"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O QUE RESTARÁ DO ITAMARATY?

 Palácio do Itamaraty



O que restará da diplomacia brasileira após o pesadelo que se transformou em realidade? 
Depois de um Celso Amorim, um Antonio Patriota, que tiveram como chefes um Lula e uma Dilma Rousseff.
Teremos os exemplos do amoral megalonanico e do patriota sem coragem, ou de um Saboia perdido na Bolívia?

Depois de chamarmos Kadhafi de “meu líder”, dar ouvidos a Ahmadinejad, apoiar a Síria e a Coreia do Norte, entre outros párias mundiais, continuaremos a merecer respeito no mundo civilizado?

Seguiremos permitindo que Evo Cocaleiro continue a humilhar o Brasil? A nos roubar? A exigir que peçamos desculpas pelo que ele mesmo sempre faz?

A Bolívia continuará (agora com quais argumentos?) a revistar aviões com as “ôtoridades” brasileiras a bordo? A exigir asilo para Edward Snowden, garantindo seu salvo-conduto? A traficar drogas, sem que haja uma investigação isenta?

E veremos Dilma revoltada por não termos sido, mais uma vez, cordatos e subservientes ao Lhama de Boutique?

Discute-se hoje, intensamente, se o diplomata Saboia é um herói ou um insubordinado. Se Patriota sabia ou não da ação quase ao nível da Pantera Cor-de-Rosa.

A pergunta que ainda não li é muito simples: haveria necessidade dessa aventura se a diplomacia brasileira se desse ao respeito? Se houvesse defendido nossa autonomia e independência?
Se houvesse exigido o cumprimento dos tratados internacionais, como Evo exige em relação a Snowden?

Quem errou? O diplomata Saboia ou o Itamaraty que foi ─ mais uma vez ─ tratado como uma representação menor de um país sem honra?
Antes de buscar culpados ou responsáveis no Palácio do Itamaraty, que o Palácio do Planalto trate de olhar-se no espelho.
E que descubra o significado da palavra VERGONHA! Quem sabe consiga entender o conceito.
Ter VERGONHA é antídoto para sentir VERGONHA!

Que a diplomacia brasileira tenha VERGONHA, evitando assim que sempre tenhamos VERGONHA pela falta que ela faz a esta trupe enlouquecida e sem nenhum senso histórico.
É bom avisar: temos VERGONHA de vocês. E temos vergonha na cara.

29 de agosto de 2013
 REYNALDO ROCHA

MINISTRA, NÃO PODE SER ASSIM, QUANDO PODE NÃO SER ASSIM...

Com a devida vênia, Ministra Cármen Lúcia, não pode ser assim quando pode não ser assim…


Em reportagem de Gabriel Castro, na VEJA.com, afirma a ministra Cármen Lúcia:

“A Câmara cumpriu o papel dela. Pela norma em vigor, a legislação foi cumprida. Se o resultado é benéfico ou não, aí compete ao próprio povo verificar (…). O Supremo fez o papel de julgar, e a cassação, eu sempre entendi que é uma competência do Congresso”.
 
Com todo o respeito à ministra, que reputo, e não lhe faço nenhum favor, uma pessoa séria, o juízo merece algumas considerações. Não estamos diante de uma situação “dura lex sed lex”.
A argumentação jurídica que impede essa barbaridade é igualmente sólida. Eu não acho que cabe a um juiz torcer a lei para corrigir distorções que estão na sociedade — não me filio a essa corrente.
 
Mas acho que, no caso de a norma jurídica permitir, e ela permite, que se evite uma situação que humilha as instituições e um senso mínimo de decoro e dignidade, essa deve ser a escolha imperiosa do juiz.
 
Ministra, não pode ser assim quando pode não ser assim…
 
29 de agosto de 2013
Reinaldo Azevedo

O DEPUTADO PRESIDIÁRIO É UMA ABERRAÇÃO QUE TEM MÃE, PAI, PADRINHOS E MADRINHAS


Natan Donadon sai algemado da Câmara dos Deputados depois da sessão que o poupou da perda do mandato

A votação que impediu a cassação do mandato de Natan Donadon, preso desde junho no presídio da Papuda, transformou a Câmara na mãe do primeiro deputado presidiário da história. O pai é o Supremo Tribunal Federal. Os padrinhos são Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Roberto Barroso e Teori Zavascki. As madrinhas são Rosa Weber e Carmen Lúcia. Eles garantiram a duvidosa honraria na sessão em que, depois da condenação do senador Ivo Cassol a uma temporada na cadeia, ficou decidido por 6 togas contra 4 que só o Congresso pode deliberar sobre cassação de mandatos.

