"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

VÉU DA PREPOTÊNCIA

Prefeitos de cidades litorâneas francesas estão proibindo o uso do burkini, um traje de banho que cobre praticamente todo o corpo e é bastante utilizado por muçulmanas mais observantes. Já são pelo menos três os alcaides que adotaram essa medida nos últimos dias.

A França é reincidente nessa matéria. Uma lei nacional já banira, em 2004, o uso de símbolos religiosos ostensivos em escolas públicas. Embora a norma não o explicite, o alvo da proibição eram os véus muçulmanos. Em 2010, uma nova lei vetou o uso, em todos os espaços públicos, de qualquer adereço que esconda o rosto da pessoa. Camuflada sob a preocupação com a segurança, estava a proscrição da burca e do niqab, trajes adotados pelas muçulmanas que seguem orientações mais rígidas.

Não tenho nenhuma simpatia por religiões em geral, muito menos pelas que oprimem as mulheres. Diria até que sou fã do zelo com o qual os franceses cultivam a laicidade do Estado, mas sua posição em relação os véus me parece despropositada.

Se é verdade que muitas mulheres se cobrem por imposição de seus pais, maridos e de uma cultura no geral misógina, é forçoso reconhecer que existem ao menos alguns casos em que elas o fazem de livre e espontânea vontade. Não são poucas as muçulmanas criadas na França, detentoras de títulos universitários, expostas ao liberalismo ocidental que optam por usar o véu. Proibi-las de fazê-lo lembra a posição dos conservadores que, nos anos 60, queriam banir a minissaia e o biquíni.

O que está em questão é a própria função do Estado. Se você acha que ele tem a missão de formar o melhor cidadão possível —o que quer que isso signifique—, pode simpatizar com a posição dos franceses. Se, por outro lado, pensa que o poder público deve limitar-se a criar um ambiente em que os cidadãos possam perseguir a vida que preferirem, deve, como eu, rejeitar o veto ao burkini.



19 de agosto de 2016
Hélio Schwartsman, Folha de SP

ÀS VÉSPERAS DE VOLTAR À PRISÃO, BUMLAI É INTERNADO EM SÃO PAULO PARA FAZER EXAMES



Bumlai deu depoimento quarta-feira e foi internado na quinta
















A defesa do pecuarista José Carlos Bumlai, o amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, informou nesta quinta-feira (18) ao juiz federal Sergio Moro que seu cliente foi internado. Petição anexada aos autos da Operação Lava Jato afirma que o pecuarista, de 71 anos, se compromete a apresentar “os resultados dos exames e o diagnóstico médico tão logo estes forem concluídos”.
O pecuarista é acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e por crimes financeiros no empréstimo de R$ 12 milhões da Schahin para o PT em 2004. Teria de voltar a se preso na próxima terça-feira, dia 23, por ordem do juiz Moro.
O documento informa que, após avaliação médica, foi determinada a internação “para realização de exames e investigação de quadro infeccioso”. A defesa também anexou aos autos um “pedido de internação” por “quadro febril a esclarecer”.
CUSTÓDIA DOMICILIAR – Bumlai foi preso preventivamente em novembro de 2015 na Operação Passe Livre, desdobramento da Lava Jato. Em março deste ano, foi colocado em custódia domiciliar pelo juiz Moro para tratar de um tumor na bexiga. Durante o tratamento, Bumlai foi submetido a uma cirurgia cardíaca.
Em 10 de agosto, o juiz da Lava Jato mandou restabelecer a prisão preventiva do amigo de Lula. A decisão determinou que Bumlai se apresente à Polícia Federal em 23 de agosto.
Em 11 de agosto, a defesa de Bumlai requereu habeas corpus ao Supremo Tribunal Federal. O pedido está nas mãos de Teori Zavascki, ministro relator da Lava Jato na Corte máxima. O habeas corpus busca derrubar decisões sucessivas da primeira instância, com Sergio Moro, passando pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) e pelo Superior Tribunal de Justiça.
O argumento central dos criminalistas que defendem Bumlai é que seus antecedentes são bons, ele não representa risco de fuga e, desde que foi capturado, tem colaborado com a Justiça esclarecendo todos os fatos.
DEPOIMENTO – Nesta quarta-feira (17), Bumlai esteve na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo para depor sobre o sítio de Atibaia (SP), que a Lava Jato suspeita ser de Lula. O pecuarista chegou e saiu da sede da PF amparado pelos advogados Daniella Meggiolaro e Conrado de Almeida Prado.
Bumlai declarou ao delegado Marcio Anselmo que a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, mulher do ex-presidente Lula, queria ampliar Santa Bárbara, em Atibaia, para passar os fins de semana. Segundo Bumlai, Marisa pediu a ele que os ajudasse na ampliação das acomodações.
O pecuarista afirmou à PF que solicitou a um engenheiro da usina da sua família, que estava em obras, que atendesse ao pedido e, depois deste pedido, não teve mais contato com o assunto. Bumlai declarou que “o engenheiro providenciou tudo”. O ex-presidente Lula nega ser proprietário do sítio.

