"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

CANALHAS! OU: REFRESCANDO A MEMÓRIA

Rodrigo Constantino escreveu este artigo esclarecedor, sobre o mesmo assunto do artigo “AFINAL, O QUE É O DECRETO 8.243?“, que publicamos quarta-feira passada.

Óia aí, ó:

Rodrigo Constantino
Rodrigo Constantino

“Apenas refrescando a memória: soviet quer dizer conselho!

O ministro Gilberto Carvalho, aquele dos “movimentos sociais”, rebateu críticas sobre o Decreto  8.234  alegando, talvez em ato falho, que tais conselhos sociais existiam “até na ditadura”.  O ministro disse:

Quero lembrar de novo: os conselhos no Brasil existem desde 1937, quando foi criado o primeiro conselho de participação. As conferências, de 1941. Até durante a ditadura foram criados conselhos. E é próprio de qualquer democracia madura você ter uma prática de ouvir a sociedade. O que o decreto faz é simplesmente regulamentar, estimular a ampliação daquilo que já existe.

comunismoJá eu quero lembrar de outra coisa: soviet, termo russo, quer dizer justamente… conselho! “Todo poder aos soviets” era o mantra dos comunistas. Funciona mais ou menos assim: militantes ligados ao poder se infiltram nos “conselhos” e deles tomam conta, preservando as aparências de “opinião popular”.

O “orçamento participativo” do PT gaúcho, colocado em prática por Olívio Dutra, partia da mesma estratégia. No começo o “povo” participava, e um ou outro cidadão comum realmente conseguia expor sua opinião. Com o tempo, ficou claro para todos do que se tratava: um engodo, um embuste, um simulacro de democracia direta controlada pelos fantoches do governo.

O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) comparou a proposta de criação dos conselhos à adotada na Venezuela: “Estamos com um projeto de decreto legislativo para tentar sustar esse decreto absurdo do governo, que cria o sistema de coletivos da Venezuela para poder substituir o Legislativo brasileiro. Vamos para esse debate, e todas as matérias do Executivo vamos obstruir, até que possamos derrubar esse decreto, que é um atentado contra a democracia e o estado democrático de direito”.

Sim, a Venezuela é um bom exemplo do que o PT pretende copiar. Não custa lembrar que o ex-presidente Lula afirmou que lá existia “excesso de democracia” com Hugo Chávez. A “democracia direta” é um instrumento populista criado para driblar o Congresso, os representantes do povo, facilitando assim o abuso de poder por meio da demagogia. O PT não suporta contemporizar com o Congresso, tanto que tentou comprá-lo com o mensalão.

O editorial do GLOBO fez um alerta hoje nessa linha. É a própria democracia brasileira que está em xeque, e toda reação é pouco contra o projeto autoritário do PT, pois ficou claro, após o discurso de Gilberto Carvalho, que os golpistas não vão desistir facilmente. Diz o jornal:

Não é de hoje que frações do PT agem para contornar o Congresso. São ainda do primeiro governo Lula conselhos para empresários e sindicalistas decidirem a reforma sindical, bem como para empresários e governo se entenderem. As duas instâncias formulariam propostas para o Congresso aprovar. Terminaram dando em nada, mas denunciaram a visão de sociedade que está por trás do PNPS. Neste universo institucional, o Legislativo seria um carimbador de decisões tomadas em fóruns sob o controle do partido e de “movimentos sociais” aliados. Extingue-se, então, a democracia representativa.

O sonho do PT, e o pesadelo dos brasileiros. Muitos incautos gostam de repetir com ar de superioridade que a Guerra Fria acabou, dando a entender que os anticomunistas são seres presos no tempo, reféns do passado, paranoicos que enxergam comunistas por todo lugar. O único detalhe é que muita gente, inclusive no poder, não abandonou o fracassado sonho comunista.