Em dezembro, durante o julgamento do mensalão, o Supremo havia resolvido por 5 a 4 que o confisco da vaga no Senado ou na Câmara deve ocorrer automaticamente em dois casos: quando a condenação superior a um ano envolver improbidade administrativa ou quando a pena for superior a quatro anos. “Nessas duas hipóteses, a perda de mandato é uma consequência direta e imediata causada pela condenação criminal transitada em julgado”, ensinou o decano da Corte, Celso de Mello, que acompanhou os votos de Joaquim Barbosa, Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Luiz Fux.

Na sessão que aprovou o retrocesso, Fux declarou-se impedido. Sobraram quatro. Os derrotados em dezembro viraram seis graças à adesão de Theori Zavascki, que substituiu Cezar Peluso, e Roberto Barroso, que assumiu o lugar de Ayres Britto. ”Não posso produzir a decisão que gostaria, porque a Constituição não permite”, recitou Barroso, pendurado no parágrafo 2º do artigo 55 da Constituição, que estabelece a perda do cargo “por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa”.

Se tivesse optado pelo caminho da sensatez, o caçula do Supremo compreenderia que acabara de chancelar o que Gilmar Mendes batizou de “fórmula-jabuticaba”, por existir apenas no Brasil. ”Não é possível um sujeito detentor do mandato cumprindo pena de cinco ou dez anos”, espantou-se Mendes. “Vossa Excelência sabe que consequência dará condenar a cinco anos e deixar a decisão final para a Congresso”, advertiu Joaquim Barbosa. “Esta Corte tem de decretar a perda do mandato, sob pena de nossa decisão daqui a pouco ser colocada em xeque”. Deu no que deu.
“Agora temos essa situação de alguém com direitos políticos suspensos, mas deputado com mandato”, ironizou nesta quinta-feira o ministro Marco Aurélio. “A Papuda está homenageada.

Vai causar inveja muito grande aos demais reeducandos”. Não foi por falta de aviso. Em fevereiro de 2009, ao ser eleito corregedor da Casa dos Horrores, o deputado mineiro Edmar Moreira sucumbiu a um surto de sinceridade e contou numa frase como as coisas funcionam por lá: “No Legislativo, temos o vício insanável da amizade”. Como toda mãe, a Câmara protege também filhotes delinquentes. Por que haveria de negar socorro a Donadon?

O primeiro deputado presidiário foi parido pela Câmara. Mas a aberração só viu a luz graças à ajuda militante do pai, dos padrinhos e das madrinhas.

29 de agosto de 2013
Augusto Nunes

ESQUISITO E RARO: A DISTÂNCIA ENTRE O PORTUGUÊS E O ESPANHOL

“Vivo na Europa há dez anos e gostaria de entender a relação de algumas de nossas palavra em português com as de nosso primo espanhol. No português esquisito é algo estranho, fora dos padrões, e raro é algo que não acontece com frequência. Já em espanhol esquisito e raro significam algo bom, com toques de requinte.” (Samuel Freitas)

A consulta de Samuel é interessante por ilustrar os limites da etimologia para o conhecimento atual do sentido e do peso das palavras em seus respectivos idiomas. Dito de outra forma: como ele bem observou, a correspondência semântica entre o português e o espanhol nos casos de esquisito/exquisito e raro/raro (como no de muitos outros vocábulos) envolve mesmo uma assimetria que pode levar a traduções equivocadas. No entanto, essas palavras vieram exatamente da mesma fonte, com o mesmo significado básico, que o uso tratou mais tarde de matizar.

Vamos começar pelo caso mais simples. Raro é, sim, a tradução do espanhol raro na maioria dos contextos. Trata-se de palavras provenientes, por via erudita, do latim rarus (“espaçado, esparso, pouco denso”), vocábulo que pelo caminho vulgar deu em ralo. Nã há diferença entre as acepções principais de raro na língua de Camões e na de Cervantes: “que não é comum, vulgar; que poucas vezes se encontra” (Houaiss); “extraordinário, pouco comum ou frequente” (Real Academia Española).

