"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

VALORES PARA MUDANÇAS



O documento que o PSDB lança hoje, como ponto de partida para a elaboração do programa de governo que apresentará à sociedade no começo do próximo ano para lastrear a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência da República, parte do princípio de que há um sentimento de inquietação e frustração comum a todos. Há um sonho e um desejo de mudança comuns a muitos brasileiros .

O PSDB acredita que, ao contrário de 2010, quando o sentimento predominante no país era o de continuidade, hoje há uma vontade de mudança que permite vislumbrar uma possibilidade maior de vitória para a oposição. Por isso, Aécio Neves vem dizendo que quem chegar ao segundo turno contra a presidente Dilma tem grande chance de ganhar a eleição presidencial. Os movimentos de aproximação com o governador Eduardo Campos, o outro candidato oposicionista bem posicionado nas pesquisas, têm o objetivo principal de criar ambiente de união entre as oposições, que nunca houve nas eleições anteriores em que o PT venceu, sempre no segundo turno, mas deixando um patrimônio eleitoral considerável para a oposição, entre 40% e 43% dos votos, fosse candidato Serra ou Alckmin.

Considerando que o PSDB é um partido mais abrangente do que o PSB, com mais tradição de oposição, Aécio acredita que será ele o candidato a estar no segundo turno e pretende agregar ao eleitorado oposicionista os eleitores que, não sendo cativos do PT, acabam votando no candidato petista por falta de opções.

Com o documento que apresentará hoje, o PSDB pretende começar a discutir os valores em que se fundamenta a candidatura de Aécio, valores que vêm sendo aviltados no país nos últimos anos . A crítica a um ambiente econômico fechado em ideologias tem como objeto a intervenção estatal e propõe um ambiente econômico estável, competitivo e sustentável, (...) livre de dogmas do passado que não funcionam mais .

Para evitar a acusação de ser liberal, ou neoliberal, o documento dos tucanos defende uma visão social libertadora, que defende a atuação do Estado na proteção e na garantia dos direitos de cada cidadão, acredita na força transformadora de cada pessoa e na obrigação dos governos de criar condições para que ela floresça . A definição do papel do Estado de assegurar melhor ambiente para o investimento e o desenvolvimento e garantia de igualdade de oportunidades é clara, para garantir a confiança na sociedade que construímos, no ambiente em que vivemos e produzimos .

Para restabelecer a confiança da sociedade no Estado, o PSDB anuncia seu compromisso com o combate intransigente à corrupção, com a democracia, com a restauração da ética, com o respeito às instituições, com a recuperação da credibilidade perdida e com a construção de um ambiente econômico adequado para o desenvolvimento do país .

A eficiência do Estado a serviço dos cidadãos é um compromisso do documento que tem a ver com as manifestações populares de junho, reconhecidas como expressões legítimas dos direitos dos cidadãos . O poder público, dirá o documento, deve estar integralmente a serviço de todos os brasileiros, por meio de ações eficientes em segurança, transporte público, saúde e, em especial, educação.

A defesa da gestão pública eficiente, uma das principais bandeiras da candidatura tucana em 2014, está assumida no documento, que diz que só um Estado eficiente, justo e transparente é capaz de perseguir estes objetivos, devolvendo em forma de melhores serviços o que os cidadãos recolhem em tributos .

Ao falar da prosperidade, um dos valores básicos, juntamente com confiança e cidadania, o documento do PSDB dá sua definição sobre a política de desenvolvimento que pretende adotar: (...) o bem-estar das famílias brasileiras deve ser o principal objetivo de uma política de desenvolvimento .

O documento define uma visão social com objetivo de resgatar a enorme dívida social que o país ainda tem com milhões de cidadãos e garantir às novas gerações as condições para viver num Brasil mais justo, democrático e desenvolvido, onde riquezas que pertencem a todos estejam a serviço de todos .

E não se esquece de que é preciso organizar um país em que o conhecimento, a renda e as oportunidades sejam distribuídos com justiça , ao mesmo tempo uma crítica ao modelo atual e um compromisso de futuro.
17 de dezembro de 2013
Merval Pereira, O Globo

O CAIXA DO STF

O STF criou um caixa 2 de beneficiários --ministros, servidores e dependentes não contabilizados

Ainda que os ministros Joaquim Barbosa e Rosa Weber já tenham feito a correção, não basta uma explicação insatisfatória para anular a gravidade do aumento fictício de beneficiários do plano de saúde do Supremo Tribunal Federal, para receber maiores verbas federais.

O número de beneficiários aumentado em cerca de 50% resultou no aumento das verbas recebidas pelo STF, ao menos nos últimos três anos, também em cerca de 50%. Ou em torno de R$ 15 milhões anuais, que deveriam ficar apenas entre R$ 9,4 e R$ 10,7 milhões.

A explicação dada pelo STF ao repórter Vinicius Sassine, que publicou os valores no "Globo", é de que o número de beneficiários baseou-se em "expectativas futuras" de casamentos, nascimentos e outros dependentes, além de nomeações. Mas aumento desse total de pessoas em 50% a cada 12 meses, ano após ano?

Sem duvidar do prestígio de que a heterossexualidade ainda desfrute no STF, que assim seria um bastião entre os derradeiros, por isso mesmo a criação fictícia de maridos e mulheres, filhos e enteados, até de sogras, adquire aspecto fraudulento com o ganho para os servidores contribuintes do plano: os 50% de aumento indevido das verbas federais diminuíram os ônus dos ministros e servidores do STF em relação ao déficit declarado do STF-Med. Fosse evitando-lhes contribuição maior, fosse reprimindo os gastos de assistência.

A verba orçamentária era proporcional ao número indicado de beneficiários. O STF criou, portanto, um caixa dois de beneficiários. Como diria Delúbio Soares, são ministros, servidores e dependentes não contabilizados.

PARA PIOR

Partidos com posições contraditórias em seus apoios estaduais, aliando-se a tal partido em um Estado e em outro o combatendo, tornou-se comum na bagunça política brasileira. O que fazem Marina Silva e Eduardo Campos é diferente. Vai além. Ambos previvem que, em vários estados, um pedaço do seu PSB estará brigando com o outro, cada qual apoiando um candidato a governador contrário ao do outro.

Eduardo Campos, a rigor, não criou nem tem como evitar a independência do grupo de Marina Silva no PSB, por ela proclamada, e pronto. Mas, para quem fala em "fazer mais" e em "nova maneira de fazer política", poderiam ao menos não piorar o que já ruim.

