"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

QUEM É JOSÉ "LÁZARO"


José "Lázaro": uma de suas especialidades eram as eliminatórias
José “Lázaro”: uma de suas especialidades eram as eliminatórias
Conhecido do grande público apenas desde ontem como o segundo brasileiro envolvido no esquema de roubalheira do futebol, José Margulies nasceu no Uruguai – naturalizou-se brasileiro.
Margulies é conhecido no mercado como “José Lázaro” – numa referência ao irmão, o lendário Marcus Lázaro, morto em 2003, e que nos anos 60 e 70 foi um dos principais empresários de shows e artistas do Brasil (Roberto Carlos, Elis Regina, Jorge Ben, Chico Buarque, por exemplo).
A especialidade de Margulies era a negociação dos direitos de Eliminatórias da Copa. Apenas na Copa de 2014 ficou fora desse jogo.
28 de maio de 2015
Por Lauro Jardim

PROCURA-SE O AUTOR DO DITO "DURA LEX, SED LEX"

A Corrupta Justiça Brasileira é uma Vergonha e Só Serve para Proteger os Bandidos

A justiça brasileira é um circo. Um desses tribunais repletos de desembargadores corruptos, incompetentes e canalhas cumpre sua função social, que é o de proteger bandidos, legalizar o crime, e escarnecer das vítimas e de você, contribuinte e eleitor otário: Justiça anula condenação a 21 anos de prisão de ex-dono do Banco Santos. Desembargadores determinaram que fase de interrogatórios seja refeita. Ex-banqueiro foi condenado por gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro.
28 de maio de 2015
in selva brasilis

ESCÂNDALO DA CBF / FIFA NÃO FICARÁ IMPUNE NOS EUA




Durante coletiva de imprensa realizada agora pouco, Loretta Lynch, procuradora-geral dos Estados Unidos, afirmou que dirigentes da FIFA e da Confederação Brasileira de Futebol(‪#‎CBF) exigiam propinas de patrocinadores, como aconteceu no escândalo da Nike. Um dos alvos é a roubalheira generalizada protagonizada pela Copa do Mundo Brasil 2014.

"Se você usa o sistema financeiro norte-americano para roubar, para corromper, para fraudar, certamente você vai pagar caro por isso, porque aqui existe Justiça", disse James B. Comey, diretor do FBI – Federal Bureau of Investigation, durante a mesma entrevista coletiva.


28 de maio de 2015
in blog do mario fortes

CORRUPÇÃO NO FUTEBO. "MAIS NOTÍCIAS RUINS VIRÃO" - DIZ BLATTER SOBRE ESCÂNDALO


PRESIDENTE DA FIFA FALA PELA 1ª VEZ APÓS PRISÃO DE CARTOLAS



O BRASILEIRO JOSÉ MARIA MARIN (ESQ.)É UM DOS ALIADOS
DE JOSEPH BLATTER (DIR.) PRESOS NESTA QUARTA-FEIRA
(FOTO: JF DIÓRIO/ESTADÃO CONTEÚDO)


O presidente da Fifa, Joseph Blatter, reconhece que “mais notícias ruins virão” no que se refere aos escândalos de corrupção no futebol. Ele insiste que são casos “individuais” e que é apenas uma “minoria” entre os cartolas da entidade que agem de forma corrupta. Falando pela primeira vez desde as prisões de sete de seus dirigentes nesta semana em Zurique, Blatter insistiu na abertura do Congresso Anual da Fifa. Diz que ele fará a reforma da entidade.

Somos uma vasta maioria que gosta do futebol, não pelo poder ou cobiça, mas pelo amor ao futebol e para servir a outros”, disse o cartola, que concorre a reeleição nesta sexta. “O confesso que será um caminho longo e difícil para reconstruir a credibilidade. Perdemos e vamos reconquistar por meio das ações e como agimos de forma individual”, alertou. Blatter, que nesta sexta concorre à eleição, ainda pediu “solidariedade”. “Estamos todos unidos”, insistiu. Hoje, Michel Platini, presidente da Uefa, pediu a demissão de Blatter.

O presidente da Fifa insistiu: “Esses é um momento difícil e sem precedentes”, reconheceu. “Os eventos de quarta jogaram uma longa sombra no futebol e no Congresso da Fifa. Ações individuais trouxeram vergonha e humilhação ao futebol e exigem mudanças”, disse. “Não podemos deixar que a reputação do futebol entre na lama. Isso precisa parar agora.”

Blatter também se isentou de qualquer culpa no escândalo. “Muitos dizem que eu sou responsável pela comunidade global do futebol, seja na Copa ou escândalo de corrupção. Mas eu não posso monitorar as pessoas todo o tempo. Se eles fazem algo errado, tentam esconder. Cabe a mim proteger a reputação e encontrar uma saída.”

O FBI disse que Blatter não está sendo investigado. “Não vou deixar que atos de alguns destruam as ações de tantos que trabalham pelo futebol. Aqueles corruptos são minoria. Mas precisam ser pegos e levados a suas responsabilidades”, declarou o presidente da Fifa. “Vamos cooperar com as autoridades para que aqueles envolvidos, de cima para baixo, sejam punidos. Não pode haver espaço para corrupção. Os próximos meses nao serão fáceis. Mais notícias ruins virão.”

Tanto a Justiça americana quanto a Justiça suíça indicaram que as prisões dos últimos dias são apenas as primeiras etapas de um processo bem maior.

CONGRESSO

Vivendo sua pior crise, a Fifa abriu na tarde desta quinta, de forma constrangida, seu congresso anual em Zurique, com música, roupas de gala e carros de luxo. A entidade foi sacodida pela prisão de sete de seus membros, entre eles o ex-presidente da CBF, José Maria Marin. Ainda assim, a festa foi mantida depois que Blatter recebeu o apoio de algumas confederações, entre elas a sul-americana. Ao subir no palco para falar, não faltaram assobios e palmas frenéticas.

O tema do evento: a solidariedade. A festa teve músicos suíços, bandeiras das 209 federações e imagens alpinas. Mas a imprensa foi mantida distante dos cartolas, que entraram por portas separadas e com forte presença de seguranças privados e da cidade de Zurique. Dentro do teatro, uma vez mais os jornalistas foram mantidos em um local separado, sem qualquer acesso aos dirigentes.

Blatter havia cancelado todas as suas participações em eventos nos últimos dois dias, também para evitar qualquer tipo de contato com a imprensa ou questões embaraçosas. Nesta tarde, porém, ele foi à sua própria festa, além de ministros suíços e autoridades locais. Thomas Bach, presidente do COI, também estava presente. (AE)


28 de maio de 2015
diário do poder

POLÍTICA DO COTIDIANO, DO JORNALISTA CLAUDIO HUMBERTO

ADITIVOS PODEM TER RENDIDO R$ 3 BILHÕES EM REFINARIAS

No depoimento à Polícia Federal, Othon Moraes Filho, do grupo Queiroz Galvão, listou quem na empresa participava da distribuição de “doações” a partidos investigados na Lava Jato. Fontes da investigação acreditam que um dos citados, André Gustavo Pereira, vice-presidente da Queiroz Galvão, seria o responsável pelos famosos “aditivos” que teriam acrescentado cerca de R$ 3 bilhões ao valor dos contratos com a Petrobras, nas obras das refinarias Abreu e Lima (PE) e Comperj.


NO POPULAR

A força-tarefa da Lava Jato consolida o entendimento de que “doações” eleitorais para partidos e políticos não passam de propina.


AH! BOM

Em nota, a Queiroz Galvão nega que Othon Moraes tenha confirmado pagamento de propina, mas apenas de “doações”.


SEM VANTAGENS

À PF, ressalta a Queiroz Galvão, o diretor não afirmou que a empresa fez pagamento ilícito para obtenção de contratos e vantagens.


