"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

DILMA NÃO DEIXA DIVULGAR DADOS SOBRE AUMENTO DA POBREZA ANTES DA ELEIÇÃO


 
Por decisão do governo federal, o país chegará ao segundo turno da eleição presidencial no domingo sem ter dados atualizados sobre o desempenho dos alunos em português e matemática e a arrecadação de tributos, estatísticas potencialmente negativas para a campanha da presidente Dilma Rousseff. Como a Folha informou, também só serão divulgados depois da eleição dados sobre o desmatamento e um novo estudo sobre o contingente de pobres e de miseráveis. 

Avaliações independentes ou informações oficiais já publicadas sinalizam que os indicadores mostrarão piora nessas duas áreas. Diferentes instituições do governo Dilma Rousseff responsáveis por esses dados apontam questões técnicas, administrativas ou legais para explicar o que houve. 

No caso da educação, tradicionalmente até agosto são apresentados os resultados de um exame nacional aplicado, a cada dois anos, a mais de 7 milhões de alunos. Em setembro, o Ministério da Educação divulgou indicador que usa como base a prova de 2013 e a taxa de aprovação dos alunos --o Ideb--, sem mostrar qual foi o resultado em cada âmbito. Assim, não é possível saber como está o nível atual dos estudantes brasileiros em português e matemática. 

Por meio de dados secundários do próprio ministério, é possível estimar que os estudantes do ensino médio tiveram notas piores na prova nacional, mas menor reprovação nas escolas. Os colégios nesse nível de ensino são mantidos majoritariamente pelos Estados, mas cabe à União induzir melhorias no sistema. Já os alunos do ensino fundamental devem ter obtido desempenho positivo nas duas matérias.
Associação de funcionários do Inep (órgão que organiza a prova) divulgou carta pedindo autonomia ao órgão e "proteção frente a demandas de caráter privado". O professor da USP Ocimar Alavarse, especialista em avaliações educacionais, afirma que o intervalo entre a aplicação da prova (novembro de 2013) e a divulgação dos resultados (provavelmente novembro de 2014) "limita a análise" dos dados. 

ECONOMIA
Outra informação que será divulgada apenas após as eleições é o resultado da arrecadação de tributos em setembro. Mantida a tendência recente, a arrecadação será menor do que a esperada pela gestão Dilma. O anúncio normalmente ocorre até o dia 25. Em abril, maio e junho, porém, foi feito após essa data (nos dias 27, 26 e 28, respectivamente). 

Na aferição do desmatamento da Amazônia, cujos resultados são divulgados todo mês, apenas em novembro serão publicados os dados de agosto e setembro. Segundo análise da ONG de pesquisa Imazon, a taxa subiu 191% se comparado os bimestres de 2013 e 2014. 

Outra divulgação postergada foi o estudo do Ipea que analisará o número de miseráveis no país. Um diretor chegou a pedir afastamento devido à decisão. Segundo pesquisa do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), houve, no ano passado, pequeno aumento no número de indigentes. A informação já foi usada pelo tucano Aécio Neves em sua campanha.

(Folha de São Paulo)

BRASIL ENVERGONHADO E REVOLTADO!

Campanha nojenta, suja e difamatória da Dilma é manchete no mundo inteiro.

 
O jornal britânico Financial Times publica reportagem nesta quinta-feira com crítica ao debate político na reta final das eleições presidenciais no Brasil. Ao citar os ataques contra Marina Silva (PSB), o jornal destaca a acusação de que o PT usou "táticas de difamação" contra opositores.

O FT diz que a ex-ministra do Meio Ambiente acusa a campanha de Dilma Rousseff (PT) de "espalhar mentiras". Entre as acusações que teriam sido feitas contra Marina no 1º turno das eleições, estão a de que a candidata era homofóbica. "Marina Silva acusa o PT de Dilma Rousseff de usar servidores públicos para espalhar mentiras pelas redes sociais e contatos comunitários, como o alerta de que a candidata que é evangélica iria proibir videogames", diz o texto.

Em afirmação citada pelo jornal britânico, Marina diz que "uma coisa terrível que eles (PT) disseram era que eu sou homofóbica e que uma pessoa gay tentou se aproximar de mim e meus seguranças bateram com tanta força que ele morreu". "Você não tem ideia do que essas pessoas fizeram", completou a ex-ministra.

No segundo turno, a bateria volta-se contra o candidato Aécio Neves (PSDB) e o FT cita a afirmação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou o tucano a um nazista. "O tom negativo da campanha tem frustrado muitos membros da crescente classe média baixa do Brasil que estão desesperados para que os políticos debatam as questões críticas para o bem-estar, como a melhora da saúde pública, transporte e segurança", diz o jornal.

A reportagem trata, também, de respostas de apoiadores do tucano que comparam "a abordagem de Dilma Rousseff na economia com a de Cristina Kirchner na Argentina, cujos métodos intervencionistas a fizeram impopular com os mercados financeiros", diz o texto

 (VEJA)

BRASIL VAI ÀS RUAS POR AÉCIO E CONTRA O PT


https://www.youtube.com/watch?v=ZGzWPqjqCAQ&feature=player_embedded
 
Em São Paulo, tucanos e marineiros colocaram 15.000 pessoas no Largo do Batata em apoio a Aécio Neves 45. Entre os gritos anti-PT, repetidos à exaustão pelos manifestantes, destacaram-se repostas ao desatino e às baixarias do ex-presidente Lula. "Lula, cachaceiro, roubou o meu dinheiro", gritavam. Também ouviu-se: "Dilma vai embora, o Brasil não quer você, aproveita e leva o Lula e os vagabundos do PT"; "O PT roubou" e "Fora PT". O Brasil esta indo às ruas por Aécio e contra o PT. A campanha suja e baixa da Dilma estão revoltando o povo brasileiro. A resposta será nas urnas, domingo.

O QUE DILMA TANTO ESCONDE?



Adiar ou manipular dados oficiais, subordinando descaradamente instituições de Estado a interesses de governo, tornou-se ação recorrente de governos do PT. É uma mistura indigesta de censura, falta de transparência e desrespeito aos cidadãos. O que a administração Dilma tanto esconde?


Por receio de que números negativos possam atrapalhar a campanha de Dilma Rousseff, o governo federal engavetou a divulgação de indicadores sobre economia e educação, informa hoje a Folha de S.Paulo. A prática tem se tornado recorrente: o que é ruim, o governo esconde. De preferência, até depois das eleições.

Depois de retardar a divulgação do Ideb relativo a 2013, com óbvia intenção de ocultar que Minas continua tendo o melhor ensino fundamental do país, o governo petista agora atrasa a publicação do desempenho dos alunos em português e matemática, que normalmente é apresentado até o mês de agosto. Já a divulgação de índices sobre o desmatamento da Amazônia, cujos números são divulgados todos os meses, foi postergada para novembro.

A censura do governo do PT às estatísticas também atinge dados econômicos. A previsão é de que o resultado da arrecadação de tributos de setembro, que não deve vir favorável ao governo, seja divulgado somente depois das eleições de domingo. Tradicionalmente os números mensais vêm a público até dia 25 de cada mês.

O Ipea também sofre com a excessiva ingerência do Planalto. Na semana passada, em decisão inédita, o órgão simplesmente proibiu a publicação de estudo sobre a evolução do número de miseráveis no país. Em resposta, um diretor do órgão pediu exoneração.

Não se trata da primeira pesquisa engavetada pelo Ipea. Em setembro, o órgão havia barrado a divulgação de estudo que mostrava o crescimento da concentração de renda no país desde 2006.

Há algumas semanas, funcionários do IBGE entraram em pé de guerra com o governo porque viram suas pesquisas serem cerceadas depois que os primeiros resultados da nova Pnad Contínua mostraram um retrato do desemprego mais feio do que o discurso oficial pinta. A pesquisa chegou a ser suspensa - depois o governo recuou.

O Brasil está às vésperas de eleger o governo que comandará o país pelos próximos quatro anos. Numa atitude inédita, a candidata oficial sequer apresentou seu programa de governo, embora prometa "novas ideias". Na realidade, oferece ao país um salto no escuro.

Ninguém sabe ao certo quais rumos Dilma Rousseff pretende dar ao país, se reeleita. Do jeito que as coisas andam, não dá sequer para saber como está o país hoje.
O que é certo é que, com o PT, a censura a tudo que não seja favorável ao
governo tornou-se a tônica, um tempo de muitas trevas e poucas luzes.

23 de outubro de 2014
Instituto Teotônio Vilela

MOBILIZAÇÃO PRÓ-AÉCIO EM SP REÚNE CERCA DE DEZ MIL PESSOAS

 


Segundo a Polícia Militar, a manifestação de apoio ao candidato a presidente Aécio Neves (PSDB) na capital paulista reúne cerca de 10 mil pessoas. A concentração começou no Largo da Batata, na zona oeste, e segue na Faria Lima. Jingles da campanha se misturam a gritos de ordem contra o PT. A cantora Wanessa Camargo cantou em cima do carro de som a música oficial da campanha, que já havia gravado para o programa de TV de Aécio. Ela cantou também o Hino Nacional.

Entre os gritos anti-PT, repetidos à exaustão pelos manifestantes, destacaram-se hostilidades contra o ex-presidente Lula. "Lula, cachaceiro, roubou o meu dinheiro", gritavam. Também ouviu-se: "Dilma vai embora, o Brasil não quer você, aproveita e leva o Lula e os vagabundos do PT"; "O PT roubou" e "Fora PT".
 
"É uma coisa impressionante, muito semelhante ao que aconteceu nas manifestações de junho do ano passado", disse Walter Feldman, que coordenou a campanha de Marina Silva e que agora se dedica à campanha do tucano, ao Broadcast Político, em meio à manifestação. Com nome #VemPraRuadia22, o movimento tenta reavivar o espírito das manifestações que causaram abalo à avaliação da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2013.

Foi anunciado no carro de som atividades simultâneas em mais de 15 cidades. O carro tocou o jingle da campanha e chamou para gritos de "Fora PT", "O PT roubou" e até uma marchinha de "Dilma vai embora, que o Brasil não quer você / aproveita e leva o Lula e os vagabundos do PT". A ideia é partir em seguida para uma caminhada pela Avenida Faria lima. O tom ufanista se vê em camisas e bandeiras do Brasil e se mistura a falas de revolta contra o PT.

Muitas pessoas trouxeram crianças e até cachorros. Misturam-se eleitores tradicionais do PSDB a eleitores que também já votaram no PT. "Sempre votei no PSDB, sou anti-PT desde a 'revolução de 64'", disse a confeccionista Acrisia Monteiro. Já Vitor Sanches, auxiliar de escritório, que votou em Dilma em 2010, diz hoje apoiar o tucano por ter ficado decepcionado com a capacidade de gestão do governo Dilma. "Nas manifestações, eu fui pra rua e não houve mudança, a mudança vai ser na urna."

Já subiram no carro de som, no Largo da Batata, o candidato presidencial do PV, derrotado no primeiro turno, Eduardo Jorge , o vereador do PV Gilberto Natalini e o jurista e ex- ministro do governo Lula, Miguel Reali Jr. "O PV foi o primeiro partido que decidiu apoiar Aécio no segundo turno", disse Jorge, que afirmou que o apoio se deve ao atual governo ser "avesso" ao povo e porque o governo "infiltrou até a medula" ministérios e agências reguladoras.

"Estamos indignados ou não estamos indignados? Vamos reagir no voto e vamos pôr o PT fora do governo", disse Reali Jr. Os famosos Juca Chaves e Ronaldo Fenômeno são esperados. Também foram citados os tucanos Jose Serra e Mara Gabrilli, que devem chegar em breve.

