"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

MUDANÇAS DE RUMOS?

O discurso oficial é o de que a política econômica está certa e que não haverá mudança de rumos, caso se confirme a reeleição da presidente Dilma Rousseff.

No entanto, o novo governo não encontrará uma situação de bonança como a encontrada pela presidente Dilma em 2011. Ao contrário, o quadro lhe será adverso.

A atividade econômica não terá mais o empuxo produzido por uma evolução do PIB de 7,5% no ano anterior, como aconteceu em 2010. Terá de vencer a inércia imposta pelo PIB devagar-quase-parando, ao ritmo de 0,3% a 0,5%. Nem a indústria estará avançando a 10,1% ao ano. Os investimentos não vão sendo desengavetados à velocidade de 21,8% ao ano.

O superávit primário (sobra de arrecadação para amortização da dívida) não se projetará ao nível dos 3,1% do PIB e a situação fiscal ainda enfrentará esqueletos sabe-se lá de que proporções.

Os juros básicos (Selic), hoje nos 11% ao ano, não estão muito mais altos do que em 2010, quando fecharam a 10,75%. No entanto, naquele ano, a inflação, também próxima da atual (5,91%), não ostentava atraso tão grande nos preços administrados nem um câmbio tão aflito. O Banco Central (BC) agora atua com déficit de credibilidade e não terá as mesmas condições para administrar as expectativas do mercado.

O mundo já não mais regurgitará abundância nunca vista de recursos, graças à atuação expansionista dos grandes bancos centrais, que agora começam a enxugar os mercados do excesso de moeda. A Vale do Rio Doce não contará mais com a tonelada de minério de ferro a caminho dos US$ 200 nem o agronegócio desfrutará da exuberância de preços das commodities agrícolas. A Petrobrás exibirá em 2015, como já está exibindo agora, um caixa arrasado e uma dívida que deverá exceder os R$ 250 bilhões.

Quando recebeu a faixa verde-amarela do presidente Lula, Dilma tinha à sua disposição um setor elétrico relativamente equilibrado, que, no entanto, hoje opera a custos galopantes, e, mais que tudo, incertezas na área de suprimento. O nível de confiança dos empresários e do consumidor era elevado e não esse fundo de poço em que está agora.

Ah, sim, a situação do emprego está melhor agora do que há quatro anos. Hoje, apenas 50 em cada mil pessoas estão à procura de trabalho. Em 2010, eram 67 em mil. Mas essa situação de pleno-emprego com uma economia estagnada não é propriamente um fator positivo para quem pretende um crescimento econômico de pelo menos 3% ao ano. Há hoje escassez de mão de obra especializada e estocadas nos custos trabalhistas, como até o BC, tão pouco crítico da atual política econômica, vem admitindo.

Diria o ministro Guido Mantega: apesar das dificuldades, bem menores do que as descritas acima, a situação da economia brasileira não é tão trágica como pintada pelos pessimistas de sempre; só precisa de alguns ajustes.
Se for só isso, se não houver uma virada da política econômica em direção ao fortalecimento dos fundamentos, aumentará a probabilidade de que as finanças públicas em deterioração se deteriorem mais ainda e levem ao rebaixamento da qualidade da dívida brasileira. As pressões no câmbio crescerão sabe-se lá até que ponto. A inflação tenderá a escalar e os índices de confiança afundarão. E, a partir daí, não haverá remédio senão mudar os rumos da política econômica.

CONFIRA:

O fator Argentina
Nos nove primeiros meses do ano, as exportações para a Argentina despencaram 25,7% em relação a igual período de 2013. Tendem a cair ainda mais pelo que se viu em setembro: caíram quase 40,0% em relação a agosto.

Industrializados
Também, de janeiro a setembro, as exportações de industrializados caíram 6,3%. Enquanto isso, apesar da queda de preços, as de produtos básicos aumentaram 2,3%.

 
02 de outubro de 2014
Celso Ming

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