Escrevi há pouco sobre a intenção do PT de instalar sovietes no país. Espantosamente, nenhum jornalista percebeu as semelhanças da PNPS com os sovietes russos. Que, na revolução abortada de 1905, até tinham um certo sentido. Não existindo representação parlamentar sob o czarismo, se alguém pretendia uma revolução tinha necessariamente de organizar um poder paralelo.
Não é o caso do Brasil. Temos um parlamento, que bem ou mal foi eleito em eleições livres. Se o povo não sabe escolher, isto são outros quinhentos. De qualquer forma, a eleição pelo sistema um homem/um voto sempre será mais sensata que a nomeação pelo PT de baderneiros como consultores dos poderes constituídos do país.
Comentando minha crônica sobre os sovietes que o PT quer instalar, um bom amigo me reproduz este comentário de um de seus interlocutores:
“O Cristaldo não entendeu nada, ou de propósito diz ter entendido uma coisa quando é outra. Vem com uma história antiga, de rebeldia do povo contra o governo como se fosse essa a proposição; bem ao contrário, a proposta, como se possa ter lido, é de atividade de apoio, como era de apoio o Orçamento Participativo, um modelo democrático de ouvir as aspirações da comunidade. Dirás que um governo que não sabe governar estaria solicitando apoio à comunidade, é isso? Ou, não seria o contrário, o governo municipal, (estadual, federal, por associação) não estaria agindo em conformidade aos desejos da população?
“Não te parece que o Cristaldo anda querendo assunto, quer apresentar uma crônica, precisa apresentar uma crônica e utiliza justamente aquilo que o faz ser contraditório. Não entrasse melhor seria, assim perde credibilidade”.
Começo pelo final. Não preciso apresentar crônica alguma e nada recebo por elas, como é o caso dos agitprops da Internet cujos blogs são financiados pelo PT. Faço porque quero, gosto e posso.
Continuando: este senhor parece ser daqueles que acreditam no imenso e desprendido amor do PT pelo país e pelo povo brasileiro. Ora, uma corja de egressos do marxismo e da igreja, que nem sequer aceitam o óbvio – o mensalão – e incensam criminosos julgados e encarcerados como heróis, se pensa em algo é na manutenção do poder e privilégios.
Até se entende a existência de marxistas honestos até meados do século passado. Acreditavam na utopia e desconheciam os crimes de Lênin e Stalin, cujas notícias mal chegaram no Brasil. Os crimes do Paizinho do Povo só foram desvelados em 35, 36 e a affaire Kravchenko só ocorreu em 49. O livro de Kravchenko, Eu escolhi a liberdade - que desmascara definitivamente a tirania stalinista - até que foi publicado no Brasil, mas os comunistas conseguiram transformar o título em motivo de troça. Se alguém condenava o regime soviético, respondiam com um sorrisinho de superioridade: “sei, você escolheu a liberdade”.
O PT não tem esse atenuante, a ignorância de seus “malfeitos”, como diz Dona Dilma. Soube e sabe das falcatruas de seus líderes, mas não as reconhece. Mais fácil encontrar um comunista íntegro que um petista honesto. Seus deputados roubam, são julgados e presos e o PT os defende, reservando suas críticas ao presidente do Supremo, aliás nomeado pelo capo de tutti i capi. Almas candorosas ainda acham que o PT está preocupado com o bem-estar da nação. Ou alguém já teve notícias, ao longo de toda a história do país, de partido mais corrupto? Se alguém tiver, favor informar-me.
O comentário do senhor que acha não entendi nada, curiosamente coincide com o coordenador dos ditos movimentos sociais, o secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, que classifica de hipocrisia, ignorância e má-fé a tentativa da oposição de derrubar o decreto que instituiu a PNPS. No fundo, está dizendo que discordar de qualquer proposição do governo só pode partir de hipócritas, ignorantes ou gente demá-fé. Pois só tais indivíduos podem opor-se ao partido que porta a verdade. A argumentação é brilhante e denuncia a filiação ideológica do ministro: antes de discutir o mérito de uma questão, desmoralize o oponente.
Segundo editorial do Estado de São Paulo – certamente hipócrita e de má fé – a fórmula não é muito original. “O decreto cria um sistema para que a "sociedade civil" participe diretamente em "todos os órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta", e também nas agências reguladoras, através de conselhos, comissões, conferências, ouvidorias, mesas de diálogo, etc. Tudo isso tem, segundo o decreto, o objetivo de "consolidar a participação social como método de governo". Ora, a participação social numa democracia representativa se dá através dos seus representantes no Congresso, legitimamente eleitos. O que se vê é que a companheira Dilma não concorda com o sistema representativo brasileiro, definido pela Assembleia Constituinte de 1988, e quer, por decreto, instituir outra fonte de poder: a "participação direta".
“Não se trata de um ato ingênuo, como se a Presidência da República tivesse descoberto uma nova forma de fazer democracia, mais aberta e menos "burocrática". O Decreto 8.243, apesar das suas palavras de efeito, tem - isso sim - um efeito profundamente antidemocrático. Ele fere o princípio básico da igualdade democrática ("uma pessoa, um voto") ao propiciar que alguns determinados cidadãos, aqueles que são politicamente alinhados a uma ideia, sejam mais ouvidos”.
Estamos ante a tentativa de um golpe branco. De um canetaço, uma mudança de regime. Provavelmente não vai colar. Mas quem não arrisca, não petisca. Se colar, colou. A poucos meses das eleições, o PT tira uma carta da manga e escancara sua verdadeira face.
E se você, leitor, assim pensa, não passa de um hipócrita e ignorante de má-fé. Como este que vos escreve.
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