"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 21 de junho de 2015

JÔ SOARES E SUA DECEPCIONANTE "ENTREVISTA" COM DILMA



Saudosos do programa “Viva o Gordo” já não precisam se contentar com as reprises do canal Viva. O grande humorista Jô Soares – que cedeu lugar ao pior entrevistador da TV brasileira — está de volta com um programa fresquinho: “Viva a Dilma”. 

Resgatando a tradição das duplas que faziam o Brasil gargalhar no tempo das chanchadas da Atlântida e da rádio Nacional, como Oscarito e Grande Otelo, Primo Pobre e Primo Rico, a dobradinha Dilma e Jô, ele como escada, desmentiu a fama de Brasília como cidade sem graça, embora nada séria. Em pleno Palácio da Alvorada, ambos – em grande forma – interpretaram a si mesmos, sem precisar de ensaio ou laboratório.

O comediante que decidiu virar dono de talk show e que, nessa função há 27 anos, jamais conseguiu extrair de um convidado uma única frase que repercutisse no dia seguinte. A presidente que, em quatro anos e meio de mandato, e nada indica que será diferente nos três anos e meio que ainda faltam, jamais extraiu de seu cérebro uma única frase que fizesse sentido no dia seguinte ou para a História.

Química infalível para o riso fácil, frouxo e indevido – potencializada por um detalhe que coloca Jô ao mesmo nível da cara de bacalhau, filhote de pombo, pescoço de freira e político honesto, isto é, de coisas que ninguém nunca viu: ele é o humorista a favor.

SEM-GRACICE

Já na introdução interminável para justificar a defesa intransigente de Dilma, o Jô de sempre: a hesitação e a sem-gracice em forma da pessoa real que é, despido de seus antigos personagens. Também pudera: é preciso se desmanchar em tibieza e falta de informação para, preparando a primeira pergunta, afirmar isto:

“Bom, você é uma leitora fanática, de chegar a andar com mala cheia de livros e, de repente, na ânsia de ler, até bula de remédios não escapavam (sic) dos seus olhos”.
Ainda a Dilma leitora fanática? A claque da Zorra Total teria de ser acionada para produzir gargalhadas frenéticas, apesar de a piada ser muito velha – menos para o Jô. Na mala de livros que Dilma leu sem nunca ter lido ainda cabe Jô Soares – ela é imensa.

O LIVRO DOS LIVROS

Mas, espere. A pergunta no horizonte envolve não um livro comum – mas o livro dos livros. E aqui ressalta o inclassificável talk showman que é Jô Soares: imagine, é a primeira pergunta de sua primeira entrevista com a presidente da República num momento delicadíssimo da vida nacional e você se sai com essa – uma insignificante fabulazinha de cadeia sem um ponto de interrogação no final:

“E como é que é a história da Bíblia, quando você estava presa, encarcerada, e essa Bíblia tinha que passar pra outros prisioneiros. Conta essa história pra gente”.
Dilma: “Ah, Jô, era uma história que é assim: num tinha livros…”.

Só pelo “num”, não tinha mesmo. Mas, segundo consta, tinha uma bíblia que fora deixada por um padre e que passava pela portinha do calabouço, e ia de cela em cela, introduzida pela fresta. Dilma enfatiza, para provável espanto da plateia: “Porque as portas das celas não ficavam abertas…”

Puxa, mas uma bíblia fazendo sucesso num calabouço de marxistas? Sim, porque não era qualquer bíblia. Mas a Bíblia de Dilma, a hermeneuta:

A GÊNESE DE DILMA

Eis sua gênese:“A Bíblia é algo fantástico, ela é uma leitura que ela envolve de todas as maneiras. Além de sê uma expressão religiosa, da religião da qual nós, a maioria do Brasil, compartilha. Mas, além disso, ela tem alta qualidade literária e tem, também, histórica. 

Então, é uma leitura que, eu quero te dizer o seguinte: para mim foi muito importante, principalmente porque ela trabalha com metáforas. E é muito difícil, a metáfora é a imagem, o que é a metáfora? Nada mais que você transformá em imagem alguma coisa. E não tem jeito melhor de ocê entendê e compreendê do que a imagem”.

