"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 27 de abril de 2021

SUSTENTABILIDADE: IDEOLOGIA OU ECONOMIA?

Especialista explica a importância do setor privado para o desenvolvimento ambiental no Brasil

A discussão sobre o meio ambiente há muito tempo deixou de ser uma questão ideológica e, a cada ano, fica mais nítida a importância da sustentabilidade para a economia. Assim, tem sido cada vez mais comum ver empresas investindo no desenvolvimento do setor e pensando em formas de realizar ações que atendam a necessidade do presente, sem comprometer as gerações futuras.

O advogado, cientista político, professor e sócio da Mello Frota Consultoria, Leandro Mello Frota, destaca que o modelo de esgotamento que tínhamos no passado está superado e, por isso, temas como preservação dos biomas, mudanças climáticas e energia renovável fazem parte do nosso cotidiano. Além disso, as organizações já estão entendendo que precisam desempenhar o papel de contribuir com a sociedade local. Ouça o podcast!

“No Brasil, por exemplo, as empresas que integram a B3 – Índice de Sustentabilidade Empresarial – têm apresentado uma performance melhor do que as que estão na Bovespa. Isso está ligado ao fato de priorizarem as questões ligadas ao avanço sustentável”, ressaltou.

O protagonismo brasileiro nesse segmento está relacionado principalmente à biodiversidade natural e às possibilidades de geração de energia solar e eólica. Diante disso, as empresas têm assumido o papel de impulsionar políticas públicas voltadas para a sustentabilidade.

“Isso mostra que o mundo, pelo menos na área ambiental, está entendendo que defender o meio ambiente não é mais política ideológica e sim uma política financeira que pode ser muito rentável para todas as partes”, explicou.

Saneamento básico

A poluição urbana é um dos fatores que mais prejudicam o meio ambiente. Atualmente, cerca de 94% do saneamento básico no Brasil é feito pelo setor público, enquanto apenas 6% é feito pelas empresas privadas. A aprovação do Marco Legal do Saneamento veio para destravar importantes pautas de concessões no país.

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“O Novo Marco Regulatório do Saneamento traz segurança jurídica e atrai o setor privado. De acordo com analistas, os investimentos podem chegar a R$700 bilhões só em água e esgoto. Com as políticas de resíduos sólidos, podemos aumentar entre R$300 e R$400 bilhões”, afirmou.

Também é importante destacar que o saneamento básico está diretamente relacionado com direitos humanos, políticas de infraestrutura, sociais e econômicas.

“Acredita-se que serão gerados mais de 700 mil empregos diretos. Além disso, é possível movimentar vários setores da economia. E ainda temos as questões voltadas para a saúde, pois cada recurso investido em saneamento básico, retorna três vezes mais para a saúde. Então, recursos que eram destinados a tratamento de doenças que vêm da ausência de água tratada ou esgoto, podem ser direcionados para novos tratamentos e prevenções”, acrescentou.

+“Educação e Desenvolvimento – A formação do capital humano no Brasil”

A expectativa é que o Marco Legal do Saneamento seja o grande momento para equilibrar e melhorar a qualidade dos serviços, promovendo transformação para a sociedade.

É preciso investir mais no turismo ambiental

Apesar de possuir uma das maiores biodiversidades do mundo, o Brasil ainda não é muito popular no setor de turismo ambiental. Leandro Frota destaca que as visitações aos parques brasileiros nos anos de 2018/2019 chegaram a 12 milhões. Enquanto nos Estados Unidos, na mesma época, o número foi de aproximadamente 200 milhões de visitantes.

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“É um absurdo o brasileiro visitar mais a Estátua da Liberdade do que seus parques, como Bonito, Chapada dos Veadeiros, entre outros. Ele não conhece o seu próprio país e isso é fruto da ausência de educação nas escolas e de políticas públicas que estimulem o turismo verde”, comentou.