Ana Fernandes e Ricardo Chapola - O Estado de S. Paulo
Manifestação pró-Aécio


23 de outubro de 2014
camuflados

#VEMPRARUADIA22 ! A HORA É AGORA! FHC CONVOCA POPULAÇÃO PARA ATO EM FAVOR DE AÉCIO E CONTRA A "PODRIDÃO DO BRASIL"

Tucanos divulgaram vídeos chamando a população para participar de atos marcados pela internet que tentam explorar a indignação dos protestos de junho de 2013

 



Um movimento de apoio ao candidato Aécio Neves, nesta quarta-feira, 22, tenta reavivar o sentimento das manifestações de junho para estimular o apoio ao tucano. Segundo o PSDB, trata-se de um movimento suprapartidário e sem uma organização central.

 "A organização é difusa", disse um assessor da campanha. Membros do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, contudo, divulgaram vídeos conclamando a população para participar do ato e pedindo voto para o candidato do PSDB. 

 "Sou neto de nordestino, tenho orgulho disso. Nós aqui de São Paulo precisamos estar juntos com vocês todos, nós todos juntos em indignação contra essa podridão que está havendo no Brasil", disse o ex-presidente em um dos vídeos.

A mobilização, que busca copiar as manifestações do ano passado, está sendo feita principalmente pelas redes sociais. A página do evento no Facebook conta 235 mil convidados e 14 mil confirmações. No Twitter, o engajamento é feito pela hashtag #VemPraRuadia22, que tinha há pouco cerca de 300 menções. 
 
O ato ocorre em meio à queda do candidato do PSDB nas últimas pesquisas de intenção de voto, que apontam para uma virada da presidente Dilma Rousseff, até então numericamente atrás do tucano no 2º turno. A última pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta indica que a presidente está ligeiramente à frente na disputa com 52% das intenções de voto, contra 48% de Aécio. Tecnicamente, contudo, eles estão empatados no limite da margem de erro que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Há atos previstos em várias cidades, mas com destaque para concentrações em São Paulo, no Largo da Batata; Brasília, na Esplanada dos Ministérios; Rio de Janeiro, na praia de Copacabana; Recife, no Marco Zero; Belo Horizonte, na Praça da Estação; Teresina, na Av. Dom Severino com Homero Castelo Branco; Fortaleza, no Espigão Beira-Mar e Ribeirão Preto, na Praça Fiúsa.

Aécio gravou vídeos que foram enviados pelo WhatsApp. Ele deve participar do ato em Belo Horizonte. Outros tucanos também gravaram chamando para os eventos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o coordenador de campanha, vereador Andrea Matarazzo. A página do Facebook também traz participações em vídeo de famosos conclamando a participação, como Juca Chaves, Fafá de Belém e Sandra de Sá.

Além do nome "Vem pra Rua" em alusão às manifestações de junho, os locais escolhidos tentam recriar a atmosfera dos protestos que levaram à queda mais expressiva da popularidade de Dilma Rousseff (PT) ao longo de sua gestão. Entre os locais mais simbólicos estão o Largo da Batata, na capital paulista, e a Esplanada dos Ministérios, na capital federal. As postagens fazem referências ao sentimento de indignação e trazem menções como do gigante levantando, que foi também um símbolo de junho de 2013.

"Nesta quarta-feira, a partir das 19h, o Brasil inteiro vai estar mobilizado pela mudança", diz Aécio em um dos vídeos. "Sou neto de nordestino, tenho orgulho disso. Nós aqui de São Paulo precisamos estar juntos com vocês todos, nós todos juntos em indignação contra essa podridão que está havendo no Brasil. É hora de protestar, votarmos juntos em Aécio 45", diz Fernando Henrique em uma das gravações. 


Em outro vídeo, o ex-presidente chama para união de diferentes classes sociais, repetindo a mensagem de "indignação": "Todos queremos mostrar agora indignação. O que está acontecendo no Brasil não dá mais para suportar. Temos que ser firme, temos que ter coragem. Dia 22, às 19h, todos nós, juntos, ricos, pobres, classe média, tudo junto em favor do Brasil". 

Ronaldo.
Um dos coordenadores da campanha de Aécio Neves, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, disse que o ato nesta noite no Largo da Batata, em São Paulo, "é um movimento cívico em defesa do Brasil" e deve reunir, além de militantes e simpatizantes da campanha tucana, artistas e jogadores. "O Ronaldo fenômeno acaba de me ligar e disse que vai estar presente", relatou Paulinho ao Broadcast Político.


O senador suplente de José Serra, José Aníbal, que também está na coordenação dos eventos da campanha tucana nos dias que antecedem o segundo turno, afirmou que a expectativa é reunir milhares de pessoas. Além do evento da noite, Aníbal afirmou que outros estão sendo realizados durante todo o dia na capital, como o bandeiraço na Praça do Forró, na zona leste, e o evento de mulheres tucanas em várias cidades do País.


Organizado pela presidente nacional do PSDB Mulher, Solange Jurema, os atos devem se contrapor às críticas feitas pela campanha petista de que Aécio não trata bem as mulheres. Segundo Solange, nesta quarta-feira, as mulheres que apoiam a candidatura do presidenciável tucano devem sair às ruas vestindo as cores da bandeira nacional, em atos que terão a participação da população com sugestões para a mudança do Brasil. Em São Paulo, os eventos acontecem em 20 cidades. Na capital, o encontro será em frente à Secretaria de Educação do Estado, na Praça da República, no início da tarde.

Apesar do engajamento virtual, FHC pode não comparecer ao evento. Sua assessoria disse que a participação ainda não está confirmada por motivo de agenda. Outros tucanos que têm participado da campanha, o governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador eleito no Estado, José Serra, também não confirmaram participação.


23 de outubro de 2014
 


A Petrobras em declínio



Empresa mais endividada do mundo, a estatal estampa más notícias nas páginas de economia e polícia. Chegou a hora de recuperá-la e torná-la de novo orgulho dos brasileiros

A Petrobras, nossa maior empresa e uma das companhias mais importantes para o desenvolvimento do país, encontra-se hoje numa situação deplorável. São a enxurrada de escândalos, as perdas persistentes de valor, a produção que não reage, os investimentos que não acontecem na proporção necessária.

Ontem foi a vez de a agência de classificação de risco Moody's rebaixar a nota de crédito da estatal, e manter a perspectiva negativa para a companhia. Em comunicado, informou que a decisão se justifica pelo alto grau de endividamento da empresa, situação que só deve se reverter "bem depois de 2016", ao contrário das previsões oficiais.

Desde 2010, a dívida total da Petrobras quase triplicou e a dívida líquida quase quadruplicou, segundo levantamento feito pelo blog Achados Econômicos. A estatal é hoje a empresa mais endividada do mundo.

Embora a dívida tenha crescido, a produção não aumentou. Pelo contrário:
 a Petrobras viu a quantidade de barris que extrai cair duas vezes seguidas nos últimos dois anos - o que não acontecia desde o governo Sarney. Desde o começo da gestão Dilma, a companhia já perdeu cerca de 60% do seu valor de mercado em dólares.

Mas os problemas vão muito além de uma deterioração das condições financeiras. Há também os orçamentos estourados, os prazos nunca cumpridos. Obras sob responsabilidade da Petrobras estão na lista de irregularidades do TCU: a compra da refinaria de Pasadena, a construção de Abreu e Lima em Pernambuco e o Comperj.

Infelizmente, a Petrobras virou fonte de notícias ruins nos últimos anos. Investimentos mal orientados, loteamento de cargos e controle de preços de combustíveis minaram a rentabilidade da empresa. Tudo isso envolto em muita corrupção. Os danos impostos à companhia são parte da herança lastimável deixada pelo governo do PT.

Das páginas de negócios, a Petrobras foi parar nas páginas de polícia, levada pelo PT. Em depoimento à Justiça Federal, Paulo Roberto Costa, ex-diretor da estatal, disse que 3% do valor dos contratos fechados na diretoria de Abastecimento era usado para pagar propinas. Deste valor, dois terços ficariam com o PT.

Durante todo este período, Dilma Rousseff comandou a companhia. Seja como ministra de Minas e Energia ou da Casa Civil, seja como presidente do Conselho de Administração ou como presidente da República. A debacle da empresa é o retrato da qualidade da gestão da candidata à reeleição.

A Petrobras é empresa importante para o desenvolvimento econômico e social do país. Seu corpo de funcionários é da maior qualidade. Este é um ativo que foi dilapidado pelos petistas nos últimos anos. Chegou a hora de recuperar a empresa e torná-la novamente um orgulho dos brasileiros.
 

23 de outubro de 2014
 Instituto Teotônio Vilela

XÔ, TRASTES! O FIASCO DOS INVESTIMENTOS

 


De fracasso em fracasso, a presidente Dilma Rousseff completará em dezembro quatro anos de fiascos no PAC 2, a segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento. Até o réveillon, só terá conseguido inaugurar 2 de 11 grandes obras com conclusão prometida para o trimestre final de seu mandato. Neste ano, o governo até acelerou os desembolsos para investimentos, como ocorre em todo período eleitoral, mas sem desemperrar a execução da maior parte dos projetos. 

Desde a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, orçamentos e prazos têm sido rotineiramente estourados. Esse resultado é explicável por uma invulgar incompetência administrativa temperada com boas pitadas de corrupção. A faxina realizada em 2011 no Ministério dos Transportes e a longa saga de escândalos na Petrobrás são episódios importantes e instrutivos dessa história.

Com operação recém-iniciada, a Hidrelétrica de Santo Antônio do Jari, no Amapá, é um dos dois projetos com entrega atualmente prevista para este fim de ano. O outro é a Hidrelétrica Ferreira Gomes, no mesmo Estado. Deverá funcionar em breve, se nenhuma surpresa ocorrer. As duas usinas são empreendimentos privados.


Os outros nove projetos, com prazos alongados para os próximos dois anos, incluem a transposição do Rio São Francisco, grandes obras de saneamento no Nordeste, investimentos em rodovias e a famigerada Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Esta é uma das mais vistosas gemas da coroa de escândalos da Petrobrás.


Bastaria o estouro de seu orçamento - de US$ 2,4 bilhões na previsão inicial para cerca de US$ 20 bilhões nas últimas estimativas - para converter em personagens históricas dignas de estudo as principais figuras envolvidas no projeto. A lista incluiria, naturalmente, o presidente da República, o ministro de Minas e Energia e vários dirigentes da Petrobrás.

Em 2011, quando a presidente Dilma Rousseff iniciou seu mandato, ainda se previa o começo das operações da Abreu e Lima em 2012. No fim de 2014, a obra deveria estar completa. Um dia essa história poderá ser contada a estudantes de administração como exemplo da desastrosa mistura de irresponsabilidade, incompetência gerencial, asneira ideológico-diplomática (a aliança entre lulismo e chavismo) e corrupção.

O atraso dessas nove obras prioritárias é um capítulo especialmente interessante da história iniciada em 2003, com a chega do PT ao governo federal, e ainda sem conclusão. Mas é só isso, uma coleção de exemplos particularmente interessantes de ações desastrosas. Administração e investimento nunca foram pontos fortes dos três mandatos petistas.

Neste ano, o governo federal aplicou, até setembro, R$ 45,3 bilhões em obras e na compra de equipamentos. Investiu, portanto, 30,5% mais que nos nove meses correspondentes do ano anterior. Maiores desembolsos para investimentos têm ocorrido repetidamente em anos de eleições, tanto na administração federal como nos governos estaduais e municipais.

