impedimento que preconiza a Corte Interamericana de Direitos Humanos ao estabelecer a vedação de que um mesmo juiz atue em todas as fases do processo, a investigação, a aceitação e o julgamento, posto a influência negativa que contamina a postura daquele que julgará.
Sem esquecer o legítimo direito moderno de qualquer cidadão em ter garantido o recurso a uma corte diferente, o que me foi inapelavelmente negado.
Até desmembraram em inquéritos paralelos sigilosos para encobrir documentos, laudos e perícias que comprovam minha inocência, o que impediu minha defesa de atuar na plenitude das garantias constitucionais. E o cúmulo foi utilizarem contra mim um testemunho inidôneo.
Por não vislumbrar a mínima chance de ter julgamento afastado de motivações político-eleitorais, com nítido caráter de exceção, decidi consciente e voluntariamente fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na Itália, em um tribunal que não se submete às imposições da mídia empresarial, como está consagrado no tratado de extradição Brasil e Itália.
 
Agradeço com muita emoção a todos e todas que se empenharam com enorme sentimento de solidariedade cívica na defesa de minha inocência, motivadas em garantir o estado democrático de direito que a mim foi sumariamente negado”.
 
16 de novembro de 2013

APRENDAM O QUE É IMPRENSA SÉRIA

Na semana em que mensaleiros vão em cana, capa da “Carta Capital” chama a atenção para o risco de extinção de uma perereca


Vou imitar os petralhas nas redes sociais e quando tentam invadir a área de comentários do blog: “Quá, quá, quá…” “Rarararara”… “Kkkkk”.
Não sei imitar o som dos zurros. Na semana em que o Supremo decretou a prisão dos mensaleiros; na semana em que José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e uma banqueira foram em cana por causa do mensalão, Mino Carta continua a assombrar o jornalismo mostrando como é que se faz.
 
A capa da “Carta Capital”, generosamente bancada por patrocínio de estatais, chama a atenção para a extinção de uma perereca.
 
Sim, leitor amigo, um mundo sem pererecas seria certamente infernal, mas digamos que o assunto poderia ficar para a semana que vem, não é? O apocalipse das pererecas ainda tardará um pouco. Vejam.
 
Carta Capital
 
É claro que Mino faz isso para a chamar a atenção. Assim, ficaria evidenciada uma suposta conspiração midiática — entenderam? —, à qual a Cartilha Capital não aderiria para demonstrar, coisa de que ninguém duvida, que faz jornalismo de outra natureza. Um leitor me mandou a imagem. Achei que estivesse me sacaneando; cheguei a pensar que era uma dessas brincadeiras da Internet… Entrei no site da revista. É tudo verdade.
 
Nem no site a prisão dos mensaleiros merece destaque. Nada disso! A revista prefere anunciar que “Dilma cospe fogo”, revoltada com a paralisação das obras. Entendi. A Cartilha certamente escreveu um texto demonstrando que a presidente faz muito bem em lutar para que obras que roubam dinheiro público tenham continuidade. É coisa de gente com moral superior.
 
Agora entendi por que tantos vagabundos, alguns disfarçados de jornalistas, e congêneres no feminino ficaram tão furiosos quando passei a assinar uma coluna na Folha. Quem deveria estar lá, no meu lugar, é um desses defensores fanáticos do sapo cururu.
 
PS: E aquele “aguenta firme”? Isso mereceria um ensaio de semiótica. Coragem, perereca!
 
16 de novembro de 2013
Reinaldo Azevedo

CHICO E O COMUNISMO


          Artigos - Movimento Revolucionário 
chllAquilo que nem Saramago suportou, a execução dos três negritos e a prisão de 75 periodistas e intelectuais independentes, ele engoliu com bom uísque e foi em frente.
Bertolt Brecht, com brutal franqueza, ensinava que a solitária virtude de quem luta pelo comunismo é a luta pelo comunismo.