Segundo Leandro, ainda estamos engatinhando nesse setor. “Nosso país ganharia muito se entendesse que o investimento nessa área poderia levar o Brasil à sonhada categoria geopolítica”, completou.

Setor privado e meio ambiente

O setor privado tem cooperado com o desenvolvimento, mas a expectativa é que haja cada vez mais progressos nas iniciativas sustentáveis.

“Os especialistas especulam que só de oportunidades de negócios em razão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, até 2030, pode-se chegar a US$12 trilhões, além de 380 milhões de postos de trabalho. A crise econômica é mundial, mas as perspectivas de crescimento são animadoras”, apontou.

O mundo está se conscientizando da importância da sustentabilidade e, hoje, as empresas têm grandes oportunidades de olhar para o meio ambiente visando não apenas a preservação, mas também os negócios.

Os movimentos sustentáveis estão entrando com cada vez mais força nas organizações e quanto maiores forem os investimentos, melhores serão os resultados a médio e longo prazo. A tão esperada mudança de cenário econômico virá, principalmente, a partir do bom desempenho do setor privado neste segmento.

27 de abril de 2021
Instituto Millenium

"PARASITA" É IMPLAUSÍVEL E SUPERESTIMADO, COM UMA ABORDAGEM TOSCA SOBRE "CONFLITO DE CLASSES"

Do início ao fim, o filme insulta inteligência dos mais preparados




Nos anos imediatamente posteriores à Segunda Guerra Mundial, a economia da Coreia do Sul estava em trágica situação. Em 1948, a renda per capita do país era de irrisórios US$ 86, o que colocava o país no mesmo nível do Sudão. Em 1960, já tinha caído para US$ 79.

Políticas desastrosas levaram à hiperinflação (o que elevou o valor nominal das cédulas do won; hoje, um dólar custa 1.192 wons) e a uma escassez generalizada de comida. O lento crescimento econômico forçou as mães a fazerem escolhas em relação aos seus filhos na mesma linha de uma escolha de Sophia, e as taxas de alfabetização estavam entre as menores do planeta.

Analisando a situação, um oficial americano concluiu que "a Coreia jamais poderá alcançar um alto padrão de vida". O motivo, observou ele, é que "praticamente não há no país nenhum coreano com a qualificação técnica e com a experiência necessária para se aproveitar dos recursos do país e implantar alguma melhoria na economia, a qual é toda baseada em arroz".

Felizmente, no entanto, previsões são feitas para serem ridicularizadas. A especulação sobre o futuro da Coreia do Sul se comprovou incorreta. E amplamente. A partir da década de 1960, sob uma ditadura militar comandada pelo General Park, o país adotou uma política extremamente favorável ao investimento estrangeiro (o que era um imperativo, pois a Coréia não tinha capital próprio), principalmente de japoneses (com quem ele reatou relações diplomáticas) e americanos. Graças a esses investimentos estrangeiros o país começou a prosperar.

Os japoneses investiram pesadamente em infraestrutura, em indústrias de transformação e em tecnologia, o que fez com que a economia coreana se tornasse uma economia altamente intensiva em capital e voltada para a exportação de produtos de alta qualidade. Esse fator, aliado à alta educação, disciplina e alta disposição para trabalhar (características inerentemente asiáticas), permitiu o rápido desenvolvimento da Coréia.

Tudo isso está relatado em detalhes no excelente livro The New Koreans, de Michael Breen, jornalista britânico que mora em Seoul. O livro é importante porque ele explode vários mitos desenvolvimentistas que são extremamente utilizados quando se fala da história econômica da Coreia. Limito-me a citar dois: os país, longe de ser uma economia protecionista, é o nono maior importador do mundo (consequência óbvia de ser um grande exportador). E praticamente quase todas as empresas que foram inicialmente protegidas pelo governo quebraram (o que também é uma obviedade, pois empresas que nascem protegidas não se tornam eficientes e, logo, não duram tão logo são expostas ao mercado mundial).

