"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 31 de maio de 2015

A LÂMINA CRUEL

Assim como uma faca/que sem bolso ou bainha/se transformasse em parte/de vossa anatomia;/qual uma faca íntima/ou faca de uso interno,/habitando num corpo/como o próprio esqueleto

Os versos de João Cabral podem ser lidos a qualquer momento. Mas agora, no Rio, com a sucessão de assaltos a facadas, soam como uma verdade mais profunda. A faca íntima, a faca de uso interno, é também um símbolo de como se arrasta a questão da segurança no Rio.

Compro bicicleta, perco bicicleta, caras e baratas se perdem, elas são levadas no caminho. Isso é de menos. O difícil é ver a situação se deteriorando, como se fosse esse o curso natural. A crise de segurança é tão grande que motivou pesquisadores, criou um grupo de especialistas altamente capazes, entre eles o próprio Beltrame.

Desde quando surgiram as UPPs como alternativa, formulei algumas críticas, embora achasse a experiência importante, depois do que vi em Bidonville e Cité Soleil, ocupadas pelas forças brasileiras no Haiti. No entanto, afirmava que não existem condições de ocupar todas as comunidades do Rio: precisaríamos do exército chinês. E ainda assim em algumas favelas, como na Guerra do Vietnã, assume-se o controle de uma área durante o dia sabendo que à noite muitas vielas estarão nas mãos dos adversários.

Uma política de segurança, creio eu, precisa levar em conta múltiplas variáveis. A mais evidente é a fuga de traficantes para outros pontos, onde não chegam as UPPs. Existem outras mais sutis. Nas áreas em que o tráfico é derrotado, surge um pequeno exército de adolescentes desempregados. Sem uma política para reduzir os danos, através de curso e inserção no mercado de trabalho, a tendência é aumentar o número de assaltos. As UPPs geram problemas quando perdem para o tráfico, mas também quando ganham. Por isso devem ser consideradas apenas um instrumento.

A situação para mim é simples: temos pouco dinheiro, precisamos de inteligência. Em primeiro lugar, no sentido técnico. Os assaltos na Lagoa foram em cadeia. Era possível uma tática de monitoramento e prisão. A Polícia de Nova York já fez isso no metrô, é um caso conhecido. Onde há muito assalto, há uma chance de prender todos os envolvidos. 

O que vamos precisar também é de inteligência política. As UPPs nasceram de uma convergência entre setores sociais, inclusive empresários, como Eike Batista, que por razões óbvias não pode continuar. O governo foi ficando sozinho consigo mesmo. 
E a verdade é que para dar um novo passo é preciso reafirmar a tese de que sem a sociedade, o governo não dará conta do problema, a barbárie tende a crescer. Para realizar uma política de segurança na qual a UPP seja apenas um instrumento, é preciso reativar os laços do governo não apenas com empresários, mas com a sociedade.

Concordo com aqueles que dizem que pagam impostos e têm direito à segurança, uma tarefa inequívoca do governo. Mas a realidade é esta: o problema está fora do alcance de um governo que conte apenas com as próprias forças. Não estou pensando num processo social que transforme o carioca num suíço que telefona para a polícia porque alguém faz barulho no apartamento ao lado. Penso num motorista de ônibus em Israel que nos levava para Tel Aviv e, ao ver uma pequena fogueira na estrada, parou o ônibus e foi apagá-la. Poderia se transformar em algo pior, disse ao retomar o volante. Ele tem a consciência de que se desloca numa área de perigo e passa a se comportar de acordo com ela.

Esse encontro governo-sociedade é muito difícil no Brasil de hoje. Mas quem sabe, num caso tão grave como o do Rio, não seja um primeiro passo decisivo. Isso não significa deixar de cobrar, inclusive do aparato montado para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Até que ponto contribuem de fato com os problemas cotidianos?

As bicicletas se vão, vidas desaparecem e com elas as ilusões de que o governo consiga sozinho conter a violência. As UPPs tremem e com elas treme a convicção de que exista uma bala de prata na política de segurança. É preciso superar o estado de choque e se perguntar, por exemplo, se toda essa dinheirama gasta na segurança dos jogos trouxe algum legado e se, realmente, influi no cotidiano. Enfim, é preciso dar um balance na maneira como se empregam os recursos na segurança e certificar-se de que estão sendo bem usados. E abrir uma discussão sobre a potencial ajuda da sociedade, em mudanças de comportamento necessárias.