A distinção se dá apenas em acepções secundárias, extensões daquele núcleo semântico original. De fato, raro passou a ser empregado com frequência no espanhol moderno como sinônimo de “excelente, de qualidade incomum”. O mesmo não se deu em português, pelo menos não com tanta força. Expressões como “beleza rara” são usuais e apontam para a mesma ideia, mas não tiveram (ainda?) força para dar ao adjetivo autonomia como uma palavra intensamente elogiosa.
O caso de esquisito/exquisito é semelhante, mas ainda mais curioso. Aqui o processo de distanciamento semântico entre o português e o espanhol é mais acentuado. Ambas as palavras têm como matriz o latim exquisitus, “seleto, procurado diligentemente, escolhido a dedo, requintado”. O sentido do termo latino era furiosamente positivo, como se vê.

Também é assim o sentido preservado no espanhol exquisito, “de singular e extraordinária qualidade”. O mesmo se dá no inglês exquisite e no francês exquis, adjetivos empregados para qualificar o que denota requinte, o que é deliciosamente refinado. Tal acepção, convém registrar, existe também em português. O que ocorre é que no Brasil ela foi se tornando cada vez mais rara, restrita a velhos livros, enquanto o sentido expandido e levemente negativo de “estranho, anormal, difícil de explicar” abria caminho para outro, este abertamente negativo, de “que tem aspecto feio, desajeitado ou desagradável”. Estas últimas acepções são, sem dúvida, as mais frequentes em nossa linguagem comum há muito tempo.

Como curiosidade, vale registrar que o inglês exquisite ensaiou trilhar um caminho parecido com o nosso esquisito. Entre os séculos XV e XVIII, segundo o dicionário etimológico de Douglas Harper, foi uma palavra da moda que se usava para qualificar “qualquer coisa (boa ou ruim, tanto uma tortura quanto uma obra de arte) elevada a uma condição altamente rebuscada, às vezes com conotações de reprovação”. Tal sentido, porém, caiu em desuso na língua de Shakespeare.

29 de agosto de 2013
Veja

PARLAMENTO BRITÂNICO VOTA CONTRA INTERVENÇÃO MILITAR NA SÍRIA

Premiê avisa que acatará decisão, o que efetivamente deixa Grã-Bretanha de fora de uma eventual ofensiva liderada pelos Estados Unidos

O premiê britânico David Cameron teve a proposta de intervir militarmente na Síria rejeitada pelo Parlamento
O premiê britânico David Cameron teve a proposta de intervir militarmente na Síria rejeitada pelo Parlamento (UK Parliament via Reuters TV/Reuters)
         
Após um debate que se estendeu por toda a quinta-feira, o Parlamento britânico rejeitou uma possível intervenção militar da Grã-Bretanha na Síria. A votação foi apertada: 285 contra 272. Os Estados Unidos ainda podem decidir lançar uma ofensiva unilateral contra o regime do ditador Bashar Assad, mas a tarefa fica mais difícil sem o apoio britânico. 

O que os parlamentares britânicos rejeitaram foi uma moção preliminar proposta pelo premiê David Cameron, que, se tivesse sido aprovada, funcionaria como uma autorização prévia para o uso da força, “se necessário”. Mesmo assim, ainda seria exigida uma segunda votação.
No entanto, o fracasso em fazer avançar até mesmo uma votação em grande medida simbólica demonstrou a grande oposição aos planos do governo britânico de integrar qualquer plano de intervenção. 

O primeiro-ministro David Cameron reconheceu a derrota e disse que vai respeitar a decisão. No fim da votação, os parlamentares pediram a Cameron uma garantia de que ele não usará nenhuma prerrogativa para agir sem o aval do Parlamento. O primeiro-ministro consentiu, dizendo que respeita a vontade dos políticos e que havia “entendido” o recado. “Está claro para mim que o Parlamento britânico, refletindo a opinião da população, não aprova uma intervenção do Exército britânico. Eu entendi e o governo agirá de acordo com esta decisão”, afirmou. 

