Mantega admite que alta dos alimentos reduziu poder de compra das famílias. Seria um avanço se o Ministério da Fazenda ajudasse o BC a conter alta de preços em geral
Praticamente estagnada no primeiro trimestre, a economia confirma a expectativa negativa dos analistas. O insignificante 0,2% de expansão calculado pelo IBGE para o PIB do período de janeiro a março, em relação ao trimestre anterior, só não foi pior, nos últimos anos, neste período, do que a retração de menos 0,3% verificada em 2011. Firma-se a perspectiva de que a evolução da economia, este ano, ficará entre 1% e 1,5%.
A economia brasileira demonstra padecer de uma transição mal realizada entre uma fase em que o consumo puxou o crescimento e um novo ciclo, no qual o investimento deve cumprir esta função, porém sem consegui-lo.
Também como previsto, chegaria o momento em que se esgotaria a capacidade de consumo das famílias. Mas, como os investimentos não reagem — apesar de toda a injeção de recursos provenientes de endividamento público no BNDES —, o PIB tende a andar de lado. Neste primeiro trimestre, os investimentos chegaram a recuar ainda mais, de 18,2% do PIB para 17,7%. Para se medir o tamanho do problema: estima-se que para a economia manter uma razoável velocidade de crescimento, entre 4% e 5% ao ano, os investimentos tenham de ser de 25% do PIB. Outra face deste mesmo cenário, a poupança ficou em 12,7% do PIB, o patamar mais baixo dos últimos 14 anos.
A baixa temperatura nos investimentos tem se repetido nos últimos meses, e reflete a baixa confiança dos empresários diante do futuro. Depois de uma fase de intervencionismo agudo, o governo Dilma foi obrigado a exercitar alguma flexibilidade em regras para licitações de projetos de infraestrutura. Foram, então, fechados alguns contratos de cessão de rodovias à gestão privada. Mas ainda levará tempo até que estes projetos se reflitam nas estatísticas agregadas de investimentos.
Em linhas gerais, os dados do IBGE sobre o primeiro trimestre da produção não trouxeram maiores novidades. De surpreendente, o reconhecimento público pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que a inflação foi uma das causas do mau resultado do PIB trimestral.
Não é costume alguém da escola “desenvolvimentista” reclamar da alta de preços. Pois é parte de sua cartilha estabelecer que mais inflação costuma ser inevitável companhia de um crescimento mais elevado — portanto, um efeito colateral negativo, mas inevitável. Crescimento elevado este que não existe há tempos. Desta vez, o ministro interpretou que a combinação de alta dos preços de alimentos com a escassez de crédito esmagou o poder de consumo da população, com inexorável reflexo no PIB.
Seria um efetivo avanço se o Ministério da Fazenda ajudasse o Banco Central a conter a inflação, originada não apenas nos alimentos, por meio de uma política de gastos mais responsável. Mas, como se está em ano eleitoral, não se pode ser otimista neste campo. Mesmo que o ministro reconheça, enfim, os malefícios da inflação.
Praticamente estagnada no primeiro trimestre, a economia confirma a expectativa negativa dos analistas. O insignificante 0,2% de expansão calculado pelo IBGE para o PIB do período de janeiro a março, em relação ao trimestre anterior, só não foi pior, nos últimos anos, neste período, do que a retração de menos 0,3% verificada em 2011. Firma-se a perspectiva de que a evolução da economia, este ano, ficará entre 1% e 1,5%.
A economia brasileira demonstra padecer de uma transição mal realizada entre uma fase em que o consumo puxou o crescimento e um novo ciclo, no qual o investimento deve cumprir esta função, porém sem consegui-lo.
Também como previsto, chegaria o momento em que se esgotaria a capacidade de consumo das famílias. Mas, como os investimentos não reagem — apesar de toda a injeção de recursos provenientes de endividamento público no BNDES —, o PIB tende a andar de lado. Neste primeiro trimestre, os investimentos chegaram a recuar ainda mais, de 18,2% do PIB para 17,7%. Para se medir o tamanho do problema: estima-se que para a economia manter uma razoável velocidade de crescimento, entre 4% e 5% ao ano, os investimentos tenham de ser de 25% do PIB. Outra face deste mesmo cenário, a poupança ficou em 12,7% do PIB, o patamar mais baixo dos últimos 14 anos.
A baixa temperatura nos investimentos tem se repetido nos últimos meses, e reflete a baixa confiança dos empresários diante do futuro. Depois de uma fase de intervencionismo agudo, o governo Dilma foi obrigado a exercitar alguma flexibilidade em regras para licitações de projetos de infraestrutura. Foram, então, fechados alguns contratos de cessão de rodovias à gestão privada. Mas ainda levará tempo até que estes projetos se reflitam nas estatísticas agregadas de investimentos.
Em linhas gerais, os dados do IBGE sobre o primeiro trimestre da produção não trouxeram maiores novidades. De surpreendente, o reconhecimento público pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que a inflação foi uma das causas do mau resultado do PIB trimestral.
Não é costume alguém da escola “desenvolvimentista” reclamar da alta de preços. Pois é parte de sua cartilha estabelecer que mais inflação costuma ser inevitável companhia de um crescimento mais elevado — portanto, um efeito colateral negativo, mas inevitável. Crescimento elevado este que não existe há tempos. Desta vez, o ministro interpretou que a combinação de alta dos preços de alimentos com a escassez de crédito esmagou o poder de consumo da população, com inexorável reflexo no PIB.
Seria um efetivo avanço se o Ministério da Fazenda ajudasse o Banco Central a conter a inflação, originada não apenas nos alimentos, por meio de uma política de gastos mais responsável. Mas, como se está em ano eleitoral, não se pode ser otimista neste campo. Mesmo que o ministro reconheça, enfim, os malefícios da inflação.
06 de junho de 2014
Editorial O Globo
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