"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

SAIBA POR QUE FACHIN DEVOLVEU FAVOR AO PT, QUANDO DECIDIU ATRASAR O IMPEACHMENT



Em maio passado, a Folha de S. Paulo concedeu toda uma página citando o furo deste blog: o ministro Fachin, então candidato ao STF, teve o movimento nas redes sociais, em prol da sua candidatura, feito por um petista, contratado por uma agência de publicidade contratada, a peso de ouro, pelo PT.

Simples assim: o dono de site pró-Fachin no STF foi chefe de marqueteiros digitais na campanha de Dilma.

Bem, nosso post foi exclusivo, curto e grosso. Eis o que este blog denunciou:
“O jurista Luiz Edson Fachin, indicado pela presidente Dilma Roussef para ocupar uma das cadeiras no Supremo Tribunal Federal (STF), criou uma página na internet para responder às críticas que estão circulando na internet desde que uma nota técnica do Senado apontou dupla atividade profissional quando ocupou cargo de procurador do Estado no Paraná.

O Movimento “Fachin Sim”, criado na semana passada, tem usado Twitter, Facebook e até YouTube, além do site, para defender a indicação.
Fachin deve ser sabatinado nesta terça pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Tem sido criticado por já ter defendido casamento aberto e poligamia.
O site que defende cegamente Fachin é o www.Fachinsim.com.br

Sabem o que este blog descobriu?
Quem mantém o site do Fachin é Renato Rojas da Cruz, da Universidade de Brasília, que se jacta por ter trabalhado na última campanha presidencial de Dilma Roussef, quando foi o chefe, segundo ele mesmo explica em seu curriculum, da “equipe de criação de redes sociais”.

Confira o registro do site de Fachin e o CVs de Renato Rojas. “
Você confere o endereço aqui:
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/claudio-tognolli/exclusivo–dono-de-site-pró-fachin-no-stf-foi-chefe-de-marqueteiros-digitais-na-campanha-de-dilma-163553936.html

Bem, sejamos curtos e grossos, novamente:
O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a paralisação do processo de impeachment, até o próximo dia 16, por uma questão simples: está pagando a dívida ao PT.

Dívida cuja contração este blog denunciou.
Pode isso, Arnaldo? A regra é clara?
Atentai, terráqueos: depois dessa, o ministro Fachin passou a pedir comida pelos aplicativos.
Mas consta que, mesmo depois de sua orgânica decisão de atrasar o impeachment, ele vai continuar indo jantar no seu restaurante predileto, anotem: ele se chama Under a Mango Tree..


10 de dezembro de 2015
Claudio Tognolli

TEM QUE PIORAR MAIS?

A relação é direta: toda vez que aumenta a chance de Dilma ser afastada do poder, sobem as ações das empresas brasileiras, aqui e em Nova York. Disparam especialmente as ações da Petrobras. São apostas, claro, mas há uma lógica nisso. Entende-se que, primeiro, o governo Dilma não tem mais jeito, mesmo que sobreviva ao impeachment. E, segundo, acredita-se que o provável sucessor em caso de afastamento, Michel Temer com uma outra reunião de partidos, embora com o PMDB de sempre, não tem como ser pior. Não que vá resolver os dilemas econômicos estruturais, mas seria pelo menos um governo neutro — do tipo que não atrapalha mais. Levaria o barco até 2018. E aí, das eleições presidenciais desse ano, quem sabe saia uma maioria política em torno das reformas que recoloquem o Brasil na trilha do crescimento.

Esta é uma visão realista. Há uma mais otimista: um eventual governo Temer, se montado com nomes de respeito nacional e com uma equipe econômica forte, pode ter um ganho de confiança e assim encaminhar algumas reformas.

Mais esperança do que experiência?

Pode ser, mas quem imaginava que o Plano Real poderia nascer no governo Itamar?

De todo modo, não se trata apenas de trocar o governo ou de tirar o PT, embora isso seja peça essencial no processo. Vamos falar francamente: Lula e Dilma conduziram o país para uma crise sem precedentes. Dois anos de recessão profunda, desemprego em alta com inflação acima de 10% ao ano, juros na lua, estatais aparelhadas e destruídas (conseguiram quebrar os Correios e a Petrobras!), sem contar a corrupção. É preciso reconhecer: um desastre inigualável no mundo.

Ainda assim, o buraco é maior.

A sociedade brasileira sofre com uma perversa combinação de crises, na fase mais aguda de duas doenças crônicas. Na economia, a questão central pode ser assim resumida: o gasto público cresce mais que o Produto Interno Bruto (PIB). Na política, o presidencialismo de coalizão impede a formação de uma maioria sólida para aplicar uma reforma do Estado.

No imediato, é preciso lidar com os déficits primários que o governo Dilma cavou meticulosamente, completando um trabalho iniciado no período Lula. Desastres assim não se fazem da noite para o dia.

No segundo mandato, Dilma tentou cobrir o buraco com um nadinha de corte de gasto e um tantão de impostos e dívida. Mesmo que consiga pagar as contas do dia, estará aprofundando o problema estrutural: o setor público não cabe no PIB. Gasta demais, toma impostos demais, deve em excesso e atrapalha as pessoas e empresas que querem ganhar dinheiro honestamente.

Não há saída sem uma nova onda de reformas estruturais, como aquelas que foram feitas nos governos FH e no Lula 1. Mas, de novo, não há consenso ou maioria política para fazê-las.

O exemplo perfeito é a Previdência do INSS, o maior buraco das contas públicas. Gasto e déficit explodiram neste ano e vão piorar no ano que vem por causa da recessão. Com desemprego e a forte redução das vagas com carteira assinada, caiu a arrecadação do INSS, enquanto a despesa sobe inexoravelmente, por causas estruturais: pensões e aposentadorias precoces e generosas, decisões políticas, mais o envelhecimento da população.

Há anos se discute a reforma da Previdência. Todas as alternativas estão na mesa, estudadas e aprofundadas. Todo mundo sabe que o Brasil é o único país importante que não tem idade mínima para aposentadoria. Diversos quebra-galhos têm sido implantados, como o fator previdenciário ou a fórmula 85/90, tudo para driblar o ponto essencial: as pessoas terão que trabalhar mais, contribuir mais e se aposentar mais tarde, com pensões menores.

Percebam o impasse político: o ministro Joaquim Levy disse que a presidente Dilma, para se defender do impeachment, deveria lançar uma agenda positiva de reformas, a começar pela idade mínima de aposentadoria e pela mudança das regras de exploração do pré-sal, reduzindo a participação da Petrobras.

Impossível. Com isso, a presidente perderia a única base com que ainda conta, centrais sindicais e movimentos sociais.

Aliás, este ponto mostra também a dificuldade de um governo pós-PT que tente as reformas. Vai enfrentar tremenda oposição comandada por Lula.

