"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

O PODER DA LOUCURA


O discurso comunista mudou muito ao longo dos tempos. Começou declarando que a classe incumbida de destruir o capitalismo era o proletariado industrial. Desde Herbert Marcuse, acredita que os proletários são uns vendidos e que a tarefa de transformar o são uns vendidos e que a tarefa de transformar o mundo cabe aos estudantes, prostitutas, bandidos e drogados (e, no Brasil, aos funcionários públicos, que Marx considerava aliados naturais da burguesia).

Começou proclamando que ideias e doutrinas eram apenas um véu de aparências tecido em cima do interesse de classe. Hoje, admite, com Ernesto Laclau, que as classes são inventadas pela propaganda revolucionária conforme os interesses do Partido no momento.
É difícil debater com gente que muda de conversa cada vez que a discussão aperta.
Mas uma coisa é inegável: a mentalidade comunista, que no início era um bloco dogmático de ideias prontas, foi se tornando uma trama obscura e proteiforme, um labirinto móvel de subterfúgios e desconversas, quase impossível de descrever.

Em vez da aceitação pura e simples de um esquema explicativo prêt-à-porter, a adesão à causa comunista foi se transmutando num processo psicológico complexo de contaminação neurótica numa massa turva de sentimentos confusos. 

Esse processo reflete a adaptação progressiva do movimento comunista a situações culturais criadas pelo descrédito intelectual do marxismo e pela necessidade de protegê-lo sob novas versões cada vez mais escorregadias, imunes à crítica racional.
Ao longo do processo, a tática de aliciamento comunista foi se transformando cada vez mais num envolvimento emocional sem conteúdo doutrinal identificável, baseado no sentimento de participação comunitária e no ódio a inimigos cada vez mais vagos e indefiníveis.

Em vez de perder credibilidade, porém, o discurso comunista ganhou força com isso, precisamente na medida em que já não é mais um "discurso" em sentido estrito e sim um aglomerado de símbolos, muitos deles não-verbais, que apelam por igual às frustrações e ressentimentos mais disparatados, unificando, por incrível que pareça, o ódio de feministas e gayzistas à moralidade religiosa tradicional e a hostilidade fundamentalista islâmica à imoralidade endêmica das sociedades ocidentais, exemplificada, aos olhos do Islã, pelo próprio gayzismo-feminismo. 

Por isso mesmo, a mente dos comunistas individuais, especialmente os "intelectuais", foi se tornando cada vez mais complexa e inapreensível, suas opiniões cada vez mais elusivas e escorregadias, ao ponto de que já não podem ser "discutidas", apenas analisadas como sintomas de um estado de espírito que elas não expressam diretamente, apenas insinuam por entre sombras, como na linguagem dos sonhos. 

A coesão de um discurso pode ser interna ou externa. No primeiro caso, as partes estão unidas umas às outras por um vínculo lógico.
No segundo, pela referência a um conjunto de fatos ou coisas reconhecíveis. As duas formas de coesão podem vir articuladas. 

Mas o discurso que nem é coerente nem reflete uma realidade nem articula essas duas exigências, pode continuar exercendo, ao menos sobre certo público, um efeito persuasivo bem notável. 

Isso acontece quando, sob a aparência de defender ideias ou expor fatos, ele reflete apenas o sentimento de identidade do grupo social a que se destina. 

Como aí as ideias e fatos já não interessam por si mesmos, mas apenas como símbolos evocadores de certas reações emocionais, tudo o que o discurso precisa para ser aceito é usar os símbolos corretos, capazes de despertar as respostas instintivas desejadas. Para isso, evidentemente, esses símbolos têm de ser de uso geral e corrente no público-alvo: têm de ser lugares-comuns, chavões, frases feitas, clichês.

Uma linguagem de clichês pode ser usada deliberadamente, com arte e técnica, por um demagogo ou propagandista hábil. Mas também pode acontecer que, usada em excesso, ela se dissemine ao ponto de usurpar o lugar das outras formas de discurso, tornando-se o linguajar geral e espontâneo, o modo de pensar de todo um grupo falante, de toda uma coletividade de "intelectuais". Neste caso, a intenção de manipular torna-se praticamente inconsciente, a mentira deliberada transmuta-se em fingimento histérico, em que a falsidade absoluta dos pretextos alegados contrasta pateticamente com a intensidade real dos sentimentos que despertam.

Quanto mais vasto o grupo envolvido nesse jogo de teatro, mais vigoroso o reforço que cada um dos atores recebe de seus pares e mais se amplia a permissão geral para a prática da incoerência e da falsidade, até que todo resíduo de compromisso com a razão e os fatos seja por fim abolido e o sentimento de identidade grupal passe a valer como o único critério de veracidade concebível. 

Esse sentimento, na medida em que se intensifica, fortalece a coesão e a capacidade de ação unificada do grupo envolvido, resultando, por vezes, em acréscimo do seu poder político. Assim se explica o paradoxo aparente de que, ao longo do século 20, os grupos mais intoxicados de ideias inverídicas e absurdas – os comunistas e os nazistas – saíssem frequentemente vencedores na disputa com adversários mais sensatos e realistas. 

Invertendo o otimismo inaugural da modernidade, que pela boca de Sir Francis Bacon proclamava "conhecimento é poder", a evolução dos acontecimentos mostrou que, em política, a ignorância, a inconsciência e a loucura, não só do público manipulado, mas do próprio manipulador, são armas nada desprezíveis.


29 de abril de 2015
olavo de carvalho

INTERVENÇÃO CONSTITUCIONAL

DR. ANTONIO JOSÉ RIBAS PAIVA RESPONDE SOBRE INTERVENÇÃO CONSTITUCIONAL M...

CPI DOS RATOS

TIA AMÉLIA HONESTO DA SILVA


Querida tia

Continuo neste maravilhoso emprego na Terra da Fantasia. Trabalho no máximo quatro vezes por semana. O salário está sempre em dia, e, quando eu e meus colegas queremos aumento, a união é completa, mesmo entre rivais. Decidimos, sem a menor dificuldade, quanto será nossa remuneração.

Tenho várias secretárias, assessores e motorista. Não gasto um tostão com eles, que inclusive ajudam na caixinha do gabinete, doando parte do salário. Não pago nada de aluguel e ainda reformaram novamente todo o apartamento. Não gastei um tostão. Também não pago correio, internet e passagens aéreas. Meu plano de saúde é o melhor do Brasil, e o carro, claro, também é totalmente grátis, incluindo manutenção e combustível.

Tem umas tais de emendas, que negocio com uns empresários – gente fina –, bastando apresentar uns projetos de obras, e lá vem dinheiro vivo. O chato é que em algumas vezes tenho que abrir conta bancária em nome de outra pessoa, numas ilhas de que nunca havia ouvido falar. Dizem que lá tem menos fraude. Dá muito trabalho, por isso há uns profissionais, os operadores, que resolvem tudo e cobram apenas uma percentagem, serviço muito bem organizado que existe há décadas. Um orgulho para todos nós!