19 de agosto de 2016
Deu no UOL (Agência Estado)

O BRASIL NÃO É CONFIÁVEL, MAS O VENTO ESTÁ SOPRANDO A FAVOR



Desde que Meirelles assumiu, a Bovespa subiu 12% e o dólar caiu 8%















Para quem se ocupa de notícias, os anos Dilma foram uma montanha-russa. É de se imaginar o que terá sido para quem produz e emprega. A todo momento, a pergunta: “O que eles estarão aprontando hoje?” Se nada trouxe ainda em mudanças estruturais, os três meses do governo Temer e de sua equipe trouxeram uma calmaria que Brasil não via há anos.
Confrontado há alguns dias sobre a falta de ação imediata do governo no ataque ao deficit público e à Previdência insustentáveis (ao que parece, à espera do impeachment), o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) disse que, por experiência, quando quer saber a opinião dos “mercados”, olha o preço dos ativos.
Desde que assumiu, a Bovespa subiu 12%, o dólar caiu 8% e neste ano as empresas brasileiras captaram no exterior mais que o dobro dos recursos obtidos em todo 2015 para financiar suas operações.
VENTO A FAVOR – Já foi dito aqui que Temer se beneficia de um bom vento a favor. Se os anos Lula foram bem por conta do sopro das commodities em alta, Temer está surfando na onda do dinheiro barato internacionalmente.
Estima-se que cerca de US$ 12 trilhões (sete vezes o PIB brasileiro em 2015) de investidores estejam “pegando poeira” em títulos de dívida (semelhantes ao Tesouro direto) que pagam juros negativos em muitos países.
A estratégia desses bancos centrais, sobretudo na Europa, é desestimular a poupança e tentar fazer o dinheiro circular para tirar suas economias de uma estagnação cada vez mais parecida com a japonesa, que dura 20 anos.
ESTÍMULO – É ainda uma fração disso que hoje se arrisca atrás de ganhos maiores e dá impulso à Bolsa e valoriza o real. As regras mais claras adotadas pela atual equipe e a falta de novidades angustiantes a cada semana têm estimulado a vinda desse dinheiro.
Mas o histórico do Brasil é ainda péssimo em relação a variações abruptas no câmbio (que leva investidores a perder muito em dias), na inflação e em relação a mudanças de regras de uma hora para a outra.
Vale lembrar que o Brasil conseguiu manter o chamado selo de bom pagador, o “grau de investimento”, por sete anos apenas, de 2008 a 2015. Sem ele, qualquer gripe aqui ou oportunidades nem tão melhores fora (uma alta nos juros nos EUA) provocam saídas súbitas de capitais.
EXPORTAÇÕES-O Brasil é também “caipira” em sua inserção no comércio global, com participação de apenas 1% (é o 25º colocado, apesar de sétima economia). Com pouco a perder, é também pouco comprometido com regras na comparação com quem sofre mais com mudanças.
Por fim, temos nosso Congresso e sua visão atrasada, sem comprometimento com o todo, a respeito da insustentabilidade do gasto público.
De nada adiantarão regras estáveis se o Brasil continuar produzindo deficit como os R$ 170,5 bilhões deste ano e a dívida pública saltar quase dez pontos de um ano para outro. Assim como tem entrado, o mesmo dinheiro que anima as consultas de Meirelles ao mercado pode sair voando se o governo Temer falhar ao tentar mudar isso.