LIMITE LEGAL

Em seu depoimento à PF, Othon destacou doações de até 2% do faturamento da empresa, que alega ser o limite fixado na legislação.


"OS INTOCÁVEIS" INVESTIGARAM CORRUPÇÃO NA FIFA

O tamanho do escândalo de corrupção na Fifa pode ser medido pela força-tarefa da investigação, formada pelo poderoso Departamento de Justiça, o temido IRS (Receita Federal dos Estados Unidos) e o FBI, a Polícia Federal de lá. Eles se unem em casos especiais, como quando constituíram o grupo denominado “Os intocáveis” para investigar e prender um dos mais perigosos bandidos de sempre: Al Capone.


CONTRA A FIFA

O Ministério Público de Nova York, o Departamento do Tesouro, e as Receitas estaduais também participam da investigação contra a Fifa.


MARIN NA CADEIA

Entre os 14 executivos da Fifa enrolados no escândalo está o ex-presidente da CBF José Maria Marin e os dirigentes da Concacaf.


VIZINHOS

O ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, que mora perto do parceiro J. Hawilla, em Boca Raton, Flórida, estava em Mônaco e voltou ontem.


MR. MOURA

Vivendo há mais de dez anos na Flórida, o lobista Fernando Moura já obteve cidadania norte-americana. Ele foi o chefe da turma dos irmãos Zeca e Milton Pascowitch, este último preso na Lava Jato.


PROTAGONISTA

A jornalista Cláudia Cruz, mulher de Eduardo Cunha, foi importante na reaproximação do marido com Dilma. A presidente tem apreço por ela e as duas combinaram aquele jantar no Alvorada que selou a paz.


SE QUEIMOU

O PT estranhou o PCdoB votar pelo distritão, contrariando interesse dos petistas. Dias atrás, os comunistas chamavam o sistema de retrocesso. Restou ao PT se aliar aos tucanos para barrar a proposta.


SUMIÇO

Vem chamando atenção de deputados enrolados no Petrolão o sumiço da delação premiada do doleiro Alberto Youssef, na qual ele aponta acusados de receber propina. No arquivo “Miscelânia”, desapareceu o vídeo de Youssef, de posse da Justiça, nominando os acusados.


FACA NO PESCOÇO

O ministro Joaquim Levy (Fazenda) contou a deputados que não tem medo da frigideira do colega Aloizio Mercadante. O chefe da Casa Civil, que se acha em economia, tem cochichado críticas a Levy.


MILITÂNCIA

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, tem sido incansável, percorrendo gabinetes parlamentares para defender o projeto da terceirização. Inclusive colocando-se à disposição para tirar dúvidas sobre o assunto.


MARCHA PARA GAVETA

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu o pedido de impeachment das mãos dos manifestantes que caminharam de São Paulo à Brasília. A chance do pedido prosperar é quase zero.


PORTA-RECADO

O deputado petista Alessandro Molon (RJ) foi portador do recado do senador Aécio Neves (PSDB-MG) contra o distritão. A mensagem foi fundamental para diluir o voto dos tucanos favoráveis ao sistema.

BOLA DIVIDIDA

A prisão de José Maria Marin causou grande alívio entre os envolvidos no petrolão: o escândalo na Fifa vai dividir o noticiário da Lava Lato.


28 de maio de 2015

CUNHA DESDENHA DE AÇÃO DO PT CONTRA FINANCIAMENTO PRIVADO

ELE ACHA QUE TENTATIVA PETISTA NO STF NÃO FAZ A MENOR DIFERENÇA



ELE DISSE QUE NÃO QUEBROU ACORDO AO APROVAR
DOAÇÕES DE EMPRESAS


O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RS), afirmou nesta quinta-feira, 28, que a decisão do PT de recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a aprovação, ontem, de uma emenda que incluiu na Constituição o financiamento privado de campanhas "não faz muita diferença". "Já tem uns 50 (mandados de segurança) que eles (PT) entraram lá e vai ser o 51º. Não faz muita diferença", disse Cunha.

Na noite de quarta-feira, 27, o peemedebista acionou seus aliados e conseguiu aprovar, por 330 votos, uma proposta que constitucionaliza as doações privadas a partidos políticos, sendo que o financiamento direto a candidatos fica restrito à pessoas físicas. O presidente da Câmara defendeu a tese votada ontem: "Eu acho que o financiamento privado tem que ser para partido", disse.

Cunha foi acusado por petistas de ter quebrado um acordo político para fazer sua vontade e de ter atropelado regras regimentais, o que deve embasar a decisão do PT de recorrer ao STF.

Cunha rebateu os argumentos dos petistas e disse que "não quebrou acordo político nenhum". Sobre a alegação dos petistas, de que faltava o número mínimo de signatários para apresentar a emenda posteriormente aprovada, Cunha pontuou que as regras da Câmara permitem que a redação seja assinada pelos líderes. "(Ela) foi assinada por quase todos os líderes. Como se pode dizer que não tinha número? Emenda aglutinativa é de liderança e tinha 70% da Casa assinando", declarou.

Na terça-feira, 26, Cunha havia sofrido uma dura derrota, ao ver emendas que instituíam o sistema eleitoral conhecido como "distritão" e que colocavam na Constituição a previsão legal de doações privadas para partidos e candidatos serem rejeitadas. Mas, no dia seguinte, ele iniciou uma contraofensiva, reverteu votos e conseguiu aprovar a emenda que mantém o financiamento privado. (AE)