Vale ressaltar que, tecnicamente, o premiê britânico não precisaria do apoio do Parlamento para realizar uma ação na Síria. Esse tipo de ação pode se desenvolver somente a partir de uma ordem do primeiro-ministro.

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A Casa Branca afirmou que “continuará a consultar o governo britânico”, um de seus aliados mais próximos, mesmo depois do resultado da votação desta quinta. “A decisão do presidente Obama será baseada pelos interesses dos Estados Unidos. Ele acredita que há interesses fundamentais em jogo para os EUA e que países que violam normas internacionais relacionadas a armas químicas precisam ser responsabilizados”, disse a porta-voz Caitlin Hayden, indicando que a possibilidade de intervenção não está descartada. 

O Parlamento britânico interrompeu o recesso para realizar uma sessão extraordinária após o massacre perpetrado na periferia de Damasco, na semana passada. Os sinais de que as mortes foram causadas por forças ligadas ao governo, com uso de armas químicas, levaram Cameron a cobrar do Ocidente uma ação rápida e independente do Conselho de Segurança da ONU, onde o ditador Assad ainda conta com o apoio de China e Rússia. A Grã-Bretanha chegou a apresentar uma resolução ao conselho para pedir uma intervenção, mas russos e chineses travaram a negociação. 

Vídeo: Pai reencontra filho que acreditava ter sido morto em ataque

Na quarta-feira à noite, o presidente americano Barack Obama responsabilizou o regime do ditador Bashar Assad, mas disse que ainda não tinha tomado nenhuma decisão sobre qual resposta daria aos ataques. Os planos dos EUA consistem em realizar uma ação rápida por meio do lançamento de mísseis, sem um envolvimento direto de tropas e sem ter como objetivo forçar a queda de Assad. Navios de guerra já foram deslocados para a região. 

29 de agosto de 2013
Veja
 

MAIS VALIA: QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ!

            
          Artigos - Economia 
Ó, mais-valia! Onde foste fixar moradia fixa desde que teu criador, Karl Marx, te deu existência!

O título deste artigo dá bem a medida da volta que deu a teoria fundamental do marxismo. Relembrando, a mais-valia era a tese de Karl Marx segundo a qual o lucro resultante da atividade empresarial consistia tão somente em roubar o produto do trabalho dos seus operários, deixando a eles tão somente um mínimo para a subsistência.
 

Eugen von Böhm-Bawerk foi um dos economistas contemporâneos ao patrono do socialismo que mais brilhantemente a refutaram. Böhm-Bawerk teve de o mérito de discernir entre o valor presente e o valor futuro, demonstrando que o valor pago ao trabalhador consistia no pagamento (garantido) de valor presente, enquanto que ao empresário o lucro adviria dos juros esperados pelo recebimento incerto e em momento futuro.
Com efeito, a argumentação de Böhm-Bawerk tem sentido: Quem não tem dinheiro suficiente hoje para comprar uma casa, por exemplo, há de financiá-la remunerando o verdadeiro dono do dinheiro com juros. Não há nada de injusto nisto, uma vez que o dono do dinheiro poderia, por exemplo, abrir uma loja ou iniciar uma criação e ganhar dinheiro com o fruto do seu investimento.

Todavia, eu tenho uma objeção a fazer ao célebre austríaco: ele levou a sério demais as picaretagens de Karl Marx. Agiu como um autêntico gentleman, reconheço, mas é que às vezes me parece que ao darmos uma atenção tão cuidadosa a pulhas corremos o risco de fazer com que sintam possuir uma desmerecida importância ao passo nós mesmos descemos um degrau de nossa seriedade. Parece-me que pode ter sido mais ou menos por aí que o socialismo, como um movimento político, prosperou.

Fato é que a teoria da mais-valia não merece realmente crédito algum, nem sequer por suas premissas mais básicas: não passa de uma pegadinha, a pegar tolos incautos que não percebem a total falta de nexo, e a servir de cavalo de São Jorge aos espertos que viram nela a oportunidade de ascensão por outra via que não o trabalho honesto.

Na verdade, não há nenhuma comparação possível entre o trabalho autônomo e o trabalho assalariado. Basta percebermos que nas modernas empresas surgiram inúmeros cargos e profissões especializadas bem remunerados que simplesmente não existiam antes da revolução industrial.

