"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

O INVERNO CHEGOU

Governo Dilma Rousseff foi leniente por muito tempo em suas contas, e agora diversos indicadores econômicos apontam para uma recessão

Não cessa a onda de dados econômicos negativos. Os últimos índices de confiança, produção, vendas e, agora, emprego apontam para uma recessão. O quadro fica cada vez pior para o governo Dilma Rousseff (PT), preso a um discurso otimista que em nada reflete o desalento disseminado pelo país.

Os sinais são inequívocos. O indicador mensal do PIB divulgado pelo Banco Central teve nova queda em maio, de 0,2%. A julgar pela conhecida redução da produção industrial e da atividade em outros setores, a retração em junho deve ser mais acentuada.

Se confirmada essa expectativa, será possível falar em recessão quando o IBGE divulgar o PIB oficial do segundo trimestre, o que fará no final de agosto. Analistas já revisam a projeção de 2014 para uma alta inferior a 1%.

Nos últimos meses, o governo tem procurado se esquivar lembrando que as pessoas não comem PIB. Puerilidade à parte, a afirmação soa infeliz num momento em que também o emprego engrossa o coro de notícias ruins --e, neste caso, trata-se de economia bem real.

Foram criadas 25 mil vagas formais em junho, o pior saldo desde 1998. Ajustado pela sazonalidade (nesse mês normalmente são gerados mais postos do que na média do ano), o número retrata o desaparecimento de 30 mil empregos. É a quarta redução consecutiva.

Todos os setores apresentam desempenho fraco. O pior, como esperado, é o industrial, que fez 28 mil demissões em junho e 60 mil no segundo trimestre.

Quanto às vendas no varejo, houve diminuição de 0,3% em maio, a despeito do forte aumento de atividade em eletrodomésticos, provavelmente devido à Copa do Mundo. Em junho, a situação deve piorar. O colapso no setor de automóveis é o principal destaque.

Um pedaço da trajetória em queda livre descrita pelos indicadores no período de maio a julho decorre, sem dúvida, do menor número de dias úteis e da paralisação provocada pelo Mundial. Mas o pano de fundo não muda: a economia está estacionando, e nada indica mudança de humor no curto prazo.

A inflação, tudo o mais sugere, terminará o ano perto do teto do regime de metas, 6,5%. Não há alívio, portanto, o que complica o cenário para o Banco Central.

A decisão de manter a taxa básica de juros em 11% "neste momento" era esperada, mas analistas interpretaram o comunicado do BC como um sinal de que em breve poderá haver recuo da Selic, apesar da contínua pressão nos preços.

A mistura atual de PIB estagnado e inflação em alta é a pior em muitos anos. O governo surfou a onda do consumo e do crédito fácil por tempo demais e foi leniente com suas próprias contas, entre outras estripulias econômicas. Não se preparou enquanto o clima era bom, e agora o país paga por isso.

 
23 de julho de 2014
Editorial Folha de SP

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