"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 14 de dezembro de 2013

CORONEL LÍCIO AUGUSTO MACIEL E SEU DISCURSO-DEPOIMENTO SOBRE A GUERRILHA DO ARAGUAIA QUE NUNCA FOI CONTESTADO E NÃO DEVERIA SER ESQUECIDO


Discurso do Coronel Lício Augusto Maciel na Câmara dos Deputados, em sessão solene em homenagem aos combatentes mortos no Araguaia, realizada no dia 26 Jun 2005.

[Com a aprovação do autor, o discurso foi revisado, sem comprometimento de sua essência, apenas para concatenar o texto narrativo, já que feito de improviso.]

Como participante dos acontecimentos que passo a relatar, fiz apenas um resumo dos itens mais perguntados, porque a dissertação será por rememoração dos fatos. Para isso, tiro os óculos, a fim de que aqueles que vou citar me olhem bem no fundo dos olhos e tenham suficiente coragem de afirmar que tudo o que foi dito aqui é a pura verdade - se bem que não há necessidade, porque eles mesmos já confirmaram em outras ocasiões.

O primeiro item selecionado se refere à razão da minha escolha para a missão de descobrir o local da guerrilha, que hoje se diz Guerrilha do Araguaia.

Em 1969, após a morte do terrorista Marighella em São Paulo, em seus documentos foram encontradas várias citações sobre o local da “grande área”, uma possível grande área de treinamento de guerrilha.

Eu estava chegando a Brasília em 1968, já pela segunda vez. No meu passado, em 1954, fiz o curso de paraquedista e, em seguida, o curso de Forças Especiais da Divisão de Pára-Quedistas, especializando-me na modalidade Guerra na Selva. Posteriormente, ao curso de Operações Especiais (hoje Forças Especiais) foram incorporadas outras especialidades e, mais tarde, criado o Centro de Instrução de Guerra na Selva, CIGS, no coração da Amazônia.

Detentor do curso de Forças Especiais e considerado, à época, elemento com credenciais para desenvolver operações de selva, percorri muitas vezes a rodovia Belém-Brasília, estrada pioneira (de barro). Eu e minha equipe, de 3 ou 4 homens, chegamos à conclusão, pelos indícios obtidos, de que a “grande área” estava na região do “Bico do Papagaio”, entre Xambioá, Marabá, Tocantinópolis e Porto Franco.

Não obstante, o fato mais importante que nos permitiu chegar a essa conclusão foi a prisão, em Fortaleza, do terrorista Pedro Albuquerque. Pedro Albuquerque foi preso quando tentava tirar documentos em Fortaleza. Recolhido ao xadrez, tentou suicídio, cortando os pulsos. A sentinela, ao passar, viu, deu o alarme e ele foi levado para um hospital da guarnição.

O documento resultante das declarações de Pedro Albuquerque foi enviado diretamente de Fortaleza para Brasília e chegou às mãos do General Bandeira, que imediatamente mandou buscar o preso. Enquanto eu preparava a equipe, o preso chegou e partimos, junto com Pedro, para o ponto de referência indicado por Pedro: Xambioá.

Chegamos ao Rio Araguaia, pegamos uma canoa grande, com motor de popa e fomos até ao local de Pará da Lama: era uma picada ao longo da floresta, na direção do Xingu. Andamos o dia inteiro. Chegamos ao anoitecer na casa do último morador, com o Pedro levado por nós. Não estava algemado, amarrado ou coisa assim. Ele foi acompanhando nossa equipe, livre. Há várias testemunhas desse episódio aqui presentes.

Chegamos à casa de Antônio Pereira, pernoitamos sob telheiros e, no dia seguinte, às 4 horas, prosseguimos em direção ao local indicado pelo Pedro Albuquerque. Ao chegarmos lá, avistamos três homens, ou melhor, três pessoas, pois uma era mulher, descansando para almoço, presumo. Aproximamo-nos do local para conversar com eles, para saber o que estavam fazendo ali. Eram três e, no nosso grupo, havia seis, o que levou-os a fugir.

Fiquei abismado com o estoque de comida e de material cirúrgico encontrado no local, onde havia até uma oficina de rádio, 60 mochilas de lona, costuradas (no local) em máquina industrial. Jogamos muita coisa no meio de um açude, tocamos fogo no resto e voltamos sem fazer prisioneiro.

Poderíamos ter atirado naqueles elementos. Estávamos a 80 metros: um tiro de fuzil os atingiria facilmente, pois estavam sentados. Mas nosso objetivo não era matar, não era trucidar. Nosso objetivo era confirmar o que eles estavam fazendo lá, pois, de acordo com Pedro Albuquerque, eram guerrilheiros. Estavam exatamente na área indicada por Pedro Albuquerque que, aliás, viu toda a operação.

Destruímos todos os seus aparelhos e um grande volume de frutas - melancia, jerimum etc. Ficamos impressionados com a quantidade de comida que havia lá, inclusive sacas de arroz; havia até, como já disse, uma oficina de rádio, com equipamentos sofisticados. Embora uma oficina rústica, mas que funcionava, assim como o gerador, lá atrás. O Pedro Albuquerque retornou com dois dos nossos, sendo recolhido ao xadrez de Xambioá, e continuamos nossa missão.

Como os três elementos fugitivos certamente avisaram para o resto do grupo do Destacamento C, mais ao sul, em frente a São Geraldo do Araguaia, que estávamos indo para lá, ao chegarmos os vimos fugindo com muita carga - até violão levavam. Estavam se retirando da área do Destacamento C, do Antônio da Dina e do Pedro Albuquerque.

É bom lembrar que Pedro Albuquerque nos levara ao Destacamento C, ao qual pertencera e de onde fugira porque os bandidos exigiram que fizesse um aborto em sua mulher, que estava grávida. Mas o casal não se conformou com a ordem, principalmente porque outra guerrilheira grávida tinha sido mandada para São Paulo, para ter o filho nas “mordomias” daquela cidade. Coincidentemente, ela era casada com o filho do chefe militar da guerrilha, Maurício Grabois.

Passamos a perseguir esse grupo e continuamos avançando. Embora chovesse bastante, estávamos nos aproximando. Eles resolveram soltar a carga que estavam levando e o guia, morador da área, disse-me: “Agora, nós não vamos pegar eles porque estão fugindo pra gameleira”.

Demos uma meia parada e passamos a destruir o equipamento abandonado por eles. Foi então que pressentimos a vinda de alguém pela trilha. Nós estávamos no meio da mata e esse elemento vinha pela trilha. Agachamo-nos e observamos um elemento forte, com chapéu de couro, mochila nas costas e facão na cintura. Então, quando chegou bem próximo, dei a ordem: “Prendam esse cara!”

Não sei, não posso me lembrar, se foi o Cid ou se foi o Cabo Marra que pegou o Genoíno, pois esse elemento, que dizia chamar-se Geraldo, posteriormente foi identificado como Genoíno - que naturalmente está me olhando agora. E eu tiro os óculos justamente para ele me reconhecer, porque da minha cara ninguém esquece, principalmente com aquela cara que eu estava na mata, depois de vários dias passando fome e sede, sujo, cheio de barba... Mas é a mesma cara... É o mesmo olhar de quando o encarei e disse:

“Seu mentiroso! Confesse! Você não tem mais alternativa”.

Por que eu descobri que o Genoíno era guerrilheiro?

Ele se dizia Geraldo e se dizia morador da área (claro, elemento na área, suspeito, eu mandei deter). Mesmo algemado e com tudo nas costas, uma mochila pesada e grande, ele fugiu. O Cabo Marra deu três tiros de advertência, e ele parou. Mas não parou por causa da advertência, parou porque se emaranhou no cipoal e o pessoal conseguiu pegá-lo.

Eu perguntei: “Por que você está fugindo? Nós apenas estamos querendo conversar com você. Para você não fugir, vamos ter de algemá-lo”.

“Eu sou morador” - disse ele.

Deixei o pessoal especializado em inquirição conversar com o Genoíno - até então Geraldo. O Cid conversou bastante tempo com o Genoíno e, afinal, veio a mim e disse: “Comandante, não tem nada, não”.

