"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

PT ATIÇA O FORMIGUEIRO




O jogo duplo entre o PT de Dilma e Eduardo Cunha, visto como necessário para barrar um processo de impeachment no Congresso, está embaralhando a sociedade, os movimentos sociais e partidos que ainda dão sustentação à presidente pior avaliada do país.
A liderança do governo Dilma no Congresso patrocinou nesta quarta (11. nov.), dentro de seu próprio gabinete, a redação de documento dos partidos governistas ratificando “total apoio e confiança” a Eduardo Cunha. Até ontem, vale lembrar, o PSDB também sustentava Cunha.
No domingo, o presidente da Câmara foi alvo central, em nove Estados, de manifestações comandadas por entidades ligadas ou simpáticas ao PT (como CUT e MTST). As lideranças também criticaram a própria Dilma ao demandar a saída de seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Nos últimos dias, caminhoneiros bloquearam estradas em 14 Estados pedindo a saída imediata de Dilma da Presidência.
Houve também manifestações de mulheres (e homens) contra Eduardo Cunha em várias cidades (há outra prevista para esta quinta, às 17h, no Masp).
TEMPESTADE PERFEITA
Nesse caldo, CUT, MTST e movimentos espontâneos como dos caminhoneiros e das mulheres podem acrescentar o que faltou neste 2015 à “tempestade perfeita” prevista por analistas no início do ano.
A partir de uma reivindicação específica (o não aumento das tarifas de ônibus), o Brasil perdeu completamente a paciência em junho de 2013 e colocou para fora todas as suas frustrações. A ponto de tentar invadir o Congresso, sede de governos e de literalmente pôr fogo no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
Em 2013 a situação econômica era muito melhor do que a atual. O país fechou aquele ano com a menor taxa de desemprego da série histórica (4,3%) e o PIB cresceu 2,3%. A inflação foi de 5,9%, abaixo do teto da meta do Banco Central.
Os protestos vieram mesmo com recordes no total de empregos com carteira assinada e aumentos na renda dos trabalhadores. Sintoma de que havia um mal estar profundo e difuso em relação a fatores inseparáveis do modo como o Estado toma e presta conta de suas ações perante a sociedade.
Agora, o PIB está caindo 3%, a inflação é de 10% e o desemprego caminha rapidamente para os dois dígitos. A renda média dos brasileiros sofre a maior queda desde 2003 e o varejo tem seu pior resultado em 15 anos.
NO ANO QUE VEM…
2016 já está praticamente encomendado. E pode não ser muito diferente disso.
O comando do Brasil, de memória curta, parece simplesmente ter esquecido do que se passou há pouco mais de dois anos. Quando o Congresso foi sitiado e todos os políticos tiveram que se mexer rapidamente para aplacar um movimento que fugia completamente ao controle.
Com seus últimos movimentos, PT, CUT e MTST podem estar “dando ideias”. E acendendo o fósforo que falta.

19 de novembro de 2015
Fernando Canzian
Folha

DILMA INCLUI CPMF NA LDO DE 2016

Pacote para pilhagem do país já deve ter sido fechado com PMDB.


No mesmo dia em que Michel Temer, vice da República e presidente do PMDB começou a falar que não era conta a uma CPMF "provisória", Dilma mudou a LDO de 2016 e inclui R$ 24 bi do imposto como  receita. O pacote para que o PMDB continue pilhando os cofres públicos deve ter sido fechado. A matéria é do Estadão.

Numa sinalização de que vai insistir na volta do imposto do cheque, a presidente Dilma Rousseff encaminhou nesta quarta-feira, 18, ao Congresso uma alteração à Lei Orçamentária de 2016 para incluir a arrecadação da CPMF na previsão de receitas do ano que vem. Na mensagem, a presidente informa que o impacto líquido na arrecadação com a CPMF será de R$ 24 bilhões. O governo espera que ela seja aprovada este ano para que a vigência do novo imposto aconteça a partir de abril de 2016.

A conta do governo considera uma arrecadação total com a CPMF de R$ 32,25 bilhões, mas reduz parte da previsão de receitas com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no valor de R$ 8,2 bilhões. Essa estimativa representa, de acordo com o governo, um ganho líquido mensal de R$ 2,77 bilhões.

Dilma fez uma avaliação relativamente otimista da situação política e entende que o governo tem conseguido recompor a base governista – ainda que, às vezes, a maioria seja apertada. Esta semana, durante reunião do G-20, a presidente reafirmou a necessidade de aprovação da CPMF e disse que esse “aumento não é para gastar mais, é para crescer mais”. 

Na proposta que chegou ao Congresso, a Receita Federal apresentou, na mensagem, simulações com o impacto da arrecadação com a CPMF em 2016, considerando-se diversas hipóteses para data de promulgação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) enviada ao Congresso, que estabelece a volta do tributo.

Por essas simulações, se a CPMF for aprovada em fevereiro, com primeiro mês de cobrança em junho, a arrecadação estimada cai para R$ 18,467 bilhões. Caso seja promulgada em maio, com cobrança a partir de setembro, esse valor cai para R$ 10,157 bilhões. Na última hipótese, que prevê o mês de agosto para promulgação e vigência a partir de dezembro de 2016, o ganho líquido com a medida seria de apenas R$ 1,847 bilhão no ano.

Foco. O dinheiro do imposto do cheque é imprescindível porque o aumento da tributação de combustíveis, em estudo pelo governo, não resolve o rombo das receitas do Orçamento de 2016 – ainda mais que a ideia do relator de Receita, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), de arrecadar R$ 10 bilhões com a venda de terrenos da Amazônia não prosperou.

A insistência do governo em incluir as receitas com a CPMF no Orçamento de 2016 ocorre mesmo depois de o relator-geral de Orçamento, Ricardo Barros (PP-PR), avisar que não pretende incluir o tributo em seu parecer, que será votado na Comissão Mista de Orçamento.

Depois da trégua que fez caminhar, nos últimos dias, a tramitação de alguns dos projetos mais importantes do ajuste fiscal, o governo avalia que pode conseguir apoio diante do agravamento do quadro da economia, que tem forçado parlamentares da base do governo e da oposição a mudarem o discurso de confronto total às medidas econômicas.

Até o vice-presidente, Michel Temer, antes contrário à volta da CPMF, tem se mostrado mais simpático à criação do novo tributo. A aliados, tem afirmado que criar mais impostos nunca é a melhor solução, mas que entende que esse é um caminho para reequilibrar as contas do governo, desde que a taxação seja temporária. O governo acredita que a articulação que o Planalto tem feito com Estados e municípios aumentou a chance de o novo tributo receber o aval de deputados e senadores.

19 de novembro de 2015
in coroneLeaks

BARACK OBAMA, UM COMUNISTA MUÇULMANO BURRO OU MAL INTENCIONADO?




A última de Barack Obama foi dizer que os muçulmanos ajudaram a construir os EUA, que a história do país está entrelaçada com a história dos muçulmanos que estavam lá desde o começo.

"Pelo jeito, Obama andou pulando algumas aulas de história. Vamos lá:

- Quando os EUA nasceram, no final do séc. XVIII, havia uma grave crise com os muçulmanos do norte da África. Eram povos oficialmente muçulmanos, que viviam sob as leis do Corão.

- Estes islâmicos atacavam os navios que passavam pelo Mediterrâneo, incluindo americanos, sequestrando, escravizando e matando ocupantes, além de saquear a carga. Os navios americanos eram normalmente protegidos pela marinha inglesa antes da independência mas depois de 1776 era cada um por si.

- Os piratas muçulmanos cobravam fortunas como resgate dos reféns e os preços sempre subiam a cada sequestro bem sucedido. Thomas Jefferson se opôs veementemente aos pagamentos mas foi voto vencido, os EUA e as outras nações com navios sequestrados estavam aceitando pagar os resgates e subornar os piratas. O presidente americano era George Washington.

- Por volta de 1783, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin e John Adams vão para a Europa como embaixadores para negociar tratados de paz e cooperação. Os EUA nasceram em 1776 e estavam mergulhados até então na Guerra de Independência. Assim que a situação acalmou, essas três figuras icônicas saem em missão diplomática para representar o país.