Quer dizer que o Brasil está perdido, condenado a uma economia medíocre por muitos anos?

Esta é uma possibilidade concreta, ainda mais quando se considerada a cultura brasileira de buscar tudo no Estado e achar que o dinheiro público é infinito.

As pessoas, como as sociedades, mudam por virtude ou necessidade. No nosso caso, parece que será pela via mais difícil e demorada. Parece que tem de piorar muito para que se perceba a necessidade de reformas estruturais.


10 de dezembro de 2015
Carlos Alberto Sardenberg

VENTO CONTRA DILMA

É provável que a essa altura o Palácio do Planalto já não conte mais nem com os 199 votos que apoiaram a chapa oficial derrotada no plenário da Câmara ontem. À medida que os ventos sopram a favor do impeachment, a tendência é o governismo ir se desidratando. Aliás, o ministro Ricardo Berzoini, o articulador político do governo, foi premonitório quando disse dias atrás que "ou temos votos suficientes para vencer essa parada ou significa que o governo não tem base política para se manter como governo."

Ele interpretou de maneira clara o espírito do impeachment, que é uma decisão política do Congresso a partir da constatação de crime de responsabilidade cometido pelo presidente da República. Uma espécie de voto de desconfiança do regime presidencialista, mais rigoroso que o do parlamentarismo, pois exige pelo menos a constatação de um crime, não bastando que o governante perca a condição de governar, o que se constata a cada dia.
Ontem ficou demonstrado que, longe das pressões palacianas, a maioria fica contra a presidente Dilma. No momento, ela ainda tem votos suficientes para manter o poder, mas já existe a clara sinalização de que, mesmo que escape da votação, não terá maioria para governar e seus problemas, e, por conseguinte, os do país, continuarão os mesmos.

Uma eventual vitória no plenário da Câmara, hipótese que a partir de ontem passa a ser improvável, não fará com que sua popularidade melhore, nem com que seu apoio congressual aumente. Vai ter sempre que pagar chantagens explícitas dos que se mantiverem ao seu redor, piorando ainda mais a gestão governamental.

A votação secreta definida com base no regimento interno da Câmara tem o respaldo dos procedimentos internos para a escolha dos cargos da Mesa Diretora e de toda a direção das comissões da Casa. Como a Constituição não trata da formação da Comissão do impeachment, que é tema de uma lei, não há como dizer que é inconstitucional a escolha por voto secreto, nem cabe comparação com, por exemplo, a votação para confirmar a prisão do senador Delcídio do Amaral.

A Constituição definiu que as votações no Congresso deverão ser abertas, seguindo o critério da publicidade e da transparência, e determinou os casos em que ela deve ser fechada, para proteger o parlamentar: sempre que uma pressão de fora, especialmente dos governantes, possa interferir na escolha.

Votação, como no caso de Delcídio, não tem nada a ver com eleição, que é o que aconteceu ontem na Câmara, com urna eletrônica e tudo, aliás, dez delas foram quebradas pelos governistas na tentativa de invalidar a eleição. É também por ser uma eleição que foi possível apresentar uma chapa alternativa à oficial, pois na lei que trata do assunto está dito que a comissão “será eleita”, sem definir que somente aos líderes caberia a indicação dos membros da Comissão.

A ser assim, a votação no plenário da Câmara seria apenas homologatória da decisão dos líderes, o que não está definido em lei. É pouco provável, portanto, que o Supremo Tribunal Federal anule uma eleição já realizada na Câmara, o que seria uma interferência indevida em outro Poder, já que não se trata de matéria constitucional.

Mas, antes da eleição de ontem, o ministro Luiz Fachin estava inclinado a propor ao plenário um rito para o processo de impeachment, a partir de uma ação do PC do B que defende a esdrúxula tese de que o presidente da Câmara deveria, antes de aceitar o pedido de impeachment, dar 15 dias para a presidente Dilma se defender. À noite, ele decidiu suspender os trabalhos da Câmara para definir a Comissão até que, na próxima quarta-feira, o plenário do Supremo decida sobre como proceder.

De qualquer maneira, o processo político que começou terça definirá os rumos do país, e o vento está soprando contra a presidente Dilma. 



10 de dezembro de 2015
Merval Pereira

STF DETÉM O AVANÇO DO PROCESSO DE IMPEACHMENT

O dia 8 de dezembro de 2015, uma terça-feira, certamente marcará o início da conversão dos que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas não acreditam que ele seja possível.

Na mais recente pesquisa do Datafolha, dos últimos dias 25 e 26, 65% dos entrevistados foram favoráveis ao impeachment, mas 56% não viam chances de isso ocorrer. Nesse caso, 62% queriam que Dilma renunciasse ao cargo.

O número de céticos deverá ser reduzido em breve depois da acachapante derrota colhida pelo governo na composição da Comissão Especial da Câmara dos Deputados que começará a apreciar o impeachment.

No âmbito do próprio governo, aumentou o percentual daqueles que já não descartam a possibilidade de Dilma renunciar para não ser derrubada. “A presidente sofreu um duro abalo com a derrota”, admite um ministro que prefere não se identificar.

É bem verdade que o placar final, por mais doloroso que tenha sido para Dilma, não chegou a ser desesperador. O governo foi goleado por 272 votos contra apenas 199. Mas ele precisa de apenas 172 votos para sepultar o impeachment na Câmara.

Em tese, portanto, tem esses votos. Como a votação para a composição da Comissão foi secreta, o governo imagina que com o voto aberto no plenário terá muito mais do que os 199.

Poderá ser justamente o contrário. O voto aberto favorece a traição. Mas se o governo chegar ao final do processo do impeachment ainda mais debilitado do que está, quem terá coragem de pôr a cara à mostra votando a seu favor?

Político morre, mas não se suicida. Ainda mais em ano eleitoral como o de 2016. A expectativa do brasileiro para os próximos meses só faz piorar. E a economia não dá nenhum sinal de melhora. Pelo contrário.

A pesquisa Datafolha conferiu que o pessimismo cresce. Por exemplo: 77% dos entrevistados esperam o aumento da inflação, 76% do desemprego, e 67% acreditam na queda do poder de compra do salário.

É por isso que o governo quer a suspensão do recesso de fim do ano do Congresso para que o processo do impeachment chegue ao fim mais rapidamente. E a oposição não quer.

A esperança de Dilma em ganhar um novo fôlego está na decisão tomada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele paralisou o processo de impeachment para que o tribunal julgue ações impetrados por partidos do governo.

Na próxima semana, a pretexto de julgá-las, o STF poderá legislar sobre o rito do processo. Como Lula e Dilma indicaram a maioria dos ministros do tribunal, é possível que o governo ganhe alguma coisa no tapetão.