“Está bem” - respondi. Como eu já estava há muito tempo no mato e já tinha decidido levar esse Geraldo para Xambioá, peguei a mochila dele.

Quero também ressaltar que havia um elemento na minha equipe - já falecido - especialista em falar com o pessoal da área; um elemento excepcionalmente bondoso, ao qual presto minhas homenagens. O João Pedro, apelidado por nós de Jota Peter, ou Javali Solitário - onde estiver estará me escutando. João Pedro era quem falava com o matuto, com o pessoal da área. Eu, na minha linguagem urbana, não era entendido nem entendia o que eles falavam. Pois bem, o Javali veio a mim e disse: “Ele não tem nada. É morador da área”.

Como homem de selva que era, peguei a mochila do Geraldo e comecei a abri-la. Tirei pulôver, rede e um bocado de “bagulho” da mochila do Geraldo, até encontrar um tubo de remédio no fundo da mochila. Ao pegar aquele tubo e olhar para o Genoíno, vi que ele estava lívido, pálido. Lembro-me que ainda lhe disse: “Companheiro, fique tranquilo porque nós não vamos fazer nada com você; você é morador da área”. E abri o tubo...

Lá encontrei material típico de sobrevivência - linha de pesca fina, anzóis. Como eu havia feito um curso e só sabia teoricamente sobre o assunto, interessei-me por aquele exemplo prático, em um local de difícil acesso na selva amazônica. À medida que eu ia puxando aquelas linhas, o Genoíno - aliás, o Geraldo - ia ficando mais desesperado. E quando eu esvaziei o tubo, olhei para ele... estava branco como cera.

Quando eu olhei para ele [Genoíno]e disse: “Você não tem mais alternativa porque aqui está a mensagem”, ele disse: “Eu falo”.

Foi quando, lá no fundo do tubo, vi um papel pautado, dessas cadernetas em que todo dono de bodega na área anotava as suas vendas. Cortei uma talisca do meu lado, puxei o papel e lá estava a mensagem do Comandante do Grupamento B, da Gameleira, o Osvaldão, para o Comandante do Grupamento C, Antônio da Dina. Estava lá a mensagem que o Genoíno transportava para o Antônio da Dina. Era uma mensagem tão curta que ele, como bom escoteiro que era, poderia ter decorado, pois até hoje, mais de 30 anos passados, eu me lembro do que ela dizia. Era uma dúzia de palavras em linguajar militar, de próprio punho do Osvaldão, o Comandante do Grupamento B da Gameleira, o grupamento mais perigoso da guerrilha, como constatamos no desenrolar das lutas.

Aliás, esse foi o grupo que matou o primeiro militar na área. Antes de qualquer pessoa morrer, o grupo do Osvaldão matou o Cabo Rosa, Odílio Cruz Rosa. Depois do Cabo Rosa eles mataram mais 2 sargentos e fizeram muito mal aos militares, que nada sabiam até então. Só quem sabia era o pessoal de informações.

Bem, prosseguindo. O Genoino foi mandado para Xambioá. A essa altura ele deixou de ser suspeito e disse tudo sobre a área. Quando eu olhei para ele e disse: “Você não tem mais alternativa porque aqui está a mensagem”, ele disse: “Eu falo”.

Genoíno, olhe no meu olho, você está me vendo. Eu prendi você na mata e não toquei num fio de cabelo seu. Não lhe demos uma facãozada, não lhe demos uma bolacha - coisa de que me arrependo hoje.

Um elemento da minha equipe, fumador inveterado, abriu um pacote de cigarros, aproveitou aquele papel branco do verso, pegou um toco de lápis, não sei de onde, e o João Pedro começou a anotar o que o Genoino falava. Fui até um córrego próximo beber um pouco d’água. Voltei e o papel estava cheio, com toda a composição da Guerrilha - nomes, locais, Grupamento C, ao sul; Grupamento B, da Gameleira, perto de Santa Isabel; e Grupamento A, perto de Marabá. Eram esse os 3 grupos efetivos, em que se presumiam 30 homens por grupamento, além de um comitê militar, comandado por Maurício Grabois.

“Genoino, aquele rapaz foi esquartejado!”

Peguei aquele papel e ainda comentei com ele: “Pô, meu amigo, tu és um cara importante desse negócio aí, hein?” E mandei o Genoíno para Xambioá, onde foi recolhido ao xadrez e, posteriormente, enviado a Brasília. Três ou quatro dias depois, não me lembro, veio a confirmação da identificação: o guerrilheiro Geraldo era o José Genoino Neto.

Triste notícia veio depois. O grupo do Genoíno prendeu um filho do Antônio Pereira, aquele senhor humilde, que morava nos confins da picada de Pará da Lama, a quilômetros de São Geraldo. O filho dele era um garoto de 17 anos, que eu não queria levar como guia, porque ao olhar para ele me lembrei do meu filho, que tinha a mesma idade. Eu dissera ao João: “Não quero levar o seu filho”. Eu sabia das implicações, ou já desconfiava. Mas o pobre coitado do rapaz nos seguiu durante uma manhã, das 5h até o meio-dia, quando encontramos os três nos aguardando para almoçar. Pois bem. Depois que nos retiramos, os companheiros do José Genoíno pegaram o rapaz e o esquartejaram.

Genoino, aquele rapaz foi esquartejado!

Toda a Xambioá sabe disso, todos os moradores de Xambioá sabem da vida do pobre coitado do Antônio Pereira, pai do João Pereira, e vocês nunca tiveram a coragem de pedir pelo menos uma desculpa por terem esquartejado o rapaz! Cortaram primeiro uma orelha, na frente da família, no pátio da casa do Antônio Pereira; cortaram a segunda orelha; o rapaz urrava de dor; a mãe desmaiou. Eles continuaram, cortaram os dedos, as mãos e, no final, deram a facada que matou João Pereira. Pois bem, eles fizeram isso apenas porque o rapaz nos acompanhou durante 6 horas. Para servir de exemplo aos outros moradores, de forma que não tivessem contato com o pessoal do Exército, das Forças Armadas.

Foi o crime mais hediondo de que já soube. Nem na Guerra da Coréia ou na do Vietnã fizeram isso. Algo parecido só encontrei quando trucidaram o Tenente PM Alberto Mendes Júnior. Esse Tenente PM se oferecera voluntariamente para substituir dois subordinados que estavam feridos, capturados pela guerrilha do Lamarca. Lamarca pegou o rapaz, castrou-o, obrigou-o a engolir os órgãos genitais e trucidou-o.

Pois o crime contra o João Pereira foi muito mais grave, muito mais horrendo. E eles sabem disso. Peçam desculpas ao Antônio Pereira, se ele estiver vivo! Tenham a coragem de reconhecer, pois toda a Xambioá sabe disso!

Genoíno preso e identificado... mas a Guerrilha prossegue. Depois de matar o João Pereira, mataram o Cabo Odílio Cruz Rosa; depois do Rosa, eles mataram dois sargentos; depois dos dois sargentos, eles atiraram no Tenente Álvaro, que pode contar a história, como estou contando aqui.

Na minha versão, o Álvaro deu voz de prisão ao bandido e eles atiraram. Outro, que estava atrás, atirou nas costas do Álvaro. Depois desse ferido, houve vários outros feridos, até que, finalmente, eu fui ferido e tive que sair da área.

Porém, antes, as tropas do Exército saíram da área, ao constatar que aquele era um movimento de monta, mais planejado - planejado em Cuba.

Sabemos como funciona a mente de um comunista. Um comunista tranquilo, sem arma na mão... tudo bem. Aquilo é o que ele pensa e a nossa democracia permite isso. Mas aquele que pega em arma, tem de ser eliminado. Um homem que entra numa mata para combater em nome de um regime de Fidel Castro, esse cara tem que ser morto!

Foi então realizada a Operação Sucuri, que fez um levantamento completo de informações: do que se tratava, qual o valor do inimigo, onde ele estava, enfim, todos os itens necessários para que fosse elaborada uma ordem de operações para o combate à Guerrilha. Isso durou 5 ou 6 meses e já existe literatura publicada muito boa a respeito.