São os socialistas tupiniquins, com nova roupagem, com o discurso bolivariano, que na prática quer dizer a mesma coisa: todo poder aos soviets! A defesa da tirania está no sangue dessa turma, que tem verdadeira ojeriza ao regime democrático, visto como coisa de pequeno-burguês. Aos leitores, fica um conselho: muito cuidado com esse papo de criação de “conselhos sociais”.  “

06 de junho de 2014
Rodrigo Constantino

DATAFOLHA: AÉCIO VENCE DILMA NO SUL E SUDESTE NO SEGUNDO TURNO


 
Outra revelação está tirando o sono dos petistas. Aécio Neves já vence Dilma no segundo turno nas principais regiões eleitorais, que representam 65% do eleitorado brasileiro. Vejam o que a Datafolha mostrou:
  • Região Sul: Aécio 43% x Dilma 40%
  • Região Sudeste: Aécio 45%  x Dilma 36%
  • Região Centro-Oeste: Aécio 43% x Dilma 43%
  • Região Norte: Aécio 32% x Dilma 65%
  • Região Nordeste: Aécio 22% x Dilma 65%
No cômputo nacional, Dilma aparece à frente, com 46% contra 38% de Aécio Neves tendo em vista a diferença que ainda existe nas regiões Norte e Nordeste. Mas as perspectivas são extramente favoráveis para o candidato tucano.
 
06 de junho de 2014
in coroneLeaks

DATAFOLHA: JOVENS ELEGEM AÉCIO NO SEGUNDO TURNO



Um dado extremamente relevante surge nesta pesquisa Datafolha. Enquanto o resultado geral mostra Dilma Rousseff (PT) com 46% e Aécio Neves (PSDB) com 38%, os jovens na faixa dos 16 aos 24 anos elegem o tucano. Aécio aparece com 45% dos votos contra 42% de Dilma. 

Aécio Neves também vence Dilma nos seguintes perfis:
  • Eleitorado com Nível Superior: Aécio 52% x Dilma 32%
  • Eleitorado com Renda de Mais de 2 Salários Mínimos: Aécio 44% x Dilma 41%
  • Eleitorado com Renda de Mais de 5 Salários Mínimos: Aécio 51% x Dilma 35%
  • Eleitorado com Renda de Mais de 10 Salários Mínimos: Aécio 51% x Dilma 37%

Outro dado relevante da pesquisa é que existe um empate técnico entre Aécio e Dilma quando o eleitor faz parte da População Economicamente Ativa (PEA). Dilma tem 44% e Aécio tem 40%. Ou seja: quem está no mercado de trabalho começa a escolher o tucano como Presidente do Brasil.

Por outro lado, o peso de Dilma no eleitorado da Bolsa Família (Não PEA) aparece na pesquisa. Ela tem 52% dos votos entre este tipo de eleitor, contra 32% de Aécio. 
 
06 de junho de 2014
in coroneLeaks

EU, HIPÓCRITA E IGNORANTE DE MÁ-FÉ

   
 
 
 
Escrevi há pouco sobre a intenção do PT de instalar sovietes no país. Espantosamente, nenhum jornalista percebeu as semelhanças da PNPS com os sovietes russos. Que, na revolução abortada de 1905, até tinham um certo sentido. Não existindo representação parlamentar sob o czarismo, se alguém pretendia uma revolução tinha necessariamente de organizar um poder paralelo.

Não é o caso do Brasil. Temos um parlamento, que bem ou mal foi eleito em eleições livres. Se o povo não sabe escolher, isto são outros quinhentos. De qualquer forma, a eleição pelo sistema um homem/um voto sempre será mais sensata que a nomeação pelo PT de baderneiros como consultores dos poderes constituídos do país.