Tenho horror em lembrar do tempo em que tinha que bater ponto, pagar aluguel e conta de luz e as férias eram só de 30 dias. Aqui é muito diferente. Tem um recesso sem nada e um tal de recesso branco, o que dá um tempão de folga extra. Acho estranho esse recesso branco, parece discriminação racial. Nem questiono, pois vejo uns bobos que querem mudar tudo. Isso é falta de coleguismo – antiético. Afinal, a vaca deles é que vai pro brejo.

O melhor de tudo é que posso ficar por aqui pelo resto da vida. Eta emprego bom! O único perigo é cometer uma tal de falta de decoro, que sinceramente ainda não sei o que é. Aí o bicho pega!

Deus me livre de ter que trabalhar 35 anos para me aposentar, possivelmente velho e doente, e ainda não receber o salário integral. Aqui não tem essa não. O pessoal fez um regulamento bem legal, e ninguém pode mudar essas coisas. Somos nós que regulamentamos tudo no país.

Por tudo isso estou te escrevendo para pedir ajuda. Têm falado muito mal de mim e de meus colegas. No meu caso, acho que é discriminação pelo meu sobrenome. Tia, a diferença entre nós dois está apenas pelo lado materno: Honesto e Desonesto. Implicam sempre com o lado do paizão Silva.

Sei que a senhora continua pobre, na fila do SUS, mas confie em mim e continue firme, pois sabe que estou aqui, na Terra da Fantasia, lutando para ajudar meus amigos, em especial as famílias dos Honestos e Esquecidos que me deixaram conseguir este empregão.

Mande em mensagem para o meu patrão, Eleitorelson Brazuca, o que a senhora e nossos amigos, os Honestos e os Indiferentes, pensam de mim. Nas redes sociais, divulguem o que faço e quem eu sou!

Um beijo.

Deputilson Desonesto da Silva



29 de abril de 2015
Alfredo Guarischi

UM POUCO DE TUDO



  1. Louie Schwartzberg Gratidão legendado - YouTube

    www.youtube.com/watch?v=uGZwx6g8Fg0
    11 de nov de 2013 - Vídeo enviado por marshallramone
    Louie Schwartzberg Gratidão legendado ... Louie Schwartzberg: Hidden miracles of the natural world ...

  2. 29 de abril de 2015

EU, UM EXCLUÍDO



Como prova de respeito aos meus distintos leitores, declaro desde já que anda muito longe das minhas intenções qualificar qualquer um deles como excluído. Você mesmo, caro leitor, talvez já tenha derramado doloridas lágrimas ante o drama dos excluídos, pranteados sinfonicamente pela ONGosfera socialista. Quanto a mim, estou à procura de quem queira lacrimejar no meu quintal pelo motivo oposto, pois o que não consigo é ser incluído nos excluídos.

Antes de explicar minha desdita, vamos dar juntos uma olhadinha nessas instituições autodenominadas ONGs. Comecemos por lembrar que ONG é uma sigla significando Organização Não Governamental. Se não é governamental, deve-se entender que não pertence ao governo, não é custeada pelo governo nem realiza trabalho da competência do governo, certo? Errado, chapadamente errado.

Primeiramente, porque recebem verbas polpudas do governo (ou seja, de nós contribuintes) a título de incentivos fiscais; outras são cozinhadas em panelas esquerdopatas do governo e dele recebem verbas diretamente, apesar de não serem governamentais. Em segundo lugar, porque algumas entidades rotuladas como ONGs atuam em áreas das quais o governo deveria cuidar, enquanto outras se atribuem atividades que só interessam a quem as exerce. Em terceiro lugar, se elas não pertencem ao governo, mas são subvencionadas pelo dinheiro público, compete obrigatoriamente ao governo fiscalizar o seu uso; e se não fiscaliza, pode ser incriminado, mas não vejo ninguém interessado em interessar-se por cumprir essa obrigação, o que em casos específicos já é crime de conivência. A condição de não governamental tornou-se um salvo-conduto para fugir da fiscalização e prestação de contas, como se fosse uma ação entre amigos.

Passemos a alguns exemplos.

Menores abandonados, ou de rua, eis uma categoria de excluídos capaz de provocar rios de lágrimas. Mas eu li em jornal, alguns anos atrás, que o número de menores abandonados no Rio de Janeiro era menor que o de ONGs destinadas a cuidar de menores abandonados. Isto supõe, no mínimo, histórias mal contadas.

Orquestrou-se uma milONGa carpideira e esquerdófona em favor de negros, morenos, mulatos, cafuzos, trigueiros. Eles sempre foram assim designados respeitosamente durante séculos, mas agora são insultados numa maçaroca ideológica como afrodescendentes. Já conseguiram extorquir para eles vantagens invejáveis, inclusive um feriado espúrio. Resultados válidos dessa barulheira dispendiosa? Que eu saiba, nenhum.

Os índios tornaram-se turbulentos, exigentes, agressivos, pela ação de organismos como Cimi, Funai, Incra, ONGs, cujo estrabismo anticapitalista os estimula a obter vantagens... para as ONGs. A inércia beligerante deles já capturou 13% do território nacional. Nas mãos do agronegócio, em pouco tempo essa sesmaria colossal alimentaria grande parte do mundo, além de gerar empregos para todos os índios, se estivessem dispostos a trabalhar.

Gente que ignora o significado de quilombo e quilombola reivindica glebas imensas, alegando que seus ancestrais viviam por ali. ONGs do ramo se encarregam de fabricar os documentos, e muitos já se julgam com direito a cidades inteiras.

Acrescente a miríade de bolsas, quotas e cestas que se multiplicam para isso e mais aquilo, e concluirá que não compensa dar duro para progredir, o melhor é arranjar uma mamata qualquer, lacrimejando sob este slogan: Sou um excluído!

Embora eu esteja interessado em usufruir as vantagens de excluído, não consigo enquadrar-me. Por exemplo, estou entusiasmado com a perspectiva de ser índio. De repente, não mais que de repente, eu me tornaria um dos poucos donos de 13% do território nacional. Mas meu físico de ariano alemão não engana ninguém. Minha pigmentação epidérmica pouco excludente me exclui também dos amplos privilégios de negros e quilombolas. Em manifestações agressivas de desordeiros sem-terra, eu seria um alienígena. E no limiar da terceira idade, tenho pouca chance para me aceitarem como menor abandonado.

Que tal, leitor, se você inventa para nós uma categoria de excluídos? Não faltarão ONGófilos, ONGatunos e ONGanadores, que surgem por geração espontânea, e logo se mobilizarão para tornar inquestionáveis os nossos direitos. Se elucubrar alguma coisa, avise-me. Enquanto espero, vou me sindicalizar e deixar crescer a barba, isso deve ajudar. Por favor, fabrique uma forma de exclusão adequada para me incluir nos excluídos.


29 de abril de 2015
Jacinto Flecha

IMPEACHMENT NÃO É MATÉRIA DESCARTADA


IMPEACHMENT DA DILMA NÃO É MATÉRIA DESCARTADA E CUNHA INDICA QUE PODE RECEBER O PEDIDO. DEPUTADOS AGUARDAM A GRANDE MARCHA QUE SEGUE PARA BRASÍLIA.



