Não importa o que resultar, na próxima semana, da decisão do STF que suspendeu até lá os efeitos da acachapante derrota sofrida pelo governo no plenário da Câmara dos Deputados na tarde de terça-feira. O Brasil já saiu perdendo com o escandaloso e deprimente espetáculo de falta de civilidade protagonizado em plenário por ferrabrases travestidos de representantes do povo que se julgaram no direito de tentar impedir, com violência física e verbal, a escolha dos integrantes da Comissão Especial que decidirá sobre a admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Essa baixaria que enxovalha a imagem do Parlamento e consterna o sentimento democrático dos brasileiros foi agravada pelo fato de o comportamento indecoroso das falanges governistas ter sido correspondido, quase na mesma medida – e aí não há como se alegar legítima defesa –, por oposicionistas e dissidentes da base aliada. Em resumo: o PT mostrou mais uma vez sua verdadeira cara e até que ponto contaminou a política brasileira com o vírus de sua truculência política – que não dispensa a ajuda do mais puro fisiologismo.
Se tivessem tido um pouco de paciência, os petistas teriam se poupado do vexame e se limitado a comemorar a decisão do ministro Edson Fachin, que acolheu recurso apresentado por seus dóceis comparsas do PCdoB, pedindo a anulação da votação sob o argumento de que não poderia ter sido secreta. Foi uma clara manobra para não envolver diretamente o PT no contencioso jurídico. A votação para a eleição da Comissão Especial não foi revogada, apenas suspensa até que, na próxima quarta-feira, o plenário do STF se manifeste sobre o mérito do recurso.
Apesar de todos os pesares e levando em conta que, como de hábito, Eduardo Cunha esticou sua autoridade de presidente da Casa para impor seus pontos de vista, o triste espetáculo promovido pelos deputados demonstrou claramente que Dilma Rousseff pode até, no limite, obter os 172 votos necessários para impedir que o pedido de seu impeachment seja encaminhado ao Senado, mas continuará não tendo uma sólida base de apoio na Câmara.
Essa perspectiva é particularmente grave e preocupante considerando que, se sobreviver ao impeachment – e, sobretudo, se tiver a capacidade e a humildade de aprender com os erros primários que comete há cinco anos e se disponha a corrigir-se –, Dilma terá de governar a partir de um programa capaz de promover no mais curto prazo possível a recuperação da economia. E ao mesmo tempo terá de administrar as demandas sociais, que tendem a se avolumar com as dificuldades econômicas. É impossível para qualquer governo dar conta de tantas e tão graves responsabilidades sem uma sólida base de apoio no Congresso, coisa que não cairá no colo de Dilma apenas com a rejeição do pedido de impeachment.
Além disso, a enorme impopularidade de Dilma resulta em que 2 em cada 3 brasileiros querem vê-la fora do Planalto. Essa tendência pode chegar às ruas, convulsionando o ambiente social e, com toda certeza, refletindo-se na debilitação da base de apoio.
Têm razão, portanto, os estrategistas do governo, quando tentam abreviar ao máximo a tramitação do impeachment, porque sabem que o tempo age contra a presidente – tanto solapando suas oportunidades de sobrevivência quanto aumentando as dificuldades para solucionar a crise.
Além disso, o enfrentamento dessa crise depende da soma de apoios que até agora Dilma Rousseff e seu governo se revelaram incapazes de garantir, por serem refratários a parcerias estáveis – como o episódio com Michel Temer acaba de mostrar. Assim, se Dilma salvar-se do impeachment é provável que a cena política continue gravemente conturbada pela incontrolável gana de vendetta dos petistas. E que falte aos petistas o reconhecimento de que o modelo econômico que impingiram ao País – uma insana mescla de populismo, estatismo e desprezo pelos mais sadios fundamentos da economia – só leva ao desastre e a nada mais. Só restará então torcer para que 2018 chegue logo.
10 de dezembro de 2015
O Estado de SP
Essa baixaria que enxovalha a imagem do Parlamento e consterna o sentimento democrático dos brasileiros foi agravada pelo fato de o comportamento indecoroso das falanges governistas ter sido correspondido, quase na mesma medida – e aí não há como se alegar legítima defesa –, por oposicionistas e dissidentes da base aliada. Em resumo: o PT mostrou mais uma vez sua verdadeira cara e até que ponto contaminou a política brasileira com o vírus de sua truculência política – que não dispensa a ajuda do mais puro fisiologismo.
Se tivessem tido um pouco de paciência, os petistas teriam se poupado do vexame e se limitado a comemorar a decisão do ministro Edson Fachin, que acolheu recurso apresentado por seus dóceis comparsas do PCdoB, pedindo a anulação da votação sob o argumento de que não poderia ter sido secreta. Foi uma clara manobra para não envolver diretamente o PT no contencioso jurídico. A votação para a eleição da Comissão Especial não foi revogada, apenas suspensa até que, na próxima quarta-feira, o plenário do STF se manifeste sobre o mérito do recurso.
Apesar de todos os pesares e levando em conta que, como de hábito, Eduardo Cunha esticou sua autoridade de presidente da Casa para impor seus pontos de vista, o triste espetáculo promovido pelos deputados demonstrou claramente que Dilma Rousseff pode até, no limite, obter os 172 votos necessários para impedir que o pedido de seu impeachment seja encaminhado ao Senado, mas continuará não tendo uma sólida base de apoio na Câmara.
Essa perspectiva é particularmente grave e preocupante considerando que, se sobreviver ao impeachment – e, sobretudo, se tiver a capacidade e a humildade de aprender com os erros primários que comete há cinco anos e se disponha a corrigir-se –, Dilma terá de governar a partir de um programa capaz de promover no mais curto prazo possível a recuperação da economia. E ao mesmo tempo terá de administrar as demandas sociais, que tendem a se avolumar com as dificuldades econômicas. É impossível para qualquer governo dar conta de tantas e tão graves responsabilidades sem uma sólida base de apoio no Congresso, coisa que não cairá no colo de Dilma apenas com a rejeição do pedido de impeachment.
Além disso, a enorme impopularidade de Dilma resulta em que 2 em cada 3 brasileiros querem vê-la fora do Planalto. Essa tendência pode chegar às ruas, convulsionando o ambiente social e, com toda certeza, refletindo-se na debilitação da base de apoio.
Têm razão, portanto, os estrategistas do governo, quando tentam abreviar ao máximo a tramitação do impeachment, porque sabem que o tempo age contra a presidente – tanto solapando suas oportunidades de sobrevivência quanto aumentando as dificuldades para solucionar a crise.
Além disso, o enfrentamento dessa crise depende da soma de apoios que até agora Dilma Rousseff e seu governo se revelaram incapazes de garantir, por serem refratários a parcerias estáveis – como o episódio com Michel Temer acaba de mostrar. Assim, se Dilma salvar-se do impeachment é provável que a cena política continue gravemente conturbada pela incontrolável gana de vendetta dos petistas. E que falte aos petistas o reconhecimento de que o modelo econômico que impingiram ao País – uma insana mescla de populismo, estatismo e desprezo pelos mais sadios fundamentos da economia – só leva ao desastre e a nada mais. Só restará então torcer para que 2018 chegue logo.
10 de dezembro de 2015
O Estado de SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário