"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

ECHELON - A REDE DE ESPIONAGEM GLOBAL

 

 
Emulando o Grande Irmão, criado por George Orwell no livro 1984, os EUA possuem uma rede de espionagem de comunicações mundial operada juntamente com a Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. O sistema, denominado Echelon, foi criado em 1948, durante a Guerra Fria, e vem sendo continuamente aperfeiçoado.
O que se sabe sobre o Echelon é o resultado do esforço de jornalistas e investigadores em todo o mundo que trabalharam durante décadas buscando dados sobre os programas mais secretos do governo dos EUA. Um dos resultados dessa investigação é o livro do jornalista neo-zeolandês Nicky Hager, Secret Power: New Zealand’s Role in the International Spy Network, cujo conteúdo é um relato pormenorizado sobre o tema.
 
Em 5 de setembro de 2001 o Parlamento Europeu aprovou uma Resolução denunciando essa rede global de espionagem e recomendando a seus cidadãos que codificassem suas comunicações. Apenas seis dias depois foi realizado o ataque da Al-Qaeda contra as torres gêmeas, em Nova York, e todos os países da União Européia se uniram aos EUA na guerra contra o terrorismo promovida pelo presidente Bush. E, para lutar contra o terror, o Echelon é uma arma imprescindível.
 
Ao final da II Guerra Mundial – mais precisamente em 1948 -, os EUA e a Inglaterra firmaram um Tratado que ficou conhecido como o Pacto UKUSA (United Kingdom-United States of América). Posteriormente uniram-se a esse pacto o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia.
 
A constituição do UKUSA apenas deu continuidade ao total acordo de cooperação entre EUA e Inglaterra em matéria de espionagem que durante a II Guerra os levou a compartilhar os êxitos alcançados com a decodificação dos códigos nazistas e japoneses.
 
Na verdade, o projeto Echelon foi plenamente desenvolvido na década de 70, quando foram lançados os primeiros satélites comerciais destinados a comunicações civis.
 
O Echelon, através de estações de interceptação posicionadas por todo o mundo, capta todo o tráfego de comunicações via satélite, microondas, celulares e por fibras óticas. Essa informação captada é processada através dos computadores da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA, que inclui sofisticados programas de reconhecimento de voz e reconhecimento de caráter ótico, através dos quais é efetuada a pesquisa de palavras ou frases em código, pelo sistema conhecido como Dicionário Echelon, que levam os computadores a assinalarem as mensagens a serem gravadas e transcritas para uma futura análise.
 
A NSA, com sede no Fort George Meade, localizado nas proximidades de Washington, é a maior empregadora global de matemáticos que compõem as melhores equipes de criadores e decifradores de códigos jamais reunidas. O trabalho dessas equipes é decifrar os códigos de comunicações internas e estrangeiras, enviando as mensagens decodificadas a uma também enorme equipe de hábeis lingüistas para serem analisadas em cerca de cem idiomas.
 
Sabe-se, todavia, que o Echelon, após a Guerra Fria, passou a ser utilizado para objetivos outros além de sua missão original, como as espionagens política e industrial em alcance mundial.
 
Esses objetivos outros foram definidos após o desmantelamento do socialismo na ex-União Soviética e na Europa do Leste, com a procura, pelos órgãos de Inteligência dos EUA e seus parceiros no Echelon, de uma nova justificativa que protegesse suas atividades, mantivesse sua importância e os seus avultados orçamentos.
 
A solução encontrada foi incluir como objetivos outros as preocupações econômicas, comerciais e empresariais. Nesse sentido, foi criado dentro do Departamento de Comércio dos EUA o Gabinete de Ligação de Informações, que canaliza para as grandes empresas norte-americanas os materiais interceptados. Na maioria dos casos, os beneficiários desse esforço de espionagem comercial são as próprias empresas que ajudaram a NSA a desenvolver os sistemas que compõem a rede Echelon e que, muitas vezes, são a fonte de vultosas contribuições em dinheiro aos dois principais partidos políticos dos EUA. Poder-se-ia dizer ser essa uma relação incestuosa. Entre essas empresas são apontadas a Lockheed, a Boeing, a Loreal, a TWR e aRaytheon.
 
Ou seja, a verdade é que o projeto Echelon, utilizado para conter e eventualmente derrotar o Império Soviético durante a Guerra Fria é agora virtualmente dirigido contra todos os cidadãos do mundo, violando indiscriminadamente a soberania de Estados e a privacidade dos cidadãos.
 