O Planalto acendeu a luz amarela após reunião de última hora entre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e líderes aliados, na noite desta segunda. Deputados saíram com a certeza que o impeachment de Dilma não está sepultado, como Cunha tem dito à imprensa. Nenhuma decisão sobre o assunto deve ser tomada antes de 27 de maio, quando é esperada marcha contra Dilma em Brasília.
Depois de Eduardo Cunha, os “aliados” se reuniram com a oposição. E Carlos Sampaio (PSDB-SP) deve aumentar a pressão sobre Cunha.
A oposição já chama de “Marcha dos 100 milcaminhada entre São Paulo e Brasília de defensores do impeachment. A marcha é liderada pelo Movimento Brasil Livre. 

29 de abril de 2015
in aluizio amorim

NO TWITTER, DILMA COMEMORA 6,2% DE DESEMPREGO. QUE ÓTIMO!



Dilma Rousseff, a editora-chefe do Blog do Planalto, acaba de postar esta mensagem no twitter. Ela comemora que o desemprego de 6,2% está de bom tamanho, pois ainda é menor do que em outros países. Ao final do texto publicado, ela tem a cara de pau de relembrar o que disse no início do ano e que transformou-se na primeira grande mentira deste segundo mandato:

“Os direitos trabalhistas são intocáveis. E não será o nosso governo, um governo dos trabalhadores, que irá revogá-los." 

As medidas provisórias (MP) 664 e 665 continua tramitando no Congresso: elas agridem direitos trabalhistas como o pagamento de pensão por morte, seguro-desemprego, seguro para pescador artesanal, auxílio-doença e abono salarial.

29 de abril de 2015
in coroneLeaks

SOBRE A CABEÇA AS ESTRELAS VERMELHAS... A CHURRASCARIA CERTA, PARA OS DELATORES

DELATOR DO MENSALÃO JANTA COM AMIGOS NA CHURRASCARIA DAS ESTRELAS VERMELHAS EM CURITIBA




Paulo Roberto Costa, tendo sobre a cabeça estrelas vermelhas, prepara-se para iniciar o jantar com amigos em churrascaria de Curitiba * Clique sobre a imagem para vê-la ampliada * (Foto: Blog do Fausto Macedo/Estadão)
O ex-diretor da Petrobras e delator do petrolão, Paulo Roberto Costa, depois de prestar novo depoimento no inquérito da Lava Jato, em Curitiba nesta terça-feira, foi visto jantando alegremente com amigos na churrascaria das estrelas vermelhas em Curitiba, segundo o blog de Fausto Macedo do Estadão.

Nova Estrela, é o nome da churrascaria. Coincidentemente, segundo se observa na fotografia, as estrelas que ornamentam o salão dos comensais são vermelhas.

Constata-se também que a tornozeleira eletrônica não impede que esse operador do petrolão leve uma vida, digamos assim, normal...

29 de abril de 2015
in aluizio amorim

SENADO APROVA CRIAÇÃO DA CPI DA OPEAÇÃO ZELOTES QUE DESCOBRIU ROMBO DE R$ 19 BILHÕES NO CARF, ÓRGÃO VINCULADO AO MINISTÉRIO DA FAZENDA. ROUBALHEIRA NÃO PARA.


O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), determinou nesta quarta-feira a criação da comissão parlamentar de inquérito que irá investigar as denúncias de corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Federais (Carf).
A chamada CPI do Carf, ou CPI da Operação Zelotes - em alusão à operação da Polícia Federal que investigou as irregularidades - recebeu 42 assinaturas de senadores, muito acima do mínimo necessário de 27 para ser instalada.
"Já foi lido o requerimento. Estamos aguardando que os líderes indiquem os nomes que comporão a comissão. No prazo do regimento, na forma do que o Supremo Tribunal Federal decidiu, se os líderes não indicarem, nós vamos indicar rapidamente para que essa CPI comece a trabalhar. Já pedi ontem a indicação, são cinco dias (de prazo)", disse Renan, na chegada ao Senado.
Com a leitura, houve prazo até a meia-noite de terça-feira para que os senadores que se arrependessem e retirassem suas assinaturas de apoio. A CPI vai investigar a existência de esquema de corrupção no qual escritórios de advocacia e de contabilidade, bem como grandes empresas, pagavam propinas a conselheiros do Carf e servidores públicos para anularem autuações fiscais milionárias e reduzir o valor dos tributos a serem pagos.
A partir desta quarta começará a contar o prazo para que os partidos políticos indiquem seus representantes para compor a comissão. Quando isso for feito, ela poderá ser instalada e definir presidente e relator.
Na justificativa ao requerimento da CPI feito na terça-feira, o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) disse que o escândalo de fraude, corrupção e crimes pode ter causado prejuízos superiores a 19 bilhões de reais, valor estimado pela operação da Polícia Federal. Oliveira havia apresentado o pedido da comissão no dia 7 de abril, data em que contava com o apoio de 32 parlamentares, cinco a mais do que o mínimo necessário.
"Diante disso, parece óbvio que uma questão dessa envergadura e relevância exige medidas reais e efetivas, contexto em que emerge necessária a instalação da comissão parlamentar de inquérito ora apresentada, a CPI do Carf, por meio da qual o Senado poderá investigar as razões da existência do esquema criminoso e, ao mesmo tempo, obter informações para orientar a adoção de medidas que evitem a repetição de tão lamentáveis fatos", disse Oliveira. 


29 de abril de 2015
in aluizio amorim

ALELUIA PEDE CASSAÇÃO DO PT POR SUBORDINAÇÃO AO FORO DE SÃO PAULO EM REPRESENTAÇÃO À PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA - PGR

O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) continua sendo um dos poucos parlamentares que costuma ir diretamente ao ponto sem tergiversar. 
Passei batido nesta notícia, mas uma tuitada do Felipe Moura Brasil nesta madrugada foi providencial e, portanto, transcrevo do seu blog este post que é super importante. 
Leiam:
O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) ingressou com uma representação na Procuradoria-Geral da República pedindo o cancelamento do registro civil e do estatuto do Partido dos Trabalhadores (PT) pelas afrontas à lei sintetizadas abaixo:
1) Manutenção de organização paramilitar
a) Art. 17, § 4º, da Carta Magna:
“É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar”.
b) Inciso IV, do art. 28, da Lei 9096/95:
Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado da decisão, determina o cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado:
[…] IV – que mantém organização paramilitar. “
Justificativa:
Aleluia expõe esse conceito, a relação do PT com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, a ameaça de Lula de convocar o “exército de Stédile” e uma ementa de julgado proferido pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região sobre “a existência de entidade paramilitar, cujas características evidenciam ameaça ao Estado Democrático, à ordem política e à administração pública”.
2) Da subordinação a entidade estrangeira
- inciso II, do art. 28, da Lei 9.096/95 veda a qualquer partido político “estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros”.
Justificativa:
Aleluia expõe as confissões de Lula, do ditador Hugo Chávez e do comandante do grupo terrorista Farc, Raúl Reyes, sobre o Foro de São Paulo, bem como trechos das atas dos encontros, e verifica que a entidade “dirige a atuação do Partido dos Trabalhadores e, por conseguinte, os rumos da política governamental brasileira” e “almeja o estabelecimento de uma soberania latino-americana, que se sobreponha aos países membros, mostrando-se incompatível com as soberanias nacionais”.
3) Do recebimento de recursos financeiros de procedência estrangeira
a) inciso I, do art. 28, da Lei 9.096/95 veda a qualquer partido político “ter recebido ou estar recebendo recursos de procedência estrangeira”.
b) inciso I, do art. 24, da Lei nº 9.504/97 também inclui essa vedação ao disciplinar a arrecadação de recursos nas campanhas eleitorais.
Justificativa:
Aleluia relembra a antiga doação de US$ 5.000.000,00 (cinco milhões de dólares) das Farc à campanha presidencial de Lula, em 2002, noticiada pela VEJA de 16 de março de 2005, e, para fundamentar sua representação, expõe o escândalo mais recente do “patrocínio de campanha”, nas palavras do delator Pedro Barusco, feito pela empresa holandesa SBM.
“Não passa despercebida a circunstância de o valor acertado entre [o operador Júlio] Faerman e a SBM (US$311.500,00) ser muito próximo do que Barusco afirmou ter providenciado para o Partido dos Trabalhadores (US$ 300.000,00), para serem empregados no pleito de 2010.”
O documento completo está disponível neste link: http://www.josecarlosaleluia.com.br/dir-midias/representacao-a-pgr-pela-cassacao-do-pt.doc.