Chico Buarque ocupou durante algum tempo funções privilegiadas na minha geração. Namoramos ao som de Chico. Amamos com Chico. Dançamos Chico. Mal, mas dançamos.

Chico enternecia corações, a virtude trepidava, a gente era feliz. E sabia. Éramos sócios remidos no clube da eterna juventude e bebíamos cada lágrima nos olhos tristes de Carolina.

Quantas vezes passei braço nos ombros de Pedro Pedreiro e caminhei com ele, penseiro das mesmas divagações! Há um enorme repertório, produzido por seu talento poético e musical que, a cada reprodução, me arrasta pelos pés se for preciso à minha juventude e à Porto Alegre dos anos 70.

Foi nessa época, também, que se tornou conhecido o engajamento político de Chico e seu alinhamento com o partidão (PCB). Para ele e para muitos outros, foram tempos de interditos e censuras que tinham, cá entre nós, a marca do mau gosto. E de um inexplicável medo da música. Medo da música? Quem pode ter medo da música? Parodiando Stalin - quantas divisões tem um compositor que não sejam as dos compassos de sua canção?

E a música de Chico, convenhamos, nunca produziu frêmitos revolucionários. Não, censurar Chico e tantos outros foi um erro. Mas não é essa a minha pauta. Quero falar do Chico engajado, sempre pronto a assinar qualquer mensagem de apoio ao comunismo e ao regime cubano. Resistiu e resiste até o última vilania dos ditadores vermelhos.

Aquilo que nem Saramago suportou, a execução dos três negritos e a prisão de 75 periodistas e intelectuais independentes, ele engoliu com bom uísque e foi em frente. Ante o que levou Rigoberta Menchú à deserção, Chico deu de ombros. A mais do que cinquentenária ditadura castrista continua a lhe merecer incondicional reverência.

A polêmica disputa jurídico-legislativa entre o grupo Procure Saber (formado por celebridades musicais como Chico, Caetano, Milton Nascimento, Djavan, Erasmo e Gil) e a Associação Nacional de Editores de livros reabre a discussão sobre o direito de escrever e o direito de não ser objeto da escrita alheia.

E aí, queiram ou não os membros do Grupo Saber, entra a questão da censura, muito mal vista por todos enquanto estiveram sob seu infausto escrutínio. Não há como desfrutar, simultaneamente, as vantagens da celebridade e os benefícios do anonimato.

***

Bertolt Brecht, com brutal franqueza, ensinava que a solitária virtude de quem luta pelo comunismo é a luta pelo comunismo.

Quaisquer outras às quais nós conservadores ainda tentamos, aqui e ali, atribuir algum valor são irrelevantes para Brecht. Pois bem, o objetivo final do comunismo é a eliminação da propriedade privada.
O Manifesto Comunista deixa muito claro o que Marx e Engels pensavam sobre a posse individual de bens (que segundo eles só era viável para alguns por não ser possível para todos). Dirigindo-se à sociedade burguesa, afirmaram no Manifesto: "Em resumo, acusai-nos de querer abolir vossa propriedade. De fato é isso que queremos". Tal é o generoso projeto marxista ao qual Chico Buarque adere.

No entanto, direito autoral é uma legítima forma de propriedade. Tão propriedade quanto qualquer outra.

Não deveriam os comunistas dar o exemplo, renunciando a seus direitos autorais?
Ou estimulando sua desapropriação para, por exemplo, prover fundos ao Retiro dos Artistas, em suas tantas carências?
O comunismo é uma ideia generosa e pródiga. Com os bens alheios.

16 de novembro de 2013
Percival Puggina

BOM DIA, TRISTEZA

 

Demetrio Magnoli no Imil na sala de aula
Acordei anteontem sob o impacto da notícia da expedição de mandados de prisão para os condenados do “mensalão”. Uma tristeza, inicialmente indefinível, tomou conta de mim. Sim: eles devem ser presos, em nome da democracia e da justiça.
Sim: a prisão deles é um sinal de que a igualdade perante a lei ainda tem uma chance na nossa pobre república habitada por tantas figuras “mais iguais” que as demais. Por que, então, a tristeza?