28 de maio de 2015
diário do poder

GERENCIANDO OS DANOS



No último programa da Joice Hasselman, o sr. Marco Antonio Villa, sem citar o meu nome, já que não é homem para isso, voltou a chamar-me de "embusteiro", "171" e coisas similares, desta vez por ter atribuído ao dramaturgo comunista Bertolt Brecht a seguinte frase, dita a propósito dos condenados nos Processos de Moscou: "Se eram inocentes, tanto mais mereciam ser fuzilados."
Brecht, segundo Villa, jamais disse isso.
É tudo invenção minha. Infelizmente, o episódio é testemunhado pelo filósofo Sidney Hook na página 493 do seu livro de Memórias, Out of Step. An Unquiet Life in the 20th. Century (New York, Carrol& Graf, 1987) e, segundo Paul Johnson – em Intellectuals, página 190 da edição de 2007 da Harper Perennial (agradeço ao Filipe G. Martins este lembrete) --, foi confirmado por outra testemunha, o prof. Henry Patcher, da City University.
O leitor pode verificar por si mesmo nas imagens que acompanham este artigo.
int1
Novamente fica esclarecido quem é o embusteiro.
Mas o embuste do qual o sr. Villa fez a sua especialidade profissional não teria maior relevância se consistisse apenas em mentir contra alguém do qual ele sabe praticamente nada e que nunca lhe fez mal nenhum.
Birras individuais sem motivo, mesmo quando levam a obsessões difamatórias, são matéria para consultórios de psicoterapia, não para discussão pública.
Mas o anti-olavismo espumante do sr. Villa não é uma loucura sem método. Há nele toda a racionalidade perversa de uma estratégia política calculada para montar na onda da revolta popular antipetista e, esvaziando-a de todo conteúdo ideológico, revertê-la no fim das contas em benefício da mesma “revolução gramsciana” que criou o PT, o instaurou no poder e o dotou de todos os meios de mentir, trapacear e roubar sem jamais ser punido.
Muito antes de que o sr. Villa entrasse em cena, eu já havia mostrado essa estratégia em ação no Brasil (leia aqui eaqui).
Trata-se do velho artifício esquerdista de limpar-se na sua própria sujeira. Quando crimes e iniquidades longamente negados e explicados como invencionices da “imprensa burguesa” crescem ao ponto de se tornar impossível escondê-los, a esquerda rouba de seus adversários o discurso de denúncia, num esforço tardio e desesperado, mas não raro bem-sucedido, de saltar do banco dos réus para a tribuna dos acusadores.
O procedimento retórico empregado nessa operação é sempre o mesmo: reconhecer os delitos, mas atribuir sua culpa à “direita”, passando a chamar retroativamente de direitistas os mesmos líderes que durante décadas a esquerda em peso reconhecera como as personificações quintessenciais do mais puro esquerdismo.
Se fizeram isso até com Stálin – e, na França de 1968, com o Partido Comunista inteiro – por que não haveriam de fazê-lo também com Lula, na hora do aperto?
Se já esboçaram reações desse tipo em 2004 e 2006, quando os escândalos eram ainda incipientes, por que não haveriam de reencená-las, com mais ênfase ainda, no momento em que os feitos do PT se revelam, aos olhos do povo, como recordes mundiais de corrupção dignos de figurar no Guiness?
Para desempenhar sua parte no empreendimento, o sr. Villa faz das tripas coração para persuadir a plateia a engolir duas mentirinhas bobas nas quais nem ele mesmo acredita:
Primeira: Nem Lula nem o PT têm nada de comunistas. Lula não passa de um direitista empenhado em defender o grande capital.int2
Segunda: Só quem pode e deve fazer algo contra o descalabro petista são as “nossas instituições democráticas”: o Congresso e o sistema judiciário. As massas que tratem de refrear seus impulsos belicosos e de obedecer a seus “legítimos representantes”. Tudo o que vá além desse limite é “saudosismo da ditadura”.
Comentarei aqui só a primeira delas, deixando a segunda para um artigo vindouro.
Com o objetivo de sustentar a tese do direitismo petista o comentarista tem de estreitar propositadamente o seu horizonte de visão até que nada caiba nele além de um “esquema de corrupção” do qual se beneficiam, junto com o PT, alguns grandes grupos bancários e empresariais. Para fazer disso um “direitismo” é preciso operar no corpo da realidade alguns cortes drásticos, suprimindo:
(a) o fato de que o esquema tem financiado o crescimento das organizações de esquerda até o ponto em que só elas, e mais partido nenhum, podem apresentar candidatos à presidência;
(b) o fato de que as verbas do Estado brasileiro têm sido usadas generosamente para salvar o movimento comunista na América Latina e na África, injetando vida nova em regimes ditatoriais economicamente moribundos;
(c) o fato de que essas mesmas verbas alimentam o crescimento da “revolução cultural” gramsciana em todas as áreas da vida social, promovendo sistematicamente a derrubada dos valores que na perspectiva gramsciana representam a “ideologia burguesa”;
(d) o fato de que o dinheiro público fomenta o crescimento ilimitado de “movimentos sociais” criminosos, cada vez mais reconhecidos como entidades imunes à aplicação das leis.
E por aí vai. As vantagens financeiras que alguns banqueiros e empresários têm levado nesse esquema não são nada mais que as migalhas que o próprio Lênin recomendava atirar a uma burguesia idiota o bastante para abdicar de todo poder político próprio – e até de um discurso ideológico próprio - em troca de um dinheiro sujo que só serve para escravizá-la cada vez mais à liderança esquerdista.
É só suprimir esses fatos, e pronto: transferida a patifaria lulista para a “direita”, o público está preparado para contentar-se com um antipetismo higienizado, castrado, apolítico, incapaz de trazer qualquer dano às organizações de esquerda, mas bem capaz de salvá-las do desastre que elas mesmas criaram.
Tal é o antipetismo do sr. Villa e de outros iguais a ele: puro gerenciamento de danos.
28 de maio de 2015
Olavo de carvalho
Publicado no Diário do Comércio.

NARCOTERROR NA COLÔMBIA: SANTOS, OLOF PALME E A TERCEIRA VIA



As FARC se reorganizaram, cresceu sua agressividade e a mesa de Havana resultou ser uma vulgar janelinha por onde Timochenko passa suas exigências e Santos obedece.

Ante o mistério que encerra o entreguismo de Santos ante as FARC, ante a impossibilidade de saber, no momento, o que é que há por trás da obstinação de fazer concessões sem contraprestação a esse perigoso bando armado e aos cubanos, resta o recurso de fazer, ao menos, o inventário das motivações intelectuais que poderiam explicar essa particular atitude.

Pois deve haver teorias que incendeiam essa mente. Só a loucura gasosa do Prêmio Nobel que lhe prometeram não dá para tanto. Examinemos pois uma dessas teorias, que tem a vantagem de aparecer a cada certo tempo nos discursos do presidente. Juan Manuel Santos, de vez em quando, diz ser partidário da “terceira via”, sem explicar a qual das numerosas variantes dessa construção ele é adepto.
Como se sabe, essa fórmula serve para designar programas e visões do campo político e social muito diversas. A frase foi lançada pela primeira vez pelo Papa Pio XI, em sua encíclica Quadragesimo Anno(1931), a qual procurava um caminho entre o socialismo e o capitalismo.

O líder trabalhista britânico Blair e o presidente Clinton adotaram depois essa fórmula para ilustrar outros combates políticos, como haviam feito o sociólogo norte-americano Wright Mills, o teórico comunista Ota Sik, e como farão o primeiro ministro holandês Win Kok, o chanceler alemão Gerhard Schröder e até o nefasto ditador Muamar Kadhafi.

Outro partidário da “terceira via” foi o social-democrata Olof Palme, primeiro ministro da Suécia de 1982 a 1986 [1]. Os soviéticos tentavam nesses anos dividir a aliança atlântica. Em vez de denunciar isso, Palme tratava de apaziguar Moscou. Por isso atacava violentamente a política exterior dos Estados Unidos no Vietnã e no Oriente Médio, e financiava as guerrilhas centro-americanas, o que não impedia a Suécia de desfrutar, ao mesmo tempo, da proteção militar dos Estados Unidos e da OTAN.

Palme estimava que ante a impossibilidade de derrotar um vizinho agressivo como a URSS, a única política era fazer-lhe vênias, pois uma linha de firmeza, por exemplo, como a que seguia Ronald Reagan, seria um fracasso. A vida demonstrou quão equivocado Palme estava, pois a política de Reagan contra o império expansionista soviético acabou por dar frutos espetaculares em 1990: a Alemanha foi reunificada, a URSS foi derrubada e o comunismo, ao menos na Europa, ficou reduzido a pó.

Com sua linha branda, Palme conseguiu que as incursões de submarinos soviéticos em águas do Mar Báltico, em vez de decrescer, aumentaram. É o affaire “Whisky on the rocks”. As forças navais suecas gastaram em 14 anos 4 bilhões de coroas (dois bilhões de dólares) em novas instalações radar e em operações, o que incluiu bombardeios ar/mar, para tratar de caçar os submarinos intrusos. Nunca conseguiu nada e se algo acabou com essa história, foi o desmoronamento do ogro soviético e não as lamentáveis políticas de capitulação de Palme ante o bloco do Leste.

O presidente Santos defende uma teoria similar à de Palme: como não é possível, diz ele, derrotar as FARC, deve-se capitular ante as FARC. Essa teoria de que as FARC não são derrotáveis é falsa e os dois governos do presidente Uribe provaram o contrário. Entretanto, a teoria da capitulação voltou ao poder e seus resultados são desastrosos: as FARC se reorganizaram, cresceu sua agressividade e a mesa de Havana resultou ser uma vulgar janelinha por onde Timochenko passa suas exigências e Santos obedece.

O último capítulo da rajada de aceitações humilhantes ocorreu ontem quando Santos nomeou um novo ministro da Defesa. Tirou Juan Carlos Pinzón que, apesar de ser um soldado disciplinado de Santos, não deixava de assinalar o caráter criminoso das ações das FARC e até criticou certos aspectos do “processo de paz”. Pinzón, filho de uma família militar, pronunciou-se sempre contra a pretensão das FARC de “reduzir” as Forças Armadas da Colômbia. Ele foi substituído por um advogado de ampla trajetória no setor privado, Luis Carlos Villegas, que foi vítima das FARC: sua filha foi seqüestrada no ano 2000 e mantida em cativeiro durante três meses.