29 de abril de 2015
in aluizio amorim

CUNHA SINALIZA ACEITAR PEDIDO DE IMPEACHMENT

CUNHA SINALIZOU QUE IMPEACHMENT DE DILMA NÃO ESTÁ SEPULTADO


PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, EDUARDO
CUNHA (PMDB-RJ).
FOTO: FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/ABR


O Planalto acendeu a luz amarela após reunião de última hora entre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e líderes aliados, na noite desta segunda. Deputados saíram com a certeza que o impeachment de Dilma não está sepultado, como Cunha tem dito à imprensa. Nenhuma decisão sobre o assunto deve ser tomada antes de 27 de maio, quando é esperada marcha contra Dilma em Brasília.

Depois de Eduardo Cunha, os “aliados” se reuniram com a oposição. E Carlos Sampaio (PSDB-SP) deve aumentar a pressão sobre Cunha.

A oposição já chama de “Marcha dos 100 mil” a caminhada entre São Paulo e Brasília de defensores do impeachment.

A marcha é liderada pelo Movimento Brasil Livre, que também tem organizado protestos contra Dilma, e inspirada em Luiz Carlos Prestes.


29 de abril de 2015
diário do poder

NÃO A FACHIN NO STF: O HOMEM DE LEWANDOWSKI E DO PT SECTÁRIO


Alô, senhores senadores! Estão tentando fazê-los de trouxas. Ou: Apelando a satanás para justificar as Santas Escrituras

Estou prestando um serviço ao Senado e ao Brasil, que nunca haviam ouvido falar do advogado petista, cutista e emessetista Luiz Edson Fachin, que Dilma Rousseff indicou para o Supremo. É um passo rumo à tentativa de bolivarianização do tribunal. Estou trazendo à luz a militância de Fachin sobre o direito de família. O doutor pensa coisas do balacobaco.

Escrevi dois posts a respeito. Num deles, tratei da ação patrocinada no Supremo por uma entidade de que ele é diretor que institui o direito da amante. Em outro, abordo um prefácio, de sua autoria, num livro que ataca a monogamia — e, pois, flerta com a poligamia.

Os links estão aí. Quem leu os dois textos sabe que não ofendi, não desqualifiquei nem xinguei Fachin. Ao contrário. Divergir, ainda que com dureza, é uma forma de respeito.
Pois bem: eis que me chega um ataque bucéfalo de autoria de Marcos Alves da Silva, que se identifica como “professor de direito civil, advogado e pastor presbiteriano”. Quem é ele? É justamente o autor do livro prefaciado por Fachin, cujo título é este: “Da monogamia – A sua superação como princípio estruturante da família”.

O senhor Marcos Alves da Silva criou até uma página na internet cujo título provoca em mim certa vergonha alheia: “#vaiFachin”. Vale dizer: trata-se de um prosélito das hashtags.

Eu poderia deixar esse pobre-coitado na obscuridade. Mas não vou. Quero evidenciar quem são e como agem os amigos do advogado Fachin, que pode ser um dos onze togados da corte máxima do país. Leiam o que ele escreveu a meu respeito, com todas as vírgulas analfabetas de que ele é capaz. Volto em seguida.

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 “A RAZÃO NÃO ADERE AO ERRO TOTAL”
(CARTA ABERTA DE DESAGRAVO FACE AO REPUGNANTE TEXTO DE REINALDO AZEVEDO PUBLICADO NO BLOG DA VEJA, EM 28/04/2015)

“Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia; para que também não te faças semelhante a ele. Responde ao tolo segundo a sua estultícia, para que não seja sábio aos seus próprios olhos.”
Provérbios 26:4-5

O sábio poeta hebreu dá um conselho ambíguo. Devemos ou não responder ao tolo? 
Há na resposta um risco intrínseco. A arena de debate do tolo situa-se no campo da irracionalidade, da ignorância, da vaidade e, por vezes, do ódio. 
Posta-se o tolo em sítio distante da razoabilidade, do bom senso, da ponderação. Então, o conselho: não desça a essa arena jamais. 
Logo, não responda ao tolo segundo a sua estultícia. Mas, em aparente contradição, ensina o sábio: não deixe o tolo sem resposta para que não passe por sábio. Considerado esse paradoxo, é que externo publicamente meu mais veemente repúdio ao que o Sr. Reinaldo Azevedo escreveu em sua lastimável coluna, no blog da Revista Veja, intitulado “Esta vai para o Senado”.

O senhor Reinaldo Azevedo que, nada lê muito além de orelhas de livros, busca ávido entre escritos jurídicos, algum texto que lhe sirva de pretexto para atacar a indicação do professor Luiz Edson Fachin ao Supremo Tribunal Federal. Este pretenso jornalista valeu-se de um livro de minha autoria, resultado de tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, para tentar agredir e infamar a imagem do professor Fachin.

Somente quem não leu o livro, como Reinaldo Azevedo, é que pode fazer a absurda assertiva de que há, na tese, uma defesa da poligamia e, concomitantemente, um ataque à família formada pelo casamento. O autor não subscreve esse disparate e, muito menos, o ilustre professor que prefaciou o livro. O “blogueiro” da revista Veja promoveu distorção rasteira e fraudulenta de um complexo tema, que remonta às raízes da formação do Brasil e guarda estreita relação com a dominação masculina.

Trata-se de um ataque desleal, covarde, oportunista. O que lastimo profundamente é que uma pessoa como essa, que tem coragem de lançar mão de tão sórdida mentira, seja albergado por uma Revista que se pretende formadora de opinião. Lamento, que tantos desavisados leiam estas postagens de textos desqualificados, tomando-os como expressão de verdade.

Ah! Se conhecessem quem é Luiz Edson Fachin e o que a sua obra e atuação jurídica significam para o Direito, no Brasil. É lamentável que sua indicação ao Supremo Tribunal Federal tenha ocorrido neste momento em que a irracionalidade, patrocinada por alguns veículos de comunicação de massa, vem tomando vulto e se verifica um notável esvaziamento do verdadeiro debate político.