- Em 1786, depois de dois anos de conversas diplomáticas com os islâmicos, Thomas Jefferson e John Adams encontraram com o embaixador dos povos que ficavam na região de Trípoli, na atual Líbia, chamado Sidi Haji Abdul Rahman Adja. Jefferson estava incomodado por conta dos ataques que não acabavam mesmo com todos os esforços de paz e quis saber com que direito os muçulmanos sequestravam e matavam americanos daquele jeito.

- A resposta que ouviu marcou Jefferson para sempre: "o islã foi fundado nas Leis do Profeta, que estão escritas no Corão, e diz que todas as nações que não aceitarem a sua autoridade são pecadoras, que é direito e dever declarar guerra contra seus cidadãos onde puderem ser encontrados e fazer deles escravos e que todo muçulmano que for morto na batalha irá com certeza para o Paraíso." Jefferson ficou chocado, ele não queria acreditar que uma religião literalmente mandava matar todos os infiéis e que quem morresse na batalha iria para o paraíso.

- Durante 15 anos, o governo americano pagou os subornos para poder passar com seus navios na região. Foram milhões de dólares, uma quantia que representava 16% de todo orçamento do governo federal. O primeiro presidente do país, George Washington, não queria ter forças armadas permanentes por não ver riscos de ataques ao país, mas os muçulmanos mudaram esta idéia. Os subornos serviriam para evitar a necessidade de ter forças militares mas não estavam funcionando porque os ataques continuavam. Quando John Adams assume, o segundo presidente, as despesas sobem para 20% do orçamento federal.

- Em 1801, Jefferson se torna o terceiro presidente americano e, mal tinha esquentado a cadeira, recebe uma carta dos piratas aumentando o butim. Ele fica louco e, agora como presidente, diz que não vai pagar nada.

- Com a recusa de Jefferson, os muçulmanos de Trípoli tomaram conta da embaixada americana e declararam guerra aos EUA. Foi a primeira guerra da América após a independência, a marinha americana foi criada exatamente para esse conflito. As regiões das atuais Tunísia, Marrocos e Argélia se juntaram aos líbios na guerra, o que representava praticamente todo norte da África com exceção do Egito.

- Jefferson não estava para brincadeira. Mandou seus navios para a região e o conflito durou até 1805, com vitória americana. O presidente americano ainda colocou tropas ocupando no norte da África para manter a situação sob controle.

Thomas Jefferson ficou realmente impressionado com o que aconteceu. Ele era contra guerras e escreveu pessoalmente as leis de liberdade e tolerância religiosa que estão na origem da Constituição americana, mas ele entendeu que o Islã é totalmente diferente, era uma religião imperialista, expansionista e violenta.

Jefferson mandou publicar o Corão em inglês em 1806, lançando a primeira edição americana. Ele queria que seu povo conhecesse o Corão e entendesse aquele pessoal do norte da África que roubava, saqueava e matava, cobrava resgates e que declarou guerra quando os pagamentos cessaram.

Durante 15 anos, um diplomata de Jefferson chegou a dizer, os americanos eram atacados porque não atacavam de volta e eram vistos como fracos. A fraqueza americana foi um convite para os muçulmanos daquela época como é para o ISIS hoje. Só houve paz na região quando Jefferson atacou e venceu a guerra, depois ocupando o território. Não tem mágica, é assim que se faz.

Barack Obama quer saber como os muçulmanos estão na história americana? Eles estão como os motivadores da primeira guerra, eles forçaram a criação das forças armadas que nem existiam e fazem parte até do hino dos marines que começa com "From the Halls of Montezuma / To the shores of Tripoli".



19 de novembro de 2015
in blog do mario fortes

O HUMOR DO ALPINO...

image
19 de novembro de 2015

DENÚNCIA EM BRASÍLIA: "O PESSOAL DA CUT CHEGOU AQUI QUEBRANDO TUDO E EXPLODINDO BOMBAS".



Militantes da CUT (braço direito do governo sustentado com verba pública) e do movimento das mulheres negras atacaram várias pessoas que estavam participando do acampamento pró-impeachment, em Brasília.

A denúncia foi feita por uma senhora através de um vídeo postado no YouTube.



19 de novembro de 2015
diário do Brasil


NOTA DO PÉ DO TEXTO

E agora? As instituições "estão funcionando"? Nenhuma manifestação no Congresso, nenhum pronunciamento sobre a selvageria, o vandalismo de uma entidade sindical chamada CUT, e essa tal de "marcha das margaridas", que pelo visto já disse a que veio, agredindo e quebrando um acampamento que apenas usa o direito de manifestar-se pacífica e democraticamente contra os interesses de uma quadrilha que assaltou o país?
E agora? As instituições estão funcionando? E fica o dito pelo não dito? 
E agora? As instituições estão funcionando para silenciar diante das agressões, para impedir que o cidadão se manifeste, para impedir a liberdade de exercer o direito de opinião contrária ao poder dominante?
Quem eles pensam que são? Querem calar o povo na base da 'porrada'?
E as instituições estão funcionando??
m.americo

VOTO IMPRESSO PODE VIRAR CONSTITUCIONAL - DIZ O RELATOR

PARA RAIMUNDO LIRA, URNA ELETRÔNICA PRECISAVA DO VOTO IMPRESSO
RELATOR DA PEC DA REFORMA POLÍTICA, O SENADOR RAIMUNDO LIRA FEZ O ANÚNCIO NESTA QUINTA-FEIRA.

O senador Raimundo Lira (PMDB-PB) anunciou nesta quinta-feira (19) que a PEC da Reforma Política, da qual ele é relator na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), deve inserir na Constituição a obrigatoriedade do voto impresso. 

Essa exigência já está prevista em lei (Lei 13.165/2015), depois que o Congresso Nacional derrubou nesta quarta-feira (18) o veto da Presidência da República à impressão de votos.

O relatório do senador do PMDB à PEC 113/2015 prevê que no processo de votação eletrônica, a urna vai imprimir o registro de cada voto que será depositado, sem contato manual do eleitor, em um local previamente lacrado. 
O processo de votação só será concluído depois que o eleitor confirmar a correspondência entre o voto que aparece na tela e o documento impresso. 
A proposta do senador Raimundo Lira é para a obrigatoriedade da impressão passe a valer a partir das eleições de 2018.

— Sabemos que o voto eletrônico no Brasil foi um grande avanço, um sistema muito prático, muito moderno, mas ele precisava ser complementado — defendeu Lira.

Ele explicou que os técnicos da Justiça Eleitoral argumentaram ser impossível adotar o novo sistema no pleito do ano que vem. Nas eleições de 2014, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), havia 142.822.046 eleitores aptos. Foram usadas 532.705 urnas eletrônicas. O TSE estima em R$ 1,8 bilhão o custo para a implantação do voto impresso.

19 de novembro de 2015
diário do poder

LULA E DILMA PARTICIPARAM DE REUNIÃO QUE FOI EMBRIÃO DA SETE BRASIL, DIZ BARUSCO

LULA E DILMA PARTICIPARAM DA CRIAÇÃO DA SETE BRASIL, DIZ DELATOR QUE DEVOLVEU US$ 100 MILHÕES DA ROUBALHEIRA

EX-PRESIDENTE LULA, EX-PRESIDENTE DA PETROBRAS SERGIO GABRIELLI, E A ENTÃO MINISTRA DILMA. FOTO: FÁBIO MOTTA/AE


O ex-diretor de Operações da Sete Brasil e ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, disse nesta quinta-feira, 19, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua então ministra Dilma Rousseff participaram de reunião da diretoria da Petrobras na qual foi tratada a demanda por sondas de perfuração, o que posteriormente levou à criação da Sete Brasil.

A afirmação foi feita em depoimento à CPI dos Fundos de Pensão, que investiga irregularidades na gestão desses fundos de servidores públicos. Barusco, delator da Operação Lava Jato, foi um dos participantes da formação da Sete Brasil, subcontratada da Petrobras, constituída por diversos investidores, entre eles a própria estatal, e com recursos provenientes de fundos de pensão.

Ele explicou que após a descoberta do pré-sal e a ampliação da produção, a Petrobras passou a necessitar de mais sondas. A estatal trabalhava apenas com equipamentos alugados. Na reunião, seria tratada a necessidade de alugar 18 sondas, um número considerado alto. Barusco se mostrou surpreso com a presença do então presidente Lula e de Dilma no encontro.

