"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 23 de março de 2014

MEUS PARABÉNS, DILMA! NÃO FOI SÓ PASADENA.

No Japão já foram mais de US$ 200 milhões pro ralo (ou pro seu bolso)!
Como roubam os petralhas! Ou será que alguém acredita mesmo que neguinho fez negócio sem ler, pelo menos o que ia ganhar de comissão nas paradas?

Do Globo de hoje:

Além da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), a Petrobras fechou outro polêmico negócio com os japoneses. A refinaria Nansei, em Okinawa, foi comprada em abril de 2008 por US$ 71 milhões, mas a estatal já gastou o triplo desse valor para resolver problemas ambientais e fazer melhorias operacionais na unidade, que é antiga e processa 100 mil barris diários. Segundo uma fonte, a companhia teria investido mais de US$ 200 milhões na refinaria desde a aquisição.

O negócio foi fechado na gestão de José Sérgio Gabrielli e dos então diretores de Abastecimento Paulo Roberto Costa (preso pela Polícia Federal na por suspeita de lavagem de dinheiro) e de Internacional Nestor Cerveró, que foi exonerado da BR Distribuidora na sexta-feira, após a presidente Dilma Rousseff ter revelado que aprovou a compra de Pasadena com base em documento de sua autoria que não contemplava cláusulas controversas. Entre elas a “put option”, que prevê que o sócio compre a parte do outro em caso de divergência.

A Petrobras tentou vender a refinaria do Japão nos últimos anos. Uma das últimas ofertas teria sido de US$ 150 milhões, e a estatal não aceitou. Hoje, a refinaria opera com carga mínima. Segundo a fonte, o Japão não tem interesse em comprá-la. Procurada, a Petrobras não comentou.

Em nota divulgada ontem, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República confirmou que no resumo executivo elaborado pela diretoria Internacional da Petrobras, e apresentado ao Conselho de Administração da empresa, continha a “existência de cláusulas contratuais que materializavam a Put Option”, no caso da refinaria Nansei, como revelado ontem pelo “Estado de S. Paulo".

O governo afirmou que a aquisição era um bom negócio, pois a unidade tinha um grande terminal de petróleo e derivados.
 
23 de março de 2014

JANDIRA FEGHALI, COMUNISTA, FALA EM LIBERDADE E DEMOCRACIA PARA PEDIR CENSURA AO SBT

PT e censura II: PCdoB quer suspender verba estatal para o SBT por declarações de Sheherazade


Segundo o site Congresso em Foco, o PT e o PCdoB (cachorrinho de estimação do primeiro) estão tentando executar outra instância de “soft censorship” contra o SBT.  O discurso é a mesma farofa de sempre: rancor absoluto pela âncora Rachel Sheherazade por ela ter achado compreensível a reação do cidadão civil contra criminosos.

Alguns pontos da matéria são bastante pertinentes, como este abaixo:

O governo federal estuda suspender a verba publicitária que repassa à terceira maior emissora de TV do país, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). O caso é examinado pela equipe do ministro Thomas Traumann, da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, a pedido da líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ).

Esta é a confissão do crime: ameaça de retirada de verba publicitária (dinheiro público, diga-se, de passagem, para quem não percebeu) para forçar com que emissoras de TV e jornais deixem de publicar conteúdo que os desagrade. Não há como negar mais. Oficialmente, os amigos do PT reconhecem a prática de censura, ou, ao menos, sua ameaça. O que já é uma forma de coagir a imprensa livre.

A deputada acusa a emissora de ter praticado apologia e incitação ao crime, à tortura e ao linchamento ao exibir comentários da apresentadora Rachel Sheherazade que, segundo a parlamentar, exaltavam a ação de chamados “justiceiros” no Rio de Janeiro contra um jovem de 16 anos, acusado de furto. “A Secom me deu um primeiro retorno dizendo que concorda com o conteúdo do nosso pedido e que estuda quais providências tomar”, disse Jandira Feghali ao Congresso em Foco.

Como de costume, Jandira Feghali pratica difamações e denunciações caluniosas, usando o mesmo recurso do PSOL (o que prova o alinhamento entre o PT e o PSOL). Isso não é novidade alguma. O importante é ela afirmar que o Secom (parte do aparelho petista) concordou com esse tipo de estratégia.

Em 2012, o SBT recebeu R$ 153,5 milhões em publicidade de verba publicitária do governo federal. Ficou atrás apenas da Globo (R$ 495 milhões) e da Record (R$ 174 milhões). O valor destinado à TV de Silvio Santos corresponde a 13,64% do bolo publicitário das emissoras. “Como o governo pode subsidiar um canal que tem uma editorialista que incita à violência e à justiça com as próprias mãos?”, questiona Jandira Feghali.

O que Jandira quer dizer é o seguinte: aquele que disser qualquer opinião que desagrade os criminosos violentos deve parar de receber dinheiro estatal. Alias, já passou do momento de tentarmos entender qual o motivo pelo qual apoiar os criminosos violentos é tão vital para PT, PCdoB e PSOL.

A explicação é simples até demais. O fato é que o apoio ao criminoso violento é apenas uma crença de suporte para ajudar a manter enraizada no sistema límbico profundo de uma boa parte da opinião pública a noção de que o criminoso violento é sempre uma “vítima” da sociedade. Portanto, a sociedade deve financiar inchaços estatais, que seguirão dando a promessa de “corrigir a sociedade”. Assim, a crença que leva a sustentação do apoio ao criminoso violento, criada pela esquerda, é sustentáculo para um baita de um negócio.

Em síntese: apoiar criminosos violentos ajuda a manter um grande negócio (inchar o estado). E para manter esse negócio em alta, basta usar o próprio estado inchado para promover censura contra aqueles que ataquem esse sustentáculo. Simples assim.

A líder do PCdoB na Câmara trabalha em duas frentes contra o SBT. Além do ofício enviado diretamente à Secom, no dia 20 de fevereiro, ela também apresentou um requerimento à Procuradoria-Geral da República (PGR) em que pede a abertura de inquérito contra a TV e Rachel Sheherazade e o corte da verba enquanto durarem as investigações. Como mostrou o Congresso em Foco, em caso de condenação, Jandira solicita que o SBT perca até o direito à concessão pública. Caberá ao procurador-geral, Rodrigo Janot, dar andamento ou não aos pedidos.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=1H_ajcpO71Q

 

É claro que o SBT não vai perder concessão pública. E dificilmente perderá a verba federal. Tudo iria ficar muito ridículo e acintoso. O que importa é a propaganda gerada.  Neste sentido, a principal técnica usada pelos governistas e seus aliados é o método de influência chamado “porta na cara”, onde se pede uma proposta acintosa, para que posteriormente o senso comum aceite como normal propostas de menor escala.

E falando em propaganda, até mesmo a abertura de inquérito já é uma instância da tradicional guerra de processos, onde o lançamento de um processo, por si só, já serve como propaganda para a causa. Mesmo que não dê em nada.

Em artigo publicado em 11 de fevereiro, na Folha de S. Paulo, a apresentadora diz que apenas expressou sua opinião e que não defendeu os chamados “justiceiros”. “Em meu espaço de opinião no jornal SBT Brasil, afirmei compreender (e não aceitar, que fique bem claro!) a atitude desesperada dos justiceiros do Rio”, escreveu Rachel. Em nota divulgada à época, o SBT alegou que a opinião da apresentadora era de responsabilidade dela, e não da emissora.

Jandira não concorda. Para ela, como concessão pública, a TV tem total responsabilidade em relação ao que leva ao ar. “A emissora vai ter de assumir. Não estamos provocando a Rachel Sheherazade, é o SBT que está em questão. Não é uma questão dela especificamente, mas dela vinculada ao canal. A gente espera que isso sirva de parâmetro para outras TVs”, disse a deputada.

Em 2000, o SBT chegou a ficar com 20% do “bolo” publicitário do governo entre as emissoras de TV. Naquele ano, ainda na gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a emissora recebeu R$ 135 milhões para divulgar ações do governo federal. Na época, era vice-líder de audiência, posto que perdeu, de lá para cá, para a Record, de Edir Macedo.

Note que Jandira disse que a ação deve “servir de parâmetro” para as outras TVs. Isto é, ela diz que nenhuma expressão de repreensão ao criminoso violento, ou até mesmo a compreensão da dura situação das vítimas do crime, será tolerada.

O recurso da extrema-esquerda é tradicional: lançar a ameaça não contra Rachel Sheherazade, mas contra o contratante dela. O intuito é tentar forçar sua demissão. Outro objetivo é lançar uma mensagem clara ao SBT, dizendo que opiniões que desagradam a extrema-esquerda não serão toleradas.

Enfim, existem vários métodos para a guerra política que defendo como úteis para a direita: a arte da guerra política, de Horowitz, a contra-estratégia gramsciana, as regras para radicais (de Saul Alinsky) e o controle de frame lakoffiano. Nada menos que um combo. Mas também uso um método pouco tradicional: o template neo-ateu. (Usar este template significa usar a mesma assertividade que autores como Richard Dawkins e Sam Harris usam contra a religião, mas agora contra a religião política, ou seja, o esquerdismo)

Por exemplo: imagine que um grupo religioso decidisse banir da televisão um comediante por este criticar a crença em Deus. Como reagiriam os neo-ateus? Será que eles ficariam apenas tristes? Se limitariam a resmungar, conformados? Será que diriam “ó ceus, ó vida, que censura ruim”? Ou será que eles denunciariam em público (e em larga escala), nos termos mais fortes possíveis, o quanto é nociva a crença do oponente por tentarem censurar o seu lado?