Segundo se sabe, a espinha dorsal da rede Echelon são as estações de escuta e recepção maciças direcionadas para os satélites Intelsat e Inmarsat, responsáveis pela quase totalidade das comunicações via telefone e fax, no interior dos países, entre países e continentes. Os vinte satélites Intelsat transportam essencialmente tráfego civil e, adicionalmente, comunicações diplomáticas e governamentais de interesse particular para a UKUSA.
 
Diversas estações de rádio-escuta operadas pela UKUSA estão espalhadas por todo o mundo, localizadas em bases militares em território estrangeiro e em remotas estações de escuta. As maiores estações de rádio-escuta da rede encontram-se em Tangimoana/Nova Zelândia, Bamaga/Austrália, Menwith/Inglaterra e no atol de Diego Garcia, no Oceano Índico, operadas pela NSA.
 
Segundo o levantamento efetuado por jornalistas e investigadores, dentro da Europa todas as comunicações via fax, telefone e e-mails são rotineiramente interceptadas pela estação de Menwith e enviadas, via satélite, para Fort Mead, para análise.
 
Outra rede de busca paralela de alta freqüência intercepta sinais de comunicações com o objetivo único de localizar a posição de navios, submarinos e aviões em todo o mundo, desempenhando um papel fundamental na monitorização dos movimentos de possíveis alvos móveis.
O poder do Echelon reside em sua capacidade de decifrar, filtrar, examinar e codificar todas as mensagens interceptadas em categorias seletivas para uma análise mais pormenorizada dos agentes dos serviços de Inteligência das diversas agências UKUSA.
 
O Echelon utiliza poderosos programas de pesquisa através de palavras e frases-chave, analisando minuciosamente os textos das mensagens com base em complexos critérios algorítmicos. Programas de reconhecimento de vozes convertem conversas em textos para uma análise mais aprofundada. Um sistema extremamente avançado, o VOICECAST, pode visar o padrão de voz de um indivíduo para que todos os telefonemas que essa pessoa efetue sejam transcritos para futura análise. Ou seja, o mundo está virtualmente “grampeado”.
Processando milhões de mensagens por hora, o sistema Echelon funciona vinte e quatro horas por dia. É importante assinalar, todavia, que poucas mensagens e telefonemas são transcritas e registradas. A grande maioria é excluída após ser lida e ouvida pelo sistema. Apenas as mensagens que contiverem as frases ou palavras-chave alvo são armazenadas para análise posterior.
 
Cada estação da UKUSA mantém uma lista de frases e palavras-chave (essa lista é denominada Dicionário). Um gestor do Dicionário de cada agência é responsável por acrescentar, apagar ou alterar os critérios de frases ou palavras-chave para seus dicionários em cada uma das estações.
 
O Echelon é um produto da Guerra Fria, todavia, a atual luta global contra o terrorismo parece ter dado a essa estrutura, aos olhos de muitos, a justificativa necessária para desenvolver uma capacidade ainda maior para espionar os aliados, os inimigos e os cidadãos em todo o mundo, violando a soberania dos países e a privacidade das pessoas.
 
Além dessa rede de espionagem global, existe também um programa de rastreamento financeiro como parte dos esforços da luta global contra o terrorismo. Seria o Echelon Financeiro.
 
Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o Departamento do Tesouro dos EUA teria passado a rastrear possíveis financiamentos terroristas através de um programa denominado Sociedade Internacional para as Telecomunicações Financeiras e Interbancarias (SWIFT), que proporciona acesso aos registros de todas as multimilionárias transferências diárias internacionais de divisas entre oito mil bancos, casas de câmbio, bolsas de valores e outras instituições. Segundo John Snow, que foi Secretário do Tesouro até 30 de maio de 2006, o Programa persegue cuidadosamente as transações financeiras de supostos terroristas estrangeiros “e é parte de um esforço para localizar as redes terroristas e deter os terroristas em todo o mundo”.
 
No entanto,– segundo o artigo O Pior dos Maiores, de Olavo de Carvalho, publicado pelo JB de 29 de junho de 2006 – “o The New York Times” – jornal que, ao que parece, se especializou no vazamento de operações de Inteligência – “deu todo o serviço sobre uma operação ultrassecreta que vinha conseguindo penetrar as transações bancárias da Al-Qaeda, colocando vidas e dólares dos terroristas a salvo do malvado governo americano”.

20 de outubro de 2014
 
 
 
 
 

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