Comentando minha crônica sobre os sovietes que o PT quer instalar, um bom amigo me reproduz este comentário de um de seus interlocutores:

“O Cristaldo não entendeu nada, ou de propósito diz ter entendido uma coisa quando é outra. Vem com uma história antiga, de rebeldia do povo contra o governo como se fosse essa a proposição; bem ao contrário, a proposta, como se possa ter lido, é de atividade de apoio, como era de apoio o Orçamento Participativo, um modelo democrático de ouvir as aspirações da comunidade. Dirás que um governo que não sabe governar estaria solicitando apoio à comunidade, é isso? Ou, não seria o contrário, o governo municipal, (estadual, federal, por associação) não estaria agindo em conformidade aos desejos da população?

“Não te parece que o Cristaldo anda querendo assunto, quer apresentar uma crônica, precisa apresentar uma crônica e utiliza justamente aquilo que o faz ser contraditório. Não entrasse melhor seria, assim perde credibilidade”.

Começo pelo final. Não preciso apresentar crônica alguma e nada recebo por elas, como é o caso dos agitprops da Internet cujos blogs são financiados pelo PT. Faço porque quero, gosto e posso.

Continuando: este senhor parece ser daqueles que acreditam no imenso e desprendido amor do PT pelo país e pelo povo brasileiro. Ora, uma corja de egressos do marxismo e da igreja, que nem sequer aceitam o óbvio – o mensalão – e incensam criminosos julgados e encarcerados como heróis, se pensa em algo é na manutenção do poder e privilégios.

Até se entende a existência de marxistas honestos até meados do século passado. Acreditavam na utopia e desconheciam os crimes de Lênin e Stalin, cujas notícias mal chegaram no Brasil. Os crimes do Paizinho do Povo só foram desvelados em 35, 36 e a affaire Kravchenko só ocorreu em 49. O livro de Kravchenko, Eu escolhi a liberdade - que desmascara definitivamente a tirania stalinista - até que foi publicado no Brasil, mas os comunistas conseguiram transformar o título em motivo de troça. Se alguém condenava o regime soviético, respondiam com um sorrisinho de superioridade: “sei, você escolheu a liberdade”.

O PT não tem esse atenuante, a ignorância de seus “malfeitos”, como diz Dona Dilma. Soube e sabe das falcatruas de seus líderes, mas não as reconhece. Mais fácil encontrar um comunista íntegro que um petista honesto. Seus deputados roubam, são julgados e presos e o PT os defende, reservando suas críticas ao presidente do Supremo, aliás nomeado pelo capo de tutti i capi. Almas candorosas ainda acham que o PT está preocupado com o bem-estar da nação. Ou alguém já teve notícias, ao longo de toda a história do país, de partido mais corrupto? Se alguém tiver, favor informar-me.

O comentário do senhor que acha não entendi nada, curiosamente coincide com o coordenador dos ditos movimentos sociais, o secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, que classifica de hipocrisia, ignorância e má-fé a tentativa da oposição de derrubar o decreto que instituiu a PNPS. No fundo, está dizendo que discordar de qualquer proposição do governo só pode partir de hipócritas, ignorantes ou gente demá-fé. Pois só tais indivíduos podem opor-se ao partido que porta a verdade. A argumentação é brilhante e denuncia a filiação ideológica do ministro: antes de discutir o mérito de uma questão, desmoralize o oponente.

Segundo editorial do Estado de São Paulo – certamente hipócrita e de má fé – a fórmula não é muito original. “O decreto cria um sistema para que a "sociedade civil" participe diretamente em "todos os órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta", e também nas agências reguladoras, através de conselhos, comissões, conferências, ouvidorias, mesas de diálogo, etc. Tudo isso tem, segundo o decreto, o objetivo de "consolidar a participação social como método de governo". Ora, a participação social numa democracia representativa se dá através dos seus representantes no Congresso, legitimamente eleitos. O que se vê é que a companheira Dilma não concorda com o sistema representativo brasileiro, definido pela Assembleia Constituinte de 1988, e quer, por decreto, instituir outra fonte de poder: a "participação direta".