Dilma como metáfora seria aqui uma imagem impublicável. Mas a entrevista caminha biblicamente para o apocalipse, com Jô fazendo o papel de um embasbacado Cirineu para a cruz de Dilma pensando o Brasil e discorrendo sobre qualquer assunto. Caprichando como sempre na saúde:

“Agora, eu quero te dizer que, além disso, faltam no Brasil especialidades. Porque, hoje, uma pessoa que quebra a perna precisa de ter um exame; ela precisa de ter um outro tratamento. Então as especialidades são a grande coisa que nós queremos focar nesses próximos quatro anos. E são três especialidades que nós vamos começar, porque você tem que começar. Uma é ortopedia; a outra é cardiologia; e a outra é oftalmologia. Eu esqueci de falar, falei da traumatologia, dos pés, das “quebraduras” em geral. Então são três”.

PÁTRIA EDUCADORA

Já pisando nas quebraduras da Pátria Educadora, Dilma – que conquistou Lula ao chegar para uma reunião com um laptop – fala da importância de se controlar virtualmente, tintim por tintim, as verbas da Educação destinadas às creches (sim, as seis mil de sempre).

“Nós montamos o controle. E você só pode montar o controle no Brasil se você digitalizar. Você digitaliza…torna.. Coloca na internet, digitaliza, sabe onde é cada uma das escolas. Então, o prefeito recebe um SMS: “Prefeito, você recebeu tanto, você tem que fazer…”. E ele tem que tirar o retrato, tirar uma foto daquela creche e tem de botar no…
“Na internet”, sopra Jô.

“Não, ele bota no celular dele, que vem pra nós, que entra na internet, não é? Aí, nós descobrimos que um prefeito que tinha quatro creches tava mostrando a mesma creche. E advinha (sic) como é que a gente descobriu”?

“Como”?
“O cachorro era o mesmo. O cachorro parado na frente da creche era o mesmo das quatro creches. O que causou uma grande indignação em nós aqui. Que história é essa desse cachorro aí? Eu te contei essa história justamente pra mostrar o seguinte: você tem de acompanhar”.

Sim, a entrevista foi constrangedora, claro. Mas Jô conseguiu uma façanha: descobriu, sem querer, onde foi parar aquele cachorro de Dilma que era a figura oculta atrás de cada criança: ele se materializou na frente de cada creche.
Viva o Gordo, Viva Dilma.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – A entrevista com Dilma ficará marcada para sempre em Jô Soares, como uma tatuagem. A mesma coisa que aconteceu com Fernando Sabino, quando o grande escritor fez a besteira de escrever um livro de elogios a Zélia Cardoso de Melo. Depois disso, Sabino não conseguiu escrever mais nada. Espera-se que fenômeno semelhante ocorra com Jô e que ele suma de nossas casas. Quanto a Sabino, era um mestre e suas crônicas fazem muita falta. (C.N.)

21 de junho de 2015
Celso Arnaldo Araújo

O ATAQUE CHAVISTA AOS SENADORES EM CARACAS


VÍDEO MOSTRA O MOMENTO DO ATAQUE CHAVISTA CONTRA O ÔNIBUS DOS SENADORES EM CARACAS QUE FORAM ABANDONADOS PELO EMBAIXADOR DO BRASIL NA VENEZUELA




Este vídeo postado pelo site de notícias de Caracas, o La Patilla, mostra o momento em que os bate-paus chavistas avançam sobre o ônibus que conduz os senadores brasileiros que tentam chegar a Ramo Verde, o presídio onde está o líder oposicionista Leopoldo Lopez, há um ano trancafiado num calabouço da polícia política do tiranete Nicolás Maduro.
Neste vídeo dá para ouvir a bandalha comunista batendo no ônibus enquanto a polícia fica apenas olhando. 