"Chamou tanta atenção (a demanda por sondas) que o presidente foi à reunião com a ministra", disse, ressaltando que se tratou de uma reunião de trabalho. Posteriormente, a Sete foi criada para ser a proprietária das sondas de perfuração do pré-sal. Hoje, em crise, a companhia gerou perdas aos fundos de pensão.

O presidente da CPI, deputado Efraim Filho (DEM-PB), afirmou que a comissão vai apurar possíveis irregularidades envolvendo o caso relatado por Barusco. "Se houve influência política para a criação da Sete Brasil, temos que investigar se houve influência política e tráfico de influência para alavancar mais de R$ 3 bilhões dos fundos de pensão, dinheiro de aposentados, para criar a Sete Brasil", disse.



19 de novembro de 2015
diário do poder

SENADOR QUE FOI MINISTRO DE DILMA DIZ QUE ELA PERDEU A LEGITIMIDADE

EX-MINISTRO DE DILMA PEDE AGILIDADE NA DISCUSSÃO DO IMPEACHMENT

PARA BEZERRA, ÚNICA CHANCE DO BRASIL SAIR DA CRISE É VOTAR O IMPEACHMENT


O senador Fernando Bezerra (PSB-PE) pediu agilidade na votação das contas do governo Dilma de 2014, rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). De acordo com o parlamentar, o Congresso tem que deliberar sobre as contas até o final do ano, pois só assim o impeachment da presidente Dilma Rousseff poderá ser debatido "aberta e constitucionalmente".

Historicamente ligado ao PT, o senador - que foi ministro da Integração Nacional no primeiro governo Dilma - criticou a paralisia do governo e disse não acreditar que isso seja "suficiente para recuperar o País", mas o debate é necessário para reunir esforços e tirar o Brasil da "trajetória de mais um ano de retrocesso e estagnação econômica".

Bezerra reiterou que o pior aspecto da crise é o aumento do desemprego, passou de 4,3% para 7,6% este ano. Outros problemas como queda da receita tributária, da atividade industrial e o aumento das taxas de juros se tornam supérfluos para os trabalhadores em comparação à ameaça de não poder dar sustento à família.

Com relação ao impeachment, Bezerra reconheceu que a presidente Dilma Rousseff tem a "legalidade dos votos, mas talvez não tenha mais a legitimidade". Sua popularidade está nos níveis mais baixos dos níveis de uma presidente da história. Todos os indicadores de bem estar social e desempenho econômico estão em baixa. Seus projetos se desfazem, sua voz não é escutada. O seu partido, dividido, não lhe dá o apoio necessário nesta hora grave. E o seu tempo, o precioso tempo da chefe de governo, da chefe de estado, é gasto na luta para evitar o impeachment.



19 de novembro de 2015
diário do poder

PEDIDOS DE IMPEACHMENT DE DILMA SERÃO DESPACHADOS AINDA ESTE ANO

EDUARDO CUNHA GARANTE QUE ANÁLISE DO IMPEACHMENT SERÁ EM 2015

JÁ FORAM REJEITADOS MAIS DE 10 PEDIDOS DE IMPEACHMENT DE DILMA. FOTO: WALTER CAMPANATO/ABR


O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), negou nesta quinta-feira (19) que tenha dito a aliados que a decisão dos pedidos de impeachment da presidente Dilma ficará para 2016. Em entrevista coletiva nesta tarde, o peemedebista afirmou que despachará ainda este ano os pedidos de saída da petista protocolados na Casa.

Cunha teria dito a aliados não ver chances de abrir o processo de impeachment de Dilma neste ano, por considerar que não há mais apoio popular para isso. Ele teria dito isso em jantar na quarta-feira da semana passada, na residência oficial da presidência da Câmara. Com informações da Agência Estado e Agência Câmara.



19 de novembro de 2015
diário do poder

O FAN TASMA DA FALTA DE APOIO NO CONGRESSO ASSOMBRA O GOVERNO

Foi por um triz que o governo da presidente Dilma Rousseff não perdeu a votação no Congresso que arrebentaria de vez com o ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy, da Fazenda. Mais exatamente: foi por apenas seis votos.

Dilma vetara o reajuste dos servidores do Judiciário aprovado pelo Congresso e que poderia gerar uma despesa nova de R$ 36,2 bilhões até 2019. Para derrubar o veto seriam necessários 257 votos de deputados. Ou seja: metade mais um do total de 513 deputados.

Pois bem: 251 deputados votaram para derrubar o veto. Pela manutenção do veto, apenas 132. E 11 se abstiveram. “Foi por um triz, mas foi uma vitória de qualquer jeito”, comemorou Josué Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara.

A oposição, praticamente toda, votou contra o veto. Parte do PMDB, que tem sete ministros de Estado, inclusive o da Saúde, dono do maior orçamento da República, também votou contra. Em seguida faltou quórum para votar outros vetos de Dilma às pautas-bombas.

Por pautas-bombas entenda-se projetos aprovados pelo Congresso na contramão dos esforços do governo para fazer economia. São mais 13 vetos. Que deverão começar a ser votados em uma nova sessão do Congresso marcada para esta manhã.

Em agosto último, Dilma reformou seu ministério na tentativa de aumentar sua base de apoio no Congresso. Tomou ministérios importantes do PT. Distribuiu-os com o PMDB e demais partidos até então insatisfeitos com a repartição do poder.

Não parou só nisso. Passou a atender aos pedidos dos partidos por cargos no segundo e no terceiro escalões do governo. Cargos, naturalmente, que mexam diretamente com dinheiro, facilitando assim a realização de negócios quase sempre espúrios.

Nem assim o governo conseguiu até aqui tranquilidade para votar no Congresso o que lhe interessa. E também para não votar. O que mais preocupa Dilma e sua gente é um eventual pedido de impeachment dela. Para que seja aprovado na Câmara bastariam 257 votos.

Sim, quase o número obtido ontem à noite pelos que queriam derrubar o veto ao aumento do Judiciário. O impeachment de Dilma pode ter esfriado. Mas ele ainda não deve ser descartado. O governo sabe disso.



19 de novembro de 2015
Ricardo Noblat

VITÓRIA DE PIRRO




É conhecida a história. Depois da batalha em que venceu os adversários, Pirro anunciou que outro embate daqueles exterminaria seu reino. Desde o fim da noite de terça-feira e durante todo o dia de ontem não se registrou uma única comemoração no palácio do Planalto por conta da vitória do governo com a manutenção do veto da presidente Dilma ao aumento dos servidores do Judiciário. 

A razão é simples: a derrota esteve muito próxima. Dos 513 deputados, apenas 132 votaram pela permanência do veto. Abstiveram-se onze e se opuseram 251. Quer dizer, faltaram apenas seis deputados para infligir a Madame o sucesso da rebelião em suas bases.

Esfrangalhou-se a tal maioria de que o governo dispôs desde o primeiro mandato do Lula. Apesar de PT, PMDB, PP e penduricalhos alardearem integrar formidável base governista, só conseguiram reunir 132 seguidores fiéis.


Os detentores do poder encontram-se a um passo de despencar. Imagine-se a tremedeira que irá assolar o conjunto cada vez menor, caso o deputado Eduardo Cunha aceite fazer tramitar o pedido de impeachment da presidente. Bem como durante a votação da nova CPMF, prevista para março.

Por enquanto não se aceitará a afirmação de que o governo acabou, mas é quase isso. Faltam três anos de conflitos e confrontos, se não vingar o afastamento de Dilma, mas será um período de turbulências. 
O PMDB tornou-se inconfiável. Até no PT houve quem se insurgisse contra o veto presidencial. Mesmo com o fisiologismo correndo solto na Esplanada dos Ministérios, o governo balança diante da tempestade que se aproxima. 

Imaginar sua rápida recuperação e a perspectiva do fim da crise econômica virou exercício de fantasia. Não há certeza de nada, exceção de que o país não aguentará muito mais tempo sem uma reforma profunda. Promovida por quem?


19 de novembro de 2015
Carlos Chagas

LULA, O ETERNO TRAÍDO



RASÍLIA - Em 2005, o então presidente Lula afirmou ao país que não sabia do mensalão. "Eu me sinto traído por práticas inaceitáveis, das quais nunca tive conhecimento", disse, em pronunciamento oficial.

Nesta quarta, o agora ex-presidente Lula afirmou que também não sabia do petrolão. "Foi um susto para mim", disse, em entrevista a Roberto D'Ávila. 
"Muitas vezes, aquele cara que parece um santo na verdade é um bandido", acrescentou.

