"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

A REPÚBLICA VEM AÍ

É uma enorme hipocrisia dar ao grande capital, ao ‘mercado’, o protagonismo neste momento tão crucial da vida brasileira

A Praça dos Três Poderes conspira abertamente contra a Lava-Jato. Teme que a República seja abalada. Apurar até o fim as acusações de corrupção colocaria em risco a estabilidade política. Sim, para os donos do poder — e não é uma simples imagem linguística — a punição dos grandes empresários, de políticos e seus asseclas não faz bem à democracia. Para eles, tudo tem de continuar como está. A Lava-Jato teria ido longe demais.

No Congresso, as principais lideranças preparam a aprovação de um projeto de lei anistiando o caixa dois. Argumentam que todos os partidos políticos tiveram de se adequar à realidade, a da violação da lei. Seria o único meio de fazer uma campanha eleitoral. Não receberam o dinheiro para usufruto pessoal — o caixa três. Não. Todos os recursos foram aplicados nas campanhas. Segundo eles, as contribuições ilícitas seriam lícitas. Neste curioso jogo de palavras não há propina, desvio de recursos públicos ou sobrepreço no pagamento de obras ou mercadorias por parte do poder público ou de suas empresas ou bancos. Mas, simplesmente, a inexistência de registro contábil de recebimento de apoio financeiro.

Se for aprovada a anistia do caixa dois, o Congresso vai concluir sua recente obra de legalizar a ilegalidade, que inclui a Lei de Leniência e a da repatriação de capitais. É o elogio ao crime, que, no Brasil, compensa. E, pior, com o objetivo de salvar dezenas de políticos de processos-crimes, acabará desmoralizando a ação da Justiça, impedindo o devido saneamento da vida pública.

Nesta conspiração antirrepublicana, que preserva o status quo, o grande capital especulativo e espoliador joga importante papel. Foi parceiro durante 13 anos do PT. Nada fez pelo impeachment. Silenciou quando das revelações dos escândalos. Participou do saque. Obteve lucros fabulosos. Glorificou Lula durante anos. E, agora, tenta esconder seus interesses — nada republicanos — sob a alcunha de “mercado.” É uma enorme hipocrisia dar ao grande capital, ao “mercado”, o protagonismo neste momento tão crucial da vida brasileira.

A elite político-econômica tem nas cortes superiores de Brasília aliados poderosos. A maioria dos ministros deseja limitar a ação da Lava-Jato. Creem que ela foi longe demais. Invocam preceitos jurídicos como cortina de fumaça. São tão farsantes como as lideranças políticas do Congresso. A única diferença é o uso da toga. Desejam deixar tudo como está. Afinal, são partícipes entusiastas desta República bufa.

Nos últimos dias, o desespero da Praça dos Três Poderes aumentou de intensidade. A proximidade da delação premiada de 75 diretores, altos funcionários e dos proprietários da Odebrecht intensificou as articulações. Temem que sejam atingidos em larga escala — como serão. Tudo indica que o Brasil não será o mesmo após as homologações das delações. Devem atingir todo o espectro político de Brasília. E com efeitos incalculáveis.

Daí a operação para conter seus efeitos. Buscam edificar às pressas um arcabouço legal. É uma luta de desesperados. A Lava-Jato não vai interromper sua ação. Necessitam desmoralizá-la. Tentaram. Não conseguiram. Resta a chicana jurídica, o apoio das Cortes nada superiores de Brasília e a busca de apoio na sociedade apontando o perigo de colocar em risco a recuperação econômica.

É difícil encontrar outro momento na história republicana brasileira tão propício como o que vivemos para enfrentar — e vencer — a estrutura corrupta que tomou conta do país. A Constituição de 1988 concedeu os instrumentos para o exercício da cidadania. E que nestes últimos anos estão sendo exercidos. Quando os direitos eram somente para inglês ver, não havia problema algum. Tudo mudou quando foram exercidos na sua plenitude.

As grandes mobilizações dos últimos dois anos, a presença ativa das redes sociais, a auto-organização da sociedade civil e a vitoriosa luta pelo impeachment de Dilma Rousseff deixaram os donos de poder em situação difícil. Não podem mais decidir entre quatro paredes como gerir e dominar o nosso país, como fizeram durante décadas.1

O novo Brasil que está nascendo encontra na República carcomida o seu maior adversário. É necessário destruíla para poder edificar o pleno estado democrático de direito. Esta é a contradição principal — e antagônica. Não há qualquer possibilidade de encontrar uma conciliação entre democracia e corrupção. O velho jeitinho congressual-jurídico não conta mais com a complacência popular.

A corrupção está de tal forma entranhada na estrutura republicana que impossibilita o sistema de se autorreformar. Afinal, a corrupção é um sistema que contempla múltiplos interesses. Se fosse apenas um negócio entre corruptor e corrupto, poderia ser de fácil solução. E aí mora o nó górdio a ser desatado. Ao enfrentá-la, os moralizadores da República vão ter de travar combates com poderosos inimigos espalhados tanto na estrutura de Estado, como fora dela. A socialização da corrupção deu a ela um enorme poder de resistência.

Coincidentemente, o ápice da LavaJato deve ocorrer próximo à data magna da República, o 15 de novembro. Nunca estivemos tão perto de proclamá-la. Afinal, o marechal Deodoro da Fonseca simplesmente anunciou, naquela sexta-feira, logo pela manhã, a mudança do regime. A hora é agora. E é possível. Se perdermos esta oportunidade, dificilmente teremos outro momento tão propício para colocar em prática o sonho dos republicanos históricos como Silva Jardim e Saldanha Marinho.



10 de novembro de 2016
Marco Antonio Villa, O Globo

A CAMINHO DA NOVA CONSTITUIÇÃO

Como não existem lideranças expressivas no Parlamento, nova ordem brotará certamente das ruas e das redes sociais

A monumental delação conjunta da empreiteira Odebrecht e a grave afirmação do próprio juiz Sérgio Moro, colocando em dúvida se o Brasil sobreviverá depois dela; a falência federativa com a gravíssima crise fiscal da União, dos estados e municípios; o iminente colapso dos sistemas previdenciário e de saúde pública são apenas alguns dos sintomas críticos do fim agônico desta nossa Nova República, inaugurada com a Constituição de 1988. 

Pode-se ainda acrescentar muitos outros, além do mais grave de todos: a nunca vista crise econômica com seus 12 milhões de desempregados e a retração inusitada dos negócios, com expressiva parte do PIB produtivo brasileiro atrás das grades e uma inadimplência sem precedentes nos bancos. É a chamada “tempestade perfeita” instalada no Brasil.

Os impasses históricos brasileiros, sem solução aparente na crônica, sempre tiveram como corolários os claros processos constituintes a desaguarem em novas cartas constitucionais. 

O primeiro foi gerado por nossa condição de matriz conferida pelo Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves, com a mudança da Coroa portuguesa para cá e o atrito latente de Dom João VI com as Cortes de Lisboa. 
Advêm desse episódio da história a nossa Independência e a primeira Constituição de 1824. 

A crise subsequente da decadência do Império, ainda no século retrasado, pressionado pelo movimento abolicionista e pelos militares positivistas que conspiravam por uma nova ordem (e progresso), resultaram na Constituição Republicana de 1891.

Já no século passado, a crise geradora da Revolução Constitucionalista de 1932 que tem origem real na Revolução de 30 e no fim da política do Café com Leite, esta por sua vez com raízes na sucessão crescente de crises, resulta na Constituição de 1934, com o surgimento da Era Vargas. 

A crise seguinte seria a da Segunda Guerra Mundial, consolidando a liderança trabalhista de Getúlio e a Carta de 1937, a Polaca, de nítido viés fascistoide, implantando o Estado Novo no Brasil, muito influenciado pelo nazifascismo em ascensão. 
Mas a Constituição de 1937 foi, de todo modo, um marco de clara transformação política, colocando um ponto final na Segunda República e trazendo à luz nossa quarta Constituição. 
Surge o trabalhismo, com a CLT, grandemente influenciada pela Carta del Lavoro de Mussolini.