Ruy Pereira, o embaixador 'bolivariano' do Brasil na Venezuela abandonou os senadores brasileiros deixandos à mercê da sanha assassina dos bate-paus de Nicolás Maduro.
Já o embaixador brasileiro na Venezuela, segundo anota o site da revista Veja, deixou os senadores falando sozinhos:
Depois de receber os senadores brasileiros no aeroporto de Caracas, o embaixador brasileiro na capital venezuelana, Ruy Pereira, simplesmente abandonou-os à própria sorte. Não é assim que o Itamaraty deveria tratar os representantes legislativos brasileiros em visitas a outros países. Enquanto os senadores tentaram ir de ônibus visitar os presos políticos, o representante do governo brasileiro pegou seu carro e foi embora. Pelo menos, dizem que ele falou tchau.
Em contrapartida, a deputada cassada pelo chavismo, Maria Corina Machado mandou ver no Twitter: “"Em menos de três horas os senadores brasileiros já sabem o que significa viver na ditadura aqui na Venezuela", escreveu no Twitter a ex-deputada opositora Maria Corina Machado. "Se o regime acreditou que trancando as vias impediria os senadores de constatarem a situação dos Direitos Humanos na Venezuela, conseguiram o contrário", completou em outra postagem. É, a Venezuela não é fácil, nem democrática. E os senadores brasileiros que tentaram, sem sucesso, visitar os presos políticos em Caracas descobriram isso na prática.”

21 de junho de 2015
in aluizio amorim

FAMÍLIA ODEBRECHT AMEAÇA DESTRUIR LULA E DILMA, DIZ A ÉPOCA




Com a prisão do filho, Emílio reassume o grupo
Desde que o avançar inexorável das investigações da Lava Jato expôs ao Brasil o desfecho que, cedo ou tarde, certamente viria, o mercurial empresário Emilio Odebrecht, patriarca da família que ergueu a maior empreiteira da América Latina, começou a ter acessos de raiva. Nesses episódios, segundo pessoas próximas do empresário, a raiva – interpretada como ódio por algumas delas – recaía sobre os dois principais líderes do PT: a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A exemplo dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, outros dois poderosos alvos dos procuradores e delegados da Lava Jato, Emilio Odebrecht acredita, sem evidências, que o governo do PT está por trás das investigações lideradas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Se prenderem o Marcelo (Odebrecht, filho de Emilio e atual presidente da empresa), terão de arrumar mais três celas”, costuma repetir o patriarca, de acordo com esses relatos. “Uma para mim, outra para o Lula e outra ainda para a Dilma.”
Na manhã da sexta-feira, 19 de junho de 2015, 459 dias após o início da Operação Lava Jato, prenderam o Marcelo. Ele estava em sua casa, no Morumbi, em São Paulo, quando agentes e delegados da Polícia Federal chegaram com o mandado de prisão preventiva, decretada pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal da Justiça Federal do Paraná, responsável pelas investigações do petrolão na primeira instância. Estava na rua a 14ª fase da Lava Jato, preparada meticulosamente, há meses, pelos procuradores e delegados do Paraná, em parceria com a PGR.
OPERAÇÃO APOCALIPSE
Quando ainda era um plano, chamava-se “Operação Apocalipse”. Para não assustar tanto, optou-se por batizá-la de Erga Omnes, expressão em latim, um jargão jurídico usado para expressar que uma regra vale para todos – ou seja, que ninguém, nem mesmo um dos donos da quinta maior empresa do Brasil, está acima da lei. Era uma operação contra a Odebrecht e, também, contra a Andrade Gutierrez, a segunda maior empreiteira do país. Eram as empresas, precisamente as maiores e mais poderosas, que ainda faltavam no cartel do petrolão. Um cartel que, segundo a força-tarefa da Lava Jato, fraudou licitações da Petrobras, desviou bilhões da estatal e pagou propina a executivos da empresa e políticos do PT, do PMDB e do PP, durante os mandatos de Lula e Dilma.
Os comentários de Emilio Odebrecht eram apenas bravata, um desabafo de pai preocupado, fazendo de tudo para proteger o filho e o patrimônio de uma família? Ou eram uma ameaça real a Dilma e a Lula? Os interlocutores não sabem dizer. Mas o patriarca tem temperamento forte, volátil e não tolera ser contrariado. Também repetia constantemente que o filho não “tinha condições psicológicas de aguentar uma prisão”.
Marcelo Odebrecht parece muito com o pai. Nas últimas semanas, segundo fontes ouvidas por ÉPOCA, teve encontros secretos com petistas e advogados próximos a Dilma e a Lula. Transmitiu o mesmo recado: não cairia sozinho. Ao menos uma dessas mensagens foi repassada diretamente à presidente da República. Que nada fez.
DESCONTROLE
Quando os policiais amanheceram em sua casa, Marcelo Odebrecht se descontrolou. Por mais que a iminência da prisão dele fosse comentada amiúde em Brasília, o empresário agia como se fosse intocável. Desde maio do ano passado, quando ÉPOCA revelara as primeiras evidências da Lava Jato contra a Odebrecht, o empresário dedicava-se a desancar o trabalho dos procuradores. Conforme as provas se acumulavam, mais virulentas eram as respostas do empresário e da Odebrecht. Antes de ser levado pela PF, ele fez três ligações. Uma delas para um amigo que tem interlocução com Dilma e Lula – e influência nos tribunais superiores em Brasília. “É para resolver essa lambança”, disse Marcelo ao interlocutor, determinando que o recado chegasse à cúpula de todos os poderes. “Ou não haverá República na segunda-feira.”
Antes mesmo de chegar à carceragem em Curitiba, Marcelo Odebrecht estava “agitado, revoltado”, nas palavras de quem o acompanhava. Era um comportamento bem diferente de outro preso ilustre: o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo. Otávio Azevedo, como o clã Odebrecht, floresceu esplendorosamente nos governos de Lula e Dilma. Tem uma relação muito próxima com eles – e com o governador de Minas Gerais, o petista Fernando Pimentel, também investigado por corrupção, embora em outra operação da PF. Otávio Azevedo se tornou compadre de Pimentel quando o petista era ministro do Desenvolvimento e, como tal, presidia o BNDES.
Não há como determinar com certeza se o patriarca dos Odebrechts ou seu filho levarão a cabo as ameaças contra Lula e Dilma. Mas elas metem medo nos petistas por uma razão simples: a Odebrecht se transformou numa empresa de R$ 100 bilhões graças, em parte, às boas relações que criou com ambos. Se executivos da empresa cometeram atos de corrupção na Petrobras e, talvez, em outros contratos estatais, é razoável supor que eles tenham o que contar contra Lula e Dilma.