19 de agosto de 2016
Fernando Canzian
Folha

RODRIGO MAIA JÁ FALA EM ADIAR A VOTAÇÃO DE CUNHA SE NÃO HOUVER QUORUM



Maia garante que vai ter quorum, mas há controvérsias
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ao Globo que, caso o quórum esteja baixo no dia 12 de setembro, data marcada para a votação do processo contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no plenário, ele poderá adiar a sessão. Apesar disso, afirmou estar confiante de que os parlamentares vão comparecer em peso no dia combinado com os líderes.
“Se tiverem 200 deputados no dia, a data vai mudar. Depende de quem esteja ausente, mas vai dar quorum, esse assunto já está superado. Não consigo enxergar um deputado não ir votar”, contou Maia.
Para aprovar a cassação de Cunha, o plenário precisa dar ao menos 257 votos favoráveis ao parecer aprovado pelo Conselho de Ética em desfavor do ex-presidente da Câmara. Segundo Maia, aliados de Cunha podem não comparecer no dia da votação, mas esse número não será alto.
QUORUM ALTO -“Se o deputado quiser votar, vota na segunda, terça, quarta ou quinta. Se não quiser votar, ele não vai dia nenhum. Se o Eduardo tiver 200 deputados que não votam, eles não vão no dia 12, não vão no dia 13, não vão no dia 14. Mas, pelo que estou sentindo, o quórum vai ser alto”, disse o presidente da Câmara.
Rodrigo Maia disse ainda que, se aliados de Cunha estão trabalhando para adiar ainda mais a votação, tentando inclusive deixar para depois das eleições municipais, é porque sabem que o resultado não será bom para o peemedebista:
— É óbvio que, se eles estão querendo atrasar, é porque acham que o resultado não vai ser bom. O meu papel é botar para votar num dia com quorum adequado para uma votação dessa.
TESES LEGÍTIMAS – Desde que assumiu, Maia era pressionado por líderes na Câmara. Os deputados da base do governo interino de Michel Temer pediam que ele deixasse a votação para depois do desfecho impeachment no Senado, tese que ele achou “adequada”. Por outro lado, sofreu pressão de partidos de oposição, sobretudo de PSOL e Rede – autores da representação contra Cunha no Conselho de Ética -, para que não esperasse o impeachment.
“As duas teses são legítimas e a mim cabia escolher uma. Concordei com parte da tese de que tinha que ser pós-impeachment. Não posso prever o resultado, mas não acredito que será uma sessão esvaziada”, previu.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A sessão para votar a cassação de Cunha só pode ser aberta com quorum de 257 deputados. Numa segunda-feira, tal número de presenças jamais pode ser alcançado, especialmente em época de eleições, como agora. Convocar sessão para esse dia da semana só pode ser Piada do Ano. E não tem graça nenhuma. (C.N.)