Os integrantes do núcleo político do “mensalão” foram condenados sem provas, por um recurso à teoria do domínio do fato, alegam ali (no PT, em sites chapa-branca financiados com dinheiro público) e aqui (neste espaço, por comentaristas que não se preocupam com a duplicidade de critérios morais), numa tentativa canhestra de confundir o público.
A teoria do domínio do fato, amplamente utilizada nos tribunais brasileiros, não equivale a uma noção arbitrária de “responsabilidade objetiva”, que é coisa de tiranias, e não dispensa provas.

Ela é uma ferramenta analítica destinada a identificar responsabilidades em crimes cometidos pelo concurso de agentes: no julgamento de uma quadrilha de assaltantes de banco, serão imputadas penas não só aos que empunharam armas, mas também aos planejadores da ação. Sobram provas nos autos do processo do “mensalão”. Não: a lenda do “julgamento político” não me comove nem um pouco.

A Ação Penal 470 é “um ponto fora da curva”, dizem alguns cínicos e incontáveis porta-vozes informais do governo. O diagnóstico é compartilhado por não poucos advogados de boa-fé que se habituaram às transações internas de nossa elite de fidalgos a ponto de confundirem impunidade com justiça.
Talvez seja mesmo: o STF nem mesmo abriu processo contra Antonio Palocci, apesar dos indícios clamorosos de que o então ministro cometeu um crime de Estado, violando o sigilo bancário de uma testemunha sem posses ou poder. Mas, se assim for, que o “ponto” inaugure uma nova “curva”, traçada por um compasso que não reconheça privilégios derivados do convívio nos palácios. Não: o ineditismo real ou suposto da prisão de gente de “sangue azul” não é o que me entristece.

Na hora em que li a notícia da prisão iminente dos cérebros do “mensalão” veio-me à mente uma frase de Leon Trotsky, pronunciada perante uma maioria stalinista hostil que o isolava no Partido Comunista: “Em última análise, o Partido está sempre certo, porque é o único instrumento histórico que a classe trabalhadora tem para a solução de suas tarefas fundamentais. Só podemos ter razão com o Partido e através do Partido, porque a História não criou nenhuma outra forma para a realização do nosso direito.

Os ingleses têm um lema: Meu país, certo ou errado’. Com muito maior justificação, podemos dizer: meu Partido, certo ou errado.” Dirceu, Genoino e Delúbio não são revolucionários, nem de longe, mas herdaram da tradição comunista a convicção de que o Partido possui direitos extraordinários, oriundos de uma aliança especial com a História. Por pensarem isso, agora se declaram “presospolíticos”. Sim, estou triste e sei por quê: eles não aprenderam nada, depois de um quarto de século de democracia.

Dirceu et caterva aparentemente não desviaram dinheiro público para formar patrimônios privados próprios, mas para estabilizar e reproduzir um sistema de poder. Eles fizeram o que fizeram em nome dessa ideia: a Verdade do Partido.

É bom, muito bom, que a Corte diga-lhes que nossa República não reconhece nenhuma verdade transcendental. Não estou triste, mas feliz, com o triunfo da mensagem de que a corrupção em nome de uma causa, de um Partido ou da História, escrita assim com maiúscula, é um crime tão grave quanto a corrupção em nome do vil metal. Entristece-me, isso sim, a constatação inevitável de que nossa democracia, imperfeita mas real, não conseguiu civilizá-los.

16 de novembro de 2013
Demétrio Magnoli
Fonte: Folha de S. Paulo

JUSTIÇA? ONDE?

Parte da nação se regozija, neste fim de semana, com a prisão de dez dos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão, decretada em data emblemática, a da proclamação da República. De uns tempos para cá, a palavrinha república andou ganhou ganhando prestígio. Foram os petistas que a trouxeram à baila, enchendo a boca com expressões como “valores republicanos”.