Com o fim da Segunda Guerra, a derrota do Eixo e do Estado Novo e com a aura democrática que varreu o continente a partir da América do Norte e da Europa, editamos nossa quinta Constituição em 1946, com novos partidos políticos, UDN, PTB, PSD e PCB (este logo em seguida proscrito, sob o governo Dutra), restaurando as liberdades individuais com nítida influência da Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU, já então em gestação. 

O golpe militar de 1964, apelidado pelos próprios interventores de Revolução Democrática, também esculpiu sua nova Carta, em 1967, a sexta Constituição brasileira, com a consolidação do bipartidarismo, logo emendada em 1969, quando absorveu o recrudescimento do Estado autoritário e atirou o país nos anos de chumbo até 1986 com a eleição da Constituinte congressual, que geraria a chamada Constituição Cidadã de 1988, vigente, a nossa sétima Carta.

Embora a visão proporcionada pela lupa da crônica seja sempre um olhar míope e borrado, se comparada à lente telescópica da História, já se percebe estarmos na antessala de uma dessas decisivas viradas constitucionais, com o impedimento, em 2016, da débil presidente, apoiada por uma frágil aliança, corrupta e decadente, e um projeto de poder ultrapassado, incompatíveis com os anseios de uma sociedade exigente e altamente mobilizada para a renovação na política e na economia. 

Por outro lado, a tibieza inusitada de uma representação popular altamente comprometida, aponta para a ruptura entre Estado e sociedade. 
É o fim do trabalhismo e seu sucedâneo, o lulopetismo de cooptação e favores antirrepublicanos, gestado ainda no útero do Estado autoritário de 1964 a 1984 como estratégia golberiana e maquiavélica de quebrar a unidade das esquerdas brasileiras.

A incisiva ação do Poder Judiciário, da Polícia Federal e de um Ministério Público independente, fruto da Constituição de 1988, preenchendo o vácuo de lideranças políticas confiáveis ou de golpes armados, é a novidade histórica a mobilizar o povo. 
O que estamos vivenciando é o claro fim de um ciclo: a agonia da Nova República, com seu descontrole partidário e administrativo, a infestação generalizada do fisiologismo legislativo de barganha escancarada e a corrupção disseminada por todo o aparelho do Estado, sem exceção.
Não resta mais a menor dúvida de que o poder constituinte originário, como nos demais exemplos históricos aludidos, surgirá fatalmente desse quadro insustentável, diante da inusitada contaminação antiética da política, do Congresso e, portanto, do poder constituinte derivado. 
E da inércia quase catatônica do presidente da República em convocar logo a nação, com bravura histórica. Como também não existem lideranças expressivas no Parlamento, essa nova ordem brotará certamente das ruas e das redes sociais, onde se encontram os talentos desta feita. 
Novas lideranças surgirão rapidamente dessas mobilizações sucessivas, com um novo ordenamento constitucional. Será historicamente inevitável. Poucos conheciam, em meados do século XX, as lideranças civis que fariam a sua história.

Estamos, nos umbrais da nossa oitava Constituição.


10 de novembro de 2016
Nelson Paes Leme é cientista político, O Globo

http://lorotaspoliticaseverdades.blogspot.com/2016/11/a-caminho-da-nova-constituicao.html

'ALGUMA COISA ESTÁ ERRADA'

PRESO CUSTA 13 VEZES MAIS DO QUE UM ESTUDANTE NO BRASIL, DIZ CÁRMEN LÚCIA
'ALGUMA COISA ESTÁ ERRADA', AFIRMOU A PRESIDENTE DO STF

“DARCY RIBEIRO FEZ EM 1982 UMA CONFERÊNCIA DIZENDO QUE, SE OS GOVERNADORES NÃO CONSTRUÍSSEM ESCOLAS, EM 20 ANOS FALTARIA DINHEIRO PARA CONSTRUIR PRESÍDIOS. O FATO SE CUMPRIU", RESSALTOU A MINISTRA (FOTO: GLÁUCIO DETTMAR/CNJ)


A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Cármen Lúcia, afirmou nesta quinta-feira, 10, que um preso custa 13 vezes mais do que um estudante no Brasil. A declaração foi feita durante o 4º Encontro do Pacto Integrador de Segurança Pública Interestadual e da 64ª Reunião do Colégio Nacional de Secretários de Segurança Pública (Consesp), em Goiânia (GO).

“Um preso no Brasil custa R$ 2,4 mil por mês e um estudante do ensino médio custa R$ 2,2 mil por ano. 
Alguma coisa está errada na nossa Pátria amada”, afirmou.

“Darcy Ribeiro fez em 1982 uma conferência dizendo que, se os governadores não construíssem escolas, em 20 anos faltaria dinheiro para construir presídios. O fato se cumpriu. Estamos aqui reunidos diante de uma situação urgente, de um descaso feito lá atrás”,
lembrou a ministra.

As informações foram divulgadas pelo CNJ. No evento, Cármen Lúcia afirmou que a violência no país exige mudanças estruturantes e o esforço conjunto de governos e da União.

“O crime não tem as teias do Estado, as exigências formais e por isso avança sempre. Por isso são necessárias mudanças estruturais. É necessária a união dos poderes executivos nacionais, dos poderes dos estados, e até mesmo dos municípios, para que possamos dar corpo a uma das maiores necessidades do cidadão, que é ter o direito de viver sem medo. Sem medo do outro, sem medo de andar na rua, sem medo de saber o que vai acontecer com seu filho”, disse.

Desde que assumiu a presidência do CNJ, a ministra tem visitado presídios para ver as condições das unidades. Até o momento, Rio Grande do Norte e Distrito Federal receberam visitas de surpresa, e a ideia é inspecionar todos os Estados.

“A cada nove minutos, uma pessoa é morta violentamente no Brasil. Nosso país registrou mais mortes em cinco anos do que a guerra da Síria. Estamos, conforme já disse o Supremo Tribunal Federal, em estado de coisas inconstitucionais. Eu falo que estamos em estado de guerra. Temos uma Constituição em vigor, instituição em funcionamento e cidadão reivindicando direitos. Precisamos superar vaidades de detentores de competências e, juntos, fazer alguma coisa”
, declarou a ministra.

O encontro realizado em Goiânia teve a presença do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que apresentou o Plano Nacional de Segurança Pública. A ação tem como principais metas reduzir os homicídios e os casos de violência contra a mulher, além de racionalizar o sistema penitenciário e a proteção das fronteiras. (AE)



10 de novembro de 2016
diáriio do poder

VIOLÊNCIA E PARECERES SÃO ARMAS CONTRA O NECESSÁRIO AJUSTE

Justiça e MP também lutam a fim de barrar o pacote, em nome de ‘direitos’. Mas sucede que não há dinheiro para pagar salários, aposentadorias e adicionais

Por inevitável, a crise fiscal fluminense chegou às ruas, e da pior maneira possível, com a invasão da Assembleia Legislativa (Alerj), terça, por servidores, basicamente policiais e bombeiros, para pressionar a Casa a não examinar o pacote de medidas de ajuste enviado pelo Executivo. Ontem, a cena se repetiu, mas os manifestantes, de várias categorias, foram impedidos de invadir o Palácio Tiradentes. É inconcebível o uso da força contra o Legislativo ou qualquer outro poder. Esses conflitos expressam a irritação do funcionalismo com as medidas de austeridade. Mas não há alternativa, pois é a folha de salários e principalmente aposentadorias e outros benefícios que mais pesam nas despesas primárias do estado.

Tem razão o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ao citar a crise fluminense como argumento a favor da aprovação pelo Congresso das reformas, a começar pela PEC do teto e a da Previdência. Sem mudanças na Previdência, por exemplo, haverá atrasos no pagamento de benefícios, e as alíquotas de contribuição também terão de ser aumentadas. Como em terras fluminenses. A não ser que o governo federal opte pelo caminho mais fácil, porém que leva à hecatombe econômica: mais dívida pública, já muito elevada.

Há mais corporações, grupos organizados, dentro da máquina pública atuando contra as medidas. Apenas sem invadir prédios públicos. A união entre a Justiça e o Ministério Público fluminenses, contra o pacote sob exame da Alerj, é emblemática.

