"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

MENSALEIROS CULPADOS DE INCAPACIDADE

 



Pessoalmente não acredito que precise ser um iluminado ou um privilegiado para conseguir decifrar o justo do errado. A dose de consciência universal é comum a todos, o acesso não passa por um pedágio, não se compra nem se vende. Basta o silêncio para se escutar sua harmonia. Requer exercício para dissipar egoísmo e interesse pessoal, firmando o pensamento na honestidade, nas virtudes dos fortes. Aí surgirá o cântico inconfundível da consciência universal, tocada por uma inteligência divina.

Mesmo sem estudos e berço de ouro, o indivíduo pode entender que a palavra “animal” representa “algo movido por uma alma”, e os animais têm alma grupal governada pelos “elementais” (entidades modeladoras) de sua raça. As forças modeladoras criam as cores da arara, as manchas da onça, se divertem brincando e diversificando a natureza, se mostram a quem gosta delas. O homem (man, em sânscrito mente) é “algo diferenciado, movido pela mente”, pela capacidade mental negada ao animal e portador do livre-arbítrio.

Para o homem, não existe influência planetária que possa ser enfrentada e evitada. Para o budista ou hinduísta na lenta e inarredável marcha do peregrino – do andarilho das estrelas –, a escada se sobe de degrau em degrau. Em nossa “ronda”, as escrituras védicas reconhecem entre encarnados e desencarnados 60 bilhões de individualidades.

Nesse momento cerca de 10% possuem corpo físico, palpável e palpitante no planeta Terra. Você que lê é um deles. Quer dizer que 54 bilhões estariam em esferas além da tridimensional, em outros planetas invisíveis atrás do espesso véu que não é permitido levantar ao olho humano. Quarta, quinta e mais dimensões abrigariam a legião de individualidades/personalidades que alcançaram a “humanização”.

A CONSCIÊNCIA

Pois é, voltando do metafísico para o físico, já que esta coluna não é uma aula de doutrinas de cosmogonia, vale ressalvar que a voz da consciência é comum a todos. Se faz perceptível a quem quer ouvi-la, e inaudível a quem permanece escravo do caos egoísta.

A desarmonia de um mal se reflete no todo, insurge estridente como a gota de veneno no balde de água pura; depois muitas gotas envenenam mortalmente, assim como a gota de mal envenena uma nação, uma raça, a humanidade inteira.

Pois nesses dias, em que pesem a compreensão com quem foi preso em decorrência do mensalão e o sofrimento de seus familiares, já passa do limite a ação para desgastar Joaquim Barbosa. “Falta de provas”, “rito sumário”, “processo ditatorial”, “atropelo” etc. passaram do limite.
Dirceu e Genoino fazem parte de uma história, relativamente recente, que cassou presidente e deputados por meio de processos de CPIs e devassas, que eles não sofreram, e isso sim os diferenciam de muitos outros.
Mais provas não foram levadas ao processo, mais esclarecimentos não ocorreram, mais dúvidas não foram dissipadas, pois foram impedidas investigações para quem se sentava no Poder.

Não se realizou CPI, não se deixou que a Polícia Federal avançasse, não se quebraram sigilos bancários, telefônicos, e nenhuma devassa da Receita Federal ocorreu que pudesse mostrar cabal resultado que desfizesse as provas apresentadas pelo procurador da República.
Eram insuficientes? Os juízes as consideram suficientes para condenar à cadeia.

CPI DO COLLOR

Nem as contas bancárias de Marcos Valério, apesar de ter remetido US$ 10 milhões às contas de Duda Mendonça, foram expostas a público, quanto menos de condenados e suspeitos como na CPI de Collor. CPI em que Dirceu, Genoino e Mercadante revelavam diariamente provas de cheques e transações.

A forma de se revelar inocência estava nas mãos dos ministros da Justiça, como Márcio Thomas Bastos e Tarso Genro, ainda o atual. A incrível capacidade de gerar dossiês sobre adversários não foi suficiente para gerar um antidossiê que livrasse os mensaleiros?
Homem público deve explicação pública, inconteste, e não choramingões com indiretas que tangenciam o essencial.

Por muito menos que um mensalão, são apreendidas nas residências dos suspeitos, com celeridade e firmeza impressionantes, documentações e provas, são ainda quebrados sigilos de contas bancárias, telefônicas, de arquivos digitais. Alguém já viu isso acontecer com mensaleiro?
Já ouviu no “JN” uma gravação de diálogo de mensaleiros, dessas que aparecem todo dia vazadas pela PF? Nunca. Isso é sinal de quê?


Para o porteiro de um sítio na casa de farra e de lobby frequentada pelo ex-ministro Palocci, a quebra de sigilo de uma caderneta de poupança se deu instantaneamente, e apareceu. E as cadernetas dos mensaleiros? Nunca.

TRANSPARÊNCIA

Inocência de homem público exige satisfação, rigor e transparência. “Dúvida para o réu” é depois que se esgotou uma investigação por todos os meios. Réu que tinha tudo para provocar uma devassa, e ao Poder com seu grupo cabe o dever de levantar a dúvida. Se a manteve, tem que se conformar, seu livre-arbítrio decidiu.
Dirceu, num famoso pronunciamento na Câmara, prometeu pôr os pingos nos “is”, ou seja, abrir tudo que pairava para dissipar cabalmente as dúvidas.

Joaquim Barbosa é um dos mais lembrados para a Presidência da República, e numa enquete do jornal O Tempo a prisão dos mensaleiros é aprovada por 86%. Como mentores do Poder há mais de 11 anos, a vários mensaleiros não faltou oportunidade de pôr pingos nos “is”, preferiram não colocá-los, como uma CPI, uma devassa tributária, uma investigação radical da PF poderiam gerar.

Dirceu, Genoino, Mercadante souberam caçar Collor, Ibsen Pinheiro e um batalhão de anões corruptos, mas com mais arsenal e poder não souberam convencer que eram inocentes no maior escândalo de corrupção da República. Se não são culpados de crime, os são de incapacidade de provar a inocência.

(transcrito de O Tempo)

17 de dezembro de 2013
Vittorio Medioli

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