OMISSÃO

O Chile estreou sua inovação eleitoral, com a não obrigatoriedade do voto. O que muitos propõem aqui, dando-se agora por apoiados em pesquisa do Ibope indicando 54% de disposições de ir às urnas mesmo sem obrigação. No Chile também houve indicações nesse sentido. E a abstenção elevou-se a 53%.

A legitimidade da vitória de Michelle Bachelet está salva por sua grande vantagem sobre a adversária Evelyn Matthei (que som apropriado, o desse sobrenome, para a filha de um elevado militar de Pinochet). Mas a tendência à abstenção alta onde a votação é voluntária, veja-se também os Estados Unidos, contém sempre um risco de problemas institucionais, quando os totais dos candidatos são próximos e a baixa presença do eleitorado põe em dúvida a sua representatividade. O que deu certo no Chile não foi a dispensa do voto obrigatório.

 
17 de dezembro de 2013
Jânio de Freitas, Folha de SP

EU E FRANK SINATRA

Semana passada foi meu aniversário. E descobri que Frank Sinatra nasceu no mesmo dia que eu, 12 de dezembro, aniversário também de homens ilustres como Ludwig Van Beethoven, do escritor Gustave Flaubert e do meu amigo e rival "Bagrinho", campeão de "embaixadinhas" na praia. Quando eu nasci, o Frank Sinatra estava estreando no Paramount Theatre em Nova York, com os brotinhos histéricos querendo comê-lo vivo, entre lágrimas de paixão.

Ele faria 98 anos. Quando fui morar nos USA, numa cidadezinha da Flórida, Sinatra moldava minha personalidade adolescente. Nessa época, ele se recuperava do alucinado casamento com a deslumbrante Ava Gardner, e estava lançando seus discos mais 'swinging', com orquestrações do grande Nelson Riddle para a Capitol.

Eu já era seu fã desde que ele se separou da Ava Gardner. Logo depois, ela veio ao Rio e quis 'dar' para um cantor da Rádio Nacional que, apavorado, brochou e ela quebrou o quarto todo do hotel. Naquele tempo, as estrelas vinham ao Brasil quebrar hotéis. Orson Welles quebrou o Copa, Ava quebrou o Glória e nós babávamos de orgulho: "Fulano veio aqui e arrebentou tudo!", exultávamos, como bons colonizados.

"Eu não brocharia!", bradou de fronte alta o mestre Bené, o pipoqueiro, meu professor de sexo. E arrematou em português castiço: "O que me dói é sabê-las mal comidas!".

Pois bem, quando eu chego aos USA, eu era o rapaz perfeito para 'não fazer' sucesso na América. Magro, lendo poesia, não combinava com aqueles delinquentes juvenis que estavam na moda, com cabelos à Elvis, jaquetas de couro, facas de mola ('switch-blades'), que eles usavam no doce esporte das porradas. Eu vi que precisava arranjar uma personalidade. E foi o Frank. Sua inesquecível briga com Ernest Borgnine em A Um Passo da Eternidade, quando o magro soldadinho arrebenta uma cadeira na cabeça do sargentão fortíssimo, me marcou a alma. Passei a ostentar um frio distanciamento, uma falsa fleuma, imitando o jeito do meu ídolo. Fascinava-me a tranquilidade que ele emprestava às suas personagens no cinema. Lembro-me de seu olhar calmo, puro, azul, em Young at Heart, um olhar de coragem e desencanto, com uma interpretação sóbria que fugia dos trejeitos neuróticos do Actor's Studio. Eu não gostava dele em papéis mais trêfegos, como em On the Town. Eu o queria triste, como eu, desolado, com a capa nos ombros, gravata aberta, cigarro entre os dedos. Com os delinquentes juvenis que me cercavam na 'soda fountain' isso funcionou razoavelmente, pois os garotões me achavam um estranho 'nerd' útil, já que eu lhes dava generosa 'cola' em 'spelling', pois soletrava melhor que eles, engasgados nas palavras de raiz latina.

Já com as meninas, meu tipo funcionou menos. Tive três namoradas: Emily, Brenda e Melinda. Elas se impressionavam com meu mistério de estrangeiro, minha aparente frieza de macho vivido, um 'scent' de Humphrey Bogart que eu também soubera acrescentar a meus gestos, o que no Brasil me valeria o apodo de "mascarado", charme comum nos anos 50, descrito por esse termo em desuso, mas muito útil para nomear contemporâneos. Com as meninas, eu fazia um sucesso inicial e logo depois perdia pontos, devido à minha vocação para virgem romântico, que se apaixonava com facilidade. Emily (a ruiva que andava a cavalo) me 'descurtiu', quando eu cantei I Got You Under My Skin em seu ouvido. Melinda, loura aguada com seios enormes sob o 'sweater', perdeu o amor por mim quando me emocionei ao fim de An Affair to Remember, com Cary Grant e Deborah Kerr, no cine Matanzas. A linda Brenda (mais 'pirada', sexy e talvez não mais virgem - como saberei?), simplesmente sumiu com Warren Caputo, italiano forte e mau que tinha um carro 'hot rod' com pneus de trator. E eu me identifiquei com a famosa dor de corno de Sinatra, abandonado por Ava que tinha ido dar para um toureiro na Espanha e quebrar o hotel no Rio, não comida, para nossa vergonha.

Continuei seguindo o Frank Sinatra e fiquei deslumbrado quando estreou o Ocean's Eleven e surgiu o 'Rat Pack' ('a turminha dos ratos'), como eram chamados os alegres 'playboys' de Las Vegas: ele, Dean Martin, Joe Bishop, Sammy Davis e Peter Lawford. Era o máximo, aqueles gozadores de terninho e uísque na mão, sacaneando os americanos caretas dos 60.

Aí, o Frank já perdera aquela aura lírica do início e virara outro tipo de herói - o cínico comedor de: Lauren Bacall, Marilyn, Jill St. John, Kim Novak, Mia e muitas outras. Depois, ele se meteu em negócios com a Máfia. Muitos se desapontaram. Eu, não. Eu queria ser da 'gang' do Lucky Luciano e do Sam Giancana de Chicago, queria ter poder, ser mau com os inimigos e leal aos amigos. (Dizem que, quando o Woody Allen se separou da Mia Farrow, o Sinatra perguntou se ela queria que quebrassem as pernas dele.) Hoje, sei que nunca atingirei o paraíso de participar de uma festinha do 'rat pack' com todas aquelas mulheres boas ('broads') na suíte presidencial do Sands Hotel, em Vegas. Nunca chegarei lá.