Do ponto de vista formal, pareceres jurídicos contra o ajuste estão dentro dos marcos legais. Na prática, estão a serviço de interesses e benefícios corporativos, alguns deles privilégios injustificáveis. Basta consultar listas de adicionais e extras pagos na Justiça, MP, Tribunal de Contas etc.

Cada um, na máquina estatal, defende a sua fatia no bolo das receitas. Sucede que esse bolo está esvaziando, devido à recessão e à ausência de medidas para cortar despesas e aumentar receitas que não sejam pela via esgotada dos impostos. E quando propostas são feitas, tribunais as barram. Aconteceu ontem com a alíquota adicional de contribuição para reduzir o déficit da previdência dos servidores.

A Justiça vem, ainda, concedendo liminares para arresto de recursos no Tesouro estadual, com base na correta defesa de “direitos”. Mas acabou o dinheiro. O dilema de Pezão: “Há 438 mil funcionários ativos e inativos que consomem toda a arrecadação, enquanto tenho 16 milhões de pessoas que querem mais saúde, mais educação, mais segurança, e eu não posso contratar um PM”.

Em visita ao Supremo, à presidente Cármen Lúcia, Pezão pediu pressa no julgamento final das ações contra os arrestos. O melhor é mesmo que reclamações corporativas cheguem ao STF, onde deverá ser decidido sobre o poder de o Executivo e Legislativo traçarem planos racionais de combate à crise, em que sempre haverá perdedores, dada a gravidade da conjuntura.

“Direitos” não estão sendo atendidos por falta de recursos. Não é difícil entender. Ou não deveria sê-lo. A alternativa é deixar a hiperinflação fazer um ajuste selvagem, destruindo a moeda. Isso aconteceu há quase uma geração. E os sobreviventes sabem que aí, sim, o povo de fato pagará a maior parte da conta.



10 de novembro de 2016
Editorial O Globo

PT E ALIADOS TENTAM TRANSFORMAR LULA EM MÁRTIR

Em ato programado para as 18h30 desta quinta-feira (10), em São Paulo, o Partido dos Trabalhadores e seus aliados lançarão um movimento que tem o seguinte slogan: ''Por um Brasil justo pra todos e pra Lula.''

Na explicação oficial, o evento servirá para inaugurar uma “campanha em defesa da democracia, do Estado de direito e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.” Na prática, trata-se de uma reação antecipada à provável condenação e à eventual prisão de Lula na Operação Lava Jato. Tenta-se convertê-lo em mártir.

Participam do movimento capitaneado pelo PT legendas e entidades companheiras —PCdoB, CUT e MST, por exemplo—, além de artistas e intelectuais. Será divulgado um manifesto seguido de abaixo-assinado. Nele, a Lava Jato é apresentada como uma iniciativa deletéria.

Insinua-se no texto que, “sob o pretexto de combater a corrupção”, a maior e mais bem-sucedida operação contra o assalto sistêmico aos cofres do Estado promove “ataques aos direitos e garantias” individuais.

Depois de apontar alegados “excessos e desvios” da força-tarefa de Curitiba contra Lula, o documento sustenta: ''Esse conjunto de ameaças e retrocessos exige uma resposta firme por parte de todos os democratas, acima de posições partidárias.”

Acrescenta: “Quando um cidadão é injustiçado – seja ele um ex-presidente ou um trabalhador braçal – cada um de nós é vítima da injustiça, pois somos todos iguais perante a lei. Hoje no Brasil, defender o direito de Lula à presunção da inocência, à ampla defesa e a um juízo imparcial é defender a democracia e o Estado de direito…”

Confrontado com a realidade, o manifesto de vitimização de Lula torna-se uma peça de ficção. Na vida real, a Lava Jato não ameaça nenhum trabalhador braçal. Mas já derreteu a presidência de Dilma Rousseff; prendeu empreiteiros do porte de Marcelo Odebrecht; mantém atrás das grades petistas como José Dirceu, Antonio Palocci e João Vaccari; arrastou Eduardo Cunha da presidência da Câmara para a carceragem de Curitiba; enrolou a corda no pescoço de peemedebistas como Renan Calheiros e Romero Jucá; transformou em protagonistas de inquéritos e delações tucanos com a plumagem de Aécio Neves e José Serra; subiu a rampa do Planalto e bate à porta de ministros palacianos e de Michel Temer.

Ao alcançar Lula, a faxina da Lava Jato perturba a oligarquia que cultivava a fantasia de que um dia seria possível “estancar a sangria”. Pela primeira vez desde as caravelas uma operação anticorrupção deixa impotentes os poderosos que se julgavam acima da lei. Faz isso com o respaldo de tribunais superiores. No caso de Lula, os procedimentos vêm sendo saneados e ratificados pelo Supremo Tribunal Federal. Ou seja, longe de estar ameaçada, a democracia brasileira revela-se vigorosa.

A campanha a ser deflagrada nesta quinta-feira prevê a organização de atos em defesa de Lula no Brasil e no exterior. Entretanto, as únicas defesas que podem ajudar o personagem são as petições que seus advogados enfiam dentro das três ações penais em que Lula figura como réu. Até aqui, essas petições têm se revelado insubsistentes. Ainda assim, Lula sustenta que não tem nada a ver com a corrupção. Quem ousaria discutir com um especialista?



10 de novembro de 2016
Josias de Souza

URGENTE! GOLPE EM CURSO NA CÂMARA COM ACORDOS DE CONVENIÊNCIA!

urgente! golpe em curso na câmara com acordos de conveniência!

www.youtube.com/watch?v=6kimVPVctI8
2 dias atrás - Vídeo enviado por Joice Hasselmann
Partidos se unem para se blindar da delação de Marcelo Odebrecht. Agora, tentam aprovar na surdina ...

10 de novembro de 2016
postado por m.americo

ACORDOS DE CONVENIÊNCIA: SAIBA A VERDADE BRASIL

ACORDOS DE CONVENIÊNCIA: SAIBA A VERDADE BRASIL


10 de novembro de 2016
postado por m.americo

A REGRA DO JOGO

Segundo Moro, o que mais choca é que corrupção não era exceção, mas sim a regra

Em sua longa e inédita entrevista a Fausto Macedo e Ricardo Brandt, no Estado, o juiz Sérgio Moro foi simples, cauteloso, mais preocupado em dar sua versão da Lava Jato ao País do que ostentar erudição para seu público interno ou fazer provocações incabíveis aos alvos das investigações e sentenças. Não personificou críticas e não adiantou julgamentos, mas deixou muito claras suas posições e motivações.

Assim como eu, tu, nós e eles, Moro confessou que o que mais o chocou em todas essas revelações da Lava Jato foi “a própria dimensão dos fatos” e a descoberta de “uma corrupção sistêmica, corrupção como uma espécie de regra do jogo”. Sim, há crime de colarinho branco no Brasil e no mundo. Sim, desvio de dinheiro público, ganância do setor privado, enriquecimento de servidores, nada disso é novo, nem tão surpreendente. O que surpreende, ou choca, é a dimensão, é a corrupção deixar de ser exceção e virar regra.

Talvez o exemplo mais contundente disso seja o delator Pedro Barusco, que se comprometeu a devolver US$ 100 milhões. O cara era gerente de Engenharia da Petrobrás, ou seja, nem diretor era. E devolve o correspondente a R$ 320 milhões?! Quem devolve tudo isso roubou quanto? E ainda guardou quanto? Logo, Barusco dá uma boa dimensão do que foi o petrolão e mostra como a corrupção não era restrita, ocasional, mas uma rede sem limites, corriqueira.

E por que só ex-tesoureiros do PT foram presos? (Aliás, três deles.) A resposta de Moro foi simples: só tinha poder para nomear e manter diretores e gerentes que negociavam, distribuíam e embolsavam propinas milionárias era quem estava no governo. Por óbvio, quem não tinha a caneta e o Diário Oficial não podia nomear um Barusco para roubar e fazer o rateio do roubo. Então, perguntaram os repórteres, a Lava Jato vai poupar PSDB e até o PMDB, principal aliado do PT com Lula e Dilma? “Processo é uma questão de prova”, respondeu Moro, machadianamente. Poderia acrescentar: “questão de prova, meu caro Watson”.