Nem assim o governo da presidente Dilma Rousseff conseguiu tornar muito melhor a execução de projetos dependentes da União. Boa parte das obras prometidas para a Copa do Mundo de Futebol ficou sem conclusão. O caso dos aeroportos é um exemplo muito claro. Até abril deste ano, só foi concluído um terço dos empreendimentos previstos para o setor no PAC 2, segundo o último balanço divulgado pelo governo. De acordo com esse levantamento, 23 das 108 obras programadas continuavam no papel.


Além disso, nos primeiros três bimestres de 2014 a Infraero investiu mais que no ano anterior. No quarto, aplicou menos que em julho e agosto de 2013. Explicação mais plausível: depois da Copa, as obras ficaram menos urgentes. "Pela primeira vez neste ano a Infraero reduziu o ritmo dos investimentos", noticiou a organização Contas Abertas, dedicada ao exame das contas públicas.

A política de investimentos vai mal em todo o setor de infraestrutura. O PAC continua sendo principalmente um programa de obras imobiliárias e de financiamentos habitacionais. Sem estes componentes, seria mais difícil atenuar o vexame em cada balanço periódico.
 
23 de outubro de 2014
O Estado de São Paulo 

A MÁ SINA DA CASA CIVIL.MÁ SINA?TÁ DE BRINCADEIRA...

 

Quase todos os que passaram pela Casa Civil ao longo dos últimos 12 anos se enredaram em falcatruas. É o microcosmo do que aconteceu de maneira disseminada na era petista

De tão repetitivo, quase cansa. Mas o assunto é inevitável: o assalto que os petistas perpetram na Petrobras. Inevitável porque a cachoeira de denúncias não para de jorrar, cada vez mais próxima do Palácio do Planalto. São denúncias novas quase diárias.

Para ser exato, as suspeitas de falcatruas já não rolam próximas, mas simplesmente inundam o centro do poder. Neste fim de semana, soube-se que Gleisi Hoffmann, ex-ministra-chefe da Casa Civil, pode ter recebido uma bolada de R$ 1 milhão do esquema criminoso que se instalou na estatal na era petista.

Gleisi parece confirmar uma triste sina do principal ministério da República na era petista. Quase todos os que por lá passaram ao longo dos últimos 12 anos se enredaram em falcatruas. Quase sempre das grossas.

José Dirceu foi o primeiro deles, tirado de lá pelas denúncias do mensalão. Julgado pelo STF, cumpre pena na penitenciária da Papuda em Brasília, condenado por corrupção ativa – do crime de formação de quadrilha, ele conseguiu se livrar na repescagem...

Foi sucedido por Dilma Rousseff, cuja missão era envergar o figurino de eficiente gerente e tornar-se a "mãe do PAC". Pelos pífios resultados que o governo dela, como presidente, produziu nestes últimos quatro anos, vê-se sem dificuldades o tamanho do engodo.

Sucedeu-a Erenice Guerra, cujas traficâncias na Esplanada dos Ministérios tinham proporções familiares. Reconhecida como "braço direito" de Dilma, não aguentou seis meses no cargo, apanhada em tenebrosas transações. Ainda hoje, contudo, vaga, assim como seus familiares, por gabinetes de Brasília...

Já no governo da atual presidente, Antonio Palocci mal aguentou seis meses no cargo. Caiu sem conseguir explicar como enriquecera tanto na condição de ex-todo poderoso ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva.

Gleisi Hoffmann foi até longeva no cargo, que ocupou por quase três anos. Eleita senadora pelo PT do Paraná e derrotada no início do mês quando tentava o governo do estado, pode ter tido sua campanha financiada pelo dinheiro sujo do esquema criminoso que se instalou na Petrobras, segundo afirmou Paulo Roberto Costa em depoimento à Polícia Federal.

No sábado, a presidente da República, que até então só dera crédito às denúncias do ex-diretor da Petrobras quando elas envolveram o nome de um ex-dirigente tucano, admitiu que houve desvio de dinheiro público na estatal: "Houve, viu?", afirmou, finalmente, ela. Ontem, em debate na TV Record, deu um passo atrás, dizendo que enxerga só "indícios".

A Casa Civil é apenas o microcosmo mais vistoso do que acontece de maneira disseminada no organograma petista. Dilma e Lula ficarão marcados na história como governos em que a corrupção comeu solta. O segundo gabinete mais poderoso da República poderá ter sido onde foram servidos os banquetes mais fornidos.

23 de outubro de 2014
ITV

NÚMEROS IMBATÍVEIS




Na pior das hipóteses, Aécio e Dilma disputam a vitória cabeça a cabeça. Não há nenhuma indicação evidente de que a candidata à reeleição tenha, de fato, vantagem no momento

É evidente que a pesquisa do Datafolha divulgada ontem e publicada hoje nos jornais serve como luva à estratégia petista de tentar esfriar os ânimos dos eleitores de Aécio Neves. Mas há razões de sobra para acreditar que as chances de vitória tucana continuam presentes e elevadas. A votação é só no próximo domingo.

Para começar, a corrida eleitoral mantém-se na condição de empate técnico. Segundo o Datafolha, a petista alcança hoje 52% dos votos válidos e Aécio, 48%. Embora Dilma Rousseff apareça numericamente na frente, a margem de erro de dois pontos percentuais permite vê-los ainda pau a pau da disputa pelos 141 milhões de votos.

 
Se pesquisa decidisse eleição, Aécio não teria passado nem perto do segundo turno. Sua ascensão mal foi captada pelos institutos – todos os institutos – na véspera da votação de 5 de outubro. Quando as urnas foram apuradas, a candidatura tucana saiu-se muito melhor do que qualquer pesquisa previra.

O Datafolha mesmo foi um dos que errou mais feio. No dia anterior ao pleito, deu a Aécio 26tos válidos e à petista, 44%. Apurados os votos, o tucano atingiu argem de erro justifica isso. Os números não batem.

O viés comum às pesquisas é sempre o mesmo: 
tendem a superfaturar os votos favoráveis ao governo e sub-representar os votos da oposição. Uma das explicações técnicas para isso seria um desvio de amostra, a saber: na base pesquisada por institutos como o Datafolha há mais eleitores dos estratos que se identificam mais com Dilma e o PT – renda e escolaridade menores – do que com Aécio.

Segundo quem analisa a fundo pesquisas de intenção de voto, só este fator já é suficiente para prejudicar em até 4 pontos percentuais as intenções de voto em candidaturas que têm mais força entre os eleitores de renda média e alta e escolaridade maior, como a de Aécio.

Outro fator relevante é a abstenção, que as pesquisas não levam em conta. Ela tende a ser maior no Nordeste, onde o governo costuma ser mais forte, e nos estados onde não haverá segundo turno. Considerando as votações de primeiro turno, este componente também tende a pesar a favor da candidatura de Aécio.

Tudo considerado, resta evidente que a atual disputa pela presidência da República continua duríssima. A realidade indica que, na pior das hipóteses, Aécio e Dilma disputam a vitória cabeça a cabeça. Não há nenhuma indicação evidente de que a candidata à reeleição tenha, efetivamente, vantagem no momento.


Há, isto sim, sinais manifestados pelos brasileiros país afora de que querem um Brasil novo, melhor e diferente do que aí está. Diante disso, a candidatura oficial foi buscar forças na sua velha e suja estratégia de difamação, boataria e ódio. Quem está desesperado são eles.

 
23 de outubro de 2014

ITV

A AFILHADA REBELDE: DILMA E O PODER




O estilo, as ideias, as decisões e a ambígua relação de Dilma com Lula
por Daniela Pinheiro
 

Era o final de uma manhã de brisa fria e sol quente, no início de setembro, quando o presidente do sindicato dos taxistas de São Paulo, Natalício Bezerra da Silva, tomou o microfone e se dirigiu à restrita plateia: “Vamos respeitar, hein? Nada de gracinhas. Não se convida uma pessoa para vir na casa da gente e a gente hostiliza.”
O grupo aguardava a chegada da presidente da República e candidata à reeleição, Dilma Vana Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, que naquele momento tinha 36% das intenções de votos – o que a colocava em empate técnico, no primeiro e segundo turnos, com Marina Silva, do Partido Socialista Brasileiro, catapultada às alturas nas pesquisas depois da morte do cabeça da chapa, o ex-governador Eduardo Campos, em agosto.

“Eu não estou preocupado com vocês, não. Nossa categoria é respeitosa, mas pode aparecer alguém de fora, querer aprontar, tumultuar, aí vai ter”, continuou o sindicalista, ainda que sua preocupação fosse infundada, já que o ambiente estava cirurgicamente controlado.
A imprensa foi espremida num pequeno palanque. Apenas dirigentes sindicais identificados – a maioria trazendo estampados no peito adesivos com a cara da candidata – tinham acesso à área diante do palco. Populares eram vetados. Uma mulher, moradora de um prédio vizinho, foi orientada por um segurança a dar a volta no quarteirão para entrar em casa. Meia hora depois, Dilma Rousseff foi recebida por uma audiência calorosa. A equipe da candidata filmava tudo.

A menos de um mês das eleições, a campanha da presidente precisava se blindar de vaias, perguntas incômodas, manifestações populares fora do script. E pior: tinha que lidar com uma inédita e sombria perspectiva nas urnas. Dentre os eleitores, apenas 38% achavam sua gestão “boa ou ótima”. Ainda segundo o Datafolha, mais da metade da população a considerava entre regular e péssima. Sua rejeição em São Paulo – maior colégio eleitoral do país – alcançava 47%. Em âmbito nacional, 34% do eleitorado afirmavam não votar nela “de jeito nenhum”. Era o maior percentual negativo entre os presidenciáveis. Desde o início da corrida eleitoral, pela primeira vez parecia concreto o risco de o PT deixar o poder depois de doze anos no comando do país.

A popularidade de Dilma Rousseff, ao chegar ao governo, ultrapassava os 70% de aprovação.
O caminho entre o pedestal e a corda bamba foi curto e difuso. É difícil determinar a pedra que pavimentou a rota do declínio: se as decisões econômicas ou a inexperiência política da governante; se a onda de mudança que veio à tona nas manifestações de junho ou o temperamento insular da mandatária; se a ojeriza aos rituais da política ou a tentativa de imprimir a própria marca ao governo; se a persistência da crise internacional ou o espectro de seu padrinho político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lhe fez sombra durante todo o processo. Uma relação peculiar que – como disse certa vez o ministro Gilberto Carvalho – ainda vai merecer estudos acadêmicos.

Para esta reportagem, foram ouvidas 26 pessoas ligadas à presidente ou ao Partido dos Trabalhadores. A maioria pediu anonimato. Dentre os procurados, apenas Dilma Rousseff e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, se negaram a falar com piauí.
 
Ao assumir o mandato, Dilma Rousseff – a gerentona, a mãe do Programa de Aceleração do Crescimento – tinha em mente o que queria fazer: dar continuidade às políticas de inclusão social do governo Lula e implementar uma agenda desenvolvimentista, das grandes obras de infraestrutura, assunto que sempre lhe foi caro, para mover a economia. O país tinha crescido em ritmo chinês e parecia recuperado do impacto da crise global de 2008. Além disso, havia a perspectiva dos ganhos do pré-sal e da vitrine da Copa do Mundo.

A primeira equipe ministerial tinha a cara da dupla. Dos 37 ministros, quinze haviam sido indicados por Lula. Entre eles, Guido Mantega, mantido na Fazenda, e Fernando Haddad, na Educação, com vistas à sua campanha eleitoral para a Prefeitura de São Paulo. O ex-presidente também pediu para segurar José Sérgio Gabrielli no comando da Petrobras. Dilma ainda herdou boa parte dos dirigentes de estatais e autarquias, e até a chefe do escritório da Presidência em São Paulo, a então desconhecida Rosemary Noronha. E acomodou as nomeações de ocasião feitas pelos partidos da coligação. De sua lavra, emplacou as ministras mulheres e o ex-prefeito de Belo Horizonte, o amigo Fernando Pimentel, no Desenvolvimento.