19 de agosto de 2016
Letícia Fernandes
O Globo

EDUARDO CUNHA CONFIA NO ESVAZIAMENTO DA CÂMARA PARA ADIAR SUA CASSAÇÃO



Charge do Aziz, reprodução do jornal A Tarde
Os partidos que lutam para cassar o mandato de Eduardo Cunha (PT, PCdoB, PSOL e Rede) resolveram radicalizar. A partir da semana que vem, pretendem obstruir todas as votações previstas, numa tentativa de pressionar publicamente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que demonstre maior empenho no sentido de garantir quórum para a sessão em que hipoteticamente ser votado o parecer da Comissão de Ética.
As lideranças desses partidos pretendem que Rodrigo Maia procure se entender com os dirigentes das demais legendas, para que eles se articulem e garantam a presença de seus deputados na sessão marcada para dia 12 de setembro, uma segunda-feira, em meio à campanha eleitoral.
Rodrigo Maia não se mexe e insiste em garantir que haverá mais de 400 deputados em plenário, mas ninguém sabe em que ele se baseia para fazer essa previsão.  Até agora, o bloco anti-Cunha conseguiu apenas que o presidente da Câmara deixasse em aberto as pautas dos dias 13 e 14,  caso não seja alcançado o quorum na segunda-feira.
À MEIA FORÇA – O fato concreto é que a Câmara já está esvaziada desde o início de agosto e vem funcionando à meia força, devido ao período eleitoral, quando os deputados federais voltam às suas bases, para tentar eleger  prefeitos e vereadores que possam depois retribuir o apoio na eleição parlamentar. É assim que a política funciona, especialmente nos municípios do interior, de onde provém a maioria dos deputados federais.
Em setembro, mais perto da eleição, o esvaziamento da Câmara será ainda mais acentuado, dificultando que possas ser garantida a presença dos 400 deputados em plenário. O quorum para abrir a votação é de 257 parlamentares, número exigido para aprovar a cassação (maioria absoluta, de metade mais um).
SEM PRESTÍGIO – Rodrigo Maia não tem prestígio nem carisma para convencer os líderes a exigirem presença em plenário. Conseguiu chegar à presidência da Câmara por eliminação. Havia candidatos demais e nenhum deles tinha merecimento para o cargo. O mais experiente e conceituado era Osmar Serraglio (PMDB-PR), mas seu partido fez questão de descartá-lo, porque ele parecia ser íntegro demais, circunstância que na política brasileira ainda é considerada negativa.
É nesse ambiente apodrecido que vicejam lideranças como Eduardo Cunha, que é comprovadamente corrupto, mas está conseguindo adiar a cassação com apoio de grande número de deputados. E la nave va, sempre fellinianamente, à deriva nesse mar de lama.

19 de agosto de 2016
Carlos Newton

MAGNO MALTA DENUNCIA ESQUEMA PARA PERSEGUIR SENADORES QUE LUTARAM PELO IMPEACHMENT E XINGA DILMA

EVENTOS EM FORTALEZA - A FUGA DE CIRO GOMES

JORNALISTA DESMASCARA CIRO GOMES POR CRIMES NO BRASIL

INFILTRADO MOSTRA BASTIDORES DO CIRCO PETISTA

O PARTO DA MONTANHA


Na fábula de Esopo, depois de muito estrondo a montanha pariu um rato. Dilma Rousseff repetiu a proeza com a divulgação da “mensagem” com a qual pretende convencer de sua inocência o mundo

Na fábula de Esopo, depois de muito estrondo a montanha pariu um rato. Dilma Rousseff repetiu a proeza com a divulgação da “mensagem” com a qual pretende convencer de sua inocência o mundo e especialmente os senadores que vão decidir sobre o impeachment no fim do mês. 

Mas, depois de tanta hesitação, Dilma acabou escolhendo um mau momento para falar de inocência e se apresentar, mais uma vez, como uma mulher honesta, pois, simultaneamente, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o Ministério Público a abrir inquérito contra ela, o ex-presidente Lula, os ex-ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo e dois ministros do STJ, destinado a investigar a tentativa de obstrução da Justiça no âmbito da Operação Lava Jato.

Na mensagem lida no Palácio da Alvorada, a presidente afastada reitera, candidamente, seu “compromisso com a democracia e com a necessidade da “superação do impasse político que tantos prejuízos já causou ao País”. 
Parecia estar falando de um outro país e de outra pessoa que não ela, cuja biografia revela total falta de compromisso com a democracia e a proeza de ter arruinado o Brasil. Finalmente, fez um apelo patético a seus julgadores: “Não se faça a injustiça de me condenar por um crime que não cometi”. 
A uma plateia de jornalistas a quem proibiu de fazer perguntas, Dilma repetiu a necessidade de “diálogo”, defendeu um plebiscito e a delirante ideia da antecipação das eleições presidenciais. Distanciou-se assim, ainda mais, da Nação e até da posição oficial do PT. Promete, agora, comparecer ao Senado para defender-se pessoalmente.