“Não se trata de um ato ingênuo, como se a Presidência da República tivesse descoberto uma nova forma de fazer democracia, mais aberta e menos "burocrática". O Decreto 8.243, apesar das suas palavras de efeito, tem - isso sim - um efeito profundamente antidemocrático. Ele fere o princípio básico da igualdade democrática ("uma pessoa, um voto") ao propiciar que alguns determinados cidadãos, aqueles que são politicamente alinhados a uma ideia, sejam mais ouvidos”.

Estamos ante a tentativa de um golpe branco. De um canetaço, uma mudança de regime. Provavelmente não vai colar. Mas quem não arrisca, não petisca. Se colar, colou. A poucos meses das eleições, o PT tira uma carta da manga e escancara sua verdadeira face.

E se você, leitor, assim pensa, não passa de um hipócrita e ignorante de má-fé. Como este que vos escreve.

   
 

AGORA, SÓ REZANDO

Mais alguns dias, já na semana que vem, começa finalmente essa Copa do Mundo que fez o governo brasileiro exibir a si próprio e ao resto do planeta alguns dos piores momentos de toda a história do Brasil como país de segunda categoria.
O que dá vontade de dizer, nessa hora, é: "Até que enfim". Com a bola rolando, e os melhores jogadores de futebol do mundo em campo, explode, sem controle de nenhuma força conhecida, a emoção incomparável que só os jogos heroicos conseguem criar – com seus momentos sublimes de habilidade sobrenatural, a crueldade dos acasos ou os milagres de último minuto.

No caso da Copa de 2014, junto com o primeiro jogo vem a esperança de que o futebol, a mais potente magia esportiva jamais criada pelas sociedades humanas, possa proporcionar aos brasileiros um momento de alívio numa tirania de sete anos que os governos do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff impuseram à população durante os preparativos para o grande evento. Que tipo de tirania? Simples: a que forçou o país a testemunhar (e a pagar por) uma exibição inédita de incompetência em engenharia elementar, e de arrogância na negação de sua própria inépcia.

"Já perdemos a Copa fora do campo", disse o deputado Romário de Souza Faria. "Agora só nos resta rezar para irmos bem lá dentro". Ninguém poderia resumir melhor a realidade do que Romário. Antes mesmo do primeiro jogo, nada mais sobra daquela Copa de 2014 que Lula, em 2007, festejou como a glória máxima de seu governo.

Prometeu, na ocasião, fazer a "melhor" Copa que o mundo já tinha visto desde a primeira, em 1930, um empreendimento que transformaria a vida das classes populares com quantidades prodigiosas de obras públicas e mais uma tonelada de pura conversa mole.

Desde então o que aconteceu na vida real foi um massacre de mentiras oficiais, de humilhações na obediência servil a exigências feitas fora do Brasil e de suas leis e de promessas grosseiramente não cumpridas – como a de que não seria gasto "um tostão" de dinheiro público na Copa, quando no fim das contas o Erário vai pagar quase 100% dos custos.

Os famosos benefícios para a população, como a "mobilidade" e outras palavras tolas inventadas para fazer propaganda de fantasias, são uma piada – as obras estão atrasadas, são de má ou péssima qualidade ou simplesmente foram abandonadas. "Estou envergonhado de ser brasileiro", disse Ronaldo Nazário, até há pouco um dos mais entusiasmados promotores oficiais da Copa. Ronaldo, por sinal, lembra que todas as exigências da Fifa (que a presidente Dilma, agora, exige que lhe tirem "das costas") foram aceitas em 2007, sem discussão alguma, pelo governo brasileiro.

Não tendo como responder à sua incapacidade, comprovada em sete anos, de organizar a Copa, o PT e admiradores fazem o de sempre: ficam agressivos e falam bobagens desesperadas.