Desde que Lula inventou a candidatura de sua ex-ministra das Minas e Energia e da Casa Civil, o que ele via como qualidade em Dilma, uma fatia do petismo e dos partidos aliados enxergava como defeito intransponível: o voluntarismo, as opiniões fortes, o temperamento irascível, a inexperiência política e até o vocabulário prolixo, de falas longas e enfadonhas, permeadas de termos técnicos. Um dos mais próximos interlocutores de Lula disse ter sempre defendido que ela precisava de “assessoria emocional” para ser presidente.

Lula parecia calcular que sua presença ao alcance em caso de emergência, a competência gerencial da sucessora, a boa onda na economia e a força do apoio de dezessete partidos e de mais de 80% do Congresso Nacional garantiriam um governo de sucesso. O resto era contornável. No mais, ele era o grande vencedor da eleição. Seu poste havia chegado lá.
 
Os primeiros meses de governo foram redentores. Em poucas semanas, Dilma já mostrava a que viera: vetou a distribuição de cargos federais para parlamentares da base governista e anunciou um corte de 50 bilhões de reais no Orçamento. Foi à China, visitou vizinhos latino-americanos, recebeu no Planalto o presidente americano Barack Obama. Jactava-se de ser a primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Era uma estadista.

A classe média e a elite enfim reconheciam um rosto familiar: Dilma era discreta, tinha compostura, falava português sem erros de concordância, fazia o estilo durona e parecia intransigente diante de evidências de corrupção. Distanciava-se do jeito Lula de ser. Rapidamente, a impressão foi captada pelas pesquisas de opinião. Em maio de 2011, o Ibope registrava que ela tinha 73% de aprovação popular.
Ainda na primeira quadra do ano, Dilma teve uma pneumonia e precisou se afastar. A bancada do PMDB aproveitou para fazer o que melhor sabe: escambo político. Na votação do Código Florestal, ameaçou ir contra o governo caso não fossem atendidos os pedidos de emendas e cargos. Em seu primeiro choque de realidade, a presidente também respondeu com as armas que melhor maneja: ameaçou demitir os ministros do partido. Instalou-se a primeira das muitas crises com a base aliada. Sem avisar Dilma, Lula desembarcou em Brasília para acalmar os ânimos dos correligionários. Reuniu-se com o vice-presidente, Michel Temer, foi fotografado ao lado de José Sarney e Renan Calheiros, dourou a pílula e, para alguns, atribuiu à inexperiência da sucessora a confusão, afinal contornada.

A mensagem ficou clara: a luz do poste era ele. Dilma, é lógico, não gostou. Sentiu-se atropelada por Lula, enquanto ele acreditava estar apenas acomodando a situação. O PMDB acabou votando em peso a favor da emenda que anistiava os desmatadores, derrotando o governo. E ninguém foi demitido. Recentemente, um petista paulista resumiu o caso: “Essa inabilidade política, misturada com arrogância, marcou as ações dela. Como pôde achar que era ligar, ameaçar o vice e ele ia pedir desculpas?” Mas Dilma saiu maior do episódio: era ela brigando quixotescamente contra os venais da política.

Em maio, o país tomou conhecimento do portentoso aumento de patrimônio do ministro Antonio Palocci. Em apenas um ano, sua empresa de consultoria havia faturado 20 milhões de reais. Na época, uma ministra disse ter ouvido da presidente: “Eu achei que fossem 3 ou 4, mas 20 é foda.”

A saída de Palocci da Casa Civil foi um divisor de águas. Além de ter a confiança do empresariado mais graúdo, era ele quem negociava a votação de projetos e o preenchimento de cargos no governo. No Planalto, também acalmava o ambiente. Com ele, Dilma não precisava se expor às querelas brasilienses, à romaria dos parlamentares atrás de verbas, às visitas de ocasião dos representantes do PIB. Palocci fazia bem o serviço.

No lugar dele, assumiu a senadora petista Gleisi Hoffmann. Ao lado da também petista Ideli Salvatti, na articulação política, elas formavam, com Dilma, a trinca que passou a dar o tom das negociações do governo com seus aliados. A nomeação repercutiu mal no entorno, que ficou com a impressão de que as duas eram “café com leite”: não tinham pulso firme ou estofo político. Como verbalizou o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, a piauí, em agosto de 2011: “Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem sequer conhece Brasília.”

A presidente tinha suas razões. Primeiro, não queria outro “superministro” para lhe fazer frente – Palocci era uma exceção. Até o último minuto, Lula garantiu ao titular da Casa Civil que ele ficaria no cargo, mas Dilma sepultou a hipótese. Em público, ele pediu demissão, aceita por ela depois de vinte dias de crise. Quis para o lugar alguém em que pudesse confiar, mas, sobretudo, mandar. Agradava-lhe ainda a ideia de valorizar duas mulheres naqueles cargos, antes só ocupados por homens.

Nesse momento, para vencer a tentação de dar palpites – como ele mesmo declarou –, Lula se embrenhou numa maratona de viagens internacionais que lhe tomaram quase todo o ano de 2011. Coincidiu com a época em que o governo Dilma começou a ter uma feição própria. As demissões em série deram ao marqueteiro João Santana uma senha para colar na presidente: Dilma era a faxineira da corrupção.

Em seis meses, sete ministros foram demitidos – seis envolvidos em denúncias de irregularidades no cargo. Se a faxina encantou parte da opinião pública, internamente acendeu um sinal de alerta. Entre os aliados, o crachá de faxineira pressupunha a corrupção incrustada na máquina do Estado, expondo-lhe as tripas. Quatro dos seis ministros vinham do governo Lula. No PT, comentava-se a facilidade com que Dilma rifava companheiros. “Demissões por malfeito são ossos do ofício”, disse ela à época.
 
Sem Lula e sem Palocci, Dilma ia ficando mais Dilma. Em meados de 2011, por ocasião do aniversário de 80 anos de Fernando Henrique Cardoso, ela enviou um cartão de felicitações cheio de elogios ao ex-presidente tucano. O petismo estremeceu. Não bastasse, ela tomava providências em áreas das quais seus antecessores mal haviam tido coragem de se aproximar: instalou a Comissão da Verdade para esclarecer crimes da ditadura militar, assunto que Lula procrastinava, e aprovou a Lei de Acesso à Informação, acabando com o sigilo eterno de documentos públicos.

O empresariado estava encantado. Como havia assumido o governo com o dólar depreciado, o que prejudicava a indústria, Dilma Rousseff procurou beneficiar o setor controlando o câmbio, por exemplo. Preparava o maior pacote de concessões da história, que daria à iniciativa privada um bom pedaço das estradas, aeroportos e ferrovias do país. Com a imprensa, o clima era de início de namoro.
O governo seguia em velocidade de cruzeiro quando, no final de outubro, veio o baque:

Lula foi diagnosticado com um câncer na laringe. Ela, que havia tratado a mesma doença havia pouco mais de dois anos, ficou devastada com a notícia. Sem o padrinho por perto, o poder dos lulistas no Planalto foi se esvaziando. A começar pelo do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e de Marco Aurélio Garcia, assessor especial para Assuntos Internacionais, sobre os quais ela costuma dizer que “falam coisas que não são do nosso governo”. No Planalto, ela já era chamada de “a tia”, apodo cunhado pela velha guarda lulista. Até hoje, não raro um estranho pode escutar durante uma visita que “a tia está procurando” por alguém.

No fim de 2011, Dilma atingiu o maior índice de aprovação de um presidente: 59% dos brasileiros consideravam sua gestão ótima ou boa. Foi o maior percentual já alcançado desde a volta das eleições diretas no país. A economia cresceu menos que no ano anterior, mas o Brasil havia criado 2 milhões de empregos e superado a Inglaterra, tornando-se a sexta economia do mundo. O poste começava a brilhar sozinho.

Por essa época, num encontro no Planalto, ela confidenciou a um ex-ministro do governo Lula, com quem ambos mantêm boas relações: “Se o Lula quiser, a próxima é dele. É só ele me falar”, disse, referindo-se às eleições de 2014.
 
O segundo ano de governo começou tépido e inodoro como uma fala de Michel Temer. Com a perspectiva das eleições municipais em outubro, Dilma diminuiu a agenda de viagens e se trancou no Planalto para traçar os termos do bilionário pacote de concessões em infraestrutura. Estava em seu ambiente: imersa em números, cláusulas, índices, percentagens, muito PowerPoint.

A performance da presidente já era conhecida desde os tempos das Minas e Energia: ela abria o computador, vertia uma miríade de estatísticas, elencava planilhas, “espancava o projeto” – como gosta de dizer – até não sobrar de pé nenhuma brecha ou dúvida. Comandava reuniões infindáveis, em que se debatia por horas um mero ponto e vírgula. Nas negociações do pacote dos aeroportos, um ministro disse terem passado oito meses falando sobre a TIR – a taxa de retorno dos investidores.

O detalhismo emperrava o processo, decisões se arrastavam e o projeto demorava a sair do papel.
A essa altura, já estava evidente sua ojeriza pelos rituais da vida brasiliense: reuniões com ministros, encontros com deputados, recepções no Itamaraty, fuxicos com a base aliada. Receber entidades de classe era um parto. Movimentos sociais, muito de vez em quando. Empresários tentavam, em vão, marcar audiências na agenda sempre lotada – pelo menos para eles.
Nos encontros com parlamentares, chamava atenção a falta de autonomia de Ideli Salvatti. Ou ela respondia às demandas dizendo que “ia ver com a presidente”, ou chegava chutando a canela dos interlocutores, como um ventríloquo da chefe.

Dilma não falava nem com a bancada do PT. “Para ela, a política era o mal em si. Empresário era abutre, e político era picareta. É assim que ela pensa”, disse um importante dirigente do Partido dos Trabalhadores, durante um café da manhã, no Rio. Dilma não liberava dinheiro, dificultava a distribuição de cargos, não recebia os políticos, não respondia aos empresários. Um assessor da Presidência resumiu as razões do comportamento: “Ela achava que já sabia o que eles iam pedir ou reclamar. Então, na cabeça dela, não tinha que gastar tempo com isso.”

Os caprichos desnorteavam o cerimonial do Palácio do Planalto. Uma vez, na Espanha, ela quis fazer compras no El Corte Inglés, mas vetou a companhia de seguranças. O grupo precisou se esconder atrás das araras da loja de departamentos. Em Londres, quis andar de metrô, causando rebuliço entre os seguranças da Scotland Yard, que iam abrindo passagem para a comitiva brasileira.
Em Washington, deixou em apuros o embaixador Mauro Vieira porque se recusava a se sentar, durante o encontro com Barack Obama, no salão de entrevistas da Casa Branca. Depois de muita argumentação, ela concordou. Um ex-integrante do cerimonial disse que era para evitar ser fotografada sentada – ela usava saia.

Aos poucos, as reuniões ministeriais também foram minguando. Desde a posse, todos os ministros haviam sido proibidos de falar com a imprensa. Qualquer declaração oficial, só por meio do porta-voz ou da própria presidente.

Em seu governo, Lula usava os vazamentos de informação para testar várias ideias. Deixava deputados fomentarem boatos de maneira a ter um termômetro do que pensava em fazer – ou não fazer. Também aproveitava os discursos para mandar recados, responder a ataques, fazer a defesa do governo, dar a tônica da disputa política. Conseguia traduzir questões complexas nos termos das massas.