Com certeza, eles tentariam essa última opção, pois capitalizariam em cima da tentativa de censura do outro lado. É o momento da direita fazer exatamente o mesmo com os cães de guarda do PT. Eu não sou otimista como o Percival Puggina no vídeo abaixo, mas com certeza devemos agir nas redes sociais como um exército, nos moldes do que ele afirma. Assista: 

http://www.youtube.com/watch?v=rRWzlySlUQc&feature=player_embedded
 

É imperativo criarmos uma consciência pública mostrando o quanto é abjeto o comportamento da extrema-esquerda na tentativa de censurar seus opositores apenas por nós discordarmos de ideias tão torpes quanto a apologia de criminosos. A reação à tentativa de aplicação do “soft censorship” contra o SBT deve ser tratada de forma assertiva, no mesmo nível que tratamos casos de pedofilia e crises de tomada de reféns.

Ademais, também podemos aprender com Gene Sharp. Uma das formas com que devemos tratar a situação é o lançamento de uma campanha de larga escala propondo boicote aos anunciantes do SBT caso eles cedam ao jogo governista. Se os esquerdistas querem atacar Rachel ameaçando o SBT podemos ameaçar os anunciantes do SBT caso a emissora resolva ceder às suas ameaças.

Enfim, se não formos capaz de expor eficientemente mais essa baixeza governista, eles vencerão.
 
23 de março de 2014

A MENSAGEM DO ANDRÉ

"Por trás do véu de Isis"?
Janer, este é o título de um livro da H. Blavatski, uma das maiores fraudes deste mundo.
O título em inglês é "Isis Unveiled" Afirmava ter recebido poderes mágicos e conhecimentos místicos de mestres tibetanos que chegavam até ela durante meditação e portanto ser capaz de mediunidade, psicocinese, telepatia, etc .
Nem criatividade para um livro original estes charlatães possuem. Não sabiam como chamar o livro, sabiam que pouca gente aqui ouviu falar em Blavatski, então resolveram colocar este título.

Grato, André. Tenho referências da Blavatski, mas não li nada dela.

23 de março de 2014
janer cristaldo

A FARSA DA PSICOGRAFIA

Me escreve Emerson Schmidt:

Caro Janer

Tudo bem? Na verdade a coisa é pior do que parece, especialmente quando se leva em consideração a publicação do livro Por trás do véu de Ísis - Uma investigação sobre a comunicação entre vivos e mortos, de Marcel Souto Maior em 2004 e o que ele revela sobre a metodologia psicográfica do Baccelli. No site obraspsicografadas se comenta sobre este médium usando-se trechos de um capítulo do livro cujo título é "Conta tudo pro médium" onde é possível se ler a que nível este embuste em particular chegou:

"É ali, atrás de uma mesa de madeira, que Baccelli atende os candidatos a receber uma mensagem do além. Estes encontros se sucedem a partir das cinco da manhã, uma hora e meia antes do início da psicografia. Durante as conversas, quase sempre ligeiras, Baccelli pede mais detalhes aos visitantes sobre seus entes queridos e as circunstâncias da morte. Informações como nomes de avôs e avós são anotadas por ele, muitas vezes, em pequenos pedaços de papel, levados mais tarde até a mesa do salão principal, o palco da psicografia. Quem organiza a fila é um carteiro aposentado de Uberaba, o seu Paulo, sempre simpático e dedicado. Ele se posiciona em frente à porta da saleta, que se fecha assim que cada visitante entra.

Neste sábado, ele está preocupado com a família que veio de carro de Florianópolis em busca de uma mensagem do filho morto. Foram dezenove horas de viagem. O pai do jovem está na fila e recebe instruções solidárias do seu Paulo: — Capricha, hein? Conta tudo pro médium pra você receber sua mensagem. O pai entra sozinho na saleta e, para alivio do seu Paulo, fica quase três minutos lá dentro. — Este deve receber a cartinha — prevê o ex-carteiro, agora encarregado da correspondência entre vivos e mortos. O seu Paulo quase nunca erra. ...". Certamente que quase nunca erra. O mesmo se pode dizer de Valdomiro e as dezenas de milagres feitos diariamente na sua da Igreja Mundial do Poder de Deus. Ambos conhecem profundamente seus respectivos rebanhos...

No fim do mesmo capítulo, o autor do livro questiona o médium sobre o excesso de detalhes pesquisados nas entrevistas feitas com os interessados em receber alguma mensagem:

"— Por que o senhor… digamos… “entrevista”, antes da sessão, os visitantes que vêm aqui em busca de mensagens? Por que são necessárias tantas informações?

Baccelli tem uma resposta pronta:

— O trabalho de psicografia não é só dos espíritos. É do médium também. O médium é parte integrante da equipe espiritual e deve ser o guardião da autenticidade de cada mensagem.

A coleta de informações antes da sessão teria, segundo o médium, as seguintes funções: facilitar a sintonia com os espíritos e preservar o trabalho de qualquer “fraude maledicente”.

— Este, Baccelli, é um cenário de dor, fé, esperança e de desconfiança também. Muitos pais duvidam da autenticidade das mensagens quando encontram, nas cartas destinadas a eles, dados já revelados ao senhor — argumento. Baccelli reage com calma:

— Este não é um problema meu. Não cabe ao médium duvidar. As pessoas duvidam até da existência de Deus, apesar de estarem diante da maior evidência de todas: a criação do mundo.

A resposta se prolonga:

— Normalmente as pessoas não querem apenas uma simples mensagem. Elas estão aqui porque querem o filho de volta, e isto as mensagens não conseguem fazer. Cada mensagem é de conforto, de esclarecimento, mas não é de convicção para aquele que não quer crer. A fé é uma conquista individual. Nós não nascemos com fé. A fé, como a paciência, como tudo, é uma conquista. A mensagem é um material de reflexão.

A conversa se encerra com uma citação de Paulo de Tarso:

— A profecia não é para os que duvidam, é para os que crêem — diz Baccelli.

Quando informações como essas estão publicadas até na net e, mesmo assim tal carta ainda foi aceita no processo judicial sem maiores questionamentos, é melhor se pensar se não seria o caso de se contabilizar despesas mediúnicas quando surgirem certos problemas legais que levem aos tribunais. É até mesmo estranho que alguém ainda não tenha reformulado algum curso de direito e dado a opção do estudante se especializar como advogado-médium ou então se formar nesta nova profissão. Talvez os espíritos estejam apenas esperando que a idéia seja mais aceita para então sugerirem isso a algum médium...

Até mais.

Emerson.

N.B.: O livro citado está disponibilizado na net. É só digitar no google "Por trás do véu de Ísis" que o pdf para baixar aparece
www.damasceno.info/damasceno/MeuSite/Espiritual/veudeisis.pdf

23 de março de 2014
janer cristaldo

EMBUSTE ABSOLVE ASSASSINO

Leio no Estadão:

Acusado de matar bicheiro usa carta psicografada da vítima e é absolvido. Julgamento inocentou réu que está foragido desde que ocorreu o crime, há mais de 20 anos em Uberaba (MG)

A farsa se repete. Comentei-a há sete anos. Diz o jornal:
Uma carta psicografada foi usada durante o julgamento de um processo de homicídio, em Uberaba (MG), nesta quinta-feira, 20. Para provar sua inocência, a defesa do réu, Juarez Guide da Veiga, usou trechos do que teria dito a vítima, João Eurípedes Rosa, o "Joãozinho Bicheiro", como era conhecido, através de um médium. Na correspondência pós-morte, a vítima diz ter dado motivo para o crime ao agir com ódio e ignorância quando viu a ex-companheira junto de Juarez.

O crime ocorreu há quase 22 anos e a mulher envolvida no triângulo amoroso também foi beneficiada com o veredicto, pois inicialmente, segundo o Ministério Público, teria tramado a morte do marido em companhia do réu para ficar com a herança. Na mensagem psicografada, o morto a defende de qualquer participação e pede que cuide dos dois filhos do casal.

Em um dos trechos da carta ele diz: "Você tem uma vida inteira pela frente e muito o que fazer para criar e educar os nossos filhos". Em outro ponto, o bicheiro assume a culpa pela própria morte. "Eu estava dominado pelo ciúme e completamente à mercê do meu próprio despreparo espiritual."

É espantoso que a justiça brasileira aceite tais embustes para absolver um criminoso. É mais uma das jaboticabas nossas. Tivesse tal decisão validade, deveria ser capitulada como crime a descrença de uma existência no Além.


Ocorre que os fatos ocorreram em Uberaba, conhecida por ser a terra de Chico Xavier, médium mais famoso do País. Não aceitar o testemunho do finado seria uma afronta à memória do monumento nacional do município. As mensagens citadas no processo somam 17 páginas e foram psicografadas por Carlos Baccelli um ano após a morte do bicheiro. Baccelli é dentista por profissão, mas também é médium e autor de mais de 100 livros, alguns deles escritos em parceria com Chico Xavier.

Antes, para absolver um criminoso notório, bastava encontrar um juiz bom e barato. Hoje, serve um médium, que provavelmente nem cobrará nada para fornecer o testemunho emitido no Além. Juiz, advogado de defesa, e até mesmo o de acusação, se dobraram à crendice vigente na cidade. O promotor Raphael Soares Moreira Cesar Borba, representante da acusação, não comentou a sentença, mas assim que quatro dos sete jurados votaram a favor do réu, reconheceu a tese de legítima defesa e pediu a absolvição.