Até o dia em que tive - aí sim - uma séria decepção, melhor dizendo, uma ferida narcísica incurável. Foi quando Sinatra preferiu Tom Jobim a mim. Ele conseguira o que eu tanto queria na vida. Chamado a Los Angeles pelo telefone do bar Veloso, Tom privou com ele e apareceu naquelas imagens que me gelaram a alma, dando gargalhadas e tocando violão no estúdio de gravação. Que felicidade naquelas fotos - os dois lindos fazendo música. Tão grande foi minha inveja que, quando Sinatra veio ao Brasil, eu não fui ao Maracanã. Ninguém notou minha ausência, mas eu não fui e vi na televisão, depois, o que eu tinha perdido. Era tarde demais. Nunca mais eu veria Frank Sinatra em carne e osso, cantando The Lady Is a Tramp, como no imortal Pal Joey.

E hoje, só me resta esta vida sem as luzes de Las Vegas. E no meu aniversário pensei: se até o Frank Sinatra morreu, que será de mim?

SÃO PAULO! PROPINETONE DE NATAL

'Bolívia lança panetone fabricado com farinha de folha de coca.' Ueba! É o Pónetone! Ou Panecoca

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! A Ditadura do Panetone! Ninguém aguenta mais panetone. Nem porteiro de prédio aguenta mais panetone! Panetone dá azia! Rarará! E São Paulo acaba de lançar o PROPINETONE! Panetone fabricado com farinha de propina! São Paulo não é mais terra da garoa, é terra da propina!

E eu já disse que o homem mais rico do Brasil é o Pina. Tudo vai pro Pina! E esta: "Bolívia lança panetone fabricado com farinha de folha de coca". Ueba! É o Pónetone! O panetone do helicóptero, o pónetone! Ou Panecoca. Você come um pedaço e dança em cima da mesa e vomita na sogra! Rarará!

E um amigo está em Nova York e disse que só tem brasileiro comprando e tirando foto com o Papai Noel. Que também é brasileiro. Outro brasileiro! Nova York: consumidores brasileiros tiram foto com o Papai Noel brasileiro! É a crise! Rarará!

E eu já comprei o meu presente de Natal para o Fluminense: "Vire a Mesa", da Estrela! E ganhe grátis um tapete gigante! E o cartaz na padaria: "O pão pode ser francês, mas a padaria será sempre Portuguesa". Rarará!

E atenção! O site Kibeloco acaba de revelar as manchetes para 2030. Como será o Brasil em 2030? Política: "Bancada Presidiária é maioria no Congresso". Bancada da Papuda! Cotidiano: "Aviões farão rodízio a partir de segunda-feira". E aí o Haddad cria faixa exclusiva para aviões. Rarará.

Esportes: "Eurico Miranda compra Vasco e Fluminense e faz o VASFLU". Eurico Miranda é aquela almôndega suada! "Brasil vende Acre, Rondônia e parte do Amapá para pagar dívidas da Copa 2014". Eu acho que vai vender Santa Catarina, Goiás e parte da Argentina!

Entretenimento: "Recuperador de virgindade é sucesso entre ex-BBBs". Objeto mais inútil e machista! "Polêmica: nova Globeleza é sueca". Efeito Fernanda Lima na Fifa! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Secretária de saúde de Vargem Grande, Maranhão: Shirlânia das Dores. Deve ser a parteira do Sarney! E adorei este nome: Shirlânia! "Ai, doutora, tô com uma dor na shirlânia". Rarará.

E direto de Viamão, Rio Grande do Sul, o dono da funerária se chama Teco Terra. Liga pra funerária que o Teco enTerra! Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

DIREITO AO LIVRE ACESSO

Imagine querer ir a um lugar e não conseguir. Imagine não ter acesso a um determinado local, porque não há uma única rampa, ponte ou qualquer outro meio. Seria, para dizer o mínimo, frustrante. Agora, imagine se o local que desejássemos acessar fosse um prédio público, como, por exemplo, uma escola, um hospital, um escritório do governo. Pois essa é a realidade que teima em persistir em nosso país, em pleno século XXI, para aqueles que têm algum tipo de deficiência.

Pois bem, é fato incontestável que a grande maioria dos prédios públicos no Brasil não garante acessibilidade a essas pessoas. É fato, ainda, que o Ministério Público e inúmeras instituições voltadas ao atendimento do portador de deficiência travam verdadeiras batalhas contra o Poder Público com o escopo de ver tais barreiras removidas e, com isso, garantir-lhes a cidadania. Ninguém mais quer ser carregado no colo, mas sim ter o cumprimento de seus direitos.

Como de costume, a Administração Pública sempre se valeu do argumento de que o Judiciário não pode determinar como gastar o dinheiro público, sob pena de caracterizar invasão naquilo que se convencionou chamar de separação de poderes. Trata-se, como defendem alguns, de uma questão de “mérito administrativo”, ou seja, o governante tem discricionariedade para eleger suas prioridades e gastar o dinheiro público como bem entender. Como sempre se viu os deficientes nunca fizeram parte dessa preocupação.

O Supremo Tribunal Federal, em decisão proferida recentemente, começa a mudar esse cenário. A partir de louvável voto do ministro Marco Aurélio Mello, a 1ª Turma do STF, por unanimidade, determinou que o Estado de São Paulo adapte o acesso ao prédio onde está localizada uma unidade de ensino, bem assim, promova as modificações necessárias em banheiros e demais dependências a ponto de também garantir sua utilização por pessoas com deficiência.

Parece que o STF apenas reconheceu algo elementar. E foi. O problema é que os tribunais, até então, dificilmente reconheciam que o acesso das pessoas com deficiência aos prédios públicos representa uma garantia inserida na Carta Constitucional e, pasmem, incontáveis são as decisões judiciais ignoradas pela Administração Pública, sob aquele vetusto argumento que acaba de ser rechaçado pelo Supremo, qual seja, o governante tem discricionariedade para eleger suas prioridades e gastar o dinheiro público como bem entender.

A batalha, como se vê, não acabou. Necessário, ainda, que o Poder Judiciário não dê a guerra por encerrada, pois, repita-se, muito provavelmente, diante de um juiz acomodado, a Administração Pública se aproveitará mantendo sua inércia, alijando da verdadeira cidadania as pessoas com deficiência.

Quiçá um dia essa questão será tão elementar que uma decisão como essa, proferida pela mais alta Corte de nosso país, não mais será por nós recebida como louvável, mas como óbvia e mesmo desnecessária.

 
17 de dezembro de 2013
Hugo Leonardo Penna Barbosa, O Globo

SEM CONFIANÇA PARA 2014

Nenhuma autoridade do governo Dilma apresenta explicação convincente para a maior anomalia apresentada hoje pela economia brasileira: o baixo crescimento conjugado com uma inflação elevada e necessidade de juros básicos altos demais, de 10% ao ano.