O primeiro a sacar o revólver foi o próprio Lula: disse que era uma "babaquice" reivindicar metrôs que chegassem aos portões dos estádios. Toda a ideia que sustenta o metrô, em qualquer lugar do mundo, é exatamente esta: levar o máximo de pessoas ao ponto mais próximo possível dos lugares aonde queiram ir.

Para o ex-presidente, isso é um luxo idiota de que o brasileiro não precisa. "Vão a pé, vão descalços, vão de jumento", concluiu. Como é que um homem que se considera o maior líder popular do mundo fala uma coisa dessas? Como um cidadão que construiu toda a sua vida dizendo que é um trabalhador pode tratar assim os trabalhadores – os mais necessitados de transporte coletivo de boa qualidade?
No mesmo embalo, revelou que não estava preocupado em saber se a Copa ia movimentar "30 ou 40 bilhões de dólares" na economia brasileira – a seu ver, uma mixaria. Por que, então, não disse isso sete anos atrás? Lula, no fim das contas, não terá dificuldades de transporte – já anunciou que não vai comparecer a nenhum jogo da Copa.

Não faz nexo: se era uma obra tão fabulosa, como é possível que bem agora, no que deveria ser seu maior triunfo, ele diga que não vai a "nenhum" jogo? Justo ele, que inaugura até maquete de abrigo de ônibus? Lula disse que prefere ver a Copa pela TV, pois terá muito mais conforto do que em seus estádios, tomando "uma cervejinha".
Cervejinha coisa nenhuma. Não vai porque tem medo de levar uma vaia que ficará na história. A Copa de 2014 era para ser uma coisa. Saiu outra. 

Paciência. O único remédio para isso chama-se coragem moral – a hombridade de que cada um precisa para assumir as consequências de seus atos. É artigo que saiu de linha no governo.
 
06 de junho de 2014
J.R.Guzzo, Veja

NÃO VAI TER CÓPULA

Mais atrasados que os preparativos para a Copa do Mundo, só os protestos contra a Copa do Mundo. Enquanto o vexame era gestado, não houve passeata. Foram sete anos de preparação para a bagunça com requintes de exibicionismo - como a gerente de negociatas Rosemary Noronha cuidando dos aeroportos brasileiros. Ninguém foi para a rua gritar contra nada disso, estava tudo bem. Terminada a feira de omissões, desvios, picaretagem implícita e explícita, desmentidos mentirosos e remendos constrangedores, os revolucionários avisam que não vai ter Copa.

Alguém precisa avisar aos quixotes retardatários que vai ter Copa. E a Copa começará em 12 de junho, Dia dos Namorados. Os rebeldes contra tudo isso que aí está terão mais chances de êxito se forem desfilar na porta dos motéis, no dia 12, gritando: "Não vai ter cópula".

Onde estavam esses brasileiros indignados quase um ano atrás, quando o Congresso Nacional, num de seus biscates para o governo popular, engavetou o pedido de CPI da Copa? Não se viu um mascarado, um ninja, um sindicalista, um grupelho do Facebook interrompendo o trânsito ou a rotina tranquila dos nobres parlamentares. No golpe do corintiano Luiz Inácio, de mãos dadas com as distintas CBF e Fifa -que desclassificou o Morumbi e arrancou R$ 1 bilhão do BNDES para erguer um Itaquerão novo em folha -, também não se ouviu um único justiceiro gritando que não teria Copa. Ali, ainda havia três anos pela frente para melar a competição internacional por improbidade administrativa.

Mas não havia o essencial: o circo da Copa montado para os revolucionários desfilarem diante dos flashes e holofotes, com o Brasil e o mundo vendo. Mobilização na baixa temporada dá muito trabalho e pouca mídia. É bem melhor chutar e socar o ônibus que leva a Seleção Brasileira para a preparação final na Granja Comary, a duas semanas do início da Copa. Aí, a revolução não tem como passar despercebida.