Nunca convivi com espíritas. Só fui ver um há dez anos. Quando morre alguém perto da gente, de onde mal se suspeita sempre salta um espírita vendendo suas muletas metafísicas. Minha mulher morrera há mais de mês e eu conversava com amigos comuns. Em dado momento, uma moça atalhou: “Eu conversei ontem com ela”. Nessas ocasiões, tomo uma atitude de crédulo. Se a moça afirmava com tanta convicção ter conversado com minha mulher, não seria eu quem iria contestá-la. Perguntei apenas o que ela havia dito. Ela deixou uma mensagem, disse a moça: “seja feliz”.

O que me lembrou a aparição de Maria aos três pastores em Fátima. Quando interrogada sobre quem era, teria dito a Virgem: “Eu sou a Nossa Senhora”. Ora, sendo Maria mais que santa, semideusa, não é de supor-se que tivesse domínio tão precário do português. Se se dirigia aos três pastores, o correto seria: “Eu sou a Vossa Senhora”. Por um descuido sintático do narrador, o milagre ficou prejudicado.

Da mesma forma, a mensagem de minha companheira. Éramos gaúchos. Depois de passarmos por Curitiba e São Paulo, ela passou a usar o você, mas apenas ao tratar com curitibanos e paulistanos. Jamais me trataria por você. Como a comunicação de Maria, a de minha mulher também ficou sob suspeita. Mas não neguei o testemunho da moça. Aproveitei o ensejo para pedir-lhe que, quando falasse de novo com ela, pedisse o código do celular, que eu havia ficado sem.

A moça entrou em pane, achava que não ia dar, códigos são coisas confidenciais, começou a perguntar que horas são e logo deu as de Vila Diogo. Contei a história mais tarde a professores universitários e um deles, também espírita, prometeu-me perguntar às instâncias do Além sobre o código do celular. Mas me alertou que o médium teria de ser muito poderoso para descobri-lo. Bem entendido, nunca mais me falou no assunto. Nem eu precisava do código, afinal sempre o tive e queria apenas divertir-me com a capacidade comunicativa dos tais de médiuns.

Talvez código de celular seja matéria de pouca monta. Assuntos de mais gravidade, como a absolvição de um crime, têm imediata atenção do Além. Em 2006, aconteceu não na terra do Chico Xavier, mas em Viamão, RS. Uma mulher de 63 anos, acusada de matar um tabelião, com dois tiros na cabeça, foi inocentada, por 5 votos a 2, da acusação de mandante de homicídio.

Inocentada por quê? Porque uma carta psicografada da vítima declarava: "O que mais me pesa no coração é ver a Iara acusada desse jeito, por mentes ardilosas como as dos meus algozes (...). Um abraço fraterno do Ercy", leu o advogado de defesa, ouvido atentamente pelos sete jurados.

Vamos ao que disse a Folha de São Paulo, na época, sobre o fato:

Não consta das cartas, psicografadas pelo médium Jorge José Santa Maria, da Sociedade Beneficente Espírita Amor e Luz, a suposta real autoria do assassinato. O marido da ré, Alcides Chaves Barcelos, era amigo da vítima. A ele foi endereçada uma das cartas. A outra foi para a própria ré. Foi o marido quem buscou ajuda na sessão espírita. O advogado, que disse ter estudado a teoria espírita para a defesa (ele não professa a religião), define as cartas como "ponto de desequilíbrio do julgamento", atribuindo a elas valor fundamental para a absolvição. (...) Os jurados não fundamentam seus votos, o que dificulta uma avaliação sobre a influência dos textos na absolvição. Os documentos foram aceitos porque foram apresentados em tempo legal e a acusação não pediu a impugnação deles.

Curvem-se as nações mais uma vez ante este colosso, o Brasil. Glória ao Rio Grande do Sul, este Estado pioneiro em matéria de ciência jurídica. Viamão über alles. Que sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra, como diz o hino rio-grandense. Esta extraordinária inovação do tribunal do júri, verdadeiro ovo de Colombo ainda não intuído pelos sistemas judiciários dos demais países, dirime definitivamente quaisquer dúvidas que possam pairar sobre os veredictos dos jurados. Quem com mais autoridade para inocentar um réu senão a vítima? Está morta, é verdade.

Mas se os espíritas consideram ser possível falar com os mortos, em nome do sagrado respeito a todas as profissões de fé, não seremos nós, ateus empedernidos, que contestaremos tal crença. Só nos resta esperar que este novo recurso jurídico se integre definitivamente ao Direito Processual e seja mais e mais utilizado pelos nossos tribunais. Como também que a profissão de médium seja logo regulamentada.


23 de março de 2014
janer cristaldo

DUAS LEITURAS RECOMENDADAS PARA SEUS FILHOS

Vídeo no qual recomendo dois livros que servem como antídoto contra a lavagem cerebral marxista que nossos filhos sofrem nas escolas.

http://www.youtube.com/watch?v=jIZbewKHzPk&feature=player_embedded

23 de março de 2014
Rodrigo Constantino

SEXO E COMIDA: OS PAPÉIS SE INVERTERAM NAS ÚLTIMAS DÉCADAS?


Já escrevi aqui uma resenha do instigante livro Adam and Eve After the Pill, de Mary Eberstadt, que trata do lado negro da revolução sexual. Agora pretendo focar apenas em um capítulo interessante, onde a autora traça um paralelo entre sexo e comida, argumentando que seus papeis se inverteram completamente nas últimas décadas.
 
De certa maneira, sexo e comida guardam algumas similaridades. Ambos foram sempre alvo de regulações formais ou informais nas diferentes sociedades. Até usamos o verbo “comer” para falar do ato sexual. As religiões deram importância à comida, mas Eberstadt argumenta que nunca antes na história da humanidade ela foi um fim em si, uma espécie de substituta das próprias religiões, como é hoje.
 
Eberstadt coloca a seguinte questão: o que acontece quando, pela primeira vez na história nas nações desenvolvidas, os adultos são livres para desfrutar de todo o sexo e toda a comida que quiserem? A resposta, argumenta, é que costumam adotar posturas bem diferentes, que sinalizam uma alimentação consciente e sexo sem restrição ou sentido. Isso principalmente entre as pessoas mais “sofisticadas” da elite.
 
Nos últimos 60 anos os pólos eram exatamente opostos. A autora utiliza um exemplo hipotético de uma avó nos anos 1950 e sua neta no presente, ambas com 30 anos. A avó não dava muita importância à alimentação, ao menos não da forma que sua neta dá hoje. Por outro lado, o sexo era algo muito sério para ela.
 
Em outras palavras, o sexo era visto pela avó como parte de um código moral, e seu imperativo categórico kantiano era extrapolar o que via como um comportamento sexual correto aos demais, universalizando o conceito de certo ou errado do ponto de vista sexual. Havia todo um estigma em quem saísse dessas regras. Nada parecido existia em relação à comida.
 
Já a neta adota visão contrária: seu imperativo categórico kantiano é voltado para a alimentação, onde há um código moral que separa o certo e o errado, enquanto o sexo é visto como pura questão de gosto e preferência pessoal. Ninguém tem nada com a vida sexual alheia, mas muitos demonstram ojeriza diante de pessoas que não adotam um estilo “correto” de alimentação.
 
Um escrutínio maior e crescente existe sobre aquilo que ingerimos por nossas bocas. Surgiu algo inusitado: um código moral universal sobre escolhas alimentares. Verdadeiras seitas nasceram, como a dos veganos, por exemplo, garantindo uma sensação de superioridade moral àqueles que se alimentam “melhor”, de forma mais “saudável”, mais “consciente”.
 
Em qualquer lugar que você vai, para onde quer que você olhe, a comida se destaca, especialmente para os mais “sofisticados”. O chef de cozinha virou um popstar. Os alimentos orgânicos se tornaram uma obsessão. O repúdio ao “junk food” é total, análogo talvez ao que um depravado sexual despertava nas senhoras no passado. O vegetarianismo virou um dos movimentos morais seculares mais bem-sucedidos do Ocidente, estimulado por Peter Singer.
 
Em muitos aspectos, as diferenças sobre alimentação assumiram o lugar de diferenças cismáticas sobre a fé, capazes de rachar grupos e destruir amizades. Durante toda a história, ninguém devotou tanta atenção assim à questão da comida como uma ideia ou crença (ao contrário, por exemplo, do tempo dedicado para encontrá-la).
 
A tese da autora é que, observando o mundo atual, ficamos tentados a afirmar que quanto mais veementes as pessoas são sobre as escolhas alimentares, mais libertárias e desprendidas elas acreditam que o restante do mundo deveria ser sobre o sexo. A comida é o novo sexo.
 
Mas isso, se for verdade, levanta um paradoxo interessante: enquanto as pessoas dedicam cada vez mais atenção, ao menos na teoria, ao que comem, em nome da saúde física, elas acabam agindo de maneira cada vez mais indiscriminada e inconsciente quando se trata de sexo. O slogan “você é o que você come”, bastante popular atualmente, não encontra paralelo na questão sexual.
 
Se o “junk food” desperta aversão, o “junk sex” desperta cada vez mais indiferença ou até admiração. Se o vício antes era mais voltado para o descontrole do apetite sexual, hoje é voltado para o descontrole do apetite alimentar. Basta um teste para verificar isso: quando foi a última vez que o leitor usou a expressão “culpa”? Para se referir ao excesso de comida ou a algum ato sexual impensado?
 