Acreditar que Lula não sabia de nada é um ato de fé. Os dois escândalos foram gestados em seu governo e tiveram seu partido como beneficiário. 
No mensalão, a Justiça mandou para a cadeia um tesoureiro e dois ex-presidentes do PT. No petrolão, já foram presos um tesoureiro e um ex-presidente do PT. Por enquanto.

Quando o assunto é corrupção, Lula não costuma se preocupar com a coerência do que diz. Depois de pedir desculpas pelo mensalão, ele passou a sustentar que o esquema nunca existiu. 
Daqui a alguns anos, é possível que comece a negar os desvios bilionários na Petrobras.

Na entrevista à Globo News, o ex-presidente também negou fatos relatados por políticos e empresários com quem conversa. 
Disse que não quer derrubar Joaquim Levy da Fazenda, que não quer emplacar Henrique Meirelles em seu lugar e que não tenta influir no governo Dilma.

Faltou acrescentar que seu nome não é Luiz Inácio, que ele não mora em São Bernardo do Campo e que não deseja voltar ao Planalto. 
A última parte ele até ameaçou dizer, mas foi traído pela própria língua.

*

Eduardo Cunha é vingativo e acaba de escolher outro alvo. Nesta segunda, ele tirou da gaveta e enviou à corregedoria da Câmara uma representação contra o desafeto Glauber Braga. 
O deputado do PSOL é acusado de quebrar o decoro ao chamar de "matador" um colega que integra a bancada da bala. 
Detalhe: a discussão ocorreu há mais de seis meses.


19 de novembro de 2015
Bernardo Mello Franco

O "BONECO" DO GENERAL MOURÃO ASSOMBRA O PLANALTO

Algumas conclusões podem ser tiradas sobre os acontecimentos que tiveram palco na Esplanada dos Ministérios em Brasília, no domingo, 15/11/2015. Inicialmente ressalte-se o fortíssimo aparato de segurança montado pelo governo para aguardar os manifestantes. Torna-se evidente que o governo superestimou a presença de populares; alguns comentários feitos em redes sociais indicavam a presença de mais policiais do que manifestantes. Não foi bem assim; eu estava lá. Mas, foi indiscutível a presença maciça do aparato policial. Com isso, saltam aos olhos, dois fatos: (1) a ineficiência dos serviços de inteligência envolvidos na avaliação da extensão da manifestação e (2) o evidente medo do governo federal diante de seu próprio povo. Sobre esse último item, falarei adiante.

Outra conclusão é inevitável: o povo não compareceu conforme a expectativa geral. Nem quem tinha o dever de ofício de fazer uma estimativa acurada da presença popular conseguiu se desincumbir satisfatoriamente da tarefa. A desproporcionalidade da presença policial em relação aos manifestantes atesta isso. Possivelmente os serviços de inteligência usaram como parâmetro as redes sociais, esquecendo-se que tal trabalho de coleta e análise de dados não pode ser feito somente no conforto do gabinete com ar condicionado. É preciso ir a campo e “sujar” os pés.

Ainda sobre as redes sociais, verifiquei um fato curioso na noite deste domingo (15/11). Um pequeno vídeo da manifestação postado no Facebook alcançava mais de 250 mil visualizações, milhares de curtidas, centenas de comentários e compartilhamentos. Conclusão óbvia: a maioria da população prefere viver no conforto e na “segurança” do mundo virtual do que ir para as ruas do mundo real. Isso é ruim, mais ainda poderia ser pior se a alienação fosse completa.

Chamou a atenção também que muitos manifestantes vaiaram a presença da Força Nacional, não o fazendo em relação à presença da Polícia Legislativa ou Polícia Militar. Para bom entendedor, pingo é letra: a Força Nacional é identificada – com justiça ou não – como a polícia particular do governo federal. E tudo que é associado ao governo federal é motivo de apupos públicos.

Mas, a imagem mais marcante da manifestação foi sem dúvida alguma o imenso boneco inflável do General Mourão, elevado à categoria de herói nacional ao lado do Juiz Sérgio Moro. O fato do General Mourão ter sido afastado de um comando operacional para uma função burocrática acabou por fazer dele uma mistura de mártir com salvador do povo brasileiro. A frase mais lembrada do General Mourão foi o seu desejo de que o povo “despertasse para a luta patriótica”. Não está fácil, General, pois ainda não atingimos o fundo do poço; por isso, o povo ainda não acordou.

Volto ao tópico do medo. Um governo que teme seu próprio povo está fadado a naufragar miseravelmente na sua própria insignificância. Político não vive sem povo, assim como o peixe não sobrevive fora d’água. Aliás, refaço a frase: político honesto não vive sem povo. E explico: para o partido que ocupa atualmente os corredores do Palácio do Planalto, a vontade popular é secundária, não importando nem mesmo em quem o eleitor pretende votar. Para garantir o resultado das eleições existe a urna eletrônica e a Smartmatic.

Porém, a sombra do “boneco inflável” do General Mourão colocado diante do Congresso Nacional continua assombrando os corruptos e servindo de alento para os brasileiros destemidos e decididos que a despeito de todas as dificuldades continuam acampados na Esplanada dos Ministérios. O medo ronda o Planalto, e vencê-lo não é tarefa para qualquer um. Especialmente para quem, abrigado no fundo escuro de uma trincheira, tem no engodo e na bravata as suas maiores armas. Na outra trincheira, milhões de brasileiros só aguardam que surja um líder capaz de conduzi-los e unificá-los e recolocar o Brasil no rumo da ética e do desenvolvimento. Enquanto isso, a indefectível imagem do General Mourão continua lá na Esplanada, impávido em eterna continência ao Pavilhão Nacional!


19 de novembro de 2015
Robson Merola de Campos

O HUMOR DO DUKE...

Charge O Tempo 19/11
19 DE NOVEMBRO DE 2015

A GUERRA PELA ALMA DO ISLÃ


Atentados nos Estados Unidos em 2001. Responsáveis? Radicais islâmicos, reunidos na Al Qaeda.

Atentados aos trens na Espanha, três anos depois. Responsáveis? Radicais islâmicos.

Atentados a ônibus e ao metrô em Londres, em 2005. Responsáveis? Radicais islâmicos.

Atentados de sexta-feira em Paris. Responsável? O Estado Islâmico.

O islã é, então, a fonte da violência que assusta o planeta? Não.

Não é minha opinião, irrelevante, mas a dos líderes dos principais países do mundo, congregados no G20, cujo comunicado final sobre terrorismo é claro:

"Nós reafirmamos que terrorismo não pode e não deve ser associado com qualquer religião, nacionalidade, civilização ou grupo étnico".

Mas, como disse à Folha o filósofo Pascal Bruckner, "o desafio do século 21 é o islamismo, ponto". Ressalva fundamental: "O radical é a degeneração ideológica do islã".

Aí, chega-se ao ponto.

Na verdade, há uma guerra surda entre a maioria islamista não radical e os fanáticos que praticam atentados e tentam recriar o califado, o governo de um Estado com base na sharia, a lei islâmica, cuja última expressão (o Império Otomano) foi abolida já faz quase um século (em 1924) pelo turco Mustafá Kemal Atatürk.

Dessa guerra dá bem ideia Hisham Hellyer, pesquisador sênior do Conselho Atlântico de Washington, em artigo para o "Financial Times":

"O grupo [Estado Islâmico] visa muçulmanos bem mais do que quaisquer outros –e a maioria das pessoas que lutam contra o EI também é muçulmana".

A questão seguinte é saber se é possível "eliminar" os fanáticos (verbo usado pelo presidente Barack Obama) e, com isso, pôr fim ao terrorismo.

É esse esforço militar que foi agudizado pelos atentados em Paris, mas o mais lógico é admitir que não se ganha a guerra apenas pelas armas.

Tim Arango lembra, no "The New York Times" desta quarta-feira, 18, que um predecessor do Estado Islâmico (Al Qaeda na Mesopotâmia), criado para combater a invasão norte-americana do Iraque em 2003, foi destruído e teve seus líderes mortos em 2009.

Mas, "depois que os americanos deixaram o Iraque, o grupo ascendeu de novo das sombras e, em sua reencarnação [o Estado Islâmico], tornou-se ainda mais brutal e determinado".

