"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 23 de março de 2014

MARCHA DO DELÍRIO

 

Freud, no texto “O Futuro de Uma Ilusão”, no qual faz críticas às doutrinas religiosas, estabelece uma diferença entre erro, ilusão e delírio. O primeiro, segundo o criador da psicanálise, seria baseado em observações ou metodologias equivocadas, enquanto os dois outros conferem ao desejo do homem um papel fundamental em suas elaborações. Em outras palavras, na ilusão e no delírio, o desejo exacerbado pela realização ou ocorrência de alguma coisa deformaria a percepção do indivíduo. A distinção de ambos se daria pelo fato de nos delírios, entre outras coisas, o pensamento se desenvolver em contradição à realidade, enquanto a ilusão não precisa ser necessariamente falsa ou irrealizável.

 As manifestações convocadas para este sábado por grupos de direita, principalmente via redes sociais, só podem ser entendidas dentro do conceito freudiano como um delírio psiquiátrico.
Batizadas de Marcha da Família, em alusão ao movimento da classe média em apoio ao golpe militar, em 1964, elas propagam, assim como naquela época, a ideia da iminência de um golpe comunista. Encabeçadas na maioria das vezes por militares reformados, essas facções afirmam estar sendo tramado nos corredores do Palácio do Planalto, em conluio com os partidos da chamada esquerda brasileira (PT, PSOL, PCdoB, PSTU…), uma revolução vermelha.

Nas redes sociais, em especial no Facebook, há inúmeras páginas se autodenominando como a oficial da Marcha da Família com Deus pela Liberdade. O conteúdo de todas é igual: em meio a expressões como “fascismo vermelho” e “não aos comunistas”, brotam pedidos de impeachment de Dilma, piadas preconceituosas em relação ao ex-presidente Lula e críticas a acordos e parcerias fechadas pelo governo brasileiro com países como Venezuela e Cuba.
 
DESCONEXÃO
 
Apesar do barulho e da possibilidade de reunirem meia dúzia de gatos pingados, os eventos programados para sábado são completamente desconectados com a realidade brasileira. Mesmo com as bem-vindas manifestações de junho e julho do ano passado e com a previsão de novos levantes para este ano, principalmente durante a Copa do Mundo, o país está longe de uma revolução, seja ela vermelha, branca ou de qualquer outra cor.
O governo da presidente Dilma Rousseff e o PT hoje estão mais próximos ao centro, e seus programas pouco diferem dos demais partidos de posição reformista.
 
Outros grupos de direita mais acanhados programam manifestações mais discretas para celebrar os 50 anos da “revolução cívico-militar de 31 de março de 1964”.
Mesmo se tratando de delírios, todos esses movimentos devem ser levados a sério pela sociedade brasileira, pois manifestam o desejo latente de parcelas da população de reviver práticas condenáveis como censura, tortura e assassinatos patrocinados pelo Estado – ações comuns ao regime militar vigente no Brasil entre 1964 e 1985.
 
(transcrito de O Tempo)

23 de março de 2014
Murilo Rocha

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Invocar Freud e os argumentos da psicanálise para explicar manifestações insurgentes contra o governo Dilma, continuidade do governo Lula com todos os desmandos, corrupções e contínuos escândalos - dispensável arrolar os fatos que explodem cotidianamente - causa a impressão, um tanto quanto panglossiana, de que vivemos no melhor dos mundos possíveis.
Não posso acreditar que se orquestre um delírio coletivo, enlouquecendo comunidades inteiras. Delírio, deve ser tratado no texto em questão, como insatisfação com a desordem e a balbúrdia imperante.
Que todos os estelionatos, fraudes e bandalheiras  praticadas e notoriamente noticiadas, principalmente pelas redes sociais, blogs e sites, e algumas publicações da imprensa, Veja, por exemplo, não compõem o fundo de um amplo painel de movimentos, simplesmente
porque não existem, parece-me coisa de má-fé.
Afirmar que tais fatos não passam de "acordos" com Cuba e Venezuela (e demais ditaduras africanas), decorrem de atos normais, democráticos e transparentes, soa demasiado falso. Não se trata de "acordo", mas de conivência com regimes autoritários, sanguinários, genocidas.
Trata-se de apoio irrestrito a ditaduras consagradamente violentas, apoio não apenas político, mas econômico, com 'empréstimos' mantidos sob sigilo, já denunciados exaustivamente pela mídia, como se o país não tivesse o direito de conhecer os atos praticados pelo governo.
De modo imperial, transformou o BNDES numa instituição política a serviço de lobbies, favorecendo empreiteiras, ditaduras e apaniguados (o sr. Eike, por exemplo...)
Mas o texto parece ignorar tais desmandos. Trata ironicamente os movimentos insurgentes contra a desmoralização do país, dando-lhes um ar retrô, uma espécie de viúva saudosa da "ditadura" de 64.
Parece que a "ditadura" não passou de uma parto político espontâneo, e que os movimentos de extrema esquerda eram meras fantasias que não ameaçavam o pais com uma coletivização.
O que aconteceu foi uma contra-revolução, que tirou do ninho bem duas dezenas de partidos comunistas, ou de esquerda, como preferirem... Sobreviveram na clandestinidade, praticando "crimes" tão violentos quanto os do regime militar.
Direita ou esquerda, praticaram ambos uma violência desmedida contra a sociedade.
E há que se observar que o descaminho da contra-revolução foi praticado por um grupo de extrema direita, desvirtuando o contragolpe.
Hoje temos a FARC encravada no FORUM DE SÃO PAULO, braço político da esquerda internacional. Então, o que está sendo tratado como delírio, ou como ingenuidade de grupos
mal informados, mostra uma distorção da realidade, do que de fato está acontecendo sob o nariz da nação.
Aliás, falando em nariz, Pangloss achava que o tínhamos para apoio do óculos. Atualmente, serve não apenas para o óculos, mas para sentir o mal cheiro que está a exalar da atual condição em que se encontra o Brasil lulopetista.
m.americo
 

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