Como se valores republicanos quisesse dizer alguma coisa. Até 1991, tivemos a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ditadura que durou três quartos de século. Ainda temos, sob o tacão da Partido Comunista, a República Popular da China. Isso sem falar na República Democrática Popular da Coréia, que vem sendo governada por “ presidentes” da mesma família desde sua fundação em 1948.

Parte da nação se regozija, dizia. Pois há outra parte que não. A nação está dividida desde 1964, quando os comunistas tentaram reeditar a intentona de Prestes, com apoio da URSS, China e Cuba. Há quem pense que os militares foram os vencedores da luta contra a guerrilha. Nada disso. Os vencedores foram os derrotados.

Derrotadas na luta armada, as esquerdas venceram a luta política. Tanto que uma guerrilheira é hoje a presidente do Brasil.

Foram derrotados os comunistas? O que vemos são seus líderes em prosa e verso cantados, na literatura e no ensino nacionais, ostentando aura de heróis, dando nomes a salas, ruas e rodovias e gozando de gordas aposentadorias. Os militares, que se pretendem vencedores, foram jogados à famosa lata de lixo da História e relegados ao papel de vilões.

Enquanto o Exército não tinha verba sequer para pagar o rancho de recrutas e sua Força Aérea desfilava a pé, aos vitoriosos de 64 Fernando Henrique Cardoso conferiu honras, glória e gordas aposentadorias.

Nada mais natural, pois, que os quadrilheiros tenham se entregue à polícia brandindo punhos e a auréola dos justos, jogados ao cárcere pelas elites do país. O Supremo Tribunal Federal foi relegado, pelos “heróis”, à condição de um monumento à iniqüidade. Nada de espantar em uma nação que venera como heróis celerados como Che Guevara, Marighella e Lamarca.

As prisões tiveram ampla repercussão na imprensa internacional. Segundo The Economist, “não haverá mais jabuticabas jurídicas para os mensaleiros”, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou protelatórios os recursos da maioria dos réus que entraram com segundos embargos durante a sessão da última quarta-feira. Para o The New York Times, “problemas burocráticos” atrasaram o envio dos condenados no processo para a prisão, e, no Brasil, “é raro políticos brasileiros de alto-escalão condenados por crimes cumprirem pena na prisão”. Para o Washington Post, as prisões dos condenados dispersam especulações de que os envolvidos no esquema encontrariam brechas jurídicas para fugir de suas penas. Já a BBC classificou o mensalão como o “maior caso de corrupção” do Brasil e destacou o ato do ex-presidente do PT José Genoino que, ao se entregar à Polícia Federal ontem, ergueu seu punho e gritou “viva o PT”.

Glória ao país que decidiu pôr atrás das grades a cúpula do partido que hoje detém o poder. Restam algumas perguntinhas. Os líderes da negociata, seus autores intelectuais, foram condenados a penas significativas, mas no fundo simbólicas. Alguns ficaram alguns aninhos no cárcere, a maioria em regime de prisão aberta. Só quatro cumpriram a pena em regime fechado.

Quanto aos operadores, mandaletes de fim de linha, todo o rigor da lei. O empresário Marcos Valério, o principal operador do esquema de compra de votos no Congresso Nacional, foi condenado a 40 anos, quatro meses e seis dias de prisão a ser cumprida no regime fechado em presídio de segurança máxima. Os seis dias denotam a preocupação dos ministros em medir com precisão microscópica a justeza da pena. Mas nem tudo é tragédia na vida do mais castigado pelo STF. 40 anos, em verdade, são pouco menos de sete anos.

Qui prodest? A pergunta é velha mas se impõe. A quem beneficiou a compra de votos? Il capo di tutti i capi está livre como um passarinho e ainda ousa se pronunciar cinicamente, em apoio aos condenados: “estamos juntos”. Domínio de fato só vai até Zé Dirceu. Daí não passa. Lula sabe disso. “Quando a gente começa a mentir, não pára mais" - disse o presidente, em admirável confissão de autoconhecimento. A bicicleta precisa continuar andando. Não são bandoleiros os condenados. Mas heróis injustiçados pela suprema corte.