O sentido comum determina, pois, que, por mais que a ação militar seja indispensável, ela só será de fato vitoriosa se houver, também, uma guerra cultural pela alma do islã.

"Necessitamos uma forte identidade religiosa que convoque as pessoas à ação, mas ação de um modo construtivo, não destrutivo, e que promova a vida, não a morte", disse ao "The New York Times" o imã Mohamed Magid, líder espiritual da comunidade muçulmana na Virgínia.

Mas que ninguém se iluda: não só a vitória militar não está à volta da esquina, na Síria ou no Iraque (bases do califado), como a batalha cultural também leva tempo.

É como disse o filósofo Bruckner à Folha: "Desativar militar, policial e judicialmente o radicalismo vai levar várias gerações".

Mas ou se começa já ou se eternizará o medo –e, com ele, a islamofobia.

19 de novembro de 2015
Clóvis Rossi

FALTAM ATITUDE E RESPOSTAS. MARIANA ESPERA...

Passadas duas semanas do rompimento da barragem de Fundão, da Samarco (Vale-BHP), em Mariana, já considerado o maior desastre ambiental do planeta se considerado o volume de rejeitos jogados na natureza, a empresa, os governos estadual e federal e órgãos de fiscalização, como o Ministério Público, ainda batem cabeça, sem conseguirem dar respostas às negligências anteriores à tragédia e, principalmente, a responsabilização e recuperação envolvendo esse episódio.

Em relação ao desastre de Marina falta esclarecer, por exemplo, questões básicas. Por que não havia e por que nunca foram cobradas da mineradora sirenes ou planos de emergência/evacuação para casos de acidente? Como uma estrutura de risco elevado com renovação de licenciamento pendente, desde 2013, teve aval de diversos órgãos, neste ano, para realizar obras de alteamento com o objetivo de aumentar a capacidade de receber rejeitos? Qual a real causa do acidente? Como o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), responsável pela fiscalização de barragens (em Minas são mais de 700), funcionava no Estado com apenas quatro fiscais e, de acordo com o sindicato dos servidores do órgão, apenas um veículo? Ainda sobre o DNPM, chama a atenção o fato de apenas pouco mais de R$ 1 milhão ter sido executado pelo departamento, até novembro de 2015, quando estavam previstos no Orçamento da União R$ 10 milhões para este ano. A diferença de R$ 9 milhões só foi liberada pelo governo federal quando já era tarde demais, ou seja, depois do acidente de Mariana.

Quando se pensa nas consequências dessa tragédia, a inércia se repete. Ainda não se definiu quanto receberão nem onde, nem como serão alocadas as centenas de famílias desabrigadas pelo rompimento da barragem? O ideal seria reconstruir os distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, como querem os moradores e defende um promotor de Justiça, e não comprar imóveis em locais aleatórios para dispor as famílias. Também há uma grande confusão sobre os valores a serem pagos pela mineradora. Só após a pressão da opinião pública, o Ibama e o Ministério Público se moveram e apresentaram multas, mas nada ainda saiu efetivamente dos cofres da Samarco.

E o futuro do rio Doce e de todas as cidades dependentes de suas águas e vida fluvial? Em um ato até irresponsável, pois não houve a apresentação de nenhum dado ou plano (nem mesmo se sabe o tamanho real da destruição), a presidente Dilma Rousseff anunciou em um daqueles seus discursos descolados da realidade a revitalização do rio para um estado anterior ao da presença humana. Não dá para levar a presidente a sério.

Espera-se pelo menos, em nível estadual ou por meio da revisão do código da mineração (ainda em tramitação no Congresso), a exigência da adoção pelo setor de novas tecnologias para armazenar os rejeitos do processo de extração do minério. O Estado e sua população não podem continuar a reboque dos interesses das empresas privadas (quase todas elas fiadoras de campanhas de candidatos a deputado, governador e presidente). É a reparação mínima pelas vidas e pelo ecossistema devastados pela tragédia de Mariana.



19 de novembro de 2015
Murilo Rocha

PARIS E O RUBICÃO

O 13 de novembro de Paris foi a travessia de um Rubicão. Na sequência dos atentados contra o avião russo no Sinai e os bairros xiitas de Beirute, os ataques à capital francesa assinalam uma transição irreversível: o Estado Islâmico (EI) mudou sua natureza. No lugar de apenas um movimento territorializado, que busca erguer um califado jihadista no Oriente Médio, surge uma rede terrorista capaz de coordenar operações em qualquer lugar do mundo. 
Nas águas do Rubicão atravessado, boia o cadáver da estratégia de contenção do EI. Hoje, sabe-se que a única resposta efetiva ao desafio é privar os jihadistas de sua base territorial, por uma ofensiva terrestre decisiva como a empreendida no Afeganistão, em 2001. Barack Obama, contudo, descartou explicitamente essa opção, cuja viabilidade depende da liderança americana.

A contenção era, originalmente, uma estratégia apropriada. O EI mudou de natureza porque estava perdendo a guerra. Sua pulsão ofensiva estancara de encontro aos diques formados pelos xiitas do Iraque, ao sul, e pelos curdos do Iraque e da Síria, ao norte. 
Nos últimos meses, sob o impacto dos bombardeios aéreos e das contraofensivas curdas e xiitas por terra, o território do califado reduziu-se em cerca de um quarto. A série de atentados que culminou em Paris destina-se a alterar o cenário e, assim, intensificar o recrutamento de soldados do terror.

“Choque de civilizações” — eis o objetivo dos atentados. Os jihadistas semeiam o medo para colher a islamofobia. Querem que as nações europeias fechem suas fronteiras aos refugiados muçulmanos e crismem seus cidadãos muçulmanos como suspeitos. Na França, em particular, pretendem impulsionar a candidatura presidencial de Marine Le Pen, da Frente Nacional, para traçar uma fronteira de sangue entre “franceses apóstatas” e “muçulmanos puros”.
 Não é fortuito que o comunicado do EI reivindicando os atentados defina Paris como a “capital dos prazeres e da prostituição”. Quando o ex-presidente Nicolas Sarkozy sugere colocar tornozeleiras eletrônicas em milhares de jovens muçulmanos que não respondem a acusações específicas, o EI comemora um triunfo na sua campanha de recrutamento.

“Guerra total”, anunciou o presidente François Hollande, enquanto seu primeiro-ministro Manuel Valls comprometia a França com o objetivo de “destruir o EI”. O governo francês não podia dizer coisa diferente, pois a ausência de uma resposta dramática aprofundará as tensões, já dilacerantes, que atravessam a sociedade francesa desde o massacre do Charlie Hebdo. 
Mas a França carece dos meios militares para cumprir a promessa solene. É por isso que, no intervalo do luto nacional, enquanto ordena bombardeios aéreos quase apenas simbólicos contra Raqqa, Hollande cumpre um roteiro de encontros em Washington e Moscou. A antiga potência europeia precisa articular uma coalizão internacional disposta a empreender a “guerra total” de erradicação do califado.

Obama falou sobre a comunhão histórica de valores que conecta os EUA à França, e as cores francesas acenderam-se no One World Trade Center, em Manhattan. Entretanto, abaixo da superfície, trava-se uma amarga disputa entre Hollande e Obama. 
Perante a Assembleia Nacional, o presidente francês invocou uma cláusula do tratado da União Europeia que consagra o princípio da defesa coletiva. A cláusula, jamais antes utilizada, menciona o célebre artigo 5.º do Tratado da Otan, que qualifica um ato de guerra contra qualquer integrante da aliança como agressão contra todos. 

Cuidadosamente, mas à luz do dia, a França pressiona os EUA, clamando por uma ofensiva terrestre.
Hillary Clinton, a provável candidata democrata à Casa Branca, distinguiu sua posição da de Obama, declarando que é hora de evoluir da “contenção” para a “destruição” do EI. Porém, cautelosamente, ela indicou que a ferramenta seria uma coalizão de potências regionais apoiadas pela ação aérea das potências mundiais. Isso, Hillary sabe, não acontecerá, pois a presença do EI serve, de algum modo, aos diferentes atores regionais. 
Os jihadistas fustigam o regime sírio e o governo xiita do Iraque, o que interessa à Arábia Saudita e à Turquia. Por outro lado, a ameaça do EI oferece uma réstia de legitimidade à tirania de Assad, na Síria, e um álibi para o envolvimento do Irã nos assuntos iraquianos. Finalmente, o combate limitado ao califado assegura aos curdos a assistência militar americana.