A conversa que se tem repetido na cúpula econômica é a de que, apesar das críticas, o aumento da atividade produtiva está sendo tolhido pela crise global e que, mal ou bem, o Brasil está crescendo mais do que em 2012 e que, em 2014, provavelmente crescerá mais do que em 2013.

No entanto, a Pesquisa Focus, feita semanalmente pelo Banco Central, adianta que as cerca de 100 instituições consultadas não esperam para 2014 um avanço do PIB superior a 2,0%. Ou seja, 2014 deve começar com a mais baixa expectativa de crescimento dos últimos três anos. Ao final de dezembro de 2011, o mercado projetava avanço do PIB de 3,3% para 2012 (acabou em 1,0%); ao final de 2012, apostava também em 3,3% para 2013 (deve dar algo em torno de 2,2%).

As autoridades do Banco Central, pelo menos, têm um discurso mais sincero. O presidente Alexandre Tombini, por exemplo, adverte para os efeitos produzidos pelo baixo nível de poupança e os documentos do Banco Central, se não falam em baixo crescimento potencial da economia, pelo menos mencionam duas graves limitações: a relativa escassez de mão de obra e o descompasso entre consumo robusto e oferta limitada.

Há mais fatores que vêm travando o crescimento econômico e, ao mesmo tempo, puxando para cima a inflação. Um deles é a alta carga tributária, cuja capacidade de estrago é reconhecida pelo governo, tanto que tentou desonerar vários setores da produção. O outro é a precariedade da infraestrutura brasileira que, com raras exceções, está obsoleta e cara demais, para cuja reversão o governo vem desenvolvendo, um tanto tardiamente, extenso programa de concessões que, no entanto, exigirá um longo processo de maturação.

A expectativa do setor privado para um crescimento medíocre também para 2014 reflete a existência de um elemento negativo que não se viu nos anos anteriores. Trata-se do baixo nível de confiança das empresas na capacidade de o governo reverter o desempenho frustrante da economia.

Em parte, essa deterioração das expectativas se deve às indicações passadas reiteradamente pelo governo de que não pretende fazer nenhuma correção significativa nos rumos da economia ao longo de 2014, porque não quer provocar marolas em ano de eleições.

Esse baixo nível de confiança conjugado com o marasmo nas expectativas não é apenas fator de adiamento de investimentos, mas concorre para o achatamento de fato do crescimento potencial da economia.

Outra vez, os problemas não se devem à crise global, da qual se espera uma boa recuperação em 2014. Os problemas estão aqui dentro e esperam por decisões políticas que criem condições para equacioná-los.

ECONOMIA DE PERNAS MANCAS PRECISA DE AUDIÇÃO

 
17 de dezembro de 2013
Antoninho Marmo Trevisan, Brasil Econômico

ONISCIÊNCIA OFICIAL

Nas economias democráticas, a intervenção do Estado na atividade privada se dá por meio de órgãos técnicos, independentes da ação partidária, e na forma da lei. Assim dispõe a Constituição brasileira. Porém, não é esta a realidade entre nós, pois o Executivo submete ao seu comando singular tais órgãos, Banco Central, BNDES, agências reguladoras, empresas estatais etc.

O mando continuado do Executivo vem, todavia, encontrando em seu exercício a sua ineficácia. Entre outros, três fatores animam a ação incontida do Executivo.

O primeiro é desconhecer limite a sua competência normativa: afigura-se aos órgãos do Executivo possível tudo disciplinar expedindo normas infralegais — decretos, resoluções, portarias etc — à margem ou sobre um Congresso complacente e por vezes assistido por um Judiciário cordato.

O segundo sugere acreditar o Executivo deter um conhecimento absoluto dos diferentes mercados de bens e serviços: como as empresas decidem seus investimentos, operam seus negócios, os custos de todos eles e, ainda, o que prefere (ou deveria preferir) o consumidor.

O terceiro fator, acredita o Executivo não haver custo às empresas e ao consumidor, ao cumprirem eles a torrente de regras expedidas em série por órgãos do próprio Executivo.

Em uma palavra, acredita poder e dever o Executivo intervir ao seu exclusivo critério em todos os mercados de bens e serviços, disciplinando-os, pois conhece-lhes a estrutura de custos, investimentos e preços, cabendo às empresas e consumidores cumprir as respectivas regras.

Essa latitude normativa, esse saber imaginado e o frio descaso quanto aos ônus impostos às empresas e consumidores soam naturais ao hábito do mando exercido pelo Executivo.

Porém, os sinais de abalo a essa onisciência sucedem-se à vista de todos: os números peculiares do governo, os preços públicos irreais, à conta de reajustes adiados de tarifas e de subsídios escamoteados, o desprezo pela voz dos consumidores na imposição e execução (não planejada) de políticas urbanas e na disciplina de serviços públicos etc.

Mas talvez nenhum exemplo seja mais preciso e tenha maior alcance, a distinguir negativamente a onisciência burocrática, do que a inacreditável tomada elétrica de três pinos (com duas espessuras diferentes), única no planeta, que os moradores de cerca de 60 milhões de domicílios brasileiros estão sendo compelidos a comprar. Sem terem sido ouvidos, evidentemente, pois o Executivo sabe mais.

FLA-FLU NO COMÉRCIO EXTERIOR

A MORTE DE JK: O ACIDENTE E A FARSA

 
17 de dezembro de 2013
Gil Castello Branco, O Globo

"CONTINUA A FARSA ARGENTINA"

Sem rumo, sem compromisso com a seriedade e guiado apenas por objetivos eleitorais, o governo argentino continua vivendo de expedientes, de remendos e de farsa. A presidente Cristina Kirchner nomeou no mês passado três novos ministros, mas nada mudou até agora na política econômica. A ordem é improvisar e seguir intervindo nos mercados, para conter o vazamento de reservas, disfarçar a inflação e chegar às datas de vencimento com algum dinheiro para as contas.
 
A alta de preços ao consumidor deve aproximar-se de 30% neste ano, segundo consultorias privadas, mas nos cálculos oficiais a taxa deve permanecer próxima de 10%. O Brasil continuará pagando parte da fatura, porque o protecionismo se mantém e novas medidas já foram anunciadas.
 
Haverá um corte nas importações de automóveis e veículos leves, informaram na semana passada a ministra da Indústria, Débora Giorgi, e o novo secretário de Comércio, Augusto Costa. O valor comprado no primeiro trimestre deverá ser até 27,5% menor que o de um ano antes. Ficarão livres da medida as montadoras com receita de comércio exterior pelo menos igual à despesa. Os produtores brasileiros estarão entre os mais afetados. Neste ano, até novembro, faturaram US$ 4,4 bilhões com as vendas à Argentina. Isso correspondeu a 87% de suas exportações.
 