Dráuzio Varela usa sua coluna na Folha com freqüência para alertar seus leitores do risco do tabaco e da má alimentação, prejudicial à saúde. Neste sábado mesmo fez isso, concluindo: “A menos que você tenha certeza de que ao despedir-se deste vale de lágrimas será recebido por um coro de anjos de cabelos encaracolados, não perca tempo: aumente a atividade física e reduza o número de calorias ingeridas. Você não precisa comer tanto”.
 
Só não esperem recomendações desse tipo quando o assunto for sexo. Ao contrário: o hedonismo, o total desprendimento, o abuso, o excesso, a libertinagem, o swing, até mesmo as orgias e bacanais não serão censurados, mas estimulados e incentivados como coisas modernas e progressistas, e quem discordar só pode ser carola, preconceituoso, reacionário, antiquado.
Para o bem ou para o mal, dependendo do ponto de vista, parece que a autora tocou em um ponto verdadeiro: o sexo de ontem é a comida de hoje, e a comida de ontem é o sexo de hoje.
 
23 de março de 2014
Rodrigo Constantino

DE CORPO E ALMA


A primeira entrevista mais longa para a televisão do ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo tribunal Federal, dada ao jornalista Roberto D'Ávila no seu programa de estreia na Globonews, é um depoimento revelador de como pensa e age um dos principais atores da atual cena pública brasileira. Ele não apenas anuncia formalmente que não será candidato a nada nas eleições deste ano, como faz questão de separar sua atuação da vida política, da qual diz preferir se manter alheio. Ocupando um dos principais gabinetes na Praça dos Três Poderes, ele se diz distante de "tudo o que se passa aqui (nessa Praça dos Três Poderes) que tenha caráter político".
Retira também do processo do mensalão, do qual foi relator e alvo das críticas dos petistas, qualquer caráter político na sua atuação, mas reconhece que ele trouxe "um desgaste muito grande, com uma carga política exagerada, um pouco turbinada pela mídia também". Ressalta que, por estratégia, tomou sempre as principais medidas ouvindo o plenário.

Certas penas não foram muito pesadas?, pergunta o entrevistador, e Barbosa rebate: "Ao contrário. Eu examino as penas aplicadas nesse processo e as comparo com as penas aplicadas aqui no STF pelas turmas, só que em casos de pessoas comuns, e (quem fizer a comparação) vai verificar que o Supremo chancela em habeas-corpus coisas muito mais pesadas".

Ele não atribui à transmissão pela TV das sessões um papel importante nas atuações dos ministros, e fala de sua própria experiência: "A televisão me incomodava muito nos primeiro meses, depois me acostumei e nem noto que há televisão". Durante toda a entrevista o ministro procurou colocar-se como uma pessoa diferente do que o pintam, tanto em relação à sua carreira quanto ao seu comportamento na vida pública.

"No Brasil a vida pública é quase um apedrejamento.

Acompanho a vida institucional de alguns países e noto uma diferença fundamental. Noto no Brasil um processo paulatino de erosão das instituições e esse apedrejamento parece fazer parte disso. Exercer a função pública no Brasil, na visão de muitos, tornou-se um anátema. As críticas são muito acerbas e às vezes infundadas, fruto de incompreensão de como funciona o Estado", comentou, denotando algum ressentimento.

A certa altura, comentando a descrição que fazem dele como uma criança pobre que teve que superar obstáculos para chegar onde chegou, Barbosa deixou clara sua posição: "Ao contrário do que dizem de mim por aí, penso que raras pessoas no Brasil, incluindo pobres e as vindas da elite, tiveram e souberam aproveitar as oportunidades que eu tive.

Não sinto isso como superação, as coisas foram acontecendo".

Mesmo assim, lamenta que "pouca gente olha o meu currículo, só vê a cor da pele". Ele diz que o racismo, que, confessa, já o fez chorar quando criança, "você sente sempre, mesmo quando ministro do STF". Citando Joaquim Nabuco, que disse que o Brasil levará séculos para se livrar da carga da escravidão, ele diz que seus traços "estão presentes nas coisas mais comezinhas, na repartição dos papéis na sociedade, aos negros posições mais baixas e salários menores".

Ele se diz uma exceção, mas ressalta que jamais deixa que sua presença no STF seja uma desculpa para o racismo brasileiro. Barbosa não acha que seja uma missão sua combater o racismo, mas espera que sua presença possa tirar a carga racial das escolhas para o Supremo. "Espero que os presidentes (daqui para frente) saibam escolher bem pessoas para cá, que escolham um negro com naturalidade".

O senhor não é às vezes muito rude?, perguntou Roberto D'Ávila a certa altura, e Barbosa foi incisivo: "Tem que ser, o Brasil é o país dos conchavos, do tapinha nas costas, o país onde tudo se resolve na base da amizade. Eu não suporto nada disso".

Ele rejeita a acusação de que fica brabo quando é vencido, mas admite que "às vezes" se arrepende de palavras mais duras, mas justifica: "Sou um companheiro inseparável da verdade. Não suporto essa coisa do sujeito ficar escolhendo palavrinhas para fazer algo inaceitável. E isso é da nossa cultura. 

27 de março de 2014
Merval Pereira, O Globo

ÁGUAS TURVAS

O negócio feito pela Petrobras com a empresa belga Astra Oil (aliás, dirigida por um ex-funcionário seu, como informa a imprensa) é inexplicável sob qualquer aspecto e para qualquer pessoa, com a exceção talvez da doce Polyana, que não vê maldade em nada, e da Velhinha de Taubaté, aquela parente do Luis Fernando Verissimo que é a única pessoa do país que acredita no que diz o governo.

Vamos lá: em 2006, a Petrobras – que não é nenhum boteco de venda de bananas e que deve ter um exército de advogados, analistas, técnicos, assessores e consultores de nível internacional – aceita pagar US$ 360 milhões por 50% de uma refinaria adquirida pelo vendedor (a tal empresa belga) por US$ 42 milhões menos de dois anos antes. Depois, é obrigada a comprar o restante da refinaria, pois havia duas cláusulas, uma de “put” (que qualquer estagiário sabe representar um direito/obrigação de comprar algo em uma data futura – no caso, o restante da refinaria) e que teria sido negligenciada pelo diretor internacional, Nestor Cerveró, no resumo que apresentou ao Conselho de Administração a respeito do negócio. Como consequência desse imbróglio todo, a Petrobras acabou perdendo um processo de arbitragem, ratificado por um juiz norte-americano e gastando mais de US$ 1 bilhão (é isso mesmo, do seu, do meu, do nosso dinheiro)!

Três perguntas apenas: o Conselho de Administração da Petrobras aprova o negócio baseado apenas em um resumo executivo do diretor internacional, Nestor Cerveró? Resumo, aliás, que era – segundo alega a então presidente do Conselho – tecnicamente falho e incompleto? O tal exército de advogados, analistas, assessores, técnicos e consultores não estudou o negócio antes que ele chegasse ao Conselho? Se estudou, a que conclusões chegou? Se achou que era um bom negócio, como se explicaria que, quando a Petrobras tentou se livrar da refinaria, vendendo-a, só recebeu uma proposta de US$ 180 milhões pela empresa toda? E, depois que saiu do Conselho e teve de ser materializado em contratos internacionais, ninguém se preocupou com as tais cláusulas antes que os mesmos fossem firmados?

Terceira: o tal Nestor Cerveró, que teria omitido da alta direção da empresa dois “detalhes” que vieram a lhe causar um prejuízo próximo de US$ 1 bilhão (e que com isso teria incorrido em grave falha por falta de exação no cumprimento de suas obrigações como diretor), sofreu alguma sanção? Denunciado à CVM? Processado? Preso por tão estranha omissão? Ou é verdade que, depois de feito o negócio, deixou a diretoria da Petrobras... para assumir a direção financeira da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, demonstrando que continuava a gozar da confiança da empresa e de seus dirigentes?

Devo ter entendido mal. Ou então... Tudo é tão estranho – ainda mais quando a Polícia Federal prende por suspeita de lavagem de dinheiro outro ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, que recebeu um Land Rover de um doleiro como “retribuição de serviços de consultoria” – que sinto no fundo de minha cabeça uma voz que martela em meu cérebro a frase que um querido amigo gosta de repetir: aceito qualquer coisa, menos que queiram me passar um atestado público de estupidez e burrice irrecuperáveis.

 
23 de março de 2014
Belmiro Valverde Jobim Castor, Gazeta do Povo, PR

A CPI NÃO PODE ESPERAR

Embora não tenha relação com a decisão que levou a Petrobrás a fazer o que há de ter sido o pior negócio de sua história - a compra da Refinaria de Pasadena, onde enterrou perto de US$ 1,2 bilhão -, a prisão do ex-diretor de Refino e Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa dá razão a todos quantos, no Congresso Nacional, defendem a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar, entre outras ocorrências obscuras na petroleira, a transação que pode ter acobertado ilícitos como superfaturamento e lavagem de dinheiro. Apesar da relutância do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à ideia, o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB ao Planalto, pretende pedir na próxima terça-feira a abertura de uma investigação a cargo de deputados e senadores, a chamada CPI mista.

Costa - que tinha enorme influência na Petrobrás na gestão José Sérgio Gabrielli - foi um dos redatores do contrato em que a empresa se atolou, e ainda ajudou o então diretor da sua área internacional, Nestor Cerveró, a produzir o resumo executivo, "técnica e juridicamente falho", como diz agora a presidente Dilma Rousseff, no qual se teria baseado, quando encabeçava o Conselho de Administração da estatal, em 2006, para autorizá-la a investir em Pasadena. Ao lado de Gabrielli, da sua sucessora Graça Foster e de Cerveró, Costa foi intimado a depor no inquérito em curso desde o ano passado no Ministério Público Federal do Rio de Janeiro. Tamanha era a sua desenvoltura junto aos políticos que ele foi guindado ao primeiro escalão da Petrobrás, em 2004, com o apoio do PP e as bênçãos dos sobas peemedebistas José Sarney e Renan Calheiros.