Na Coreia, em 1950, as forças lideradas pelos EUA operaram sob a bandeira da ONU. O precedente serviria como modelo para uma coalizão das potências mundiais destinada a erradicar o califado. Mas, desta vez, a Rússia figuraria como componente fundamental da coalizão, um estatuto garantido pela intervenção militar de Moscou no conflito sírio. A hipótese exige a implementação concomitante do plano de pacificação da Síria, nos moldes propostos por Moscou – ou seja, sem a eliminação imediata do regime de Assad. 
O blefe de Vladimir Putin na Síria seria premiado duas vezes, pelo acordo de transição política na Síria e pela presença de tropas russas na Síria e no Iraque. A França teria a “guerra total” que não pode travar sozinha. E a Europa veria uma luz no fim dos longos túneis da crise dos refugiados e da perene ameaça de atentados terroristas coordenados a partir de uma base territorial.

O obstáculo encontra-se nos EUA. A superpotência indispensável gira seu foco estratégico para a Ásia, engajando-se no objetivo de longo prazo de contrabalançar a influência chinesa no Oriente. Por isso, Obama elevou o compromisso de não engajamento de forças terrestres num novo conflito no Oriente Médio à condição de pilar de política externa americana. São, contudo, decisões adotadas antes do fatídico 13 de novembro. Elas não resistiriam à reprodução da carnificina de Paris em Londres, Nova York ou Washington.



19 de novembro de 2015
Demétrio Magnoli

O PMDB COMO ELE É


Nada é mais tristemente representativo da realidade política brasileira do que esse poderoso partido-ônibus – porque nele cabem todos – chamado PMDB. Sua liderança mais expressiva – Michel Temer, não por acaso vice-presidente da República – é a figura emblemática desse fenômeno político-partidário que sintetiza a lógica segundo a qual o que justifica a existência de um partido político é a luta pelo poder. No caso peculiar do PMDB, contudo, é preciso esclarecer: qualquer poder. Não há outra explicação, por exemplo, para a legenda comandada por Michel Temer ser há anos a principal aliada de um governo fortemente estatizante – no qual ocupa hoje nada menos do que sete ministérios – e simultaneamente defender um programa de governo, a “ponte para o futuro” proposta pela Fundação Ulysses Guimarães, que, entre outras coisas, contém propostas para reduzir o papel do Estado.

Essa é uma contradição admissível no caso de coalizões de emergência destinadas a superar crises graves que colocam em risco a estabilidade institucional. Poderia até ser o caso no Brasil. Mas não é – pelo menos por enquanto – seja porque as instituições fundamentais de nosso sistema democrático se têm demonstrado suficientemente sólidas, seja porque as principais lideranças políticas, especialmente as que estão no poder, revelam-se incapazes de compartilhar de fato esse poder para tirar o País do impasse político e do atoleiro econômico. Ninguém demonstra desprendimento ou disposição de colocar em risco seus ativos políticos em favor do bem comum.

E foi exatamente isso que fez o PMDB no curioso encontro que promoveu na terça-feira em Brasília, no qual foi tudo montado para mostrar que o partido é exatamente aquilo que cada uma de suas muitas facções quer que ele seja. Na fala principal, Michel Temer exercitou a retórica da conciliação do inconciliável, colocando-se suficientemente distante de Dilma Rousseff para manter animados os defensores do rompimento com o governo petista, mas também minimamente fiel à aliança com o Planalto para tranquilizar os muitos correligionários que desfrutam das benesses do poder.

Temer recorreu a uma sucessão de clichês: “Nós estamos juntos procurando soluções para o País. Não é de hoje que temos falado em reunificar o pensamento nacional e pacificar a Nação. Não é da índole do brasileiro a disseminação do ódio”. E ainda se permitiu um rasgo de modéstia – “por enquanto não, obrigado” – quando grupos entoaram o coro “Brasil/Pra frente/Temer presidente”. E estendeu-se na explicação: “Vamos esperar 2018. Vamos lançar um grande nome do PMDB. Estou encerrando minha vida pública”. Acredite quem quiser, até porque ele já contratou um advogado especialista em legislação eleitoral para tentar desvincular sua candidatura a vice em 2014 da candidatura de Dilma Rousseff, de modo a impedir que eventual cassação do mandato da presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atinja também seu mandato de vice-presidente, impedindo-o de assumir a chefia do governo.

Em resumo, o “congresso” peemedebista, que chegou a ser visto como primeiro passo para a formalização do rompimento com Dilma, resumiu-se a uma encenação da qual o PMDB saiu exatamente como entrou: confortavelmente instalado no governo e à espera da melhor oportunidade para assumir o papel político a que se considera destinado diante da falência do projeto de poder do PT. Essa oportunidade parece estar reservada para o meio do próximo semestre, quando os previsíveis agravamentos da crise econômica e do enfraquecimento político de Dilma e do PT coincidirão com a Convenção Nacional do PMDB, agendada para o mês de março.

Até lá – certamente Temer torce também para isso – o partido pode ter-se livrado do constrangimento de ostentar como uma de suas principais lideranças o mendaz presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, alvo de hostilidades na reunião de Brasília. E, acima de tudo, o País estará a apenas sete meses das eleições municipais, estratégicas para o fortalecimento da hegemonia política de um partido que fará o possível para poupar seus candidatos de qualquer tipo de associação com tudo o que o PT representa.



19 de novembro de 2015
Estadão

O QUE NÓS NOS PERGUNTAMOS, DESDE CRIANCINHAS: O PAÍS DOS POLÍTICOS MACUNAÍMICOS

QUE RAIOS DE PAÍS É ESTE, AFINAL??

Deixo provisoriamente de lado o assunto corrupção para recapitular um pouco dos últimos anos e suscitar algumas questões que suponho sejam do interesse de todos os leitores.

Em 2009-2010, em dobradinha com Luiz Inácio Lula da Silva, o dr. Henrique Meirelles manteve a economia brasileira superaquecida; o objetivo, mais que evidente, era garantir a eleição da sra. Dilma Rousseff e proporcionar-lhe uma boa bancada de apoio no Congresso Nacional.

Iniciado o governo da sra. Dilma em janeiro de 2011, a retração econômica viriapar la force des choses, como se costuma dizer. Mas a sra. Dilma Rousseff e seu bravo escudeiro no Ministério da Fazenda, o dr. Guido Mantega, não receberam com alegria a ideia de serem atropelados pela força das coisas. No entender deles, a saída estava ao alcance da mão: bastava turbinar o consumo, dando rédea solta ao crédito, achatando os juros e despejando uns tantos bilhões em alguns setores-chave, a começar pelo automobilístico. Essa fórmula tão simples – que Dilma Rousseff até tentou explicar à primeira-ministra alemã, Angela Merkel... – reporia o Brasil na trajetória do crescimento e impediria o aumento do desemprego, preocupação socialmente bondosa e eleitoralmente mais que louvável.

Cortar gastos de custeio ou investimentos que ela mesma, a presidente da República, considera urgentes e de alta qualidade equivaleria a passar recibo de herege, logo ela, que, em tais assuntos, parece sentir-se diretamente inspirada por uma luz divina. De sua boca não sairiam as seis heréticas letras da palavra “ajuste”; que as pronunciasse o cavalheiro que ousou enfrentá-la na disputa presidencial de 2014. A “força das coisas” deu finalmente o ar de sua graça: milhões de brasileiros antes estimulados a ascender ao paraíso da “classe média” de lá retornaram com muitos carnês para pagar e o rabo entre as pernas.

E eis senão quando, nesse cenário concebido para não ter defeitos, de repente irrompeu um pequeno problema: certos “malfeitos”, como o Lula costuma dizer, escapuliram do local onde haviam sido ocultados, nos porões da Petrobrás. A força das coisas não é de aparecer a qualquer momento, mas consegue ser bem cruel quando aparece. Não foi preciso fuçar muito para se determinar que os “malfeitos” na Petrobrás foram meticulosamente urdidos durante o governo Lula e executados, em sua maior parte, quando a sra. Dilma Rousseff, uma competência administrativa cantada em prosa e verso, presidia o Conselho de Administração da grande estatal brasileira.