Elementos militares descaracterizados, à paisana, foram postos dentro da mata, desarmados, com identidade falsa, infiltrados na área dos bandidos. Qualquer um de nós, em sã consciência, reconhece que esses homens da Operação Sucuri foram uns heróis. Naquela época, se me tirassem as armas e me botassem na mata... não sei não... No ímpeto da juventude, talvez eu fosse, como eles foram. Eram capitães, tenentes e sargentos.

Terminada a Operação Sucuri, já sabíamos do que se tratava, confirmadas todas ou quase todas as informações que o Genoíno tinha dado. Três grupos, comando militar e a chefia em São Paulo, sob o comando de João Amazonas - que fugiu da área ao primeiro tiro. Grande valentia! Herói... João Amazonas ?! João Amazonas, repito, fugiu da área ao primeiro tiro, junto com Elza Monnerat. Deixou lá garotos, estudantes e os fanáticos comunistas, tipo Maurício Grabois, que influenciou seu filho, André Grabois, o personagem central do evento que vou relatar agora.

O comandante do Comitê militar da guerrilha era o André Grabois. A esposa dele, a Criméia, que talvez esteja me olhando, disse que o pegamos numa emboscada, mas não houve emboscada!

Como o Exército saíra da área para fazer operação de informações, a Operação Sucuri, eles cantaram vitória prematuramente: “Seu Exército é de fritar bolinho”.

Muito bem... fritamos bolinho !

Eu já estava de volta à área e recebi a seguinte ordem: “Vá à região de São Domingos a pé, porque de viatura não se chega lá. Eles destruíram uma ponte na Transamazônica.” Peguei a minha equipe e fui para São Domingos. Atravessei o rio. A ponte, de madeira, estava destruída, mas atravessei a vau. Cheguei a São Domingos e encontrei o posto da PM incendiado. Ao alvorecer daquele dia - se não me engano, 10 de outubro de 1973, eles destruíram e incendiaram o posto. Deixaram todos os militares nus, inclusive o Tenente PM comandante do destacamento; pegaram todo o armamento, toda a munição e todo o fardamento. Entraram na mata e deixaram um recado: “Não ousem nos seguir, porque o pau vai quebrar”.

Infelizmente, Criméia, seu marido morreu por isso: pude ver as suas pegadas bem nítidas, pois eles estavam carregados com cunhetes de munição, fuzis da PM, revólveres, e foi fácil seguir o grupo.

No terceiro dia, para resumir, houve o encontro. Eles estavam tão certos de que o Exército não iria lá que estavam caçando porcos. Às 6 da manhã, eu escutei o primeiro tiro e o grito dos porcos. Às 15 horas houve o combate. Vejam bem o espaço de tempo: de 6 da manhã às 15 horas. Eu estava a menos de 10 metros do primeiro homem, que era o comandante do grupo, André Grabois, filho de Maurício Grabois. Ele estava sentado, com um gorro da PM na cabeça, que tomara do Tenente, e uma arma na mão. Olhei para os meus companheiros, que vinham rastejando, e perguntei: “Será que vamos encontrar um bando de PMs aí ?”

Olhei... eles entraram em posição... e eu me levantei. Quase encostei o cano da minha arma em André Grabois: “Solte a arma !”. Ele deu aquele pulo e a arma já estava na minha direção. Não deu outra: os meus companheiros, que chegavam, acertariam o André, caso eu tivesse errado, o que era muito difícil, pois estava a um metro e meio, dois metros dele.

Foi destruído o Comando militar da Guerrilha. Todos eram formados na China, em Pequim, em Cuba. Não me lembro do nome de todos, mas citarei alguns: André Grabois; o pai, Maurício Grabois, que mandou o filho fazer curso em Cuba; o Calatroni; o Nunes. O João Araguaia se entrincheirou atrás de um tronco de árvore e não se mexeu; depois do tiroteio, saiu correndo, sem arma. Ninguém atirou no João Araguaia porque ele estava sem arma. O Nunes estava gravemente ferido, mal falava e, quando o fazia, o sangue corria pela boca, mas ele conseguiu dizer da importância do grupo e citou os nomes - não sei se nome ou codinome - de todos eles: o Zequinha, ele disse, esse é o André Grabois. Estava morto.

Esse foi o primeiro combate significativo contra os guerrilheiros, onde foram desmoralizados. Eles diziam para os soldados não entrarem na mata porque os oficiais não entravam. Ora, o próprio acampamento dos militares ficava no meio da selva...

Em seguida, ocorreu o incidente do dia 23 de outubro, 10 dias depois. Continuando na perseguição ao bando, encontramos pegadas de um grupo numeroso. Aquele grupo, do Zé Carlos, era do Grupamento A. Quando encontramos umas trilhas, depois, soubemos que era do Grupamento B, do Osvaldão. Eu já estava a menos de 100 metros do grupo quando percebi o guia voltando para a retaguarda. O guia era um morador da área, que não tinha nada com a guerra; estava lá apenas auxiliando o Exército a pegar os “paulistas”, que era como chamavam os guerrilheiros.

Quando o guia começou a retrair, achei que a coisa estava feia, mas continuei. Nisso, um dos guerrilheiros retorna, volta inesperadamente, e dá de cara comigo. Eu agachado e ele olhando para mim. Foi quando dei a ordem de prisão: “Mãos na cabeça !”.

Ele levantou uma mão e foi quando vi que era uma mulher. Ela levantou uma mão fazendo sinal de... para eu ficar olhando para a mão enquanto ela desamarrava o coldre. Dei 3 vezes a ordem de prisão, mas ela não obedeceu. Quando eu vi que ela estava abrindo o coldre gritei “Não faça isso !”. Mas ela sacou a arma e vi que não tinha jeito: atirei. Acertei a perna dela, que caiu, caiu feio. Aliás, ela não caiu, desmoronou; deu um salto, como se tivesse recebido uma patada de elefante. Ela caiu uns 3 metros adiante, tal o impacto.

Eu corri, ela não estava mais com a arma, estava nos estertores da dor, chorando e gritando. Eu disse: “Fica calma que vamos te salvar”. Procurei a arma... a selva muito cheia de folhas... não achei a arma. Meu erro: não deixei um sentinela com ela. Éramos poucos, eles eram vinte, eu precisava de gente.

Continuamos a perseguição ao grupo, e eles atravessaram o córrego. Resolvi voltar, já estava escurecendo. Quando me agachei ela atirou-me, à queima roupa. O tiro pegou na mão e acertou na face, atravessando o véu palatino e se encaixando atrás da coluna; e eu caí. Outro tiro que ela deu acertou o braço do Capitão Curió, subcomandante da equipe. O restante da minha equipe revidou, claro, encerrando a carreira de bandido da Sônia, nome da guerrilheira.

Fui carregado em uma rede e transportado na mata. Altas horas da noite, os soldados que estavam me carregando passaram os seus fuzis para um outro, do lado deles. E o que ia levando 2 fuzis, um fuzil batendo no outro, fazia muito barulho na mata, o que se propagava a longa distância. Os terroristas haviam armado uma emboscada que teria sido o fim para nós. Mas aquele companheiro, com o qual eu brigava tanto, pedindo que deixasse de fumar, nos salvou. Ele, que assumira o comando da equipe, mandou parar, para dar uma pitada. Isso, a uns 50 metros da emboscada. Paramos e ficou aquele silêncio. Eu fui estendido no chão, dentro da rede, sangrando muito, quase desacordado. Os terroristas, então, achando que havíamos pressentido a emboscada, fugiram - aqueles valentes guerrilheiros ! Claro que eles teriam matado todos nós, não tenham dúvida. Nós estávamos completamente sem atenção, pois a minha equipe estava levando o seu comandante, quase morto, para o primeiro local onde o socorro poderia alcançar.

Na localidade de São José, pediram uma ambulância para levar um ferido. De São José, a ambulância me levou para Bacaba, de lá para Marabá e de Marabá para Belém, onde passei uns dias para me restabelecer e ter condições de viajar. Depois fui levado para Brasília onde fui operado. A operação se revestia de cuidados especiais, sob o risco de ficar paraplégico para o resto de minha vida. Graças a Deus, as sequelas foram muito menores e hoje eu estou falando aos senhores aqui, com muita honra.