As barreiras argentinas são usadas contra todos os parceiros comerciais, sem distinção entre os sócios do Mercosul e os outros. Mas o Brasil, em episódios como esse, tem com frequência perdido espaço para concorrentes de fora.
 
Como o protecionismo argentino tem sido tolerado e até estimulado em Brasília, as montadoras e as fábricas de componentes em operação no Brasil têm sido forçadas a se ajustar ao acordo automotivo. Esse acordo foi várias vezes prorrogado e alterado, sempre de acordo com os interesses do lado da Argentina. Até junho uma nova negociação deverá estar concluída.
 
Autoridades brasileiras falam, de vez em quando, em exigir um comércio mais aberto para o setor, mas acabam cedendo aos interlocutores, como se isso fosse fundamental para o futuro do Mercosul e do mundo em desenvolvimento. Mas o Mercosul moldado segundo o padrão kirchnerista é apenas um trambolho para o Brasil.
 
O secretário Augusto Costa assumiu no mês passado a Secretaria de Comércio Interior, substituindo Guillermo Moreno, conhecido por sua truculência e por seu papel na formulação e na condução do protecionismo e dos controles de preços no mercado interno.
 
Em seguida à substituição, a presidente Cristina Kirchner unificou as Secretarias de Comércio Interior e de Comércio Exterior. A atuação de Moreno havia tornado a separação inútil. A mudança do organograma consagra essa orientação.
 
Os controles de preços no varejo serão mantidos. Não haverá um real combate à inflação, mas apenas a continuação do tabelamento, com as distorções resultantes. Políticas desse tipo foram usadas na Argentina até o começo dos anos 90 e resultaram mais de uma vez em problemas de abastecimento, algo quase inimaginável num país famoso como produtor agrícola. Com o casal Kirchner, o protecionismo e a intervenção habitual no sistema de preços ganharam de novo importância no arsenal da política econômica.
 
A crescente irresponsabilidade fiscal e a baixa credibilidade do governo formaram o pano de fundo e o quadro foi complementado pela distorção dos indicadores de preços e da produção agregada. O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem pressionado as autoridades argentinas para produzir estatísticas confiáveis, mas, até agora, conseguiu apenas promessas.
 
Será difícil conseguir mais do que isso. Sem uma política séria, o governo argentino vive pressionado pelos problemas de curto prazo. Em um ano o país perdeu US$ 10 bilhões de reservas cambiais, reduzidas a US$ 33,2 bilhões no começo de novembro. Uma das soluções, além da manutenção do protecionismo, foi a elevação do imposto sobre as despesas com cartão de crédito no exterior. Expedientes desse tipo podem servir no máximo como soluções de emergência. Mas na Argentina a emergência tem sido uma condição permanente.

17 de dezembro de 2013
Editorial do Estadão

"E AGORA, CABRAL?

É de estranhar o silêncio de Sérgio Cabral (PMDB) diante das declarações dadas pelo secretário José Mariano Beltrame por ocasião do aniversário de cinco anos de implantação do programa das UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadoras, principal projeto na área de segurança pública no Rio.
 
Ao jornal "O Globo", Beltrame comparou o maior legado do governo Cabral a um anestésico e reconheceu que as favelas pacificadas seguem à espera de uma "cirurgia maior". Disse ainda estar mal resolvida a questão sobre o que o Rio quer fazer das UPPs no longo prazo e deixou claro que mudanças estruturais nas favelas exigirão remoções, um assunto tabu que "precisa entrar em pauta e ninguém tem coragem".
 
Beltrame em nenhum momento desmereceu a importância do próprio trabalho e o êxito do fim do controle armado nas favelas pacificadas. Mas não se furtou a olhar para a frente e botar o dedo na ferida. "As pessoas gostaram do efeito da anestesia, só que não têm coragem de encarar a cirurgia. A favela tem pressa, e estão deixando a responsabilidade só com as polícias", disse o secretário.
 
O projeto das UPPs deu a Cabral mais quatro anos de mandato em 2010 e tudo caminhava para que o tema de novo sustentasse o debate sobre o sucesso da sua gestão na eleição de 2014. Mas os ventos mudaram. Reeleito com a maior votação ao cargo na história do Estado, ele foi "murchando" ao longo do mandato. Fragilizado por uma série de denúncias que cristalizaram a imagem de um gestor "boa-vida", Cabral teve em dezembro o índice mais baixo de aprovação de sua gestão e há uns bons meses anda um tanto calado.
 
As UPPs certamente estarão no centro do debate em 2014, mas fica cada vez mais claro que a discussão, agora, requer outro tom. Menos laudatório, mais realista e profundo. E ainda é um mistério como o governador pretende conduzi-la.

17 de dezembro de 2013
Letícia Sander, Folha de São Paulo

"CRESCE E DESAPARECE"

A queda do apartheid não começou com a saída de Mandela da prisão, mas com a queda do Muro

1. Com a morte de Mandela, confesso que passei horas e horas a ler sobre o senhor. Mas nenhum texto me impressionou tanto --na sua imbecilidade e ignorância-- como o elogio cético que Slavoj Zizek dedicou a Madiba no "Guardian".

Verdade que Zizek nunca desilude. Mas o texto atinge novos patamares de mendacidade intelectual quando informa o auditório de que Mandela morreu um homem amargo.
 
Uma afirmação dessas, vinda de um enfermeiro, teria o seu valor. Mas o objetivo de Zizek é político, não clínico: Mandela morreu amargo porque a promessa de uma África do Sul resplandecente não se cumpriu.
 
Até aqui, nada a dizer: a pobreza, a violência e o crime continuam a fazer parte do cotidiano do país. Mas para Zizek essas falhas devem-se à "traição" que Mandela cometeu sobre os seus ideais "socialistas", sucumbindo às sereias do capitalismo.
 
Nesse sentido, Mandela representa bem o destino da esquerda contemporânea, diz Zizek: na oposição a um regime iníquo, a esquerda promete maravilhas sem fim; quando chega ao poder, abre a porta ao compromisso "burguês".
 
A ignorância de Zizek começa logo aqui: ao não entender que o derrube do apartheid começou por um ato de compromisso. Que o mesmo é dizer: Mandela pousaria as armas e o regime começaria a tratá-lo com outra brandura.
 
Isso pode soar ofensivo para quem vive no jardim infantil da política e divide o mundo entre índios e cowboys. Não soou ofensivo para Mandela nem para a ala mais moderada do ANC.
 