Do restante da história todos se lembram, não cometerei o despropósito de o relembrar. Passo, pois, às indagações a que me referi no início – e de antemão peço desculpas pelo aborrecimento que elas possam causar a meus eventuais leitores.

A primeira eu tomo emprestada de Francelino Pereira, um piauiense que governou Minas Gerais: “Que país é este?”. Ou, para ser mais preciso, que raio de país é este onde a sociedade inteira assiste passivamente ao sr. Lula e à sra. Dilma, movidos por sua gana de poder e pela busca da vitória eleitoral a qualquer preço, fazendo e desfazendo o que bem entendem?

Escrevi “a sociedade inteira”, mas apresso-me a fazer uma correção. A obrigação de dar um basta a disparates, ao desprezo pelos alertas que os economistas não se cansaram de fazer e a não poucas ilegalidades – essa obrigação cabe, em primeiro lugar, ao Congresso Nacional, aos partidos políticos e às elites. Sobre a inépcia do Congresso Nacional e dos partidos no período a que me estou referindo, creio que nada mais há a dizer. Digamos só que foi (tem sido) patética.

E as elites do País?

Os petistas que me perdoem: não posso desperdiçar o espaço de que disponho discutindo o sexo dos anjos, como eles gostam de fazer a propósito desse conceito. Qualquer pessoa alfabetizada e disposta a argumentar honestamente sabe que não há no Brasil uma elite aristocrática, inacessível, muito menos uma elite fechada, oculta, permanentemente ocupada em conspirar contra sabe-se lá o quê.

Elite, no Brasil, é o ápice para o qual convergem os indivíduos que mais se destacam na sociedade, uns poucos em razão de sua renda ou seu patrimônio, a vasta maioria por exercer funções hierárquicas elevadas em diferentes instituições ou organizações: empresários e líderes sindicais, desde logo, mas também a alta administração civil e militar, os principais jornalistas e editores, os professores universitários, os intelectuais mais produtivos, os clérigos mais altos das diferentes denominações e outros mais.

O que pergunto é, pois: que raio de país é este em que os integrantes de tais grupos não percebem ou aceitam passivamente o aviltamento da democracia, a dilapidação de recursos públicos numa escala astronômica e uma operação cuidadosamente planejada para subtrair recursos de uma empresa respeitada, por pouco não a levando à bancarrota?

A passividade dos grupos mencionados, o fato de levarem a vida como se habitassem um arquipélago, cada um em seu pequeno paraíso tropical; o desinteresse pela destinação dos impostos que pagam – tudo isso causa espanto.

Salta aos olhos que a imensa maioria fala de menos. E uns poucos, convenhamos, falam demais. Onde é que já se viu, numa democracia, um integrante da Suprema Corte – falo do ministro Ricardo Lewandowski – se dirigir aos cidadãos como conselheiro político: “Devagar com o andor, minha gente, esse negócio de impeachment pode levar a um golpe!”.



19 de novembro de 2015
Bolívar Lamounier

COMO VIVEM OS POLÍTICOS NA SUÉCIA: UM TRECHO REVELADOR DE UM NOVO LIVRO

No jornal Aftonbladet, o primeiro-ministro sueco dá dicas de limpeza.
No jornal Aftonbladet, o primeiro-ministro sueco dá dicas de limpeza.