O melancólico evento mostrou ao País exatamente a mesma Dilma cujos defeitos seis anos na Presidência da República só fizeram acentuar: a arrogância, a teimosia, a hipocrisia mal disfarçada na tentativa de parecer humilde, a falta de senso crítico que a impede de se ver como responsável por erros e omissões graves cometidos no catastrófico exercício da Presidência da República. 
Quando, logo nas primeiras linhas, menciona o “impasse político que tantos prejuízos causou ao País”, fala sobre sujeito indeterminado para não ter que admitir o seu autoritarismo empedernido que envenenou as relações do Executivo com o Legislativo e, depois, com toda a Nação.

O argumento central da defesa de Dilma no processo de impeachment, por ela insistentemente repetido na tal carta, é o de que, como presidente da República, não cometeu nenhum crime de responsabilidade e não pode ser julgada pelo “conjunto da obra”. 
O julgamento do impeachment pelo Parlamento, no entanto, é essencialmente político, sustentado pela comprovação jurídica do crime de responsabilidade. No caso de Dilma o crime de responsabilidade foi reconhecido, por ampla maioria de deputados e senadores, nas votações de admissibilidade do processo.

A defesa tem, é claro, o direito de alegar que não houve crime e tentar provar isso. Cabe aos jurados, no caso os senadores, em sessão presidida pelo chefe do Poder Judiciário, decidir pela culpa ou pela absolvição. Trata-se, portanto, não de um golpe, mas de um procedimento público – na verdade, escancarado – regido pela Constituição e pelas leis e que segue rito determinado pelo Poder Judiciário.

Mas esse está sendo um julgamento essencialmente político, alega Dilma. É claro que é, pois se refere a um crime de responsabilidade. Os crimes de responsabilidades imputados à presidente são inexpressivos, protestam os dilmistas. 
As pedaladas fiscais e a liberação de recursos sem autorização prévia do Congresso objetos do processo não são fatos isolados nem corriqueiros. 
Foram violações flagrantes da lei que constituem, na verdade, o modus operandide um governo autoritário que desprezava o papel constitucional e as finalidades precípuas do Parlamento como órgão da soberania nacional e de representação do povo.

A patética manifestação epistolar de Dilma Rousseff é um conjunto de frases feitas, tiradas retóricas, expressões piegas. De platitudes e obviedades que inevitavelmente assomam em discursos políticos que, por falta de conteúdo fático e genuinamente programático, abusam de falsidades demagógicas na tentativa de conquistar o ouvinte pela emoção. Mas a paciência do povo brasileiro com o ilusionismo lulopetista está esgotada.



19 de agosto de 2016
Editorial Estadão

AS NUVENS POLÍTICAS

Uma das frases mais conhecidas sobre política é a do ex-senador e ex-governador mineiro Magalhães Pinto, que comparava sua volatilidade à das nuvens, que mudam de configuração a cada momento. Nada melhor para definir as posições mutantes do presidente interino, Michel Temer, e da presidente afastada, Dilma Rousseff, neste momTemer, que se dizia preparado para as vaias que de fato recebeu na abertura dos Jogos Olímpicos no Rio, desistiu de ir ao encerramento, já prevendo que será vaiado novamente. Dilma, que já anunciara que não compareceria à sessão no Senado de seu julgamento, temendo enfrentar as perguntas da situação, decidiu que irá.

Michel Temer comete um gafe diplomática, pois é tradição que o presidente do país que realiza a Olimpíada transmita simbolicamente a missão ao dirigente do país que sediará a próxima edição, desta vez o Japão, em 2020. Para tanto, o primeiro-ministro Shinzo Abe estará no Rio no domingo, e receberá no Maracanã do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, o bastão simbólico da Olimpíada.

A vaia que certamente seria direcionada a Temer, o será a Maia, que pagará assim o mico presidencial neste momento conturbado da vida política nacional, uma espécie de taxa de insalubridade que lhe permitirá assumir o cargo de presidente interino quando Temer viajar ao exterior.