Moro disse que “o trabalho feito lá (no Supremo) merece todos os elogios”, mas não deixou de mexer numa velha ferida exposta agora pela Lava Jato: o foro privilegiado. O STF não está capacitado para investigar, julgar, condenar ou absolver 513 deputados, 81 senadores e todos os outros poderosos que têm privilégio de foro. E são só 11 ministros, atolados por 44 mil processos só no primeiro semestre deste ano. No mínimo, tudo será muitíssimo mais lento. Para Moro, o ideal seria reduzir o foro privilegiado, que penaliza os ministros e acaba por beneficiar os políticos, para os presidentes da República, do Senado, da Câmara e do próprio Supremo.

Sempre cauteloso, Moro repetiu o questionamento da ministra Cármen Lúcia sobre a oportunidade de o Senado endurecer a lei de abuso de autoridade em meio ao maior julgamento de partidos e políticos da história do País, mas fez uma espécie de chamamento ao Congresso para “acompanhar a percepção de que é necessário mudar” e aprovar o pacote de medidas anticorrupção apresentado pelo MP e referendado por milhões de brasileiros.

Por falar nisso, o juiz disse que “jamais, jamais” seria candidato a um cargo político. Está escrito e publicado, mas Moro só tem 44 anos, comanda um processo inédito de depuração das práticas políticas e é tão amado e tão odiado quanto costumam ser, não os juízes, mas os políticos. E, afinal, o futuro a Deus pertence.

Suspeita. Conversando no domingo com o ex-ministro e meu amigo Milton Seligman, surgiu a dúvida: quem votou pelo Brexit no Reino Unido, contra o acordo de paz na Colômbia e pela ascensão de Trump foram os homens brancos, de meia-idade, sem diploma e conservadores? Ou foi o populismo fácil, o marketing rasteiro, a manipulação de líderes irresponsáveis?



10 de novembro de 2016
Eliane CAntanhede, Estadão

ACONTEÇA O QUE ACONTECER, A VITÓRIA DE DONALD TRUMP ESTÁ GARANTIDA

Peço desculpas ao leitor se estraguei o café da manhã. Mas o título não é uma previsão; é uma conclusão. Trump já ganhou, mesmo que perca. Porque o populismo vence sempre, mesmo quando não vence. Lição da história.

Nos últimos dias, entediado com tantos clichês sobre a corrida presidencial americana, procurei outras pastagens para os meus neurônios. E encontrei um livro recente de John B. Judis, intitulado "The Populist Explosion", que merece leitura por qualquer pessoa interessada em política.

Como o título indica, é uma análise do populismo nos Estados Unidos e na Europa. Como explicar Donald Trump (e Bernie Sanders)? E como explicar a onda populista que varre Espanha, França, Itália, Áustria, Suécia etc. etc.?

Deixemos a Europa para uma próxima oportunidade. Fiquemos nos Estados Unidos porque a palavra –"populismo"– nasceu lá e só depois emigrou para a Europa (e, claro, para a América Latina).

Para Judis, o "populismo", mais do que uma "ideologia", é sobretudo uma "lógica política": um confronto entre o "povo" e a "elite" em que o líder carismático defende o primeiro contra os alegados abusos da segunda. Trump é apenas o último capítulo de um fenômeno que sempre emergiu em situações de crise.

Essa história começa em finais do século 19, quando o entusiasmo do governo pelo "capitalismo laissez-faire" não era partilhado pelos agricultores do sul e das Grandes Planícies. Uma combinação de desastres naturais, monopólio ferroviário que cobrava forte pelo transporte dos produtos agrícolas e mão de obra barata (da China, do Japão, da Itália) levou à revolta dos trabalhadores nativos, representados pelo Partido Populista, contra a "oligarquia" dos dois partidos.

Exigências dos populistas: nacionalização da ferrovia; fim da imigração (sobretudo chinesa); maior poder para o governo na esfera econômica, de forma a proteger os mais vulneráveis.

O Partido Populista desapareceu com a nova centúria (foi absorvido pelos democratas de William Jennings Bryan). Mas a influência do populismo, à direita e à esquerda, continuou: com o republicano Roosevelt (Theodore) e com o democrata Roosevelt (Franklin).

Aliás, se existe uma lei na dinâmica populista é que ela, quando hiberna, deixa sementes que serão transplantadas para os partidos do sistema.

Escreve John B. Judis, com inteira razão, que Franklin Roosevelt não concedeu prioridade imediata às desigualdades econômicas provocadas pelo Grande Depressão ao ser eleito em 1932.

O Roosevelt do New Deal também se explica com o populismo de Huey Long, o político da Lousiana que, antes de ser assassinado, em 1935, era uma ameaça para os democratas ao defender taxação séria dos ricos e redistribuição de riqueza pelas massas. Roosevelt não desprezou esses argumentos.

Sabemos hoje que o New Deal se tornou a ideologia dominante durante quatro décadas. Pelo menos, até George Wallace entrar em cena, em nome da classe média (e branca) que pagava essa ideologia.

O populismo de Wallace, combatendo a cultura de assistencialismo e a "burocracia corrupta" de Washington, foi tão poderoso que alterou o perfil dos eleitorados democrata e republicano. Os democratas passaram a contar com o apoio da "intelligentsia" e dos profissionais liberais. Os republicanos acolheram o "homem comum" e o desprezo pelas intromissões do governo federal. Até hoje.

E Trump? Como qualquer populista, ele surge no rastro da grande recessão de 2008. Mas nada do que ele diz é novidade. Combater a imigração; proteger a indústria americana da competição internacional; impedir a deslocalização de empresas para fora dos Estados Unidos; cultivar o isolacionismo nas relações internacionais –tudo isso foi dito por Ross Perot ou Pat Buchanan, dois populistas recentes que antecederam Trump e prepararam o caminho.

No futuro, todas essas ideias serão assimiladas e praticadas, de forma mais elegante e racional, pelos partidos do sistema que nunca ficaram imunes às persuasões populistas. A sensibilidade populista é a primeira antena a captar preocupações reais da população, mesmo que as respostas a essas preocupações sejam toscas ou radicais.

Moral da história?

Donald Trump é um pormenor. Como nas leis da química, o populismo que ele encarna nunca morre e nunca perde. Apenas se transforma.



10 de novembro de 2016
João Pereira Coutinho, Folha de SP
Escritor português, é doutor em ciência política.

O MUNDO MUDOU

“Os homens e mulheres esquecidos nunca mais serão esquecidos novamente. Nós todos vamos estar juntos como nunca antes”. Essas primeiras palavras do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, escritas no Twitter, mostram bem a centralidade que tem para ele a base do eleitorado que o levou à presidência.

Ele pode ter arrefecido o ímpeto no discurso logo após a vitória, pode até não concretizar boa parte das ameaças que brandiu durante a campanha, mas que o mundo mudou na madrugada desta quarta-feira, não tenhamos dúvidas.

Foi uma campanha em que, paradoxalmente, cada candidato enfrentou o melhor adversário que poderia escolher para ser batido. Hillary Clinton, representante máxima do establishment político de Washington, candidata a inaugurar uma oligarquia política duradoura, cheia de arestas morais e exposta à desconfiança pública por palavras e gestos.

Donald Trump, um bilionário que se jacta de espertezas como não pagar impostos, machista, xenófobo, racista. Ganhou aquele que acertou um nervo exposto da sociedade americana que poucos levavam em consideração.

O cientista político Ian Bremmer, presidente do grupo Eurasia, a mais respeitada consultoria de risco político, enviou para alguns amigos uma primeira análise do mundo pós-vitória de Trump, que classificou como “o candidato mais antiestablishment que os partidos lançaram desde que George Wallace disputou a presidência em 1968”, abrindo caminho para uma “presidência sem precedentes na única superpotência mundial”.