Governador e prefeito apontaram para a Justiça, que solta demais. Mas isso é objeto de uma batalha nas próprias leis. Leva tempo. Por que não apresentar saídas para aqui e agora? Na Lagoa, por exemplo, por que não convocar os ciclistas e discutir com eles um projeto comum? Essa distância entre o universo político e a sociedade é algo que neutraliza nossas potencialidades. Infelizmente é também um fato nacional. Estranho viver num país em que os políticos falam uma linguagem e as ruas falam outra. Mundos paralelos.

31 de maio de 2015
Fernando Gabeira

OITOCENTOS MILHÕES DO BOLSA FAMÍLIA FORAM PRO BELELÉU...

Dilma maquia Orçamento e corta R$ 800 milhões da Bolsa Família.


(Isto É) O governo garantiu que não, mas a tesoura do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai cortar pelo menos R$ 800 milhões do Bolsa Família, carro-chefe da política social do PT. Na versão oficial, o valor destinado ao programa em 2015 terá um aumento de R$ 1,2 bilhão em relação ao desembolsado ano passado. 

No entanto, uma análise mais cuidadosa feita por integrantes da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso detectou traços de maquiagem nessa conta de aparente saldo positivo. O que o governo não informou, ao anunciar o Orçamento 2015, é que, este ano, o Bolsa Família terá de absorver um custo extra decorrente de um reajuste de 10% concedido na véspera da campanha eleitoral do ano passado pela presidente Dilma Rousseff. 

Com o aumento, haverá um acréscimo de R$ 2 bilhões nas despesas com o programa. Ou seja, se o Orçamento prevê um repasse de R$ 1,2 bilhão a mais em relação ao ano passado, a conta ficará defasada em R$ 800 milhões e, em vez de aumentar, o governo reduzirá o montante destinado ao programa.

31 de maio de 2015
in coroneLeaks

PF ESTOURA CAIXA DOIS DA CAMPANHA DE PIMENTEL DO PT



(Veja) Documentos constantes do inquérito da Operação Acrônimo mostram que vai muito além da amizade a relação do empresário Benedito Oliveira Neto, operador do PT preso nesta sexta-feira, com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. Obtidos com exclusividade por VEJA, os documentos levantam a suspeita de que Bené operava uma espécie de caixa paralelo na campanha de Pimentel ao governo. Além disso, indicam que a mulher de Pimentel, Caroline Oliveira, seria dona de uma empresa fantasma utilizada pela organização criminosa

A PRIMEIRA-DAMA: Ministério Público Federal levanta a suspeita de que a mulher de Pimentel, Caroline Oliveira, seria dona de uma empresa fantasma ligada à organização criminosa comandada por Bené
A PRIMEIRA-DAMA: Ministério Público Federal levanta a suspeita de que a mulher de Pimentel, Caroline Oliveira, seria dona de uma empresa fantasma ligada à organização criminosa comandada por Bené(VEJA.com/VEJA)
A PF investiga se dinheiro proveniente de contratos públicos foi desviado, como no escândalo do petrolão, para campanhas políticas. Há a suspeita de que as empresas de Bené, que receberam cerca de meio bilhão de reais do governo federal desde 2005, tenham bancado gastos de campanhas eleitorais petistas. O termo de busca e apreensão da PF lista documentos que ligam Bené a um suposto esquema de caixa dois na campanha do petista ao governo de Minas.
“CAMPANHA PIMENTEL”: o termo de busca e apreensão da PF lista documentos que ligam Bené a um possível caixa paralelo na campanha de Fernando Pimentel ao governo de Minas Gerais
“CAMPANHA PIMENTEL”: o termo de busca e apreensão da PF lista documentos que ligam Bené a um possível caixa paralelo na campanha de Fernando Pimentel ao governo de Minas Gerais(VEJA.com/VEJA)
Bené, como se sabe, é um generoso pagador de contas do PT. Em 2010, bancou as despesas de uma casa que era usada como comitê de campanha da candidata Dilma Rousseff. Também financiou o grupo de arapongas arregimentado para produzir dossiês contra os adversários políticos dos petistas. Naquela ocasião, o empresário lidava diretamente com Pimentel, que era um dos coordenadores da campanha de Dilma.