O mais interessante no vandalismo contra o ônibus da Seleção no Rio de Janeiro foi a comissão de frente do protesto: os autores dos socos e chutes eram professores. É a imagem-síntese dessa corrente "Não vai ter Copa". Que outra cena poderia expressar melhor a estupidez e a ignorância de um movimento do que professores falando o idioma da pancada? O slogan poderia ser até substituído por "Não vai ter aula", ou "Aulas nunca mais", porque não se pode conceber que essas criaturas sejam capazes de ensinar nada de útil a ninguém. No máximo, poderão ensinar seus métodos ao sindicato dos leões de chácara.

Dilma Rousseff declarou que os aeroportos nacionais não são "padrão Fifa", mas "padrão Brasil", É comovente ver uma governante (ou governanta), num jato de sinceridade, admitir publicamente que seu projeto nacional é a pindaíba. Ou melhor: a pindaíba para a população ordinária que não tem estrelinha no peito - porque o caixa do PT, como se sabe, está forrado, e os companheiros passam muito bem, obrigado. Saibam os críticos que os aeroportos padrão Brasil não chegaram a esse nível de excelência do dia para a noite, não. Foi necessário um longo trabalho de parasitismo comandado por Rosemary na Agência Nacional de Aviação Civil, para postergar a privatização do setor, de modo que ele não prejudicasse o balcão de negócios privados e o tráfico de influência, sob o comando firme da protegida de Lula e Dilma.

A conquista do padrão Brasil/PT para os aeroportos e para a infraestrutura nacional como um todo - incluindo as ruínas do setor elétrico e da Petrobras - tem, como sócios fundadores, os militantes do movimento "Não vai ter Copa". Se sua revolta contra o derrame de dinheiro público nos estádios bilionários é real, se sua ira contra a vagabundagem governamental na preparação viária do país é real, eles contribuíram decisivamente para o desastre com sua omissão nesses anos em que ele foi gestado. Mas, se o movimento for um rebotalho de oportunistas, lunáticos, malandros sindicais e espíritos de porco em geral, está no seu papel perfeito.

Depois de toda a permissividade do país com a orgia da montagem da Copa, vêm essas almas penadas querer embargar o único inocente da história - o futebol. Viva Neymar, e abaixo os parasitas padrão Brasil!

 
06 de junho de 2014
Guilherme Fiuza, Época                                         

DEVORANDO A ESFINGE

A Esfinge, essa senhora pouco simpática, devorava quem não adivinhasse as charadas que propunha. Acabou desmascarada pelo rei Édipo (vejam tragédias gregas), e de raiva se lançou num precipício. A ideia de uma Esfinge brasileira a nos encher a paciência me ocorreu para construir um artigo apenas questionando enigmas brasileiros atuais (devoraremos a moça antes que ela acabe conosco?):

- Com a falência de tantas instituições respeitáveis, como ter a necessária confiança no nosso Judiciário, que não pune a grande maioria dos crimes ou infrações, prende aqui e solta ali - não por haver policiais ruins, mas leis abstrusas e descumpridas? Tratamos assassinos de 16 anos como crianças de escola primária, nunca chamados de assassinos, mas de infratores. Conduzidos a uma utópica ressocialização, serão soltos em no máximo três anos, para cumprir seu desejo, anunciado por um rapazote de 15 anos apontando a arma para um amigo meu, que lhe perguntou por que fazia aquilo: "Hoje a gente tá a fim de matar alguém". Meu amigo não morreu porque na hora a arma falhou.

- Como ainda acreditar em qualquer instituição, aliás, se na mais importante delas (o Supremo tribunal Federal) um ministro decide soltar doze figurões condenados por crimes graves e comprovados, mas, no dia seguinte, arrependido, deixa todos na prisão, menos um - por acaso. o chamado "homem-bomba", do qual dizem que, "se ele explodir, o governo implode"?