A decisão de Temer de não comparecer ao estádio — como dizia Nelson Rodrigues, no Maracanã se vaia até minuto de silêncio — é um erro político inexplicável. Ele abre mão das obrigações do cargo que ocupa para se preservar, criando uma imagem de fragilidade que não ajuda na tarefa árdua que terá quando assumir definitivamente a Presidência da República.

Não há uma explicação razoável para a sua falta, ainda mais quando ela cria até mesmo embaraços diplomáticos. Os cerimoniais das duas chancelarias estão tentando montar um encontro entre Temer e Abe fora das vistas do público, para minimizar a consequência da decisão do presidente brasileiro, que mais parece um adolescente malcriado do que um experiente político que tem noção das suas responsabilidades.

Já a presidente afastada fez muito bem, de seu ponto de vista, em mudar de ideia. Sua ausência na sessão do Senado corroboraria a imagem de fraqueza pessoal, justamente o que ficará colado à imagem do presidente interino.

Dilma está tentando reescrever sua história, montando uma narrativa heroica para o que não passa de uma situação normal em democracias maduras. Seu impedimento é resultado de burlas específicas à legislação brasileira, e mostra que nenhum político, por mais popular que seja — não é seu caso — ou por mais votos que tenha tido, não tem o direito de presidir o país sem obedecer às leis.

Mas ela insiste na tese do golpe parlamentar, e é essa visão que estará registrada no livro que pretende escrever, no documentário que está sendo feito por seguidores seus e que está na carta que divulgou recentemente. Não importa se ninguém, além dos militantes da esquerda no Brasil e no exterior, acredita nisso, para ela o importante é seguir nessa toada até o final, quando, perdidos os direitos políticos por oito anos, estará relegada a um rodapé da História brasileira.

Só será protagonista quando se contar o descalabro ocasionado por seus anos de governo, que colocaram o país na pior recessão econômica já registrada em toda nossa História, e no caos político em que vivemos. Dilma terá na sessão do Senado oportunidade de exercitar mais uma vez o papel de perseguida política, de uma mulher honesta que está sendo condenado por um bando de corruptos que, aliás, fizeram parte de seu governo até outro dia.

Se der sorte, e os governistas não forem cuidadosos em seus questionamentos, poderá repetir a cena de quando, acusada pelo líder do DEM, Agripino Maia, de ser mentirosa com base em declarações em que admitia ter mentido muito a seus interrogadores quando esteve presa, teve um momento de brilho político ao transformar em um bumerangue a acusação.

É improvável que um imprevisto mude o resultado do julgamento, mas, para Dilma, ir até o fim na defesa de seus pontos de vista é uma saída melhor do que se esconder. Mesmo que sua versão da História não resista às delações premiadas do marqueteiro João Santana e do empreiteiro Marcelo Odebrecht, entre outros, que a estão culpando de diversos atos de corrupção, que ainda serão cobrados pela Justiça.



19 de agosto de 2016
Merval Pereira, O Globo

ESTATAIS CRIADAS DESDE LULA SOBRECARREGAM TESOURO

Marca da ideologia dirigista, as 41 empresas criadas de 2003 até o ano passado gastaram muito com salários e geraram um majestoso prejuízo. Era esperado

Nos 13 anos de lulopetismo no poder, o Tesouro (leia-se, o contribuinte, a sociedade) recebeu pesada conta: os prejuízos bilionários causados por esquemas de corrupção que dilapidaram estatais e o resultado da execução de políticas equivocadas como a da criação subsidiada de “campeões nacionais” via BNDES, além de outras aventuras estatistas.

Por exemplo, a construção da “supertele” a partir da Telemar, o provável embrião do retorno da Telebras como empresa de economia mista, mas que resultou na Oi, uma das maiores falências do mercado. Como entre os caloteados estão os de sempre — bancos estatais e fundos de pensão de empresas públicas, área cativa de influência do braço sindical petista, a CUT —, cedo ou tarde este e outros rombos deixados de herança pelo lulopetismo baterão às portas do Tesouro.

Mas há também outra despesa enorme contratada em nome do Tesouro: a criação desbragada de estatais, muitas dependentes do sobrecarregado Tesouro Nacional, para sobreviver e continuar a empregar companheiros e apaniguados em geral.