21 de junho de 2015
Filipe Coutinho, Thiago Bronzatto e Diego Escosteguy

LULA ABALA DILMA E A PROJETA EM FAIXA DE ALTO RISCO




Lula arrasou o governo de Dilma
O título acima, creio, enfoca bem o impacto político produzido pelas fortíssimas críticas feitas pelo ex-presidente Lula à presidente Dilma Rousseff durante encontro com religiosos, quinta-feira passada, na sede do Instituto que leva o seu nome. As críticas estão registradas literalmente na extraordinária reportagem de Tatiana Farah e Juliana Granjeia, na edição de hoje, sábado de O Globo. A matéria é tão importante que o jornal a divulgou com exclusividade. Isso significa dizer que não a colocou em seu site as primeiras horas da madrugada, quando ocorre o fechamento das edições e eles começam a circular.
Me lembrei do título de Hélio Silva: “A História não espera o amanhecer”. Sim. Porque a reportagem de Tatiana Farah e Juliana Granjeia possivelmente vai representar um episódio muito intenso do quadro político brasileiro.
Luiz Inácio Lula da Silva disse aos religiosos, no encontro de São Paulo, que iria abrir seu coração e acrescentou que cabe a Dilma Rousseff a responsabilidade pela crise vivida pelos petistas, enfatizando: “Dilma e eu estamos no volume morto. o PT está abaixo do volume morto”.
A comparação foi inspirada na crise hídrica que atinge principalmente o estado de São Paulo, refletindo-se no nível das represas que abastecem a cidade e a região metropolitana. Por aí se percebe a dimensão da contrariedade que gerou a revolta do antecessor e grande eleitor da atual presidente.
LULA ABALA DILMA
As afirmações de Lula abalam Dilma Rousseff, projetando-a numa faixa de alto risco político, além de pressioná-la para que ela realize mudanças substanciais na sua equipe de governo e também na política econômica que colocou em prática traçada, como se sabe, pelo Joaquim Levy.
Lula enfatizou inclusive a ocorrência de um fracasso, dizendo “aquele gabinete presidencial é uma desgraça. Não entra ninguém para dar uma notícia boa. Essa coisa se perdeu”. O ex-presidente assinalou que tem conversado com Dilma e tem dito para que ela vá em frente, ponha o pé na estrada, e não tema as vaias. “Os ministros têm de falar; mas não falam. Parece um governo de mudos”. Lula disse também que tem chamado atenção do ministro Aloizio Mercadante dizendo que ele deveria fazer mais discursos públicos. Criticou o empenho de Dilma na aprovação do ajuste fiscal. Depois do ajuste, vem o quê? Perguntou a Dilma: “Companheira você se lembra qual foi a última notícia boa que demos ao Brasil? Ela não se lembrava”.
FATOS NEGATIVOS
O ex-presidente apontou uma série da fatos negativos no governo. Primeiro, a inflação; segundo, aumento na conta da água; terceiro, aumento na conta de luz, que para alguns consumidores triplicou; quarto, aumento da gasolina, do diesel e do dólar. Neste ponto subiu o tom. O FIES que era um sistema tranquilo virou uma desgraceira sem precedentes. E o anúncio de que ia mexer nas pensões e nas aposentadorias dos trabalhadores? Lula destacou também as promessas da candidata na recente campanha eleitoral e que não foram cumpridas no governo. Transcreveu, inclusive as palavras da presidente de que não mexeria no direito dos trabalhadores nem que a vaca tossisse. Entretanto – ressaltou – mexeu. Afirmou também que não ia fazer ajuste porque isso é coisa de “tucano”. Apesar disso fez o ajuste. Por este motivo é que os próprios tucanos estão colocando na TV afirmações de que ela mentiu.