Embaixador até a próxima semana em Washington, Villegas intercambiará seu posto com Juan Carlos Pinzón. A imprensa santista assegura que Villegas é o homem ideal para fazer a “reconversão para um cenário de término do conflito”. As FARC, de novo, ganharam uma partida.

“A paz não pode ser um caminho para que os violentos alcancem o poder”, advertiu Pinzón ao se despedir na Escola Militar. Como interpretar essa frase tão importante? Ele era um obstáculo para a aceleração das capitulações? Pinzón se felicita de ter dado golpes severos às FARC e aos outros bandos criminosos, e de haver criado 9 forças-tarefa, 18 brigadas móveis e duas brigadas de infantaria de Marinha em seus 44 meses à frente do ministério. O que restará dessas estruturas se a linha de debilitar a força pública se impõe ao todo? A rajada de destituições de altos oficiais, o de deixar em terra a força aérea, e abolir a aspersão aérea dos cultivos ilícitos é só o começo? O próximo passo será o cessar fogo bilateral?

A “terceira via” de Santos nos está levando a becos sem saída como ocorreu a outros.

28 de maio de 2015
EDUARDO MACKENZIE

Nota do autor:
[1] Palme foi assassinado numa rua de Estocolmo em 28 de fevereiro de 1986. Esse crime não foi elucidado. Um dependente de drogas foi detido mas em 2011 a revista alemã Focus afirmou que o pistoleiro era um membro do serviço secreto da Iugoslávia que vive tranqüilamente na Croácia.

Tradução: Graça Salgueiro

DILMA CORTA 42% DO FIES.

O Ministério da Educação (MEC) fez uma série de alterações no Fies para frear os gastos

(Estadão) Apesar de já ter um número maior de alunos com contratos de Financiamento Estudantil (Fies) em 2015, o governo federal gastou, até maio deste ano, R$ 2,5 bilhões a menos do que no mesmo período de 2014. A diferença representa uma queda de 42% nos repasses em valores corrigidos pela inflação e é resultado de adiamentos e atrasos nos pagamentos, além da imposição de um teto de reajuste nas mensalidades.

Até esta semana, o governo havia gastado com o Fies R$ 3,5 bilhões. Em 2014, já haviam sido pagos R$ 6 bilhões no mesmo intervalo, em valores atualizados. Os dados são do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) do governo, tabulados pelo economista Mansueto Almeida, especialista em contas públicas.
O gasto de R$ 3,5 bilhões desses primeiros cinco meses é praticamente igual ao que o governo gastou no mesmo período em 2013 – quando havia menos contratos. Aquele ano acabou com um saldo de 1,2 milhão de contratos, cerca de 970 mil a menos do que agora.

Em 2013 e 2014, o repasse nesses primeiros meses ficou em torno de 45% do total gasto no ano. O gasto em 2015 representa 27% do orçamento previsto no ano, que é de R$ 13 bilhões. O Fies consumiu R$ 13,7 bilhões no ano passado, quando não havia os 252 mil contratos firmados neste ano.

Na esteira do ajuste fiscal do governo, o Ministério da Educação (MEC) fez uma série de alterações no Fies para frear os gastos. Uma delas foi o adiamento de um terço do que deveria ser pago a empresas com mais de 20 mil contratos. Esses grupos centralizam mais da metade dos alunos do ensino privado. Uma portaria publicada em dezembro definiu que o governo só honraria 8 das 12 parcelas previstas para o ano. 

Apreensão. O setor calcula que os valores adiados somem R$ 3 bilhões no ano. Até agora, não há previsão para acertar essa conta e as empresas já temem calote. Para Mansueto Almeida, os adiamentos são uma “forma artificial” de reduzir o custo do programa. “O MEC está jogando parte do custo de um ano para outro.”

Entre as empresas, o maior receio é a indefinição oficial das condições para acertar a dívida. “Não temos nada formalizado, sem datas e sem saber se haverá correção desses valores no futuro”, disse Sólon Caldas, diretor executivo da Associação Brasileiras das Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes). 

Há a expectativa de que as quatro parcelas sejam pagas entre 2016 e 2018. Segundo Rodrigo Capelato, diretor do Semesp (outra entidade que representa as empresas), adiamentos também têm atingido empresas menores, não incluídas pela portaria. “Há atrasos nas contas e salários porque elas estão recebendo de 70% a 80% do que precisavam”, diz Capelato.

O adiamento das parcelas, a criação do teto de reajuste de 6,4% nas mensalidades e a nota de corte no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para novas adesões foram as formas encontradas pelo governo para segurar os gastos com o Fies. Também foi a estratégia para garantir novos contratos no ano.

Atrasos. O setor educacional tem se queixado de atrasos. Contratos considerados pendentes por causa de reajuste acima do teto não estariam sido pagos. Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que gerencia o Fies, esses aditamentos preliminares “estão em análise”. O fundo informou que um grupo de trabalho criado para analisar abusos nas mensalidades vai convocar as instituições separadamente nos próximos dias.

O FNDE não explicou por que os repasses deste ano estão em níveis tão baixos. Mas argumentou que “não há atrasos”. O órgão garantiu que os R$ 13 bilhões serão suficientes para bancar o programa no ano. Lembrou, ainda, que trabalha para abrir inscrições no segundo semestre, mas que isso depende de novo aporte financeiro.

28 de maio de 2015
in coroneLeaks

PF NOTIFICA ODEBRECHT SOBRE PROPINA NO PETROLÃO


A cúpula da Odecrecht: Norberto, já falecido, o filho Emílio e o neto Marcelo.

(Folha) A Polícia Federal notificou a Odebrecht a dizer se formou cartel para fraudar licitações e se pagou propina em troca de contratos na Petrobras. A intimação foi consequência de pedido feito ao juiz Sergio Moro, pelos advogados da própria empresa, para que ela se pronuncie em inquérito que apura suposta participação de subsidiária do grupo, a Odebrecht Plantas Industriais, em lavagem de dinheiro oriundo de corrupção.

Com receita anual de R$ 32 bilhões, a maior empreiteira brasileira foi citada por ex-dirigentes da Petrobras, em delações premiadas, como integrante do cartel e fonte de supostos pagamentos de propina no exterior. Até agora, ela é a única das grandes construtoras do país que não tiveram executivos presos na Operação Lava Jato. 

No despacho, o delegado Eduardo Mauat da Silva faz perguntas genéricas. Como, por exemplo, se os executivos da empresa participaram de reuniões para "direcionamento de licitações públicas" ou se pagaram "vantagens indevidas a agentes públicos". A advogada Dora Cavalcanti Cordani disse que a empresa vai se manifestar à Polícia Federal nesta quinta (28).

28 de maio de 2015
in coroneLeaks

DIZ A JORNALISTA DORA KRAMER...



 

"Por exemplo: de que adianta insistir em pedido de impeachment via Parlamento se está mais do que evidente que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não dará prosseguimento ao processo, seja por falta de embasamento objetivo ou ausência de interesse político?
Ademais, sejamos francos: se por hipótese remota houvesse o afastamento da presidente antes de dois anos de mandato e fossem realizadas novas eleições, a oposição estaria mesmo interessada em assumir o comando do País do jeito que está?
Por ora, ao PSDB parece soar muito mais agradável assistir ao PT, Dilma, Lula e companhia encontrarem uma saída para a enrascada que eles mesmos construíram. Além disso, as coisas entre os tucanos voltaram a ficar complicadas em termos de ambições presidenciais.
O senador Aécio Neves já não corre sozinho. O governador Geraldo Alckmin constrói seu caminho rumo à candidatura e o senador José Serra começa a se reposicionar. Para os oposicionistas, portanto, melhor o impedimento de fato, na prática, que um impeachment de direito sem efeito."
RESUMINDO: esse é o jogo ...