Mas, passados seis anos, Costa foi incluído na lista de executivos dos quais Graça queria se livrar - e, a partir daí, como consultor e dono de empresa, parece ter mergulhado em águas ainda mais turvas do que aquelas em que teria nadado de braçada na estatal. Acabou enredado em um esquema de branqueamento de valores da ordem de R$ 10 bilhões, que operava em sete Estados e no Distrito Federal, desmanchado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), com a prisão de 24 suspeitos. Costa teve a prisão temporária decretada por um juiz federal do Paraná por suas lucrativas ligações com o megadoleiro Alberto Youssef, figura de primeira grandeza no caso Banestado (a remessa ilegal para o exterior de US$ 30 bilhões, ao longo dos anos 1990). Na moradia do ex-pezzonovante da Petrobrás, a polícia achou R$ 751 mil, US$ 181 mil e € 11 mil em dinheiro vivo.

O órgão suspeita que Costa mexia os seus pauzinhos para que a petroleira assinasse contratos milionários com uma certa Labogen Química, do setor de fármacos, cujo controlador oculto seria Youssef. "Pode-se estar diante de mais uma ferramenta para sangria dos cofres públicos", alerta a PF, aludindo a relatórios de inteligência segundo os quais a Labogen visa a "objetivos bem distintos de seu objeto social". Matéria-prima para uma investigação parlamentar há de sobra, portanto. O fato de ser este um ano eleitoral não deve adiar a sua eventual instalação para 2015. Possivelmente poderá dar dores de cabeça para os políticos que apadrinharam Costa e Nestor Cerveró - em relação a este, aliás, o senador petista Delcídio Amaral e o colega Renan Calheiros, do PMDB, travam uma animada disputa de "toma que o afilhado é teu".

Mas sustentar que a CPI teria o poder de prejudicar a candidatura Dilma, ainda que a oposição o queira, é um fraco pretexto. "Não acuso a presidente de improbidade", apressou-se a ressalvar o adversário Aécio Neves. "Ela é uma pessoa de bem." O seu problema, como se sabe, é outro: os autodestrutivos impulsos autoritários que, no caso, a levaram a dar "um tiro no pé", como o ex-presidente Lula teria avaliado, segundo a Folha de S.Paulo, a decisão de "trazer para dentro do Planalto" o imbróglio da refinaria. O veículo foi a nota com que a sucessora atribuiu o seu apoio à compra de 50% da instalação ao documento de Cerveró que omitia cláusulas críticas do contrato. Antes, ela rasgou o texto convenientemente anódino que lhe enviara a amiga Graça Foster para tirar Pasadena do mapa das atribulações da empresa. Pior para as duas.

 
23 de março de 2014
Editorial  O Estadão

A DERROTA, NA AÇÃO E NO PENSAMENTO

O que é um camponês? Num mundo comandado pela vida urbana, é pergunta que se tornou excêntrica. Todos nós, no entanto, intuímos sobre o seu significado, lembrando as famílias rurais "presas à natureza", seja pela pobreza extrema ou, então, por formas de dominação exercidas por terceiros.

No passado feudal, aristocratas subjugaram os camponeses para criar os "servos da gleba", mecanismo que garantia as provisões da corte. Foi expressão analisada por Raymond Williams, um culto marxista galês e um dos fundadores, nos anos 1960, dos chamados "estudos culturais" e da Nova Esquerda inglesa. O termo foi dissecado em seu pequeno livro Palavras-chave, publicado em 1976 e lançado entre nós longas três décadas depois. Na obra, camponês obedece à designação acima, mas o autor adverte que aquele sentido original havia "praticamente deixado de existir na Inglaterra no final do século 18".

As transformações produtivas substituíram-no por novas acepções relacionadas à expansão capitalista no campo. Antes uma classe cativa, transformou-se em outra, agora a dos trabalhadores livres. E assim desapareceram os camponeses como categoria de análise, o termo sendo então usado apenas como abuso verbal - "pessoas comuns, caipiras".

Se o significado de camponês e seu respectivo processo social são consagrados na literatura científica e na vida real, por que autoridades governamentais brasileiras vêm forçando um fantasioso discurso em torno da existência de "novos camponeses" no País? À luz do extraordinário desempenho da agropecuária no Brasil - em breve o maior produtor mundial de alimentos, superando os EUA -, por que esse surpreendente obscurantismo? Por que autoridades e seus muitos pesquisadores chapa-branca imaginariam existir a possibilidade de uma volta ao passado?

Sigamos: e "povos tradicionais" o que seriam? Essa é outra expressão da narrativa dominante em nossos dias, destinada a desenvolver uma interpretação que possa corresponder não às realidades agrárias, mas apenas à ideologia de grupos partidários incrustados no Estado. Existiriam povos tradicionais no Brasil, excetuadas as comunidades indígenas? Novamente há aqui a idealização romântica que lembraria as centenárias comunidades rurais europeias, portadoras de facetas culturais específicas - e tradicionais. Omite-se que o adensamento da tradição exige longo tempo histórico de interação humana para ser enraizado e se traduzir em costumes e hábitos próprios, concretizando a autoidentificação de determinado grupo social. A História brasileira, no entanto, é muito diferente: somos uma nação de migrantes, ziguezagueando continuamente entre as diversas regiões do País, sem chances históricas para constituir uma cultura distinta em regiões particulares. Por isso nossa matriz cultural é rasa, facilmente mutável e resistimos à estabilidade. A maioria dos brasileiros nem sequer mora no seu local de nascimento e, assim, como poderia ter ocorrido o desenvolvimento de tradições e, por conseguinte, a constituição de povos ditos tradicionais?

A lista prossegue: o que dizer de certa agroecologia, objeto de diversas chamadas públicas e editais do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do CNPq ou do Ministério do Desenvolvimento Social, nos quais nunca é oferecida a definição da palavra? Ou seja, recursos públicos distribuídos fartamente sem nem mesmo existir clareza alguma do que isso significaria em termos concretos. E a expressão agricultura familiar, que é hoje tão fortemente institucionalizada? Tem sido usada acriticamente. Sabem todos que a lei que a formalizou em 2006 sugere que os pequenos produtores não devem contratar assalariados e, adicionalmente, não ter outras fontes de renda que não as da atividade agrícola? Só então se credenciariam às políticas governamentais. Como justificar tamanha patranha? Por que pequenos produtores não podem contratar assalariados, alguém explicaria?

A história da esquerda, no Brasil ou internacionalmente, tem sido repetidamente pontuada por contínuos equívocos, práticos e teóricos, ou erros monumentais, alguns de intensa dramaticidade, pois implicaram vítimas. Apresenta, é certo, um lado virtuoso, sobretudo quando suas lutas impulsionaram a exigência política dos direitos ou uma ação mais democratizante do Estado, em diversos países. Parece inegável, contudo, que um de seus ramos, a esquerda agrária, sempre esteve à deriva e fez a opção pela cegueira, desde seu nascedouro. Marx nunca se interessou pelo mundo rural nem ofereceu nenhuma teorização a esse respeito, obcecado pelo surgimento do capitalismo industrial. Sobre o campo e suas transformações deixou notas esparsas e desinteressadas. Sem o seu farol, seus seguidores julgaram que o campo obedeceria à mesma dinâmica econômica da industrialização. Por exemplo, o aumento de assalariados rurais, o que não ocorreu em nenhuma região rural conhecida.

No caso brasileiro, a esquerda agrária no poder desde 2003 tem observado um evidente fracasso em suas ações e, reiteradamente, produzido apenas a mentira como sua meta política. A produção agropecuária vem-se concentrando em rapidíssima velocidade, consagrando a agricultura de larga escala, e a única questão social atual, no campo brasileiro, é o encurralamento da pequena produção rural. Nenhuma política operada tem produzido resultados práticos relevantes. São bisonhas suas ações, cujo fundamento é, sobretudo, a ignorância interpretativa sobre o mundo rural brasileiro e suas tendências principais. Ainda mais grave, a área agrária da Esplanada dos Ministérios é autista e hostil a qualquer debate, presa a ideologizações de infantilidade assustadora. É preciso mudar, com urgência, ou o campo petista entrará na História pela porta indesejada: vai consagrar o maior processo de concentração jamais visto num setor da economia brasileira.
 
23 de março de 2014
Zander Navarro, O Estado de S. Paulo

SEM AÇÚCAR NEM AFETO

Para fins de análise do ambiente pré-eleitoral, muito mais significativos que os números da pesquisa do Ibope divulgados na noite de quinta-feira foram os efeitos provocados pela boataria nos três dias anteriores, de que a presidente Dilma Rousseff apresentaria acentuada queda nos índices de intenção de votos.

Era pura especulação. Ou, a julgar pela euforia prévia que se via nos corredores do Congresso e pelo otimismo do mercado financeiro materializado na valorização das ações da Petrobrás, Eletrobrás e Banco do Brasil na Ibovespa, torcida forte.

A pesquisa mostrou Dilma no mesmo patamar de 43% na preferência do eleitorado, bem à frente dos oponentes e ainda dentro do limite em que o Palácio do Planalto considera ser possível acreditar em vitória no primeiro turno.