Evoco, contudo, as sábias palavras de Dom Hélder Câmara, que sempre me serviram de alento quando vejo avolumar a barbárie, a brutalidade e, às vezes, a bestialidade. Ensinava o sábio Bispo de Olinda: “A razão não adere ao erro total”. Tenho viva esperança de que o Senado Federal não há de deixar-se conduzir pela fúria dos tolos. A luz da razão há de prevalecer.

Marcos Alves da Silva
Professor de Direito Civil
Advogado
Pastor Presbiteriano

Respondo

Tanto livro como prefácio fazem, sim, um ataque frontal à monogamia — e, pois, por via de consequência, a apologia da poligamia, a menos que estejamos diante de um repto em favor da masturbação, nem que seja a sociológica.

Então façamos assim: desafio este senhor a tornar público o texto de seu livro para que os leitores possam avaliar quem diz a verdade. De resto, o prefácio é das coisas menos infamantes que Fachin produziu contra a família como “princípio estruturante” da sociedade.

Há coisas que chegam a ser cômicas de tão patéticas. Marcos Alves da Silva deve achar que a sua condição de advogado lhe dá licença especial para me ofender. Marcos Alves da Silva deve achar que a sua condição de professor — apesar de seu apedeutismo virgulado — lhe dá especial competência para ser boçal. Pior: Marcos Alves da Silva deve achar que a sua condição de pastor presbiteriano lhe faculta superioridade religiosa para falar e escrever a porcaria que lhe der na veneta.

Eu estou pouco me lixando se o autor de uma tolice exibe título universitário, carteirinha da OAB ou graduação religiosa. Se o tal Silva é pastor presbiteriano, lamento pelos presbiterianos, como lamento, cotidianamente, as estultices de sacerdotes do catolicismo, a minha religião. Frei Betto, um católico, já fez Teresa de Ávila, a santa, engravidar de Che Guevara. Os presbiterianos não precisam ficar tão desarvorados com Silva…

Nunca me deixei enredar por aqueles que recorrem às artes do rabudo para justificar as Santas Escrituras — ou que fazem o contrário.

O livro do pastor Silva, a menos que ele o renegue, faz, sim, uma crítica severa à monogamia, endossada pelo professor Fachin, candidato ao STF. Meu desafio está feito. Já que o rapaz resolveu criar um página intitulada “#vaiFachin”, como se fosse um desses moleques espinhentos da Internet, que torne disponível a sua tese. Vamos lá, valentão!

Silva tenta, ao exibir a sua condição de “pastor presbiteriano”, usar a sua autoridade religiosa para calar o debate. Pra cima de mim, professor? Definitivamente, o senhor desconhece a minha paixão por uma boa briga — intelectual, claro!

O senador que endossar o nome de Fachin para o Supremo estará, por óbvio, endossando a sua militância e dizendo, por consequência, um “não” à família. E é evidente que nós nos lembraremos sempre disso. Sim, senhores senadores, eu tornarei disponíveis os endereços em que vocês podem encontrar o pensamento deste senhor.
Reitero: ele tem o direito de pensar e de escrever o que quiser. E eu tenho o direito de achar que ele não pode chegar ao Supremo.

O tal Silva, como seu texto deixa claro, tem ódio à imprensa livre. Ele certamente apoia a liberdade de expressão daqueles que concordam com ele.

A propósito, Silva: se a monogamia não é mais princípio estruturante da família, mas a poligamia também não, ficamos com o quê? Com as artes de Onan? Não vem que não tem, Silva! Eu não me assusto com facilidade e já encontrei adversários que sabem usar a vírgula com mais propriedade. E as Santas Escrituras também!


29 de abril de 2015
Por Reinaldo Azevedo

RESPOSTA DAS MASSAS

Ernesto Laclau defende o populismo latino-americano para assegurar a participação da população na política

Confira entrevista com o teórico argentino autor do livro "A Razão Populista"
12/04/2014


O teórico argentino Ernesto LaclauFoto: Alice Casimiro Lopes / Divulgação

por Daniel de Mendonça
pós-doutor em ideologia e análise de discurso pela Universidade de Essex, professor da Universidade Federal de Pelotas e coautor da apresentação de "A Razão Populista"



No momento de maior inquietação na Venezuela desde a morte de Hugo Chávez – que comandou o país de 1999 a 2013 –, um livro publicado há pouco no Brasil ajuda a entender um fenômeno que se espalhou pela região nas últimas décadas: o populismo latino-americano de esquerda. 
Escrita pelo teórico argentino Ernesto Laclau, a obra A Razão Populista retira o populismo da marginalidade política e o coloca como modelo capaz de ampliar as bases democráticas de uma sociedade.

A proposta de Laclau é radicalmente contrária às visões mais difundidas do populismo. Nas mais "diplomáticas", ele é visto como uma conexão direta entre um líder carismático e as massas, enfraquecendo a democracia representativa. 
Outras são mais diretas e classificam esse tipo de governo como nacionalista, antiliberal, assistencialista, demagógico e irresponsável.

Laclau ressignifica a ideia de populismo, que passa a ser uma "forma de construção da política", sem um conteúdo ideológico específico. Ou seja, pode ser de direita ou de esquerda, abarcando os mais heterogêneos levantes políticos. 
Esse fenômeno ocorre, argumenta ele, sempre que o povo se reúne em torno de demandas não atendidas – que podem ser completamente diferentes e circunstanciais, mas que passam a ter uma conexão entre si por terem sido "abandonadas" pelo governo – e passa a confrontar o poder constituído. 
Cria-se uma ruptura no sistema, opondo o povo às instituições formais, onde se abrigam as elites e as forças conservadoras.

A chegada do populismo ao poder representa o ápice do antagonismo entre esses dois campos. Daí, o embate entre populismo e institucionalismo. 
No primeiro, o movimento é de ascensão das massas excluídas a partir de mudanças sociais e, no segundo, é de bloqueio das transformações a partir da manutenção das estruturas institucionais até então vigentes. 
Na visão de Laclau, a supremacia do populismo na América Latina tem sido positiva para o continente, pois, ao assegurar a participação da população nas decisões políticas, fortalece a democracia e impede que esta seja reduzida a um sistema administrativo tecnocrático influenciado por interesses econômicos.

Não se trata de uma opinião descartável. Nascido em 1935, em Buenos Aires, Laclau é um dos teóricos políticos internacionalmente mais influentes em atividade. 
Licenciado em História pela Universidade de Buenos Aires e radicado na Inglaterra desde a década de 1970, é hoje professor emérito da Universidade de Essex. 
Na instituição, onde fez seu doutorado, fundou e dirigiu o Programa de Ideologia e Análise de Discurso e o Centro de Estudos Teóricos em Humanidades e Ciências Sociais, que se tornaram referências internacionais na área.