O empresário não rouba o trabalho de um autônomo. Este, avaliando seus próprios interesses, é quem decide abandonar sua incipiente oficina e candidatar-se ao emprego oferecido por aquele, ou de outro modo seguirá com seu ofício por conta própria. Não há que se falar em roubo se alguém tem tanto a possibilidade de escolher quanto de posteriormente arrepender-se e voltar atrás.
 
Convém salientar que não foi somente Böhm-Bawerk que refutou a obra do filósofo alemão. A bem da verdade, suas idéias tresloucadas não tiveram receptividade quase nenhuma em seu próprio tempo, tendo sido falseadas por inúmeros pensadores sérios, por várias linhas de raciocínio, de modo que o irascível Karl Marx teve de recuar e recuar até um ponto onde ele “admitiu”, como uma forma de não dar mais o braço a torcer, que os empresários roubavam apenas “a última hora” dos trabalhadores. Patético, considerando o quanto a natureza e a complexidade das inúmeras profissões, bem como das jornadas dos trabalhadores, divergiam enormemente.
 
Aqui se faz oportuno relembrar o caráter desonesto de Karl Marx, ao publicar os dados dos livros anuários estatísticos do parlamento inglês de maneira invertida, isto é, trocando os dados de trinta anos antes com os dados então atuais, como meio de demonstrar que a exploração do trabalho dos operários estava levando-os a um caminho de empobrecimento, quando, em verdade, demonstrava que estavam prosperando.
 
Ludwig von Mises asseverou o quanto a propaganda da exploração dos trabalhadores durante a época da revolução industrial representou uma das maiores mentiras da história, no que aqui convido, você, leitor, a refletir comigo:  Ora, quem eram os operários ingleses, incluindo as mulheres e crianças, antes de trabalharem nas fábricas? Eram famintos e doentes, que vinham paupérrimos das propriedades rurais onde passavam a vida com uma única muda de roupa e cuja alimentação resumia-se a repolho. Como calçados, essas pessoas usualmente faziam uso de um trapo velho enchido com palha e amarrado às pernas, ou senão passavam a vida descalças mesmo. A única perspectiva de sair daquela realidade seria alistar-se no exército ou na marinha real, para arriscar a vida em prol da esperança de alguma aventura bem-sucedida, pilhando outros povos de além mar.
 
Pois, pela primeira vez na história, estas pessoas passaram a contar com a possibilidade de terem calçados e melhores alimentos, bem como o acesso a bens de consumo que até os reis e nobres de outrora não possuíam, tais como remédios modernos e eletricidade. Seus filhos foram enviados às escolas, e os empregos foram ganhando postos de complexidade até então inexistentes, com salários de maior valor.
 
Sem ser um segredo para ninguém, a realidade de hoje mostra o quanto as pessoas trabalhadoras dos empregos mais básicos nos países desenvolvidos recebem uma remuneração digna o suficiente para morarem bem, cuidarem da saúde, educarem-se e divertirem-se e até mesmo adquirir bens que nos países do terceiro mundo são considerados luxuosos. Nos Estados Unidos, por exemplo, um Honda Civic é considerado um carro de empregada doméstica.
 
Cá estamos, todavia, em um momento da história em que só é capaz de renegar as catástrofes ocorridas nos países onde a experiência socialista se fez mais intensa quem é igualmente capaz de sufocar a própria consciência.
 
Vejam o relato de uma brasileira que testemunhou pessoalmente o sistema comunista cubano:
 
Descobri que em Cuba você não tem empregados, todos os trabalhadores são funcionários públicos. Você contrata uma empresa (Cubalse), paga dez vezes o valor que é repassado ao trabalhador (explorado). Logicamente contratei uma babá no mercado negro. Pagava a ela US$ 100,00, o que era uma verdadeira fortuna em termos cubanos, uma vez que esta senhora era enfermeira formada e recebia US$ 10,00 de aposentadoria e o marido, médico, outros US$ 15,00.
A família estava numa tal situação de penúria que um dia vi que ela recolheu do lixo umas peles de frango que eu havia jogado fora, com aquilo ela pretendia fazer uma canja e estava satisfeitíssima.
O que esta digna senhora vivenciou e nos legou com seu depoimento datado de 2001 vê-se agora incrivelmente atualizado com a vinda dos médicos cubanos ao Brasil, pois, sem um pingo de exagero, estas pobres almas trabalham em regime típico da escravidão, com a diferença que os admitiremos aqui, onde até ontem a liberdade e a dignidade do ser humano era ainda um valor consagrado.
 
