É de estranhar o silêncio de Sérgio Cabral (PMDB) diante das declarações dadas pelo secretário José Mariano Beltrame por ocasião do aniversário de cinco anos de implantação do programa das UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadoras, principal projeto na área de segurança pública no Rio.
Ao jornal "O Globo", Beltrame comparou o maior legado do governo Cabral a um anestésico e reconheceu que as favelas pacificadas seguem à espera de uma "cirurgia maior". Disse ainda estar mal resolvida a questão sobre o que o Rio quer fazer das UPPs no longo prazo e deixou claro que mudanças estruturais nas favelas exigirão remoções, um assunto tabu que "precisa entrar em pauta e ninguém tem coragem".
Beltrame em nenhum momento desmereceu a importância do próprio trabalho e o êxito do fim do controle armado nas favelas pacificadas. Mas não se furtou a olhar para a frente e botar o dedo na ferida. "As pessoas gostaram do efeito da anestesia, só que não têm coragem de encarar a cirurgia. A favela tem pressa, e estão deixando a responsabilidade só com as polícias", disse o secretário.
O projeto das UPPs deu a Cabral mais quatro anos de mandato em 2010 e tudo caminhava para que o tema de novo sustentasse o debate sobre o sucesso da sua gestão na eleição de 2014. Mas os ventos mudaram. Reeleito com a maior votação ao cargo na história do Estado, ele foi "murchando" ao longo do mandato. Fragilizado por uma série de denúncias que cristalizaram a imagem de um gestor "boa-vida", Cabral teve em dezembro o índice mais baixo de aprovação de sua gestão e há uns bons meses anda um tanto calado.
As UPPs certamente estarão no centro do debate em 2014, mas fica cada vez mais claro que a discussão, agora, requer outro tom. Menos laudatório, mais realista e profundo. E ainda é um mistério como o governador pretende conduzi-la.
17 de dezembro de 2013
Letícia Sander, Folha de São Paulo
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