28 de maio de 2015
in graça no país das maravilhas

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA JORGE SERRÃO

Mercado político mete Lula no meio do Fifagate, se EUA investigarem a fundo contratos para a Copa de 2014




Investigadores norte-americanos, no mínimo, vão incomodar o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na hora em que for feita uma devassa nas negociatas da transnacional Fifa para faturar altíssimo com a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Para compensar a humilhante derrota de 7 a 1 que sofremos da Alemanha, os brasileiros devem ter a chance de comemorar a provável goleada que o Departamento de Justiça dos EUA e suas agências de investigação devem aplicar contra brasileiros corruptos que foram parceiros da "Falcatrua Association".

Já se dá como certa uma investigação norte-americana sobre os contratos de serviços e construção de estádios para a Copa de 2014 - que foram alvos de suspeitas lançadas por empresas dos EUA que foram preteridas nos negócios. Neste caso, o Fifagate tem tudo para ter uma interligação com a Operação Lava Jato. O FBI investiga denúncias de que o "Clube de Empreiteiras", em conluio com autoridades brasileiras, fechou negócios cartelizados com a Fifa - prejudicando a livre concorrência. A história deve ir longe - gerando mais um escândalo da moda que ajuda a atenuar a exposição sobre outros que começam a cair no esquecimento popular...

A maior preocupação dos picaretas tupiniquins é com o teor das delação premiada feita pelo empresário José Hawilla, dono da empresa Traffic Group, maior empresa de marketing esportivo da América Latina. O departamento de Justiça dos EUA revelou que J. Hawilla (como prefere ser chamado) teria confessado culpa, em dezembro do ano passado, por acusações de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça. Um dos acordos que prejudicou Hawilla foi o contrato que intermediou entre a CBF e a norte-americana Nike.

Junto com José Maria Marin (ex-presidente da CBF), Hawilla é o único brasileiro entre os réus confessos declarados culpados pela Justiça dos EUA. Ele aceitou o confisco de US$ 151 milhões (R$ 473 milhões) de seu patrimônio. Só no momento da confissão ele já desembolsou US$ 25 milhões (R$ 78 milhões). O terceiro brasileiro investigado pelo FBI é José Margulies, proprietário das empresas Valente Corp. e Somerton Ltd., ambas ligadas a transmissões esportivas. Margulies supostamente atuou como intermediário para facilitar pagamentos ilegais entre executivos de marketing esportivo e autoridades do futebol.


O senador Romário (PSB-RJ) recolheu 52 assinaturas e protocolou o requerimento para a instalação no Senado de uma CPI para investigar as denúncias de corrupção na Confederação Brasileira de Futebol. 

A apuração vai desde a presidência de Ricardo Teixeira, passando por José Maria Marin (preso ontem na Suíça junto com outros 13 dirigentes da FIFA), até a atual gestão de Marco Polo del Nero. Romário vibrou: "Até que enfim! 
O FBI e a polícia suíça fizeram as prisões mais rápido do que eu pensava. Se dependesse da nossa polícia essas prisões não aconteceriam. Com a CPI a caixa preta da CBF vai ser aberta para moralizar definitivamente nosso futebol".

O craque Romário já antecipou que pedirá ao senador Renan Calheiros para ser o relator da CPI. Romário chutou na cabeça? " Eu vou ficar mais feliz ainda quando o Ricardo Teixeira for preso, o que deve acontecer em breve. Todos se achavam intocáveis na CBF , diziam que era uma entidade privada e não tinham que ser investigados. 

Mas como dizem meus amigos, a casa vai cair para eles". A CBF, em nota oficial defensiva, aposta no contrário: "Diante dos graves acontecimentos ocorridos nesta manhã em Zurique, envolvendo dirigentes e empresários ligados ao futebol, a CBF vem a público declarar que apoia integralmente toda e qualquer investigação. A entidade aguardará, de forma responsável, sua conclusão, sem qualquer julgamento que previamente condene ou inocente. A nova gestão da CBF, iniciada no dia 16 de abril de 2015, reafirma seu compromisso com a verdade e a transparência."

Romário aposta que o esquema de corrupção que está sendo investigado pelo FBI vai respingar na Copa de 2014 no Brasil. Mas, por enquanto, o Tio Sam não entra no jogo do Baixinho. 
Richard Weber, chefe da Receita Federal (IRS) revelou ontem que só foram confirmadas provas de corrupção na escolha da África do Sul para a Copa de 2010: "É a Copa do Mundo da fraude. Estamos dando um cartão vermelho para a Fifa".

Como bem lembrou o "peixe" Romário, o bicho vai pegar...

Tudo em paz


28 de maio de 2015
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.

RELATÓRIO DOS PROCURADORES DOS EUA DETALHA TRÊS CASOS DE CORRUPÇÃO ENVOLVENDO O BRASIL

Contratos envolvendo Copa América, Copa do Brasil e Nike tiveram propinas pagas, segundo investigação


José Maria Marin é um dos presos pela polícia em Zurique
Marcelo Carnaval / Agência O Globo


As acusações do FBI e dos procuradores americanos contra os 14 indiciados - incluindo José Maria Marin e os outros dirigentes da Fifa presos - são de corrupção e lavagem de dinheiro na venda de direitos de comercialização de competições organizadas pela Fifa, pela CBF e no contrato de patrocínio da CBF com a Nike, num total identificado, por enquanto de US$ 150 milhões em propinas.

Em Nova York, na entrevista para explicar o caso nesta quarta-feira, os representantes do FBI e os procuradores americanos a todo momento afirmavam que alguns dos crimes foram praticados em solo americano e que os acusados usaram o sistema financeiro dos EUA para lavar dinheiro e pagar propinas.

O futebol está crescendo no país, com o público aumentando nos jogos da liga americana e há a convicção entre os investigadores que os acusados pretendiam explorar esse mercado, o que aumentou o interesse americano em investigar o caso.

— Quem encosta nas nossas margens (dos EUA) com empreendimentos de corrupção ou uso nosso sistema financeiro será considerado responsável por essa corrupção. Ninguém está acima ou abaixo da lei. Está só no começo — afirmou o diretor do FBI James Comey.

O QUE DIZ O RELATÓRIO

Assinado pela procuradora-geral dos Estados Unidos, Loretta Lynch, o relatório de 61 páginas do Departamento de Justiça tem como base os depoimentos de J. Hawilla, dono da agência de marketing Traffic, que confessou à Justiça o pagamento de suborno a dirigentes e aceitou devolver grande parte do dinheiro e colaborar em troca de redução de pena. Hawilla é a peça-chave do esquema, e os outros envolvidos são identificados apenas como “co-colaboradores”, mas, pelo cruzamento de informações, é possível identificar alguns.

O relatório detalha quatro casos de corrupção, três deles envolvendo o futebol brasileiro: a venda de direitos da Copa América, da Copa do Brasil e o contrato de patrocínio entre CBF e Nike, além da venda de direitos da Copa de Ouro da Concacaf.

O primeiro deles é o que tem os maiores valores de suborno. De acordo com o histórico relatado pelos procuradores americanos, ao comprar os direitos de exploração comercial das oito edições da Copa América entre 1993 e 2011, através da Traffic, Hawilla concordou em pagar propina a um dirigente da Conmebol, identificado como “co-colaborador 1". À época, a entidade era dirigida pelo paraguaio Nicolás Leóz, um dos que tiveram a prisão pedida e está foragido em seu país.

Com a renovação do contrato, em 2013, para as Copa Américas de 2015, 2016 (edição do centenário), 2019 e 2023, agora para a Datisa, empresa também de Hawilla, o valor das propinas explodiu e o número de destinatários aumentou.