Pesquisa feita pelo Instituto Teotônio Vilela, ligado ao PSDB, contabilizou, entre 2003, primeiro ano do governo Lula, e 2015, antes do afastamento de Dilma do Planalto, a criação de 41 estatais, segundo o jornal “Valor”.

No período, excluindo empresas do ramo financeiro, este conjunto de companhias gerou um prejuízo acumulado de R$ 8 bilhões. Para se comparar, são dois bilhões a mais que a primeira baixa feita pela Petrobras, em balanço, devido aos desfalques que sofreu do esquema lulopetista que assaltou a companhia. Também no período, elas pagaram, ao todo, R$ 5,5 bilhões em salários, quase tanto quanto o prejuízo.

A composição desse conjunto de empresas é variada. Há uma fábrica de semicondutores instalada no Rio Grande do Sul, e uma subsidiária da Petrobras, criada para produzir álcool e biodiesel, mas que produz mesmo é prejuízo. O mesmo ocorre com a Cietec, de Porto Alegre, destinada a produzir chips para o rastreamento bovino e identificação de veículos.

Uma das joias dessa coroa de estatais é a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), destinada a absorver tecnologia de trem-bala e executar o projeto da ligação de alta velocidade de Rio a São Paulo. Delirante desde o início, a ideia, como muitas outras, gerou apenas prejuízos e não projetou sequer um dormente. A EPL foi congelada, mas o governo Temer pensa em ativá-la para atuar no programa de parcerias público-privadas em projetos de infraestrutura. Isso teria de ser debatido.

A debacle do projeto do PT está exposta na crise econômica, no impeachment, mas também na criação desvairada de estatais, onde se vê a marca da ideologia dirigista do lulopetismo. E também no seu resultado: empreguismo e prejuízos pesados para o contribuinte.



19 de agosto de 2016
Editorial O Globo

A AGONIA DO BRASIL


O Brasil que produz e cria empregos está sendo morto a chutes. Como isso foi possível?

Sim, a festa está linda, mas não é do Brasil, é só noBrasil. Quando acabar estaremos de volta àquele Rio de Janeiro de sempre, com R$ 3 bilhões a menos de segurança pública por quinzena, onde errar o caminho é morte certa.

Aquela abertura foi, sim, uma síntese, mas do nosso velho drama roteirizado. A mais moderna tecnologia emprestando cintilância à mais retrógrada e opaca das mensagens assinada, proverbialmente, pelos noveleiros da Globo ultraespecializados nesse tipo de embalagem. Um gostinho para o mundo da antiutopia que, desde os idos de 1936, é entoada diariamente como um mantra sagrado em todas as escolas e “meios de difusão de cultura da burguesia”: a quase centenária “recriação”stalinista das supostas “raízes” de um Brasil sem empreendedores, só com usurpadores de um lado e escravos do outro, que repudia a superação, sonha apenas com a “hegemonia” da favela.

Esse “Brasil” dos “intérpretes”, complacente com a derrota – como provou que não o é cada um dos atletas verde-amarelos na Olimpíada disputada na Vila construída pelos empreendedores “que não há” –, é o único representado em Brasília. O que suava nas quadras e pistas em busca de glória e remissão pelo esforço individual não tem quem fale por ele na capital mundial do horror ao mérito, que a Olimpíada honra, porque meritocracia pressupõe a morte do “Sistema”que vive da distribuição e venda de privilégios.

