"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 16 de novembro de 2013

MAIS COMO NOS FILMES

RIO DE JANEIRO - Saí à calçada e estiquei o braço em busca de um táxi. Passaram vários, todos cheios. Levei 20 minutos para conseguir um. Muito diferente do que acontece nos filmes, em que não apenas o vilão chega à rua e para imediatamente um táxi para fugir, como o herói toma outro segundos depois e começa a perseguição.

No cinema, os bandidos armam uma bomba atômica e a equipam com um mostrador para que o herói saiba a quantos segundos ela vai explodir. Quando o herói, que é um mosqueteiro, enfrenta 20 espadachins, eles o atacam um a um, em vez de todos de uma vez. O herói resiste bem às dezenas de socos que leva dos bandidos, mas geme quando sua namorada aplica um lencinho molhado aos seus ferimentos.

Ao fugir juntos de uma ameaça, o herói e a mocinha insistem em correr de mãos dadas quando fugiriam muito mais depressa se corressem separados. Quando o herói vai ao médico, nunca será por causa de uma diarreia, mas para enfaixar o ombro ou extrair uma bala. O herói só pode ser ferido no braço --jamais será visto mancando ou com uma atadura na cabeça. Ao acordar e pular da cama, toda mulher entrará imediatamente no chuveiro e nenhuma fará xixi.

Os cavalos do cinema são à prova de balas. Todas as invasões de extraterrestres começam pelos EUA. Qualquer monstro tipo morto-vivo, mesmo que recém-saído do túmulo e arrastando os pés ao andar, consegue capturar a mocinha que tenta escapar dele. Quando uma mulher recordar sua infância, será sempre mostrada de tranças, brincando de amarelinha ou pulando corda. Ao pagar uma conta no restaurante, o galã deixará várias notas na mesa --nunca apresentará o cartão ou fará um cheque.

E por aí vai. Estes são alguns dos casos recolhidos no livro "Tous les Clichés du Cinéma", pelo francês Philippe Mignaval. A vida devia ser mais como nos filmes.

 
16 de novembro de 2013
Ruy Castro, Folha de SP

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