Mas há mais: acusar Mandela de atraiçoar os seus ideais "socialistas" é ignorar a importância que o fim desses ideais teve para derrubar o próprio regime.
 
A queda do apartheid, ao contrário do que imagina Zizek, não começou com a saída de Mandela da prisão em 1990. Começou um ano antes, quando um certo Muro de Berlim foi reduzido a escombros. Com o desaparecimento da ameaça ideológica de Moscou, a elite branca não apenas deixou de temer a transição para um regime democrático pleno --como, no limite, o permitiu.
 
Finalmente, Zizek pergunta: não será possível ir além do legado tímido de Mandela sem cair no extremismo totalitário de Robert Mugabe, o vizinho do Zimbábue que arruinou o seu país?
 
Curiosamente, Zizek nem se apercebe da contradição da pergunta: Mugabe destruiu o país porque seguiu a cartilha "socialista" que Zizek acusa Mandela de ter renegado.
 
O resultado desse programa de "coletivização dos meios de produção" determinou que um dos mais prósperos países africanos seja hoje um caso internacional de fome, miséria e, claro, guerra civil larvar de negros contra brancos. Ou, pelo menos, contra os brancos que ainda restam por lá.
 
Quando será que Zizek cresce e desaparece?
 
2. A culpa é de John Lennon: quando o ex-Beatle começou a dissertar sobre os grandes temas do mundo, o mundo prestou atenção e a moda estava lançada.
 
Bizarro: eu gosto da minha empregada doméstica. Mas não presto atenção ao que ela diz sobre, por exemplo, o aquecimento global ou a crise das dívidas soberanas na Europa. Por que motivo devemos prestar atenção ao que dizem os músicos sobre assuntos que eles grotescamente desconhecem?
 
Roger Waters é um caso recente: o líder do Pink Floyd considerou Israel um Estado perfeitamente comparável à Alemanha nazista. Motivo? A forma como trata os palestinos de Gaza e da Cisjordânia. Roger Waters só não explicou direito se também falava dos campos de extermínio e dos fornos crematórios que existem em Tel Aviv.
 
Ponto prévio: você, leitor, pode não concordar com a política de Israel; pode condenar vivamente a construção de assentamentos na Cisjordânia; e pode até atribuir todas as culpas do mundo aos judeus pelo fracasso das sucessivas negociações entre Israel e a autoridade palestina. Está no seu direito e na posse razoável das suas faculdades mentais.
 
Mas quando alguém compara Israel com a Alemanha de Hitler --o mais infame regime da história, que fabricou a morte sistemática de milhões de judeus e outras minorias e foi responsável pela maior catástrofe militar do século 20 --essa comparação não é apenas ofensiva para a "memória das vítimas", como dizem os poetas.
 
A comparação é ofensiva para você, leitor, tratado como um idiota ignorante por outro idiota ignorante.

17 de dezembro de 2013
João Pereira Coutinho, Folha de São Paulo

SUÉCIA DESATIVA QUATRO PRESÍDIOS POR FALTA DE PRISIONEIROS

 
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A Prisão de Långholmen, construída no século XIX, ganhou o título de um dos maiores presídios da Suécia, mas desde 1975 também está desativada. Hoje, o local abriga um hostel, um museu e uma escola
 
Enquanto, no Brasil, os últimos levantamentos do Ministério da Justiça apontam que a população carcerária brasileira foi a terceira que mais cresceu nas últimas duas décadas, na Suécia, as notícias que estampam os jornais são bem diferentes: o país europeu acaba de desativar quatro presídios e um centro de detenção preventiva por falta de prisioneiros.
 
A partir deste mês, os “gatos pingados” que cometerem crimes nas cidades de Åby, Håja, Båtshagen e Kristianstad terão que cumprir pena em outros municípios, já que nesses lugares não há mais presídios.
 
Desde 2004, a população carcerária da Suécia cai 1% ao ano e, entre 2011 e 2012, diminuiu 6%. Como? As autoridades não sabem ao certo, mas desconfiam de algumas medidas que podem ter ajudado: forte investimento na reabilitação dos presos, penas mais brandas para delitos que envolvam drogas e aplicação de penas alternativas para alguns tipos de crime, como pequenos furtos.
 
Na dúvida, o governo pretende reforçar ainda mais essas medidas e vender apenas os terrenos de duas prisões. Os outros dois serão emprestados a serviços públicos. Assim, se a população carcerária voltar a crescer, será possível reativar as cadeias.
 
O Brasil também está precisando encontrar uma ‘receita de bolo’ para diminuir sua população carcerária – que é a quarta maior do mundo. Por aqui, a cada 361 pessoas, 1 está presa. A proporção na Suécia? 1 para cada 1.956 cidadãos.
 
17 de dezembro de 2013
Débora Spitzcovsky - Super Interessante

CNJ ABRE PROCESSO CONTRA MAGISTRADOS ACUSADOS DE DESVIAR R$ 500 MILHÕES

 
Juízes do trabalho teriam cometido irregularidades no pagamento de precatórios

CNJ abre processo administrativo contra magistrados acusados de desviar R$ 500 milhões
Foto: André Coelho / O Globo
CNJ abre processo administrativo contra magistrados acusados de desviar R$ 500 milhões
André Coelho / O Globo

Por desvios de R$ 500 milhões no pagamento de precatórios, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) instaurou nesta terça-feira processo administrativo disciplinar (PAD) contra o desembargador Vulmar de Araújo Coêlho Junior, ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 14ª Região, que engloba os estados de Rondônia e do Acre. Pelo mesmo motivo, foi aberto processo administrativo contra os juízes Domingos Sávio Gomes dos Santos e Isabel Carla de Mello Moura Piacentini, também do TRT da 14ª Região. Os três já estavam afastados das suas funções por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Nesta terça, o CNJ também determinou o afastamento deles.
 
Precatórios são ordens judiciais para o pagamento de débitos por órgãos públicos. No caso do TRT da 14ª Região, os precatórios irregulares totalizavam pelo menos R$ 1 bilhão. Desse valor, R$ 500 milhões foram pagos a advogados e sindicalistas, mas nunca chegaram aos trabalhadores. Em junho de 2012, os pagamentos foram suspensos por decisão liminar da então corregedora do CNJ, Eliana Calmon, evitando um prejuízo maior.
 
Vulmar e Domingos Sávio também são acusados de ter recorrido a ameaças contra outros magistrados e servidores para que eles não denunciassem as irregularidades. "Deflui-se dos elementos colhidos na fase inquisitorial que a intimidação levada a termo pelos requeridos foi tão intensa que o juiz Rui Barbosa pediu remoção para a 18ª Região (Goiás), o juiz Francisco Montenegro, para o TRT da 1ª Região e o juiz Delano Serra Coelho, para a Vara Trabalhista no Acre", diz trecho do voto do corregedor do CNJ, ministro Francisco Falcão. A servidora Débora Moreira Leite Ferreira chegou a ser incluída no programa de proteção a testemunha.
 