Quem abriu as portas do PT para o empresário foi o ex-deputado federal Virgílio Guimarães, o mesmo que apresentou Marcos Valério, o notório operador do mensalão, ao partido. Segundo os investigadores, Virgílio mantém uma "sociedade dissimulada" com Bené e recebeu pelo menos 750 000 reais do parceiro.

VIRGÍLIO GUIMARÃES, O ONIPRESENTE: o ex-deputado petista apresentou Marcos Valério ao PT no mensalão; agora, ele aparece, segundo os investigadores, em “sociedade dissimulada” com o operador Bené

31 de maio de 2015
in coroneLeaks

RECEITA NÃO CONSEGUIU IDENTIFICAR 1.129 NOMES EM CONTAS DO HSBC





A Receita Federal identificou a existência de 5.581 contas, ativas e inativas, de brasileiros no Banco HSBC da Suíça. Desse total, 1.702 apresentavam saldo ao final de 2006, somando aproximadamente US$ 5,4 bilhões.
Com base na lista de titulares das contas, a Receita Federal está cruzando as informações do CPF com suas bases de dados para a identificação de contribuintes com indícios de evasão fiscal entre 2011 e 2014. O Fisco pediu ainda ao Banco Central e Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) informações sobre um primeiro conjunto de registros para buscar indícios de crimes contra o sistema financeiro e de lavagem de dinheiro.
Dentre os CPF já identificados pela Receita, há 736 contribuintes falecidos. Entre os vivos, 264 são estrangeiros, 263 com CPF suspenso, 97 com o documento cancelado, 15 pendentes de regularização e 1 com CPF nulo. O órgão arrecadador descobriu ainda 1.942 contribuintes com mais de 70 anos. O Fisco não conseguiu identificar 1.129 nomes.
A investigação ocorre com base em arquivos eletrônicos enviados pela administração tributária francesa. Com sede em Paris, a Direction Générale des Finances Publiques repassou ao Brasil 8.732 arquivos eletrônicos, cada um supostamente com o perfil de um cliente brasileiro do banco suíço. Até agora, 7.359 perfis foram verificados. Como há casos de uma mesma pessoa com múltiplos perfis de cliente, o número efetivo de titulares é menor.
Com base nas informações colhidas até agora, a Receita pretende identificar eventuais herdeiros dos 736 contribuintes falecidos, analisar vínculos entre contribuintes identificados para encontrar grupos de correntistas relacionados ou ligações entre pessoas físicas e jurídicas. Os casos mais graves identificados pelo Fisco, Banco Central e Coaf terão a investigação aprofundada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.