Zé Dirceu alega inocência e seus relevantes serviços prestados à nação. Por que então saiu voando de seu cargo. Não foi nenhum político de oposição que ordenou "Sai rápido daí, Zé!". Foi Roberto Jefferson, presidente de partido aliado do PT. Sua ordem não admitiu tergiversações. Não passaram 48 horas e o Zé se esvanecia como fumaça ao vento. Bastaram quatro palavrinhas para demitir a Eminência Parda do governo. É óbvio que atrás das quatro palavrinhas havia uma mensagem cifrada, cujo sentido, a nós, pobres mortais, não foi dado entender. Só o presidente e seu todo-poderoso ministro o captaram. E o captaram rapidinho.

Por quatro vezes, os congressistas rejeitaram a taxação dos aposentados e pensionistas, por considerá-la afrontosa a princípios jurídicos como o ato jurídico perfeito e o direito adquirido. Mas a carne é fraca. Na quinta vez, o Congresso não resistiu e inclusive obteve do mandalete gaúcho instalado no STF a autorização definitiva para implantar a taxação da velharada indefesa.

Considera-se que pelo menos uma centena de deputados foram comprados. É um punhado considerável de prostitutas, capaz de virar qualquer votação. Esses deputados não cometeram crime algum? Permanecerão impunes posando de vestais no Congresso? Da centena de implicados, 25 foram condenados e dez foram em cana. E a turma toda dos vendidos?

Resta outra pergunta mais grave, que fiz há oito anos: voto comprado vale? Venalidade pode criar legislação? Pode derrubar cláusulas pétreas e extinguir direitos adquiridos? Se cassados estes deputados, não seria o caso de cassar também seus votos passados?

Dez réus passarão alguns meses no cárcere, em celas isoladas e com a segurança necessária para continuar “trabalhando”. O país continuará sendo regido pelas leis que promulgaram a soldo do governo.

É a isso que a imprensa chama fazer justiça?


16 de novembro de 2016
janer cristaldo

INTERPOL ACIONADA PARA ENCONTRAR QUADRILHEIRO DE LULA FORAGIDO NA ITÁLIA

Interpol é acionada para encontrar ex-diretor do Banco do Brasil foragido na Itália

  • Em carta divulgada pelo advogado, ex-diretor do Banco do Brasil diz que, aproveitando a dupla cidadania, vai apelar para um novo julgamento italiano

  • Delúbio Soares se apresenta na sede da PF em Brasília 

O ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato Foto: Ailton de Freitas / O Globo
O ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato Ailton de Freitas /
O Globo
 
O ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, condenado a 12 anos e sete meses de prisão, está na Itália. Em carta divulgada pelo advogado Marthius Sávio Cavalcante Lobato, Pizzolato diz que, aproveitando a dupla cidadania, vai apelar para um novo julgamento italiano. O delegado da Polícia Federal Marcelo Nogueira confirmou que a Interpol foi acionada e que o nome e as fotos de Pizzolato já circulam na lista de foragidos da instituição.

 - A Interpol já foi acionada. O nome e as fotos de Pizzolato já circulam na lista de foragidos da instituição. É preciso contar com a ajuda das autoridades italianas nas buscas. No entanto, é importante lembrar que, já na Itália, o ex-diretor poderá solicitar asilo político - explicou o delegado.

 O delegado foi comunicado por volta das 11h40m de que o ex-diretor de Marketing Banco do Brasil deixou o país rumo à Itália. Quem deu a informação foi o advogado de Pizzolato. Ontem, agentes da PF procuraram Pizzolato em dois endereços no Rio, mas não o encontraram. O advogado dele chegou a informar que o ex-diretor de marketing iria se entregar ao meio-dia na sede da PF, em Brasília, o que não aconteceu.
 