Com Dilma, nada disso acontecia. Para ela, vazamento era apenas insubordinação, traição. Quem o fazia era posto na geladeira. O senador Vital do Rêgo, do PMDB da Paraíba, perdeu um ministério porque a hipótese de sua nomeação vazou. Testar uma ideia, só nas pesquisas qualitativas encomendadas pelo marqueteiro João Santana, partilhadas com um ou dois interlocutores. Logo se evidenciou que a comunicação era um empecilho incontornável no caso de Dilma: ela se expressava numa sequência de elipses de árdua compreensão; suas frases eram desconexas, longas, truncadas. A imprensa registrou: nascia o dilmês.

“Temos um sistema hidrológico muito sensível à água”; “Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás, o que é algo muito importante”; “Precisamos cada vez mais cooptar e captar novas fronteiras tanto na Ásia quanto no Oriente Médio”; “Todos nós aqui sabemos que cada um de nós escolhe – a vida faz a gente escolher – alguma das datas em que a gente nunca vai esquecer dessa data.” Assessores afirmam que, quando escreve, ela é clara, objetiva e focada.
 
Acumulam-se ao redor de Dilma histórias de gritos, esculachos e rompantes. Mais de uma pessoa me contou ter visto a filha Paula repreender em público as grosserias da mãe, extensivas a ministros, secretárias, funcionários do palácio. Um ex-ministro do governo Lula, com quem Dilma trabalhou diretamente na Casa Civil, presenciou cenas de descontrole. “O que é perverso é que os esporros dela são sempre para quem está embaixo. Ela sabe com quem pode gritar. É que nem lobisomem, sabe para quem pode aparecer”, disse, irônico.

Quatro entrevistados se valeram de conceitos do livro O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, para definir a maneira de Dilma lidar com o poder. Se Fernando Henrique queria ser admirado e Lula queria ser amado, Dilma quer ser temida. Certa brutalidade seria uma maneira de se fazer respeitar, um sintoma de insegurança. “Sou uma mulher dura cercada de homens meigos”, Dilma aprendeu a repetir desde a campanha de 2010, sempre que seu temperamento era questionado. Acertos da equipe nunca são comemorados, não passam de obrigação; desculpas, sinal de fraqueza; dúvidas, prova de desconhecimento.

Ela costuma formar sua opinião ouvindo pequenos grupos distintos – sem que eles tenham conhecimento dessa comunicação estereofônica. Insiste em saber tudo o que pode dar errado, e só então se interessa pelo que pode dar certo. Bombardeia de perguntas o mensageiro de um projeto ou uma ideia. Faz isso uma oitava acima, com expressão similar à exibida quando entregou a taça de campeões do mundo para os jogadores alemães.
Os mais vulneráveis tremem. Nas discussões com a equipe, muitas vezes ela externa de cara sua opinião sobre o assunto a ser tratado – o que intimida boa parte dos presentes, que se cala, ainda mais se tiver ponto de vista contrário. O resultado é que metade da equipe não gosta dela e a outra metade tem medo.

 “Esse método prejudicou muito porque ninguém tinha coragem, ânimo ou saco de se contrapor a ela. A ausência do contraditório fez com que ela embarcasse em muitas canoas furadas”, comentou um ex-integrante da equipe econômica do governo, em meados de setembro, durante um almoço, no Rio. “Na econômica, por exemplo”, disse.
 
Em uma manhã de setembro, o elétrico Roberto Kalil Filho, diretor do Hospital Sírio-Libanês, médico de Dilma e Lula, estava de mau humor. “Hoje é bandeira vermelha”, disse uma de suas assistentes, num código que indica o espírito do chefe. Amigo e responsável pela saúde de autoridades, empresários e famosos, Kalil também é a ponte de vários políticos e jornalistas com a cúpula do PT. Fala frequentemente com a presidente ao telefone. Dão-se muito bem porque, ele disse, são parecidos. As conversas costumam começar com: “Oi, como estamos de humor hoje?”

Sentado em frente ao computador, ele falava sobre a paciente e amiga. Para provar o que dizia, chamou uma secretária. “Vem aqui, quem é mais cão? Eu ou a Dilma?” A moça perguntou se podia falar a verdade. “É o doutor Kalil, ele é o professor dela.” Segundo o cardiologista, avaliações sobre o temperamento da presidente são a maior injustiça contra seu governo. “Você acha que alguém chega num cargo desses sendo boazinha, pedindo por favor?”, perguntou. “Ela é incrível, maravilhosa, mas não está aqui para ficar de nhe-nhe-nhém. É igual a mim aqui no Sírio: o povo fala mal porque a gente cobra.”

Kalil também dirige o Instituto do Coração. Quando se está no comando, disse, “se a gente não mantém o tônus de doido, as coisas não andam”. “Ela é igualzinha. A gente leva no chicote porque senão não sai nada”, comentou enquanto mastigava um sanduíche de queijo. “Claro que toda pessoa como eu e ela às vezes erra na maneira de se expressar, acontece.” Mas desculpas, acrescentou, ele não costuma pedir: “Até porque estou certo.”

Quando a conversa derivou para as decisões políticas e econômicas da presidente, ele saiu pela tangente. “Palpitei no Mais Médicos. E só. Disse para ela que foi uma coisa enfiada goela abaixo, mas hoje conheço melhor o programa e acho muito bom”, afirmou. Para Kalil, se as pessoas soubessem do outro lado de Dilma, entenderiam melhor sua gestão. “Poucas vezes vi alguém tão comprometido em mudar a vida dos pobres. Mas a Dilma é fechada. Por tudo que ela passou na vida, ela é isolada, é o perfil dela.” Segundo ele, a “verdadeira Dilma” é a mulher que sai de madrugada, driblando a segurança, para andar de moto por Brasília – como havia revelado meses antes uma reportagem da Folha de S.Paulo. “Olha que ser pitoresco! Ninguém a conhece de verdade.”

A maioria dos entrevistados confirmou a impressão. Ao conversar sobre assuntos variados, fora da Presidência, Dilma relaxa, conta casos engraçados, deixa brotar o lado leve, tem o humor afiado. Vaidosa, fica lisonjeada quando seu conhecimento sobre artes, música ou literatura é reconhecido. “Ela também tem uma certa coquetterie”, disse-me um ex-ministro. “Mas, em geral, é muito defensiva”, acrescentou.

Nas ocasiões em que se permitiu baixar as armas – foram dez –, Dilma chorou em público. “Ela sempre tratou o governo como uma grande família. E sempre no papel da mãe durona, repressora, que coloca de castigo o ministro que desobedece”, comentou um ex-integrante do Ministério da Fazenda. A exigência se estende a ela própria. “Não posso errar, não posso errar” é uma frase recorrente da presidente ouvida nos corredores do Planalto.

Perguntei a Kalil se Dilma contaria com seu voto. “Claro que não! Sou malufista! O pastor Everaldo é meu candidato”, respondeu, num tom em que a troça soou ambígua. E o que seu paciente mais famoso pensava disso? “A gente não fala do assunto. O Lula diz que eu ainda sou do tempo dos macacos e que no dia que eu evoluir para humano a gente pode conversar sobre política”, respondeu.
 
A equipe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência era obrigada a preparar relatórios periódicos só para Dilma e Gleisi Hoffman, listando as besteiras cometidas pelos ministros. Detalhe: só as besteiras. Dilma não confia, não delega, não divide informação sobre o governo com o próprio time. Nas reuniões, avisava aos presentes: “Nem todo mundo vai saber de tudo. A informação aqui será compartimentada. Quem tem que saber de tudo sou eu, não vocês.”

Se um ministro demitia alguém sem consultá-la, corria o risco de se ver desmoralizado, como ocorreu com Fernando Pimentel, que exonerou o secretário executivo Alessandro Teixeira. Quando soube, Dilma repreendeu o ministro e chamou o demitido para trabalhar no Planalto. Da agenda dos ministros nos fins de semana – eles eram proibidos de deixar Brasília sem avisá-la – a conversas de pé de ouvido entre auxiliares, ela quer saber de tudo. Não raro, toma satisfações com os envolvidos.

Há quem veja nesse comportamento um eco do próprio passado. Dilma foi torturada pela ditadura e ficou presa durante três anos. “A cabeça dela é a cabeça de célula, de aparelho, como se ainda estivéssemos na luta armada, com gente do nosso lado podendo nos trair ou gente atrás de nós querendo nos pegar”, disse um ministro que passou pelos governos tucano e petista. Segundo ele, tudo faz sentido: a preferência pelo isolamento, a autossuficiência, a desconfiança, o controle da informação, o hábito de guardar grandes somas de dinheiro em casa “para qualquer emergência” ou, ainda, a mania de dormir de sapatos, “caso precisasse sair às pressas”, que a acompanhou por anos. “Ela ainda é a menina dos anos 60”, disse.
 
Embora o modo de governar e o estilo pessoal prenunciassem ruídos, Dilma estava nas alturas quando começou o segundo ano do seu governo. Elogiada pela imprensa, respeitada pelos empresários, aprovada pelo eleitorado, temida pelos seus – chegara a hora de dar seu primeiro grito de independência. O poste queria luz própria. Em vez de recuar nas medidas de incentivo ao consumo e ao investimento que haviam sido tomadas para contornar a crise global de 2008, ela decidiu pôr o pé no acelerador.

A seu lado, Guido Mantega funcionava como um “aperfeiçoador das ideias”. Na concepção econômica da presidente, valia tudo para promover o crescimento, proteger a indústria e o emprego, bombar o consumo e manter a balança comercial positiva. Um pouquinho de inflação não fazia mal a ninguém, essa era a ideia. Dilma passou a ser acusada de abandonar o tripé econômico – meta de inflação, superávit fiscal e câmbio flutuante – sobre o qual se sustentara a estabilidade da economia nos últimos doze anos.

Críticos alertavam para o risco de promover uma expansão econômica baseada no endividamento. “Ela não ligava para críticas. Nunca ligou. Tinha na cabeça uma ideia de país clara. De fato, ela sabe mais de economia do que as pessoas pensam, e sabe menos do que ela pensa que sabe”, afirmou um ex-integrante dos governos Dilma e Lula.

 Na concepção da presidente, a interferência do Estado na economia é crucial. Há em suas decisões um viés ideológico, de esquerda, muito mais arraigado do que no governo Lula. A má vontade em relação à independência do Banco Central é um exemplo. Dilma costuma dizer que, no dia em que se colocar um banco privado para financiar obras de infraestrutura e programas sociais – como o Minha Casa Minha Vida, cujos recursos são 95% do governo –, o país não vai ter mais nenhuma moradia subsidiada para os pobres.

Guiada por suas convicções, ela baixou as taxas de juros dos bancos estatais para fomentar o crédito e obrigar as instituições privadas a fazer o mesmo. No primeiro pacote de concessão das rodovias, limitou a lucratividade das empresas. “Ela acha que é preciso controlar tudo. Caso contrário, o empresário ia oferecer o pior serviço pelo maior preço, o que podia ser verdade. Mas você pode controlar isso aumentando a concorrência, por exemplo”, observou o ex-integrante da equipe econômica.

 Na Petrobras, fez o mesmo para controlar a inflação: represou os preços dos combustíveis, ainda que a medida representasse um baque para o caixa da estatal. A fim de forçar a queda do preço da eletricidade, antecipou a renovação das concessões das geradoras e distribuidoras de energia, impedindo-as de continuar a cobrar do consumidor a reposição do que haviam investido. As ações das empresas elétricas despencaram.