Conviria, porém, que assessores palacianos prestassem atenção a esse dado de realidade algo inusitado. Não é normal que notícias de caráter negativo para o governo gerem uma expectativa positiva na economia e na política.

Natural, principalmente no caso de governante que se posiciona com o favoritismo da presidente da República, seria o contrário. O porto visto como seguro para políticos, investidores e empresários em geral é o governo. Em tese, a oposição representa a dúvida.

Quando se tem um acontecimento como esse da semana passada é sinal de que há mudança de ares. No mínimo. Durante três dias o zunzum correu em Brasília e São Paulo. Dizia-se que uma pesquisa do Ibope registraria uma queda significativa de Dilma.

No Congresso, notadamente na Câmara, os deputados cumprimentavam-se numa alegria quase infantil. Vingativa. Como se a suposta derrocada confirmasse que a opinião pública teria dado razão aos parlamentares no embate que haviam tido com a Presidência, sob o comando do PMDB.

Na Bolsa de Valores, três dias seguidos de alta nas ações das estatais atribuídas pelos próprios operadores à expectativa da queda de Dilma nas pesquisas é o reflexo do desagrado com a política governamental.

O esperado, porém, não aconteceu. Mas os boatos e a reação a eles evidenciaram o ambiente de mau humor generalizado com a presidente. No ambiente do Congresso, uma pergunta simples - "Se Dilma não ganhar, para onde vai a base hoje governista?" - recebe uma resposta objetiva: "Para Eduardo Campos ou Aécio Neves, qualquer um dos dois, tanto faz, pois são políticos e compreendem muito melhor o mundo político".

A preocupação desse pessoal é com a perspectiva de piora nas relações de Dilma com o Congresso caso ela seja reeleita. Como não poderia mais concorrer a mandato algum, os parlamentares acham que a tendência seria que ela deixasse de lado de vez o Legislativo. Por esse raciocínio, a recomposição da harmonia no Parlamento passaria pela eleição de um dos candidatos da oposição. Ou pela candidatura do ex-presidente Lula.

Dentro do PT já começam a se inquietar mesmo aqueles que não achavam que era hora de voltar. Ninguém sabe a confusão que o voluntarismo de Dilma é capaz de arrumar e se reduz a esperança de que ela se reinvente a fim de transpor os percalços da campanha.

Refém. A necessidade de barrar a CPI da Petrobrás e nova série de convocações para explicar a compra da refinaria em Pasadena reforçam o poder do PMDB, que na crise ficou ao lado da presidente. Vale dizer, o vice Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros e o senador José Sarney.

A bancada da Câmara não pretende ajudar e espera que o Palácio não atue em tom de retaliação. Se houver ameaças e confrontos, a animosidade latente pode se tornar de novo evidente.

A saída para o governo nesse caso será fingir que quer "apuração rigorosa" e, nos bastidores, atuar com suavidade e habilidade para que nada aconteça.
 
23 de março de 2014
Dora Kramer, O Estado de S. Paulo

DE GETULIOVARGAS@EDU PARA DILMA@GOV

Como eu, a senhora pratica a diplomacia do silêncio, ela não traz popularidade, mas é a melhor para nós

Excelência, Escrevo-lhe para felicitá-la. A senhora restabeleceu uma diplomacia discreta, diria mesmo de recusa a exibicionismos inúteis. Há dificuldades na Venezuela, e agora surgiu a crise da Crimeia, mas estamos fora dos holofotes.

Peça ao Sarney a poesia "A carga da Cavalaria Ligeira", de Lord Tennyson. Ela conta o ataque de cavaleiros ingleses contra uma tropa turca artilhada durante a Batalha de Balaclava, na Guerra da Crimeia do século XIX. Li-a ontem para minha amada Aimée. Foi um desastre produzido por generais ineptos, mas o poema mostra como as potências fabricam mitos heroicos.

Minhas dificuldades foram maiores que as suas. Consegui ficar neutro durante a Guerra Civil Espanhola. Até onde pude, mantive-me longe do conflito europeu. Sem fanfarra, em maio de 1941, avisei ao embaixador japonês que, se um país americano fosse atacado, nós seríamos solidários.

Em dezembro, eles bombardearam Pearl Harbor. Os americanos exigiam o controle de uma base aérea no Saliente Nordestino, pois, sem a rota de Natal a Dacar, ficariam aprisionados pelo Atlântico. Cedi. Lidei com embaixadores impertinentes e tive pavões no Ministério das Relações Exteriores. O Oswaldo Aranha achava que era o gerador do mundo, centro do universo.

Depois que saí da vida para entrar na História, há 60 anos, vieram o Juscelino com a tal de "Operação Pan-americana", o Jânio com a "Política Externa Independente", o Castelo Branco com a "interdependente", e o sr. Luiz Inácio da Silva, que se tornou um papagaio de pirata de crises internacionais. Usei essa expressão que hoje é comum aí, mas não sei se o fiz corretamente. As diplomacias de slogans são apenas propaganda política. Os generais mandaram tropas para ocupar a República Dominicana, num episódio que hoje se procura apagar. Chegamos ao ponto de o general Médici cobrar ao presidente Nixon a deposição de Fidel Castro. Outro dia, o Nixon me perguntou por que ele fez aquilo.

Diplomacia sem fanfarra tem um custo. Criticam-nos de todos os lados, acusando-nos de omissão. Há quem a ataque por estar próxima dos bolivarianos e também por ficar distante. Algum gabola da União Europeia resolveu botar fogo na Ucrânia sem prever a reação da Rússia. Em 1956, os americanos insuflaram a rebeldia húngara e, em 1962, a dos cubanos de Miami. Fracassaram e abandonaram os aliados. O Pedro II lembrou-me de que manteve nossa neutralidade durante a guerra civil mexicana, quando os rebeldes fuzilaram-lhe o primo-irmão Maximiliano. Os franceses, que haviam insuflado sua aventura, abandonaram-no.

Quando nos metemos a buscar um papel maior que nossa importância internacional, invariavelmente acabamos dificultando a defesa dos nossos verdadeiros interesses.

Parabéns, senhora.

Com todo o respeito, 


Getulio Vargas


CENA BRASILEIRA

O presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, visitava o presídio de Porto Alegre quando um major da brigada pediu a palavra e contou que "somos 12% da população do estado e 40% da população carcerária": "Deve ter alguma coisa errada".

Mal terminou a frase, ouviram-se mumunhas para que o major calasse a boca. Barbosa pediu que o deixassem falar. Em seguida, respondeu: "Eu percebi".

O que incomodou os áulicos? As estatísticas ou o fato de um negro levantar esse assunto para outro negro? 



PACIFICADOR

O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, zangou-se quando um pesquisador apontou a "pacificação" das estatísticas de homicídios do estado.

Depois da morte de Cláudia Silva Ferreira, arrastada pela viatura que devia levá-la ao hospital, o repórter Marcelo Gomes informou o seguinte: 


O subtenente Adir Serrano Machado, que estava na cena, viu-se listado em 57 "autos de resistência" em que morreram 63 pessoas. Seu colega Rodney Archanjo está em outros cinco, com seis mortos.

De duas uma, ou as estatísticas da polícia do Rio assemelham-se às reuniões dos conselhos do comissariado, ou policiais como Machado e Archanjo são versões modernas do Sargento York, o soldado americano da Primeira Guerra, magistralmente representado por Gary Cooper. Sozinho, York matou 28 alemães e capturou 132.

Como disse o viúvo de Cláudia, ao governador Sérgio Cabral: "Se não tivesse aquele cara que filmou, este seria só mais um caso. Tomou tiro, entrou no hospital e morreu"

CHEGOU A CONTA DA BOLSA CONSELHO

A prática é velha: reforça-se o orçamento dos hierarcas nomeando-os para conselhos de empresas. Ela vale tanto na administração federal como nas dos estados. Tome-se o exemplo de Dilma Rousseff. Em 2006, como chefe da Casa Civil, tinha um salário mensal de R$ 8.362. Em 2007, ganhava R$ 8.700 mensais como conselheira da Petrobras e de sua distribuidora. À Casa Civil, ela ia todo dia; aos conselhos, uma vez a cada dois meses (e às vezes chegava atrasada). 


O conselho de Itaipu, joia da coroa do comissariado, paga R$ 19 mil. Em 2012 havia 13 ministros nas bolsas Conselho, e os doutores Guido Mantega e Miriam Belchior fechavam os meses com um total de R$ 41,5 mil. A comissária Belchior estava no conselho da BR Distribuidora, para quê, não se sabe.

Quando o PT estava na oposição, reclamava disso. No governo, acostumou- se. Agora chegou a conta. Como integrante (e presidente) do Conselho da Petrobras, Dilma é responsável pela aprovação da ruinosa compra de uma refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos. A repórter Andreza Matais obteve do Planalto uma nota, escrita pela doutora, informando que a decisão foi tomada com base num relatório "técnica e juridicamente falho". A ver. A ruína estava em duas cláusulas do contrato, e elas viriam a custar US$ 820 milhões à empresa. A explicação segundo a qual esses dispositivos só chegaram ao conhecimento dos conselheiros depois da aprovação do negócio é plausível. Mesmo que a doutora só tenha percebido a ruína depois, era a poderosa chefe da Casa Civil. Quem pode tirar quaisquer dúvidas sobre o caso é o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que está preso na Polícia Federal.