O suborno total foi fixado em US$ 110 milhões (R$ 346 milhões pela cotação de ontem), divididos em quatro parcelas de US$ 20 milhões e uma de US$ 30 milhões. Para cada parcela de US$ 20 milhões, o presidente da Conmebol, o da CBF e o da AFA (Associação de Futebol da Argentina) recebiam, cada um, US$ 3 milhões. Segundo os americanos, José Maria Marin, até abril presidente da CBF, já recebeu duas parcelas, totalizando US$ 6 milhões (R$ 19 milhões).

RICARDO TEIXEIRA E KLEBER LEITE ENVOLVIDOS

A Copa do Brasil é outra competição cuja venda dos direitos comerciais envolveu suborno. A Traffic de Hawilla era a detentora para o período entre 2009 e 2014. Em 2011, diz o relatório, uma empresa concorrente de Hawilla entrou na disputa para comprar junto à CBF estes direitos, oferecendo R$ 128 milhões pelo período de 2015 a 2022. O texto conta que a Traffic e a concorrente entraram em acordo para comprar juntas os direitos e dividir os lucros. Para formar o “pool”, a empresa concorrente recebeu de Hawilla R$ 12 milhões.

Embora os americanos não identifiquem qual era esta empresa, a imprensa brasileira noticiou, à época, que se tratava da Klefer, pertencente ao ex-presidente do Flamengo Kleber Leite, identificado no relatório apenas como “co-colaborador 14”.

Segundo relato dos procuradores, após o acordo com a Traffic, Kleber Leite diz a Hawilla que é preciso fazer pagamentos ao “co-colaborador 13”, que na verdade é Ricardo Teixeira. O relatório cita ainda que, após a saída de Teixeira da entidade, Kleber Leite diz a Hawilla que é preciso fazer pagamentos também a dois novos diretores da CBF. Os valores eram de R$ 2 milhões anuais.

PF NA KLEFER E RESPOSTA DE KLEBER LEITE

Na noite de quarta-feira, a pedido da Justiça dos Estados Unidos e com autorização do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a Polícia Federal realizou buscas na sede da Klefer, a empresa de Kleber Leite, no Rio. Em nota, Kleber Leite disse que forneceu todos os documentos pedidos, que a Klefer jamais pagou propina para obter contratos e atacou o ex-amigo Hawilla, ao insinuar que, por causa de uma doença por que passou, ele teve “a cabeça, o caráter e o sentimento de gratidão” afetados.

O outro caso de suborno citado envolve a assinatura do contrato de patrocínio da Nike à CBF, assinado em 1996 com duração de dez anos e no valor de US$ 160 milhões. Mais uma vez, Hawilla aparece como peça-chave, agora no papel de agente de marketing da CBF como intermediário do negócio. O relatório conta que Hawilla concordou em repassar metade da sua comissão de agenciamento ao “co-colaborador 13”, que assinou o contrato com a Nike pela CBF.

Como mostra o relatório da CPI da CBF no Senado, em 2000, foi Ricardo Teixeira, então presidente, quem assinou o contrato. Não foram informados os valores da comissão de Hawilla. Em nota, a Nike diz que “repudia toda forma de manipulação ou propina” e já está ajudando as autoridades.



28 de maio de 2015
in resistência democrática

EUA: O SEGREDO DE QUANTÂNAMO




Acreditamos, porventura, estar informados sobre o que acontece em Guantânamo e surpreende-nos que o presidente Obama não feche esse centro de tortura. Mas, estamos equivocados. O público não conhece a verdadeira finalidade desse dispositivo e o que o torna indispensável para a atual administração.

Cuidado! Se se quer continuar pensando que existem valores comuns entre nós e os Estados Unidos, e que se deve continuar a ser aliado de Washington, é melhor, então, abster-se de ler este artigo. 

 
Prisioneiro à saída de uma sessão de “condicionamento” em Guantânamo.

Todos recordamos as imagens de tortura que circularam na Internet

Nos primeiros episódios, o herói intimida os suspeitos para extrair informações. Nos episódios seguintes, todos os personagens suspeitam uns dos outros, e torturam-se entre si com mais ou menos escrúpulos, e cada vez mais seguros que estão cumprindo com o seu dever. No imaginário colectivo séculos de humanismo foram assim varridos e impôs-se uma nova barbárie. Isto permitiu que o cronista do Washington Post, Charles Krauthammer (que também é um psiquiatra) apresentasse o uso da tortura como um “imperativo moral” (sic), nestes tempos difíceis da guerra contra o terrorismo.

A investigação do senador suíço Dick Marty confirmou ao Conselho da Europa que a CIA sequestrou milhares de pessoas, através do mundo, das quais várias dezenas —possívelmente centenas— tinham sido sequestradas no território da União Europeia. Veio então a avalanche de evidências sobre os crimes perpetrados nas prisões de Guantanamo (na região do Caribe) e de Bagram (Afeganistão). Perfeitamente condicionada, a opinião pública nos Estados-Membros da Otan aceitou a explicação dada, e que tão bem se enquadrava com as intrigas novelescas servidas pela televisão: para poder salvar vidas inocentes Washington estava a recorrendo a métodos ilegais, sequestrando suspeitos e fazendo-os falar através de métodos que a moral rejeitaria, mas que a eficácia havia tornado necessários.

Foi a partir dessa narrativa simplista que o candidato Barack Obama se levantou contra a cessante administração Bush. Converteu a proibição da tortura e o fecho das prisões secretas em medidas-chave do seu mandato. Após a sua eleição, durante o período de transição, rodeou-se de juristas de altíssimo nível a quem encomendou a elaboração de uma estratégia para encerrar o sinistro episódio. Já instalado na Casa Branca, dedicou os seus primeiros decretos presidenciais ao cumprimento de seus compromissos nesta matéria. Esta disposição conquistou a opinião pública internacional, despertou uma imensa simpatia pelo novo presidente, e melhorou a imagem dos EUA perante o mundo.

O único problema é que, ao fim de um ano após a eleição de Barack Obama, se resolveram algumas centenas de casos individuais, mas, basicamente, nada mudou. O centro de detenção criado pelos EUA na sua base militar de Guantanamo, ainda está lá, e não há esperança de encerramento iminente. As associações de direitos humanos assinalam, além disso, que os actos de violência contra os detidos se agravaram. Quando questionado sobre o tema, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden afirmou que, quanto mais avançava no assunto de Guantanamo, mais ia descobrindo as coisas que até então ignorava,. E, em seguida, avisou os repórteres, enigmaticamente, que não devia abrir a caixa de Pandora. Por seu lado, o consultor jurídico da Casa Branca, Greg Craig, quis apresentar a sua renuncia, não porque achasse que falhara na sua missão de fechar o centro, mas sim porque acha que, neste momento, lhe foi confiada uma missão impossível.

Por que é que o presidente dos Estados Unidos não consegue ser obedecido no seu próprio país? Se já tudo foi dito sobre os abusos da era Bush porque é que se fala, agora, de uma caixa de Pandora, e que é o que causa tanto temor? O problema é que o sistema é na verdade muito maior. Não se trata apenas de uns quantos sequestros e uma prisão. E o mais importante, é que o seu objectivo é radicalmente diferente do que a CIA e o Pentágono quiseram fazer crer ao público. Antes de empreender esta descida aos infernos, é necessário aclarar algumas coisas.

 

O secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, participou nas reuniões do Grupo dos Seis, que foi o responsável por escolher as formas de tortura a serem aplicados pelos militares dos EUA. Aqui vemos Rumsfeld durante visita à Prisão de Abu Ghraib (Iraque).

Contra-insurgência


O que o exército dos EU fez em Abu Ghraib não tinha nada a ver, pelo menos numa primeira fase, com as experiências que estão sendo conduzidas pela US Navy [Marinha dos Estados Unidos] em Guantanamo, e nas suas outras prisões secretas.