31 de maio de 2015
Deu na Agência Brasil

PIMENTEL NÃO COMENTA BUSCAS DA PF E SUA MULHER SE DIZ SURPRESA



Governador Fernando Pimentel não quer dar declarações


















Investigada pela Polícia Federal dentro da Operação Acrônimo, a primeira-dama de Minas Gerais, Carolina Oliveira, divulgou nota por meio de seu advogado Pierpaolo Cruz Bottini na sexta-feira, afirmando ter visto “com surpresa a operação de busca e apreensão realizada em sua antiga residência, em Brasília”.
O Estado de Minas também divulgou nota, dizendo apenas que o governo não é “objeto de investigação nesse processo”. O governador Fernando Pimentel (PT) não se pronunciou sobre a operação da Polícia Federal.
Leia a íntegra da nota da primeira-dama de Minas: “A senhora Carolina Oliveira tomou conhecimento das investigações realizadas pela Polícia Federal na manhã desta sexta-feira, mas viu com surpresa a operação de busca e apreensão realizada em sua antiga residência, em Brasília. Carolina acredita que a própria investigação vai servir para o esclarecimento de quaisquer dúvidas”.
BUSCA E APREENSÃO
Na sexta-feira, a PF vasculhou um apartamento mantido por Carolina na Asa Sul, em Brasília, no qual ela morava até se mudar para Belo Horizonte, no ano passado. A ação integra a Operação Acrônimo, que apura suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo empresas de colaboradores da campanha de Pimentel ao governo mineiro.
Carolina Oliveira é presidente do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), cargo em Minas tradicionalmente ocupado por primeiras damas do Estado. A nota, assinada pelo seu defensor Pierpaolo Bottini, de São Paulo, afirma ainda que Carolina “acredita que a própria investigação vai servir para o esclarecimento de quaisquer dúvidas”.
Em Belo Horizonte, uma das buscas e apreensões dentro da operação foi feita no apartamento do ex-deputado federal Virgílio Guimarães (PT), um dos fundadores do partido em Minas Gerais. Depois de quatro mandatos consecutivos na Câmara Federal, o ex-parlamentar não se candidatou em 2010 e lançou como candidato seu filho, Gabriel Guimarães (PT), que venceu a disputa naquele ano. Quatro anos mais tarde, foi reeleito.
Virgílio, de 66 anos, nunca escondeu ter sido ele quem apresentou o publicitário Marcos Valério – ambos são de famílias que viveram em Curvelo, Região Central de Minas -, ao ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e ao ex-ministro José Dirceu, todos condenados no mensalão.

31 de maio de 2015

EM MINAS, PRIMEIRA-DAMA ENTROU NO ESQUEMA DO CAIXA 2 DO PT



Documento que tem informações de que a empresa de Carolina Oliveira, seria uma empresa fantasma  (Foto: Reprodução)



Documentos constantes do inquérito da Operação Acrônimo mostram que vai muito além da amizade a relação do empresário Benedito Oliveira Neto, operador do PT preso nesta sexta-feira, com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. Obtidos com exclusividade por Veja, documentos levantam a suspeita de que Bené operava uma espécie de caixa paralelo na campanha de Pimentel ao governo. Além disso, indicam que a mulher de Pimentel, Caroline Oliveira, seria dona de uma empresa-fantasma utilizada pela organização criminosa.
A PF investiga se dinheiro proveniente de contratos públicos foi desviado, como no escândalo do petrolão, para campanhas políticas. Há a suspeita de que as empresas de Bené, que receberam cerca de meio bilhão de reais do governo federal desde 2005, tenham bancado gastos de campanhas eleitorais petistas. O termo de busca e apreensão da PF lista documentos que ligam Bené a um suposto esquema de caixa dois na campanha do petista ao governo de Minas.
“FINANCIADOR”
Bené, como se sabe, é um generoso pagador de contas do PT. Em 2010, bancou as despesas de uma casa que era usada como comitê de campanha da candidata Dilma Rousseff. Também financiou o grupo de arapongas arregimentado para produzir dossiês contra os adversários políticos dos petistas. Naquela ocasião, o empresário lidava diretamente com Pimentel, que era um dos coordenadores da campanha de Dilma.
Quem abriu as portas do PT para o empresário foi o ex-deputado federal Virgílio Guimarães, o mesmo que apresentou Marcos Valério, o notório operador do mensalão, ao partido. Segundo os investigadores, Virgílio mantém uma “sociedade dissimulada” com Bené e recebeu pelo menos 750 mil reais do parceiro.
31 de maio de 2015
Hugo Marques e Rodrigo RangelVeja