Claudia Wallin, jornalista brasileira radicada na Suécia, acaba de lançar um livro sobre os políticos suecos – “Um País Sem Excelências e Mordomias” (Geração Editorial). Abaixo, um trecho que retrata, em detalhes, a cultura escandinava. 
”É preciso aceitar os sacrifícios que se avizinham”, murmura para si próprio um sueco no momento revelador em que a sua real vocação para a carreira política se manifesta como um desejo irrefreável. ”Serão abomináveis os desafios”, alerta um forasteiro: os cintos apertados como os da amorfa massa do povo, a ausência de alegres comitivas de inúteis, os apartamentos funcionais que lembram quartos de hotéis de duas estrelas, a falta que hão de fazer os batalhões de assessores e parasitas. Quando tal provação parecer insuportável, será prudente invocar Mímir, o deus venerado pelos vikings por sua sabedoria infinita e pela cabeça que, mesmo decepada pelos inimigos, continua a pensar.
A Suécia não oferece luxo aos seus políticos: nesta sociedade essencialmente igualitária, a classe política não tem o status de uma elite bajulada e nem os privilégios de uma nobreza encastelada no poder. Sem direito a imunidade, políticos suecos podem ser processados e condenados como qualquer cidadão. Sem carros oficiais e motoristas particulares, deputados se acotovelam em ônibus e trens, como a maioria dos cidadãos que representam.
Sem salários vitalícios, não ganham a merecida aposentadoria após alguns poucos anos de trabalho pelo bem do povo. Sem secretária particular na porta, banheiro privativo ou copa com cafezinho, os gabinetes parlamentares são espartanos e diminutos como a sala de um funcionário de repartição pública. Sem verbas indenizatórias para alugar escritório nas bases eleitorais, deputados suecos usam a própria casa, a sede local do partido ou a biblioteca pública para trabalhar quando estão em suas regiões de origem.
”Está bom, mas pode ficar melhor”, resmunga o motorista de táxi que me leva do aeroporto de Arlanda ao centro de Estocolmo, a capital sueca. Ele reclama indignado, como tantos outros, do valor do salário líquido de um deputado do Parlamento sueco: horror dos horrores, é cerca de 50 por cento a mais do que ganha em média um professor primário no país. Um privilégio indefensável, que na lógica do motorista deveria estar em processo acelerado de extinção. Não é preciso consultar a cabeça de Mímir para deduzir que este é um povo que sabe quem é o patrão.
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”Sou eu que pago os políticos”, resumiu o cidadão sueco Joakim Holm, durante entrevista gravada em uma rua de Estocolmo para reportagem do Jornal da Band. ”Não vejo razão alguma para dar a eles uma vida de luxo”.
”Os políticos são eleitos para trabalhar para mim e para todos os outros cidadãos que pagam impostos. Aqui ninguém acha que os políticos são uma classe superior com direito a privilégios”, disse outro entrevistado, Mikael Forslund.
A nível municipal, o desejo de exercer a atividade política poderia ser mal interpretado, fora da Suécia, como um caso clínico: vereadores suecos não ganham sequer salários, e também não têm direito a gabinete – trabalham de casa. Estarão os seus nervos em desordem?
O que o modelo sueco demonstra é que as camisas de força se ajustariam melhor ao figurino das platéias entorpecidas de outras latitudes, que assistem, bovinizadas, ao fascinante espetáculo diário dos abusos do poder. A experiência da Suécia subverte o desconexo conceito de que aos políticos deve-se dispensar um tratamento reverencial digno de uma casta superior, formada por cavalheiros e damas mais ilustres do que a média, e portanto com direitos quase divinos a benesses jamais alcançáveis pelos cidadãos que vivem sob o Olimpo político.
Ainda lembro da estranha sensação de estar presenciando um fenônemo extraterreno quando encontrei, pela primeira vez, o ex-primeiro-ministro e atual ministro das Relações Exteriores, Carl Bildt, empurrando seu carrinho de compras no supermercado que frequento em Estocolmo. E o prefeito de Estocolmo, Sten Nordin, na fila do ônibus. E o presidente do Parlamento, Per Westerberg, em um vagão do metrô.
Sem desesquilíbrios sociais monstruosos, este é sem dúvida um país mais seguro e menos violento, onde provavelmente os únicos carros blindados que circulam pelas ruas são guiados pelas forças de segurança. Mas mais que isso, esta é uma sociedade que elege políticos mais próximos da realidade e das dores do cidadão comum. Políticos que em geral não colocam a vaidade ou os interesses próprios na frente dos bois, em uma sociedade que mostra que o exercício da função política pode ser digno.
”Na Suécia, os políticos vivem uma vida simples, em condições semelhantes às que vivem os cidadãos. É uma tradição”, diz o jornalista Mats Knutson, apresentador e comentarista político da TV pública SVT.
Na década de 70, o então primeiro-ministro Olof Palme morava em sua própria casa no subúrbio de Vällinby, e costumava dirigir para a sede do Governo em um velho Fiat vermelho.
”Era um Fiat 600, fabricado na antiga Alemanha Oriental”, conta Mårten Palme, filho de Olof Palme e professor de Economia da Universidade de Estocolmo. ”Meu pai prezava a igualdade e a simplicidade, e vivíamos uma vida normal. Nossa casa de verão na ilha de Fårö era bastante primitiva, e não havia sequer água ou eletricidade”, ele me diz.
O antecessor de Palme, Tage Erlander, tomava o bonde para a sede do Governo. Ou ia de carona com a mulher, que trabalhava perto dali.
Os suecos só decidiram criar uma residência oficial para o primeiro-ministro depois de 1986, quando Olof Palme foi assassinado a tiros na saída do cinema quando caminhava para casa sem escolta, em um crime brutal e nunca solucionado. Seu sucessor, o também social-democrata Ingvar Carlsson, mudou-se aparentemente contrariado para a nova residência oficial. Diz-se que Carlsson, que renunciaria ao poder tempos depois, achava inapropriado para um primeiro-ministro sueco morar num lugar chamado de Palácio – ao construir a casa em 1884, a abastada família Sager a batizara de Palácio Sagerska.
Turistas menos atentos pisam, sem se dar conta, a um metro da porta de entrada da casa do primeiro-ministro sueco. Sem portões externos, a residência oficial de Sagerska está situada na Strömgatan, a rua de pedestres que margeia o Mar Báltico e o lago Mälaren nas proximidades do Parlamento. Com uma área de 305 metros quadrados, os aposentos privados do premier ocupam o andar superior da residência de 1,195 metros quadrados, vigiada do lado de fora por duas câmeras disfarçadas e pela presença ocasional de um Volvo das forças de segurança suecas.
Sagerska é uma bela mansão. Mas não há serviçais no apartamento do primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt.
”A limpeza dos aposentos privados do primeiro-ministro é feita uma vez por semana. Por este serviço, o primeiro-ministro deve pagar impostos em sua declaração de renda”, diz Anna Dahlén, assessora de imprensa do governo sueco.
Sem provocar reações de espanto sobrenatural entre a população, Fredrik Reinfeldt fala com naturalidade que lava, passa e cozinha como a maioria dos cidadãos deste país. ”E por que ele não faria isso, se todos nós fazemos?”, ouço de vários suecos.
Há quem vá sentir o cheiro acre da demogagia populista ao saber que na Suécia o primeiro-ministro dá dicas de limpeza em reportagens de jornal, e aconselha seus concidadãos a ajoelhar para raspar a sujeira. Mas a verdade é que cuidar das tarefas domésticas por aqui é tão natural como beber snaps, o destilado consumido em quantidades imoderadas no país.
Na Suécia, como em tantos outros países do mundo, a instituição da empregada doméstica não existe. Entre os suecos mais radicais, o zelo pela igualdade e o medo do ressurgimento de uma subclasse social chega a provocar reações exaltadas. Em um debate da campanha eleitoral de 2006, flechas voaram contra a então líder do Partido de Centro (Centerpartiet), Maud Olofsson, quando ela defendeu a introdução de abatimentos fiscais para permitir aos suecos contratar faxineiras e aliviar assim sua dupla jornada.
”E quem limpa o banheiro da empregada?”, perguntou, irritado, o intermediador do debate na TV4, Göran Rosenberg.
”E quem pinta a casa do pintor?”, retrucou Maud. ”A faxineira também pode contratar ajuda quando precisar”, argumentou ela.
A inesperada proposta de Maud também foi atacada pelo primeiro-ministro da época, o social-democrata Göran Persson.
”Cada pessoa deve cuidar das próprias tarefas domésticas, é o que eu digo”, falou o primeiro-ministro.
Persson disse mais: contou, com orgulho indisfarçável, que era capaz de passar sua camisa social em um minuto. Foi, então, rapidamente convidado para provar a façanha ao vivo no estúdio de um programa de TV, onde foi montada uma tábua de passar roupa. O feito, devidamente cronometrado pelo apresentador do programa, pode ser visto no Youtube .
As peripécias com o ferro renderam picos de audiência ao primeiro-ministro. Mas naquele ano, depois de dez anos no poder, Persson perdeu as eleições. Maud tornou-se vice-primeira-ministra, e muitos suecos passaram a ter a ajuda ocasional de faxineiras, em sua maioria imigrantes polonesas. Praticamente todos continuam no entanto a lavar, cozinhar e passar, como Göran Persson.
Ministros também vivem sem luxo: eleito pelo jornal britânico Financial Times como o melhor ministro das Finanças da Europa em 2011, o sueco Anders Borg mora em Estocolmo durante a semana, segundo confirma seu porta-voz, em um apartamento funcional conjugado de cerca de 25 metros quadrados.
”Políticos suecos são despretensiosos”, comenta o porta-voz de Borg, Peter Larsson.
O apartamento de um só cômodo do ministro das Finanças, segundo o porta-voz, fica em um edifício que serve de acomodação para estudantes da Escola Superior de Guerra sueca (Försvarshögskolan). No prédio vivem ainda alguns funcionários do Ministério sueco das Relações Exteriores. Nos finais de semana, Borg vive com a família em sua casa na região de Katrineholm, ao sul de Estocolmo.
Nem ministros, nem prefeitos e nem o presidente do Parlamento têm direito a residência oficial. Apenas políticos com base eleitoral fora da capital recebem auxílio-moradia para viver em apartamentos ou mesmo quitinetes funcionais, que têm em média 18 metros quadrados.
Parece pouco para criaturas tão excelsas, mas está melhor do que nunca: até o fim dos anos 80, apartamentos funcionais sequer existiam na Suécia. Todos os parlamentares dormiam em sofás-cama, em seus próprios gabinetes. Hoje, todos têm um apartamento garantido. E esta garantia é, para muitos suecos que disputam um imóvel no centro da capital, uma mordomia inexplicável.
”Por que os deputados não precisam entrar na fila das imobiliárias para conseguir um apartamento, como todos nós?”, diz uma funcionária da creche que funciona dentro do Parlamento. Sim, há uma creche no Parlamento para cuidar de filhos de deputados.
O apartamento funcional pode ser um direito garantido. Mas a cama, não. Em grande parte dos imóveis parlamantares, onde um único cômodo serve como sala e quarto de dormir, há apenas um sofá-cama.
Qual é a origem da frugal existência dos políticos suecos? Vou ao encontro da jornalista Lena Mehlin na sede do jornal Aftonbladet, onde ela assina uma das colunas políticas mais lidas do país.
”Mas eles têm privilégios”, reage Lena.
”Quais?”, quero saber.
”Os políticos não precisam pagar suas contas de telefone. Eles têm direito a viver de graça em apartamentos no centro de Estocolmo. Eles recebem um computador para levar para casa, e não pagam pela assistência técnica. Eles ganham mais do que a média dos cidadãos. E os parlamentares que vêm de outras bases eleitorais também viajam de graça para suas casas, nos finais de semana”, enumera a jornalista. ”Se algum cidadão arranjar emprego em outra cidade, nenhum empregador vai pagar suas viagens no fim de semana”.
Pergunto a Lena se estes são benefícios considerados razoavelmente modestos na Suécia, em comparação às benesses que políticos recebem em outros países.
”Pode ser. Os políticos suecos não têm luxo, pois somos uma sociedade que elegeu a igualdade entre os cidadãos como um valor fundamental. Mas eles têm privilégios”, ela insiste.
”Mas não privilégios como, por exemplo, parlamentares circulando em carros oficiais com motoristas particulares?”, digo.
”Carros com motorista para deputados? Meus Deus, não!”, sobressalta-se Lena. ”Benesses deste gênero criam problemas que você não precisa ter. Como a corrupção. Para obter um emprego desses na política, muitos não hesitariam em cometer atos sujos”, pondera Lena.
Pergunto qual seria a reação dos suecos se os políticos do país decidissem, em uum devaneio impensado e incontrolável, aumentar seus próprios salários, ter direito a pensão vitalícia, ocupar espaçosos gabinetes com copa e cafezinho servido por secretárias, empregar dezenas de assistentes particulares e parentes, andar de jatinhos e circular em carros oficiais com motorista. Tudo pago com o dinheiro dos cidadãos.
”A sociedade sueca jamais toleraria a concessão de privilégios aos seus políticos”, ela diz.
”Isto é uma das poucas coisas que poderiam causar uma revolução aqui na Suécia.”
19 de novembro de 2915