Os destaques alinhados por Luiz Inácio Lula da Silva, evidentemente, possuem direção certa. Uma espécie de ultimato visando a que o Palácio do Planalto altere os rumos da política econômica, em particular, e do governo de modo geral. Com isso, ao deslocar a presidente da República para uma escala de risco, ele no fundo está propondo, é claro, uma reforma substancial na atuação do Executivo. Pois não teria cabimento assumir uma postura de oposição frontal, uma vez que isso prejudicaria sensivelmente seu projeto de retornar ao poder através das urnas de 2018.
NOVO ESFORÇO
Assim ao colocar de forma tão forte suas discordâncias Lula está propondo um novo esforço do Planalto para um plano de concordância e convergência. Por isso o conteúdo de sua manifestação baseia-se num objetivo de mudança, sem a qual, sob seu ponto de vista, uma atuação positiva do governo atual a ele parece, tacitamente ser impossível.
As mudanças que ele destacou de forma genérica dividir-se-ão, é claro, em pontos a serem concretizados na prática. Entre eles, a alteração ministerial e a mudança do rumo econômico e social. Portanto, a equipe chefiada por Joaquim Levy sofreu seu grande abalo político desde que assumiu o comando da economia brasileira. A equipe econômica, dessa forma, transformou-se em alvo, não só da oposição, não apenas das ruas, mas a partir de agora também do principal pilar de sustentação de Dilma Rousseff junto a opinião pública, o que significa junto à sociedade.
A presença política de Lula é extremamente importante para que o governo possa respirar. Caso contrário poderá submergir num mar das próprias contradições configuradas nos discursos da candidata e nas ações da presidente.

21 de junho de 2015
Pedro do Coutto

DIRIGENTES DA MENDES JR E DA OAS PODEM PEGAR PENA MÁXIMA



A força-tarefa da Operação Lava Jato pediu a condenação dos executivos da cúpula da empreiteira Mendes Júnior a mais de 30 anos de prisão por corrupção ativa, organização criminosa e lavagem de dinheiro no esquema de propinas instalado na Petrobrás. É a mesma punição que, no início da semana passada, foi pedida para os altos executivos da OAS, outra empreiteira sob suspeita de ter formado cartel para se apossar de contratos bilionários na estatal petrolífera.

Em alegações finais à Justiça Federal, no processo contra o comando da Mendes Júnior, os nove procuradores da República que integram a força-tarefa pedem, ainda, perdimento de R$ 30,34 milhões, quantia correspondente à propina de 1% que teria sido paga pela empreiteira ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, sobre todos os contratos e aditivos dos quais participou.

ATOS DE CORRUPÇÃO
Também foi requerida a condenação de Costa e do doleiro Alberto Youssef – elo do ex-diretor com políticos e empreiteiros – por 52 atos de corrupção passiva.

Os procuradores pediram o desmembramento do processo com relação a um outro acusado, o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia. Apontado como presidente do clube vip do cartel das construtoras, Pessoa está fazendo delação premiada na Procuradoria-Geral da República.