Atualmente, a Coreia do Sul é um país impressionantemente próspero. Embora o PIB esteja longe de ser a mais acurada das métricas, aquele que já foi um país completamente devastado pela guerra (dentre outros fenômenos) é hoje um dos dois únicos países do mundo (junto com Taiwan) a ter "conseguido apresentar uma taxa de crescimento de 5% ao longo de cinco décadas", como bem disse Breen em seu livro. Hoje, sua economia é a 13ª maior do mundo.

A Coreia do Sul é uma das maiores parceiras comerciais tanto da China quanto dos EUA, e é sede de algumas das mais proeminentes marcas globais, como LG e Samsung. Acrescente a tudo isso o fato de que os sul-coreanos usufruem, como demonstrou Breen, "a mais rápida e a mais crescente rede de banda larga do mundo, em conjunto com a mais alta taxa de penetração de smartphones do planeta".

Muita coisa mudou neste outrora desesperadoramente pobre país, e com certeza foi para melhor.

Parasita

Tudo o que foi dito acima, e muito mais, merece ser levado em conta como pano de fundo para um comentário que tem o objetivo de oferecer um contra-argumento para toda a exaltação da crítica mundial em relação ao filme sul-coreano Parasita, que acaba de vencer o Oscar de melhor filme de 2019 (o que foi uma façanha, pois foi o primeiro filme não-falado em inglês a obter esta honraria).

Dirigido em co-escrito por Bong Joon-ho, o fato de este filme ter sido nomeado é uma demonstração explícita de como hoje tudo se tornou politizado, inclusive a crítica de filmes. Nada escapa.

E dado que o diretor já deu seguidas entrevistas nas quais deixa claro que o seu objetivo de fato é fazer uma "crítica social pesada" e enfatizar uma narrativa anti-capitalista, então nada mais justo do que criticar a sua obra tendo esta perspectiva.

Para contextualizar: Parasita conta a estória de uma família sul-coreana pobre e sem sorte, que embrulha caixas de pizza para uma rede local, sendo esta sua fonte básica de renda. A família Kim vive em um apartamento que é uma espécie de porão sujo e escuro (na verdade, trata-se de um "andar intermediário" de um prédio), cuja vista dá para uma lixeira onde um morador de rua costuma urinar. Entretanto, fotos antigas do pai Kim indicam que a família já teve um passado um tanto mais nobre. Desnecessário dizer, porém, que a família é pobre no presente.

E então a sorte lhes bate à porta. Muito embora nenhum membro da família consegue encontrar emprego, o filho Ki-woo é amigo de um estudante universitário que está indo viajar de intercâmbio. Em troca de um dinheiro extra, este universitário amigo de Ki-woo dá aulas de inglês para a extremamente rica família Park, mas já está de viagem marcada. Os Parks têm uma filha que deseja aprender inglês, de modo que este universitário sugere a Ki-woo fingir-se de universitário para conseguir o emprego.

Aqui você já consegue ter uma ideia de quão implausível esse filme é.

Falando mais abertamente, fluência em inglês é uma habilidade extremamente lucrativa para se possuir. Ki-woo possui essa habilidade e, consequentemente, consegue obter o emprego de tutor de inglês da filha da família rica. Mas, ora, se ele sempre teve essa habilidade, por que diabos ele vivia apenas de dobrar caixas de pizza? Não faz sentido nenhum.

O diretor quer que os espectadores acreditem que a família Kim é pobre por causa de uma escassez de opções de trabalho. Mas sejamos sérios: se Ki-woo é fluente em inglês, de modo que ele imediatamente consegue impressionar a rica família Park, então por que ele já não está lucrativamente empregado por alguém, em algum lugar de Seul, dado que a fluência em inglês é crucial em uma economia global? Certamente ele conseguiria emprego fácil em qualquer multinacional instalada em Seul. Mais sobre isso mais abaixo.