Encerrando, digo que é muito difícil falar em conclusões de uma luta de 4 anos. Citarei apenas 2 dos itens que alinhavei para as conclusões. Permitam-me que os leia e que recoloque os óculos para isso.

Primeira conclusão: tenho imenso orgulho de haver participado dessa luta, por ter agido positivamente para evitar que os guerrilheiros do PCdoB implantassem no País um regime comunista igual ao de Cuba, com paredão e tudo - a propósito, esse risco não acabou, alerto.

Segunda conclusão: além de prestar homenagem às bravas esposas dos militares, tanto daquela época quanto da atual, estendo aos membros da minha valorosa equipe a honra de que estou sendo alvo presentemente.

Muito obrigado
 
(14 de dezembro de 2013)

TUMA JR AFIRMA EM SEU LIVRO QUE MÁRCIO THOMAZ BASTOS PROTEGEU O MAFIOSO RUSSO BORIS BEREZOVSKY!

 

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A cada divulgação de trechos do livro de Tuma Jr, uma nova autoridade é desmascarada! Para quem defendeu Carlinhos Cachoeira, não foi surpresa as atitudes de Márcio Thomaz Bastos, mas não deixa de ser uma falta gravíssima.
 
Em seu livro “Assassinato de Reputações – Um crime de Estado”, Romeu Tuma Júnior, ex-secretário Nacional de Justiça, afirma que o ex-ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, que ocupou o cargo no primeiro governo Lula, agiu para proteger o bilionário russo Boris Berezovsky, que era procurado pela Interpol.

Boris Berezovsky. assim como os mensaleiros, fingia que era perseguido pelo regime de Vladimir Putin e mantinha um bom relacionamento com o PT. Era o investidor oculto do Corinthians na época em que o clube caiu nas mãos de outro bandido, o iraniano Kia Joorabchian.

Tuma Jr diz que tentou prendê-lo e não conseguiu devido ordem recebida do então ministro Thomaz Bastos.

“Você não pode mexer com essa pessoa”.

Em entrevista, Tuma Jr diz ter desconfiado da parceria entre Berezovsky e o Corinthians.

“Havia muitas coisas por trás disso: a criação de um banco de apostas para manipular resultados esportivos, todo o envolvimento com parte do governo federal para atuar em projetos cuidadosamente indicados, e que gerariam recursos para financiar partidos e pessoas, como era o caso da compra da Varig”.

Depois de determinar que a Polícia Federal o prendesse, em razão do mandado de busca da Interpol, Tuma Jr foi repreendido duramente por Thomaz Bastos.
E os brasileiros pensando que era só o Battisti que tinha proteção do PT!

Este é o jeito PT de acobertar mafiosos!

14 de dezembro de 2013
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E SE ELES NÃO FOSSEM SÓ CARAS-DE-PAU?

 

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Volta e meia me assoma esse pânico!
Pense bem…

Vetado aquele inacreditável “arranjo” com aquele “hotel” de R$ 20 mil por mês, José Dirceu estaria pronto a aceitar um outro “emprego”, agora de R$ 508,50 ao mês, correspondentes a 75% de um salário mínimo mais vale-transporte e alimentação, oferecido pela Cooperativa Sonho de Liberdade, formada por presidiários do Distrito Federal.

A cooperativa protocolou a oferta no Supremo Tribunal Federal na quinta-feira passada, com convite extensivo a José Genoíno e Delúbio Soares. Dirceu seria “administrador da produção de artefatos de concreto”, Genoíno poderia “costurar bolas de couro” a R$ 5 a unidade e Delúbio seria “assistente de marcenaria”.

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De 20 mil para R$ 508,50 por mês desce-se um degrau considerável, não ha o que discutir. Mas como tanto José Dirceu quanto Genoíno e Delúbio nunca trabalharam na vida fora das especialidades requeridas pela política profissional no padrão brasileiro, isto é de somenos importância. Nunca nenhum dos três viveu dos salários nominais que ganharam a qualquer altura de suas vidas e a fonte que os alimentou até aqui não ha de ter secado de repente.

E depois, o objetivo disso tudo é preencher as exigências para fazer jus ao regime semiaberto de prisão e não aumentar o patrimônio dos três prisioneiros.

Seria até simpático, portanto, sobretudo tendo em vista que estamos entrando em um ano eleitoral (se é que se pode chamar qualquer ano de um ano não eleitoral no Brasil de hoje), que eles aceitassem humilde e democraticamente o mesmo padrão de serviço e tratamento que recebem os seus colegas de presídio.

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Muito mais, pelo menos, que a antipaticíssima atitude mantida até aqui de esfregar privilégios na cara dos demais prisioneiros da Papuda, criando uma ostensiva forma de exclusão dentro da exclusão que não cai nada bem para quem pede votos na rua clamando por “justiça para os excluídos”.

Ainda que se tratasse de demagogia, seria a boa demagogia, daquelas impossíveis de se criticar.
Enfim, ha finalmente uma solução à vista para um episódio em que, quanto mais penso, mais assustador me parece.

Um empresário que contrata um prisioneiro para que ele possa fazer jus ao regime semiaberto assume formalmente um compromisso com o juiz encarregado do caso de co-tutelar o prisioneiro que lhe será entregue em confiança durante o dia, para que ele não fuja às regras estabelecidas para esses casos.

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É por isso que tais propostas de emprego precisam ser formalmente submetidas à Vara de Execuções Penais que avaliará a confiabilidade do candidato ao cumprimento de tal missão.

Se isto não é do conhecimento do grande público certamente é do conhecimento de todo e qualquer advogado, especialmente dos criminalistas como os que defendem estes condenados.

E, no entanto, o sr. José Dirceu teve o desplante de enviar ao Supremo Tribunal Federal da Nação um minucioso dossiê informando que o primeiro “empregador” que se candidatou a abriga-lo e que, como não podia deixar de ser, o tribunal vetou, é um “laranja” residente nos subúrbios de Ciudad del Panama, que aparece como “proprietário de mais de 1000 empresas” naquele paraíso fiscal, notório em todo o planeta pelas facilidades que oferece para lavar dinheiro do crime organizado.

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O primeiro impulso do incrédulo observador aqui de fora seria imaginar que José Dirceu e companhia estão tão acostumados à impunidade e aos privilégios que ele nem se deu conta desse pormenor.

Mas protocolar oficialmente um dossiê como este na mais alta corte da Nação no momento em que o país inteiro está com os olhos voltados para eles não cabe nesse tipo de raciocínio nem em se tratando de figuras ha tanto tempo cevadas na impunidade.
Afinal, é para isso que servem os advogados que atendem esses senhores que estão, supostamente, entre os profissionais mais bem pagos do país. Mesmo considerando-se que é de dinheiro fácil que se trata, este que vêm recebendo, não é de se admitir esse nível de desleixo.

Não ha, portanto, como desculpar algo como isto ou como compreender esse episódio fora da pior entre as hipóteses possíveis.

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Pois a verdade é que episódios do gênero acontecem todos os dias nas mais altas esferas do partido que nos governa, tendo a última delas envolvido ninguém menos que o Ministro da Justiça em pessoa num flagrante – ou pior, numa confissão – de falsificação de prova e de crime de falsidade ideológica no caso da “tradução” de declarações de um executivo da Siemens para dentro da qual sua excelência e/ou seus funcionários contrabandearam nomes e acusações que nunca estiveram nos originais.

A esta altura, portanto, o que assusta mais não é a desfaçatez nem a ausência de limites morais ou legais capazes de deter os agentes do partido do governo nessas enrascadas policialescas em que se têm metido mas a espantosa incompetência que eles demonstram não só nessas manhas e artimanhas em que é de se supor que se deveriam ter especializado nos tempos de clandestinidade, mas em tudo o mais quanto fazem, especialmente com a economia nacional.