No Brasil Real, onde a casta dos funcionários públicos vence sempre e é contra a lei evitar o suicídio orçamentário, haja o que houver, há sangue na água e os predadores se assanham. Com a inflação comendo por baixo 9% do valor do trabalho ao fim de oito trimestres consecutivos de queda da produção e mais de 100 mil brasileiros da 2.ª Classe se juntando à legião dos desempregados a cada 30 dias, os bancos comem soltos. O volume de crédito concedido caiu 4,4%, mas a“receita com clientes” subiu 4,2%. A cada“renegociação” das dívidas de empreendedores a quem a única garantia dada pelo “governo de salvação nacional” é a de que nada na equação entre contribuintes e “contribuídos” vai mudar senão para pior, aumenta forte o “spread” entre juros pagos e juros cobrados. Os quatro maiores bancos “lucraram” R$ 31,7 bilhões no segundo trimestre, volume de drenagem que se vem somar aos R$ 60 bilhões recém- chupados pela União para garantir que os seus funcionários permaneçam fora da crise que criaram e aos outros R$ 50 bilhões que vão custar a renegociação sem contrapartidas das dívidas dos Estados. Na fila os governos municipais, só 42 dos quais, em quase 6 mil, têm folhas de pagamento menores que a própria arrecadação, apesar do frenesi de multas com que caçam o povo pelas ruas e estradas de todo o País. Jogue-se por cima disso a tempestade de “ações trabalhistas” que o desemprego em massa precipita, montando, este ano, a algo em torno de R$ 70-80 bilhões, e tem-se um retrato parcial do estupro coletivo que o País que trabalha vem sofrendo.

Bolsa subindo, dólar caindo? No mundo da“arbitragem de instituições” é assim: “Tá caro produzir aqui? A lei não garante? Empregar é expor-se à chantagem? Bora produzir em outro lugar”! E na contramão: “Tá fácil ganhar dinheiro no mole? É o juro mais alto do mundo? Vamos lá, enquanto durar!”. Não tem nada que ver com a economia real. O Brasil que produz e cria empregos está sendo morto a chutes.

Nunca tantos foram tão estraçalhados por tão poucos. Como foi que isso se tornou possível?

O “Sistema” produz exatamente o resultado para o qual foi desenhado. Partindo da falsificação constitucionalmente imposta da base de toda a estrutura de representação da sociedade civil a partir dos sindicatos que dispensam simpatizantes porque são sustentados por impostos, o esquema criado por Getúlio Vargas foi clonado, a partir de 1988, pelos partidos políticos. E isso fez da nossa tão propalada“democracia” uma farsa em que os “representantes” se podem dar impunemente o luxo de dispensar o endosso dos “representados” aos seus atos. Fechado em si mesmo, “O Sistema” tem lá os seus mecanismos de processamento de lutas intestinas, mas o respeito à hierarquia interna, uma vez estabelecida, é sagrado sob pena de “morte”, por condenação aberta quando possível, por chantagem e assassinato de personagem quando necessário. Desse momento em diante garantir“o seu” e o “dos seus” à custa dos “de fora”, tão certo quanto que o sol nascerá amanhã, é o que os unirá a todos, para além do falatório, nos momentos de decisão. O conjunto é absolutamente blindado contra qualquer interferência externa, sobretudo dos eleitores, tanto antes, no processo de seleção dos candidatos a cargos eletivos, futuros “hubs” de distribuição de acesso a privilégios, prerrogativa exclusiva dos grandes caciques segundo critérios inconfessáveis, porém explícitos, quanto depois do momento fugaz da eleição.

Esperar que o próprio “Sistema” atue contra si mesmo é, portanto, uma ilusão de noiva. Enquanto a imprensa ou pelo menos uma parte dela resistiu denunciando os avanços da casta que parasita a Nação e amplificando a voz dos que pagam a conta, sobreviveram, aos trancos e barrancos, elementos de democracia nas instituições brasileiras. Depois que a ética corporativa substituiu a ética jornalística e a função institucional da imprensa, último bastião dos desvalidos, cedeu lugar a uma conta de chegar na ordem das prioridades das empresas de comunicação, o caminho ficou livre.

Enquanto a imprensa, a reboque da guerra de “acessos”aos dossiês com que as partes em disputa pelo controle do “Sistema” se alvejam umas às outras, seguir tratando a corrupção como causa, e não como efeito, da sujeição do País à ditadura de uma casta com direitos e deveres totalmente diferenciados dos do resto do povo que ela está dispensada de expor como o que de fato é, as atenções e as energias da Nação abusada seguirão dispersas e erráticas como estão hoje e não haverá meio de pôr um fim à opressão.



19 de agosto de 2016
Fernão Lara Mesquita, Estadão