O que ocorreu, segundo ele, foi uma “explosão populista” provocada pelo florescimento da desconfiança de líderes e instituições, e a desigualdade só afetada marginalmente pela recente recuperação da economia. Os próprios “homens e mulheres esquecidos” que formam o núcleo dos eleitores trumpistas.

Ian Bremmer está preocupado com os impactos geopolíticos globais que a chegada de Trump à Casa Branca pode provocar. Bremmer está convencido de que desde a crise de 2008 o mundo está imerso em uma recessão sem uma liderança global, o que chama de “mundo G-Zero”.

Ele considera que a eleição de Donald Trump representa “o mais significativo golpe na liderança global dos Estados Unidos” desde o colapso da União Soviética. Um processo que ele vê em marcha desde o governo Obama que agora termina, enfraquecendo o papel dos Estados Unidos como líder global a um ponto irreversível.

Ian Bremmer classifica três aspectos principais dessa liderança americana que serão afetados pela administração Trump, tornando crescente esse “mundo G-Zero”, em que cada país cuida de si: o papel dos Estados Unidos como guarda do mundo; a arquitetura do comércio internacional e a defesa de valores globais.

Apesar de Trump ter se pronunciado muito abertamente contra os Estados Unidos proverem um cheque em branco em termos de segurança global para seus aliados, esse é o papel do poder americano que Ian Bremmer considera menos suscetível a mudanças de curto prazo, devido ao tamanho e à duração dos gastos com segurança internacional, a interação dos sistemas de defesa e o desenvolvimento da doutrina de segurança nacional. Mas ele admite que a tendência do governo Obama de reduzir a intervenção dos Estados Unidos no mundo, abrindo mão de uma liderança ostensiva, vai ser aprofundada, por razões distintas, no governo Trump.

Já o comércio internacional é uma questão objetiva para Trump, cujos assessores econômicos estão tão convencidos quanto ele de que a globalização existe à custa dos trabalhadores americanos, e que o comércio global tem que ser revisado. Isso não quer dizer que ele seja contra acordos comerciais, mas que eles têm que ser melhores para os Estados Unidos.

A defesa de valores nas relações internacionais é básica para Iam Bremmer, que considera fundamental que os Estados Unidos possa liderar pelo exemplo, e o difícil sob a era Trump é colocar um valor monetário palpável para essa questão.



10 de novembro de 2016
Merval Pereira, O Globo

OS EUA MEIO ATRAPALHADO

Morte de uma indústria, nos países desenvolvidos, golpeou a classe média trabalhadora, colarinhos azuis

Pelos padrões tradicionais, nos países desenvolvidos, a esquerda aumenta impostos dos mais ricos e das empresas para gastar em programas sociais; a direita reduz impostos das corporações e dos mais ricos, na expectativa de que as primeiras invistam e os segundos consumam mais, gastando assim na economia real o que deixam de enviar para o governo. A esquerda quer distribuir renda e fazer justiça social. A direita acha que o gasto de corporações e ricos gera mais negócios e, pois, mais empregos.

A esquerda acha que é preciso proteger os trabalhadores e os empresários nacionais, restringindo importações e investimentos externos. A direita pensa o contrário, que fronteiras abertas estimulam positivamente a competição.

Esquerda, na Europa, são, ou melhor, eram os partidos trabalhistas, socialistas, social-democratas etc. Nos EUA, o Partido Democrata. Direita, na Europa, eram os partidos conservadores, com nomes variados, até como o Partido Popular da Espanha. Na Europa, liberal é da direita. Nos EUA, é da esquerda.

Já faz tempo que é difícil classificar os movimentos políticos com aquelas categorias. A globalização e a vida moderna trouxeram fatos que bagunçaram os conceitos tradicionais.

Nos anos 90, por exemplo, liberais à EUA, como Bill Clinton, e trabalhistas europeus, como Tony Blair, foram campeões de medidas pró-mercado — desregulamentação, reformas, privatizações etc. — e pró-globalização, com a assinatura de acordos mundiais e regionais de livre comércio. Era a nova esquerda, diziam.

Os anos foram passando e a globalização/livre comércio produziu seus efeitos. Gerou um fortíssimo crescimento econômico global, dos anos 90 até a crise financeira de 2008/09. O comércio mundial chegou a crescer mais de 10% ao ano — hoje, se cresce, já está mais que bom.

A globalização deslocou fábricas para os países emergentes, que também se tornaram ganhadores. Exemplo principal, a China. Mas todo o mundo emergente cresceu a taxas vigorosas. Milhões de pessoas deixaram a zona de pobreza, surgiram as novas classes médias.

Mas também apareceram os perdedores. Considere os EUA. Foi o país que melhor surfou na onda global. Ali surgiu a indústria do século XXI, toda ela em torno da tecnologia da informação: Microsoft, Google, Amazon, Facebook, Apple. Mas dali partiram as fábricas de automóveis, eletrônicos e vestuário, que foram para a Ásia e América Latina.

O iPhone traz a inscrição: “Projetado pela Apple na Califórnia. Montado na China”.

É o exemplo perfeito: a inteligência da coisa está na Apple da Califórnia (repararam, nem citam os EUA); a parte mecânica, a fundição e a montagem das peças estão na China, em geral, nem citam o nome da fábrica, pois o aparelho pode ser montado em várias ou em qualquer uma.

Do que o consumidor pagar no celular, 90% acabam ficando para a Apple.

Mas Detroit das fábricas de automóvel ficou parecida com uma cidade fantasma. A morte de uma indústria, nos países desenvolvidos, golpeou a classe média trabalhadora, colarinhos azuis, operários sem curso superior, homens e mulheres de mais idade, que não se conseguiam se adequar aos novos tempos.

Enquanto as coisas avançavam, os protestos antiglobalização não prosperavam. Mesmo a chegada de imigrantes aos países mais prósperos passava sem problemas. Tinha emprego para eles. Até que veio a crise de 2008/09, que espalhou recessão mundo afora.

Todos perderam, mas os que já eram perdedores sofreram muito mais.

Esses perdedores elegeram Donald Trump, assim como votaram pelo Brexit.

É simples assim, mas também mais complicado. Por exemplo, ao mesmo tempo que elegeram Trump, os americanos aprovaram a liberação da maconha em muitos estados.

Aparentemente, não combina. Os eleitores de Trump são conservadores, interioranos, contra o aborto, o casamento gay e as drogas.

Mas, pensando bem, são votos diferentes, mostrando agendas diferentes. Os eleitores de Trump querem fechar as fronteiras no sentido amplo: de construir muros a cortar importações e barrar imigrantes. É a principal promessa de Trump — o protecionismo populista.

O outro voto é da parte da sociedade que se chamaria hoje liberal. Esta agenda avança, mas agora, nos EUA, enfrentará mais bloqueios.

Quanto ao protecionismo, nacionalista-populista, de Trump, disso sabemos bem por aqui: não funciona. Protege alguns empregos, mas a perda de produtividade breca o crescimento. E pode terminar em inflação, pelo aumento de custos da importação, por exemplo, e pela perda de competição.

Não há como transferir as montadoras de iPhone para os EUA. Vai ficar mesmo mais caro.

Se é mesmo que Trump vai conseguir fazer o que disse. Mas de direita, ele não é. Antigamente, protecionismo nacionalista era de esquerda. Mas Trump de esquerda?

Digamos que o eleitor americano tinha motivos para se equivocar.


10 de novembro de 2016
Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

E DEU TRUMP...

Culpar a estupidez do povo quando a democracia vai na direção contrária do que a intelligentsia deseja é um caminho fácil, mas impede que se aprenda as lições necessárias

“Quem se vinga depois da vitória é indigno de vencer”, escreveu Voltaire. Donald Trump venceu, apesar dos ataques inflamados de que foi alvo e da forte campanha difamatória da imprensa, que fez mais torcida que jornalismo. Mas começou muito bem, fazendo um discurso de estadista, agradecendo Hillary Clinton, falando em união.

A maior derrotada nessa eleição, além de Clinton, foi a grande imprensa. Não quero tripudiar desses “especialistas” todos, que não têm acertado uma. Quero apenas que aprendam com os próprios erros, que isso sirva de lição. Deixemos o clima de hostilidade para a esquerda. São os “progressistas” que querem dividir para conquistar. O que queremos é construir.