Após ter conseguido o emprego de tutor de inglês para a rica menina Da-hye, Ki-woo fica sabendo que o irmão de Da-hye, Da-song, é obcecado por artes. Pressentindo uma oportunidade para sua belíssima irmã, Ki-woo mente para a senhora Park e diz que sua irmã, Ki-jung, é uma "especialista" em artes. Consequentemente, ela é contratada para ser a tutora do menino Da-song.

Uma vez empregada pela família Park, Ki-jung arma uma cilada para o experiente motorista do senhor Park: ela intencionalmente deixa uma calcinha no banco de trás do carro e, com isso, o motorista é acusado de ter feito sexo no carro da família Park. Ele é demitido e, ato contínuo, o pai Kim se torna o motorista da família Park. Os três Kims (pai, filha e filho) passam então a explorar a alergia da família Park a pêssegos, e com isso conseguem fazer com que a mãe Kim seja contratada como a cozinheira da família.

Para sermos justos, é verdade que filmes não precisam ter um grande compromisso com a realidade, pois são apenas divertimentos escapistas. E as estórias, para serem boas, têm de ser um tanto implausíveis. No entanto, com Parasita, o diretor Bong Joon-ho insulta por completo a inteligência de seus espectadores.

Logo de cara, somos obrigados a acreditar que um filho fluente em inglês, uma filha capaz de apresentar razoáveis conhecimentos de arte, um pai com um bom conhecimento sobre automóveis (e que rapidamente consegue se tornar apresentável ao ponto de aparentar ser um elegante chofer), e uma mãe capaz de cozinhar para pessoas de exigente paladar só conseguem encontrar algum emprego minimamente decente se ludibriarem terceiros a lhes contratar.

Pior: o diretor quer que acreditemos que indivíduos tão engenhosos ao ponto de conseguirem empregos ao simplesmente exagerarem seu currículo perante uma família rica não podem fazer algo semelhante com as inúmeras corporações multimilionárias com sede em Seul. Isso está além da nossa capacidade de suspender a descrença.

Obviamente, o ponto acima nunca é abordado. E não porque o diretor de Parasita não está interessado em ser plausível ou acurado, mas sim porque seu único objetivo é fazer com que os ricos, pelo simples fato de serem ricos, sejam retratados como pessoas odiosas. Vemos isso logo de primeira ao constatarmos a facilidade com que os Kims conseguem ser contratados pelos Parks. Os Parks são facilmente enganados, e é óbvio que você sabe por quê: porque, é claro, os ricos são estúpidos e imbecis. Tão concentrados eles estão nas coisas superficiais, e tão absortos estão em coisas secundárias e desimportantes, que eles se mantêm completamente ignorantes em relação a tudo o que os economicamente desesperados Kims estão fazendo com eles.

Já os pobres e desempregados são, obviamente, retratados como pessoas dotadas de uma grande sagacidade e "esperteza urbana". Sua difícil situação econômica nada mais é do que uma infeliz consequência do fato de terem nascido.

Os problemas com este cenário são vários.

Só há este filme porque havia riqueza para produzi-lo

Para começar, o diretor Bong deveria considerar por que e como há um mercado na Coreia do Sul para o seu filme.

Falando o que é óbvio, obras de arte com narrativas socialistas e que retratam lutas de classe só ganham vida porque há uma riqueza que as possibilita e financia, a mesma riqueza que o diretor e co-roteirista desdenha. Traduzindo: cinquenta ou sessenta anos atrás, quando a Coreia do Sul era desesperadoramente pobre (e, logo, a desigualdade era bem menor), não havia nenhuma razão de ser para um filme como Parasita. Os ricos eram tão microscopicamente poucos no país, que eles certamente não gastariam dinheiro para financiar as "obras de arte" de pessoas como Bong. Por que o fariam? O país era tão pobre, que não havia mercado consumidor (e nem produtor) para filmes, muito menos para filmes sobre alguns auto-proclamados sofisticados que recorrem ao charlatanismo para enganar outros sofisticados que estão repletos de dinheiro, mas escassos de bom senso. A história não teria relevância nenhuma àquela época, pois não teria o mais mínimo apelo realista. Todo mundo era pobre na Coreia há não muito tempo.