10 de dezembro de 2015
Ricardo Noblat

SOS INTERNACIONAL PARA DERROTAR O IMPEACHMENT

Políticos brasileiros sempre respeitaram a regra não escrita de evitar discutir problemas internos em viagens ao exterior. Principalmente se no exercício da presidência da República.

A regra afrouxou devido à presença de jornalistas daqui com suas perguntas embaraçosas. Mesmo assim, determinadas perguntas ficam sem resposta. Ou só são respondidas depois do desembarque no Brasil.

Dilma – sempre ela! – está inovando.

Desde que seu pedido de impeachment foi acolhido pelo presidente da Câmara dos Deputados, ela já conversou por telefone com meia dúzia de chefes de Estado. E por iniciativa dela, abordou a situação que vive hoje.

Foi assim com chefes de Estado dos Brics - Rússia, Índia, China e África do Sul. Foi assim com Angela Merkel, a chanceler alemã. E com Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, que devolveu a ligação.

Com todos, Dilma fez questão de dizer que o impeachment se deve a um ato de vingança de Eduardo Cunha e que configura uma tentativa de “golpe institucional”. Mas que ela vencerá no fim.

Alguns embaixadores brasileiros, por orientação do governo, foram acionados para fazer contatos com pessoas que possam influenciar governos e a mídia internacional e leva-los a ver com simpatia a situação de Dilma.

Fez parte dessa operação, digamos, de relações públicas o discurso feito, ontem, por Lula em Berlim, denunciando o “golpe”. Lula repetirá o discurso em sua visita a Madri, aonde será recebido pelo Rei Felipe da Espanha.

O governo espera que ONGs e entidades internacionais ligadas a partidos e a movimentos sociais se pronunciem em favor "da legalidade" no Brasil.



10 de dezembro de 2015
Ricardo Noblat

O HUMOR DO DUKE...

Charge O Tempo 10/12


10 DE DEZEMBRO DE 2015

A REVOLUÇÃO SILENCIOSA

A esquerda radical tomou conta da cultura, chegou ao poder, e você não só não notou isso como a chama de “moderada”. Isso aconteceu inclusive nos Estados Unidos, outrora bastião da liberdade individual.

Ocorreu em quatro estágios: o radicalismo tomou de assalto o “liberalismo”; o novo “liberalismo” pintou seu único oponente como sendo um conservadorismo reacionário; o radicalismo passa a representar tudo que há de bom no mundo e a correção de tudo que havia de ruim; os radicais têm o monopólio da verdade para fundamentalmente mudar o mundo.

Essa é a tese de Barry Rubin em Silent Revolution, em que explica como a esquerda dominou a cultura e a política na América. O exercício retórico para tanto foi um malabarismo bem contraditório: os “progressistas” clamam para si o mérito de tudo que há de positivo nas conquistas ocidentais, ao mesmo tempo em que afirmam que o Ocidente é basicamente malvado. Escravidão, exploração, miséria, injustiças e preconceitos: assim é descrita a trajetória ocidental, ignorando-se que tais coisas sempre existiram no mundo e que foi o próprio Ocidente, com suas democracias liberais, que mitigou bastante esses problemas.

Enquanto o impulso liberal original era de melhorar o mundo com reformas, o radicalismo se tornou uma ideologia anticapitalista, que pretende suplantar os valores mais básicos do Ocidente, “revolucionar” a coisa toda.

O presidente Obama é o ícone desse radicalismo. Fala em “transformar essencialmente” a América, e não reconhece seu caráter excepcional na defesa histórica da liberdade, como o farol que foi para o resto do mundo. Obama é radical, julga-se acima da própria Constituição, adota tom messiânico e medidas extremamente intervencionistas, mas ainda assim é visto pela grande imprensa como um “moderado”. É a maior prova de que os radicais tiveram sucesso em sua estratégia.

A maior força do movimento foi justamente sua “invisibilidade”, a negação geral de que aquilo estava acontecendo mesmo. “Quem espera que o diabo ande
pelo mundo com chifres será facilmente sua presa”, alertou Schopenhauer.

Os marxistas que explodiam bombas na década de 1960 se tornaram professores influentes, gurus do presidente, sem reconhecer seus equívocos do passado, sem mudar a sua essência. Mas quem acusasse tais “intelectuais” de radicais seria visto como o verdadeiro radical, uma inversão absurda que acabou dando certo.

O autor chama esse movimento de Terceira Esquerda, contra a comunista raivosa e a Nova Esquerda dos anos 1960. A atual é mais inteligente, opera nos bastidores, subvertendo valores e conceitos, dominando a cultura e a academia. Seus críticos foram ridicularizados e isolados, com o apoio da própria imprensa. Quem quer que apontasse para os elos radicais de Obama era desqualificado como paranoico ou extremista. Defender os valores básicos que fizeram dos Estados Unidos essa grande nação já passava a ser coisa de “ultraconservador”.

A maior vítima nesse processo foi o próprio liberalismo. Ele foi desaparecendo, dando lugar a esse radicalismo “progressista” que não guarda mais semelhança alguma com sua origem. Para os seguidores de Obama, JFK seria um “ultraconservador” reacionário.

No Brasil aconteceu o mesmo fenômeno, com a agravante de que não tínhamos liberalismo mesmo. A social-democracia tucana é vista como “de direita” e “neoliberal”, uma prova de que os radicais de esquerda obtiveram sucesso na campanha ideológica. PT e PSol são, no fundo, ultrarradicais, mas “radical” é aquele que diz essa simples verdade hoje.



10 de dezembro de 2015
Rodrigo Constantino

A SOLIDÃO DO ABISMO

Mais do que outros fatores, a crise econômica teve o condão de isolar politicamente o PT. É nessa lógica que está sendo construída a alternativa do impeachment. É nessa lógica que a presidente Dilma Rousseff amarga a solidão à beira do abismo, à espera do golpe fatal que vai destrona-la. Vive a solidão dos que precisam ser expulsos do poder. A carta divulgada pelo vice-presidente da República, Michel Temer, apenas confirma seu isolamento político.

A arrogância com que Dilma Rousseff se diplomou para o segundo mandato contrasta com o que aconteceu a partir da posse. A nova legislatura ficou ainda mais hostil do que aquela que a acompanhou no governo anterior. Seu partido, o PT, ficou francamente minoritários e, por isso, teve que arquivar sua preciosa agenda legislativa no rumo da revolução cultural. Foi o primeiro sinal de fraqueza. Antes, duelou com o PMDB e perdeu, tendo que engolir como presidente da Câmara de Deputados Eduardo Cunha. Passou a conviver com o inimigo declarado.