Em paralelo, Dilma lançava mão do que a imprensa batizou de “contabilidade criativa”: inflou as “receitas” do governo e mascarou as “despesas” de modo a aumentar artificialmente o superávit primário – dinheiro reservado para o pagamento dos juros da dívida pública e que sinaliza ao mercado que as contas internas vão bem.

 Em uma tarde na sede do Partido dos Trabalhadores, o presidente da legenda, Rui Falcão, falava sobre as críticas à gestão econômica. “Por má vontade ou desinformação, ela é acusada de ser intervencionista, mas, na verdade, ela tomou decisões que beneficiaram a população, não acionistas ou empresários”, comentou. “Por que a grita? Porque muita gente rica, pela primeira vez, perdeu dinheiro.”

À medida que Dilma ia imprimindo sua marca, parte do petismo castiço perdia terreno, como ocorreu nos fundos de pensão e nos bancos estatais. Em abril de 2012, ela deu o passo mais ousado. Mandou a nova presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, demitir parte da diretoria da empresa. Três diretores ligados a três partidos foram defenestrados. Um deles era Paulo Roberto Costa, responsável pelo Abastecimento. No PT, as demissões caíram mal. Sobretudo a de Renato Duque, da diretoria de Serviços e Engenharia, responsável por grandes encomendas de plataformas e sondas de perfuração. Petista da corrente Construindo um Novo Brasil, tendência interna mais poderosa do partido, Duque fora indicado pelo ex-ministro José Dirceu. É bom guardar esse nome.

Ainda convalescente do tratamento contra o câncer e mergulhado na campanha de Fernando Haddad à prefeitura paulistana, Lula assistia de longe ao movimento. Quando vinham lhe falar mal do governo, costumava responder com uma frase pronta: “Calma, ela vai mudar. Aquela cadeira muda as pessoas.”
 
O Instituto Lula ocupa um sobrado de três andares no bairro do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo. Decorado com móveis de escritório em ferro, divisórias de fórmica e chão acarpetado, lembra as instalações de um sindicato. É lá que Lula despacha desde que deixou a Presidência. O local virou também o ponto de romaria de empresários e políticos para se queixar de Dilma. Logo, ganhou o apelido de “Serpentário do Ipiranga”. Ali, dizem, as víboras destilam veneno puro contra o Planalto.
Numa manhã de agosto, um dos dirigentes do Instituto falava sobre o governo e as eleições vindouras. Segundo ele, Dilma enfrentava uma combinação de fatores preocupante: a crise internacional, o ressentimento da elite – que se viu dividindo aeroportos e tendo de pagar hora extra para a empregada doméstica – e a dificuldade de vender o próprio governo. “Gastaram meses querendo emplacar a gerentona e a faxineira. Isso pegou muito bem para a elite, mas não quer dizer nada para o povão”, comentou.

Em sua avaliação, o que ganha votos são ações sociais – Dilma as tinha, mas não conseguia mostrar. Para provar o que disse, ele citou pesquisas internas do partido evidenciando que os eleitores atribuíam a Lula programas implementados por Dilma.

Nas hostes petistas, Dilma sempre foi vista como forasteira. Com passado de esquerda, fez sua trajetória no Partido Democrático Trabalhista, nas fileiras caudilhistas de Leonel Brizola. Por muito tempo – e ainda hoje –, os petistas fazem questão de lembrar: Brizola foi aquele que se referia a Lula como “o sapo barbudo”. Petistas mais mordazes comentam que ela herdou tudo do brizolismo, menos a qualidade: a coragem de enfrentar a TV Globo.

No mandato de Dilma, os petistas imaginavam pôr em prática a regulamentação dos meios de comunicação, defendida com ardor pelo partido. Mas ela não chegou nem perto do assunto. Na sua gestão, ocorreu uma mudança significativa na distribuição de verbas publicitárias para a imprensa. No segundo mandato de Lula, o então ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, irrigou pequenos jornais, rádios e blogueiros. Com Dilma, esses veículos perderam dinheiro e influência.

Cobrada pelo PT, ela também ficava presa à necessidade de justificar o que não havia feito. Havia uma pressão enorme para que fosse a público defender os réus do partido no caso do mensalão. Nem Lula o fez. Os petistas se sentiam sem uma cúmplice. E Lula, às vezes, idem. Quando estourou o caso Rosemary Noronha – funcionária da Presidência em São Paulo, apontada como “amiga íntima” de Lula e acusada de tráfico de influência –, Dilma nem titubeou. “Ela mandou demitir na hora, não quis nem saber”, contou uma ex-assessora da presidente.

A todo tempo, os petistas trazem à tona que Dilma nunca pensou, desejou, quis ou se preparou para ser presidente da República. Repetem que ela se comportava como alguém independente, que não havia entendido que na verdade era apenas parte de um projeto político mais amplo. “Ela foi eleita para um projeto político. Não é dela, nem do Lula, é de todos. Ela nunca será a candidata dela mesma”, disse-me o dirigente do Instituto Lula. “O que vai ser julgado nas urnas são doze anos, não quatro”, concluiu.

No final de 2012, as queixas dos empresários, a revolta dos parlamentares que se sentiam desprestigiados e sobretudo o baixo crescimento (0,9%) deram fim ao clima de lua de mel. Na imprensa, a presidente era criticada pelo fracasso das medidas para impulsionar a economia e prometia em troca um “pibão” para breve. O Brasil havia perdido a posição para a Inglaterra e voltado a ser a sétima economia do mundo. O governo tinha 62% de aprovação.
 
Pouco depois, a revista inglesa The Economist pediu a cabeça de Guido Mantega em extensa reportagem com críticas à condução da política econômica brasileira. O “pibinho” assustava investidores e empresários. Durante todo tempo, o governo acreditou que a queda da taxa de juros e o aumento do crédito dos bancos oficiais implicariam um enorme incentivo ao investimento privado – que entretanto não aumentou. Ocorreu o inverso. De seu lado, Dilma respondia com evasivas e mantinha o pé firme nas diretrizes. A dificuldade de admitir erros é uma de suas características mais notáveis.

Na mesma época, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o do Rio, Eduardo Paes, estiveram no Planalto para tratar do aumento das tarifas de transporte público. Mantega teve uma ideia: já que a inflação continuava próxima de 6%, resistindo a voltar para o centro da meta (4,5%), era melhor segurar o reajuste. A resposta veio das ruas meses depois, quando o aumento foi enfim anunciado.

Em fevereiro, o “Volta, Lula” já havia se espalhado como gripe no inverno. Institutos de pesquisa simulavam o nome do ex-presidente nas apostas eleitorais – e ele ganhava com folga –, o petismo alimentava o boato e os empresários, insatisfeitos, engrossavam o coro. Dilma procurou Lula e pediu-lhe um gesto capaz de aplacar a boataria.
Dias depois, durante a comemoração do aniversário do PT, Lula fez seu papel: antes de encerrar sua fala, como se cumprisse uma tarefa, finalmente mencionou a reeleição de Dilma. O resultado foi dúbio. Parte da legenda achou que era um erro antecipar a campanha, já que ainda havia quase dois anos de governo pela frente. Outros entenderam ter sido uma maneira de fortalecer o projeto de poder num momento delicado. A verdadeira opinião de Lula ficou restrita a amigos e familiares. “Lula é igual à Bíblia, cada um interpreta como quer”, disse José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT e atual diretor da Petrobras.

Na casa do próprio Lula, o anúncio da reeleição de Dilma repercutiu mal. A ex-primeira-dama Marisa Letícia achou um absurdo, uma ingratidão, uma traição que Dilma não tivesse perguntado a Lula, em nenhum momento, se ele queria ser candidato – conforme a presidente havia confidenciado para um ex-ministro, amigo de ambos, um ano antes. A família ficou magoada. E especialmente Lula.
Desde que deixara o Alvorada, Marisa Letícia sentia falta da rotina brasiliense – as manhãs pescando no píer da Presidência, o entourage, os salamaleques, o poder. Dizia que Lula ainda era a única pessoa capaz de manter o país nos trilhos. Fazia coro com o Serpentário do Ipiranga. “Ele sempre quis voltar, a Marisa queria que ele voltasse, os filhos queriam e boa parte do PT também”, disse-me um advogado de renome ligado ao partido, em seu escritório, em São Paulo.
 
De sua parte, Dilma defendia que o mandato era dela. Deveria terminar o que havia começado e, como seus antecessores, tinha o direito à reeleição. Nada disso, no entanto, era explicitado. Em público, Lula negava a hipótese de se candidatar, mas no privado era sempre ambíguo. Ainda que não estimulasse o boato, não movia uma palha para matá-lo na origem. Em encontros reservados, ele passou a criticar a presidente.
 
Durante todo o mandato, Dilma e Lula nunca se afastaram ou deixaram de se falar. Ele sempre foi cuidadoso na aproximação e nas críticas. Dava sugestões de modo que sua interlocutora pudesse acatá-las ou não. Em vez de dizer que ela estava negligenciando a política externa, Lula perguntava, como do nada: “E a África, Dilminha? Está abandonada...” Quando se estranhavam, um ou outro “sumia”. Como relatou um auxiliar direto da presidente: “Mito não telefona. Ele nunca telefonou, mas ele sumia. E ela, quando achava que ele estava dando declarações demais à imprensa, ou se julgava estar no caminho certo e queria preservar-se de ingerências externas, fazia o mesmo.”
 
O comitê central da campanha de Dilma Rousseff está localizado em um centro comercial de Brasília. Na entrada, veem-se cartazes de crianças com camisetas vermelhas, a serigrafia de uma foto da candidata quando militava contra a ditadura e um enorme painel com a imagem dela, sorridente, ao lado de Lula. No mezanino, fica a sala de Giles Azevedo, ex-chefe de gabinete da presidente no Planalto, hoje um dos coordenadores da campanha.
 
Há vinte anos, ele é a sombra de Dilma Rousseff, que o chama carinhosamente de “Gil e Les” – como se ele fosse duas pessoas. Se há no mundo alguém em quem ela confie, é ele. Em uma tarde de julho – quando ainda não havia Marina Silva no páreo –, Azevedo comentava as dificuldades da chefe: “As pessoas não querem resolver problema, querem carinho, atenção. Ela quer resolver, não quer gastar tempo com firula.” Segundo ele, a praticidade e a discrição da presidente eram uma novidade no cargo. “Ela trabalha para dentro. Não quer holofote, quer resultado, isso é uma coisa diferente na política brasileira.”
 
Para ele, é um grande equívoco afirmar que Dilma não sabe fazer política. “Baixar os juros do sistema financeiro mexendo com lucros de banqueiros, desafiar interesses econômicos nos contratos de energia elétrica, criar a Comissão da Verdade, isso é não fazer política?”, indagou. “Ela fez isso sozinha.”
 
O celular tocou. Passaram-lhe o resultado de uma pesquisa recente, mas ele não quis comentar os números. Com voz mansa, pôs-se a listar as conquistas do governo: o Minha Casa Minha Vida havia construído 2 milhões de moradias; o Brasil Carinhoso retirara 8,7 milhões de pessoas da miséria; das dez maiores hidrelétricas do mundo, três seriam construídas no Brasil; o Pronatec ofereceu cursos técnicos a 8 milhões de estudantes. “Na crise, o mundo perdeu 60 milhões de empregos, e o Brasil ganhou 11 milhões. Como que alguém pode dizer que esse governo fracassou?”
 