Pois o que tudo isso nos sugere é que a probabilidade mais alta é a de que não sejam deliberados os passos que têm metido o partido nessas enrascadas mas, o que é muito pior, também os que o estão levando a limar temerariamente a herança bendita que resgatou a duríssimas penas a credibilidade do país como player respeitável neste jogo econômico global que não perdoa o menor erro. Tudo não passa mesmo de uma sucessão de trapalhadas de quem, se tem alguma ideia do que deseja fazer, não tem nenhuma sobre como fazer, exatamente porque nunca teve qualquer experiência anterior senão a de desconstruir o que outros construíram.

a11

14 de dezembro de 2013
vespeiro
 

1 MINUTO COM AUGUSTO NUNES

O medo de ouvir do governo é a maior prova de que Tuma Jr. tem muito a dizer


O SUCESSO DO BLOCO DA PAPUDA...

A marchinha inspirada em Dirceu avisa que o Bloco da Papuda vai brilhar no Carnaval





Delúbio Soares achava em 2005 que o mensalão daria em nada e acabaria virando piada de salão. Deu cadeia e, como atesta o áudio enviado pelo comentarista José Limeira, começou a virar tema de anedotas carnavalescas.
A marchinha Cadê o Zé?, de Luiz Trevisani, é só o começo.
José Genoino tem reiterado que os “presos políticos condenados pelo Supremo Tribunal Federal não podem ser esquecidos pelos companheiros”.
José Dirceu acabou de ganhar uma marchinha para chamar de sua. Os parceiros da cela S 13 logo serão lembrados.
O Bloco da Papuda tem tudo para brilhar no Carnaval de 2014.

14 de dezembro de 2013
in Augusto Nunes

OS SHOWS DE 2013

VALE A PENA VER DE NOVO: HÉLIO BICUDO DESMASCARA LULA

 
 
Hélio Bicudo desmascara Lula
 
 
14 de dezembro de 2013

OBAMA É ACUSADO DE MENTIR SOBRE ATAQUES DE GÁS SARIN NA SÍRIA


Um jornalista americano ganhador do Prêmio Pulitzer acusou o presidente Obama de mentir ao povo americano no começo deste ano quando culpou o presidente sírio Bashar al-Assad de um ataque de gás sarin que matou centenas de civis sírios em agosto. O ataque veio na verdade dos rebeldes islâmicos.
 
Seymour Hersh, de 76 anos, ficou conhecido internacionalmente em 1969 por expor o Massacre de My Lai e seu acobertamento durante a Guerra do Vietnã, pelo que ele recebeu o Prêmio Pulitzer de 1970 por Jornalismo Internacional.
Ele disse que uma ex-autoridade superior dos serviços de inteligência dos EUA lhe disse que o governo de Obama havia alterado as informações disponíveis — em termos de seu tempo e sequência — para fazer parecer o que não era.
Barack Obama: manipulando informações confidenciais
 
Hersh também disse que seus contatos falaram de “frustração imensa dentro das forças armadas e da burocracia de espionagem” com relação ao atual presidente dos EUA. Segundo ele, eles estão se queixando: “Como podemos ajudar esse cara [Obama] quando ele e seus camaradas na Casa Branca inventam informações secretas?”
 
Hersh também afirmou que o governo de Obama escondeu informações secretas sobre o envolvimento do al-Nusra, um grupo islâmico radical ligado à al-Qaeda, aos ataques de sarin. Ele também disse que os meios de comunicação dos EUA não questionam as informações que recebem do governo.
 
O governo da Síria é islâmico, mas uma facção tolerante com os cristãos. No entanto, os rebeldes da Síria, que têm sido apoiados pela CIA e pelo governo dos EUA, estão ligados a terroristas islâmicos, e estão dizimando a população cristã da Síria.
No final das contas, uma resolução da ONU acabou impedindo uma intervenção militar americana.
 
Essa não é a primeira vez que Hersh acusou o presidente Obama de mentir. Em setembro, ele também atacou ferozmente os meios de comunicação dos EUA por não desafiarem a Casa Branca em muitas questões, do escândalo de espionagem da NSA à agressão à Síria.
 
De acordo com Hersh, o problema é que os meios de comunicação dos EUA estão permitindo que o governo de Obama e suas mentiras escapem impunes.
“É de dar pena. Eles são mais do que servis, eles estão com medo de incomodar esse cara [Obama].”
 
Hersh disse que a imprensa americana gasta “muito tempo agindo como meros empregados de Obama.”
 
“A República dos EUA está em crise. Mentimos sobre tudo. A mentira se tornou a principal matéria-prima,” disse ele.
 
14 de dezembro de 2013
Julio Severo
Com informações do DailyMail.

GANGUE DE LULA, O "BARBA", DE REPENTE, MODERA CRÍTICA AO SUPREMO

PT modera crítica ao STF em documento que condena o processo de mensalão
 
 
O 5º Congresso do PT aprovou neste sábado (14) uma resolução que afirma que os réus do mensalão foram condenados sem provas e acusa a mídia e a oposição de tentarem criminalizar o partido e influir nas eleições.
 
O documento causou racha por não atacar o STF (Supremo Tribunal Federal) e não defender a anulação do julgamento, como cobrava a ala mais radical da legenda.
 
Sob pressão do Planalto, que temia prejuízo à campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, a cúpula petista apresentou um texto mais moderado que o original e sem críticas ao STF.
 
"Nós não podemos ter um partido dividido ao meio. Nossa obrigação é construir a maior unidade possível", afirmou o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), falando em nome da direção petista.
 
Depois de ouvir vaias de alguns delegados do partido, ele disse: "Temos plena convicção a inocência dos companheiros Dirceu e Genoino. Minha posição é clara: nunca houve mensalão, compra de votos e corrupção ativa ou passiva."

 Sérgio Lima/Folhapress 
Militantes do PT aprovam documento contra processo do mensalão em ato do partido
Militantes do PT aprovam documento contra processo do
mensalão em ato do partido

 
O texto aprovado com apoio da cúpula petista não cita os presos e diz que a sigla apoiará iniciativas de militantes e movimentos sociais pela "reparação das injustiças e ilegalidades contra os companheiros condenados".
 
Uma dirigente do PT paulista, Misa Boito, foi aplaudida ao cobrar que, em vez de apoiar iniciativas de terceiros, o partido liderasse a ofensiva contra o STF.
 
"As instituições carcomidas, como o STF, querem acuar o PT e o movimento popular. Nós não temos que fazer comentários, temos que agir", discursou Boito, da corrente minoritária O Trabalho.
 
"Amanhã o PT pode ver outros dirigentes na cadeia porque se recusou a pedir a anulação da ação penal 470", prosseguiu, referindo-se ao processo do mensalão.
 
Nos três dias do encontro, encerrado neste sábado, petistas atacaram o STF e seu presidente, Joaquim Barbosa. No entanto, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula evitaram o tema em seus discursos.
 
O PT também aprovou uma moção pela desmilitarização das polícias e com críticas à violência das PMs na repressão aos protestos de junho.

14 de dezembro de 2013
BERNARDO MELLO FRANCO - Folha de São Paulo

"O ACORDE DISSONANTE"

Como Fernando Henrique, o candidato que tinha tudo para dar errado, virou o presidente certo na hora mais incerta

0 sociólogo convertido em político aos 48 anos tinha tudo para dar errado como candidato a qualquer coisa. Tal suspeita vira certeza com a leitura das revelações de Fernando Henrique Cardoso no livro escrito em parceria com o jornalista americano Brian Winter.
 
A versão em português de O improvável Presidente do Brasil (Civilização Brasileira: 368 páginas; 35 reais) justifica o título com a exposição de traços de temperamento, marcas de nascença, heranças genéticas e outras particularidades que, se favoreceram a trajetória vitoriosa do professor admirado em muitos sotaques, pareciam condenar ao fiasco o político aprendiz. E reafirma que a chegada de FHC ao Palácio do Planalto em 1994 foi muito mais surpreendente que o triunfo de Lula ou sua substituição por Dilma Rousseff.
 