A evolução dos acontecimentos mostrou que o isolamento ficou crescente, com Eduardo Cunha impondo uma agenda legislativa contrária aos interesses da presidente da República. A carta do Michel Temer confirmou que o PMDB é agora oposição e quer encabeçar o processo de impeachment. Como partido com maior número de deputados e senadores, o PMDB pode liderar o desfecho fatal e o fará.

Em paralelo, vimos que a crise econômica se instalou com toda a contundência, em profundidade antes insuspeitável. Ela, sozinha, é capaz de colocar a opinião pública a favor do impeachment. Os índices anêmicos de popularidade da presidente são o sintoma claro do agravamento das condições econômicas. Inflação e desemprego caminham de mãos dadas para flagelar a clientela preferencial do PT, a população mais pobre. Os mais ricos, por outro lado, há muito deixaram o PT órfão. A crise moral com o petrolão atingiu em cheio sua representatividade no chamado PIB.

As eleições municipais do ano que vem já têm seu resultado desenhado e será uma acachapante derrota do partido governante. Não creio que o processo de impeachment espere fechar as urnas, todavia. O desfecho inexorável acontecerá bem antes.

Dilma Rousseff está sentada à beira do abismo, seduzida pela profundidade e o anseio de jogar-se no vazio. Como diria Nietzsche, mesmo o menor dos abismos precisa ser transposto e esse é gigantesco. Não tem mais volta: será apeada do poder.
Quem viver verá.



10 de dezembro de 2015
Nivaldo Cordeiro

O GOVERNO ACABOU, SÓ FALTA MARCAR A SAÍDA


A GRANDE OBRA DE DILMA

Depois de garantir o pior desempenho da economia desde 1990, quando o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 4,35%, a presidente Dilma Rousseff adiciona mais uma grande marca a seu currículo, produzindo a maior inflação em 12 anos. Em novembro de 2002, a taxa acumulada em 12 meses chegou a 11,02%, como consequência de uma campanha eleitoral conturbada, muita especulação, fuga de capitais e enorme pressão sobre o câmbio. No mês seguinte, a alta de preços arrefeceu e o número final foi de 9,30%. Apesar de tudo, naquele ano a produção cresceu 2,66%. O contraste em relação ao ritmo da atividade é inegável. Quando sair o balanço econômico de 2015, ninguém se surpreenderá se o PIB tiver diminuído 3,50% ou até mais. O desastre geral já aconteceu. Nos 12 meses terminados em novembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou 10,48%, e o resultado final do ano, tudo indica, permanecerá em dois dígitos. Basta uma taxa de 0,40% em dezembro para se alcançar 10% em 2015.

A devastação econômica produzida em cinco anos de mandato da presidente Dilma Rousseff é dificilmente comparável a qualquer outro desastre vivido na história da República. Um dos feitos mais notáveis de sua administração – talvez a síntese de tudo – foi a combinação de baixo crescimento, perda de potencial produtivo e inflação sempre muito acima dos padrões internacionais, tanto dos países desenvolvidos quanto dos emergentes e em desenvolvimento. A catástrofe de 2015, com desdobramentos sinistros ainda por uns dois anos, é uma espécie de grande final de uma sinfonia macabra, marcada, no entanto, por momentos cômicos e até grotescos.

O desastre foi construído como uma obra de arte sinistra. O desprezo ao controle da inflação ficou evidente em 2011, quando o Banco Central (BC), sintonizado com a orientação do Palácio do Planalto, começou a reduzir os juros e iniciou uma política frouxa mantida até abril de 2013. A reversão só ocorreu quando os preços disparavam de modo assustador e a desmoralização da autoridade monetária já era quase irreversível. O pessoal do BC mudou de rumo e tentou reconstruir sua credibilidade, mas sem jamais tentar, de fato, alcançar a meta de 4,5%. Além disso, o crédito ainda cresceu rapidamente por alguns anos, facilitando a política de estímulo ao consumo sacramentada no Palácio do Planalto.

Na Presidência, como no Ministério da Fazenda, as únicas mudanças foram para pior. As manobras para esconder as pressões de alta de preços foram intensificadas. O controle de preços dos combustíveis foi mantido e a isso se acrescentou a contenção política das tarifas de eletricidade, quando a presidente resolveu antecipar a renegociação das concessões do setor elétrico. Houve perdas para geradoras e distribuidoras e o Tesouro assumiu enormes encargos para socorrê-las.

Mas foi inevitável, enfim, a liberação gradual das tarifas, com efeitos desastrosos para os consumidores. Nos 12 meses até novembro, os preços da energia elétrica subiram 51,27%, enquanto os da gasolina aumentaram 19,33%.

Seria tolice, no entanto, procurar entre os componentes do IPCA os vilões da inflação – alimentos, câmbio, combustíveis, eletricidade, etc. O vilão é o governo, tanto pelos erros no controle da inflação (mais dos índices do que propriamente da inflação) quanto pelos equívocos e desmandos na política fiscal e na estratégia de crescimento. Um dos efeitos foi o descompasso inflacionário entre consumo e oferta.

A gastança, a distribuição irresponsável de incentivos e a farta transferência de recursos para bancos federais desorganizaram as contas, endividaram o Tesouro, alimentaram a inflação e forçaram a manutenção de juros muito altos. Dirigentes do BC chamaram a atenção, muitas vezes, para a dificuldade de conter a inflação sem uma política fiscal mais séria. Não se pode, enfim, negar certa harmonia: política fiscal irresponsável (tema do debate sobre impeachment), inflação e recessão equilibram-se muito bem no mesmo quadro.



10 de dezembro de 2015
Estadão

A CARTA VAZADA

Ao comentar um conto de Edgar Alan Poe, A Carta Roubada, o psicanalista francês Jacques Lacan escreveu uma de suas diatribes mais intrigantes. Sugeriu que, mesmo quando desviada criminosamente do percurso que deveria seguir, “uma carta sempre encontra o seu destinatário”. Ao que você vai perguntar: quer dizer que se um ladrão afanar um envelope destinado a outra pessoa e ler seu conteúdo a carta terá chegado ao destinatário? Na opinião de Lacan, sim.

A ideia é mais ou menos a seguinte: o destinatário da carta não é aquele cujo nome aparece no envelope, mas aquele que puder lê-la. “Certo” ou “errado”, tanto faz, o leitor assume o lugar do destinatário. Segundo esse peculiaríssimo entendimento da rede postal, uma carta é um sujeito autônomo. Ao atingir o seu leitor (o seu destinatário), põe em marcha a trama dos acontecimentos, seja essa trama uma peça de ficção (como na obra de Poe) ou um ato psicanalítico (como na interpretação de Lacan). Em resumo, uma carta, roubada ou não, move a história.