"Por não vislumbrar a mínima chance de ter julgamento afastado de motivações político-eleitorais, com nítido caráter de exceção, decidi consciente e voluntariamente fazer valer meu legítimo direito de liberdade para ter um novo julgamento, na Itália, em um tribunal que não se submete às imposições da mídia empresarial, como está consagrado no tratado de extradição Brasil e Itália", diz Pizzolato na carta divulgada.
 
Saída de forma clandestina
 
O delegado da Polícia Federal Marcelo Nogueira explicou que Pizzolato deve ter saído do Brasil de forma clandestina, uma vez que seu nome estava na lista de procurados impedidos de deixar o país. Apesar da cidadania e do passaporte italiano, ele não tinha autorização para sair do país usando seu nome. Agora, de acordo com o delegado, cabe ao Ministério da Justiça pedir a extradição judicial do condenado.
 
A fuga teria acontecido há aproximadamente 45 dias. Segundo o delegado, a hipótese mais provável é a de que Pizzolato deixou o país pelo Paraguai, mesmo com seus dois passaportes retidos há cerca de um ano. Lá, ele teria solicitado junto a embaixada italiana um novo documento.
 
Ainda de acordo com Marcelo Nogueira, a Polícia Federal já comunicou o fato ao Ministério da Justiça e ao Itamaraty, que devem iniciar procedimento para pedir a extradição. A Interpol foi acionada para confirmar a fuga e começar as buscas junto as autoridades italianas. O ex-diretor, no entanto, pode solicitar asilo político.
 
Em decisão tomada em 7 de novembro de 2012, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, determinou que os 25 réus condenados no julgamento do mensalão teriam 24 horas para entregar os seus passaportes, inclusive os "obtidos em razão de dupla ou múltipla nacionalidade, ou seja, emitidos por estados estrangeiros". Também decretou a "proibição de ausentar-se do país, sem prévio conhecimento e autorização do Supremo Tribunal Federal".
 
Segundo o porteiro do prédio onde Pizzolato morava em Copacabana, há cerca de dois meses, o ex-diretor saiu de madrugada com uma mala e desde então não é visto no edifício. Ele diz ainda que por volta de duas semanas, a esposa dele saiu também de madrugada com duas malas e não foi mais vista no local.
 
Na carta, Pizzolato critica em vários momentos a imprensa e destaca que sua decisão levou em conta o que considerou "conduta agressiva" ao não permitir que tivesse um julgamento por uma corte diferente. Desde o início do processo, Pizzolato afirmava que o então relator, o ministro Joaquim Barbosa escondia o fato de que o dinheiro do Visanet se tratava de recurso privado e não tinha origem pública.
 
Veja também
"Minha decepção com a conduta agressiva daquele que deveria pugnar pela mais exemplar isenção, é hoje motivo de repulsa por todos que passaram a conhecer o impedimento que preconiza a Corte Interamericana de Direitos Humanos ao estabelecer a vedação de que um mesmo juiz atue em todas as fases do processo, a investigação, a aceitação e o julgamento, posto a influência negativa que contamina a postura daquele que julgará.
 
Sem esquecer o legítimo direito moderno de qualquer cidadão em ter garantido o recurso a uma corte diferente, o que me foi inapelavelmente negado.
 
Até desmembraram em inquéritos paralelos sigilosos para encobrir documentos, laudos e perícias que comprovam minha inocência, o que impediu minha defesa de atuar na plenitude das garantias constitucionais. E o cúmulo foi utilizarem contra mim um testemunho inidôneo", disse no documento.
 
Na sexta-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, expediu o mandado de prisão de 12 condenados pelo mensalão. Ontem, o ex-ministro José Dirceu e o deputado federal José Genoino se apresentaram na superintendência da PF em São Paulo.
 
Outros sete condenados, entre eles o operador do mensalão Marcos Valério, se apresentaram em Belo Horizonte (MG). Último a se entregar, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares se apresentou na manhã deste sábado em Brasília. Condenado aa 8 anos e 11 meses de prisão pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha, ele vai começar a cumprir a pena em regime semiaberto.
 