Agora vejam: dando de graça a Karl Marx a sua reivindicação de que os empresários no sistema capitalista “roubam” apenas a última hora do trabalho dos seus operários, estes então receberiam a 38ª parte de 44 ao total, considerando uma jornada semanal de 44 horas. Isto significaria que os operários recebiam, no século XIX, algo como 86% do valor dos produtos ou serviços.
 
Como se pode perceber, o socialismo inverteu a relação do valor trabalho-produto, com o agravantíssimo de que um operário de um país comunista não tem como escolher outro patrão e que seu patrão único o estado, toma-lhe não apenas a maior parte dos frutos do seu trabalho, quanto também de sua vida privada, tornando-o um ser completamente despido de dignidade e liberdade.
 
Toda a teoria fundamental marxista-socialista-comunista acabou se tornando ela própria aquilo mesmo que ela acusou haver no sistema capitalista. Por exemplo, jamais existiu uma “superestrutura capitalista”, isto é, um complexo de estruturas de pensamento que justificassem o sistema econômico capitalista e proibissem qualquer outras idéias de prosperar, até porque um sistema capitalista é um termo impróprio: o que existe é a sociedade livre, na qual cada um é capaz de defender suas convicções.
 
A maior prova disso foi justamente a emergência da teoria marxista. No entanto, existe sim uma superestrutura marxista, dado que em todos os países onde vige o sistema socialista permite-se apenas um único partido, e que qualquer mínimo rastro de dissidência pode ser punida severamente.
Portanto, você, leitor, que acabou de ler este texto, pode se considerar doravante apto a endossar as teorias marxistas, mas agora aplicadas aos próprios socialistas.
 
29 de agosto de 2013
http://libertatum.blogspot.com
Klauber Cristofen

SANTOS OU TIMOCHENKO: QUEM MANDA NAS NEGOCIAÇÕES DE HAVANA?

           
          Internacional - América Latina 
As FARC não querem renunciar a uma negociação, a única via que lhes resta para se apoderar do Estado e da sociedade colombiana. Por isso sua “pausa” não foi mais que um truque.
 
O que aconteceu neste fim de semana entre as FARC e o presidente JM Santos é um mistério. A crise das negociações em Cuba, bruscamente suspensas, primeiro pelas FARC e depois por JM Santos em 23 de agosto de 2013, foi superada horas depois quando o mandatário colombiano retrocedeu e anunciou que, na segunda-feira seguinte, se retomariam os contatos em Havana como se nada tivesse acontecido.
O mais chocante é que, precisamente, enquanto os diálogos estavam suspensos, a embaixada da Colômbia na Costa Rica foi atacada a bala por desconhecidos e, em seguida, no mesmo dia, 14 militares colombianos foram assassinados pelas FARC e ELN em Tame, Arauca, zona limítrofe com a Venezuela, sem que o presidente colombiano, nem a imprensa santista, tenham querido ver que conexão pode haver entre a “pausa” decretada pelas FARC e esses fatos graves.


O que queria dizer o chefe das FARC, Timoleón Jiménez, cognome Timochenko, quando escreveu em 22 de agosto de 2013, no mesmo dia em que JM Santos lançava sua idéia de referendo, que o mandatário colombiano “não quer ceder um milímetro” para “tranqüilizar o grande capital”? É óbvio que ante esse pronunciamento, os subalternos de Jiménez decretaram a “pausa”. Pausa efêmera (porém, quão sangrenta!), pois algumas horas depois de Santos ter dito que não eram as FARC quem decretavam a suspensão da negociação, elas prometiam regressar pontualmente à mesa de Havana. Depois de haver ensangüentado de novo o solo colombiano.
 
O que teria ocorrido? Quem cedeu? Qual foi o preço que o Governo pagou para que as FARC levantassem sua chantagem de suspensão de negociações? Santos renunciou à sua idéia de organizar um referendo? Acolheu, em segredo, a exigência fariana de que o pactuado entre eles seja ratificado por uma Constituinte? Como ocorre desde o começo dos contatos em Cuba, as duas partes ocultaram de novo seu jogo e suas convergências.
 