Não nos esqueçamos de que, em francês, língua de Lacan, e em inglês, língua de Poe, as palavras “letra” e “carta” podem ser rigorosamente uma única: lettre eletter. Portanto, ao escrever a palavra “carta”, eles também escrevem a palavra “letra”. O que dizem sobre uma vale para a outra. Se nos dispusermos a acompanhá-los, veremos que a letra tem poderes surpreendentes. Inscrita numa folha de papel, segue livremente o seu caminho e, ao dar de cara com o seu leitor, vai provocar seus efeitos sobre a humanidade.

Uma carta ou uma letra sempre encontram o seu destino: eis o problema do Brasil ou, dependendo do ponto de vista, eis a solução.

Todo mundo, um dia, comete uma carta. O vice-presidente Michel Temer cometeu a sua. Datada de 7 de novembro de 2015, a dele foi remetida à “Senhora Presidente”. E foi “vazada” para a imprensa. Não foi exatamente “roubada”, mas “vazada”. E só depois de “vazada” realizou a sua vocação mais sincera. O escriba redigiu cada uma daquelas sílabas pensando não apenas em Dilma Rousseff, mas nas multidões. A peça (antológica desde já) foi indisfarçavelmente escrita como carta aberta. Embora se tenha instalado um mal-estar logo após o “vazamento” (com o Palácio do Jaburu, endereço do remetente, e o Palácio do Planalto, endereço do destinatário, acusando-se reciprocamente de indiscrição), aquelas letras foram postas no papel para aparecer no papel dos jornais. Somente depois de “vazadas” encontraram os seus verdadeiros destinatários: eu, você e aqueles que, para minha angústia, não estão lendo este meu artigo, mas seguramente leram a carta do vice. O destinatário somos todos nós.

Edgar Alan Poe criava contos de terror. Foi um dos autores prediletos de Hollywood, ainda nos tempos do preto e branco. Os protagonistas daqueles velhos filmes, hoje considerados clássicos (ou cult), eram uns tipos exóticos, que já naquela época tinham ar de gente antiga. Com cabelos grisalhos bem aparados e fixados com laquê, o nariz afilado sob a testa carregada de pó de arroz e vincada pela idade, astros como Peter Cushing, que tinha costeletas, e Vincent Price, que envergava um bigodinho de Zorro, causavam calafrios nas plateias. Vestiam-se bem, com elegância e sisudez. Em sua palidez de cinza claro, tinham a aparência de coveiros em traje de gala. Outras vezes pareciam mordomos em castelos com teias de aranha e sem luz elétrica. No semblante traziam um misto de suspeição e imperturbabilidade. Suas figuras mortíferas gelavam a espinha de brasileiros e brasileiras que conviviam com líderes reais menos gélidos na vida real, como Ademar de Barros e Jânio Quadros. É claro que, ontem como hoje, ninguém ficaria indiferente se, de uma hora para outra, um híbrido de Peter Cushing e Vincent Price irrompesse na cena política. Qualquer um morreria de medo.

Michel Temer, por certo, não tem nada que ver com Price ou Cushing. Comparado aos dois, o nosso vice-presidente é exuberantemente corado, atlético, ágil, espontâneo, jovial e em nada lembra um coveiro. Ou um mordomo. Temer entra em cena como a nova esperança de governabilidade para um país que parece “um trem fora dos trilhos”, para usar a expressão de ninguém menos que Luiz Inácio Lula da Silva. Mais do que uma esperança, Temer é o best-seller da semana. É um sucesso de público e de crítica. A Folha de S.Paulo, em seu editorial de ontem, classificou de “infeliz” a carta que ele escreveu, mas reconheceu nela um arrazoado legítimo. Já este jornal, o Estado, também em editorial de ontem, chamou-a de “o fato político mais relevante desde o início do processo de impeachment”.

Uma leitura não exclui a outra. A relevância do documento (histórico desde já) está no seu caráter de aviso prévio de afastamento. Temer não rompe com Dilma, mas adverte que sua paciência com os maus modos da titular está chegando ao fim do prazo de validade. O vice ainda não pulou fora do castelo mal-assombrado desse governo, mas já abriu a janela que dá para o jardim ensolarado.

De outro lado, a infelicidade de certas passagens constrange. Ao reclamar, por exemplo, de não ter sido convidado para o encontro entre Dilma e o vice-presidente americano, Joe Biden, Temer se rende ao melodrama vulgar, como se o impasse nacional pudesse ser resolvido pelo muxoxo de um vice que deseja ser protagonista. Expressamente: “Perdi todo o protagonismo político que tinha no passado e que poderia ter sido usado pelo governo”. Ato falho mais revelador, impossível. O protagonismo de um governo não cabe ao vice, mas ao titular. Salta do texto o desejo inconfesso de inverter as posições.

Vivemos dias tenebrosos, em que o funéreo, o inconsciente e o político se engalfinham na escuridão. Que o senso de responsabilidade histórica ilumine os parlamentares encantoados entre o filme de terror e o divã.



10 de dezembro de 2015
Eugênio Bucci

O ESPETÁCULO DEPRIMENTE

Não importa o que resultar, na próxima semana, da decisão do STF que suspendeu até lá os efeitos da acachapante derrota sofrida pelo governo no plenário da Câmara dos Deputados na tarde de terça-feira. O Brasil já saiu perdendo com o escandaloso e deprimente espetáculo de falta de civilidade protagonizado em plenário por ferrabrases travestidos de representantes do povo que se julgaram no direito de tentar impedir, com violência física e verbal, a escolha dos integrantes da Comissão Especial que decidirá sobre a admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Essa baixaria que enxovalha a imagem do Parlamento e consterna o sentimento democrático dos brasileiros foi agravada pelo fato de o comportamento indecoroso das falanges governistas ter sido correspondido, quase na mesma medida – e aí não há como se alegar legítima defesa –, por oposicionistas e dissidentes da base aliada. Em resumo: o PT mostrou mais uma vez sua verdadeira cara e até que ponto contaminou a política brasileira com o vírus de sua truculência política – que não dispensa a ajuda do mais puro fisiologismo.

Se tivessem tido um pouco de paciência, os petistas teriam se poupado do vexame e se limitado a comemorar a decisão do ministro Edson Fachin, que acolheu recurso apresentado por seus dóceis comparsas do PCdoB, pedindo a anulação da votação sob o argumento de que não poderia ter sido secreta. Foi uma clara manobra para não envolver diretamente o PT no contencioso jurídico. A votação para a eleição da Comissão Especial não foi revogada, apenas suspensa até que, na próxima quarta-feira, o plenário do STF se manifeste sobre o mérito do recurso.

Apesar de todos os pesares e levando em conta que, como de hábito, Eduardo Cunha esticou sua autoridade de presidente da Casa para impor seus pontos de vista, o triste espetáculo promovido pelos deputados demonstrou claramente que Dilma Rousseff pode até, no limite, obter os 172 votos necessários para impedir que o pedido de seu impeachment seja encaminhado ao Senado, mas continuará não tendo uma sólida base de apoio na Câmara.