A defesa de Vulmar negou qualquer ameaça e disse que teve seu direito de defesa cerceado. Domingos Sávio também negou ter feito ameaças, chamando essas acusações de fantasiosas e fruto de distúrbios psiquiátricos. Isabel Carla se disse vítima do esquema fraudulento montado no TRT.

17 de dezembro de 2013
André de Souza - O Globo

"UMA NOVA AGENDA PARA O BRASIL"

 
                               Instituto Teotônio Vilela
O PSDB apresenta hoje aos brasileiros uma agenda para construir um novo Brasil. Um documento que pretende ser o primeiro passo de uma caminhada para mudar de novo o país, para construir um Brasil diferente do que aí está. Um movimento para recuperar a fé e a confiança dos cidadãos de que este país merece e deve voltar a ser uma nação soberana e irmanada em valores e não subalterna e engolfada num vale-tudo que ninguém suporta mais.
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O PSDB apresenta hoje aos brasileiros uma agenda para construir um novo Brasil. São ideias, princípios, compromissos a serem levados à discussão da sociedade nos próximos meses a fim de construir um diálogo, um processo e um movimento que mudem o atual estado de coisas em que nos encontramos.

O que enfeixa a visão que o PSDB levará à consideração dos brasileiros é a defesa e a recuperação de valores que vêm sendo cotidianamente aviltados no país nos últimos tempos. O documento pretende, neste sentido, ser um grito de basta a tanta degradação, tanto equívoco, tanto desmando. Os brasileiros merecem um Brasil melhor – e bem diferente do que hoje temos.

O texto a ser divulgado hoje em Brasília não é um programa de governo, até porque não é hora, ainda, para que planos desta natureza venham à luz. O que ele busca é definir os contornos da visão tucana sobre os assuntos que considera centrais para o futuro do país. Há um rumo novo a tomar e este rumo precisa de balizas claras, que lá estão.

As reflexões que serão agora postas em discussão com a sociedade brasileira não são obra de um único líder ou de grupos fechados. Nasceram de centenas de manifestações colhidas nos últimos meses em todos os cantos do país. Foram moldadas com a participação ativa também de dezenas de especialistas de todas as áreas. São, pois, plurais.

Mas que não haja dúvidas: a proposta que o PSDB apresenta hoje à nação brasileira é claramente antagônica ao projeto de poder hoje encastelado no país. Trata-se de apresentar uma alternativa aos brasileiros, uma forma de fazer diferente para termos um Brasil melhor, mais justo, mais ético e mais competitivo.

Neste sentido, três valores são adotados como centrais para definir a visão de mundo tucana: confiança, cidadania e prosperidade. É abraçado a eles e aos sonhos de cada um dos brasileiros que o PSDB pretende avançar e ampliar a caminhada de diálogos e debates junto à nossa sociedade. Pretende, sobretudo, mudar o Brasil.

Por que confiança? Para reconquistar a esperança dos brasileiros num futuro melhor, mais digno, mais honesto. Neste sentido, o PSDB reforça compromissos com valores caros ao nosso povo, mas que se tornaram matéria rara nos círculos de poder: defesa da democracia e das liberdades, combate intransigente à corrupção e restauração da ética. Bem como professa seu comprometimento com a reconstrução da confiança dos empreendedores no ambiente econômico, hoje minada pela irresponsabilidade dos nossos governantes.

Por que cidadania? Porque entendemos que hoje o poder público não oferece aos cidadãos serviços públicos com a qualidade e a dignidade que eles merecem. Porque os brasileiros pagamos muito e recebemos do Estado muito pouco de volta, principalmente em termos de saúde, segurança, transporte e educação. Porque o aparato estatal agigantou-se e transformou-se em um fim em si mesmo, voltado aos interesses de uma máquina partidária.

Para que prosperidade? Para que as oportunidades de progresso e ascensão surjam para todos os brasileiros. Para que o país recupere a competitividade perdida e volte a gerar mais e melhores empregos e riqueza para seus cidadãos. Para que não continuemos ficando para trás na marcha do mundo, deixando de oferecer à nossa gente o bem-estar que uma nação com o potencial de que goza o Brasil tem condições de prover.

O documento que o PSDB trará a público hoje pretende, em síntese, ser o primeiro passo de uma caminhada cujo objetivo é mudar de novo o Brasil. De uma arrancada para construir um Brasil diferente do que aí está. Um movimento para recuperar a fé e a confiança dos brasileiros de que este país merece e deve voltar a ser uma nação soberana e irmanada em valores e não subalterna e engolfada num vale-tudo que ninguém suporta mais.
 
17 de dezembro de 2013

ECONOMIA LENTA PÕE EM RISCO O DESEMPREGO BAIXO CONQUISTADO PELA AL, ALERTA OIT

Embora desocupação deva encerrar ano no mínimo histórico de 6,3%, ‘perda do dinamismo econômico’ já se reflete em indicadores do mercado de trabalho
 
 
A lentidão do avanço econômico na América Latina põe em risco as melhorias no mercado de trabalho conquistadas durante a última década, alerta a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em relatório divulgado nesta terça-feira.
Embora o desemprego nas áreas urbanas de América Latina e Caribe deva cair a seu mínimo histórico em 2013 - o órgão estima que a taxa encerrará o ano em 6,3% -, a estagnação de alguns indicadores sobre o mercado de trabalho deixa claro o impacto da “perda do dinamismo econômico na região”. Em 2003, a taxa de desemprego na região era de 11,1%.
 
“Se a situação piorar e se ganhar abrangência, há risco de que o desemprego volte a subir e de que se aprofunde a disparidade nas condições de trabalho e a informalidade”, diz o Panorama do Trabalho 2013.
 
Entre os motivos destacados pela OIT para o esfriamento da economia está a deterioração no preço de commodities exportadas pela região e o achatamento dos gastos governamentais. Espera-se que a economia da região crescerá 2,7% este ano, a menor taxa da década. Desde o ano passado, avanço do Produto Interno Bruto (PIB) nos países da região se mostra abaixo da média mundial. Com isso, a expectativa é que o crescimento entre 2013 e 2017 ficará pelo menos um ponto percentual abaixo do registrado entre 2003 e 2007. Também paira incerteza sobre 2014, para quando é esperado crescimento de somente 3,1%.
 