A força-tarefa da Lava Jato pede, na ação da Mendes Júnior, indenização em favor dos cofres da estatal no montante de R$ 207,29 milhões, correspondente a 3% do valor total dos contratos “no interesses dos quais houve a corrupção de empregados da Petrobrás” – esse valor é calculado independentemente da quota parte da empreiteira nos consórcios que executaram tais contratos, pela natureza solidária da obrigação.

ADVOGADO NADA REVELA

O criminalista Marcelo Leonardo, que defende os executivos da Mendes Júnior, afirmou que as alegações finais do Ministério Público Federal ‘são absolutamente injustas’. Ele informou que até o dia 26 de junho irá entregar a peça de alegações finais em nome da defesa.

“Assim como a denúncia (da força-tarefa da Lava Jato) é injusta e improcedente, as alegações finais também são. Nós vamos apresentar as alegações finais da defesa até o dia 26, mas neste momento não vou antecipar nada.”

21 de junho de 2015
Ricardo Brandt, Mateus Coutinho e Fausto MacedoEstadão

PF INVESTIGA PROPINAS PARA RENAN, LINDERBH E LUIZ SÉRGIO





Um golpe perpetrado recentemente contra os fundos de pensão Postalis e Petros começa a ser desvendado pela Polícia Federal. Inquérito sigiloso obtido com exclusividade por IstoÉ traz os detalhes de um esquema que desviou R$ 100 milhões dos cofres da previdência dos funcionários dos Correios e da Petrobras. Parte do dinheiro, segundo a PF, pode ter irrigado as contas bancárias do presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e do deputado federal e ex-ministro de Dilma, Luiz Sérgio (PT-RJ), atualmente relator da CPI do Petrolão.
Prestes a ser enviado ao Supremo Tribunal Federal, devido à citação de autoridades com foro especial, o inquérito traz depoimento de um funcionário do grupo Galileo Educacional, empresa criada pelo grupo criminoso para escoar os recursos dos fundos. Segundo o delator identificado como Reinaldo Souza da Silva, o senador Renan Calheiros teria embolsado R$ 30 milhões da quantia paga, Lindbergh R$ 10 milhões e o deputado Luiz Sérgio, o mesmo valor.
Para desviar os recursos dos fundos de pensão, os acusados, segundo a investigação da PF, montaram o grupo Galileo Educacional a fim de assumir o comando das Universidades Gama Filho e UniverCidade, ambas no Rio de Janeiro, que passavam por dificuldades financeiras. Para fazer dinheiro, o grupo Galileo lançou debêntures que foram adquiridas pelo Postalis e pelo Petros. De acordo com a PF, a operação foi feita apenas por influência política e sem nenhum critério técnico. O dinheiro, em vez de ser aplicado nas universidades, teria sido desviado para um emaranhado de empresas e depois, segundo o delator, remetido a Renan, Lindbergh e Luiz Sérgio. Em pouco menos de um ano, o MEC descredenciou boa parte dos cursos de ambas universidades e os fundos arcaram com o prejuízo.
ADVOGADO ERA O CHEFE
“Os envolvidos montaram todo um simulacro com aparato administrativo, financeiro e jurídico para angariar recursos em uma estrutura que não tinha qualquer comprometimento com a proposta educacional”, afirma o delegado Lorenzo Pompilio, que comanda o inquérito. Em relatório encaminhado ao MPF, ele fala em “ciclo criminoso”, considerando a incursão dos acusados nos crimes de peculato, formação de quadrilha e estelionato. Segundo o delegado, as atas de reuniões, assembléias, contratos e outros registros financeiros indicam “ações delineadas e orquestradas a pretexto de desenvolvimento de atividade acadêmica”, mas que tinham o único intuito “captar recursos que desapareceram”.
Sem poder avançar na apuração do núcleo político, além do que já foi descoberto, evitando assim que o processo seja enviado prematuramente ao STF, os investigadores dissecaram a ação de seus operadores. Quem capitaneou o esquema foi o advogado Marcio André Mendes Costa, responsável por criar o grupo Galileo e montar a engenharia para drenar recursos dos fundos de pensão – tudo feito com aparência de legalidade e auxílio de conhecidos executivos do mercado financeiro. Em pouco tempo, Mendes Costa conseguiu acessar os cofres do Postalis e da Petros, assumiu o controle da Universidade Gama Filho e da UniverCidade, instituições tradicionais do Rio de Janeiro.
EX-CONSELHEIRO DA OAB
Toda essa influência não surgiu do nada. Ex-conselheiro da OAB-RJ, o advogado circula com desenvoltura no meio político. Advoga para Furnas e trabalha há anos para a família do ex-senador Wellington Salgado, do PMDB mineiro, antigo aliado de Renan Calheiros. Também é parceiro do peemedebista Hélio Costa. Foi o ex-ministro das Comunicações quem indicou Adilson Florêncio da Costa como diretor financeiro da Postalis.
Ao sair, Florêncio da Costa deixou em seu lugar Ricardo Oliveira Azevedo, outro apadrinhado de Renan. Azevedo levou ao comitê financeiro do fundo, em abril de 2011, a proposta de investimento no grupo Galileo. Em seu relatório, ele avalizou o projeto e o negócio acabou aprovado por todos os integrantes. Uma vez concluído o negócio, Florêncio da Costa tornou-se conselheiro da Galileo. Aqui está o que a Polícia Federal definiu como aprovação por influência política, sem critério técnico.
O dinheiro do Postalis, cerca de R$ 80 milhões, foi usado para adquirir 75% do total de debêntures emitidas pelo grupo. O restante foi comprado pela Petros e pelo Banco Mercantil do Brasil, responsável por estruturar a operação. Segundo depoimentos, dentro do banco o negócio foi encaminhado pelo irmão de Mendes Costa, Marcus Vinícius, acionista minoritário do BMB.