Essa perspectiva é particularmente grave e preocupante considerando que, se sobreviver ao impeachment – e, sobretudo, se tiver a capacidade e a humildade de aprender com os erros primários que comete há cinco anos e se disponha a corrigir-se –, Dilma terá de governar a partir de um programa capaz de promover no mais curto prazo possível a recuperação da economia. E ao mesmo tempo terá de administrar as demandas sociais, que tendem a se avolumar com as dificuldades econômicas. É impossível para qualquer governo dar conta de tantas e tão graves responsabilidades sem uma sólida base de apoio no Congresso, coisa que não cairá no colo de Dilma apenas com a rejeição do pedido de impeachment.

Além disso, a enorme impopularidade de Dilma resulta em que 2 em cada 3 brasileiros querem vê-la fora do Planalto. Essa tendência pode chegar às ruas, convulsionando o ambiente social e, com toda certeza, refletindo-se na debilitação da base de apoio.

Têm razão, portanto, os estrategistas do governo, quando tentam abreviar ao máximo a tramitação do impeachment, porque sabem que o tempo age contra a presidente – tanto solapando suas oportunidades de sobrevivência quanto aumentando as dificuldades para solucionar a crise.

Além disso, o enfrentamento dessa crise depende da soma de apoios que até agora Dilma Rousseff e seu governo se revelaram incapazes de garantir, por serem refratários a parcerias estáveis – como o episódio com Michel Temer acaba de mostrar. Assim, se Dilma salvar-se do impeachment é provável que a cena política continue gravemente conturbada pela incontrolável gana de vendetta dos petistas. E que falte aos petistas o reconhecimento de que o modelo econômico que impingiram ao País – uma insana mescla de populismo, estatismo e desprezo pelos mais sadios fundamentos da economia – só leva ao desastre e a nada mais. Só restará então torcer para que 2018 chegue logo.



10 de dezembro de 2015
O Estado de SP

O IMPEACHMENT DE DILMA CAMINHA PARA SE TORNAR REALIDADE

O comentarista Néllio Jacob, que é mestre em exercitar o poder da síntese, conseguiu dar uma lição a grande número de analistas e cientistas políticos que ainda não conseguiram se situar em relação à gravíssima crise que o país atravessa. Em poucas palavras, Jacob deu um recado que não pode sofrer contestação:

“Quando um paciente tem duas doenças, os médicos dão atenção primeiro à mais grave. No caso de Dilma e Eduardo Cunha, qual dos dois é mais prejudicial ao país? O que for considerado mais nocivo ao Brasil deve ser o primeiro a ser atacado e condenado. Enquanto o processo contra Cunha não definir se ele é culpado ou não, continuará sendo presidente da Câmara. Da mesma forma, a senhora Dilma continuará a ser presidente enquanto não for considerada culpada e sofrer o impeachment. Se Eduardo Cunha não é digno de presidir a Câmara dos Deputados, em contrapartida, Dilma Rousseff também não é digna de presidir a nação. É uma briga entre o roto e a esfarrapada, mas por bom senso deve-se prestar atenção no ditado que diz: dos males o menor”.

Não há dúvida de que Eduardo Cunha é um crápula, esta conceituação é consensual. Mas o fato mais importante é que Dilma Rousseff não sabe governar e está levando o país a um abismo absoluto e não aparece um assessor com o mínimo de inteligência para lhe dizer: “É a economia, estúpida!”.
Aguentar mais três anos de Dilma significa uma punição que os brasileiros, decididamente, não merecem. Tudo o que ela faz dá errado. Pegou o país com o PIB em alta, subindo 7,5% em 2010, e quatro anos depois vai encarar uma queda de 4,5%, o que significa que já ela derrubou a economia em exatos 12%.

Ia entrar na História como a primeira mulher a presidir o Brasil, mas vai ficar conhecida como a governante (ou governanta, se usarmos seus critérios linguísticos) que fez a pior administração de todos os tempos. Como se dizia antigamente, não é para qualquer um, não.
A votação secreta para definir a Comissão Especial do Impeachment não dá margem a dúvidas. Dos 513 deputados, 272 se mostraram claramente a favor de afastá-la do governo e 199 se manifestaram a favor do governo de Dilma Rousseff.

Acontece que esta votação foi secreta. Muitos deputados que mamam nas tetas do governo puderam se manifestar com total segurança. Foram 199, repita-se, e ela só precisa de 171 no total de 512, porque o presidente da Câmara não tem direito a voto. Ou seja, aparentemente, Dilma teve 28 votos a mais, estaria com o mandato garantido.

Mas o cálculo não pode ser feito assim tão prosaicamente. A votação do impeachment é aberta. Cada deputado terá de se apresentar ao microfone do plenário e proclamar seu voto, como aconteceu no impeachment de Collor, que na última hora perdeu votos que considerava absolutamente certos.
Já dissemos aqui na Tribuna da Internet que o tempo conspira contra Dilma, porque a cada dia surgem novas revelações sobre corrupção na Petrobras e em outras estatais. Como se viu esta quarta-feira, as investigações chegam cada vez mais perto da família Lula da Silva e de pessoas diretamente ligadas a Dilma Rousseff, como o executivo Valter Cardeal, diretor da Eletrobras, que está envolvido em falcatruas. É um nunca-acabar de escândalos e o senador Delcídio Amaral decidiu fazer delação premiada.

A votação da Comissão Especial, com 199 votos a favor do governo, mostra que Dilma hoje até conseguiria escapar do impeachment, mas acontece que ela está em viés de baixa, vai perdendo apoio com o passar do tempo.

Esta quarta-feira, discursando em Rondônia, a presidente mostrava o desgaste que vem sofrendo. Por baixo da pesada maquiagem, as olheiras escuras e o abatimento eram perceptíveis. Parecia uma mulher à beira de um ataque de nervos. 

E foi nessa condição que ela pegou o Aerolula e voltou a Brasília, para se encontrar com o vice Michel Temer e fazer a derradeira tentativa de convencê-lo a se posicionar contra o impeachment. 
É claro que não foi bem sucedida. Temer já mandou fazer o terno da posse e está escolhendo os principais nomes de seu ministério.