É apenas hoje, com o país sendo incrivelmente mais rico, que tais narrativas ganham alguma verossimilhança. Fosse o país ainda miserável, não só não haveria como o filme ser feito (pois não haveria ricos para financiar sua produção), como também a história não teria qualquer ressonância.

Este é o paradoxo da riqueza: ela só é criticada por cineastas porque ela existe e possibilita a criação de suas obras de arte.

Alguns irão dizer que Parasita se comprovou um grande sucesso de bilheteria, e tem tido um desempenho particularmente bom nos EUA. Mas isso apenas comprova o fenômeno acima, que é bastante proeminente nos países ricos. Alguém seriamente acredita que políticos abertamente socialistas como Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez e Elizabeth Warren teriam seguidores e notoriedade não fossem os EUA um país intensamente rico, povoado pelas pessoas mais ricas do planeta? Coloque estes mesmos no Sudão (ou mesmo na Coreia da década de 1950), e eles não teriam apelo nenhum (até porque não haveria riqueza para eles quererem saquear). A mesma riqueza que estes autoproclamados socialistas alegam desdenhar é a fonte de sua própria proeminência.

Naturalmente, o ódio explícito que Parasita expressa pelos ricos tem o seu mercado cativo exatamente nos países prósperos, em que há uma ampla riqueza para ser invejada (a mesma riqueza que possibilitou a produção do filme).

Nas últimas décadas, a economia da Coreia do Sul, e de Seul em particular, vivenciou uma incrível expansão. Todas as classes sociais ascenderam. À luz deste boom, faz algum sentido acreditar, como faz o diretor Bong, que aqueles moradores de Seul (que são fisicamente bonitos, dotados de grande "esperteza urbana", e fluentes em inglês e com bons conhecimentos de culinária, de artes e de automóveis) só conseguem emprego como dobradores de caixa de pizza? A pergunta é meramente retórica.

E, caso o leitor ainda não esteja satisfeito, a realidade de que a Coreia do Sul é um dos maiores importadores do mundo (#9 entre os países) deveria ser levada em conta. Indivíduos só conseguem importar coisas se produzirem o bastante para o resto do mundo. E, dado que a Coreia é o nono maior importador do mundo, então temos que, por definição, sua população não apenas está empregada, como também está empregada em indústrias extremamente bem-remuneradas (eis a evolução das exportações da Coreia do Sul).

No final, tudo piora

Após tudo isso, a narrativa de Parasita assume um formato bizarro e o filme passa a retratar os pobres como possuidores de um odor atípico; um odor que ofende as mais refinadas sensibilidades dos ricos (com os Parks sendo expostos ao mau-cheiroso Pai Kim). Isso leva a uma guinada bizarra neste extremamente superestimado filme, culminando em uma sequência sanguinolenta, típica de um filme slasher — algo que irá certamente ofender aqueles que vão em busca de filmes menos comerciais exatamente para evitar sanguinolência.

É claro que, no final, a principal contradição de Parasita é a narrativa geral do filme, que se concentra em insuflar o ódio dos pobres pelos maldosos, arrogantes e incrivelmente estúpidos ricos. Mas essa é também uma postura que não resiste à mais mínima checagem da realidade. Por exemplo, por que a super-rica e densa Seul é um ímã para tantas pessoas que não são ricas? Igualmente, por que as cidades repletas de bilionários, como Nova York, Los Angeles, São Paulo, Paris, Frankfurt etc. atraem muito mais pessoas em busca de melhora de vida do que cidades mais pobres?

Os mais pobres, em suma, vão aonde os ricos estão. Eles sabem que é onde os ricos estão que há mais oportunidades de prosperidade. Embora cineastas fartamente financiados com o dinheiro dos ricos gostariam de nos fazer acreditar que os não-ricos desprezam os ricos, o padrão migratório mundial indica uma realidade oposta e muito mais acurada: onde os ricos estão é onde há as maiores oportunidades para aqueles que não são ricos prosperarem.