O grande viveiro de cabeças baldias tem tudo a ver com o ex-operário sem compromisso com a verdade (e o plural) ou com a mulher que fala dilmês (e não diz coisa com coisa). Assombrosa, portanto, é a constatação de que um intelectual puro-sangue foi autorizado pelo voto a reinar, durante oito anos, num país em que a palavra elite deixou de designar o que há de melhor num grupo social para tomar-se estigma. Foi Fernando Henrique o acorde dissonante na ópera do absurdo composta pelos que o antecederam e retomada por seus sucessores.
 
Vistos de perto, os presidentes brasileiros exibem muito mais semelhanças que diferenças. Se estivessem vivos, todos seriam parceiros na base aliada. Menos Fernando Henrique Cardoso. informam os paradoxos que fizeram dele uma figura sem similares.
 
No país do futebol e do Carnaval, ele jamais calçou um par de chuteiras e não vestiu fantasias nem mesmo quando criança. Na terra dos extrovertidos patológicos, que na campanha se engalfinham com um eleitor desconhecido a cada metro e derramam lágrimas de esguicho na vitória ou na derrota, ele nunca foi além de tapinhas nas costas e chorou menos que Clini Eastwood.
 
No Brasil dos analfabetos sem cura, que instalam e mantêm no poder populistas iletrados, dedicou a maior parte da vida a ensinar, pesquisar, ler, escrever e, sobretudo, pensar. "Como poderia um professor de sociologia, paulista (embora nascido no Rio), "elitista", "sem carisma" e "arrogante" derrotar um homem como Lula? M, perguntava-se.
 
Um marqueteiro da tribo de Duda Mendonça trataria de reconstruí-lo dos cabelos (sempre com cada fio em seu lugar) aos sapatos (muitos de cromo alemão). Em junho de 1994, com o candidato já em campanha pela Presidência, publicitários amigos tentaram aproximá-lo do que chamavam de "povão" com mudanças menos radicais.
 
"Decidiu-se que eu devia aparecer mais em mangas de camisa e tentar mostrar mais senso de humor", exemplifica. "Especulava-se também que talvez eu precisasse de um apelido. Alguém sugeriu FHC, mas concluímos que era muito parecido com DDT. Acabamos ficando mesmo com Fernando Henrique."
 
Com anêmicos 19% nas pesquisas que mantinham Lula acima de 40%, pensou em desistir. Não podia imaginar que derrotaria duas vezes, ambas no primeiro turno, o adversário invencível. Muito menos que FHC seria, ao lado de JK, uma das duas únicas siglas tombadas pelo patrimônio político nacional.
 
"Sempre tive muita sorte", reconhece o beneficiário de uma extraordinária soma de acasos, ventos favoráveis, coincidências intrigantes e talento de sobra. Feliz com a vida de chanceler, foi surpreendido pelo presidente ltamar Franco com o convite para assumir o Ministério da Fazenda. Nunca entendeu as razões da escolha de um sociólogo sem intimidade com assuntos econômicos para domar a hiperinflação. Repassou a tarefa a uma equipe de especialistas que montaram o Plano Real com o expurgo dos erros que haviam cometido no Plano Cruzado.
 
"Fui eleito pela economia", reconhece Fernando Henrique no capítulo que narra a mais espetacular virada eleitoral desde a redemocratização do país. Mas foi reeleito por milhões de brasileiros convencidos de que a estabilidade da moeda fora apenas a maior e mais improvável proeza do presidente. Há muitas outras no livro, que é uma espécie de "Fernando Henrique Cardoso para Estrangeiros".
 
Não há nada que lembre a densidade informativa e a profundidade analítica do essencial A Arte da Política, coordenado pelo jornalista Ricardo Setti — hoje colunista da VEJA.com. "Mas nunca me referi de modo tão pessoal a certos acontecimentos", avisa FHC.
 
"É mais fácil, às vezes, entrar em pormenores pessoais conversando em outro idioma." As revelações em inglês permitem conhecer melhor alguns interiores, até agora indevassados, do homem que mudou a história de um país que pedia socorro em português.

14 de dezembro de 2013
Augusto Nunes, Veja
 
 
 

AINDA SOBRE MANDELA.

OU: O INCRÍVEL CASO DO MENINO MUITO SENSÍVEL QUE NÃO GOSTA DE FATOS.
OU: EU, O "RESSENTIDO"


Não crianças, aquele símbolo ali atrás não é o do "paz e amor"...

Ai Que tédio!
 
Lá vou eu dar um pouco mais de atenção ao tal de Giovane e rebater o que ele escreveu mais uma vez sobre mim. Giovane é admirador/fã/tiete/devoto de Nelson Mandela. Não do Mandela real, do Mandela-homem, de carne e osso, que comandou o CNA e que foi amigo de ditadores, como mencionei anteriormente. Mas do Mandela-mito, o Mandela Nobel da Paz, o Mandela da música, das celebridades, da Madonna e do Bono Vox. É sobre esse Mandela, o da propaganda, que Giovane quer falar, e dele somente. Eu estou em outra, como vocês sabem.
 
Giovane tem um blog. O Blog do Giovane. Rebati, ponto a ponto, um texto que ele escreveu, em que cita meu blog. Achei que o rapaz já tinha entendido o recado. Uma pessoa honesta ou, pelo menos, minimamente inteligente, teria percebido a gafe, pediria desculpas pelas besteiras que disse, prometeria estudar um pouco mais e colocaria a viola no saco. Ou então, passaria ao contra-ataque, tentando achar algum erro factual ou lógico em minha argumentação. Mas não o Giovane. Ele está acima desse tipo de coisa mundana. Em lugar de rebater meu texto, com fatos e lógica, ele comete mais um, no qual prefere insistir em me citar sem me refutar. Pior: insiste em me chamar de "ressentido" e outros adjetivos por essa minha mania de colocar fatos à frente de cultos à personalidade (algo que exala um indisfarçável odor de totalitarismo, e o caso de Mandela não é exceção). Vamos lá, mais uma vez. Já que o Mandela-boy não se emenda, espero que pelo menos os leitores do blog tirem algum proveito.
 
Giovane não gosta de fatos sobre Nelson Mandela. Ele acha que isso é coisa de gente ressentida, invejosa. Tanto que só escreve a palavra entre aspas ("fatos"). Tem, portanto, a obrigação de refutá-los, mostrar que são falsos, mas não é isso que faz. Para ele, não importa que os fatos sejam verdadeiros ou não (aliás, ainda espero provarem que os fatos que mencionei são falsos). Ele também não gosta de refutar argumentos. Tanto que novamente não o faz, e reconhece isso abertamente. Em vez disso, menciona meu blog. Cita meu texto, diz que ele é um amontado de clichês, mas não refuta NADA que está lá escrito... Simplesmente me chama de "ressentido", e pronto. E ainda diz que não faz "argumentação ad hominem". (!!!!)

Giovane não gosta da razão (ou do "culto da racionalidade", como ele escreveu no primeiro texto). Diz isso, e alega um suposto "princípio ético" ao ter postado um comentário aqui. Princípio ético que pelo visto esqueceu na hora de escrever seus dois textos inacreditáveis, já que cita meus textos sem refutá-los e, de quebra, ainda me brinda com um modelo de argumentação ad hominem, como vocês verão adiante. Rebati tudo que ele escreveu, mas ele acha pouco. Mais: ele não está nem aí. Tanto que, em vez de dizer onde eu errei ou faltei com a verdade, ele se limita a dizer que eu "não entendi" o que ele escreveu. De fato, não entendi até agora. Se eu tivesse de apostar, diria que ele escreveu o que escreveu para negar fatos inegáveis sobre seu ícone/deus/pai. É a hipótese mais provável. E ainda faz o que deve achar uma ironia sofisticadíssima: "não sou professor de pré-primário". Não duvido. Para ser professor, mesmo que de criancinhas, tem de ter algum apreço pela inteligência. Não parece ser seu caso.
 
Giovane acha que fiquei "visivelmente ofendido" com o que ele escreveu a meu respeito (tolinho: estou rindo até agora). Ele diz isso porque me dei ao trabalho de responder a seu texto, e publiquei alguns comentários no seu blog. Eu achava que, ao fazer isso, eu estava sendo apenas honesto. Ele também acha que sou "vingativo" e duvida de minha racionalidade (que ele despreza, diga-se), entre outras coisas, porque eu disse "quem escreve o que quer, lê o que não quer" (uma grande "ameaça", como se pode ver...). Fico me perguntando por que eu quereria me vingar de alguém que me faz rir tanto com essas pérolas... 
 
