"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

UMA CARTA PEQUENA PARA QUEM SE DIZ UM GRANDE HOMEM


Vitória - A carta do Michel Temer é um primor de amadorismo. Peca pela ausência de substância política e caracteriza o PMDB naquilo que o partido tem de sobra: o fisiologismo. É estranho como um politico que pretende se cacifar para assumir o cargo mais alto do país, deixou-se levar pela euforia da notícia do impeachment que inflou o seu ego. Redigiu um texto cheio de lamúrias e ressentimentos, onde deixou escapar a queixa que guarda da presidente pelos amigos boicotados no governo dela.

Michel pode até se mostrar bem assessorado quando mantém em sua companhia alguns políticos que, no seu entender, pensam o Brasil. Mas seus atos nos últimos dias revelam um político capenga nessa área. Faltou alguém para sussurrar no seu ouvido e diminuir a sua impetuosidade de malcriação.

A carta que escreveu a presidente, ao contrário de outros documentos que marcaram a história da República, é um texto primário, ressentido e medíocre. Impossível imaginar que foi escrita por um politico experiente e acadêmico como ele.

Na verdade, a carta do Michel é uma correspondência entre comadres que, por algum momento, deixaram de se falar e uma delas decidiu contar suas mágoas, seus rancores e melindres da intimidade da convivência. Nada mais do que isso. É uma pena que diante desse Brasil à deriva, atolado na mais profunda imoralidade política, um documento de rompimento entre dois estadistas trate de coisas pequenas como a sabotagem da Dilma aos seus ex-ministros pemedebistas Eliseu Padilha e Moreira Franco, pessoas leais ao missivista.

Michel deixa claro que foi traído e desprestigiado. E que a Dilma não gosta dele. Quase que parafraseou Chico Buarque de Holanda quando mandou um recado para o Geisel: “O senhor não gosta de mim, mas sua filha gosta”, referindo-se a Lucy, filha do general, fã das canções do artista.

Agora, o vice chora o leite derramado. Reclama que Dilma deu divulgação a sua carta que, de particular, virou pública. Ora, doutor Michel, o que Vossa Excelência queria: confiança, lealdade e respeito da presidente? Se Vossa Excelência já diz na carta que a presidente é desprovida dessas qualidades, o que esperava dela? Que guardasse o documento para a posteridade?

O vice presidente, infelizmente, não está bem assessorado. Não tem ninguém com independência ao seu lado para uma conversa sincera e franca ao pé do ouvido. Está cercado de áulicos que batem palmas para ele até quando escreve uma bobagem como essa. Michel Temer perde-se na história porque não está conseguindo pensar o Brasil. E a chance para mostrar o seu preparo, ele perdeu quando apequenou e tornou público o seu convívio íntimo e protocolar com a ralé política do país que faz ponto no Palácio do Planalto.



10 de dezembro de 2015
Jorge Oliveira

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