Para concluir, o que é realmente crucial é que a mensagem de Parasita não é a única coisa horrenda sobre o filme. O filme também é aborrecidamente longo, com pelo menos 30 minutos a mais do que deveria ter, e com um um final que é ainda mais implausível do que toda a estória de luta de classes que precede o banho de sangue final.

Parasita não merece nem sequer a estatueta de melhor filme estrangeiro, quanto mais de melhor filme. Ou mesmo qualquer tipo de premiação. Que ele tenha vencido várias categorias apenas mostra como a politicagem, a ideologia e as mensagens políticas dentro de filmes passaram a substituir a genuína qualidade cinematográfica como critério definitivo para críticos e membros da Academia de Hollywood.


27 de abril de 2021
John Tamny


CONFIANÇA E HONESTIDADE - CARACTERÍSTICAS CRUCIAIS PARA O ENRIQUECIMEBTO DE QUALQUER ECONOMIA

Tolerância para com criminosos e desonestos garante o atraso





Atitudes como desonestidade, mentira e trapaça não são tratadas com a devida abjeção que merecem. Para se compreender melhor a importância da honestidade e da confiança, apenas imagine como seria nossa rotina diária se não pudéssemos confiar em ninguém.

Quando compramos em uma farmácia um recipiente contendo 100 pequenas pílulas (como vidros de homeopatia, por exemplo), quantos de nós nos damos ao trabalho de realmente contar as pílulas? E quando o remédio é líquido, quantos de nós conferimos se o volume divulgado no rótulo corresponde ao volume verdadeiro?

Quando abastecemos nosso carro no posto, como sabemos que os litros especificados na bomba realmente correspondem ao volume que entrou no tanque do carro? Quando você vai ao supermercado e compra 1 quilo de carne, você por acaso verifica — por meios independentes — se realmente está levando um quilo de carne?

Em cada um desses casos, e em milhares de outros, nós simplesmente confiamos no vendedor.

Inversamente, há milhares de situações em que é o vendedor quem tem de confiar no comprador. Após um mês de trabalho, o empregado confia que seu patrão irá lhe pagar o salário combinado. Um comerciante vende um produto e recebe em troca um cheque, o qual ele confia que tenha fundo. Um fornecedor entrega uma mercadoria para seu cliente e confia que este irá lhe pagar dali a 30 dias, como combinado.

Exemplos de honestidade e confiança são abundantes, mas imagine o custo e a inconveniência caso não pudéssemos confiar em ninguém. Teríamos de andar sempre carregando instrumentos de medição para nos certificarmos de que realmente estamos recebendo o volume correto de gasolina e o quilo correto de carne. Imagine a inconveniência de ter de contar o número de pílulas ou de mensurar o volume de um líquido dentro de um recipiente?

Se não pudéssemos confiar em ninguém, se a simples palavra do vendedor ou do comprador não tivesse valor nenhum, teríamos de arcar com o oneroso fardo de fazer contratos por escrito para toda e qualquer transação efetuada. Teríamos de arcar com todos os custos de monitoramento que garantem que a outra parte irá fazer corretamente até mesmo às mais simples transações.

Podemos dizer com toda a certeza que tudo aquilo que solapa a honestidade e a confiança aumenta os custos de transação, reduz o real valor das trocas voluntárias e nos torna mais pobres.

Honestidade e confiança se manifestam de maneiras que poucos de nós sequer conseguimos imaginar. Em determinadas vizinhanças, por exemplo, é comum que empresas de entrega deixem encomendas muitas vezes valiosas em frente à porta caso o morador não esteja em casa para recebê-la. Não há necessidade de marcar horário para a entrega, o que é bom tanto para o morador quanto para a empresa. Ambos ficam com suas agendas livres e aumentam sua produtividade.

