"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 14 de dezembro de 2013

ARGENTINA LIMITA CARRO IMPORTADO E AFETA PRODUÇÃO BRASILEIRA

A decisão do governo da Argentina de limitar em até 27,5% as importações de automóveis e veículos comerciais leves, anunciada anteontem, pode ter um grande impacto sobre a indústria automobilística brasileira e a balança comercial do país.
 
País é o que mais perde com decisão argentina
 
Entre janeiro e novembro deste ano, o Brasil exportou US$ 5 bilhões em automóveis de passageiros. Deste total, 87% (US$ 4,4 bilhões) foram para a Argentina.
 
Na quinta-feira, a ministra argentina da Indústria, Debora Giorgi, comunicou ao setor automotivo do país que eles terão de reduzir entre 20% e 27,5% as importações no primeiro trimestre de 2014, em relação ao mesmo período deste ano.
 
Montadoras que exportam o mesmo valor que importam não teriam que reduzir compras externas, enquanto as deficitárias e as importadoras estariam incluídas na nova restrição.
 
A medida seria uma maneira de estancar a sangria de reservas internacionais da Argentina, que caíram 21% apenas neste ano.
 
O Ministério do Desenvolvimento afirma que não foi informado oficialmente da medida e não vai comentar. Dentro do governo brasileiro, que foi surpreendido pela medida, espera-se que seja possível negociar com os argentinos.
 
A iniciativa da ministra é vista pelo governo brasileiro como uma medida de política industrial equivocada, uma tentativa de fazer indústrias de autopeças se instalar na Argentina -com poucas chances de funcionar.
 
E também um sintoma da enorme preocupação com a queda no nível de reservas.
 
Analistas acreditam que a restrição deve atingir mais os veículos de maior valor, importados principalmente da União Europeia e do Japão, e menos os carros pequenos e médios que vêm do Brasil.
 
Mas, como 67% dos veículos importados pela Argentina vêm do Brasil (em valor), uma redução será inevitável, afirmam especialistas.
 
"Toda intervenção estatal desse tipo é muito prejudicial, e o setor automotivo é uma das poucas cadeias de produção estabelecidas na região", diz Welber Barral, sócio da consultoria Barral M Jorge.
 
O governo brasileiro avalia que a medida é uma tentativa da Argentina de forçar o Brasil a voltar a negociar o acordo automotivo em posição de desvantagem.
 
Pelo acordo automotivo, para cada US$ 100 vendidos pela Argentina ao Brasil, em veículos e autopeças, o Brasil podia vender US$ 195 à Argentina sem pagar tarifa de importação.
 
O acordo, que era visto pela Argentina como um modo de manter o comércio equilibrado, expirou no fim de junho. Para voltar a negociá-lo, o Brasil exige eliminação de barreiras a importações.
 
Já a Argentina queria estender a produtores argentinos os benefícios do programa Inovar Auto, que prevê descontos de IPI para veículos produzidos no Brasil com alto índice de nacionalização. O governo brasileiro resiste.
 
Para a balança comercial brasileira, uma queda nas exportações de veículos pode ser muito negativa, já que as vendas de commodities para a China e carros para a Argentina vinham sustentando resultados já sofríveis. De janeiro a novembro, a balança teve deficit de US$ 89 milhões.
Contatados pela reportagem, o Sindipeças e a Anfavea não quiseram se manifestar.


14 de dezembro de 2013
PATRÍCIA CAMPOS MELLO - Folha de São Paulo
Colaborou GABRIEL BALDOCCHI, de São Paulo

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