Naqueles dias, a dicotomia entre o Ipiranga e o Planalto era explícita. Os mais próximos da presidente se incomodavam com o fato de Lula despontar como um gênio da lâmpada, sempre com uma frase de efeito, uma solução mágica, um conselho incrível, ainda que o PT amargasse derrotas fragorosas em dois dos principais estados brasileiros: Lindberg Farias, no Rio, e Alexandre Padilha, em São Paulo. A eterna comparação entre ela e Lula também a incomodava. Ela sorria amarelo quando ele falava em público sobre “o criador e a criatura” ou quando explicitava que o governo era “meu e da Dilma”, ratificando ataques de adversários. Ela também percebia que o “Volta, Lula” aparecia sempre nos momentos em que o governo estava fragilizado, quase como um corretivo a sua gestão. E quem está a seu lado repara que Dilma se refere a Lula como “presidente” e o trata de “senhor”, enquanto ele, a despeito do cargo que ela ocupa, sempre se refere à presidente como “Dilminha” e “você”. Entre os dois, a relação nunca foi de paridade. Quando o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, visitou o Brasil, no ano passado, engatou numa conversa animada com Lula. Deixaram Dilma, a presidente, esperando por quarenta minutos.
 
Mas era fato que, depois de quase quatro anos de mandato, ela ainda precisava umbilicalmente de Lula para se eleger. “É difícil suceder o Lula. O carisma, o processo de transferência, é um peso muito grande”, afirmou Giles Azevedo. Segundo ele, qualquer candidato do partido estaria na mesma situação. A relação de ambos, ele disse, para aplacar qualquer boato de desentendimento, era excelente. “Mas ela pensa, né?”
 
O prejuízo de se ter antecipado a campanha eleitoral logo ficou visível. O governo passou a ser avaliado com lupa, cada ação de Dilma ficou sob suspeição de ser eleitoreira. Quando o preço do tomate chegou a 10 reais o quilo – um aumento de 80% em menos de um ano –, a opinião pública gritou: a inflação está mordendo a dona de casa.
 
No Congresso, a relação com o Executivo também ia mal. Nos primeiros dois anos, Dilma havia feito algo se mover no pântano do fisiologismo brasiliense. “Acabou a conversinha mole, tangenciada, uma coisa querendo dizer outra, segundas intenções. Com ela, não tem”, comentou um ministro do PMDB, durante um jantar em Brasília. Um ex-ministro paulista também me disse: “Ela é honesta, não pensa em dinheiro e não tem filho para fazer negócio. Isso já cria uma barreira para as conversas esquisitas.”
 
Pressionada por Lula, ela cedia nas alianças, mas até a última hora tentava uma carta diferente. Foi o caso da ida de Renan Calheiros para a presidência do Congresso Nacional. Ainda que o PT tivesse combinado, por escrito, o revezamento com o outro partido, quando a posse se aproximou, ela insinuou que Calheiros desistisse do cargo em troca do apoio incondicional do governo para elegê-lo governador de Alagoas. Ele agradeceu. “Ela ia com o milho e eles voltavam com a pipoca. Ela não entendia o quão mais fundo era o buraco”, comentou uma ex-auxiliar da presidente.
 
O estilo Dilma tinha um preço. Uma coisa era ser faxineira quando estava por cima, outra era manter a pose sendo bombardeada de todos os lados. “Deputado dá troco. É um horror, mas é fato”, comentou um parlamentar da base aliada, em Brasília. A retaliação vinha do próprio quintal. Numa ocasião, o então presidente da Câmara, o petista Marco Maia, queria indicar um afilhado político para o Banco do Brasil. Dilma não o atendeu. Em represália, ele abandonou uma sessão no meio para atrapalhar a votação.
 
No Congresso, Dilma perdeu em várias votações relevantes para o governo. Com uma articulação política frágil, sem vocação para fazer o jogo da arraia-miúda, ela ficou à mercê do fisiologismo. “No segundo e terceiro anos de governo, como estava sem anteparo, ela se expôs muito”, comentou o deputado Paulo Teixeira, do PT de São Paulo, em seu gabinete na Câmara, em agosto. Um dos exemplos ocorreu durante a votação da Lei dos Portos, quando o deputado Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara, emparedou o governo. “A presidente ficou em simetria com um deputado. Isso não pode. Na Fazenda, a mesma coisa. Ela foi virando o alvo direto das críticas por não ter esse muro de defesa”, comentou. Ao longo do tempo, o pragmatismo ganhou. Dilma liberou o aumento dos ministérios para acomodar aliados, ministros faxinados indicaram sucessores, e ela trocou um ministro por causa de um minuto a mais no programa eleitoral na tevê. A imagem de faxineira ficara para trás.
 
Vieram as manifestações de junho de 2013. Começaram contra o aumento das passagens de ônibus, mas logo ganharam dimensão nacional e se transformaram em revolta contra os gastos com a Copa, a precariedade dos serviços públicos, a venalidade da política brasileira. Em vinte dias, a aprovação do governo Dilma despencou de 57% para 30%. O grito de independência não tinha mais eco. No meio da crise, foi ela quem pegou um avião para São Paulo para se encontrar com Lula. O poste precisava de luz.
 
Foi quando Lula sugeriu a saída de Guido Mantega. Mais uma vez, ela se fez de surda. “A maior força de Mantega durante todo o governo foi ter sido vulnerável. Poucos naquele cargo permitiram tamanha ingerência do presidente da República”, comentou um ex-integrante da equipe econômica. Para ela, demiti-lo significava perder o poder irrestrito de mandar na economia. Nessa época, Lula comentou com um grupo no Ipiranga: “Ela não vai mudar.” E viajou para uma longa série de compromissos na África. Mais uma vez, ela entendeu o recado.
 
Paradoxalmente, depois de junho, teve início o período mais profícuo do governo Dilma. Em poucos dias, os protestos fizeram o Congresso aprovar projetos contra a corrupção, governos recuaram no reajuste do transporte público e o Judiciário mandou para a cadeia um político acusado de corrupção – o deputado Natan Donadon, do PMDB de Roraima. O Planalto emplacou o Mais Médicos e conseguiu aprovar no Congresso a lei para destinar à educação o dinheiro dos royalties do petróleo.
 
As manifestações também provocaram uma reação inédita na presidente: ela mudou de ideia. Quando não apareceu nenhum interessado no leilão pela concessão de um trecho da rodovia BR-262, que liga o Espírito Santo a Minas Gerais, ela flexibilizou as regras do jogo e só aí as negociações deslancharam. Ao mesmo tempo, Dilma passou a se encontrar com os movimentos sociais, lideranças indígenas, representantes de igrejas evangélicas. Reuniu-se até com o presidente da Central Única das Favelas, o Preto Zezé. Recebeu parlamentares, ministros, empresários. Também ficou assídua no Twitter, em sintonia direta com os eleitores. “Ali, deu uma revigorada em todo mundo. As coisas andavam, aconteciam”, disse-me um ministro do governo, no final de setembro.
 
 Na imprensa, ela era atacada sem dó: as obras para a Copa não ficariam prontas, os protestos paralisariam o país, a imagem do Brasil no exterior seria abalada – em suma, o desastre era iminente. Dois meses depois das manifestações de junho, o governo era aprovado por 44% da população. A presidente tinha coisas a resolver e se trancou no Planalto novamente. Em pouco tempo, a rotina voltou ao normal: reuniões infindáveis, encontros secretos, broncas. A gerentona estava de volta.
 
A reforma ministerial, no início de 2014, produziu o primeiro homem forte do governo: Aloizio Mercadante, alçado para a Casa Civil depois que Gleisi Hoffmann se desincompatibilizou para concorrer ao governo do Paraná. Ao longo do mandato, os interlocutores de Dilma eram Ideli, Gleisi, Giles Azevedo, Fernando Pimentel e José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça. Quando substituiu Fernando Haddad na Educação, Mercadante foi galgando espaço no grupo.
 
Ainda ministro da Educação, passou a acompanhar a presidente nas viagens internacionais, mesmo que o assunto não dissesse respeito à sua pasta. Aproveitava os longos voos para palpitar sobre o governo em geral. Diz-se dele ser “o maior especialista no ministério dos outros”. A demissão de Antonio Patriota, do Ministério das Relações Exteriores, foi gestada entre os fios do hirsuto bigode. Comenta-se de um jantar em que Mercadante trocou a identificação dos lugares à mesa para se sentar perto de Dilma.
 
Ele desabrochou aos olhos da presidente durante as revoltas de junho. Nas reuniões no Alvorada para debater as providências diante da crise, Mercadante tinha sempre uma opinião aguerrida, era assertivo, não titubeava – o que, para Dilma, é uma virtude. Entregava resultados num governo que tinha pouco a mostrar e teve importante papel na elaboração do Mais Médicos e do Pronatec – duas vitrines do governo. Logo, mais um apelido foi cunhado nos corredores do Planalto. Mercadante se tornara “O Príncipe”.
 
Quadro histórico do PT, ele sempre teve uma relação conturbada com Lula e a ala paulista do partido. É considerado vaidoso, arrogante, megalômano. No governo Lula, jamais teve um ministério. Mas, na ausência de nomes de peso do partido – José Dirceu, José Genoino, Antonio Palocci –, era ele a melhor opção caseira para auxiliar a presidente. Quando se tornou um dos poucos a ter coragem de enfrentá-la, seu passe dobrou.
 
Há quem enxergue na parceria uma declaração de independência em relação a Lula. Foi o que disse um ministro do governo durante um café da manhã, no final de agosto. “A impressão é que ela e Mercadante sequestraram nosso projeto e agora acham que podem melhorá-lo”, afirmou. Com agenda política própria, Mercadante tem planos altos. Quando comentei com Rui Falcão ter ouvido que ele estava convencido de ser o sucessor de Dilma, o presidente do PT riu. “Cada um pode sonhar com o que quiser”, disse. Era inegável que a presença de Mercadante dera mais confiança à presidente. Ela não estava mais sozinha.
 
Em maio deste ano, as pesquisas apontavam para a perspectiva de haver segundo turno nas eleições presidenciais. A reação do governo veio a reboque: aumentou o valor do Bolsa Família e anunciou a correção na tabela do Imposto de Renda.
 
Dilma teve de lidar com as críticas e adversidades. Na abertura da Copa, fora vaiada e insultada em coro pela torcida presente ao Itaquerão. Sua popularidade despencara e o padrinho a deixara sozinha. “Ela não passa recibo, não deixa a emoção tomar conta”, disse um ministro do governo. É mesmo uma búlgara. Na lapela, nos bordados, no crepe, nos botões trabalhados, nas cores, nos modos, no paladar, mas, sobretudo, na maneira de externar emoções. “É como se ela tivesse uma missão. Você não vai vê-la se lamentando por aí. É uma causa, é uma missão”, observou. Nem quando fala do assunto que lhe é mais doloroso – a tortura –, ela o faz em tom de lamúria. O relato, reservado a poucos, é contado com detalhes estarrecedores. Um dos episódios mais degradantes envolveu um rato vivo.
 
Fora dos campos, a Copa do Mundo transcorreu melhor do que se esperava. Infraestrutura, segurança, telecomunicações, tratamento aos turistas, às seleções e aos chefes de Estado – em geral, não houve problemas. Os poucos foram acobertados pela simpatia da hospitalidade.
 
Logo depois do campeonato, o governo convocou uma entrevista coletiva com a presença de todos os ministros para falar do sucesso do evento. Mas já no dia seguinte Rui Falcão disse à imprensa que era hora de “reeleger Dilma e trazer Lula de volta em 2018”. A presidente mal tivera tempo de colher os louros quando a luz do poste a ofuscou novamente. “Aquela fala era uma maneira de dar um horizonte à militância para a continuidade do projeto”, disse-me Falcão, dias depois.
 