10 de dezembro de 2015
Carlos Newton

DEPOIS DE CUNHA, OS PETISTAS JÁ ESCOLHERAM UM NOVO ALVO



Petistas colocam Temer como a bola da vez













Em meio a toda essa tragédia que esmaga nosso cotidiano, não deixa de ser hilário observar o comportamento desesperado/raivoso dos petistas. O adversário (ou seria melhor dizer inimigo?) número um, FHC, foi escanteado, afinal malhar aquele Judas não mais causava qualquer efeito. O eleito para ocupar o posto foi o inimigo/aliado/safado/suportável etc. etc. Eduardo Cunha, aquele mesmo com quem o governo petista mantinha conversinhas vergonhosas na intimidade das alcovas palacianas, mas com quem trocava insultos em público.
Agora que o canalha parlamentar chutou o balde das negociações espúrias com os outros canalhas, só resta a ele tentar se segurar na própria corda que o enforcará. Seus dias estão contados e ele já não pode fazer muita coisa mais. O estrago que poderia fazer já foi feito e todos sabem disso!
Assim, um novo personagem passa a ocupar o título de inimigo predileto do petismo: a bola da vez chama – se Michel Temer, e a ele todos os impropérios serão dirigidos. Orquestradamente!
Resta saber se a esta altura, com a barragem arrombada, tanta verborragia chavão surtirá algum efeito…

10 de dezembro de 2015
Rodrigo Odilon Dos Anjos

PÂNICO NO PLANALTO! DELCÍDIO VAI CONTAR TUDO O QUE SABE...



Charge de Simanca (reprodução do jornal A Tarde)

























A defesa do senador Delcídio Amaral (PT-MS) confirmou ter contratado o advogado penalista Antonio Augusto Figueiredo Basto, como antecipou a coluna de Sonia Racy no portal do Estadão e o site O Antagonista. Preso há duas semanas por supostamente tentar barrar a Operação Lava Jato, o ex-líder do governo no Senado vai fazer delação premiada para tentar se livrar da cadeia. As revelações de Delcídio podem agravar ainda mais a crise política do governo Dilma Rousseff. Na agenda pessoal do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, que fez delação, há registro de 28 encontros com o senador entre 2011 e 2014.
No governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Delcídio foi nomeado diretor de Óleo e Gás da Petrobrás, cargo que ocupou entre 1999 e 2001.
Delcídio foi capturado por decisão do Supremo Tribunal Federal a pedido da Procuradoria-Geral da República. Em conversa gravada por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró (Internacional), o senador é flagrado discutindo um plano para obstruir a Lava Jato. Ele e o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, iriam financiar a fuga de Cerveró – preso desde janeiro na Lava Jato.
CERVERÓ E DELCÍDIO
Cerveró fechou acordo de delação dia 18 de novembro. Delcídio teme a delação do ex-diretor, por isso, segundo os investigadores, tentou tramar sua fuga e influenciar em seus depoimentos na colaboração com a Procuradoria-Geral da República.
Nesta segunda-feira, 7, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou criminalmente Delcídio. A pedido de Janot, o Supremo autorizou abertura de outros dois inquéritos contra o ex-líder do governo.
A saída de Delcídio pode estar na delação premiada. Dois dias depois de sua prisão, familiares e amigos do senador já o pressionavam a fazer delação, segundo revelou o jornalista Alberto Bombig, em reportagem publicada pelo Estado.
Figueiredo Basto é especialista nesta área da advocacia. Entre seus clientes, por exemplo, está o doleiro Alberto Youssef, peça central da Lava Jato. Muitos outros personagens da investigação sobre corrupção e propinas na Petrobrás são representados pelo advogado.
A defesa de Delcídio vinha sendo conduzida pelo criminalista Maurício Silva Leite. Na semana passada, Leite pediu ao Supremo Tribunal Federal revogação da ordem de prisão contra o senador.
Em nota, a assessoria de Maurício Leite destacou que a condução do pedido de revogação “permanece sob a responsabilidade do criminalista Maurício Silva Leite”. Mas a assessoria de Delcídio Amaral informou que o advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto foi mesmo contratado.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Para se livrar de uma condenação muito dura, Delcídio terá de apresentar “fatos novos” à força-tarefa da Lava Jato, para justificar o acordo da delação premiada. Delcídio hoje é como o personagem de Albert Hitchcock em “O Homem que Sabia Demais”, um grande clássico do cinema. E la nave va, sempre fellinianamente… (C.N.)

10 de dezembro de 2015
Fausto Macedo, Ricardo Brandt e Mateus Coutinho
Estadão

MINISTROS DO SUPREMO NEGAM INTERFERÊNCIA NO IMPEACHMENT



Charge do Nani (reprodução de nanihumor.com)




















Dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já se pronunciaram sobre a decisão do ministro Edson Fachin, que suspendeu ontem a tramitação do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff até a próxima quarta-feira (16), quando a Corte deve julgar a validade da Lei 1.079/50, que regulamentou as normas de processo e julgamento do impeachment.
Para os ministros Luís Roberto Barroso e Marco Aurélio Mello, Fachin não interferiu nas atividades do Legislativo ao atender pedido do PCdoB, aliado do governo, para impedir a instalação da comissão especial. Segundo Barroso, o ministro determinou uma suspensão breve com o objetivo de avaliar se o rito adotado pelos deputados está de acordo com a lei e a Constituição.
“Se há alguma dúvida e algum questionamento, é melhor parar o jogo um minutinho e acertar isso. Acho que não é interferência. Até porque a decisão dele [Fachin] foi motivada por membros do próprio Congresso ou por partidos políticos.”
CONSTITUCIONALIDADE
Na avaliação de Roberto Barroso, a Corte vai julgar somente a constitucionalidade das regras sobre tramitação do processo de impeachment, sem entrar na decisão política do Congresso que deflagrou o pedido de impedimento da presidenta Dilma.
“Em matérias como essa, o Supremo não fará juízo de mérito, mas é preciso fazer uma avaliação de que o procedimento esteja sendo cumprido adequadamente. Esta é uma matéria com uma Constituição nova. Existe uma lei antiga, normas do regimento interno. Portanto, há muitas dúvidas”, afirmou o ministro.
O ministro Marco Aurélio concordou com Barroso, assegurando que não houve interferência no Legislativo. “A última trincheira do cidadão é o Judiciário. O Supremo tem a palavra final sobre a alegada violência a um direito. Tenho de presumir a correção do ato do colega. A premissa é que não estaria respeitando o figurino legal na votação da escolha da comissão. É tempo de observar-se o império da lei”, acrescentou.
COLLOR NÃO CONSEGUIU…
Na ação protocolada semana passada no STF, o PCdoB pede a derruba de artigos da Lei 1.079/50, que regulamentou as normas de processo e julgamento do impeachment. A norma foi editada sob a vigência da Constituição de 1946. Para o partido, a lei não foi totalmente recepcionada pela Constituição de 1988.
A questão sobre a validade da lei foi discutida em 1992, quando os ministros julgaram recurso do então presidente Fernando Collor para barrar seu processo de impeachment. Na ocasião, os magistrados decidiram que a lei foi recepcionada, em grande parte, pela Constituição.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Como dizia o genial escritor alemão Erich Maria Remarque, nada de novo no front. O Supremo só julga constitucionalidade. O PT achou que conseguiria “aparelhar” o PT para fazer o que bem quisesse. O resultado é que agora nem mesmo Dias Toffoli obedece ao Planalto. O único que insiste em beneficiar o PT é o ministro Ricardo Lewandowski, que parece não se importar muito com a biografia. Mas uma andorinha só não faz verão. (C.N.)