Da mesma maneira, supermercados e demais estabelecimentos comerciais podem tranquilamente expor várias mercadorias perto das portas de entrada e saída do estabelecimento, ou até mesmo deixá-las do lado de fora do estabelecimento, sem se preocupar com roubos.

Já em vizinhanças notoriamente menos honestas, empresas de entrega que deixassem encomendas na porta de uma casa e estabelecimentos comerciais que expusessem mercadorias perto da rua estariam cometendo o equivalente a um suicídio econômico.

Desonestidade é algo oneroso. Empresas de entrega não podem simplesmente deixar encomendas em frente à porta caso o morador não esteja em casa. A empresa terá de arcar com os custos de fazer uma nova viagem em outro horário. Ou terá de tentar agendar um horário. Ou então o cliente terá de arcar com os custos de ter ele próprio de ir recolher o produto. Se um estabelecimento comercial decidir exibir algumas de suas mercadorias do lado de fora, ele terá da arcar com os custos de contratar um auxiliar — isso se ele realmente puder se arriscar a deixar suas mercadorias do lado de fora.

Nas relações de trabalho, a desonestidade e a falta de confiança podem ser fatais. Patrões desonestos prejudicam seus empregados e podem afetar todo o seu êxito profissional. Empregados desonestos podem quebrar empresas e falir seu patrões, tanto por meio do roubo quanto por acionamentos judiciais desnecessários.

A despercebida tese de Fukuyama


Francis Fukuyama ficou famoso em 1988 por causa da publicação de seu livro O Fim da História. A tese que ele defendia era simplória: a democracia liberal havia derrotado todos os sistemas e, dali em diante, passaria a ser o arranjo preponderante e superior a todos os outros. Isso se comprovou uma óbvia inverdade. Pense no Islã. Pense na política burocrática reinante na China. Pense em Hong Kong e em Cingapura, que não têm democracia — ao menos, não no estilo defendido por Fukuyama.

À época, o livro recebeu uma estrondosa publicidade. Hoje, ele raramente é citado. Nunca entendi por que esse livro foi levado a sério. No entanto, durante um bom tempo, várias pessoas o levaram a sério.

Em 1995, Fukuyama publicou outro livro: Confiança. A publicidade recebida por este livro foi ínfima. Mas o livro é excelente. Digo mais: é um dos mais importantes livros já escritos sobre economia e ordem social.

Neste livro, Fukuyama analisa os efeitos da confiança sobre uma sociedade. Ele concentra sua análise nos Estados Unidos, no Japão, na China e no sul da Itália, onde praticamente não há confiança nenhuma em nada e ninguém confia em ninguém. Ato contínuo, ele analisa como a presença ou a ausência da confiança pode se tornar uma fonte de ordem social, de crescimento econômico e de aumento da produtividade geral.

Ele descobriu, de maneira nada surpreendente, que os EUA, até aproximadamente 1960, possuíam uma enorme vantagem competitiva em relação ao resto do mundo por causa do alto nível de confiança que seus habitantes tinham em relação aos seus conterrâneos. À medida que a confiança foi declinando, a taxa de crescimento econômico também declinou. Concomitantemente ao declínio na confiança houve um aumento no número de advogados.

Uma das sociedades menos produtivas de toda a Europa Ocidental é a do sul da Itália. Ele atribui isso à falta de confiança que reina na região. Esse é um dos motivos pelos quais as sociedades secretas, especialmente a Máfia, têm tanta influência no sul da Itália: tais organizações provêm um mínimo de ordem social para seus membros, e a população em geral não oferece muita resistência à existência destas organizações.

A seção sobre a China é a mais interessante. Fukuyama diz que os chineses apresentam um grande nível de confiança, mas somente em relação às suas famílias. Isso faz com que seja muito difícil para empresas chinesas concorrerem com pequenos empreendimentos geridos por famílias ou com pequenos empreendimentos que tenham conexões familiares. Faz com que seja mais difícil criar grandes empresas. E faz com que seja ainda mais difícil levantar fundos e conseguir capital para financiar essas grandes empresas.

