O mau humor dos investidores em relação aos rumos da economia mundial está custando caro ao Brasil. É verdade que o fato de o país estar em meio a um acirrado processo eleitoral acaba ampliando as distorções.

O Brasil está pagando o preço de conviver, há quanto anos, com a inflação no teto da meta, de 6,5%, de registrar crescimento pífio, de ostentar contas públicas desajustadas e de depender cada vez mais de capital especulativo para financiar o rombo das contas externas.
Ao avaliarem o tamanho dos riscos que estão assumindo, os investidores colocam a economia brasileira no topo das preocupações.

Diante dos péssimos indicadores econômicos, não há a garantia de que as incertezas em relação ao Brasil diminuirão depois de 26 de outubro, quando as urnas sacramentarão o futuro presidente da República. O eleito, seja quem for, terá de agir rapidamente para convencer os agentes econômicos de que dispõe de condições concretas para tirar o país da situação em que se encontra.

Que o Brasil pode reagir rapidamente, não há dúvidas. Mas será preciso mais do que um bom discurso para se restabelecer a confiança no país. “São muitas as fragilidades da economia.

Empresários e consumidores estão preocupados demais”, afirma Flávio Serrano, economista sênior do Besi Investimentos. “Em valores absolutos, o rombo nas contas externas do Brasil, de mais de US$ 80 bilhões, é o terceiro maior do mundo”, ressalta. “Na área fiscal, o deficit nominal (que inclui os gastos com juros) já passa de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) e a dívida bruta cresce sem parar”, emenda.

ROLAGEM DA DÍVIDA

O quadro fiscal se agrava se for levado em consideração a estrutura de financiamento da dívida. O governo está pagando, em média, juros de quase 15% ao ano para se financiar. É mais do que o dobro da média mundial, de 7% anuais, diz Serrano. Para ele, nem de longe dá para dizer que há possibilidade de o Tesouro Nacional não honrar os compromissos em dia. Mas a desconfiança na gestão da dívida aumentou.

Por sinal, o Tesouro enfrentou grande dificuldade para vender títulos públicos no leilão que realiza todas as semanas. Os investidores cobraram juros elevadíssimos para aceitarem os papéis.
Na tentativa de não sancionar o aumento dos juros, o órgão vinculado ao Ministério da Fazenda restringiu o quanto pôde a oferta. Ainda assim, teve que pagar taxas máximas nas operações.
As 800 mil Letras do Tesouro Nacional (LTN) com vencimento em abril de 2015 saíram por juros de 11,5% ao ano. Nas Notas do Tesouro Nacional série F (NTNs-F), com resgate em janeiro de 2025, a taxa ficou em 11,7% anuais.

VENDA FUTURA DO DÓLAR

Dentro do Banco Central, a torcida é para que as eleições acabem logo. A instituição está cortando um dobrado para reduzir a volatilidade do dólar. O BC já comprometeu quase um terço das reservas internacionais do país, ao colocar no mercado US$ 100 bilhões por meio de contratos de swap, uma espécie de venda futura do dólar. “Eleições sempre provocam oscilações.
E não está sendo diferente neste ano. Mas precisamos ficar atentos para mantermos a previsibilidade do câmbio. A volatilidade das taxas é ruim para a economia”, afirma um técnico do banco.

Para o BC, melhor seria se a inflação estivesse no centro da meta, de 4,5%, e as contas públicas não estivessem em situação tão precária. “Mas vamos manter o sangue-frio. Depois das eleições, a hora da verdade chegará”, afirma um outro funcionário da autoridade monetária.

20 de outubro de 2014
Vicente Nunes
Correio Braziliense