"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

RELAÇÃO COM A ARGENTINA É CADA VEZ MAIS DIFÍCIL

 

Não está em questão o sentido estratégico do Mercosul, capaz de reduzir tensões regionais históricas, por meio do comércio e integração econômica. O grande ponto de interrogação que paira sobre o bloco trata da viabilidade de a aliança continuar como uma união aduaneira diante da crise da Argentina, o segundo vértice do Mercosul.

Na prática, a união que permitiria a circulação livre de mercadorias entre os integrantes do grupo não existe, porque a Argentina, com uma economia intoxicada de inflação, com sérios problemas de competitividade — mais que o Brasil — está em crise cambial e usa e abusa de barreiras protecionistas para tentar estancar a sangria de divisas.

Até o mês passado, as reservas externas argentinas haviam caído no ano US$ 10 bilhões até ficarem pouco acima dos US$ 33 bilhões. Não estiveram tão baixas desde 2007. O novo ataque da Casa Rosada contra as exportações brasileiras, noticiado domingo pelo GLOBO, atinge talvez o principal pilar da integração das duas economias, a indústria automobilística.


Em certa medida, as montadoras, ao distribuírem a produção entre Brasil e Argentina, se anteciparam ao entendimento político para a instituição do bloco, também com o Uruguai e Paraguai.

Na sexta-feira, em reunião com o chefe de Gabinete da presidente Cristina Kirchner, Jorge Capitanich, e o ministro da Economia, Axel Kicillof, representantes da indústria comunicaram à Casa Rosada a preocupação com a informação de que a Argentina, no primeiro semestre do ano que vem, reduziria as importações de veículos em algo entre 20% e 27,5%.

O Brasil será o mais atingido. No ano passado, o superávit do país, neste segmento, foi de US$ 1,02 bilhão; já em autopeças, US$ 2,28 bilhões. Na prática, ao erguer barreiras contra o vizinho, atropelando, mais uma vez, os princípios de uma união aduaneira, a Argentina quer proteger reservas à custa das exportações brasileiras — até porque sabe que o Planalto, por motivações ideológicas, finge não entender que a Argentina rasga acordos do Mercosul. Mas há registros de que, apesar das conveniências políticas de inquilinos do Planalto, a postura argentina causaria irritações.

Afinal, também em negociações de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, uma longa novela, a Casa Rosada joga na retranca do protecionismo e resiste a fazer concessões sem as quais acertos neste campo não se concretizam.

Tudo fica ainda mais preocupante com os sinais de aprofundamento da crise política e social, com a explosão de saques, deflagrados a partir de uma greve da polícia em Córdoba. Inflação de 25%, protecionismo e tensão nas ruas, com evidentes desdobramentos políticos, tornam as relações com a Argentina cada vez mais complicadas.

17 de dezembro de 2013
Editorial d'O Globo

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