O professor é também fundador e maior expoente da vertente denominada "teoria do discurso da Escola de Essex". 
Em colaboração com Chantal Mouffe, em 1985, publicou Hegemonia e Estratégia Socialista, livro considerado um marco da teoria política do final do século 20. 
A tese central da obra é a defesa da ideia de que as verdadeiras transformações político-sociais somente são possíveis a partir da articulação entre diferentes demandas, que, associadas, compõem um discurso. O corolário dessa articulação é o que os autores chamam de hegemonia, momento em que uma entre as demandas articuladas passa a desempenhar o papel de representação das demais na luta contra um ou mais inimigos comuns. 

A política, na teoria de Laclau, se dá pelo antagonismo entre identidades discursivas que disputam a construção do pensamento hegemônico em uma sociedade.

Em A Razão Populista, esses argumentos são retomados a partir do antagonismo entre o povo – uma identidade discursiva constituída por meio da articulação de diferentes demandas – e os poderosos. 
Por telefone, desde a Inglaterra, Laclau falou ao Cultura sobre a obra, os governos latino-americanos e a onda de protestos no Brasil. Leia entrevista abaixo.

Zero Hora – Por que o populismo é frequentemente visto como algo negativo?

Ernesto Laclau – Esta é uma visão difundida por setores conservadores. Não devemos levar isso a sério. O populismo não é ruim ou bom em si mesmo. É uma forma de construção da política, baseada na criação de uma divisão na sociedade por meio de demandas sociais. Isso ocorre quando as instituições não conseguem atender às demandas populares. A interpelação dos poderosos por aqueles da parte de baixo da pirâmide social é a base do populismo. O populismo significa uma ruptura com o sistema, por isso a divisão da sociedade em dois campos.

ZH – O populismo visa a romper com as instituições existentes em busca de mudanças sociais. Qual o limite dessas mudanças? Não há risco de retrocesso democrático?

Laclau – Não necessariamente. Em alguns casos, o populismo pode ser uma clara fonte de progresso social. Nessas situações, o populismo pode reunir os oprimidos, integrantes da base da pirâmide social, independentemente de suas ideologias. Veja que podemos classificar Benito Mussolini (líder fascista italiano) e Mao Tse-tung (comandante da revolução comunista chinesa) como populistas. Tudo depende de como a identidade do povo – apoiador do populismo – é construída.

ZH – Não são instituições sólidas que asseguram o desenvolvimento econômico e social?


Laclau – O problema é que as instituições podem ser muito conservadoras. Veja a situação brasileira na República Velha. Havia um Estado liberal, instituições liberais, mas não havia democracia. O coronelismo impedia o desenvolvimento democrático das massas.

ZH – Na Venezuela, a oposição acusa o governo de, por exemplo, não respeitar as instituições, mudar a Constituição...


Laclau – Sim, mas a Constituição foi alterada a partir do voto popular.

ZH – Mas a oposição acusa o governo de não respeitar as instituições e, em resposta, aposta na derrubada do governo, o que é um ataque as instituições. Ou seja, mexer nas instituições sem consensos não pode gerar um ciclo sem fim de instabilidade?

Laclau – A instabilidade pode ser gerada por diferentes razões. Uma das possibilidades é a existência de um regime autoritário incapaz de escutar as demandas populares. Ou seja, não há respeito ao jogo democrático. As experiências ditatoriais da América Latina são exemplos de alteração da ordem institucional que não foram baseadas em valores democráticos.

ZH – O senhor tem uma visão crítica sobre os governos baseados na tecnocracia e sobre a substituição da política pela administração. Mas, em um mundo complexo como o atual, os governos não dependem cada vez mais de técnicos e ferramentas tecnológicas justamente para suprir as demandas sociais?

Laclau – Ao pensarmos no espectro político, temos de pensar em dois extremos, que são impossíveis na realidade. De um lado, há o institucionalismo e, de outro, o populismo. No caso do populismo, há o apelo das massas e sua mobilização. No institucionalismo, há a canalização de demandas por meio de mecanismos individuais e não de massa. Se você exagerar no institucionalismo, vai terminar em uma tecnocracia, na substituição da política pela administração. É um resultado não democrático. No século 19, Saint-Simon (pensador francês) disse que o governo dos homens seria substituído pela administração das coisas. Ele estava expressando, do seu jeito, a crença na tecnocracia. Na América Latina, o Estado liberal foi criado na segunda metade do século 19, mas esse sistema não representou forças democráticas progressistas, como ocorreu na Europa. O Estado liberal na América Latina foi a forma como as oligarquias locais organizaram uma máquina clientelista. Os parlamentos eram um instrumento de poder dessas oligarquias. Assim, quando os movimentos de massa surgiram, no início do século 20, não começaram por meio dos canais institucionais liberais. Pelo contrário. Em muitos casos, ditaduras militaristas antiliberais foram os canais de expressão de demandas democráticas. Pense no processo ocorrido no Brasil, passando pelo Levante do Forte de Copacabana, pela Coluna Prestes, pela Revolução de 1930 e pelo Estado Novo. Tudo isso representou novas forças políticas que erguiam demandas democráticas, mas não por meio dos canais institucionais liberais clássicos. Com o Peronismo, na Argentina, também foi assim.

ZH – Por que o populismo na América Latina é de esquerda?

Laclau – Há uma explicação. C.B. Macpherson (teórico canadense) escreveu um artigo famoso no qual diz que, no início do século 19, na Europa, liberalismo e democracia eram ideologias com diferentes orientações. O liberalismo era uma forma de organização política aceitável. E a democracia era um termo pejorativo, como populismo é hoje. Democracia era identificada com o jacobinismo. Foi necessário um longo caminho, com revoluções, para haver uma combinação estável entre liberalismo e democracia. Hoje, falamos em liberalismo e democracia como se fossem a mesma coisa, mas não são. Na América Latina, essa lacuna entre liberalismo e democracia nunca foi completamente preenchida. Isso significa que houve uma dualidade na experiência democrática de massas. De um lado, há a tradição liberal democrática. Nesse caso, tens de pensar naqueles que tentaram, no século 19, democratizar, por dentro, o sistema liberal. No Brasil, pense no papel de Ruy Barbosa. Do outro lado, há a tradição popular e nacionalista (a esquerda), que é outra rota para democracia. Foi o caminho seguido pela América Latina no século 20. Agora, pela primeira vez, temos a combinação das duas tradições. Temos regimes nacionalistas e populares em países latinos que não se opõem às liberdades avocadas pelo Estado liberal.

ZH – O senhor não vê no proletariado a classe destinada a provocar mudanças sociais, como no marxismo clássico. Qual grupo hoje, na opinião do senhor, poderia assumir essa tarefa?

Laclau – Não creio que exista um grupo. Mudanças sociais não têm ocorrido por causa da classe trabalhadora, como previu o marxismo clássico. A ideia de um setor ser depositário das mudanças sociais está sendo radicalmente questionada. Atualmente, temos de pensar em termos de articulação de pluralidades, na articulação de objetivos de diferentes grupos, constituindo naquilo que Antonio Gramsci (teórico comunista italiano) chamou de vontade coletiva. Essa vontade coletiva substitui o papel das classes sociais na visão tradicional. Em Porto Alegre, vocês receberam o Fórum Social Mundial, que representa uma pluralidade de demandas de diversos grupos dispersos. E esses grupos estão tentando criar uma nova vontade por mudança.