Tratava-se então, simplesmente, do que fazem todos os exércitos do mundo, quando se transformam em policias e se enfrentam com uma população hostil. Tratam de dominá-la através do terror. Neste caso, as forças da coligação (coalizão-Br) reproduziram [no Iraque] os crimes cometidos pelos franceses durante a chamada batalha de Argel, contra os argelinos, a quem, além do mais, os franceses continuavam a chamar «compatriotas». O Pentágono recorreu ao general francês, aposentado, Paul Aussaresses, especialista em «contra-insurgência», para reuniões com oficiais superiores. Durante a sua longa carreira Aussaresses assessorou os EU, onde quer que Washington tenha lançado «conflitos de baixa intensidade» (LIC), principalmente no Sudeste asiático e na América Latina.

No fim da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos instalaram dois centros de treino nessas técnicas, a Political Warfare Cadres Academy (Academia de quadros para a guerra política -ndT) (em Taiwan) e a School of Americas [conhecida em espanhol como a Escola das Américas] (no Panamá). Em ambas as instalações davam-se cursos de tortura, destinados aos encarregados pela repressão no seio das ditaduras asiáticos e latino-americanos.

Durante os anos 1960 e 70, a coordenação desse dispositivo dava-se através da World Anti-Communist League (Liga Anti-Comunista Mundial), de que eram membros os Chefes de Estado interessados [2]. Essa política alcançou considerável dimensão durante as operações Phoenix, no Vietname, («neutralização» de 80.000 indivíduos suspeitos de ser membros do Vietcong) [3], e Condor na América Latina, («neutralização» de opositores políticos à escala continental) [4]. O esquema de articulação entre as operações de limpeza, nas áreas insurgentes, e os esquadrões da morte foram aplicadas da mesma maneira no Iraque, especialmente durante operação Iron Hammer (Martelo de Ferro -ndT) [5].

A única novidade, no caso do Iraque, foi a distribuição entre os soldados norte- americanos de um clássico da literatura colonial, The Arab Mind (A mentalidade Árabe -ndT), do antropólogo Raphael Patai, com um prefácio do Coronel Norvell B. De Atkine, diretor da John F. Kennedy Special Warfare School (Escola de Guerra Especial John F. Kenedy-ndT), nova denominação da Escola das Américas desde que esta se mudou para Fort Bragg (na Carolina do Norte) [6]. Este livro que apresenta, em tom doutoral, toda uma série de estúpidos preconceitos sobre os «árabes», em geral, contém um célebre capítulo sobre os tabus sexuais utilizado na concepção das torturas aplicadas em Abu Ghraib.

As torturas perpetradas no Iraque não são simples casos isolados, como afirmou o governo Bush, mas fazem parte de um todo de uma estratégia de contra-insurgência. A única maneira de lhe pôr fim não é a condenação moral, mas sim a solução da situação política. No entanto Barack Obama continua a atrasar a retirada das forças estrangeiras que ocupam o Iraque.



 

Autor de sucesso, inventor da psicologia positiva, professor na Universidade da Pensilvânia e antigo presidente da American Psychological Association (Associação de Psicologia Americana -ndT), Martin Seligman supervisionou as experiências de tortura aplicadas aos prisioneiros em Guantanamo.
As experiências do professor Biderman

Foi com uma perspectiva muito diferente que o professor Albert D. Biderman, um psiquiatra da Força Aérea dos Estados Unidos, estudou, para a Rand Corporation, o condicionamento mental dos prisioneiros de guerra americanos na Coreia do Norte.

Muito antes de Mao e do comunismo, os chineses tinham desenvolvido sofisticados métodos destinados a quebrar a vontade de um prisioneiro e a incutir-lhe o desejo de fazer confissões. O seu uso durante a Guerra da Coreia deu alguns resultados. Prisioneiros de guerra americanos confessavam, com toda a convicção, à imprensa, crimes que, talvez, não tivessem cometido. Biderman apresentou as suas primeiras observações durante uma audiência no Senado, em 19 de junho de 1956, e, mais tarde, no ano seguinte, perante a Academia de Medicina de Nova Iorque (ver documentos disponíveis, “on-line”, através do “link” no final deste artigo). Biderman definiu 5 estados pelos quais passam os «sujeitos».

1. No início o preso nega-se a cooperar e fecha-se em silêncio.

2. Através de uma mistura de brutalidade e gentileza é possível fazê-lo passar a um segundo estado, em que ele é induzido a defender-se contra as acusações apresentadas contra si.

3. Posteriormente o prisioneiro começa a cooperar. Continua a proclamar a sua inocência, mas tenta agradar aos seus interrogadores reconhecendo que talvez tenha cometido algum erro involuntariamente, por acidente ou por descuido.

4. Ao transitar pela quarta fase o preso já está, completamente, degradado aos seus próprios olhos. Continua a negar as acusações de que é alvo, mas confessa a sua natureza criminosa.

5. No fim do processo, o prisioneiro admite ser o autor dos factos que se lhe imputam. Inclusive inventa detalhes, complementares, para se acusar a si mesmo e reclama a sua própria punição.

Biderman também examinou todas as técnicas usadas pelos torturadores chineses afim de manipular os prisioneiros: isolamento, monopolização da percepção sensorial, fadiga, ameaças, recompensas, demonstrações do poder dos guardas, degradação das condições de vida, formas de subjugação. A violência física tem um carácter secundário, a violência psicológica torna-se total e assume carácter permanente.

Nos trabalhos de Biderman a «lavagem cerebral» adquiriu uma dimensão mítica. Os militares dos EU começaram a temer que o inimigo pudesse usar contra os Estados Unidos os próprios soldados norte-americanos, já condicionados para dizer qualquer coisa e também, talvez, para fazer qualquer coisa. Eles conceberam, então, um programa de treino destinado aos pilotos de caça americanos, para garantir que se tornassem refractários a essa forma de tortura, e evitar que o inimigo possa “lavar- lhes o cérebro» se eles caírem prisioneiros.

Esta forma de treino (treinamento-Br) denomina-se SERE, um acrónimo para Survival, Evasion, Resistence and Escape(Sobrevivência, Evasão, Resistência e Fuga- ndT). No principio, este curso era ministrado na Escola das Américas mas, actualmente, foi estendido a outras categorias de pessoal militar e é lecionado em várias bases. Este tipo de treino foi implementado, além disso, em cada um dos exércitos que fazem parte da Otan.

A decisão do governo Bush, após a invasão do Afeganistão, foi a de usar estas técnicas para conseguir induzir os prisioneiros a fazer confissões que demonstrariam, à posteriori, o envolvimento do Afeganistão nos atentados do 11 de Setembro, validando assim a versão oficial sobre os atentados.

Iniciaram a construção de novas instalações na base naval dos EU em Guantanamo, e aí começaram a realizar experiências. A teoria de Albert Biderman completou-se com o contributo de um psicólogo civil, o professor Martin Seligman, conhecida personalidade que foi presidente da Associação Americana de Psicologia.

Seligman demonstrou que a teoria de Ivan Pavlov sobre os reflexos condicionados tinha um limite. Mete-se um cão numa jaula cujo piso está dividido em duas partes. De forma aleatória, enviam-se descargas eléctricas para um ou outro lado do solo. O animal salta de um lado para outro para se proteger. Até aqui não há nada de surpreendente. Posteriormente, os dois lados da jaula são electrificados.

O animal dá-se conta que nada pode fazer para escapar dos choques eléctricos, e que os seus esforços são inúteis. E acaba então por render-se. Deita-se no chão e cai num estado de indiferença que lhe permite suportar, passivamente, o sofrimento. Abre-se então a gaiola e … surpresa! O animal não foge. No estado psicológico em que se encontra, agora, nem sequer é capaz de fazer oposição. Permanece deitado, no chão eletrificado, suportando o sofrimento.

