"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O BRASIL NÃO É CONFIÁVEL, MAS O VENTO ESTÁ SOPRANDO A FAVOR



Desde que Meirelles assumiu, a Bovespa subiu 12% e o dólar caiu 8%















Para quem se ocupa de notícias, os anos Dilma foram uma montanha-russa. É de se imaginar o que terá sido para quem produz e emprega. A todo momento, a pergunta: “O que eles estarão aprontando hoje?” Se nada trouxe ainda em mudanças estruturais, os três meses do governo Temer e de sua equipe trouxeram uma calmaria que Brasil não via há anos.
Confrontado há alguns dias sobre a falta de ação imediata do governo no ataque ao deficit público e à Previdência insustentáveis (ao que parece, à espera do impeachment), o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) disse que, por experiência, quando quer saber a opinião dos “mercados”, olha o preço dos ativos.
Desde que assumiu, a Bovespa subiu 12%, o dólar caiu 8% e neste ano as empresas brasileiras captaram no exterior mais que o dobro dos recursos obtidos em todo 2015 para financiar suas operações.
VENTO A FAVOR – Já foi dito aqui que Temer se beneficia de um bom vento a favor. Se os anos Lula foram bem por conta do sopro das commodities em alta, Temer está surfando na onda do dinheiro barato internacionalmente.
Estima-se que cerca de US$ 12 trilhões (sete vezes o PIB brasileiro em 2015) de investidores estejam “pegando poeira” em títulos de dívida (semelhantes ao Tesouro direto) que pagam juros negativos em muitos países.
A estratégia desses bancos centrais, sobretudo na Europa, é desestimular a poupança e tentar fazer o dinheiro circular para tirar suas economias de uma estagnação cada vez mais parecida com a japonesa, que dura 20 anos.
ESTÍMULO – É ainda uma fração disso que hoje se arrisca atrás de ganhos maiores e dá impulso à Bolsa e valoriza o real. As regras mais claras adotadas pela atual equipe e a falta de novidades angustiantes a cada semana têm estimulado a vinda desse dinheiro.
Mas o histórico do Brasil é ainda péssimo em relação a variações abruptas no câmbio (que leva investidores a perder muito em dias), na inflação e em relação a mudanças de regras de uma hora para a outra.
Vale lembrar que o Brasil conseguiu manter o chamado selo de bom pagador, o “grau de investimento”, por sete anos apenas, de 2008 a 2015. Sem ele, qualquer gripe aqui ou oportunidades nem tão melhores fora (uma alta nos juros nos EUA) provocam saídas súbitas de capitais.
EXPORTAÇÕES-O Brasil é também “caipira” em sua inserção no comércio global, com participação de apenas 1% (é o 25º colocado, apesar de sétima economia). Com pouco a perder, é também pouco comprometido com regras na comparação com quem sofre mais com mudanças.
Por fim, temos nosso Congresso e sua visão atrasada, sem comprometimento com o todo, a respeito da insustentabilidade do gasto público.
De nada adiantarão regras estáveis se o Brasil continuar produzindo deficit como os R$ 170,5 bilhões deste ano e a dívida pública saltar quase dez pontos de um ano para outro. Assim como tem entrado, o mesmo dinheiro que anima as consultas de Meirelles ao mercado pode sair voando se o governo Temer falhar ao tentar mudar isso.

19 de agosto de 2016
Fernando Canzian
Folha

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