ZH – No Brasil, as pessoas saíram às ruas em 2013, em grandes manifestações, cobrando melhores serviços públicos. Os protestos surpreenderam governo, oposição e analistas políticos, principalmente por conta do cenário nacional: nas últimas décadas, o Brasil obteve estabilidade econômica e redução da pobreza. Como o senhor viu essas manifestações?

Laclau – Para tentar entender este tipo de fenômeno, é preciso ser cuidadoso. Demandas surgem facilmente, de uma variedade de setores que têm queixas pontuais. Também pode existir um sentimento generalizado de infelicidade, por causa da situação global. É importante para a democracia a eclosão de uma variedade de demandas. Mas, se essas demandas não são traduzidas em um projeto de mudança da natureza do Estado, elas nunca se tornam políticas e podem se diluir também facilmente.

ZH – Ao mesmo tempo, há descrença e desconfiança em relação aos políticos no Brasil. Nas manifestações, as pessoas defendiam protestos "sem partidos". Isto é um sinal de que os canais institucionais não estão mais funcionando?

Laclau – Você está correto. Esse sentimento aparece na Europa, mas é um beco sem saída. O movimento dos indignados, na Espanha, não está levando a lugar nenhum. Grupos movidos por sentimentos de insatisfação, mas sem objetivos políticos, são rapidamente desintegrados. Na Grécia, o cenário é diferente. Lá, existe mobilização social, mas houve a constituição do Syriza (partido que reúne grupos da esquerda radical) que entrou na disputa pelo poder. Na Itália, os grillistas (movimento criado por Beppe Grillo, líder político surgido por fora do sistema tradicional italiano) têm enorme apoio popular, mas esse apoio não se traduziu em proposta política viável.

ZH – Como um país pode trazer essa nova energia dos protestos para a política institucional de forma a fazer a nação avançar?

Laclau – O único jeito de fazer política real a partir desses protestos é não minimizá-los. É preciso compor projetos políticos de longo prazo. Quando você tem objetivos políticos, pode começar a mudar as coisas.

ZH – Como avalia os governos do PT?


Laclau – É uma questão muito ampla. Tenho simpatia por Lula. Em termos de política externa, por exemplo, no governo Lula, a posição do Brasil foi muito importante. Celso Amorim foi um excelente ministro das Relações Exteriores. Ele deu à política externa latino-americana um novo perfil, quebrando a tradicional subordinação do Itamaraty aos EUA.

ZH – E o governo de Cristina Kirchner?

Laclau – Vejo o governo, em geral, positivamente. É possível fazer críticas pontuais, mas, em linhas gerais, Cristina e, antes dela, Néstor rumaram em uma direção progressista. A Argentina esteve praticamente quebrada, vinculada ao Fundo Monetário Internacional, e tinha uma grande dívida externa. Nos anos Kirchner, o governo tomou atitudes importantes, como a nacionalização de empresas (como a petrolífera YPF, filial da espanhola Repsol). E, no geral, o país está muito melhor do que estava em 2003.



29 de abril de 2015
Leandro Fontoura
jornalista de ZH, mestre em Ciências Sociais e doutorando em Ciência Política pela UFRGS


PARA ENTENDER A TEORIA DO DISCURSO DE ERNESTO LACLAU

Resenha: La Razón Populista (Ernesto Laclau)




LULA AINDA ATRIBUI A MERCADANTE ERROS DO GOVERNO

LULA VOLTOU A CULPAR MERCADANTE PELAS 'TRAPALHADAS' DO GOVERNO E CULPAR MERCADANTE PELA CRISE NO 
GOVERNO.



FOTOS: ABR E INSTITUTO LULA


Conversa vai, conversa vem, e Lula continua atribuindo ao ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) as trapalhadas do governo Dilma. Em conversa com líderes aliados, há dias, ele reafirmou a crítica. Disse – referindo-se a Mercadante – que Dilma é cercada de “gente desastrada para quem não dei a menor bola em oito anos como presidente”. Lula acha que os erros de Dilma decorrem de “conselhos” do ministro.

Trombar com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha foi, para Lula, o maior erro político de Dilma, por influência do chefe da Casa Civil.

Lula acha que Dilma errou ao hostilizar Barack Obama, no caso da espionagem, e a Indonésia, pela execução do traficante Marco Archer.

Segundo Lula, Dilma deveria ter feito a visita de Estado a Washington, que ela cancelou, e respeitado as leis internas da Indonésia.

Ao criticar Dilma, Lula esquece um detalhe: a culpe é dele, por dar cartaz ao aspone Marco Aurélio Top-Top, que define a política externa.


29 de abril de 2015
diário do poder

HITÓRIA BEM CONTADA TRANSFORMA TRAFICANTE EM MOCINHO VITIMIZADO


Par délicatesse
J'ai perdu ma vie.

Arthur Rimbaud In: Chanson de la plus haute tour


A história do segundo brasileiro fuzilado num paredón da Indonésia bestifica por uma única razão: o que os olhos não vêem o coração não sente. 
Traficantes, seja no Rio ou em São Paulo, têm executado até o Hino Nacional. Nada se fala. O bicho pega quando se executa ou um filho das “zelites”, ou um universitário.

De uns tempos para cá o protagonismo que é contar a história de vida de vítimas, com fotos e cartinhas, deu uma dilatada em seus vastos domínios. 
Hoje membros da chamada nova classe média, vitimizados, já podem ter suas histórias de vida relatadas na grande mídia. Afinal viraram consumidores e, portanto, converteram-se em gente, sentenciam os editores.

Há 13 anos anos um meu aluno foi chacinado no Morumbi. Era perto de uma biqueira numa favela não pacificada, como se diz. Ganhou páginas e páginas nos então quatro maiores jornais do país. Levantei os dados: naquele dia, 9 rapazes, que regulavam com a idade do universitário, tinham sido chacinados na mesma noite: mas só ele mereceu história de vida.

Há arcanos sobre isso no o prefácio de um livro de Leão Serva, chamado Jornalismo e Desinformação, escrito pelo Fernando Morais. Ele relata levantamento feito nos anos 60 pelo jornalista Argemiro Ferreira, sobre a Guerra do Vietnã. 

As contas são brutais: era necessário que morressem 35 vietcongs para que estes ganhassem o mesmo espaço (abre de página) que ganhava um oficial dos EUA morto (ou oito oficiais franceses e italianos).
Só nos toca o que é igual à gente: ou é vendido como se fosse igual a nós. Não?
O segundo fuzilamento na Indonésia nos toca mais o coração porque é literariamente relatado por aí. Capricham no texto, e nosso coração fala mais alto.

Aquele monstro a quem os EUA pintaram nos anos 90, o Slobodan Milosevic, teve uma sacada genial quando Bill Clinton (para tirar dos jornais o escândalo Mônica Lewinsky/sexo oral) convenceu as Nações Unidas a invadirem o Kossovo, em abril de 1999. Slobodan contratou “n” fotógrafos que mandavam retratos de crianças filhas de suas tropas, loiras e de olhos azuis, para a mídia dos EUA. Era o típico lance da alteridade: vejam, eles são alourados como vocês! São gente também, portanto.