A esquerda tem duas opções diante do que está acontecendo no mundo: entender que se trata de um protesto contra um establishment corrupto, arrogante, hipócrita e intervencionista por parte daqueles “de fora”, cada vez mais indignados; perceber que o Obamacare (o socialismo na saúde) e o welfare state não são uma maravilha para os mais pobres; que o multiculturalismo não é tão bonitinho na prática quanto na teoria; que o “capitalismo de compadres” não funciona; que a “marcha das vítimas oprimidas” já cansou; ou pode simplesmente acusar o outro lado de ser nazista, preconceituoso, racista, idiota e ultraconservador, além de reacionário e tacanho.

O mundo não vive uma guinada à extrema-direita, e sim uma fase de resgate de valores após excesso de “progressismo” 

Claro que a maioria vai optar pelo segundo caminho. Não seria de esquerda se não o fizesse. Mas, agindo assim, não terá aprendido nada com essa estrondosa e humilhante derrota. Culpar a estupidez do povo quando a democracia vai na direção contrária do que a intelligentsia deseja é um caminho fácil, mas impede que se aprenda as lições necessárias. O povo quer mudança. Não está satisfeito com Obama, cujo legado foi péssimo. Não está feliz com a “globalização”, ao menos essa que temos.

Ora, se a esquerda diz que quem votou em Trump foi a turma de perdedores da globalização, um pessoal ignorante, pobre e revoltado, como os britânicos do Brexit, então quer dizer que essa “globalização” é prejudicial à maioria, principalmente aos mais pobres. Elementar, meu caro Watson.

Por sorte dos liberais, não se trata daquela globalização que defendemos, de livre comércio sem tantas barreiras alfandegárias e burocráticas, e sim de um movimento “globalista” coordenado por elites poderosas em simbiose com grandes empresários. Ou seja, Washington e Bruxelas ditando os mínimos detalhes, não o livre comércio. Justamente aquilo que Clinton e George Soros representam com perfeição.

Isso explica por que aquele seu professor de História ou Geografia que detona a globalização e o capitalismo condena ao mesmo tempo Trump e seus eleitores por serem contra a “globalização”. A incoerência só pode ser explicada pelo que se entende pelo termo aqui usado.

Por fim, muitos ficam chocados com o fato de a Flórida ter fechado com Trump, ou de um latino como eu – e que mora neste estado – ter defendido essa opção como a menos pior. Não temo ser deportado? Balela, e novamente culpa da imprensa. O alvo são os imigrantes ilegais, não aqueles que chegam respeitando as regras. Os que seguem as leis não têm o que temer. Agora, se você se chama Juanito Mohammed, vem de uma família islâmica do México e, principalmente, entrou no país de forma ilegal, aí é realmente para ficar tenso e preocupado.

O mundo não vive uma guinada à extrema-direita, e sim uma fase de resgate de certos valores após excesso de “progressismo”. O pêndulo exagerou para a esquerda. Os resultados, como sempre, foram ruins, muito aquém daqueles prometidos pelos “intelectuais”. É hora de endireitar um pouco as coisas mesmo. Que Trump, com um Congresso republicano, consiga fazer isso. O mundo – ou boa parte dele – agradece.



10 de novembro de 2016
Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.
Gazeta do Povo, PR

O SUPER ESTRANHO STANLEY KUBRICK


Nova biografia do mestre do cinema.

10 de novembro de 2016
in selva brasilis

O FUTURO DOS EUA AMEAÇADO

Millenials, a Morte do Futuro da América


Millenials é a atual geração de jovens americanos educada para rejeitar a competição e a meritocracia, condicionada para receber retorno sem investimento e esforço, preparada para exigir e demandar sem nada a oferecer. Não estranha, portanto, sua incapacidade em reconhecer e aceitar a realidade: Colleges Cancelled Exams for Students Traumatized by Trump's Election. Lack of ideological diversity left campuses unprepared to cope with reality.

Os millennials, geração de crianças mimadas que cresceram recebendo troféus sem se esforçar, competir e conquistar nada, por conseguinte socialistas, vão as ruas protestar contra a democracia e a vontade da maioria. Gritam fora Trump... Mimicam, portanto, o que seus contemporâneos estão fazendo na selva com a orquestrada iniciativa petista de invasão das escolas.

10 de novembro de 2016
in selva brasilis

O FUTURO DOS EUA AMEAÇADO

Millenials, a Morte do Futuro da América


Millenials é a atual geração de jovens americanos educada para rejeitar a competição e a meritocracia, condicionada para receber retorno sem investimento e esforço, preparada para exigir e demandar sem nada a oferecer. Não estranha, portanto, sua incapacidade em reconhecer e aceitar a realidade: Colleges Cancelled Exams for Students Traumatized by Trump's Election. Lack of ideological diversity left campuses unprepared to cope with reality.

Os millennials, geração de crianças mimadas que cresceram recebendo troféus sem se esforçar, competir e conquistar nada, por conseguinte socialistas, vão as ruas protestar contra a democracia e a vontade da maioria. Gritam fora Trump... Mimicam, portanto, o que seus contemporâneos estão fazendo na selva com a orquestrada iniciativa petista de invasão das escolas.

10 de novembro de 2016
in selva brasilis

CURINTHIA: O PT DO FUTEBOL

OS 'CUMPANHEROS' OU SÃO INVESTIGADOS, OU SÃO RÉUS OU ESTÃO PRESOS... E ELE CONTINUA SOLTO! ALGUMA COISA DE PODRE HÁ NO REINO DE PINDORAMA...

"Eu não sei de nada, não vi nadica de nada, não ouvie não conheço nenhum desses delatores..."

10 de novembro de 2016
postado por m.ameico

O DISCURSO DE DONALD TRUMP E OS JORNALISTAS BOÇAIS E MENTIROSOS DA GRANDE MÍDIA



Todos os estereótipos construídos pelo jornalismo mentiroso a serviço dos algozes comunistas do povo deste mundo destinados a desconstruir a personalidade de Donald Trump caem por terra se esfarelam. Transformam-se, no máximo, em poeira cósmica perdendo-se no insondável infinito do universo.

Passado o barulho da campanha presidencial americana é importante ouvir com calma o discurso proferido por Donald Trump nos albores da madrugada desta histórica quarta-feira, já na condição de Presidente eleito dos Estados Unidos. Como podem notar não tem nada a ver com a imagem construída pela "bias media", como se define em inglês a mídia de viés, tendenciosa e, sobretudo, mentirosa cujo desempenho se pôde medir com precisão durante a refrega eleitoral.

Mas tudo isso que aconteceu em função desta eleição presidencial nos Estados Unidos foi mais do que oportuno. Permite-nos separar o joio do trigo. Mas no final das contas sobra apenas o joio, a erva daninha, a coisa ruim. Digo isso porque passada a refrega viu-se que entre os jornalistas que atuam na grande imprensa nacional e internacional não se salva ninguém. Nem unzinho. Nada.

Não fosse a internet, as redes sociais e de forma especial os blogs e sites independentes estaríamos no limbo da informação e, portanto, presas indefesas da "desinformação". Aliás, a "desinformação" foi a ferramenta mais eficaz na difusão da "guerra cultural" levada a efeito pelo movimento comunista por meio dos veículos de mídia tradicionais. E isso persistiu até há pouco tempo quando a tecnologia permitiu, como nunca antes na história da humanidade, que cada cidadão tivesse a possibilidade de interceder em tempo real no fluir dos acontecimentos.

Mas o impacto da tecnologia na área da comunicação está apenas começando. Graças a produção em escala decorrente do bom capitalismo dos dispositivos tecnológicos como os telefones celulares que se transformaram em computadores de alta performance, as coisas tendem a mudar numa velocidade que vai além da imaginação. De tal sorte, é perfeitamente factível que a lavagem cerebral das massas desde o advento do rádio e do cinema (mídias mais poderosas  no século passado) possa ser revertida numa velocidade surpreendente nos próximos anos. Estamos sim no exato limiar desses novos acontecimentos.