Giovane não dá o braço a torcer, e logo após recordar que não refutou nada que escrevi em meu blog, diz que respondeu meu comentário "de forma mais racional" (logo ele, que diz desprezar a racionalidade e os fatos...). E escreveu uma joia de sintaxe estropiada: "(logo vou deixar um link para a resposta dele, onde sou chamado de "emotivo"), dizendo, resumidamente, que a intenção do meu texto não era a que ele esperava, e que se ele ficou ofendido, era melhor repensar sobre [SIC] meu objetivo." Oi???
.
Giovane é um emotivo, uma alma muito sensível, como já escrevi. Tão sensível e tão emotivo em relação a Mandela que, além de desdenhar a lógica e os fatos, como ele mesmo admite, adivinha intenções ocultas atrás de minhas palavras, como se fosse dotado de dons telepáticos "(considero um elogio, mas sei que a intenção não era essa)". E se atrapalha com as próprias palavras, como um bebê com um brinquedo que não sabe usar. Ele diz, por exemplo, que procuro atacar sua "argumentação lógica" (como se fosse possível atacar algo que não existe... o rapaz não entende ironia) e que "tentei refutar" cada trecho de seu texto (não "tentei": REFUTEI, ponto a ponto, seu texto, que transcrevi integralmente). Volta a colocar os fatos que citei sobre Mandela entre aspas (mais uma vez: ele não refuta nenhum deles). E ainda solta a seguinte barrigada: "Disse que não vale a pena responder a textos como o meu, mas mesmo assim, o fez: querendo ou não, é coisa de gente ressentida." Respondi e respondo de novo, como estou fazendo agora, e pelo mesmo motivo: porque me citou. Pelo teor, realmente não vale a pena responder. "Ressentido", é? Agora é assim que se chama quem se baseia em fatos e não embarca em babações de ovo coletivas? Querendo ou não, é coisa de gente deslumbrada.

Não para por aí. Giovane não somente desconhece lógica elementar, como também tem dificuldades sérias com interpretação de textos. Ele diz que eu insinuo, por exemplo, que ele seria "chavista, esquerdista, comunista e que meu texto é [SIC] um culto à personalidade, que não condiz com os fatos sobre Mandela." Isso porque lembrei que o culto à personalidade de Mandela é comparável ao do cadáver de Hugo Chávez, inclusive na cafonice ("Ele não morreu, vive em nossos corações" etc.). Ou seja: ele não sabe a diferença entre uma comparação, uma figura de linguagem, e uma insinuação de fato. E ainda diz que eu "não sei ler"...

A única parte mais ou menos honesta do novo texto de Giovane é quando ele repete que não vai refutar nada que eu disse. À essa confissão de inépcia argumentativa ele acrescenta que o que escrevi "mostra que ele (ou seja: eu) não sabe ler nem escrever com a cabeça livre". Fico pensando o que seria "ler e escrever com a cabeça livre"... Seria escrever livre de fatos e da razão? Vai ver é isso... Se for esse o caso, então realmente não consigo. 
 
Em seguida, o jovem cheerleader mandelista diz que, por mais "brochante" [SIC] que pareça, vai tentar explicar seu texto. Eu me contentaria que ele explicasse por que não leva nenhum dos fatos que citei sobre Mandela em consideração. Porque o texto dele é inexplicável. Aliás, quem se propõe a explicar a si mesmo num texto sobre outra pessoa já está dizendo que está fora do alcance de qualquer explicação racional. E isso, realmente, é algo bem broxante (além de desonesto e um bocado egocêntrico).
 
Giovane diz que não está preocupado com política o tempo todo (deve achar que é o meu caso: minha maior preocupação é com a honestidade moral e intelectual). Na verdade, ele parece não se preocupar com política em tempo nenhum, pelo menos no caso de Mandela.  Também diz que não tem ideologia política alguma [SIC] (a exceção deve ser a ideologia mandelista...). E sai com essa: "A direita e a esquerda incultas fazem o que o autor do Blog do Contra fez: analisam as coisas de acordo com suas ideologias políticas." Não conheço nenhum autor, filósofo, historiador ou cientista político, de esquerda, direita ou centro, culto ou inculto, que não tente basear suas análises em alguma forma de ideologia política. Giovane deve ser um caso único. E ainda compara quem se interessa por política a um "amigo chato que só fala em futebol, que não consegue pensar em algo novo e que vai morrer fracassado, com uma bandeira comunista ou anti-comunista -- não interessa se o comunismo ainda existe ou não, viver no passado "é o que há" para um fracassado." etc. A conclusão, pelo contexto da frase, é que "viver no passado" é lembrar fatos omitidos em torno de um personagem por aqueles que o erigiram em objeto de culto quase religioso. Segundo essa linha de raciocínio, historiadores e biógrafos, por exemplo, são todos uns fracassados...

Giovane diz que não está "interessado em ideologias políticas" (nem na Política, nem em História, nem na biografia de Mandela) e que por isso fez um texto "que não tem como tema central, de forma alguma, a política", mas sim uma "análise sobre o Nelson Mandela que derrotou o Apartheid apenas com a conversa" (como se o apartheid tivesse caído apenas pela lábia do Madiba... como já afirmei antes, o fim do regime foi o resultado de uma série de fatos históricos e políticos, que Giovane ignora por completo). Mais uma vez, fica claro o problema de tentar fazer uma "análise", como ele diz, de uma figura histórica e política ignorando a História e a política.  
 
Mais Giovane: "citei o Blog do Contra, já que nele estavam todos os argumentos dos quais queria utilizar como exemplo do que não fazer, expondo o pensamento ideológico e, logo depois, teorizando, mesmo que em poucas linhas, sobre onde se encaixa o "ressentimento", que é um conceito filosófico, ao contrário do que foi citado no texto-resposta (o autor do contra acredita que é psicanalítico)." A sintaxe, assim como a lógica, realmente não é o forte do rapaz...

(By the way, não ignoro que o ressentimento seja um conceito filosófico, e não psicanalítico. Apenas o rapaz não sabe manejar o conceito, como não sabe manejar a lógica: se soubesse, não atribuiria minha crítica ao culto à personalidade de Mandela ao "ressentimento". Seu ressentimento com fatos que destoem do oba-oba, porém, está bem caracterizado, e desconfio que tenha um fundo psicológico.)

Mais adiante, Giovane diz usar "mais argumentos da filosofia" (quais? de que corrente ou escola filosófica?) para entoar o cântico necrofílico de que "Mandela morreu apenas simbolicamente e que ele está vivo em nossos corações" (lembram dos chavistas? pois é... pelo visto ele não os conhece). E repete, usando o plural majestático, que "não precisamos nos preocupar com a ausência do Mandela, pois já absorvemos o que admiramos dele, assim como os ressentidos absorveram apenas o lado ruim de Nelson Mandela". E tome blábláblá e panegírico. Diz que "o sujeito" (ou seja: eu) "não entendeu que o que eu quis dizer, é que podemos aprender muito com Mandela, inclusive com seus erros. É preciso ser forte para sofrer humilhações morais e físicas durante a vida inteira, e conseguir dar a volta por cima, abdicando da violência, e utilizando a Comissão da Verdade não para a vingança, e sim para o exemplo." E logo na frase seguinte se contradiz flagrantemente (ei, ele mandou a razão às cucuias, lembram?): "Essa grandeza não foi negada pelo administrador do Blog do Contra." Exatamente! Lembrei o papel importante de Mandela na transição para o fim do apartheid, e no apaziguamento entre brancos e negros após sua saída da prisão. Lembrei também diversos fatos pouco lisonjeiros de sua biografia. Enfim, citei os dois lados do Mandela, o rapaz apenas um lado. Ele absorveu apenas o Mandela da propaganda, o Mandela pop. Para ele Mandela é uma figura unidimensional, todo amor e pureza. Para mim, existe o Mandela dos fatos, o Mandela da História. Por esse motivo eu seria um "ressentido", alguém que "preferiu ficar apenas no campo da política e não no da inteligência." Como se política e inteligência, nesse caso específico, fossem coisas distintas! Mais: como se negar ou ignorar (vamos lá, mais uma vez) FATOS fosse uma atitude de gente inteligente!
 