Sobre homicídios

Não vi na mídia nenhum alvoroço semelhante ao do fuzilamento segundo brasileiro quando, em dezembro de 2014, foram divulgados os dados que se seguem. Eis o que a mídia estampou:


“O Brasil é o país com o maior número de homicídios no mundo, segundo um relatório divulgado nesta quarta-feira (10 de dezembro) pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra. De cada 100 assassinatos no mundo, 13 são no Brasil.
Segundo o documento, o total de homicídios no mundo chegou a 475 mil. Os dados são de 2012.

O Brasil é o líder no ranking. O governo brasileiro informou 47 mil homicídios em 2012, mas a OMS estima que o número real tenha sido muito superior: mais de 64 mil homicídios. Depois do Brasil aparecem Índia, México, Colômbia, Rússia, África do Sul, Venezuela e Estados Unidos.

A OMS calcula que no Brasil a cada 100 mil pessoas, 32 sejam assassinadas.
Na outra ponta da tabela, com os menores índices de homicídio por habitante, em 1º lugar vem Luxemburgo, depois Japão e em seguida Suíça, empatada com Cingapura, Noruega e Islândia.

Esses números são referentes a homicídios, mas a OMS chama atenção para diferentes tipos de violência mais recorrentes no nosso dia a dia do que se possa imaginar.
De acordo com o levantamento, uma em cada quatro crianças sofre agressões, uma em cada cinco meninas é abusada sexualmente e uma em cada três mulheres já foi violentada pelo próprio parceiro”.



Por que tais números não ribombaram, escandalosa e demencialmente? Números não tocam corações.



Sobre narcotráfico

Do que o segundo brasileiro no paredón da Indonésia é ponta de iceberg?
Vejamos: o Relatório Mundial sobre Drogas de 2014, confeccionado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), destaca que o uso de drogas no mundo permanece estável. 
Cerca de 243 milhões de pessoas, ou 5% da população global entre 15 e 64 anos de idade, usaram drogas ilícitas em 2012. Usuários de drogas problemáticos, somaram por volta de 27 milhões, cerca de 0,6% da população adulta mundial, ou 1 em cada 200 pessoas.

O consumo de cocaína dobrou no Brasil no prazo de seis anos, enquanto em outras partes do mundo o uso dessa substância está caindo, diz o Unodoc.
O consumo de cocaína no Brasil aumentou “substancialmente” e atingiu 1,75% da população com idade entre 15 e 64 anos em 2011 - ante 0,7% da população em 2005.
Na América do Sul o uso de cocaína atinge 1,3% da população.

A dependência de calmantes e sedativos lidera todas as modalidades, com 227,5 milhões de consumidores, ou quase 4% da população mundial.
Em seguida, vem a maconha. Tem 141 milhões de adeptos, totalizando mais de 3% da população mundial. A cocaína tem 14 milhões de usuários. Cerca de 8 milhões de almas são adeptas costumazes da heroína e 30 milhões, ou 0,8% da população mundial, recentemente mergulharam no consumo desenfreado das chamadas drogas sintéticas, como ATS e meta- anfetamina.

Estima-se que sejam apreendidos em todo o mundo, pelas polícias locais, apenas de 5% a 10% de toda a droga ilegalmente produzida. Para abastecer o lote que vai pular logo mais para 400 milhões de junkies planetários, há mecanismos econômicos que lucram até US$ 400 bilhões por ano –uma soma igual à gerada pela produção mundial de artefatos têxteis.

Em todo o planeta a produção de maconha cresceu 10 vezes em 25 anos. Nos EUA, a erva agora é o cultivo mais lucrativo, com o valor de sua colheita excedendo o do milho, soja e ferro (de resto as três atividades extrativas mais lucrativas daquele país). 
Em solo norte-americano 500 gramas de maconha podem custar entre US$ 400 e US$ 2.000. 
A mesma quantidade de maconha da melhor qualidade, conhecida como “sinsemilla”(as sem-sementes, chamadas também de “juicy and seedless”, suculentas e sem-semente) é vendida por taxas entre US$ 900 e US$ 6.000 cada 500 gramas. O lucro dos narcotraficantes, no ato da revenda, é de pelo menos 20 vezes.

Esse numerário esmaece a olhos vistos porque a história de vida dos brasileiros traficantes, quando bem contada, fala mais alto que a matemática.
Não espantará se Dilma fizer de uma homenagem ao segundo fuzilado o seu discurso do Primeiro de Maio…



29 de abril de 2015
Claudio Tognolli

UMA FARRA NO FINANCIAMENTO PÚBLICO DE CAMPANHA


A dimensão do absurdo da multiplicação por quase três do fundo partidário — de R$ 319,9 milhões para R$ 867,5 milhões — cometido na aprovação, no Congresso, do Orçamento deste ano, num atentado contra o contribuinte sancionado pela presidente Dilma, não está expressa apenas nos números.

É fato que ampliar este fundo, fonte de sustento também de muitas legendas de aluguel, em 171,7%, conforme emenda ao Orçamento apresentada pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), contraria as regras mais simples do bom senso, se levarmos em conta o ajuste fiscal.

O desatino aparece por inteiro com a reportagem do GLOBO de domingo sobre a leniência com que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vigia o gasto desse dinheiro, e o de origem privada, pelos partidos.

Nada muito diferente com o descaso com que quem paga impostos é tratado neste país, haja vista os escândalos envolvendo desvios de bilhões do Tesouro, por meio do assalto a estatais (Banco do Brasil/mensalão, Petrobras etc.)

O ilustrativo agora é que a reportagem, publicada logo após a sanção do Orçamento, aponta para o destino que terá mais esta dinheirama extraída de forma irresponsável do Erário.

Nada indica que o passado não se repetirá. E ele é trágico: segundo o levantamento feito pelo jornal nas prestações de contas dos dez maiores partidos, desde 2004, 60% delas não haviam sido ainda julgadas pelo tribunal; sendo que 13, com transgressões, não poderão produzir punições porque o próprio TSE decidiu, no ano passado, declarar prescritas todas as prestações não avaliadas em instância final nos últimos cinco anos. Generosa anistia a político que malversa dinheiro alheio.

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Acrescenta-se que a Justiça Eleitoral não tem estrutura nem arcabouço legal para agir como órgão de controle. E como há, ainda, a cultura de malbaratar o dinheiro público, fica configurada uma dramática conjugação de fatores contra os interesses da sociedade.

As perspectivas são ainda piores porque a ideia do financiamento público integral de campanha, sinalizada pelo inchaço descabido do fundo partidário, está para ser reforçada num julgamento no Supremo, suspenso por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, à espera de uma ação contrária do Congresso, para evitar o equívoco do fim das contribuições das empresas a partidos e políticos. Caso ocorra, será a eternização do caixa dois e outro alento ao projeto de estatização integral das finanças da política.

Mais uma vez, confirma-se a imperiosidade de uma reforma política pontual, para reduzir o número de legendas com representação no Legislativo e com direito à propaganda dita gratuita. Uma cláusula de desempenho razoável e o fim das coligações nos pleitos proporcionais produzirão este efeito, com a consequente possibilidade de se reduzir o fundo partidário, em nome da sensatez fiscal e do respeito ao bolso do cidadão.

29 de abril de 2015
O Globo