O fato de ilustrar este post com o discurso da vitória de Donald Trump e analisá-lo e comentá-lo em cima do lance detonando a mentirada veiculada pela mídia tradicional é um exemplo do espetacular poder da mídia digital. Os jornalistas pervertidos pela nefasta ideologia ou que padecem da burrice que é incurável, não podem mais arvorar-se em donos absolutos da verdade. Aqui e agora em qualquer quadrante do planeta alguém poderá contestá-los no mesmo instante em que praticam a deletéria prática da mentira levando água ao moinho da "desinformação".


O DINAMISMO DA ESTUPIDEZ

Ontem, por exemplo, escutava a rádio CBN da Rede Globo durante a tarde e depois à noite enquanto estava em meu carro no trânsito. Nas duas oportunidades colocaram no ar entrevista com essa gente da academia, de alguma dessas universidades, para analisar o discurso de Donald Trump e o mote dessas duas matérias especulava o que afinal poderia acontecer. E lá veio uma torrente de mentiras e mistificaçõdes variadas. Faltou dizer que Trump na presidência dos Estados Unidos será o inferno para Brasil, embora se saiba como já noticiei aqui neste blog que, que a empresa de Trump está investindo no Rio de Janeiro. Planeja a construção de centros comerciais gigantes. O projeto inclusive está no site de sua empresa para quem quiser ver.

No mais, o vídeo acima mostra Donald Trump tranquilo, calmo. Nem parece que acabara de concluir uma campanha eleitoral. Está lá com a família, com a mulher, os filhos e amigos além de uma platéia gigante de apoiadores. Vencida a batalha eleitoral seu discurso é pertinente em todos os sentidos. Ou queriam que atirasse pedras sobre a adversária? Uma campanha eleitoral é como se fosse uma guerra incruenta. Ao final, o vencedor - no caso da eleição presidencial - passa a ser o presidente não só de seus seguidores, mas de toda a Nação. Ou queriam que Trump continuasse com discurso de campanha? Além do mais, num discurso de vitória o vitorioso comemora e agradece de forma educada. E mais, tenta acalmar ao invés de açular os ânimos.

Mas a apresentadora burra, estúpida, ignorante e vitima da lavagem cerebral que deve ter sofrido numa dessas espeluncas rotuladas de "curso de jornalismo", insistia com o entrevistado: "não vai ser o caos, o fim do mundo, a desgraça geral o governo de Trump?". E o entrevistado, um desses professores, ficou até mesmo sem palavras. A indigitada "coleguinha" jornalista que não me lembro o nome agora, estava decidida a espinafrar Donald Trump.

Mas como mostra o vídeo vê-se um Trump tranquilo, bem humorado. Aproveitou para elevar a importância da família, das Forças Armadas, do Serviço Secreto e das forças policiais. Esse talvez foi o recado mais incisivo de que não comunga com o dito "pensamento politicamente correto", espécie de novilíngua que movimenta a máquina de lavagem cerebral do neocomunismo globalístico. Pelo menos não se ouviu de Donald Trump, por exemplo, que pretende governar com (argh!) "sustentabilidade" ou que deseja salvar o planeta das "mudanças climáticas".

Reparem que o discurso de Trump teve começo, meio e fim. Foi bem concatenado. E o que é mais importante: de improviso, sem consultar sequer uma folha de papel. Se fará um bom governo só o tempo dirá. Todavia, basta que siga em linhas gerais o enunciado nesse seu pronunciamento para fazer toda a diferença de forma muito positiva. Vamos aguardar.

10 de novembro de 2016
in aluizio amorim

VITÓRIA DE TRUMP PRODUZIU UMA AVALANCHE DE GÊNIOS DA LÂMPADA, TODOS ESPECIALISTAS EM TIO SAM


Vencidas as primeiras horas pós-vitória de Donald Trump, nos Estados Unidos, chegou o momento de ir aos fatos, pois sobraram profetas do apocalipse ao redor do planeta. No Brasil a situação foi tão vexatória, que em muitos momentos os comentários foram nauseantes, sem contar o viés ignaro dos mesmos.

Analisar as eleições norte-americanas – antes ou depois dos resultados – exige, muito além de conhecimento acerca de política internacional, compreender como funcionam os Estados Unidos. Refiro-me não apenas à vida nas grandes cidades, que na maioria das vezes passam uma realidade deturpada, mas ao cotidiano do interior da maior potência global. É lógico que sobrarão especialistas americanófilos, sendo que muitos desses gênios de ocasião limitaram-se a, um dia, abraçar o Mickey, beijar o Pateta e mergulhar no universo das compras que existe na terra do Tio Sam.

A primeira sandice que surgiu após a vitória de Trump foi a demonização, por parte da direita, de alguns veículos de imprensa e analistas políticos, transformados, em questão de horas, na escória midiática embalada pela ideologia esquerdista. Acusados de esquerdopatas, esses profissionais foram alvo dos mais irresponsáveis ataques, como se seus algozes fossem especialistas em tudo e todos. Confesso que o ortodoxismo, em todos os seus escaninhos, assusta-me profundamente, pois nada tem solução à base do pé de cabra.

Até mesmo eu, que não fiz qualquer previsão sobre o resultado da corrida à Casa Branca, fui alvejado por comentários descabidos de pessoas que, rebocadas pela própria ignorância, creem ser o extremismo direitista a derradeira salvação do universo. No momento em que o ser humano dá as costas ao equilíbrio das forças, algo errado está dominando a cena de forma silenciosa.

O resultado das eleições norte-americanas era inesperado, apesar das profecias póstumas da direita ensandecida. O tema do momento é que só os imbecis não sabiam da avassaladora vitória de Donald Trump. Quem faz tal afirmação certamente desconhece os mais básicos conceitos da aritmética. Afinal, no voto popular Hillary Clinton venceu a eleição, mas a complexidade do sistema eleitoral ianque deu a vitória a Trump. Essas são as regras do jogo e ninguém pode reclamar.

Muita gente falou em lições que surgiram após o triunfo do bilionário bufão nas urnas, mas discordo dessa tese esdrúxula e simplista de analisar os fatos. Se ensinamento houve, o único é que os Estados Unidos estão incontestavelmente divididos. E só discorda disso quem gosta de ser enganado.

O filósofo Luiz Felipe Pondé, o qual tem meu incondicional respeito, afirmou que o resultado da eleição presidencial dos EUA foi uma dura resposta aos intelectuais que insistem em discutir questões que ficam a anos-luz do cidadão comum. Nesse ponto concordo com Pondé, por isso faço, há décadas, jornalismo simples e didático, mostrando ao consumidor da informação a realidade como de fato é, sem malabarismos, rapapés e devaneios. O que não significa que sou desprovido de opinião, até porque a manifestação do pensamento continua sendo livre.

Afirmou Luiz Felipe Pondé, também, que o resultado da corrida à Casa Branca mostrou que o americano encheu-se do status quo, já que sua preocupação é pagar as contas, a escola dos filhos, um emprego e fazer sexo de vez em quando. Aliás, creio que esse é o conjunto de coisas que atormenta a extensa maioria dos seres humanos. Por isso defendo que a informação seja a mais simples e objetiva possível, sem pompa e circunstância, pois ninguém vive na Academia Brasileira de Letras ou na biblioteca da Universidade de Harvard.

Voltando à demonização de veículos midiáticos e analistas políticos, esse movimento é no mínimo irresponsável. Os números da eleição presidencial norte-americana mostram não apenas isso, mas também e principalmente que a imprensa e os analistas não podem ser crucificados porque acreditaram nos resultados das pesquisas, que revelaram a realidade complexa de uma nação dividida. Considerando a margem de erro das pesquisas, não há vencedores e derrotados em termos de previsões.

De igual modo, a vitória de Donald Trump revelou que nas grandes potências cresce o extremismo político e a tese da antiglobalização. Afinal, além do triunfo do bilionário americano, não se pode ignorar a vitória apertada do Brexit e o avanço da extrema direita francesa. Quem pensa dessa forma [extremismo e antiglobalização] não consegue enxergar o que está à frente do próprio nariz. É fato que cada dia tem a sua agonia, por isso é importante viver o presente, mas não se pode deixar de pensar no futuro.