Numa estrutura séria, seria demitido o presidente da empresa, ou iriam embora os conselheiros que se julgaram desinformados. Os conselhos de estatais não são sérios, são bicos. O caso da refinaria acertou a testa da doutora Rousseff, a gerentona que pode ser acusada de viver num mundo de verdades próprias, mas nunca se meteu em transações tenebrosas. A vida é arte, errar faz parte. Enquanto houver hierarcas em boquinhas, o erro será a arte.
 
23 de março de 2014
Elio Gaspari, Folha de SP

RASGANDO A FANTASIA


BRASÍLIA - A Petrobras foi a estrela das eleições de 2010 e pode ser novamente na de 2014 - às avessas.

Durante toda a campanha de Dilma, Lula martelava que a oposição privatizaria a Petrobras, enquanto produzia mais de dez eventos para impregnar o imaginário popular com a ideia de que a empresa símbolo do país, o petróleo e os novos poços eram obras suas.

Botava sua candidata debaixo do braço, fantasiava-se com o macacão cor de abóbora e o capacete da Petrobras e borrava as mãos de óleo, insistindo numa autossuficiência no setor que nunca chegou.

Como ensina o marqueteiro João Santana, e o ilusionista Lula está careca de saber, campanhas não trabalham com a realidade, mas com símbolos, emoções e o imaginário coletivo. Se as versões não correspondem aos fatos, danem-se os fatos.

Os fatos, porém, são implacáveis. Mais cedo ou mais tarde, acabam rasgando fantasias e mentiras de palanque. Depois de Lula e Dilma, a Petrobras vive um desastre, deixou de ser a maior empresa do país nas Bolsas, ninguém mais fala em pré-sal, o belo programa do álcool evaporou. E os escândalos estão aí, exigindo explicações e um mínimo de coerência.

CPI não vai sair, porque a maioria governista é avassaladora, e mesmo que saísse não iria longe, porque já não se fazem CPIs como antigamente. Mas a operação Pasadena --pela qual a Petrobras pagou US$ 1,18 bilhão por uma refinaria que antes valia US$ 42,5 milhões-- mexe não só com símbolos, emoções e o imaginário popular. Mexe com a realidade e no sentido oposto ao de um presidente ofendendo regras e o bom senso metido num macacão cor de abóbora e criando ilusões na massa.

É por isso que Dilma diz uma coisa, Lula acha outra, Gabrielli se debate, Cerveró é demitido seis anos depois, de repente, e não há respostas minimamente satisfatórias à sociedade, aos acionistas e à própria história --que vai além de campanhas e de ilusionismos.

27 de março de 2014
Eliane Catanhêde, Folha de SP
 

EXISTEM IMPERIALISMOS E IMPERIALISMOS...


Sabe aquela ladainha esquerdiota sobre o imperialismo Yankee contra os oprimidos países do terceiro mundo?
Pois é...

O imperialismo Tupiniquim atravessou a fronteira e está aí na foto. Bombas usadas contra a população da Venezuela são produzidas aqui em Banânia.

O que mais me impressiona na conversa mole de um esquerdofrênico é a acusação em tempo integral contra a política externa Duzamericanus.

Acusam Uzestaduzunidus de todas as mazelas que se abatem sobre os países menos desenvolvidos do planeta. Inclusive ataques aos direitos humanos....E essa bomba é o que?
Não que Tio Sam não seja um colonizador e faz de tudo para manter seu American Way Of Life a todo custo. Mas...Eu jamais vi um pobre que não queira ficar rico e muito menos um rico que queira ficar pobre, então...

A desastrosa política externa em tempos de Ptralhas é de dar engulhos, o Brasil não acerta uma quando se trata de diplomacia, acusa Uzestaduzunidus de se intrometer na política de todos os países pobres, mas quando se mete em Honduras no caso do Chapéludo Mané Zelaya que levou uma "pá de pé no rabo" do povo e teve que virar hóspede da embaixada Tupiniquim para não cair em cana em seu país. Ou quando devolveu os boxeadores CUbanos que pediram asilo político no Brasil.

Temos o caso do Battisti que o Brasil via PT se enfiou até o pescoço em um assunto da justiça Italiana, não por humanidade e sim por tara ideológica.

Fernando Lugo, o padre "comedô " do Paraguai foi defenestrado do poder via constitucional e a Depromassia Brasuca aproveitou para meter a colher no angú paraguaio e simplesmente com a ajuda de outros tarados da esquerda que dominam o continente e "expulsaram" o Paraguai do MERDOSUL e rapidinho colocaram a Venezuela no lugar.

Acusaram o Paraguai de ter violado os termos do bloco, e logo em seguida colocam o "irmão" bipolar mais instável democraticamente no lugar.

Sem contar as baboseiras dos tempos do EX presidente Defuntus Sebentus em querer mediar conflitos no Oriente Médio pagando uma de "paladino" da paz mundial. Como sempre, não deu em nada, sem contar que o país pagou um puta micomundial.

Vendo as imagens da Venezuela é que me pergunto, qual é a força que exerce Fidel Castro sobre TODA a esquerdalha Latrina Amerdicana? Em todo conflito do continente existem infiltrados CUbanos promovendo a barbárie. 

CUba é uma ilha da idade média bem no mar do Caribe e TODO esquerdofrênico que se preza vive de ajoelhar serviçal e pateticamente fazendo rapapés e babação de ovos ao regime burro, totalitário, atrasado e ineficiente que condenou gerações ao atraso e a pobreza absoluta em nome de uma tara ideológica. Só que...mais uma vez... repito NENHUM esquerdiota que defende o regime dos Castro quer morar em CUba, pimenta no rabo alheio...

E quando vejo mandatários, principalmente os Brasucas, lambendo as mofadas bolas da Múmia do Caribe, é que tenho absoluta certeza de que esta passando da hora de pegarmos em armas e ir para as ruas caçar esquerdofrênicos na bala, pois no voto, estaremos eternamente deitados na pocilga.

Ontem no trânsito aqui da terrinha vejo uma Ecosport ZERO KM, branca, a cor da moda, com uma capa de estepe onde estava estampada cansativa imagem de CHE QUÉRVARA.  

O Esquerdiotão ama Che mas ama ainda mais o conforto do capitalismo selvagem. Sem contar que não estava a bordo de um Soviético Lada ou Oriental Alemão Trabant, estava em um FORD. Certo que Henry Ford era comunista... de araque. 
Só que a bobageira tarada ideológica de certos Brasucas é tão xinfrim que chega a dar dó.

E vamo que vamo que ainda tem espaço para ficar muuuuuuuito pior.
 
23 de março de 2014
omascate

O MODELO DA CEPAL: ESCASSEZ, OS "INIMIGOS DO POVO" E A "MALDIÇÃO" DO CONSUMO


 Artigos - Economia
Há algumas semanas atrás um ministro de Nicolás Maduro expressou preocupação com os programas de distribuição de renda venezuelanos, que correm, segundo afirmou, o risco de gerar uma “nova classe média”, com todos os seus malditos hábitos de prodigalidade e “consumo conspícuo”. A preocupação do burocrata é compartilhada pelo tirano que o emprega - pressionado pelo descontentamento popular, em virtude da escassez de mercadorias -, o que o levou a recorrer ao corriqueiro expediente socialista do racionamento.
 
Por motivos bem diferentes, razões que vão além do discurso demagógico bolivariano e se estendem ao continente e ao Brasil, levam-nos a crer que políticas dessa natureza jamais serão descontinuadas e representam grave ameaça à estabilidade fiscal e à contenção da pressão inflacionária, sobretudo quando alimentadas pela irresponsável ampliação do crédito e gasto públicos. Mas há outra questão, de cunho estrutural, que deve ser foco de nossas atenções: as limitações impostas pelo consumo ao funcionamento dos regimes de orientação socialista e seu papel nas teorias de “desenvolvimento” terceiro-mundistas, notadamente da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL).
 
Na profunda crise da economia venezuelana assoma, tenebroso, o flagelo socialista da penúria. Completamente dependente do petróleo bruto - que responde por 95% de suas exportações - e mesmo se encontrando no topo dos maiores detentores mundiais de reservas - o país tem visto sua produção declinar aceleradamente, afetada tanto pela queda dos preços do óleo quanto pela nova tecnologia do fraturamento hidráulico nos EUA, ao lado das limitações impostas ao seu crescimento pela performance da Europa e da China. Como resultado, explodiram as taxas de inflação (cerca de 56% ao ano), o bolívar entrou em uma trajetória de desvalorização e a escassez se generalizou. Impossibilitada de adotar outras alternativas, a ditadura reforçou os controles cambiais mantidos por onze anos no país e aumentou os gastos em subsídios, investimentos e programas de ajuda que, segundo a The Economist alcançam o montante de U$ 100 bilhões desde 1999.
 
Esses fatos não devem nos causar surpresa, pois inflação e escassez são irmãs siamesas no Socialismo. Em estágios mais avançados, este regime não exibe inflação “aberta”, pois os preços são totalmente administrados, para ser mais exato, tratam-se de “preços contábeis,” uma vez que a moeda não possui suas propriedades clássicas e o dinheiro (como o rublo, por exemplo) é uma mera unidade de conta. Não há, portanto, um “sistema” de preços, o que faz com que desequilíbrios “físicos” na aloção dos recursos se traduzam em efetivo descompasso entre uma oferta inadequada (pois não há mercado) e uma demanda não atendida. Consequentemente, as pessoas sofrem com a ausência de produtos nas prateleiras e se embolam em filas gigantescas.
 