Porém, não é impossível vencer tanta obscuridade, pois alguns detalhes lançam certa luz.
Em meio da crise, em 25 de agosto, Timochenko lançou outro comunicado o qual, em poucas horas, pôs todo mundo de acordo. Esse texto poderia explicar a mudança de atitude a respeito da “pausa” dos dois lados. Lá, Timoleón Jiménez continua se mostrando, é verdade, receoso ante Santos, ao dizer: “O que Santos pretende com esse Referendo é que o país vote sim ou não, a dotar o Presidente de poderes extraordinários para expedir decretos com força de lei encaminhados a pôr em vigência os Acordos firmados em Havana”.
 
Porém, imediatamente o cabeça das FARC muda o tom e sugere a Santos uma saída. E até lhe sussurra ao ouvido que essa variante contaria com seu apoio, o qual ajudaria muito, é evidente, ao projeto re-eleicionista do presidente. Timochenko diz que o país deveria votar “sim ou não à conformação de um pequeno Congresso ou corpo legislativo encarregado de redigir os decretos”, e que esse “Congresso estaria conformado por porta-vozes de todos os partidos políticos e nele terá cabimento uma pequena representação das FARC”.
 
Assim, deslizando essa frase sobre o “pequeno congresso”, com “representação” das FARC, Timochenko volta a pôr em cena sua idéia de ratificar os pactos de Havana por uma Constituinte e a oferecer como pano de fundo a re-eleição de Santos.
 
O resto da carta de 25 de agosto é fumaça diversionista. Inclusive Timochenko redige uma frase para mostrar Santos como um negociador intransigente:“Suas posições na mesa continuam sendo inamovíveis quanto a não tocar em um só aspecto da ordem estabelecida”. Tal estimação de Timochenko é falsa. O “marco jurídico para a paz” transborda sim a ordem estabelecida, e viola a própria legislação internacional. Sem falar dos outros pontos absurdos já acordados em Cuba, como isso de entregar às FARC não desarmadas centenas de milhares de hectares de terras produtivas, com milhões de cidadãos dentro, para que erijam bastiões sob o rótulo de “zonas de reserva camponesa”.
 
O episódio da carta de 25 de agosto do chefe das FARC, analisado erroneamente por certa imprensa, transferiu de fato, durante algumas horas, o cenário da negociação e o pôs diretamente nas mãos de Santos e Timochenko.
 
Não sabemos se esse fato mudará o curso dos contatos entre os negociadores em Cuba. Em todo caso, a equipe de Santos fez saber que sua urgência agora é modificar a Constituição para poder realizar no dia das próximas eleições legislativas o referendo em questão. Porém, não disse nada acerca de quais serão os postulados que os colombianos poderiam examinar.
 
Ao que imediatamente Ivan Márquez respondeu na segunda-feira: que o Governo ao “tomar essas atribuições está em flagrante violação do acordo geral firmado em Havana”. Segundo o chefe negociador das FARC, a reforma que o Congresso estudará “sem discutí-lo com a contra-parte, expressa uma situação de fato que nem se compartilha nem se acompanha”. Ao falar de “situação de fato” inaceitável, o chefe terrorista quis dizer que o regime de Santos deve co-governar com as FARC, sobretudo em matéria legislativa, se quer avançar no processo de paz.
 
A conclusão destas idas e vindas do fim de semana é que as FARC não querem renunciar a uma negociação, a única via que lhes resta para se apoderar do Estado e da sociedade colombiana. Por isso sua “pausa” não foi mais que um truque para reiterar, não ao governo, mas à sociedade, que elas querem romper com as instituições democráticas mediante a alavanca dissimulada de um cenáculo restrito (o que elas chamam “assembléia constituinte”), onde elas levarão a batuta e sem que os colombianos possam rechaçar ou acolher, mediante o voto, tal salto para o inferno.
 
Para evitar uma tragédia histórica, os colombianos devemos saber desde já, em termos exatos, o que se está preparando em Havana. Fracassarão os que escolhem o silêncio e esperam pedir-nos na última hora que ratifiquemos umas capitulações aberrantes, apresentadas como a única via para a paz.

29 de agosto de 2013
Eduardo Mackenzie
Tradução de Graça Salgueiro