Apesar de tudo isso, Giovane não volta atrás no que escreve (REPITO: SOBRE MINHA PESSOA, MEU BLOG E MEU TEXTO, E NÃO SOBRE MEUS ARGUMENTOS A RESPEITO DE MANDELA, O QUE ELE IGNORA TOTALMENTE). Ainda por cima, ele se diz um incompreendido ("Sei que quem leu meu texto de cabeça fria conseguiu entendê-lo além do que escrevi" e "Quem leu de forma inteligente, não estava procurando uma cartilha sobre o comportamento do Mandela" etc.). Tudo para tentar justificar o fato de não mencionar, em nenhum momento, nada que escrevi SOBRE MANDELA. E ainda força a mão para defender o indefensável: "Também acreditei, por um momento, que a resposta ao meu texto seria uma reflexão, mesmo que oposta a minha, e não apenas outra publicação cheia de "fatos"" (novamente, entre aspas). Ou seja: quer uma "reflexão" sobre um personagem histórico que dispense os fatos... Reflexão sem fatos. Pois é.
 
A torrente de besteira pseudo-filosófica não cessa. Ele ainda finge ter "errado" por topar um debate (achei que era um debate) comigo: "Errei novamente, e reconheço isso. Foi ingenuidade acreditar que alguém que preza tanto pela racionalismo, como se ainda estivesse no iluminismo, fosse ter sensibilidade de fazer uma análise diferente da que fez anteriormente, sem conseguir ultrapassar o cunho político." Ou seja: como eu viveria, segundo ele, no Século XVIII (enquanto ele vive num mundo atemporal e metafísico só dele, como os nerds que cultuam a série O Senhor dos Anéis), eu não seria capaz de apreender sua argumentação tão elevada e sofisticada pois, sendo eu uma máquina totalmente racional, faltar-me-ia a sensibilidade necessária para falar de Mandela e "ultrapassar o cunho político"... (Ou seja: os fatos).  

Depois, tomando-me como arquétipo do que seria a "direita" (gente como ele, apesar da pose "pós-ideológica", só consegue "pensar" em bloco), Giovane diz "A direita e a esquerda olham para Mandela e só o enxergam abraçado com Fidel Castro." Bom, olho para as homenagens póstumas a Mandela (e aí incluo os textos do Giovane) e vejo ali o culto da personalidade. O rapaz olha para Mandela e vê um santo, um semideus ou um herói sem manchas. Ou seja: não vê os fatos. E, tentando parecer acima das ideologias (na verdade, acima da realidade, como o Barão de Munchausen), afirma o seguinte: "Dos dois lados, o abraço transforma Mandela em um comunista, o que é apoiado pela extrema esquerda e condenado pela extrema direita." (Como se somente houvesse esses extremos em política.) Se tivesse pesquisado um pouquinho, teria percebido que Mandela não se tornou comunista por ter abraçado Fidel Castro. Isso porque Mandela ERA MEMBRO DO PARTIDO COMUNISTA DA ÁFRICA DO SUL (vejam o link abaixo)! Em 1961, inclusive, ele impôs ao CNA uma aliança com os comunistas, que transferiram know-how ao CNA em técnicas de conspiração e sabotagem. Mas isso, claro, é um fato, e Giovane já demonstrou que não dá a mínima para fatos. Fatos são para gente burra, sentenciou. Ele é sensível demais para se preocupar com isso... 

Tem mais: "Não conseguem perceber que Nelson Mandela não abdicou só da violência, mas também das posições políticas" (Mandela abdicou das posições políticas? De qualquer posição política? Virou um ser completamente apolítico? uma criatura etérea, acima da humanidade, sentado à direita de Deus-Pai Todo-Poderoso, talvez?) "Esteve acima de esquerda e direita quando pôs fim ao Apartheid." (Sempre esteve à esquerda do espectro político, tanto que jamais criticou seu amigo Fidel Castro. E mais uma vez: não, não foi ele, Mandela, que "pôs fim ao apartheid". Foi a pressão internacional, o fim da Guerra Fria, o bom senso do De Klerk etc. Enfim, foi uma obra coletiva. Estude História, meu jovem!) E essa: "Governou seu país e começou a construir uma democracia livre de qualquer ideologia senão a da igualdade social, o que é difícil em países como a África do Sul." "Igualdade social" é uma ideologia?
 
No final, o menino acha que encontrou um argumento definitivo para me desacreditar: "Acreditei que meu último erro, ao escrever o texto anterior e também esse, foi o de dar atenção para um cara que lê Olavo de Carvalho e Magnoli." Quem escreveu isso foi o mesmo cara que disse negar usar da argumentação ad hominem, típico expediente de quem quer fugir do debate. (Eu ia perguntar se ele já leu algum livro ou artigo de Olavo de Carvalho ou de Demétrio Magnoli, mas nem precisa perguntar...).
 
E mais essa: "Eu já suspeitava dos seus argumentos tão veementes contra o comunismo. Achei, no entanto, que suas referências literárias viessem de intelectuais de direita de verdade, como o Pondé, que consegue ir além do comunismo, mas não tinha visto os livros que são recomendados em seu blog." Além do ato falho ("suspeitava" de argumentos contra o comunismo... o que há de "suspeito" na oposição a uma ideologia totalitária e genocida?), o bocó revela falta de atenção, um sintoma de dislexia. Um dos livros que recomendo e cuja capa está bem visível no blog é Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, do Pondé. Outro é Por Que Virei à Direita, que tem entre seus autores o mesmo Luiz Felipe Pondé... O idiota não é só desonesto e vive no mundo da lua: é disléxico.
 
Prosseguindo no vexame, diz ainda: "No entanto, eu não estava errado: minha intenção, desde o início, é expor argumentos e usá-los como exemplo." Até agora espero esses argumentos. E finaliza, tirando o corpo fora, com ar de quem está realmente sendo sincero ao acreditar nas próprias palavras: "Peço desculpas ao autor do Blog do Contra por não ficar aqui refutando argumentos. A internet está aí para quem quiser rebater os argumentos da esquerda ou da direita, é só pesquisar. No meu caso, já passei dessa fase." Caro Giovane: não peça desculpas a mim. Peça desculpas aos fatos, à História, por tê-los desprezado tão acintosamente. Peça desculpas à verdade. Quanto ao "já passei dessa fase", não duvido. Do "Massinha Nível I", deve ter ido para o "Massinha Nível II". Vai demorar um tempinho até você aprender a tomar sorvete sem molhar a nuca. Mas acredito que, com algum esforço, um dia você consegue.
---
Escrevi tudo isso acima mas o fato é que não estou aqui para falar do Giovane, nem de mim. Estou aqui para falar de Mandela, ou melhor: do mito Mandela. E os fatos que mencionei sobre Mandela ainda esperam ser refutados. Ei-los:
 
- Mandela, a pomba da paz, comandou o braço armado do Congresso Nacional Africano (CNA), responsável por dezenas de atos terroristas, muitos dos quais vitimaram inocentes;
 
- Mandela, o defensor dos direitos humanos, foi amigo de tiranos e ditadores assassinos como Fidel Castro, Muamar Kadafi e Robert Mugabe;
 
- Mandela, o herói da democracia, foi membro do Partido Comunista (vejam aqui:
 
 
- Seus sucessores e herdeiros políticos são notórios ladrões e corruptos, e a África do Sul de hoje, sob a tutela do CNA, tornou-se um antro de corrupção, desigualdade, AIDS e violência.
 
Enfim, são fatos, nada mais do que fatos. Tem gente que prefere ignorá-los. Fazer o quê? Que se danem. Não os fatos, mas os que os desprezam. Estes desprezam a própria inteligência.
 
14 de dezembro de 2013
in blog do contra