RECADO PARA O PT

SÃO POSSÍVEIS A AUTOCORREÇÃO E O RECOMEÇO





Nem toda crise, nem todo caos são necessariamente ruins. A crise acrisola, funciona como um crisol que purifica o ouro das gangas e o libera para um novo uso. O caos não é só caótico; ele pode ser generativo.
A atual crise política e o caos social obedecem à lógica descrita acima. Oferecem uma oportunidade de refundação da ordem social a partir do caos social e dos elementos depurados da crise. Como no Brasil fazemos tudo pela metade e não concluímos quase nenhum projeto (Independência, Abolição da Escravatura, República etc.), há o risco de que percamos novamente a oportunidade atual de fazermos algo realmente profundo e cabal ou continuaremos com a costumeira ilusão de que, colocando esparadrapos, curamos a ferida que gangrena a vida social já por tanto tempo.
Antes de qualquer iniciativa nova, o PT deve fazer o que até agora nunca fez: uma autocrítica pública e humilde dos erros cometidos. Sabemos que a direita explorará o fato, mas eu creio na força intrínseca da verdade e da sinceridade. O povo entenderá.
FREI BETTO
Cito Frei Betto, que esteve dentro do poder central e idealizou o Fome Zero. Ao perceber os desvios, deixou o governo, comentando: “O PT, em 12 anos, não promoveu nenhuma reforma da estrutura, nem agrária, nem tributária, nem política. Havia alternativa para o PT? Sim, se não houvesse jogado sua garantia de governabilidade nos braços do mercado e do Congresso; se tivesse promovido a reforma agrária; se ousasse fazer a reforma tributária recomendada por Piketty; se houvesse, enfim, assegurado a governabilidade prioritariamente pelo apoio dos movimentos sociais. Se o governo não voltar a beber na sua fonte de origem – os movimentos sociais e as propostas originais do PT –, as forças conservadoras voltarão a ocupar o Planalto”.
E, agora, concluo eu: temos posto a perder a revolução pacífica e popular feita a partir de 2003, quando ocorreu não uma troca de poder, mas a troca da base social que sustenta o Estado: o povo organizado, antes à margem e agora colocado no centro. O PT pode suportar a rejeição dos poderosos. O que não pode é defraudar o povo e os humildes, que tanta confiança e esperança colocaram no partido. E muitos, como eu e Frei Betto, que nunca nos inscrevemos no PT, mas sempre apoiamos sua causa, por vê-la justa e afim às propostas sociais da Igreja da Libertação, sentimos abatimento e decepção. Não precisava ser assim.
Nem por isso desistiremos. No espectro político atual não vemos nenhum projeto que fuja da submissão ao capitalismo neoliberal, que faça a sociedade menos malvada e que apresente lideranças confiáveis que tornem melhor a vida do povo. A vida nos ensina e as escrituras cristãs não se cansam de repetir: quem caiu sempre pode se levantar.
HUMILDE A ABERTO
O PT tem que recomeçar lá embaixo, humilde e aberto, a aprender dos erros e da sabedoria do povo trabalhador. Valem ainda os ideais primeiros: inclusão social, desenvolvimento social com distribuição de renda e redistribuição da riqueza, cuidado com a natureza. Mas tudo isso não terá sustentabilidade se não vier acompanhado por uma reforma política e tributária e pesado investimento na agroecologia.
Para que isso ocorra, precisamos acreditar na justeza dessa causa, nos fortalecer face à batalha que será travada contra o PT por aqueles que vivem batendo panelas cheias porque nunca querem mudanças por medo de perderem benefícios. Jamais usar as armas que eles usam – mentiras e distorções –, mas usar a verdade, a transparência, a humildade e a vontade de melhorar. Vale o que dom Quixote sentenciou: não devemos aceitar as derrotas sem antes dar as batalhas.

31 de maio de 2015
Leonardo Boff
O Tempo

A PROPÓSITO DO TEXTO "NÃO SEI COMO DAR UM TÍTULO A COISAS COMO ESTAS..."