A Marinha de Guerra dos EU formou uma equipe médica de choque. Esta enviou o professor Seligman a Guantanamo. Conhecido pelos seus trabalhos sobre a depressão nervosa, Seligman é uma vedeta. Os seus livros sobre optimismo e a auto-confiança são best-sellers mundiais. E, foi ele que supervisionou as experiências com pessoas como se fossem meras cobaias. Alguns prisioneiros, ao ser submetidos a terríveis torturas, acabam afundando espontaneamente num estado psíquico que lhes permite suportar a dor, e que também os priva de toda a capacidade de resistência. Ao manipulá-los dessa forma eles são, rapidamente, levados para a fase 3 do processo Biderman.

Baseando-se também nos trabalhos de Biderman, os torturadores norte-americanos, sob a orientação do professor Martin Seligman, realizaram experiências com cada uma das técnicas coercivas e aperfeiçoaram-nas. Para isso, foi elaborado um protocolo científico baseado na medição das flutuações hormonais. Instalaram um laboratório médico na base de Guantanamo e recolhem amostras de saliva e sangue dos «cobaias», a intervalos regulares, para avaliar as suas reações. Os torturadores foram refinando os métodos de tortura. Por exemplo, no programa SERE monopolizava-se a percepção sensorial impedindo, mediante uma música stressante (estressante-B), que o prisioneiro pudesse dormir.

Em Guantanamo obtiveram-se resultados muito superiores com os gritos de bebés, reproduzidos durante dias seguidos. Anteriormente o poder dos guardas demonstrava- se por espancamento dos presos. Na base naval dos EUA em Guantanamo foi criada a Immediate Reaction Force (Força de Reacção Imediata-ndT). Trata-se de um grupo encarregado de castigar os prisioneiros. Quando esta unidade entra em acção os seus membros vestem couraças de protecção, ao estilo Robocop. Tiram o prisioneiro da sua jaula e metem-no numa cela de paredes acolchoadas, e recobertas com madeira compensada.

Eles projectam a «cobaia» contra as paredes, como se fossem quebrar-lhe os ossos, mas os estofos amortecem parcialmente os golpes, de forma que o prisioneiro fica tonto sem que se produzam fraturas.

Mas o principal «avanço» foi conseguido com o suplício da banheira [7]. Antigamente, a Santa Inquisição mergulhava a cabeça do prisioneiro num tanque cheio de água e tirava-a para fora, precisamente, antes que morresse afogado. A sensação de morte iminente provoca uma angústia extrema. Mas tratava-se de um processo primitivo e os acidentes eram frequentes. Actualmente, nem sequer é precisa uma tina cheia de água, basta deitar o prisioneiro numa banheira vazia. Simula-se então o afogamento vertendo água sobre sua cabeça, com a possibilidade de parar de imediato. Assim, agora, há menos acidentes.

Cada «sessão» é codificada para determinar os limites suportáveis. Vários assistentes medem a quantidade de água utilizada, o momento e a duração de afogamento. Quando isso ocorre, os assistentes recolhem o vómito, pesam e analisam-no para avaliar o gasto de energia e o cansaço provocado. Em resumo, como dizia o vice-diretor da CIA perante uma comissão do Congresso dos Estados Unidos: «Isto não tem nada a ver com o que fazia a Inquisição, com excepção da água» (sic).

As experiências dos médicos norte-americanos não foram feitas em segredo, como as do doutor Josef Mengele em Auschwitz, mas sim sob o controle directo e exclusivo da Casa Branca.

Era tudo relatado a um grupo encarregado de tomar as decisões, grupo que era formado por seis pessoas: Dick Cheney, Condoleezza Rice, Donald Rumsfeld, Colin Powell, John Ashcroft, e George Tenet. Este último atestou que havia participado numa dezena de reuniões deste grupo.

Mas o resultado destas experiências não foi satisfatório. Poucos «cobaias» ficaram receptivos. Conseguiu-se impor-lhes o que deviam confessar, mas o seu estado manteve-se instável e não foi possível apresentá-los em público, ante uma contraparte.

O caso mais conhecido é o do pseudo Khalil Sheikh Mohammed. Tratava-se de um indivíduo preso no Paquistão e acusado de ser um islamita koweitiano, apesar de ser evidente que este não era a referida pessoa.

Depois de um longo período de tortura, durante a qual ele foi submetido 183 vezes ao suplício da banheira, só durante o mês de março de 2003, o indivíduo disse ter organizado 31 diferentes ataques, através de todo o mundo, desde o atentado em 1993 em Nova York, contra o WTC, até aos do 11 de Setembro de 2001, passando pela explosão de uma bomba que destruiu um clube nocturno em Bali, e a decapitação do jornalista americano Daniel Pearl. O pseudo Sheikh Mohammed manteve as suas confissões perante uma comissão militar, mas advogados e juízes militares não puderam questioná-lo em público, porque se temia que, fora da sua jaula, se retractasse do que havia confessado.

Para esconder as actividades secretas dos médicos em Guantanamo, a Marinha de Guerra dos EU organizou viagens de imprensa a Guantanamo, para jornalistas amigos. O ensaísta francês Bernard Henry Levy prestou-se, assim, a desempenhar o papel de testemunha moral visitando o que quiseram mostrar-lhe. No seu livro American Vertigo, Bernard Henry Levy garante que o centro de detenção da base naval americana em Guantanamo não difere das demais prisões norte-americanas, e que os testemunhos sobre as torturas «foram muito inflacionados» (sic) [8] .

 

Uma das prisões flutuantes da Marinha dos EUA. Trata-se do navio USS Ashland. O porão achatado inferior foi modificado para receber jaulas com prisioneiros e dispô-las em vários níveis.

As prisões flutuantes da US Navy

Em suma, a administração Bush considerou que o número de indivíduos que poderiam ser «condicionados», em extremo, para crer que tinham cometido os atentados de 11 de setembro, era muito pequeno. Concluíram, então, que uma grande quantidade de prisioneiros deviam ser postos à prova para se seleccionar os mais receptivos.

Tendo em conta a controvérsia que se desenvolveu em torno de Guantanamo, e para garantir que fosse impossível qualquer ação legal contra, a Marinha de Guerra dos Estados Unidos criou outras prisões secretas e colocou-as, fora de qualquer jurisdição, em águas internacionais.

17 barcos de fundo plano, como os destinados ao desembarque de tropas, foram convertidos em prisões flutuantes com jaulas como as de Guantanamo. Três dessas embarcações foram identificados pela Associação britânica Reprieve. Trata-se do USS Ashland, do USS Bataan e do USS Peleliu. Se forem somadas todas as pessoas que foram feitas prisioneiras, em diferentes zonas de conflito, ou sequestradas em qualquer lugar do mundo, e transferidas para esse conjunto de prisões durante os últimos 8 anos, parece que um total de 80 mil pessoas devem ter passado por esse sistema, entre as quais pelo menos um milhar poderão ter sido levadas até as últimas fases do processo Biderman.

A partir de tudo o que foi mencionado, o problema da administração Obama resume- se da seguinte forma: não é possível fechar Guantanamo sem que se saiba o que ali se fez. E, não será possível reconhecer o que ali se fez, sem admitir que todas as confissões são falsas e que foram inculcadas, de forma deliberada, através de tortura, com as consequências políticas que isso implica.

No final da II Guerra Mundial, o tribunal militar de Nuremberga funcionou em 12 juízos. Um deles foi dedicado a 23 médicos nazis. Sete de entre eles foram absolvidos, 9 foram condenados a penas de prisão e sete outros foram condenados à morte. Desde então há um Código de Ética que rege a medicina a nível mundial. Esse Código proíbe, precisamente, o que os médicos norte-americanos fizeram em Guantanamo, e nas outras prisões secretas.


Leia a resposta do professor Martin Seligman.

Thierry Meyssan

Tradução Alva

Fonte: Oriente Mídia

28 de maio de 2015