O comportamento da taxa de desemprego entre os jovens nas cidades é um dos principais sintomas desse cenário, observa o órgão. O indicador cresceu de 14,2% para 14,5% de 2012 a este ano, atingindo 6,6 milhões de pessoas.
 
“A situação dos jovens no mercado de trabalho tende a ser mais sensível à situação econômica. Por isso, seus indicadores refletem mais rapidamente a desaceleração”, analisa o documento.
 
Esse grupo etário também apresenta maior taxa de informalidade: quase seis em cada dez jovens trabalham em empregos informais. O documento, no entanto, ressalta que a informalidade é um problema que afeta a qualidade do emprego em todas as idades na região: pelo menos 130 milhões de trabalhadores estão ocupados em serviços informais na América Latina e no Caribe.
 
A OIT também chama atenção para a desaceleração nos salários, que gozaram “crescimento notável” entre 2006 e 2011. Segundo o documento, na média dos nove países onde havia informação atualizada disponível, o salário real médio avançou apenas 1% no terceiro trimestre deste ano, contra aumento de 2,1% no mesmo período de 2012.
 
O órgão também destaca a timidez na evolução da rede de proteção social. A cobertura da assistência à saúde na região, por exemplo, alcançou 59,8% dos trabalhadores em 2012, pouco acima dos 59,6% cobertos no ano anterior.

17 de dezembro de 2013
O Globo

CÚPULA DO PSDB COMEMORA GESTO DE SERRA DE RETIRAR CANDIDATURA

Para lideranças do partido, decisão do ex-governador de apoiar Aécio para 2014 foi "sóbria" e mostra a união da legenda

Recebida como surpresa por parte de integrantes da Executiva do PSDB, a antecipação da retirada da candidatura à Presidência da República por parte do ex-governador José Serra (SP) foi comemorada na manhã desta terça-feira, 17, por membros da cúpula tucana. Para lideranças, foi um gesto "sóbrio" e que mostra a união da legenda.
 
A decisão de Serra foi anunciada na noite dessa segunda, 16, por meio de um texto postado em seu perfil no Facebook. "Como a maioria dos dirigentes do partido acha conveniente formalizar o quanto antes o nome de Aécio Neves para concorrer à Presidência da República, devem fazê-lo sem demora. Agradeço a todos aqueles que têm manifestado o desejo, pessoalmente ou por intermédio de pesquisas, de que eu concorra novamente", escreveu Serra.
 
Após participarem de encontro em Brasília nesta terça, integrantes da Executiva do PSDB comentaram a decisão. "Achei excelente as declarações de Serra. Ele é um homem público, experiente, é natural que ele desejasse ser candidato a presidente. Já foi candidato do partido por duas vezes, mas desta vez não era o caso. É uma declaração muito sóbria da parte dele", afirmou o presidente do Instituto Teotônio Vilela, deputado Sérgio Guerra (PE). "Mostra que o PSDB não está dividido. Agora não há divisão, como o próprio Serra colocou", acrescentou.
 
"Serra agiu em consonância com o sentimento do partido no âmbito nacional e de cada diretório regional. Mostrou nobreza de seus propósitos e preocupação com a unidade partidária e tira o discurso daqueles que apostavam numa discórdia", afirmou o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP).
 
Após o encontro, o deputado Vanderlei Macris (SP) chegou a defender que se faça nos próximo dias um "ato nacional" do partido com a participação de Serra ao lado de Aécio. "O clima da reunião estava muito bom por conta da iniciativa de Serra. Na minha opinião, temos que fazer um ato nacional consolidando esse gesto", afirmou Macris.
 
Conforme revelou o Broadcast Político na última sexta-feira, o PSDB lança nesta tarde uma cartilha com 12 pontos em que deverão constar as diretrizes para um futuro programa de governo.

17 de dezembro de 2013
Erich Decat - Agência Estado

SÃO PAULO, RIO E BRASÍLIA RESPONDEM POR 20% do PIB BRASILEIRO

 

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Os municípios de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília tiveram, juntos, um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 850 bilhões em 2011, o que corresponde a um quinto da atividade econômica brasileira.
 
Se consideradas também Curitiba, Belo Horizonte e Manaus, apenas seis cidades respondem por um quarto do PIB do país.
 
Metade de toda a produção brasileira ocorre em apenas 55 municípios, onde vivem 31% da população nacional. Ao mesmo tempo, mais de 5 mil cidades abrigam 69% dos habitantes do país e geram a outra metade do PIB.
 
Os dados do PIB por município foram divulgados nesta terça-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em novembro, a entidade publicou os números sobre a atividade econômica por Estado.
 

MUNICÍPIOS COM MAIOR ATIVIDADE ECONÔMICA

 
PosiçãoMunicípioPIB em 2011 (R$ bi)Participação no PIB do país (%)Participação acumulada no PIB do país (%)
São Paulo/SP47711,5111,51
Rio de Janeiro/RJ2095,0516,57
Brasília/DF1643,9720,54
Curitiba/PR581,4021,94
Belo Horizonte/MG551,3323,27
Manaus/AM511,2324,50
Porto Alegre/RS461,1025,60
Guarulhos/SP431,0526,65
Fortaleza/CE421,0127,66
10ºCampinas/SP410,9828,64
  • Fonte: IBGE
 
 
A maior cidade, em atividade econômica, que não é capital de Estado é Guarulhos, com um PIB de R$ 43 bilhões, seguida por Campinas e Osasco, todas em São Paulo.
 
Apenas duas capitais não são as maiores de seus respectivos Estados, em atividade econômica. Florianópolis perde para Joinville, cidade mais populosa de Santa Catarina, onde se concentram o polo metal-mecânico catarinense. No Pará, Belém fica atrás de Paraupebas, onde há forte atividade extrativa de minérios.
 
Os números mensuram uma situação já muito conhecida no país, de desigualdade econômica regional.
 
Sozinha, a cidade de São Paulo tem um PIB de R$ 477 bilhões, superior ao de qualquer Estado do país (com exceção de SP, obviamente). No Estado do Rio, o segundo maior nesse quesito, a economia movimentou R$ 462 bilhões em 2011.
 
O PIB paulistano é maior, inclusive, do que o de toda a região Centro-Oeste (R$ 396 bilhões) e também Norte (R$ 224 bilhões), não somadas.
 
Apesar de ainda se manter altamente concentrado, o PIB brasileiro sofreu uma ligeira descentralização nos últimos anos. Em 2007, a cidade de São Paulo respondia por 12,1% da atividade econômica nacional; hoje, são 11,5%.
 
Em relação ao município do Rio, a participação no PIB brasileiro caiu de 5,3% para 5,1% no período.

17 de dezembro de 2013
Sílvio Guedes Crespo - UOL