"Não sei como dar um título a coiss como estas".
Que tal corrupção? Ou desonesto corporativismo? Ou oportunismo? Oportunismo do ladrão que descobrindo a oportunidade do furto sem ser notado, sente-se impune e perdoado pela estupidez daqueles que próximos, não o vigiam. Por falta de instrumentos institucionais, ou pela inócua abundância deles.
Que tal... Bem deixa pra lá, pois não faltam preciosos vocábulos que retratem muito bem o que está acontecendo no Brasil, precisamente no Congresso. 
Mas nunca "circo", senão para aqueles que estão se divertindo com o deprimente espetáculo republicano a que estamos assistindo. 
Expurgar o nome político dos registros e fatos mais do que consolidados na "casa do povo"? O que mais pode acontecer nesse país? Haja imaginação...
Autênticas organizações criminosas que agem à socapa dos possíveis controles, e organizam o caos da corrupção.
A cada escândalo, perde-se um pouco mais da esperança de que possamos no futuro edificar uma pátria com governantes e parlamentares decentes. Uma imoralidade que fere os brios nacionais.
Aqui, do lado de fora do poder, grassa a violência incendiando com o medo a sociedade, essa mesma que por falta de opção, elegemos representantes que nada representam e menos ainda a nós, cidadãos de 3a. classe, cuja obrigação única é votar, sob a pena de, se não o fizermos, sofrer as devidas sanções. E pagarmos, é claro,  os zilhões de impostos que levam 5 meses do suado salário de cada brasileiro.
Enquanto a definição da maioridade penal gera inúteis polêmicas no parlamento, somos esfaqueados e assassinados pelas "crianças" protegidas pelo absurdo estatuto do menor (ECA), uma espécie de mãezona que dá um puxãozinho de orelha no 'homicida dimenor', que após a maioridade sequer tem em seus registros policiais os crimes praticados. Anistia ampla, geral e irrestrita...
Resta saber quem vela pelos mortos que pagaram com a vida o furto de um celular ou de uma bike.
Uma legalidade que desfigura a democracia, permitindo que a violência siga impunemente, num país cuja liberdade do cidadão pagador de impostos está cerceada por tantas regras e normas, que já não sabemos se podemos acender um cigarro na calçada, ou nela beber uma latinha de cerva. Certeza temos apenas uma: nossa vida depende da compaixão de bandidos...
Aquela placa "É proibido pisar na grama" terminou por inundar a vida com tantos preceitos e princípios normativos que acabou por manietar o cidadão, tirando dele direitos essenciais. E ainda pensam em calar seus pensamentos com a censura da mídia.
Perdemos até a noção do conceito de liberdade. Hoje não sabemos definir os seus limites, ou até mesmo o seu significado.
Um cipoal de obrigações e direitos numa cambulhada difícil de destrinçar, em que sobram claramente as obrigações, com suas mordidas em nossos calcanhares e a impunidade ameaçadora que nos cerca.
Melhor exemplo, temos o desarmamento da sociedade, ou pior, temos a obrigação do voto... Um cabresto que permite a manipulação de eleitores absolutamente despreparados para votar, e assim mantidos por interesses políticos. 
Na manutenção da massificação do grande contingente que alimenta a formação dos currais eleitorais, desenhando a "democracia numérica", está o poder do continuísmo  de políticos que apenas cuidam dos seus interesses, e permanecem de costas para a sociedade.
Assistimos o impávido colosso descendo a ladeira do desgoverno, e ainda há quem não saiba dar um nome a esbórnia dos tempos atuais...

31 de maio de 2015
m.americo

NÃO SEI COMO DAR UM TÍTULO A COISAS COMO ESTAS...

O ex-senador Gim Argello agora se chama Jorge Afonso

Pensei em intitular como um circo o que anda acontecendo no Congresso. Mas os circos merecem meu respeito e minha saudade. Um mau teatro? Deles podemos escapar: é só não ir. Se a novela é ruim, a gente desliga a televisão. Mas o que fazer com essas excelências?! Vejam só.
Ex-senador pelo PTB, Gim Argello – é aquele mesmo, apadrinhado por Dilma e Renan que seria sabatinado por seus pares para ocupar uma vaga de ministro do TCU e renunciou antes – mudou de nome parlamentar no fim de seu mandato. Se alguém tentar saber algo sobre ele, no Senado Federal, nada mais encontrará nas páginas oficiais. Teria morrido? Não! Está vivinho da silva, mas não adota mais esse apelido de guerra. Voltou a ser o cidadão Jorge Afonso Argello, seu nome de batismo. Até aí, tudo bem.
Todo mundo que usa um apelido – registrado na Justiça Eleitoral –, como Chico Vigilante ou Tiririca, ou que só usa um sobrenome, tem todo o direito de voltar a ser um cidadão comum e, como tal, readotar seu nome completo. Eu mesma só assino Sandra Starling, quando, na verdade, sou Sandra Meira Starling e, até hoje, tomo um susto ou não me reconheço quando, na fila do médico ou de algum exame laboratorial, sou chamada por Sandra Meira. Mas nunca vi ninguém mandar sumir de seu prontuário na Câmara dos Deputados ou no Senado o nome que usou como parlamentar. Pois foi isso o que o Gim fez.
APAGANDO OS RASTOS
No dia 26 de dezembro do ano passado, requereu em ofício ao presidente da Casa que fosse expungido de atas, projetos, relatórios, requerimentos e discursos o nome que usava ao tempo em que circulava como pajem-mor. Você, talvez, não se recorde: era aquele que, na campanha presidencial de 2010, costumava acompanhar a candidata Dilma em suas caminhadas matinais e andanças por missas nas cidades-satélite de Brasília. Deferido o ofício em janeiro por Renan Calheiros, de Gim não resta rastro algum nos registros oficiais do Senado. Talvez – quem sabe? – para não deixar evidências que lhe criem embaraços em investigações judiciais a que já está submetido. Ou evitar que possa ser mencionado na operação Lava-Jato, o que, aliás, já ocorreu. Detalhe: o agora cidadão comum Jorge Afonso foi vice-presidente da CPI da Petrobras do ano passado, aquela que nada concluiu sobre o que investigava.
Tudo isso posto, cabe perguntar: que nome dar a isso aí?!