Um pouco antes da Copa, o ex-presidente Lula esteve em Milão para visitar a sede da Pirelli. À noite, num jantar privado, fez uma breve explanação sobre o Brasil e a América Latina. Ali, para os cerca de vinte convidados, desancou a sucessora. Disse que ela não o “consulta para nada”, ressaltou sua inabilidade política e a dificuldade de tocar o governo.
 
Dois dos presentes relataram o ocorrido a um conhecido empresário brasileiro do ramo do comércio exterior. “Se ela depender dele para se eleger, coitada dela”, comentou um deles, segundo o empresário contou, em seu escritório, em São Paulo. A declaração na Itália foi apenas uma das várias feitas por Lula em reuniões fechadas. Recentemente, a um grupo de executivos de um grande banco de investimentos, com sede na avenida Faria Lima, na capital paulista, a cena se repetiu.
 
Desde março de 2011, uma auditoria interna da Petrobras investigava a venda da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O negócio custou 1,18 bilhão à Petrobras, quase 27 vezes mais do que o valor pelo qual a empresa americana havia sido vendida em 2005. Como presidente do Conselho de Administração da estatal, Dilma foi uma das pessoas que aprovou a transação. Quando engrossaram as suspeitas sobre o negócio, em março deste ano, Graça Foster preparou uma nota, limitando-se a dizer que o assunto era objeto de sindicância interna.
 
Dilma rechaçou a explicação e considerou a nota “ingênua”. Sentada em seu gabinete, batucou no computador, durante horas, outra resposta, sob o olhar de quatro assessores, entre eles o advogado-geral da União, Luis Inácio Adams. “É para sair assim”, ordenou. Em nenhum momento ela consultou Lula ou o PT. Na nova versão, ela indicava que a compra havia se baseado em “documentação falha” e “informações incompletas”.
 
A nota caiu como uma bomba de nêutron. Baseada nela, a oposição pediu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito a fim de apurar as denúncias. Na opinião de um renomado advogado que trabalha para as empreiteiras envolvidas, Dilma “trouxe o assunto para o centro do palco”. A interlocutores, Lula propalava que ela havia dado “um tiro no pé” ao jogar dúvidas sobre o embasamento técnico e jurídico para a compra da refinaria. O assunto, apostavam os petistas, teria morrido por si só com a vaga explicação da Petrobras.
 
Pouco depois, o Tribunal de Contas da União entendeu que os membros do conselho – incluindo Dilma, o empresário Jorge Gerdau e Fábio Barbosa, presidente do Grupo Abril – nada tinham a ver com o assunto. Os suspeitos a serem julgados seriam ex-diretores da Petrobras, entre eles Paulo Roberto Costa – um dos presos na Operação Lava a Jato, da Polícia Federal, que apurava as denúncias – e o ex-presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli. Ambos demitidos por Dilma dois anos antes.
 
Segundo a revista Veja, em troca da redução da pena e proteção à família, Costa teria revelado, num acordo de delação premiada, que havia repassado dinheiro da corrupção para políticos como os ex-governadores Sérgio Cabral (PMDB) e Eduardo Campos (PSB), a governadora peemedebista Roseana Sarney e seus colegas de partido Renan Calheiros e Edison Lobão, ministro das Minas e Energia.
 
Em uma noite de setembro, encontrei-me com um advogado de um dos réus da Operação Lava a Jato, em um bar do Leblon, no Rio. Preocupado com a repercussão da delação premiada, ele corroborou o que já havia dito o réu: “Se ele falar, não tem eleição.” Comentou que Costa “era um ser único na política brasileira” – pela primeira vez, um operador atuava nas duas frentes: na arrecadação de recursos de campanha e na distribuição para políticos. “Na época do PC Farias, ele só arrecadava, não sabia para quem ia o quê. Esse Paulinho sabe tudo”, afirmou.
 
O caso ganhava contornos ainda mais preocupantes porque, por causa da nova Lei Anticorrupção – sancionada por Dilma Rousseff –, atualmente são os controladores das empresas que respondem pelos crimes, não mais um diretor ou um secretário. “Você imagina o que é ter o dono de uma empreiteira realmente correndo o risco de ir para a cadeia?”, observou o advogado.
 
O que moveu Dilma ainda é controverso. Havia a informação de que o relator do caso no TCU, o ministro José Jorge, ampliaria as investigações para o governo. “O que ela fez foi se defender, com razão. O que ela acha que é defesa própria, o PT chamou de ‘falta de solidariedade’”, disse-me um ministro palaciano. O curto-circuito era da luz, não do poste.
 
Da janela da sala da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, tem-se uma visão magnífica da Baía de Guanabara. Em uma manhã de julho, sentada de costas para o cenário, ela falava sobre a chefe e amiga Dilma Rousseff. As duas se conheceram em reuniões de trabalho na Petrobras há dezoito anos. Quando vai a Brasília, Graça é uma das poucas a ser convidada a pernoitar no Alvorada. Lá, passam a noite conversando, ouvindo música e lendo.
 
Encontramo-nos quase dois meses antes do acordo de delação premiada feito por Paulo Roberto da Costa. Comentei que gostaria de ouvir uma “voz amiga” da presidente, pois me surpreendia como seus assessores e interlocutores mais próximos reservavam a Dilma críticas tão ácidas e comentários tão ferinos. “É injusto com ela, muito injusto”, disse Foster logo no começo da conversa. “E isso acontece porque ela é justa e paga um preço alto por isso”, avaliou.
 
No final de setembro, com mais uma queda brusca das ações, a Petrobras havia deixado de ser a maior empresa brasileira e perdera 144 bilhões de reais de valor de mercado desde o início do governo de Dilma Rousseff. Perguntei o que ela pensava ao ouvir que a presidente havia “acabado com a Petrobras e destruído o setor elétrico”. “Conheço essa empresa como a palma da minha mão, não tem isso”, disse, enfatizando a negativa com um movimento da cabeça. “Como uma empresa que investe 100 bilhões de reais por ano, tem 70 bilhões em caixa e produz 500 mil barris de petróleo por dia, só no pré-sal, pode estar mal?”, perguntou.
 
Chegamos a Pasadena. Relatei a ela o que havia ouvido de cinco pessoas ligadas ao PT, com palavras a mais ou a menos, mas sempre com o mesmo sentido: a presidente havia exposto o esquema que ela sabia ter financiado sua campanha e a de vários companheiros do PT e de partidos aliados. Sem hesitar, Graça respondeu, grave: “Não sei nada disso do que você está falando.”
 
Um copeiro trouxe café. Ela retomou o raciocínio. Acredita que Dilma é vítima da própria honestidade. “Ela é justa, honesta, muito justa e honesta. Esse é o ponto fundamental de tudo”, disse. Era de se imaginar que ela ficasse doída com as críticas inclementes. “Não é fácil para ninguém. Olha, eu vou até parar de falar porque eu já chorei aqui hoje. Mas, pode ficar tranquila, não foi por causa da Petrobras”, disse, sorrindo.
 
A trágica morte de Eduardo Campos varreu como um furacão o cenário eleitoral. A partir de então, tudo o que se especulava ficou velho. Em Brasília, passou-se a ouvir a expressão: “Ah, isso é tão 12 de agosto!”, em referência à véspera do desastre. O PT havia se preparado para repetir o mote “Nós contra eles”, no embate com o PSDB. Quando Marina Silva se tornou uma ameaça real, o partido não sabia o que fazer. De novo o “Volta, Lula” surgiu forte dentro do PT.
 
Naqueles dias, um influente empresário, com negócios no Sudeste e Nordeste, foi recebido para jantar na casa da família Lula em São Bernardo do Campo. Como era domingo, pediram pizza pelo telefone e se reuniram em volta da mesa. O assunto logo resvalou para o governo. Ele, que estava decepcionado com o PT, externou sua opinião. Foi a deixa para Marisa desancar Dilma mais uma vez: ingrata, falsa e traidora foram alguns dos adjetivos que empregou. Os filhos de Lula corroboravam a opinião da mãe. O ex-presidente permaneceu calado.
 
Ali, o empresário teve uma epifania. Percebeu que, por mais forte que fosse o “Volta, Lula”, o ex-presidente jamais teria coragem de se apresentar como candidato. Nem para salvar a eleição de 2014, já que ele já tinha em vista 2018. O preço de deixar de ser um mito e desembarcar na vida real, num cenário de incerteza aguda, era pesado demais. Logo que Marina se lançou candidata, as pesquisas encomendadas pelos partidos não davam grande vantagem a Lula sobre sua ex-ministra, quando confrontados na mesma cédula.
 
Com o alerta vermelho na campanha de Dilma, Lula passou a viajar pelo país fazendo comícios e acompanhando a candidata em eventos. Quatro ministros se licenciaram dos cargos para cuidar da articulação política. A 32 dias do primeiro turno, um grupo se reuniu na suíte do hotel Unique, em São Paulo, onde Dilma estava hospedada. Lula deu a ordem de comando: “Vai ser o segundo turno mais longo da história. Ele tem que começar agora”, disse. Isso significava atacar Marina com todas as armas, para que ela chegasse ao segundo turno fragilizada.
 
A partir daí o tom da propaganda eleitoral engrossou: Marina foi comparada a Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello. Em outro spot, dizia-se que, com a autonomia que ela pretende dar ao Banco Central, a comida vai sumir do prato das famílias, em benefício dos banqueiros, caracterizados na propaganda como vilões. No jargão publicitário, a ordem era “desconstruir” Marina: explorar suas incongruências, dubiedades, fragilidades, o túnel desconhecido que seria seu governo. A estratégia surtiu efeito. Em três semanas, Dilma abriu quinze pontos de vantagem sobre Marina, mas ainda não tinha o suficiente para vencer no primeiro turno.
 
A poucos dias das eleições, o Brasil havia saído do Mapa Mundial da Fome das Nações Unidas. Pela primeira vez em cinco anos, registrava-se retração da economia, que havia entrado em recessão técnica. Ao contrário do que pregava o governo, o país crescia menos do que seus pares na América Latina. A inflação recuava a passos lentos. Indagada se faria mudanças na equipe ministerial caso reeleita, Dilma respondeu de bate-pronto “Ano novo, equipe nova”, incorporando a seu repertório a expressão “novo, nova”, bordão da adversária Marina e sua “nova política”. O recado tinha alvo: Mantega estaria fora no próximo governo. Ele soube da notícia pela internet. “Ela só não esclareceu se também vai mudar. Se vai deixar de ministrar para começar a presidir”, disse um secretário do governo com status de ministro.
 
No final de setembro, durante um café da manhã no Rio, um importante dirigente do PT comentava o enredo eleitoral. “Ninguém ia imaginar a morte do Eduardo Campos, a crise econômica mundial, o sentimento que ia surgir das manifestações de junho. Mas todo mundo sabia da inabilidade da Dilma, da ojeriza pela política, desse temperamento”, resumiu.
 
A reeleição de Dilma ganhara fôlego. De nada adiantara mostrar as obras, os programas, as falas de Lula. A vantagem só foi recuperada quando o PT pegou em armas e passou a atacar sem piedade a adversária. As dificuldades do governo, segundo meu interlocutor, nunca foram de macroeconomia, mas de estilo. “Arrogância”, ele disse. Argumentei que, se eleita, ela poderia fazer um governo mais livre, sem se preocupar com Lula ou com o PT, já que provavelmente seria seu último cargo político na vida. Ele balançou a cabeça e deu um sorrisinho. Antes de se retirar, arriscou o porvir: “O fato é que, se ela ganhar, foi o PT que ajudou. E aí, no dia 1º de janeiro, o governo passa a funcionar no Ipiranga. Se perder, ela vai levar essa culpa para sempre. Infelizmente, isso é a política.”

23 de outubro de 2014
Revista Piauí, 97