10 de dezembro de 2015
André Richter
Agência Brasil

"DILMA NÃO TEM ESPÍRITO DE ESTADISTA PARA RENUNCIAR" - DIZ FLEISCHER



Fleischer, um dos cientistas políticos mais importantes do país
















O norte-americano David Fleischer, 73 anos, é um brasilianista radical. Há 20 anos, decidiu se naturalizar brasileiro, deixando de ser um simples observador da política tupiniquim e se transformando num cidadão do país, onde casou, teve filhos e netos. Professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), é um dos mais requisitados cientistas políticos, sendo uma referência para veículos estrangeiros e nacionais que tentam mergulhar mais a fundo para entender os movimentos políticos. Sobre a atual e grave crise, o acadêmico é direto: “O momento é pior do que o do Collor, porque tem crise econômica forte, recuo do PIB. Devemos contar com mais manifestações”.
O que mudou com a prisão do senador Delcídio do Amaral?
Tem gente que acha que talvez o Eduardo Cunha já esteja na mira do Supremo, porque o que pegou o Delcídio, e também o André Esteves, foi a obstrução da Justiça. E o fato de se mexer com testemunhas. Em um mundo civilizado, na maior parte dos países, isso dá prisão. Então podem pegar o Cunha por obstrução de Justiça e por manipular a Câmara para inviabilizar o Conselho de Ética. Ele está nervoso. Dilma e companhia também estão extremamente nervosos por causa da delação premiada de Nestor Cerveró. Ele afirma que ela sabia de tudo sobre Pasadena, que era uma refinaria decrépita e enferrujada, que os belgas compraram por US$ 60 milhões e a Petrobras acabou pagando quase US$ 1 bilhão. Então todo mundo quer saber onde foi parar a diferença, inclusive, a Justiça americana e o FBI estão investigando novas teses nesse caso. Eles dizem que, além de ela saber de tudo, pressionou para fechar o negócio. Se isso for comprovado, é crime de improbidade. Ainda não se tem um smoking gun, quer dizer, uma pistola soltando fumaça, então esse seria o smoking gun da Dilma. Eles estão muito preocupados porque agora bagunçou o Congresso mais ainda, e a falta de governabilidade aumentou. Há o risco de nada ser aprovado no Congresso.
O senhor vê paralelos dessa crise na história?
O paralelo que faço é de Richard Nixon e o Watergate, em agosto de 1974. O impeachment na época parecia evidente. O Partido Republicano chegou para ele e disse: “Pelo amor de Deus, você tem que renunciar, senão o nosso partido vai ser liquidado nas eleições de novembro”. Aí, como ele tinha um pouco mais de espírito de estadista do que a Dilma, renunciou. Mas, antes de renunciar, ele se assegurou com Gerald Ford, que assumiu a presidência, de que o novo presidente emitiria um perdão presidencial para ele.
Isso pode acontecer com Dilma?
Acho que ela não tem espírito estadista para renunciar, isso não faz parte do DNA dela, porque você sabe que ela é uma pessoa cuja personalidade não condiz com a renúncia, mas pode chegar ao mesmo caso de Nixon, em que digam: “Você tem que renunciar, senão vamos ser liquidados nas eleições municipais e, pior ainda, em 2018”. Se o PT pressionar, talvez sim. Ela tem uma saída à francesa. Ela pode alegar que deixará a Presidência por motivos de saúde.
O senhor acha que o PT poderia pressioná-la a renunciar?
O PT já demonstrou isso. Você viu a nota que o Rui Falcão soltou? Ele lavou as mãos com o Delcídio do Amaral na hora. O PT está muito preocupado com 2016.
É o fim de uma era para o PT?
Acho que sim, o PT reclama muito que está sendo criminalizado, mas são criminalizados por causa dos criminosos do partido, que estão na cadeia ou acusados. Dos nove petistas que votaram a favor do Delcídio na quarta no Senado, a maior parte já tem casos no Supremo e pode ser cassada, mas o PT está em um dilema existencial. Tem petista falando em criar um partido.
E o Lula?
O Lula é um grande ícone do PT, que foi preparado desde o início dos anos 1980 para ser o candidato à Presidência, e desde então o PT não preparou nenhum outro candidato, tirando a Dilma. O Lula queria voltar em 2014, mas ela disse não: “Eu sou a presidente e eu vou à reeleição”. Hoje, não há dúvidas de que a imagem do Lula está muito mal.
Esse momento é pior que o do governo Collor?
Muito pior, porque agora tem crise econômica muito forte, temos recessão de mais de 3% do recuo do PIB este ano e deve ser pelo menos 2,5% no ano que vem. A crise econômica vai aumentar no início do ano e no ano que vem, com demissões, inflação, caixa apertado. E vai começar a ter manifestação desses deserdados politicamente. Principalmente a nova classe média. A classe média teve uma grande ascensão social com o Lula, vinte e tantos milhões de pessoas que saíram da classe D e E para a classe C. Vai ter essa movimentação nas ruas. Já tivemos em 2013 e isso mostrou como que se pode mobilizar.
Quais são as consequências da Operação Lava-Jato?
Supostamente, levaria a uma certa limpeza, como a Operação “Mãos Limpas”, da Itália, levou a uma certa limpeza também, mas não foi uma limpeza total, tanto que o Berlusconi conseguiu subir na política. Mas é um aviso aos navegantes de que, se você vai praticar essas coisas, você vai ter de tomar muito cuidado. Serve de advertência…
Mas o país muda?
Acho que muda. O André Esteves é um dos grandes banqueiros aqui no Brasil, o BTG é um dos grandes bancos de investimento e esse banco vive de sua imagem positiva, e agora todo mundo está pensando: “O que vai ser desse banco?” Você tem um grande empresário como o Odebrecht preso há vários meses. Isso foi uma coisa que nunca tinha acontecido antes: donos de grandes empresas presos.
Estamos no mesmo patamar da Operação Mãos Limpas?
Espero que não. Porque na “Mãos limpas” assassinaram juiz. Espero que isso não aconteça com o Sérgio Moro, porque é um juiz exemplar, que aprendeu o ofício no caso Banestado.

10 de dezembro de 2015
Ana Dubeux , Denise Rothenburg , Leonardo Cavalcanti
Correio Braziliense