21 de junho de 2015
Claudio Dantas Sequeira
IstoÉ

HEIDEGGER E O PROJETO BRASIL: "SÓ UM DEUS NOS PODERÁ SALVAR".



01
A adoção pela administração Dilma Rousseff de um ajuste fiscal e econômico de claro viés neoliberal, que o alinha aos interesses das grandes corporações multinacionais, aos rentistas nacionais, aos fundos de pensão, aos bancos privados e a outros entes financeiros, instaura uma inflexão perigosa para o futuro político de nosso país.
A alternativa que se impunha, tendo apoiadores de ambos os lados, era: ou continuamos com a vontade de reinventar o Brasil, com um projeto sobre bases novas, sustentado por nossa cultura, nossas riquezas naturais, ou nos submetemos à lógica imperial que nos quer como sócios incorporados e subalternos, numa espécie de recolonização, obrigando-nos a ser apenas fornecedores dos produtos in natura que eles não possuem e de que precisam urgentemente.
O primeiro realizaria o sonho maior dos que pensaram um Brasil verdadeiramente independente. O segundo se rende resignadamente ao mais forte, aceitando a lógica hegeliana do senhor e do servo, mas que confere imensas vantagens às classes tradicionalmente beneficiadas e que deram as costas às grandes maiorias, entregues a sua própria pobreza e miséria.
Até agora predominou a segunda alternativa. Com a vitória democrática dos que vinham de baixo, do PT e aliados, se poderia esperar a retomada do sonho de outro Brasil com as transformações que estariam implícitas: reformas política, tributária, agrária, urbana e ambientalista. Mas nada disso aconteceu.
DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
Houve, é verdade, e importa reconhecê-lo, uma política de distribuição de renda, o aumento dos salários, as políticas sociais que diretamente beneficiaram 36 milhões de pessoas que estavam à margem. Mas um projeto de desenvolvimento feito na base do consumo, e não da produção, tinha que alcançar seus limites e, por fim, se esgotar. Foi o que, infelizmente, ocorreu. Em todo o caso, a história, que não é linear nem costuma se repetir, não deu o salto necessário para o novo e o inaudito viáveis.
Agora, estamos atolados numa megacrise que alguns acreditam ser a maior de nossa história, perplexos e com soluções que dificilmente garantem um futuro bom para a maioria dos brasileiros. Será que seremos, novamente, obrigados a repetir o que não deu certo no passado e que agora se mostra não dar certo nem mesmo nos países que gestaram o atual sistema de produção, distribuição e consumo, com sua relação depredadora da natureza? O paradigma da modernidade se esgotou.
CONSELHO DE KEYNES
Há um temor bastante generalizado que consiste no fato de que sejamos forçados a seguir o estranho conselho dado pelo tão louvado Lord Keynes para sair da grande depressão dos anos 30 do século passado: “Durante, pelo menos, cem anos, devemos simular diante de nós mesmos e diante de cada um que o belo é sujo e o sujo é belo, porque o sujo é útil, e o belo não o é. (…) Depois virá o retorno a alguns dos princípios mais seguros e certos da religião e da virtude tradicional: que a avareza é um vício, que a exação da usura é um crime e que o amor ao dinheiro é detestável”.
Algo parecido pensam os responsáveis pela crise de 2008, pois continuam propalando que a avareza é boa. Para quem? Não para os milhões de famintos, desempregados e marginalizados ou excluídos do atual sistema.
Creio que cabe a frase de Martin Heidegger publicada post-mortem com referência ao destino de nossa civilização, que esqueceu o ser (o fundamento último que confere sentido às coisas) e se perdeu nos entes (o sentido imediato e consumível): “Somente um Deus nos poderá salvar”.