Nove réus não tiveram oficialmente o trânsito em julgado decretado. São eles: os deputados João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT); os ex-deputados Pedro Corrêa (PP-PE) e Bispo Rodrigues (PL-RJ); o ex-assessor parlamentar do PP João Cláudio Genu; o advogado Rogério Tolentino; o ex-dirigente do Rural Vinicius Samarane; e o doleiro Breno Fischberg. Não havia expectativa de prisão desses condenados.

16 de novembro de 2013
Clarissa Pains, Frederico Goulart e Sérgio Vieira - O Globo

FALTA ALGUÉM NO JULGAMENTO DO MENSALÃO: LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

 
Falta alguém no julgamento do mensalão. Exatamente o chefe supremo de todos os envolvidos no maior escândalo da história do Brasil, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva.
Que, cinicamente, primeiro, negou conhecer o esquema, para, em seguida, declarar que foi traído e, finalmente, afirmar que o mensalão era uma invenção das elites, da oposição e da mídia.
Ao deixar o governo, vazou que trabalharia para desmontar a ´farça` do mensalão. E pegou o caminho que lhe parecia mais curto.
Atacou diretamente o Supremo Tribunal Federal. Armou com Nelson Jobim, ex-presidente do STF, um encontro com Gilmar Mendes para tentar ´amolecer` o ministro. Deu-se mal.
A tentativa de chantagear Gilmar Mendes foi um fiasco. Não apenas foi ´peitado` pelo ministro do STF, como o encontro acabou transformando-se num escândalo dentro do escândalo.
Acostumado a manobrar no submundo dos ´negócios`, Lula acusou o golpe, ao agredir o presidente do STF, Joaquim Barbosa, taxando-o de ´negro complexado`. Se já estava determinado a cumprir a lei e mandar a quadrilha lulista para a cadeia, Joaquim não fez por menos.
Fez exatamente o que os brasileiros respeitáveis esperavam.
Mas, falta alguém no julgamento do mensalão. 
Antes da cassação de seu mandato, José Dirceu, mais notório dos auxiliares de Lula, ao lado de Antonio Palocci – defenestrado do poder em face do escândalo de quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira -, afirmou durante sessão da Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, provocado pelo líder da Oposição, José Carlos Aleluia (PFL), que nada fez sem o conhecimento do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Dirceu havia sido denunciado pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, como chefe da quadrilha do mensalão.
Ora, Dirceu afirmou ao Conselho de Ética, em sessão transmitida pela TV, que dava conhecimento de seus atos àquele que ocupava o mais alto cargo da República. Dedução lógica, Dirceu, no mínimo dividia o comando da quadrilha com Lula, presidente de honra do PT e presidente da República.
Vale lembrar que o escândalo do mensalão explodiu com a denúncia do então deputado Roberto Jefferson (PTB). Que declarou haver informado o presidente Lula sobre a existência do mensalão.
O governador de Goiás, Marconi Perillo, também havia advertido Lula sobre o mensalão. Em vez de barrar a falcatrua, o presidente da República passou a hostilizar abertamente o governador e a tentar impedir a reeleição de Perillo, depois que este tornou público que Lula sabia do crime.
Mesmo desmascarado, Lula não foi indiciado junto com a companheirada corrupta. Foi poupado escandalosamente pela Procuradoria-Geral da República.
Falta alguém no julgamento do mensalão. A prisão de José Dirceu e demais quadrilheiros pode ser o início de um velho sonho do brasileiro de que a Justiça funcione para todos. Não apenas para os mais pobres.
Mas, a ausência de Lula na relação dos presos mantém em aberta a dúvida do cidadão de bem de que, de certa forma, o crime compensa, quando cometido por bandidos do colarinho branco. E Lula é o mais ilustre dos bandidos do colarinho branco.
Tipos como Maluf e Collor passaram a ser tratados como reles trombadinhas, diante de Luiz Inácio Lula da Silva.
16 de novembro de 2013