Tratado de livre-comércio causaria queda na exportação de 2% do PIB per capita. Negociação entre europeus e americanos começou no início deste ano e a expectativa é acerto até o fim de 2014
Um acordo de livre comércio entre Estados Unidos e União Europeia pode redesenhar a economia global e ter o Brasil como um dos grandes prejudicados.
Caso seja de fato concluído, o tratado pode levar o país a experimentar uma queda em suas exportações, equivalente a uma redução de até 2,1% de seu PIB per capita, num cenário em que taxas de importação sejam zeradas e outras barreiras eliminadas, como padronizações conflitantes e reservas de mercado.
O cálculo, da Universidade de Munique, mede os efeitos, em 126 países, do acordo.
EUA e União Europeia discutem desde o início do ano um tratado de livre-comércio. A expectativa é que até o fim do ano que vem seja fechado um acordo que une quase metade do PIB global e um terço do comércio mundial.
O estudo mostra que todos os países fora do novo bloco registrarão queda nas vendas ao exterior e, consequentemente, perderão receitas. A Coreia do Sul seria exceção.
Os países europeus terão ganhos variados de até 10% na renda média de seus cidadãos, e os Estados Unidos serão os maiores vitoriosos, com ganho de 13,4%.
A queda das receitas para o Brasil ocorrerá nos dois destinos, segundo o estudo. Somente para os EUA, a perda seria de 30% das vendas. Os dois blocos absorvem um terço das exportações do país.
"O mundo caminha para o fim das tarifas. Se houver um acordo entre EUA e UE, começará a haver um isolamento do Brasil", diz Carlos Abijaodi, diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Entre os Brics, o Brasil perderá tanto quanto a Rússia (2,1%), será menos prejudicado que a África do Sul (3,2%), mas ficará em desvantagem em relação a Índia (1,7%) e China (0,4%).
OUTROS EFEITOS
O estudo não contempla os efeitos para o Brasil caso uma área de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia seja também criada.
Empresários brasileiros defendem que, diante das negociações entre EUA e europeus, o país deveria acelerar as tratativas para se proteger.
"Neste caso o ataque é a melhor defesa. Se eles fecharem um acordo antes do nosso, podem dizer que terão de seguir o padrão já fechado com os EUA. Teríamos de recomeçar toda a negociação e nos ajustar a outras condições", afirma Abijoadi.
Reportagem da Folha desta semana mostrou que a indústria nacional está defendendo um acordo de livre-comércio com os EUA. O Ministério de Desenvolvimento afirmou, porém, que não há conversas no momento sobre esse tema e que o foco é um acerto com a Europa.
16 de novembro de 2013
RENATA AGOSTINI - Folha de São Paulo
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