31 de maio de 2015
Sandra Starling
O Tempo



J.HAWILLA TEM PATRIMÔNIO BILIONÁRIO EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO



proprietário e fundador da Traffic, já havia se declarado culpado
J. Hawilla se tornou a pessoa mais importante do interior de SP

















De repórter esportivo e vendedor de cachorro quente na década de 70, o dono da Traffic, J. Hawilla, possui um patrimônio bilionário em São José do Rio Preto (SP), sua cidade natal. Torcedor do América F. C., Hawilla é proprietário da TV Tem – rede de TVs afiliadas da Globo, que cobre 2/3 de todo o Estado de São Paulo – e de empreendimentos imobiliários comerciais, como Georgina Park, avaliado em R$ 500 milhões, e residenciais, como o Quinta do Golfe, cujos investimentos somam R$ 400 milhões.
Como era de se esperar, o noticiário esportivo da TV Tem, omitiu o assunto. Dez por cento da rede pertencem à Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Brasileiro. A nota do Departamento de Justiça dos Estados Unidos informa que o empresário estaria ligado a um esquema de pagamentos de propinas relacionado ao marketing e transmissão dos jogos da Copa do Brasil, evento organizado pela CBF.
Outra acusação envolve a Traffic com com esquemas de pagamentos e recepção de propina nos negócios de patrocínio entre Nike e Seleção Brasileira. Hawilla admitiu a culpa, assumiu o pagamento de uma multa de US$ 151 milhões, na tentativa de reduzir sua possível pena, que pode chegar a 20 anos de prisão.
REPÓRTER DE RÁDIO
Os pais de Hawilla eram donos de um laticínio em Rio Preto. Ainda na década de 60 começou a trabalhar como repórter de rádio. Em 1967 ele se mudou para São Paulo e entrou na TV Bandeirantes. Em meados da década de 70 vai para a rádio e TV Globo, de onde é despedido em 1979.
Em dificuldades, começa vender cachorros quentes. Em 1980, funda a Traffic, que de empresa que vendia publicidade em pontos de ônibus, passa a vender placas em campos de futebol até se transformar em uma das maiores empresas de futebol do mundo. As atividades da Traffic incluem a administração de direitos de TV, geração de conteúdo de futebol e patrocínio de torneios, além de ser detentora de direitos de passes e imagens de jogadoras e dona de times de futebol no Brasil e no exterior.
Atualmente, detém os direitos comerciais da Copa América e Eliminatórias da Copa do Mundo e teve exclusividade na comercialização de direito internacional de TV da Copa do Mundo da Fifa no Brasil em 2014. O faturamento, segundo estimativas, é superior a US$ 500 milhões/ano.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É difícil convencer alguém que uma empresa como a TV  Globo, pertencente aos irmãos Marinho, que estão entre os 40 mais ricos do planeta, possa ter desprezado a licitação pelos direitos de transmissão da Copa do Brasil, que ela mesmo veio a transmitir, com exclusividade. O assunto é apaixonante, vamos voltar a ele. (C.N.)