- Como ter esperança neste país dito civilizado, se o ensino é um dos itens mais esquecidos pelos governos e há milhares de crianças sem escola, outras tentando aprender sentadas no chão de terra batida onde também dormem porque a distância até sua casa é demasiada, com os donos da casa, professor e professora, preocupados porque ali tem "muita cobra e escorpião que são um perigo"? Como valorizar o estudo se pelo menos em uma das capitais grande parte das escolas públicas ainda não recebeu os livros escolares, estando nós já em junho, e em tantas outras pelo país faltam professores? Como entusiasmar os alunos pelo estudo, se a cada dia as coisas são mais facilitadas, e praticamente é preciso um esforço heroico para ser reprovado, pois considera-se que todos têm o mesmo direito a um diploma de ensino médio ou superior, tenham capacidade ou não, tenham se esforçado ou não?

- Como ser saudável se nos postos de saúde e hospitais públicos falta tudo - menos médico, ou, se isso ocorre, é porque o profissional se desesperou com a impossibilidade de dar atendimento humano aos doentes -, desde água tratada até panos limpos, estetoscópio, aspirina, maca, luz elétrica, aparelhos básicos?

- Como transportar nossos produtos se a estrutura rodoviária é lendariamente péssima? Como chegar ao trabalho se as greves, justas ou não, são nossa rotina diária? Como nos transportarmos a nós, se mulheres com crianças ao colo, velhos e frágeis caminham quilômetros até chegar em casa, exaustos depois de um dia de trabalho, ônibus são impedidos de rodar e líderes proferem palavras vazias?

- Como confiar em autoridades desmoralizadas que solenemente bradam "Não toleraremos violência ou vandalismo", enquanto dezenas de veículos, lojas, agências bancárias e farmácias são destruídas nessa mesma hora? Onde ficaram seriedade e esperança?

- Por que. neste país convulsionado por greves e manifestações constantes, surge essa oposição à Copa? São os gastos com arenas faraônicas contrastando com casebres, favelas, barracas de lona ou mesmo bancos de praça em que tantos vivem? O protesto de professores contra os jogadores da seleção brasileira na saída de um hotel no Rio, e na chegada à Granja Comary, com ameaça de outros mais, indica que não haverá trégua, durante a Copa e depois, para a indignação do povo a exigir soluções eternamente adiadas?

Senhora Esfinge, se houver respostas, a senhora estará devorada. Mas, se continuarmos ignorados e descrentes, seremos engolidos sem piedade pela nossa própria exausta indignação.

 
06 de junho de 2014
Lya Luft, Veja 

O CAIXA DO DIRETOR

 
05 de junho de 2014
Diego Escosteguy e Marcelo Rocha, Veja    

SALVE, SALVE, O PADRÃO BRASIL

 
05 de junho de 2014
Ruth de Aquino, Época   

A FARSA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS


05 de junho de 2014
  

FASCISMO LIGHT

 
05 de junho de 2014
João Pereira Coutinho, Folha de SP

TRUNFOS DE DILMA EM 2010 VIRAM REVEZES

PIB QUE MURCHA

PROJEÇÕES: DO PIB PARA A COPA

 
06 de junho de 2014
Ilan Goldfajn, Estadão

O GOVERNO ACABOU

 
06 de junho de 2014
Marco Antonio Villa, O Globo

O CUSTO DA INÉPCIA

 
06 de junho de 2014
José Casado, O Globo

UM BONDE CHAMADO MALUF

 
06 de junho de 2014
Arnaldo Jabor, O Estadão

SKAF REJEITA DILMA


O desentendimento entre Paulo Skaf, o candidato do PMDB ao governo de São Paulo, e a presidente Dilma Rousseff é reflexo da geleia geral em que se transformou a política partidária no Brasil. A presidente, em reunião com o PMDB em Brasília, procurou atrair Skaf para sua candidatura à reeleição, colocando-o como mais uma opção para derrotar o PSDB além do candidato do PT Alexandre Padilha.
Quem deveria ficar magoado com a declaração seria Padilha ou o PT. Mas não, foi Skaf quem correu para esclarecer que, em São Paulo, ele é candidato de oposição ao PT tanto quanto ao PSDB, recusando assim a possibilidade de que Dilma tenha um palanque duplo no estado.