Já o Japão está em um meio-termo entre os EUA e a China. No Japão, ao contrário da China, há mais confiança em organizações que não estejam ligadas a famílias. No entanto, os grandes conglomerados japoneses possuem em suas raízes um pequeno número de famílias japonesas.

Em seu livro, Fukuyama dizia acreditar que as corporações japonesas poderiam concorrer no mercado internacional de maneira mais efetiva do que as empresas chinesas porque os japoneses podiam contratar as melhores pessoas, muito embora suas empresas não apresentassem conexões familiares. Os japoneses também seriam capazes de conseguir dinheiro para investimentos mais facilmente do que as empresas chinesas.

Se olharmos o que ocorreu ao longo das últimas décadas, creio que essa tese se comprovou. Empresas chinesas demonstraram uma maior tendência de serem mais intimamente associadas ao governo chinês. O estado tem sido a fonte de financiamento das empresas chinesas. O sistema bancário está mais intimamente ligado ao estado na China do que nas nações ocidentais.


A ausência de instituições formais pode ser observada quase que em sua integralidade na República Popular da China, onde a ideologia maoísta foi a grande responsável pelo atraso na introdução de instituições "burguesas", como o direito comercial. Até o presente momento, empreendedores na China têm de enfrentar um ambiente jurídico extremamente arbitrário, no qual os direitos de propriedade são tênues, os níveis de tributação são variáveis e mudam de acordo com as vontades de cada governo provincial, e o suborno é a rotina quando se lida com funcionários do governo. (p. 330)

Fukuyama também escreveu o seguinte:


Um estado liberal é, em última instância, um estado limitado; um estado em que a atividade do governo é estritamente delimitada pela esfera da liberdade individual. Se tal sociedade não se degenerar no caos ou se tornar ingovernável, ela será capaz de apresentar uma autonomia governamental em todos os níveis de organização social.

A sobrevivência de tal sistema dependerá não somente da lei, mas também do autocontrole e do comedimento dos indivíduos. Se eles não forem capazes de apresentar uma coesão em prol de um propósito comum; se eles não forem tolerantes e respeitosos em relação aos conterrâneos, ou não respeitarem as leis que eles próprios criaram para si mesmos, uma agência com grande poder coercivo terá de ser criada para manter cada indivíduo na linha.

Por outro lado, um arranjo sem estado pode funcionar em uma sociedade que apresente um grau extraordinariamente alto de sociabilidade espontânea; uma sociedade na qual o comedimento, a temperança e o comportamento baseado em normas fluam naturalmente do cerne desta sociedade, sem ter de ser trazido de fora.

Um país com um capital social baixo não apenas é mais propenso a ter empresas pequenas, fracas e ineficientes, como também sofrerá mais com a corrupção generalizada de seus funcionários públicos e com uma administração pública ineficaz. Tal situação é dolorosamente evidente na Itália, onde, à medida que se sai do norte e do centro do país em direção ao sul, percebe-se uma relação direta entre atomização social e corrupção (pp. 357-58).

Creio que a teorização acima é correta. Ela é perceptível em todos os países que enriqueceram. Além dos EUA, pense na Suíça, no Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia. Pesquise o nível de confiança vigente nestes países. Pesquise a percepção de honestidade e como sua população interage entre si. Pesquise o grau de burocracia exigido para se fechar um negócio. Depois, faça o mesmo para os países da América Latina e da África.

O fato de honestidade e confiança serem tão vitais deveria nos fazer repensar a nossa tolerância para com criminosos e pessoas desonestas — a começar por todos os criminosos que estão no poder e que gozam de impunidade.

27 de abril de 2021
Gary North


GRATIDÃO (SALMOS 103:2)

 


27 de abril de 2021


BOM DIA! GRAÇA E PAZ DA PARTE DE DEUS E DO SENHOR JESUS CRISTO (CORÍNTIOS)

 

27 de abril de 2021