31 de maio de 2015
Chico Siqueira
Estadão

ERENICE GUERRA TAMBÉM ESTÁ NO ESQUEMA DO CAIXA 2 DE PIMENTEL



Erenice, a amiga nº 1 de Dilma, tem a maior “consultoria” do DF


















A operação Acrônimo, da Polícia Federal, investiga um esquema de lavagem de dinheiro desviado de contratos com o governo federal. Na sexta-feira a PF estava na rua – e nos bons apartamentos de Brasília e de outras cidades – para buscar mais provas do esquema. Entre os alvos, além da primeira-dama de Minas, brilhava um empresário que participou da campanha de Pimentel e da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff, em 2010: o empresário Benedito Oliveira, o Bené.
Época obteve acesso ao inquérito da operação. De acordo com o Ministério Público Federal, que fundamentou os pedidos de busca e apreensão em 90 endereços, a Oli “seria uma empresa fantasma, possivelmente utilizada para os fins da ORCRIM (organização criminosa) com a conivência de sua proprietária Carolina de Oliveira Pereira” (leia abaixo).
Foi exatamente o que revelou Época em novembro passado, numa reportagem. Nela, a revista, com base em entrevistas com a turma de Pimentel e documentos sigilosos, demonstrava que a empresa de Carolina era fantasma. Mostrava também que a ascensão financeira de Bené, dono de gráficas e empresas de eventos com contratos no governo petista, coincidiu com a ascensão política de Pimentel. Bené até indicara assessores e um secretário do Ministério do Desenvolvimento. E fora o dínamo da campanha de Pimentel ao governo de Minas.
DINHEIRO A BORDO
A reportagem de ÉPOCA alavancou uma investigação da PF sobre Bené, que começara no mês anterior. Durante a eleição, ele fora detido no aeroporto de Brasília, num King Air de sua propriedade, com R$ 116 mil. Vinha de Minas. Não esclareceu a origem do dinheiro. Como se revelou na reportagem, o prefixo do avião (PR-PEG) trazia as iniciais dos filhos de Bené – daí “Acrônimo”, o nome da operação da PF. De acordo com a investigação que se seguiu, culminando com as batidas na sexta-feira, Bené era o cabeça do esquema. Foi preso, assim como o publicitário Victor Nicolato, parceiro dele, que ajudou a coordenar a campanha de Pimentel no ano passado.
O esquema de Bené, segundo as investigações, não era sofisticado. Ele conseguia contratos superfaturados com o governo do PT, valendo-se de sua influência junto a próceres do partido, lavava o dinheiro por meio de uma vasta rede de empresas – e, após embolsar sua parte, repassava o butim para sua turma. Nas palavras da PF, o amigo de Pimentel “seria o operador de organização criminosa estruturalmente ordenada e com clara divisão de tarefas, a qual teria por atividade o desvio de recursos públicos, por meio de contratos não executados e/ou superfaturados com entes federais, mormente no setor de eventos e gráfico, e a posterior lavagem desses recursos, utilizando para tanto diversas empresas, com abuso da personalidade jurídica e confusão patrimonial, inclusive com interposição de pessoas”.
ERENICE NA JOGADA
Época obteve um documento, já em poder da PF, que mostra que a investigação esbarrará em outra personagem que também orbitou a campanha e a convivência de Dilma: a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. Em maio do ano passado, Erenice acertou um contrato de sociedade com a Brasil Século III, de Virgílio Guimarães – era por meio dessa empresa, segundo a investigação, que o petista recebia dinheiro do esquema de Bené.
De acordo com a PF, o ex-deputado petista, cuja biografia se notabilizou por ter sido o agente que promoveu o encontro do publicitário Marcos Valério, preso como operador do mensalão, com o PT, era destinatário do “envio frequente de recursos financeiros de Benedito” em benefício próprio e “outras pessoas indicadas”.
O contrato entre Erenice e Virgílio visava “promover o desenvolvimento sustentável e competitivo” da FBM Farma, uma indústria farmacêutica pertencente ao grupo Hospfar Indústria e Comércio de Produtos Hospitalares, que mantém em 2015 contratos de R$ 10,6 milhões com o governo federal. Em 2014, a empresa recebeu R$ 61,4 milhões dos cofres públicos, o dobro do ano anterior. A companhia, que já foi alvo de investigação do Tribunal de Contas da União, contratou Erenice Guerra para advogar em seu favor.

31 de maio de 2015
Filipe Coutinho
Época