21 de junho de 2015
Leonardo Boff
O Tempo

UMA PÁTRIA EDUCADORA É FEITA DE CIDADES EDUCADORAS



Faz quase seis meses que a presidente Dilma lançou o lema, mas até hoje não definiu como seria a pátria educadora nem o que seu governo fará para construí-la. Por falta de definição da presidente ou dos marqueteiros que criaram o lema, devemos imaginar como seria a pátria educadora e o que fazer para construí-la.
A condição fundamental, óbvia, é ter todas as crianças em escolas com a máxima qualidade, o que exige: professores muito bem-preparados, escolhidos entre os melhores jovens da sociedade; para isso, eles precisam estar entre os profissionais muito bem-remunerados, todos bem selecionados e avaliados permanentemente; os prédios das escolas entre os mais bonitos, limpos e confortáveis, com os mais modernos equipamentos de tecnologia da informação, bibliotecas, ginásios poliesportivos e facilidades culturais; todas as crianças em horário integral, durante os 220 dias de aulas por ano, sem paralisações.
Quando todas as cidades forem assim, a pátria educadora não terá analfabetismo de adultos, e todos os seus jovens concluirão, na idade certa, o ensino médio, com a qualidade ofertada nos países mais educados do mundo. Para isso, a pátria educadora precisará ter todas as suas cidades educadoras.
ESCOLA POR ESCOLA
A pátria educadora só pode ser construída escola por escola, cidade por cidade, mas cada uma necessita de esforço nacional para apoiá-la. Para fazer suas cidades educadoras, o Brasil precisa adotar a educação de suas crianças, independentemente da cidade onde vivem e estudam.
Isso não será possível cortando recursos do Ministério da Educação nem prometendo os simbólicos 10% do PIB ou os royalties de um pretenso pré-sal de tamanho insuficiente para as necessidades da educação brasileira. Muito menos deixando a tarefa de construir a pátria educadora para as pobres e desiguais prefeituras do Brasil. Deixar a educação nas mãos das cidades é manter as escolas sem os recursos humanos, financeiros e técnicos necessários e também continuar com nossas crianças em escolas desiguais, conforme a renda dos pais e o orçamento da cidade onde vivem educação desagregada
UM NOVO SISTEMA
A simples evolução do atual e degradado sistema escolar municipal não vai permitir construir a pátria educadora; o Brasil precisa implantar um novo sistema educacional, substituindo as atuais escolas num processo ao longo de anos. Uma cidade educadora custa R$ 10 mil por aluno por ano; para atender 51,7 milhões de alunos em 2035, seriam necessários R$ 517 bilhões. Se o PIB e a receita do setor público crescerem a uma taxa de apenas 2% ao ano, em 2035 o Brasil vai precisar de 6,2% do PIB para transformar o atual sistema da pátria deseducadora no novo sistema federal da pátria educadora; ou seja, 0,5 ponto percentual acima dos 5,7% do PIB gastos atualmente, metade dos 10% determinados pela lei do PNE.
Isso só será possível com a união de todos os brasileiros assumindo a responsabilidade pela educação de todas as crianças do Brasil, não importa a receita fiscal nem a vontade do prefeito da cidade onde elas vivam.

21 de junho de 2015
Cristovam Buarque
O Tempo