A variável consumo sempre foi problemática nas teorias de crescimento do socialismo real; alinhando-se a considerações sobre o papel do mercado e à prevalência de incentivos ao desenvolvimento da indústria de bens de capital sobre a de bens de consumo ou, em outras palavras, à determinação da magnitude das taxas de crescimento de cada um dos dois “ramos fundamentais” da economia socialista, que deveriam ser “corretamente harmonizados”. Como burocratas são inaptos para estabelecer esses percentuais através de thumb rules, a economia soviética resultou no descalabro representado na maioria dos livros de Introdução à Economia por uma uma função de produção capenga, que ilustra as vicissitudes de um país que destina a maior parte dos seus recursos para o fabrico de armas, em prejuízo do consumo.
 
Não por mero acaso, essa delicada questão teórica foi o pano de fundo dos embates nos anos 20 entre a “direita” do Partido Comunista da União Soviética, encabeçada por Nicolai Bukharin; a “esquerda”, liderada por Leon Bronstein Trotsky e um “centro”, formado por aparelhistas aglutinados em torno da enigmática e sinistra figura de Joseph Stalin.Com a vitória do “centro” sobre o campo adversário - e a subsequente eliminação de Bukhárin e da dupla Kamenev-Zinoviev - Stalin tomou em definitivo as rédeas do governo soviético, substituindo a Nova Política Econômica (NEP) pelos Planos Quinquenais, acelerando a estatização da economia e promovendo a coletivização compulsória dos camponeses. Tal política só foi exitosa porque o PCUS apontou como inimigos do povo os kulaks (“punho fechado” em ucraniano, ou aqueles que eram considerados “ricos” por terem, por exemplo três bois), perseguindo-os sem piedade.
 
Graças aos excedentes sequestrados do campo, o regime do velho Koba (primeiro apelido do ladrão de bancos Stálin) se tornou capaz de adquirir bens de capital no exterior e realizar obras de infraestrutura faraônicas, mas seu estilo de “modernização”, antes mesmo da passagem do Líder, debatia-se em estertores já ao final do período de implementação do Primeiro Plano Quinquenal (1928-1932). De fato, os métodos de planejamento central na URSS fracassaram – como é sobejamente admitido – mesmo com o amparo de técnicas de insumo-produto, emprego de super-trabalhadores stakhanovistas e posteriormente, da programação computacional. Mas, sua filosofia persiste, impávida. Tanto é que inúmeros países ainda se inspiram em “planos de longo prazo” irrealistas e mirabolantes, tais como o Plano Plurianual” (PPA) no Brasil, as tolices chamadas “Planos Diretores Urbanos”, “Estatuto da Cidade”, “Estatutos das Metrópoles” e tantas outras.
 
No Brasil, também tivemos nossos simulacros de um Maduro e de um Brejnev, dado o caráter arraigado do dirigismo em um pensamento econômico tipicamente terceiro-mundista, palco onde se exibem estrelas como Maria da Conceição Tavares, o campineiro Luíz Gonzaga Belluzo e o cambiante Luz Carlos Bresser Pereira.
 
Empolgado com as teses dessa gente, durante o Plano Cruzado, o presidente José Sarney “congelou preços e tarifas, o que causou um enorme desequíbrio dos preços relativos e o racionamento de produtos e, como resultado, a formação de filas para adquiri-los. Como reação tática à incompetência do governo, Sarney apontou os “verdadeiros culpados” pela situação, (os “sabotadores”, a serem denunciados pelos “fiscais do Sarney”), repetindo assim a eficaz manobra soviética de responsabilizar os kulaks pelos resultados medíocres intrínsecos ao socialismo.
 
Entretanto, há quem insista em ignorar o quanto o mesmo discurso encantou inúmeros intelectuais na América Latina e no Brasil ao longo da segunda metade do século XX e até hoje maravilha os estudantes universitários. Nosso país, strictu sensu, não é capitalista, nem socialista ou comunista (ao menos por enquanto); mas um projeto inacabado e monstruoso da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), comissão regional das Nações Unidas na AL. Por décadas, ideias cepalinas como “dependência econômica”, “substituição de importações”, “centro-periferia”, “deterioração das relações de troca”, “subdesenvolvimento” dominaram as faculdades de Economia, ora camufladas por subterfúgios de natureza terminológica; ora publicamente; a depender do lado para que pendia o peculiar “movimento pendular” da sociedade brasileira entre Liberalismo e Intervencionismo, enunciado, devo admitir que corretamente, por Otávio Ianni.
 
Em face do fracasso inequívoco do modelo de “substituição de importações” da CEPAL em meados dos anos 80 – seguido da estagnação e hiperinflação em várias economias da América Latina – passou a predominar, especialmente, o agregado representado pelo consumo como variável explicativa do insucesso cabal das prédicas do órgão das Nações Unidas. Como não era possível, por razões políticas, abandonar um caminho inviável para o desenvolvimento, era fundamental detectar novos “inimigos do povo”. É importante perceber que, para os autores esquerdistas,   o defeito nunca é de um sistema flagrantemente antinatural, o Socialismo, mas dos grupos sociais contrários à "maioria da nação”.
 
Em trecho revelador de seu livro Desenvolvimento e subdesenvolvimento de 1974, o economista heterodoxo (palavra bonita para comunista no Brasil) Celso Furtado devotava grande interesse pelas aquisições do que ele denomina “minoria modernizada” ou “novas classes dirigentes”. Furtado, diga-se de passagem, foi o principal responsável pela formulação do fracassado “Plano Trienal” de João Goulart.
 
“O fenômeno da dependência do aparelho produtivo se manifesta inicialmente sob a forma de imposição de externa de padrões de consumo que somente podem ser mantidos mediante a geração de um excedente criado no comércio exterior. É a rápida diversificação desse setor de consumo que transforma a dependência em algo dificilmente reversível. Quando a industrialização pretende substituir esses bens importados, o aparelho produtivo tende a dividir-se em dois: um segmento ligado a atividades tradicionais, destinadas às exportações ou ao mercado interno (rurais e urbanos), e outro constituído por indústrias de elevada densidade de capital, produzindo para a minoria modernizada. Os economistas que observaram as economias subdesenvolvidas sob a forma de sistemas fechados viram nessa descontinuidade do aparelho produtivo a manifestação de um “desequilíbrio ao nível de fatores”, provocados pela existência de coeficientes fixos nas funções de produção, ou seja, pelo fato de que a tecnologia que estava sendo absorvida era “inadequada”. Pretende-se, assim, ignorar o fato de que os bens que estão sendo consumidos não podem ser produzidos senão com essa tecnologia, e que às classes dirigentes que assimilaram as formas de consumo dos países concêntricos não se apresenta o problema de optar entre essa constelação de bens e uma outra qualquer. Na medida em que os padrões de consumo das classes que se apropriam do excedente devam acompanhar a rápida evolução nas formas de vida, que está ocorendo no centro do sistema, qualquer tentativa visando a “adaptar” a tecnologia terá escassa significação”.
 
O que exatamente Furtado quis dizer? Em primeiro lugar, que é indispensável ao modelo cepalino a contenção do consumo privado, imposto por “padrões de consumo alienígenas”. Isto se deve à natureza do regime de inspiração socialista preconizado pela CEPAL, fundamentado exatamente nos mesmos termos da famosa utopia soviética do “equilíbrio” entre os diferentes setores produtores de bens de capital e aqueles que ofertam bens de consumo, compreendida, na AL, como a “substituição de importações” ou a construção a toque de caixa de uma “matriz industrial completa”, uma aventura que legou ao país seus impressionantes e crônicos gargalos econômicos e tecnológicos.
 
A sua referência a indústrias de “elevada densidade de capital” é ainda mais interessante, pois ela atenderia a uma “minoria organizada” e partia de opções tecnológicas “inadequadas”. Logo, deve ser rejeitada uma opção tecnológica ditada pelo mercado e aceito o intervencionismo antinatural. Um “minoria organizada” seria aquela constituída no interior do país e que, de certa forma forma, beneficiaria-se das relações “assimétricas” no comércio internacional. Recorde-se que, para a CEPAL, este intercâmbio se exprimia em perdas para as nações “subdesenvolvidas”, com uma relação entre os preços dos bens primários produzidos e os dos bens de capital importados desfavorável para os primeiros. Segundo os ensinamentos de Furtado e da CEPAL, o comportamento dessa classe “egoística” provocaria desníveis na distribuição de renda, garantindo-lhe níveis de consumo mais elevados que aqueles do consumidor médio, ou seja: formava-se, historicamente, uma “elite”, ou uma “classe média “reacionária” como prega a esquerda brasileira atualmente.
 
As lições da História são claras: vitimados pela incompetência, a fórmula encontrada por governos socialistas para manter-se no poder é invariável: denunciar culpados, prender sabotadores e confiscar as propriedades ou o produto do trabalho dos agrupamentos sociais responsáveis pela criação de riqueza naqueles países que parasita. O desafio que fica para as pobres vítimas desse modelo é gigantesco, diga-se de passagem. Em geral, a herança socialista é nefasta: além de corroer as estruturas econômicas, o Socialismo expulsa os indivíduos mais empreendedores da sociedade, reduzindo o estoque de um “fator de produção” fundamental, representado pela capacidade empresarial. Os tristes casos de Cuba e Venezuela ilustram bem o que desejo dizer e, ao que parece, seguimos rumo análogo no Brasil.


Nota:
FURTADO, Celso. Desenvolvimento e subdesenvolvimento econômico. São Paulo: Círculo do Livro, 1974. p.88.
 
23 de março de 2014
Creomar Baptista