O presidente da Fiesp tomou a atitude para definir uma posição que lhe dá bastante conforto, caso vá para o 2º turno: se contra o PT, receberá votos dos antipetistas; se contra o PSDB, é a escolha obrigatória dos petistas para impedir que os tucanos continuem no poder.

Mas há também um cálculo eleitoral nessa recusa do palanque para Dilma: Skaf não quer se contaminar com o desprestígio que detecta no governo federal. A exemplo do candidato à Presidência da República Eduardo Campos, do PSB, Skaf quer ser a alternativa à polarização entre PT e PSDB em São Paulo e, pelo menos na teoria, está em melhor situação que Campos.

Aparece nas pesquisas em segundo lugar, bem à frente de Padilha. Nessa situação, o que menos quer é aproximação com Dilma, apoiada por seu partido para a Presidência da República.

Situação inversa acontece com Campos: o PSB deve acabar fazendo um acordo político com o PSDB em São Paulo, entrando na chapa de reeleição de Geraldo Alckmin, mas se recusou a manter o acordo com os tucanos nos demais estados em que ele estava sendo negociado, notadamente Minas Gerais e Pernambuco.

Já o PSD de Geraldo Kassab deve aderir à candidatura de Alckmin em São Paulo, mas não abre mão do apoio a Dilma para a Presidência da República, dando-lhe seus minutos de propaganda como gesto de gratidão pelo apoio que recebeu na formação do partido.

Com isso, inviabiliza o movimento para que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles venha a ser o vice do senador Aécio Neves, o que seria uma derrota direta do ex-presidente Lula. Meirelles, eleito deputado federal pelo PSDB em 2002, passou os oito anos do governo Lula à frente do BC, tornando-se um dos símbolos de seu governo, mesmo que em determinado momento Lula tenha pensado em trocá-lo.

Dilma terá o dobro de tempo de TV que o segundo colocado, Aécio Neves, do PSDB, mas não terá o apoio integral dos dez partidos que formam sua aliança. No Rio, Aécio tem uma aliança informal maior talvez que a formalizada pelos partidos da base aliada do governo Cabral-Pezão, que oficialmente a apoiam.

Isso acontece porque, segundo o cientista político Sérgio Abranches, o governo está em uma fase de ambivalência , tendo perdido sua força centrípeta, que é a fase em que é plenamente dominante. O presidente, com alta popularidade e liderança plenamente assegurada, consegue preservar o núcleo do governo com relativa facilidade, com o poder relativamente compartilhado e a rivalidade entre os parceiros da coalizão se dá dentro dos limites do negociável.

Essa força de atração, diz Abranches, começa a arrefecer em situações de crises de corrupção que atinjam o núcleo central do governo e a própria Presidência, ou reversão negativa do crescimento econômico, particularmente com alta da inflação e queda da renda real.

Nesse processo, o regime muda de fase, passando à fase de ambivalência , que é onde estamos na avaliação de Abranches. Nessa, o sinal positivo da Presidência é fraco, regular , pouco indicativo do grau de apoio que ela de fato terá dos eleitores. A rivalidade entre os parceiros passa a afetar o núcleo central do governo .

Se esse momento não for revertido por mudança significativa no ambiente político-econômico, adverte Abranches, o regime tende a mudar de fase, entrando na fase centrífuga . Nessa, a Presidência passa a ter sinal negativo. A popularidade cai de tal modo que a popularidade líquida (positivo - negativo) fica negativa e o regular não passa dos 20%. A liderança presidencial é contestada, da mesma forma que o núcleo central do governo. Há paralisia decisória e legislativa, levando o sistema para uma crise de governança.
06 de junho de 2014
Merval Pereira, O Globo