Se a grande preocupação deveria ser o futuro, desde que o presente esteja solucionado em parte, a pergunta que não quer calar é uma só: Donald Trump entregará ao seu eleitorado tudo aquilo que prometeu durante a campanha? Espero que não. Quem entende minimamente de política e economia internacionais sabe que se isso acontecer, o planeta viverá um novo e mais acirrado período de agruras. Ao falar em reescrever tratados comerciais, Trump aponta na direção de dias turbulentos em termos econômicos. Ao defender o protecionismo, o presidente eleito dos EUA manda uma mensagem cifrada: muitas economias terão de se preparar para o pior. E uma delas é a do Brasil, já que a anunciada redução das relações comerciais entre americanos e chineses produzirá reflexos negativos na economia verde-loura, ainda dependente da massiva exportação de commodities.

Na seara dos direitos humanos, dos imigrantes latinos, em especial os mexicanos, e dos refugiados, Trump certamente não fará o que prometeu, até porque a Casa Branca não é palco de reality show, algo que o eleito está acostumado a protagonizar. Sem contar que, mesmo com os republicanos dominando o Senado e a Câmara, o próximo presidente dos EUA dependerá do aval do Congresso. Tarefa que não é fácil e que sempre produz longas e acaloradas discussões.

Metade dos eleitores americanos que foram às urnas votou em Donald Trump na esperança de reaquecimento do setor de empregos, mas não se pode esquecer que o mercado local depende da mão de obra barata, o que fica por conta dos imigrantes latinos. Por mais que estejam preocupados com o emprego, os americanos rejeitam determinadas funções. É uma questão cultural que cresceu nas últimas décadas, apesar de também ter crescido a busca por uma vaga de trabalho. Paradoxal parece, mas essa é a realidade norte-americana.

Sobre a promessa de ressuscitar grandes empresas que marcaram a história dos EUA, Trump dificilmente conseguirá isso, a não ser que descarte a teoria da antiglobalização. Do contrário, a chance de crescer o índice de desemprego no país é grande.

Muitos creditaram a vitória de Trump ao fato de ele ser alguém fora da política, um “outsider”. Na verdade, ninguém pode ser mais “insider” do que Donald Trump, que construiu fortuna sugando tudo e mais um pouco do establishment local. E para isso cultivou relacionamentos na área política, inclusive com o casal Clinton, que de um jeito ou de outro beneficiou o milionário fanfarrão que comandará os destinos dos Estados Unidos pelo menos até janeiro de 2021.

Em outro vértice da euforia, alguns explicaram o triunfo de Trump com o fato de ele ser um empresário de sucesso. O presidente eleito dos EUA foi à falência em quatro ocasiões na esteira de seus cassinos (de propriedade da Trump Entertainment Resorts), em Atlantic City. A última bancarrota ocorreu em 2014, com Trump alegando que nada tinha a ver com a débâcle, mesmo tendo um terço das ações da empresa.

Em 1988, Trump comprou, por US$ 365 milhões, a Eastern Air Shutle, empresa que operava nas cidades de Boston, Nova York e Washington DC. Repaginada com o nome comercial de Trump Air, a empresa passou a oferecer serviço de bordo luxuoso, com aeronaves decoradas de maneira rebuscada. O negócio jamais deu lucro, sendo que o empresário deixou de pagar vários empréstimos vinculados ao negócio. A companhia aérea acabou nas mãos dos credores e teve suas operações encerradas em 1992.

Em 1989, Donald Trump lançou um jogo similar ao famoso banco imobiliário, mas também fracassou. Anos mais tarde, em 2005, o presidente eleito insistiu no setor de jogos e lançou um produto relacionado ao reality show “O Aprendiz”, mas de novo naufragou.

Em 2006, sob o slogan “sucesso destilado”, Donald Trump lançou nos EUA uma marca de vodka, acreditando que o negócio seria um tremando sucesso. Em 2011, a produção da bebida foi interrompida devido à falta de interesse dos americanos pelo produto.

Em 2007 aconteceu o lançamento da revista “Trump”, cujo conceito era “refletir as paixões de seus leitores com um conjunto cultural rico”. Menos de dois anos depois a publicação desapareceu. No mesmo ano surgiu a Trump Steaks, linha de carnes especiais, mas o negócio “implodiu” cinco anos depois, juntamente com a churrascaria Trump Steakhouse, em Las Vegas, fechada pelas autoridades por violar 51 regras do código de saúde local.

Donald também viu ir pelos ares a GoTrump.Com, empresa voltada para as viagens de luxo que durou apenas um ano. Criada em 2005, a Universidade Trump fechou as portas um ano depois, no vácuo de denúncias de alunos, que acusavam a entidade de oferecer aulas semelhantes a “infomerciais” (propagandas que costumam durar o mesmo tempo de um programa de televisão convencional).

O republicano eleito para um quadriênio na Casa Branca também fracassou com a Trump Mortgage, empresa de hipotecas criada em 2006, mas que ruiu em um ano e meio. Isso porque o empresário entregou o comando do empreendimento a E.J. Ridins, que à época se apresentava como grande executivo do mercado financeiro, mas que na verdade havia trabalhado apenas seis dias como corretor de ações em Wall Street. O que não é demérito, mas mostra a falência do faro de Trump.

Contudo, Donald Trump, o grande empresário (sic), não é só fracasso. No seu currículo há alguns negócios rentáveis, como o Hotel Grand Hyatt, a Trump Tower, o Wollman Rink (rampa de patinação e skate do Central Park), The Trump Building e o Trump Place (5,7 mil apartamentos divididos em 18 torres), empreendimentos localizados em Nova York. Fora isso, o magnata tem a Trump International Tower, em Chigago, que abriga um hotel, lojas, restaurantes e apartamentos residenciais.

Mas o espetáculo deprimente não parou por aí, já que as “cheerleaders” de Trump continuam ensandecidas. O maior absurdo ficou por conta da afirmação de que o republicano defenestrou os comunistas da cena política local. Como se na catedral primeira do capitalismo planetário esse movimento tivesse espaço. No máximo pode-se afirmar que nos EUA existe um reles punhado de comunistas aqui e outro acolá. E não se pode confundir liberal com comunista.

Por falar em comunismo, surgiu em plagas brasileiras a ideia de fundar um veículo de imprensa da direita, porque os muitos que existem atualmente são tendenciosos, segundo os inconformados. Ou seja, a sugestão é tão coerente quanto a equivocada, costumeira e pleonástica expressão “sair fora”. Veículo de imprensa de direita e de esquerda é algo tão absurdo em termos de liberdade, quanto o devaneio do dependente químico que diz saber dominar os efeitos das drogas. Alguns mais alucinados com a vitória do republicano afirmam estar cansados de jornalistas analistas. Por sorte terão, em breve, jornalistas analistas que preveem o futuro sob a ótica direitista.

Alguns brasileiros, que apostavam na vitória de Hillary Clinton, afirmaram, como ainda afirmam, que os americanos não sabem votar. Não se pode esquecer que quem elege Lula e Dilma Rousseff como inquilinos do Palácio do Planalto não tem moral para criticar o eleitor de Trump, que de gênio dos negócios nada tem. Apenas se deu bem em um mercado (imobiliário) que prospera nos EUA como erva daninha. E fazer fortuna em uma cidade que não mais tem espaço para se construir é algo tão lógico que torna-se enfadonho. Apenas a título de informação, Trump, a versão ianque de Midas, um dia elogiou rasgadamente a política econômica adotada por Lula, a mesma que levou o Brasil à maior crise da sua história.

Como não tenho bola de cristal, sou desprovido de vocação para profeta do caos e muito menos sonho em ser a Mãe Dináh de calças, prefiro ficar longe das previsões em seara tão complexa, mesmo conhecendo razoavelmente os EUA. Apenas torço para que Trump consiga fazer dos próximos quatro anos o período mais exitoso de sua carreira, já que a Casa Branca não é lugar de aprendiz e muito menos de quem explora a jogatina, vai à falência e foge da raia. In God we trust


10 de novembro de 2016
Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.